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PREVENÇÃO E MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

DIMENSÃO SOCIOPSICOLÓGICA DA
VIOLÊNCIA

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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:

1 - Aprender os conceitos de criminalidade e de violência, distinguindo-os entre si;

2 - Identificar os diferentes tipos de violência existentes;

3 - Entender como a violência faz parte do processo que leva ao conflito;

4 - Aprender sobre o comportamento que o mediador deve ter, quando estiver atuando em um contexto

conflituoso, de acordo com o tipo de violência encontrada.

Nesta aula, vamos falar sobre as distinções existentes entre os conceitos de criminalidade e violência, os tipos de

violência, bem como sua relação como parte do processo que leva a um conflito. Bons estudos!

1 Conflito grave
Você já aprendeu, nas nossas aulas anteriores, que o operador de segurança pode agir de formas diferentes,

dependendo do tipo de conflito encontrado e do contexto em que ele se encontra.

Em alguns casos, o mediador pode resolver um conflito apenas através do uso do diálogo, de forma a negociar os

interesses das partes opostas.

Assim, procura obter um resultado satisfatório e de comum acordo para ambas, sem que, com isso, necessite

usar a força necessária e legal para a solução da disputa.

Porém, em outros, o mediador se vê no meio de um conflito grave, com a presença de violência e de total

descontrole, exigindo do operador de segurança uma firmeza de agir, dentro da lei.

Dessa forma, cessa o conflito e preserva-se a ordem pública, evitando-se, desta forma, maiores transtornos e

violência.

Quando estudamos o assunto, contudo, há muita confusão entre os conceitos de criminalidade e de violência, e

algumas vezes, até entre os operadores de segurança que, em virtude de suas funções, deveriam dominar o tema

profundamente.

Com o objetivo de eliminar quaisquer dúvidas nessa diferenciação, nesta aula, você aprenderá a distinguir um

conceito do outro.

Com o objetivo de eliminar quaisquer dúvidas nessa diferenciação, nesta aula, você aprenderá a distinguir um

conceito do outro.Aprenderá, inclusive, os diversos tipos de violência existentes e entenderá melhor como a

violência faz parte desse processo que gera um conflito.

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Falaremos sobre cada um deles, destacando suas peculiaridades, características e objetivos, de forma a permitir

que você seja capaz de conhecer mais pormenorizadamente sobre os seus objetos de trabalho: a criminalidade e

a violência.

Clique aqui e leia sobre a Sociologia e a criminalidade.

2 Sociologia da Criminalidade
A chamada Sociologia da Criminalidade é um ramo da Sociologia que estuda os fenômenos sociais, dentre eles a

criminalidade e a violência. Dentre as teorias centrais da Sociologia, que auxiliam nos estudos da violência e da

criminalidade, podemos destacar o positivismo, o funcionalismo, a teoria do controle, a teoria do conflito e o

interacionalismo.

Vamos, a seguir, explicar cada uma delas

• Positivismo

O positivismo influencia na análise do crime, utilizando-se de métodos e técnicas quantitativas,

procurando mensurar tudo o que estiver relacionado ao fenômeno.

São consideradas formas de estudos positivistas a identificação de índices de violência, a utilização de

questionários e pesquisas sobre o assunto, através de amostras, experimentos etc., e o apontamento das

principais formas de crime e violência, por exemplo.

Segundo o positivismo, a violência e a criminalidade se pautam na racionalidade, na lógica da ordem.

Assim, o crime é entendido como uma conduta desviante, adversa à sociedade.

Conforme Giddens (2005, p. 176), “para as teorias funcionalistas, o crime e o desvio são resultados de

tensões estruturais e de uma falta de regulação social dentro da sociedade".

Já para Durkheim, considerado um dos principais teóricos funcionalistas, o crime é normal nas

sociedades, especialmente quando forem mais complexas, dependendo do seu crescimento e

desenvolvimento.

Segundo ele, para controlar o crime, existem as instituições sociais, que são constituídas, evidentemente,

de normas e regras para a sociedade.

• Funcionalismo

Pela teoria do funcionalismo, por Durkheim, as crises eram causadas por aspectos morais e não

econômicos.

