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RESUMO
O objetivo deste artigo é investigar a expressividade do corpo do ator espontâneo e sua possível
importância para o teatro. Esta investigação se justifica especialmente pela relevância de seu objeto
de estudo como uma atividade possível, que amplos setores da humanidade podem produzir e realizar
essa linguagem teatral e as possibilidades expressivas por ele generados. Quando falamos do ator
espontâneo, remetemo-nos a essa pessoa que pratica a arte da representação sem preocupar-se com
conceitos teóricos e estéticos. Ele busca satisfazer seu desejo de expressar-se como ator, por meio de
seu corpo. Apontamos essa manifestação como uma necessidade primordial de todo ser humano e
situamos o corpo deste ator como fronteira do seu processo criativo. A partir do momento que ele
estabelece seu físico como elemento criativo, traça ai uma relação direta e imediata com as outras
formas artísticas. Esse ator usa seu corpo como meio de comunicação, assumindo um signo teatral.
Percebemos em nossa investigação que em diversas apresentações, ele esquece a voz e dá margens
ao corpo, como elemento maior da sua expressão. Do ponto de vista metodológico, o presente artigo
adota para seu desenvolvimento, um procedimento principal de caráter indutivo que se serve de
complementos analíticos tais como estudo bibliográfico, análises documentais, entrevistas e
observaçoes de espetáculos.
Palavras-chave: Teatro, social, Interpretação.
ABSTRACT
The aim of this article is to investigate the expressiveness of the spontaneous actor's body and its
possible importance for the theater. This investigation is justified especially by the relevance of its
object of study as a possible activity, which wide sectors of humanity can produce and carry out this
theatrical language and the expressive possibilities it generates. When we speak of the spontaneous
actor, we refer to that person who practices the art of representation without worrying about
theoretical and aesthetic concepts. He seeks to satisfy his desire to express himself as an actor, through
his body. We point out this manifestation as a primordial need of every human being and place this
actor's body as the frontier of his creative process. From the moment he establishes his physique as a
creative element, he draws a direct and immediate relationship with the other artistic forms. This actor
uses his body as a means of communication, assuming a theatrical sign. We realized in our
investigation that in several presentations, he forgets his voice and gives margins to the body, as a
major element of his expression. From the methodological point of view, this article adopts for its
1 INTRODUÇÃO
O ator espontâneo não se preocupa com o espaço onde apresenta seus espetáculos, isso não é
ponto decisivo para suas apresentações, pois ele está mais ligado à energia que desprenderá para
desenvolver seus anseios. Para esse ator, qualquer espaço é cênico, possibilitando, com isso, a
ativação de qualquer lugar, seja ele qual for, dando vida a qualquer ambiente, por onde passa,
tornando-o um espaço vivo. O que importa o momento. Quando afirmamos isto, queremos dizer que
suas apresentações não se limitam aos espaços convencionais de teatro, pois se caracterizam como
evento. Nesse sentido, concordamos com o artista Marcel Duchamp, quando dizia que qualquer
atitude humana poderá se transformar em um ato artístico.
Entendemos que sua arte está mais para um ato ritualístico rotineiro do que, propriamente,
para um espetáculo na acepção do teatro burguês. Daí ele rompe qualquer fronteira e quebra todas as
convenções estabelecidas para o teatro. Sem conhecimento da causa e sem perceber, ele quebra as
regras do teatro formal.
Observando com delicadeza e juntando as informações, constatamos que, nesse ator,
concentra-se a célula da performance, pois é um artista que contesta tudo que está posto, permitindo
e praticando uma arte livre de quaisquer conceitos e regras que venham a enquadrá-lo em uma teoria
teatral, mesmo assim podemos identificá-lo em movimentos ideológicos. A performance está
embasada em três pilares de sustentação que dão ênfase ao seu trabalho de ator, destacando-se a
plateia, o texto (escrito ou não) e o ator performático. É possível imaginar que o ator espontâneo
esteja atrelado aos espetáculos de improvisação.
