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HEAVY METAL: A Segmentação da Segmentação

Autor: Adriano Morais Lemos*

Resumo

Aborda-se neste artigo científico, com base nos conhecimentos obtidos através da disciplina de
Gestão Estratégica do curso de MBA em Gestão Estratégica e Inteligência em Negócios do Unis
(Centro Universitário do Sul de Minas em Varginha – MG), a indústria musical como macro-
mercado, explica-se sua segmentação de mercado em gêneros musicais focando no mais
característico deles, o Metal (Heavy Metal, popularmente conhecido), segmentando-se em seus
gêneros, subgêneros, tendências, vertentes e peculiaridades inerentes a este estilo musical.
Adotando-o como micro-mercado (nicho), analisa-se a transformação de um mercado específico
que se subdivide em quatro grandes gêneros e que gera uma infinidade de outros subgêneros
influenciados por variâncias dos próprios gêneros ou agregação de tendências de outros gêneros
fora do Metal, gerando novos estilos e novas tendências, demonstrando sua evolução,
transformação e comercialização ao longo de quatro décadas. Adota-se como parâmetros suas
quatro maiores vertentes comerciais: o Heavy Metal, o Thrash Metal, o Death Metal e o Black
Metal. O objetivo é comprovar que quanto mais específico o mercado (mercado musical), ou
seja, maior sua segmentação (Metal), maior é a tendência de se gerar fidelização junto ao seu
público-alvo (Headbangers) e mais avesso às mudanças este se torna.

Palavras-chave: Segmentação de Mercado. Fidelização. Heavy Metal.

1. Introdução

Heavy Metal: A primeira vez que a expressão Heavy Metal foi utilizada foi no livro
“Almoço Nu” de William Burroughs (1959), na música, quem primeiro a usou foi a banda
Steppenwolf no clássico hino motoqueiro “Born to be Wild” (1968), nos anos 70 a expressão
passou a definir, a grosso modo, um tipo de Rock surgido na Inglaterra caracterizado pelo peso e
lírica avessa ao otimismo hippie que imperava na época. Quando o Heavy Metal se multiplicou
em subgêneros, passou-se a adotar a terminologia Metal, para se referir a um gênero maior, do
qual o próprio Heavy Metal é uma das vertentes.

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Pós Graduando MBA em Gestão Estratégica e Inteligência em Negócios – Av. Doutor José Marcos, 708, Bom
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Pastor, CEP: 37.014-260, Varginha – MG. E-mail: adrianomoraislemos@gmail.com.
Incontestavelmente o Metal mudou os rumos do mercado do entretenimento musical,
explicitamente influenciado pelo Blues de BB King, Eric Clapton, Yardbirds, etc. e pelo
Rock’Roll de The Doors, Creedence, Bob Dylan, The Who, Jimmy Hendrix Experience, Cream,
Rolling Stones, Beatles, etc., e ainda por bandas de Hard Rock que podem ser consideradas como
uma espécie de Metal primitivo como: Grand Funk Railroad, Blue Cheer, Led Zeppelin, Deep
Purple. O gênero Heavy Metal nasceu no começo da década de 1970, com a banda Black Sabbath
(Birminghan-Inglaterra), cujo nome foi retirado do filme de terror de Boris Karloff datado de
1963, liderada pelo guitarrista Tony Iommi e o carismático Ozzy Osbourne, eles estavam
inseridos em meio a um cenário músico-cultural dominado por hippies da geração Woodstock do
lema “Paz e Amor”, enquanto estavam expostos aos resquícios da guerra e conflitos sociais na
cidade industrial de Birgminghan. Esta situação completamente contraditória foi a raiz para que o
peso do Metal fosse criado para refletir as insatisfações e obscuridade da realidade da época e
permanece a cativar fãs no mundo inteiro até os dias atuais através de seus acordes de guitarra
distorcidos, batidas intensas, vocais fortes e uma temática que não se intimida em abordar temas
como destruição, violência e morte.
O álbum Black Sabbath (1970) da banda homônima, que foi considerado uma aberração
para a época, inspirou, pouco tempo depois, o Judas Priest e o Motorhead, que influenciaram o
Iron Maiden, esbarrou no Venom, que se multiplicou no Metallica e Slayer que geraram o Death,
o Possessed e assim sucessivamente, esta avalanche, que perdura por quatro décadas, estabeleceu
definitivamente o Metal como um dos segmentos mais populares da cultura mundial.
Seu público-alvo é composto pelos denominados Headbangers (batedores de cabeça, em
referência ao ato de chacoalhar a cabeça para frente e para trás, gesto característico dos fãs ao
escutar as músicas do gênero), a palavra define a pessoa que se identifica com o gênero, um
sinônimo para o fã, podendo, também, referir-se aos músicos do segmento. Não se aceita o termo
“metaleiro”, surgido fora da cena metal e, inicialmente, tendo sentido pejorativo.
Para lidar com o Metal a indústria musical fez uso da segmentação de mercado, segmentar
um mercado significa escolher um grupo de consumidores, com necessidades parecidas, para
qual a empresa ofertará seus produtos ou serviços, este processo de segmentação requer que
sejam identificados os fatores que afetam as decisões do público-alvo em suas compras, ou seja,
deve existir alguma pessoa com necessidade a ser satisfeita com a compra do produto ou serviço,
esta deve ter o poder aquisitivo para comprar e condições para efetuar a compra. Os requisitos