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Ele compara a sociedade a um organismo composto de várias partes que, funcionando em harmonia,

evita que, no caso de problema com algum deles, acarrete problemas aos demais.

Isto é, esta teoria tende a observar e a analisar a sociedade como um todo, como um órgão funcional

formado por relações entre pessoas e grupos.

A teoria analisa a sociedade sob o ponto de vista geral, considerando cada elemento que a compõem, em

um sistema integrado.

A teoria analisa a sociedade sob o ponto de vista geral, considerando cada elemento que a compõem, em

um sistema integrado.Assim, o crime é visto, no meio social, como possuindo elementos, fatores, causas,

consequências, objetos. Desta forma, deve ser analisado não como um todo, mas sim, de forma detalhada.

• Teoria do controle

Dentro da teoria do controle, existe a "teoria das janelas quebradas".

Segundo essa teoria específica, se uma janela for quebrada e não for consertada, alguns indivíduos,

supostamente, podem entender tal fato como uma oportunidade para praticar crimes.

Isso porque eles podem ter a percepção de que a polícia e os moradores não se preocupam com a

conservação e, assim, não terão qualquer vigilância ou controle.

• Teoria do conflito

Para a teoria do conflito, todos os indivíduos são propensos a cometer algum tipo de crime, bastando

haver a oportunidade, dependendo do contexto em que uma pessoa se encontra, como, por exemplo, a

situação de ausência de um controle.

Ela tem por base o Marxismo e, segundo ela, o desvio seria uma conduta deliberada e, frequentemente,

de natureza política.

Esta teoria rejeita a ideia de que o desvio seja determinado por fatores como a biologia, a personalidade

etc.

A teoria do conflito critica o modelo capitalista de sociedade, defendendo que o capitalismo seria o

principal culpado pelo aumento da criminalidade.

• Interacionalismo

A teoria interacionista estuda o crime e o desvio na sociedade, percebendo o desvio como um fenômeno

construído historicamente.

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Ela rejeita a ideia de que haja tipos de conduta inerentemente desviantes, assim como o processo de

rotulação dos indivíduos como "desviantes".

Esta teoria defende que, em uma sociedade, existem várias subculturas e que, assim, certos ambientes

sociais tendem a estimular atividades ilegais, enquanto outras não.

Portanto, alguns indivíduos poderiam se tornar delinquentes pelo fato de se associarem a outros que já

possuem passagem criminal.

3 Conceito de criminalidade
· Tânia Kolker

Segundo Kolker (2004), a criminalidade é considerada um fenômeno complexo e multideterminado, que exige a

ligação entre diversas áreas do saber.

· Vera Andrade

Para Andrade (2003), a criminalidade deve ser entendida como um status, que é dado a alguns indivíduos,

devendo ser vista como parte de um processo duplo que, inicialmente, define de forma legal o que é crime,

atribuindo a algumas condutas o aspecto criminal.

Na verdade, uma conduta não é criminal em si mesma, nem seu ator deve ser considerado um criminoso nato.

Sendo assim, a atribuição do caráter criminal a certa conduta e, por consequência, o posterior rótulo de

criminoso ao seu autor dependerá de certos processos sociais para a sua definição e sua seleção.

4 Conceito de violência
Conceituar violência é sem dúvida uma tarefa complexa, já que o termo pode ser analisado de diversas formas e

sob diversos aspectos, seja do ponto de vista jurídico, antropológico, sociológico, dentre outros.

Sendo assim, optamos por alguns comentários a respeito, partindo do aspecto sociológico do termo.

Acreditamos que para você, na função de operador de segurança, será mais útil, tanto para o seu conhecimento

técnico quanto profissional.

Até porque você poderá se aprofundar mais sobre a questão,


considerando-se alguma outra área acadêmica de seu interesse
como, por exemplo, o Direito, a Psicologia etc.
Mediação Transformativa

Segundo Chauí (1999), violência é:

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[...] 1) Tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de algum ser (é desnaturar);

2) Todo ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém (é coagir, constranger, torturar,

brutalizar);

3) Todo ato de violação da natureza de alguém ou de alguma coisa valorizada positivamente por uma sociedade

(é violar);

4) Todo ato de transgressão contra o que alguém ou uma sociedade define como justo e como um direito (p. 1).