Consideramos o ator espontâneo, dono da ação. É ele quem define seu momento e atira-se no
processo criativo, tendo unicamente seu corpo como referência, sempre questionando pontos que são
comuns à sociedade. Ele até pode, em processo de montagem de algum espetáculo, memorizar um
texto escrito por algum autor, mas o fator autoral de criação do personagem continuará sendo sempre
seu. Para esse ator, o texto não se limita somente à parte escrita pelo dramaturgo, mas a própria
dramaturgia de seu corpo, como signo e fronteira de sua expressividade. Nesse sentido, a
representação do ator estabelece uma relação imediata e objetiva com a plateia que, nesse tipo de
espetáculo torna-se um público atuante.
O ator espontâneo experimenta, vivencia e a ele agrada o processo da montagem, pois, para
ele, o que importa é o que se passa no processo da montagem, as diversas mudanças. Se esse ator
carrega, em seu corpo, as referências de sua representação, podemos dizer que suas ações físicas são
Nesta lição, nós aprendemos a reconhecer algumas das propriedades fundamentais dos
mecanismos de controle dos músculos voluntários. Você descobrirá que cerca de trinta
movimentos lentos, leves e pequenos, são suficientes para mudar o tônus fundamental dos
músculos, isto é, o estado de sua contração antes que sejam ativadas pela vontade. Uma vez
efetuada a mudança de tônus, ela espalhar-se-á pela metade inteira do corpo, que contém a
parte originalmente trabalhada. Uma ação se torna fácil de ser realizada e os movimentos se
tornam leves, quando os músculos grandes do centro do corpo fazem a parte principal do
trabalho, e os membros somente dirigem os ossos para a finalidade do esforço.
Essa explanação reforça a utilização da musculatura, como ponto de partida para o movimento
corporal, pelo que está considerada como elemento principal do ator. Mas essa musculatura precisa
de exercícios para que o corpo inteiro esteja sempre preparado para a ação. Quando o ator trabalha
seu corpo, deve ter plena consciência de que, além do corpo presente, há consciência de seu estado
físico e de sua energia ativa. Chamamos consciência corporal o estado de permanecer ativo todo o
corpo do ator, sem deixar partes esquecidas. Ao permanecer com o corpo ativo, o ator está consciente
das partes implicadas em suas atividades e suas conexões, pois o corpo todo se liga e se corresponde
entre si. Nessa conexão, está incluído o corpo, com o aparelho fonador, e a capacidade de raciocínio.
A expressividade corporal constitui-se pela integração de ações conscientes e ações
involuntárias. Para que ocorra a expressividade em toda sua potencialidade e coerência, será
necessário o uso correto do tônus muscular. Para que ocorra qualquer consciência corporal, o sistema
nervoso deverá ser correspondido com as ações complexas elaboradas pelo cérebro. Ao abordar o
tônus muscular da expressividade do corpo do ator, vale recordar que toda ação muscular é
movimento, e toda ação é resultado de uma ação muscular. O movimento corporal está presente na
intensidade, coordenação mecânica, coordenação temporária e espacial. Moshe Feldenkrais (1977, p.
55), traduz o movimento e a atividade muscular, geradora da ação, da seguinte maneira:
Desse modo, o todo está unido ao sistema nervoso quando os músculos se contraem e a
expressão facial e a voz refletem uma infinidade de impulsos. Em outras palavras, os músculos são
Pensando assim e observando a desenvoltura do ator, adverte-se, então, que o corpo é sua
fonte inspiradora. Pelas características que ele demonstra, nota-se que a expressividade não se limita
somente ao corpo, mas a toda capacidade que o ser humano tem de se expressar, criando sua expressão
física para o teatro ou a dança, ou na expressão intelectual, ao construir textos, poesias e trabalhos
subjetivos de processo criativo. O ser expressivo caminha junto à capacidade de improvisação da
cada um. Para isso, a expressividade não interessa somente como habilidade técnica, mas também
como improvisação necessária. Dessa maneira, surge com a capacidade que o ator tem de repetir.