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para a utilização da segmentação de mercado são que o segmento possa ser identificável,
mensurável, acessível, rentável e estável para atender as necessidades mercadológicas tanto das
empresas e quanto dos consumidores de maneira mais eficaz.
Tendo a empresa definido seu mercado-alvo, é preciso posicionar o produto nesse mercado.
Posicionamento de produto significa conseguir que este ocupe um lugar claro, distinto e desejável
em relação aos demais produtos concorrentes ou similares na mente do público-alvo.

Durante sua evolução ao longo destas quatro décadas de existência, o Metal se tornou um
segmento do mercado musical e subdividiu-se em vertentes, compondo outros quatro sub-
segmentos de mercado dentro de um maior. É a segmentação da segmentação composta por:

• Heavy Metal: Gênero que deu origem ao estilo e que mais tarde se tornou subgênero,
surgiu com o Black Sabbath em 1970, teve em Judas Priest o maior disseminador tal qual se
conhece hoje influenciando, no início de 1980, a chamada New Wave of British Heavy Metal
(Nova Onda do Heavy Metal Britânico), que revelou bandas como Iron Maiden, Def Leppard,
Saxon e Diamond Head. Versa sobre críticas sociais, ficção, ocultismo, temas épicos, míticos,
etc. Subgêneros: Heavy Metal Tradicional, Glam Metal, Heavy Metal Melódico, Heavy Metal
Medieval, Power Metal, Prog Metal, Folk Metal, Goth Metal, etc. Principais artistas: Black
Sabbath, Judas Priest, Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Dio, Manowar, Helloween, Mercyfull Fate,
King Diamond, Running Wild, Savatage, etc.
• Thrash Metal: Surgido no começo dos anos 80, nos EUA, tendo como principais
representantes bandas como Metallica, Megadeth, Slayer e Anthrax. É marcado por músicas
velozes, riffs pesados e distorcidos, percussão em destaque e vocal gutural (que vem do fundo da
garganta, gritado). As letras costumam versar, raivosamente, sobre temas sociais. Subgêneros:
Thrash Metal Oitentista, Speed Metal, Thrash Metal Moderno, Thrash Metal Industrial,
Crossover, Thrashcore, Thrash/Death, etc. Principais Artistas: Metallica, Megadeth, Slayer,
Anthrax, Exodus, Testament, Overkill, Sepultura, Kreator, Sodom, Destruction, Pantera, etc.
• Black Metal: Surgido pouco antes do Thrash Metal, o Black Metal tem como
características próprias uma bateria super veloz, vocal com gritos agudos e guitarras altamente
distorcidas. Os temas são variações de um anti-cristianismo, por vezes flertando com o
paganismo, folclore europeu e ideologias nacional-socialistas. Bandas como Venom (Inglaterra) e
Hellhammer/Celtic Frost (Suíça) são pioneiras, contudo o grande pólo de Black Metal tornou-se a