Conforme Barreira (1998, p. 16):

Uma definição sociológica de violência supõe a negação de classificações apriorísticas. A violência é gerada e

reproduzida dentro de um contexto social.

A tentativa de alcançar a complexidade do problema inclui também a necessidade de superar oposições clássicas

como: bem-mal, legal-ilegal e liberdade-opressão.

Em um sentido amplo, contudo, a violência pode se manifestar através da opressão, do abuso ou do excesso de

poder ou pela tirania e podemos afirmar que ela surge em virtude do constrangimento sobre uma pessoa, para

que ela faça ou deixe de fazer um ato qualquer.

Porém, a violência se faz presente desde que o mundo é mundo, pois é inerente ao ser humano e às sociedades,

por mais primitivas e menos complexas que possam ser.

Segundo Zaluar (1999, p.28):

Violência vem do latim "violentia", que remete a "vis", que significa força, vigor, emprego de força física ou os

recursos do corpo para exercer sua força vital e esta força torna-se violência quando ultrapassa um limite ou

perturba acordos tácitos e regras, que ordenam relações, adquirindo carga negativa ou maléfica.

É, portanto, a percepção do limite ou da perturbação (e do sofrimento ca), que vai caracterizar o ato como

violento, variando cultural e historicamente.

5 Tipos de violência
Agora, iremos tratar da classificação dos tipos de violência, que podem ser várias, na verdade.

Segundo a classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS), em seu Relatório Mundial sobre Violência e

Saúde (2005, p. 5), a violência pode ser autodirigida, interpessoal ou coletiva.

· Na violência autodirigida, temos a conduta suicida e o autoabuso.

· Na violência interpessoal, temos a ocorrida em uma família ou entre pessoas com grau de parentesco ou em

uma determinada comunidade ou sociedade.

· Já a violência coletiva pode ocorrer nas esferas social, econômica ou política.

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Em outra classificação, há o crime urbano, as grandes violações contra os direitos humanos e a violência nas

relações intersubjetivas.

O crime urbano divide-se em crime comum e em crime organizado, enquanto que as grandes violações

abrangem crimes que vão contra os direitos à vida e às liberdades civis e públicas.

Por fim, na violência nas relações intersubjetivas, temos crimes como a violência policial, os linchamentos, as

execuções sumárias, os assassinatos de lideranças etc.

Para Odália (1983), os tipos de violência podem ser:

Violência social

Certos atos violentos que atingem, seletiva e preferencialmente, certos segmentos da população – os mais

desprotegidos, evidentemente – ou, se possuem um alcance mais geral, são apresentados e justificados como

condições necessárias para o futuro da sociedade.

Por exemplo: quando os governantes dão prioridades ao desenvolvimento econômico e desprezam as medidas,

ou essas se apresentam de forma incipiente em relação à fome, ao analfabetismo, ao trabalho infantil, à violência

intrafamiliar e outros (p. 38).

Violência política

Pode ser um assassinato político, a invasão de um país por outro, o desaparecimento de dissidentes, legislação

eleitoral que frauda a opinião pública, leis que não permitem às classes sociais, especialmente ao operariado,

organizar seus sindicatos (p. 48).

Violência revolucionária

Pode expressar-se tanto pelo atentado político individualizado, pelo terrorismo contra grupos, por lutas

armadas, greves, quanto por ações de grupos ou indivíduos que antes expressam suas frustrações e confusões

ideológicas e mentais do que propriamente suas convicções políticas de transformação social (p. 76).

Já para Minayo (2003), citando Chesnais (1981), dá três classificações de violência, que incluem tanto o aspecto

individual quanto o coletivo, sendo eles:

Violência física: a que atinge a integridade corporal de alguém como, por exemplo, por homicídios, agressões,

violações etc.;

Violência econômica: é o desrespeito e a apropriação de bens contra a vontade de seus proprietários;

Violência moral e simbólica: refere-se à dominação cultural, ao desrespeito dos direitos e que ofende a

dignidade.

