DIMENSÃO SOCIOPSICOLÓGICA DA
VIOLÊNCIA
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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
4 - Aprender sobre o comportamento que o mediador deve ter, quando estiver atuando em um contexto
Nesta aula, vamos falar sobre as distinções existentes entre os conceitos de criminalidade e violência, os tipos de
violência, bem como sua relação como parte do processo que leva a um conflito. Bons estudos!
1 Conflito grave
Você já aprendeu, nas nossas aulas anteriores, que o operador de segurança pode agir de formas diferentes,
Em alguns casos, o mediador pode resolver um conflito apenas através do uso do diálogo, de forma a negociar os
Assim, procura obter um resultado satisfatório e de comum acordo para ambas, sem que, com isso, necessite
Porém, em outros, o mediador se vê no meio de um conflito grave, com a presença de violência e de total
Dessa forma, cessa o conflito e preserva-se a ordem pública, evitando-se, desta forma, maiores transtornos e
violência.
Quando estudamos o assunto, contudo, há muita confusão entre os conceitos de criminalidade e de violência, e
algumas vezes, até entre os operadores de segurança que, em virtude de suas funções, deveriam dominar o tema
profundamente.
Com o objetivo de eliminar quaisquer dúvidas nessa diferenciação, nesta aula, você aprenderá a distinguir um
conceito do outro.
Com o objetivo de eliminar quaisquer dúvidas nessa diferenciação, nesta aula, você aprenderá a distinguir um
conceito do outro.Aprenderá, inclusive, os diversos tipos de violência existentes e entenderá melhor como a
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Falaremos sobre cada um deles, destacando suas peculiaridades, características e objetivos, de forma a permitir
que você seja capaz de conhecer mais pormenorizadamente sobre os seus objetos de trabalho: a criminalidade e
a violência.
2 Sociologia da Criminalidade
A chamada Sociologia da Criminalidade é um ramo da Sociologia que estuda os fenômenos sociais, dentre eles a
criminalidade e a violência. Dentre as teorias centrais da Sociologia, que auxiliam nos estudos da violência e da
interacionalismo.
• Positivismo
questionários e pesquisas sobre o assunto, através de amostras, experimentos etc., e o apontamento das
Conforme Giddens (2005, p. 176), “para as teorias funcionalistas, o crime e o desvio são resultados de
Já para Durkheim, considerado um dos principais teóricos funcionalistas, o crime é normal nas
desenvolvimento.
Segundo ele, para controlar o crime, existem as instituições sociais, que são constituídas, evidentemente,
• Funcionalismo
Pela teoria do funcionalismo, por Durkheim, as crises eram causadas por aspectos morais e não
econômicos.
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Ele compara a sociedade a um organismo composto de várias partes que, funcionando em harmonia,
evita que, no caso de problema com algum deles, acarrete problemas aos demais.
Isto é, esta teoria tende a observar e a analisar a sociedade como um todo, como um órgão funcional
A teoria analisa a sociedade sob o ponto de vista geral, considerando cada elemento que a compõem, em
um sistema integrado.
A teoria analisa a sociedade sob o ponto de vista geral, considerando cada elemento que a compõem, em
um sistema integrado.Assim, o crime é visto, no meio social, como possuindo elementos, fatores, causas,
consequências, objetos. Desta forma, deve ser analisado não como um todo, mas sim, de forma detalhada.
• Teoria do controle
Segundo essa teoria específica, se uma janela for quebrada e não for consertada, alguns indivíduos,
supostamente, podem entender tal fato como uma oportunidade para praticar crimes.
Isso porque eles podem ter a percepção de que a polícia e os moradores não se preocupam com a
• Teoria do conflito
Para a teoria do conflito, todos os indivíduos são propensos a cometer algum tipo de crime, bastando
haver a oportunidade, dependendo do contexto em que uma pessoa se encontra, como, por exemplo, a
Ela tem por base o Marxismo e, segundo ela, o desvio seria uma conduta deliberada e, frequentemente,
de natureza política.
Esta teoria rejeita a ideia de que o desvio seja determinado por fatores como a biologia, a personalidade
etc.