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Noruega, lar de Mayhem e Burzum. Subgêneros: Black Metal Original, Black Metal Moderno,
Black Metal Melódico, Atmosferic Black Metal, Brutal Black Metal, Pagan Metal, etc.,
Principais artistas: Venom, Bathory, Hellhammer, Celtic Frost, Mayhem, Burzum, Marduk,
Immortal, Darkthrone, Behemoth, Emperor, Dimmu Borgir, Cradle Filth, etc.
• Death Metal: Foi criado em meados dos anos 1980 pelas bandas Death e Possessed
trazendo tanto elementos do Thrash Metal quanto do Black Metal, tomou força no início de 1990.
A bateria continua ultra-veloz, a estrutura das canções é complexa, os vocais são ainda mais
guturais (mais selvagens que no Thrash Metal). As letras costumam se concentrar em temas
relacionados com a morte e violência flertando por vezes com temas satanistas e ocultistas.
Subgêneros: Death Metal Old School (Tradicional), Death Metal Moderno, Death Metal
Melódico, Brutal Death Metal, Doom Metal, Grindcore, Splatter, Death/Thrash, etc. Pricipais
Artistas: Death, Possessed, Cannibal Corpse, Morbid Angel, Deicide, Benediction, Autopsy, Six
Feet Under, Napalm Death, Dismember, etc.

Figura 1: Árvore genealógica do gênero musical Metal segundo sua segmentação de mercado.
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2. Desenvolvimento

2.1. Indústria do Entretenimento Musical

Um dos mercados mais atraentes e rentáveis é, sem dúvida alguma, o mercado do


entretenimento, não há explicação lógica ou nem se pode avaliar o valor de um ídolo para seus
fãs, e estes estão dispostos a fazer o possível e o impossível, não importando os custos, para se
sentirem mais perto dos seus ídolos seja através do seu material artístico, shows, souvinirs, etc.,
uma verdadeira adoração.
O mercado musical já foi a menina dos olhos da indústria do entretenimento, vide as mega
gravadoras como Sony que possui em seu cast artistas como Ozzy Osbourne através do selo Epic,
e mega eventos gigantescos patrocinados por grandes corporações como: Monsters of Rock
(Donington na Inglaterra), patrocinado pela Philips na primeira das quatro edições ocorridas no
Brasil, Dynamo Open Air (Holanda), Wacken Open Air Festival (Alemanha) ou mesmo o Rock’n
Rio (Brasil) que se tornou um evento itinerante como o Ozzfest (EUA).
A grande fonte de renda dos artistas, gravadoras e todos que cercam este meio já não é, de
maneira nenhuma, a vendagem de álbuns, ou seja, o resultado primordial de sua produção
artística, ao contrário de outros tempos, hoje em dia ganha-se dinheiro com tours mundiais ou
participação em grandes eventos, não que antigamente tais tournês não fossem rentáveis, mas
onde se vendiam muitos milhões de álbuns, hoje se vendem poucos milhares, isto se deve à
singularidade deste mercado uma vez que envolve algo intangível como o som, este mercado se
viu abalado pelo advento do mp3 durante a disseminação da internet e a pirataria em meados de
1990, não se precavendo ou se adaptando a esta nova realidade mundial. Ao promover tendências
de mercado consumistas onde o público absorvia materiais descartáveis, pode-se considerar que
este mercado cometeu suicídio. Ao procurar formar um público consumidor de todas as
tendências, ou seja, um público-alvo que comprasse de tudo, acabou por gerar um consumista que
passou a viver do momento da moda musical, ou seja, para ele não é importante possuir o
material do artista e sim ouvir este material em determinado momento e depois descartar. Os
únicos estilos que ainda resistem e que têm vendagens consideráveis são: Pop de artistas
consagrados e o Gospel, mundialmente falando, o Rap norte americano e o Metal com vendagens
moderadas, devido à fidelidade dos fãs, que adquirem todo o material do seu artista ou gênero
favorito que vai desde álbuns (LPs ou CDs oficiais ou não oficiais), indumentárias (camisetas,