Minayo (1994), através de sua própria contribuição, defende que a violência se classificaria em:

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Violência estrutural: ligada às estruturas organizadas e institucionalizadas como a família, sistemas

econômicos, culturais e políticos, e que levam à opressão de grupos, classes, nações e indivíduos, sendo-lhes

negados seus direitos sociais;

Violência de resistência:

resposta dos grupos, classes, nações e indivíduos oprimidos à violência estrutural, sendo contestada e reprimida

pelos que detêm o poder político, econômico e/ou cultural, respondendo com o uso

da violência;

Violência da delinquência:

aquela que se expressa nas ações fora das leis, legitimadas pela sociedade, e que não podem ser compreendidas

isoladas da violência estrutural.

6 Violência e conflito
Como você já aprendeu, em algumas situações, um conflito apresenta-se em um contexto de violência, exigindo

mais do operador de segurança, quando age principalmente como um mediador.

Nesse momento, você deve agir, mantendo a tranquilidade, conquistada com a confiança nos ensinamentos

adquiridos e, acima de tudo, com firmeza, legalidade e ética.

Cabe a você, como mediador, procurar interromper o processo de violência. Se isto for impossível de ocorrer, se

esforçar para diminuí-lo o máximo que puder.

Você deve proporcionar o controle da situação conflituosa perante as partes envolvidas, de modo a restabelecer

os ânimos e a respectiva paz interpessoal e, sob o ponto de vista macro, a paz social.

Nas aulas anteriores, você já teve acesso a diversas ferramentas disponíveis para a resolução pacífica de um

conflito. Você também aprendeu as formas de se resolver um conflito, quando esta forma não for possível.

Dependendo do tipo de violência encontrada, em um conflito, pelo mediador, sua ação deve ser operacionalizada

pelo meio mais adequado para aquele caso específico, sempre agindo de forma ágil, focada e firme,

especialmente nos casos de conflito com violência.

O que vem na próxima aula


Na próxima aula, você vai estudar:
• A mediação em contexto de violência;
• A relação entre violência e conflito;
• O papel do mediador em um cenário com prática de violência ou crime.

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Saiba mais
Para saber mais sobre os tópicos estudados nesta aula, pesquise na internet sites, vídeos e
artigos relacionados ao conteúdo visto. Se ainda tiver alguma dúvida, fale com seu professor
online, utilizando os recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Aprendeu sobre o que é criminalidade e o que é violência;
• Identificou algumas classificações sobre os tipos de violência;
• Entendeu como a violência pode fazer parte do processo de conflito;
• Aprendeu como deve ser o comportamento do mediador diante de um conflito com violência.

Referências
ANDRADE, V. P. de. Sistema penal máximo versus cidadania mínima: códigos de violência na era da

globalização. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003.

BARREIRA, C. Crimes por encomenda: pistolagem e violência no cenário brasileiro. Rio de Janeiro: Relume

Dumará, 1998.

CHAUÍ, M. Uma ideologia perversa: explicações para a violência impedem que a violência real se torne

compreensível. Disponível aqui. Acesso em: 10 de dezembro de 2013.

Chesnais (1981)

GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.

Kolker (2004)

MINAYO, M. C. S. A Violência dramatiza causas. In: M. C. S. Minayo; E. R. de Souza (org.). Violência sob o olhar da

saúde: a intrapolítica da contemporaneidade brasileira. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2003.

_______________. Violência social sob a perspectiva da saúde pública. Caderno Saúde Pública. (online). Vol. 10,

supl. 1. p. 7-18. Disponível aqui. Acesso em 26 fev. 2014.

ODÁLIA, M. O que é violência. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1983.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Relatório Mundial sobre Violência e Saúde. Genebra: OMS, 2002. p. 5.

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SILVA, João Nunes de. Sociologia da Criminalidade. Apostila do Curso de Educação e Práticas Pedagógicas no

Sistema Prisional. Tocantins: UNITIS, 2008. p. 1-29.

KOLKER, Tânia. A Atuação dos psicólogos no sistema penal. In: GONÇALVES, H.S; BRANDÃO, E.P. Psicologia

Jurídica no Brasil. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2004.

XAVIER, A. A construção do conceito de criminoso na sociedade capitalista: um debate para o Serviço Social.

Rev. Katálysis, vol. 11, n 2, Jul./Dez. Florianópolis: 2008. Disponível aqui:

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