Também conta, para essa ocasião, sua partitura corporal disponível para o que vá surgindo a partir
desse momento.
Inicialmente, a expressividade sempre remeterá à espontaneidade, diferente do corpo cênico,
que somente criará a partir de regras preestabelecidas. Até permitem-se movimentos repetitivos sobre
a capacidade criadora, mas a espontaneidade é necessária para que o ato criativo aconteça e a
linguagem chegue até o interlocutor sem nenhuma interferência.
Ao observar o ator espontâneo, percebemos que sua capacidade expressiva se situa na
habilidade que ele tem de deixar seu corpo e sua mente despojada para que o outro compartilhe a
cena e construa coletivamente sua história. Quando esse não trabalha com textos pré-fabricados, sua
criatividade surge com maior fluidez. O entendimento correto desse ator está na contextualização do
texto, no qual o gesto e os pensamentos contribuirão para construir um ser expressivo. As relações
de corpo, pensamento e falas traduzem-se na expressividade do ator, sem a necessidade de evocar
lembranças nem sentimentos próprios, mas sim, compreender o contexto histórico, social e político.
De acordo com Augusto Boal (2010, p. 16), é fundamental que ele entenda a expressão do gesto de
seu personagem.
Para esse tipo de ator, o ser expressivo não é, por si só, o gesto pelo gesto, aqui falamos de
ações espontâneas. Fugindo de qualquer gestual mecânico, o gesto ou o ser expressivo não expõem
uma realidade distante do corpo, estando presente como elemento essencial que se traduzirá na prática
desse entendimento social e político. O ator guarda, em seu interior, a capacidade de criação
apropriada a sua expressividade. Por ter ligação com a palavra, o texto representa a atitude política,
em que o ser expressivo permite avaliar o que se escuta no texto e o que se observa no gesto. Esse
ator tem como característica peculiar, a expressão do gesto aliada à força do texto falado. Deve-se
Neste sentido, os movimentos expressivos das partes do corpo, não são auto expressivos, não
é uma resposta aos seus estados de ânimo e nem agente produtor, são bem mais o resultado
de um trabalho do que o desejo da comunicação e da arte atuar juntas na mesma medida, os
movimentos expressivos estão em um nível de pura ficção, sob o controle de um desejo bem
orientado a que os impulsiona a um caminho (e não se pode admitir que fujam de seu objetivo
principal, sem o qual todo significado que impedem a comunicação das intenções desejadas).
O ator que usa seu corpo conscientemente trabalha sua expressividade e fontes criadoras, de
modo que tudo isso represente para ele um resumo de situações. Nesse processo coletivo de
criatividade, o diretor arbitrário, que impõe sua ideologia e destrói a obra expressiva, não tem razão
de existir. Por muito tempo, pensou-se que a expressividade do artista surgia como uma graça divina
ou que era possível formar um ator somente com um agregado de técnicas adquiridas. Tinha-se
esquecido que a expressividade é um sistema complexo, que tem como fonte o mesmo corpo em
busca de seu movimento expressivo. Assim, o ator espontâneo além de usar sua experiência física
como recurso cênico, utiliza também sua própria experiência estética.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para o estudo prático do corpo do ator espontâneo, investigamos a sua expressividade e a
gênese da sua estrutura corporal, ao construir seus espetáculos e personagens. Para isso, observamos
as matrizes dos personagens construídos por 10 atores/atrizes do Curso Princípios Básicos de
Teatro/CPBT - Theatro José de Alencar. Percebemos a gestualidade desses personagens como forma
da expressividade do grupo. A permanência de certas atitudes originárias do quotidiano, expandidas
REFERÊNCIAS