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bonés, calças, etc.), vídeos (DVDs ou Vídeo Tapes oficiais ou não oficiais), revistas, pôsteres,
jornais, itens especiais para colecionadores como Box Sets, chegando até a consumir bebidas de
determinadas bandas, bonecos, tatuagens, instrumentos musicais, etc., ingressos dos shows,
palhetas, baquetas dos artistas se tornam verdadeiras relíquias, que chegam a ser negociadas em
leilões.
Após esta breve explicação, abordar-se-á a indústria musical que possui em seu leque
inúmeros estilos que vão desde o Pop, Rock, Clássico, Jazz, Blues, Country, Rap, Gospel,
Techno, Dance, etc. e de acordo com os costumes de cada país temos seus próprios estilos como
é o caso do Brasil com MPB, Axé, Funk, Sertanejo, Pop Rock, Forró, etc., e mais uma série de
gêneros regionais (Frevo, por exemplo). Cada estilo possui um público ouvinte com diferentes
características, costumes e tendências próprias e, aproveitando esta característica peculiar, focar-
se-á um segmento muito específico que é o comumente chamado Heavy Metal (atualmente
subgênero), que neste caso trataremos como Metal (termo correto para o gênero), este possui
como características um público muito conservador e fiel denominado de Headbangers (batedores
de cabeça), sendo considerado o estilo mais pesado e incompreendido de todos os tempos.

2.2. História do Metal

13 de fevereiro de 1970 é a data de lançamento do primeiro álbum do Black Sabbath


apontada pelo jornalista americano Ian Christe como marco zero na fundação do estilo musical,
depois batizado de Heavy Metal. Christe conta, passados 40 anos, através do livro “Heavy Metal
– A História Completa”, como os riffs distorcidos de Tony Iommi e o vocal soturno de Ozzy
Osbourne tinham um futuro incerto em meio aos resquícios da geração paz e amor de Jimi
Hendrix e Janis Joplin. Ele ainda considera que, mesmo que tenham contribuído para o gênero,
bandas lendárias como Led Zeppelin, Deep Purple e Blue Cheer, não podem ser chamadas de
Heavy Metal, e sim, Hard Rock. O professor Jéder Janotti é pesquisador do assunto e concorda
em parte com essa opinião: “O peso do Metal e essa temática de ligação com o outro lado, os
aspectos sombrios, realmente, vêm do Black Sabbath. Mas, em termos sonoros, o Deep Purple
influenciou toda uma leva de bandas de metal melódico nos anos 1990”, considera o autor de
Heavy Metal com Dendê: Rock Pesado e Mídia em Tempos de Globalização (E-PAPERS, 2004).
A chegada de músicos como Alice Cooper e outras bandas após o Black Sabbath, como
Judas Priest, Motorhead, etc. consolidaram os anos 70 como o “prelúdio do peso”, nas palavras