A teoria do conflito critica o modelo capitalista de sociedade, defendendo que o capitalismo seria o
• Interacionalismo
A teoria interacionista estuda o crime e o desvio na sociedade, percebendo o desvio como um fenômeno
construído historicamente.
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Ela rejeita a ideia de que haja tipos de conduta inerentemente desviantes, assim como o processo de
Esta teoria defende que, em uma sociedade, existem várias subculturas e que, assim, certos ambientes
Portanto, alguns indivíduos poderiam se tornar delinquentes pelo fato de se associarem a outros que já
3 Conceito de criminalidade
· Tânia Kolker
Segundo Kolker (2004), a criminalidade é considerada um fenômeno complexo e multideterminado, que exige a
· Vera Andrade
Para Andrade (2003), a criminalidade deve ser entendida como um status, que é dado a alguns indivíduos,
devendo ser vista como parte de um processo duplo que, inicialmente, define de forma legal o que é crime,
Na verdade, uma conduta não é criminal em si mesma, nem seu ator deve ser considerado um criminoso nato.
Sendo assim, a atribuição do caráter criminal a certa conduta e, por consequência, o posterior rótulo de
criminoso ao seu autor dependerá de certos processos sociais para a sua definição e sua seleção.
4 Conceito de violência
Conceituar violência é sem dúvida uma tarefa complexa, já que o termo pode ser analisado de diversas formas e
sob diversos aspectos, seja do ponto de vista jurídico, antropológico, sociológico, dentre outros.
Sendo assim, optamos por alguns comentários a respeito, partindo do aspecto sociológico do termo.
Acreditamos que para você, na função de operador de segurança, será mais útil, tanto para o seu conhecimento
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[...] 1) Tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de algum ser (é desnaturar);
2) Todo ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém (é coagir, constranger, torturar,
brutalizar);
3) Todo ato de violação da natureza de alguém ou de alguma coisa valorizada positivamente por uma sociedade
(é violar);
4) Todo ato de transgressão contra o que alguém ou uma sociedade define como justo e como um direito (p. 1).
Uma definição sociológica de violência supõe a negação de classificações apriorísticas. A violência é gerada e
A tentativa de alcançar a complexidade do problema inclui também a necessidade de superar oposições clássicas
Em um sentido amplo, contudo, a violência pode se manifestar através da opressão, do abuso ou do excesso de
poder ou pela tirania e podemos afirmar que ela surge em virtude do constrangimento sobre uma pessoa, para
Porém, a violência se faz presente desde que o mundo é mundo, pois é inerente ao ser humano e às sociedades,
Violência vem do latim "violentia", que remete a "vis", que significa força, vigor, emprego de força física ou os
recursos do corpo para exercer sua força vital e esta força torna-se violência quando ultrapassa um limite ou
perturba acordos tácitos e regras, que ordenam relações, adquirindo carga negativa ou maléfica.
É, portanto, a percepção do limite ou da perturbação (e do sofrimento ca), que vai caracterizar o ato como
5 Tipos de violência
Agora, iremos tratar da classificação dos tipos de violência, que podem ser várias, na verdade.
Segundo a classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS), em seu Relatório Mundial sobre Violência e
· Na violência interpessoal, temos a ocorrida em uma família ou entre pessoas com grau de parentesco ou em
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Em outra classificação, há o crime urbano, as grandes violações contra os direitos humanos e a violência nas
relações intersubjetivas.
O crime urbano divide-se em crime comum e em crime organizado, enquanto que as grandes violações
abrangem crimes que vão contra os direitos à vida e às liberdades civis e públicas.
Por fim, na violência nas relações intersubjetivas, temos crimes como a violência policial, os linchamentos, as
Violência social
Certos atos violentos que atingem, seletiva e preferencialmente, certos segmentos da população – os mais
desprotegidos, evidentemente – ou, se possuem um alcance mais geral, são apresentados e justificados como
Por exemplo: quando os governantes dão prioridades ao desenvolvimento econômico e desprezam as medidas,
ou essas se apresentam de forma incipiente em relação à fome, ao analfabetismo, ao trabalho infantil, à violência
Violência política
Pode ser um assassinato político, a invasão de um país por outro, o desaparecimento de dissidentes, legislação
eleitoral que frauda a opinião pública, leis que não permitem às classes sociais, especialmente ao operariado,
Violência revolucionária
Pode expressar-se tanto pelo atentado político individualizado, pelo terrorismo contra grupos, por lutas
armadas, greves, quanto por ações de grupos ou indivíduos que antes expressam suas frustrações e confusões
ideológicas e mentais do que propriamente suas convicções políticas de transformação social (p. 76).