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de Ian Christe, mas logo os punks se ergueram diante da crise econômica inglesa, sobrepondo-se
ao ânimo dos Headbangers pioneiros. A atitude punk autodestrutiva causou seu enfraquecimento
e rapidamente foi deixado de lado, embora muito de seu comportamento e temática também
tenham influenciado e sido incorporadas pelos pioneiros do Thrash Metal posteriormente, assim
sendo retornaram os Headbangers com ânimo renovado, dando origem ao movimento batizado
como “The New Wave Of The British Heavy Metal” (A Nova Onda do Heavy Metal Britânico),
para exemplificar temos que de roadie da banda Jimi Hendrix Experience, Lemmy Killmster
(ícone do Metal), virou líder do Motorhead, o Iron Maiden uniu harmonias complexas à
velocidade de suas guitarras duplas e o Venom escandalizava com o seu “Heavy Metal Satânico”,
não obstante, na América do Norte o Metallica alcançou sucesso surpreendente, conquistando um
público além de jovens cabeludos em resposta ao Metal inglês.
O Metal nasceu no vácuo, em suas origens na Inglaterra, bandas como Black Sabbath e
Judas Priest não se encaixavam na cena musical da moda londrina, depois, grupos norte-
americanos como Slayer, Metallica vieram da periferia de Los Angeles, respondendo à Europa
com um novo tipo de música explodindo no Thrash Metal da Bay Area de São Francisco (EUA)
com Testament, Exodus, Forbidden, Death Angel, Vio-Lence entre outros. O Sepultura do Brasil
foi a primeira banda de fora dos EUA e Europa a ter grande repercussão internacional
ultrapassando os limites da América do Sul. Atualmente, as bandas mais selvagens vêm do
sudeste da Ásia, de países como Índia, Cingapura e Sri Lanka, conforme cita Ian Christie: “É
totalmente insano que essa música ainda conecte pessoas de todas as culturas. Quanto ao Oriente
Médio, não posso expressar o quanto respeito à dedicação das bandas que tocam lá. Ensaiar e
fazer um pouco shows já implica numa luta constante na Síria, na Jordânia, no Marrocos, em
Israel e no Líbano. Você pode dizer que a música é mais do que uma escolha de consumo, é um
modo de vida pelo qual vale à pena lutar, alcançando sempre algo mais verdadeiro e gratificante,
através música intensa”.

2.3. O Público Headbanger

Sobre o público-alvo, um pré-conceito errôneo que se deve anular é o que coloca o Metal
como um gênero obtuso de ouvintes desmiolados, drogados e violentos. Segundo pesquisa
conduzida pela University of Warwick, da Inglaterra, adolescentes inteligentes ouvem Metal para
lidar com as pressões associadas a serem talentosos. Os pesquisadores analisaram 1.057 jovens
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membros da National Academy for Gifted and Talented Youth (Academia Nacional Para Jovens
Especialmente Dotados e Talentosos), uma associação cujos 120.000 estudantes estão entre os
5% de melhor desempenho entre os jovens ingleses de 11 a 19 anos. O resultado vem como um
alívio para os pais cujos filhos são devotos de Iron Maiden, AC/DC e seus descendentes
musicais. Os pesquisadores descobriram que, longe de ser um sinal de delinquência e pouca
habilidade acadêmica, muitos adolescentes que gostam de Metal são por vezes brilhantes e às
vezes utilizam a música para lidar com o estresse e a pressão de serem considerados diferentes.
Stuart Cadwallader, psicólogo da University of Warwick, apresentou os dados na conferência da
British Psychological Society: “Há um senso comum de que estudantes especialmente dotados e
talentosos gostam de música clássica e gastam muito de seu tempo lendo, é um estereótipo não
muito preciso. Há estudos que ligam o Metal a fraca performance acadêmica e delinquência, mas
encontramos um grupo que contradiz isso, é um grupo com auto-estima abaixo da média que não
se sente incluído na sociedade, eles sofrem demais estresse e se voltam ao Metal como uma
forma de aliviar este. Participantes da pesquisa disseram apreciar a complexidade e por vezes o
conteúdo político do Metal mais do que o que encontram na música Pop. Há uma tendência a que
jovens gostarem de Metal preocupe os adultos, mas eu acho que é apenas algo catártico. Não
indica problemas.” Perguntados sobre seu tipo favorito de música, 39% dos estudantes
pesquisados indicaram Rock, 18% R&B (Rhythm and Blues) e 14% Pop, 6% indicaram o Metal.
O Metal foi ainda citado como um dos cinco gêneros favoritos por um terço dos estudantes (NIC
FLEMING – TELEGRAPH.CO.UK, 21/03/2007).
O jornal australiano “The Courier” entrevistou Sam Dunn, mestre em Antropologia Social,
colaborador regular de vários jornais acadêmicos e um dos diretores por trás do vídeo-
documentário: “Metal: Uma Jornada Headbanger”, que cobre a história do Metal. San Dunn já
está acostumado que imaginem que seu gosto musical está mais para Beethoven do que Black
Sabbath. Ele é fanático por Metal desde os 12 anos, aos 31, foi co-autor, co-produtor e co-diretor
do documentário que ele espera possa ajudar outras pessoas a entender seu fascínio pelo gênero
musical. “Os jornalistas cresceram ouvindo pop e não Metal, eu honestamente penso ser esse um
grande fator pelo qual se demorou tanto tempo para realizar um documentário profundo sobre o
tema”. O documentário se dispõe a desmistificar, através de entrevistas com artistas e fãs ao redor
do mundo, a crença, bastante comum, de que a paixão por esse tipo de música em alto volume
poderia estar associada à delinquencia, temperamento violento ou um baixo Q.I. “As pessoas têm

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uma reação muito visceral ao ouvir Metal por causa do volume, velocidade e agressividade do
som, por esse motivo, acaba-se criando uma imagem de que as pessoas que curtem este tipo de
música também sejam violentas e agressivas, eu acredito que isso geralmente seja falso. O Metal
vem dos lugares que as pessoas querem esquecer que existem e acho que o que as pessoas
experimentam com o Metal é um sentimento de liberdade, algum tipo de catarse que eles não
sentem com nenhum outro tipo de música ou outro aspecto de suas vidas”. (THE COURIER-
MAIL – 22/11/2006)
Uma pesquisa, realizada na Universidade Heriot Watt, em Edimburgo, na Escócia,
entrevistou 36 mil pessoas analisando a relação entre gosto musical e personalidade e sugere que
há semelhanças entre fãs de música clássica e os Headbangers, isso foi uma surpresa para o
professor Adrian North, que liderou o estudo: “Os Headbangers são pessoas muito criativas,
introvertidas e de bem consigo mesmas, o que é estranho. Como você pode ter dois estilos tão
distintos com grupos de fãs tão parecidos? As pessoas em geral têm um estereótipo sobre os fãs
de Metal, acham que eles têm tendência suicida, são deprimidos e representam um perigo para si
e para a sociedade em geral, na verdade, são pessoas bem delicadas”. De acordo com North, a
pesquisa pode ser muito útil para a indústria fonográfica e para quem trabalha com marketing:
“Se você sabe a preferência musical de uma pessoa, pode dizer que tipo de personalidade ela tem
e para quem deve vender, são implicações óbvias para a indústria da música, que está preocupada
com a queda da venda de CDs.” (BBC BRASIL.COM - 05/09/2008)
A verdade é que o Metal é refúgio para as pessoas que se sentem diferentes, excluídas ou
oprimidas por serem consideradas distantes dos padrões “normais” impostos pela sociedade
tradicional, sejam estes padrões estéticos, comportamentais, financeiros, religiosos. Desde o
Black Sabbath, com suas furiosas letras pacifistas, diga-se de passagem, mal compreendidas para
época, o Metal é salvo-refúgio para nerds, leitores inveterados e inconformados políticos que
elevam o gênero musical a um status de estilo de vida como uma espécie de válvula de escape.

2.4. Ocorrência Geográfica

O Metal ocorreu em diversos locais geográficos simultaneamente, saído da Inglaterra,


estabeleceu-se nos anos 70 e 80 graças ao fervor dos fãs, que se correspondiam via correio,
promovendo intensa troca de fitas cassetes e divulgação das bandas através de fanzines, assim,
cruzaram fronteiras, oceanos e continentes, isto em uma época em que nem se concebia o