Já para Minayo (2003), citando Chesnais (1981), dá três classificações de violência, que incluem tanto o aspecto
Violência física: a que atinge a integridade corporal de alguém como, por exemplo, por homicídios, agressões,
violações etc.;
Violência moral e simbólica: refere-se à dominação cultural, ao desrespeito dos direitos e que ofende a
dignidade.
Minayo (1994), através de sua própria contribuição, defende que a violência se classificaria em:
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Violência estrutural: ligada às estruturas organizadas e institucionalizadas como a família, sistemas
econômicos, culturais e políticos, e que levam à opressão de grupos, classes, nações e indivíduos, sendo-lhes
Violência de resistência:
resposta dos grupos, classes, nações e indivíduos oprimidos à violência estrutural, sendo contestada e reprimida
pelos que detêm o poder político, econômico e/ou cultural, respondendo com o uso
da violência;
Violência da delinquência:
aquela que se expressa nas ações fora das leis, legitimadas pela sociedade, e que não podem ser compreendidas
6 Violência e conflito
Como você já aprendeu, em algumas situações, um conflito apresenta-se em um contexto de violência, exigindo
Nesse momento, você deve agir, mantendo a tranquilidade, conquistada com a confiança nos ensinamentos
Cabe a você, como mediador, procurar interromper o processo de violência. Se isto for impossível de ocorrer, se
Você deve proporcionar o controle da situação conflituosa perante as partes envolvidas, de modo a restabelecer
os ânimos e a respectiva paz interpessoal e, sob o ponto de vista macro, a paz social.
Nas aulas anteriores, você já teve acesso a diversas ferramentas disponíveis para a resolução pacífica de um
conflito. Você também aprendeu as formas de se resolver um conflito, quando esta forma não for possível.
Dependendo do tipo de violência encontrada, em um conflito, pelo mediador, sua ação deve ser operacionalizada
pelo meio mais adequado para aquele caso específico, sempre agindo de forma ágil, focada e firme,
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Saiba mais
Para saber mais sobre os tópicos estudados nesta aula, pesquise na internet sites, vídeos e
artigos relacionados ao conteúdo visto. Se ainda tiver alguma dúvida, fale com seu professor
online, utilizando os recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Aprendeu sobre o que é criminalidade e o que é violência;
• Identificou algumas classificações sobre os tipos de violência;
• Entendeu como a violência pode fazer parte do processo de conflito;
• Aprendeu como deve ser o comportamento do mediador diante de um conflito com violência.
Referências
ANDRADE, V. P. de. Sistema penal máximo versus cidadania mínima: códigos de violência na era da
BARREIRA, C. Crimes por encomenda: pistolagem e violência no cenário brasileiro. Rio de Janeiro: Relume
Dumará, 1998.
CHAUÍ, M. Uma ideologia perversa: explicações para a violência impedem que a violência real se torne
Chesnais (1981)
Kolker (2004)
MINAYO, M. C. S. A Violência dramatiza causas. In: M. C. S. Minayo; E. R. de Souza (org.). Violência sob o olhar da
_______________. Violência social sob a perspectiva da saúde pública. Caderno Saúde Pública. (online). Vol. 10,
ODÁLIA, M. O que é violência. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1983.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Relatório Mundial sobre Violência e Saúde. Genebra: OMS, 2002. p. 5.
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SILVA, João Nunes de. Sociologia da Criminalidade. Apostila do Curso de Educação e Práticas Pedagógicas no
KOLKER, Tânia. A Atuação dos psicólogos no sistema penal. In: GONÇALVES, H.S; BRANDÃO, E.P. Psicologia
XAVIER, A. A construção do conceito de criminoso na sociedade capitalista: um debate para o Serviço Social.
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