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conceito de globalização, tal qual o conhecemos atualmente. Esse início despretensioso culminou
com ascensão, a partir de meados da década de 1980, de diversas cenas ao redor do mundo, como
a britânica Nova Onda do Heavy Metal Britânico (com o Iron Maiden e o Saxon como
precursores), o Glam Metal de Los Angeles (Mötley Crüe, Poison), o Power Metal (Manowar,
Armored Saint) dos EUA e Europa, o Thrash Metal da Bay Área em São Francisco nos EUA
(Metallica, Testament, Exodus), o Speed Metal alemão (Destruction, Kreator, Sodom), o
Grindcore inglês (Napalm Death, Extreme Noise Terror), o Death Metal embrionário nos EUA
(Death e Possessed), incorporado também Europa principalmente Suécia (Dismember,
Unleashed, Entombed) e o Black Metal pré-concebido por ingleses e suíços (Venom e
Hellhammer/Celtic Frost respectivamente), adotado pelo norte da Europa principalmente na
Noruega (Mayhem, Burzum), no Brasil tivemos a ascensão do Sepultura (MG), nome
reconhecido mundialmente, diante de bandas como Dorsal Atlântica (RJ), Korzus, Angra, Viper,
Attomica (SP), Sarcófago, Overdose, Chakal, Holocausto (MG), mais milhares de bandas que
ficaram no ostracismo por todo país. Todo esse movimento levou o Metal a se tornar
“Mainstream” (corrente principal, algo disponível ao público em geral e que tenha laços
comerciais, ou seja, música rentável) a reboque do estouro da onda Grunge de Seattle no início
dos anos 90, que havia comprovado o quanto a música que fugia dos padrões pré-estabelecidos
pela sociedade tradicional era rentável, algo antes provado pela febre Metal da Nova Onda do
Heavy Metal Britânico, o Glam Metal e o início do Thrash Metal nos anos 80, reinvestiu-se assim
também no mercado Metal nos anos 90, neste momento o Metal já havia sido disseminado por
todo globo terrestre.

2.5. Evolução Metal

O Heavy Metal, que nascera como um movimento musical despretensioso na década de 70,
despertava na indústria musical um interesse pela singularidade, abrangência e fanatismo do
público, no caso, os Headbangers, o interesse aumentou ainda mais através da consolidação do
Heavy Metal e da ascensão do Thrash Metal na década de 80, este subgênero foi uma reação de
bandas como Metallica, Megadeth e Anthrax à onda conservadora anti-metal promovida nos
Estados Unidos nos anos 1980 que, diga-se de passagem, só serviu para divulgar ainda mais o
Metal. Ao abandonar temáticas sobre monstros e satanismo de mentira, essas bandas investiram
em furiosos manifestos anti-censura, anti-guerra e anti-pena de morte, além de outros temas
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políticos. Após o final da década de 80, no início da década de 90 despontaram nomes já
existentes como Sepultura com seus álbuns Arise (1991) e Chaos A.D. (1993) explodiram em
vendagens, Megadeth com o clássico Rust in Peace (1990) e Countdown to Extinction (1992), o
Pantera (já existia, mas adotou nova postura) com seus Cowboys From Hell (1990) e Vulgar
Display of Power (1992) e o maior sucesso comercial em vendagens que foi o disco Metallica
(1991) (chamado de Black Album) do Metallica, que tinha deixado de lado aquele Thrash Metal
virtuoso adotando um estilo de som mais cadenciado, resultando num estouro de vendas, algo em
torno de 37 milhões de cópias em todo mundo. Em seguida surgiram nomes que se destacaram
como Machine Head em Burn My Eyes (1994), Fear Factory em Demanufacture (1995) entre
outros dando continuidade à tendência. Tanto os artistas quanto as gravadoras e todos os setores
que permeiam a indústria musical estavam sorrindo a toa. Em um evento realizado na Rússia, o
Monsters of Rock Moskow (1991), contando com nomes como Metallica, Pantera entre outros,
conseguiu-se a façanha de reunir, nada mais nada menos, do que cerca de um milhão de pessoas,
isso pouco tempo depois da dissolução da União Soviética. Eram os tempos áureos do Metal,
grandes artistas consagrados vendendo milhões, álbuns clássicos que culminavam em ótimos
shows com vendagens de ingressos esgotadas, o resultado criativo do material gerado pelos
artistas era impressionante, excelentes bandas surgindo em todo o mundo, cada álbum lançado
considerado um petardo, o Metal atingindo as rádios, até mesmo o canal de TV norte americano
MTV dedicava parte de sua programação ao estilo.
Neste mesmo período ainda, devido à ascensão do mercado musical Metal, principalmente
o Thrash Metal, diversas bandas Punk adotaram em sua sonoridade elementos deste gênero se
entregando de vez ao chamado Crossover (híbrido de Thrash e Punk), que teve como um dos
precursores o S.O.D. (Stormtroopers of Death) em Speak English or Die (1985), temos como
exemplos o D.R.I. (Dirty Rotten Imbecils), o C.O.C. (Corrosion of Conformity), The Exploited,
Ratos de Porão. Também impulsionados pelo efervecer do mercado da música pesada, erguem-se
renovados dois dos mais extremos gêneros do Metal, o Death Metal e o Black Metal.
O Death Metal de carona no nicho deixado pela cultura trash (lixo) (não confundir com
Thrash) de filmes de terror dos anos 70 e 80, hoje considerados “cult” (cultuados, clássicos),
eleva a velocidade instrumental ao extremo e sua temática aborda mortes, possessões
demoníacas, mortos vivos, etc., justamente os temas preferidos destes filmes B, que possuem um
público cativo, além de capas repugnantes, por várias vezes censuradas em diversos países,

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suficiente para atiçar a curiosidade dos fãs da música pesada. Cannibal Corpse se tornou o
principal expoente do gênero, uma das raras bandas de Death Metal a atingir o Mainstream,
chegando a fazer uma ponta no filme de Jim Carey, Ace Ventura. Embora não tão lucrativo para
as grandes gravadoras, o Death Metal, rejeitando por estas, caiu como uma luva para pequenas
gravadoras e selos independentes uma vez que seu marketing era realizado mais no boca a boca
dos Headbangers do que através de campanhas publicitárias em mídias especializadas,
economizando em muito seus custos de divulgação.
Já o Black Metal levantou-se principalmente nos países escandinavos levando o
extremismo das letras a sério por demais, baseando-se sua temática principalmente no anti-
cristianismo, os fundamentalistas queriam um retorno aos costumes da cultura nórdica de
antigamente, acusando o cristianismo de extinguir suas raízes ancestrais. Ao se misturar
entretenimento e extremismo, criou-se um barril de pólvora que estourou numa onda de atos
incendiários contra igrejas cristãs assumidos por integrantes de diversas bandas adeptas do
gênero, algo nunca imaginado e de deixar corados os criadores do estilo, o Venom. Era a ficção
elevada ao nível de realidade. Mas como a propaganda negativa às vezes funciona melhor que a
positiva, o que eram atos isolados foram elevados a status de atentados terroristas, espalhando-se
pelo mundo e gerando uma espécie de lenda em torno do estilo, logo brotavam bandas de Black
Metal na carona dos acontecimentos e adotadas pelos Headbangers extremistas. Bandas como
Dimmu Borgir e a inglesa Cradle Filth souberam como ninguém aproveitar a situação lançando-
se ao mercado “Mainstream”, chegando até a se apresentar, no caso de Dimmu Borgir, com
orquestras sinfônicas renomadas e a concorrer ao Grammy Norueguês, provando mais uma vez
que há mercado para tudo desde que se saiba o modo correto de se explorar o nicho específico.
A partir do momento em que o Metal provou-se rentável foi visível a manipulação das
grandes gravadoras gerando tendências dentro do Metal, aproveitando sua capacidade de
absorver outros estilos e sua própria reciclagem, foi no início com o Heavy Metal, o Glam Metal,
Thrash Metal, depois com o Death Metal, o Doom Metal, o Heavy Metal Melódico, o Black
Metal, Black Metal Melódico, o Death Metal Melódico, o Goth Metal (tentativa de abrir novos
horizontes para o mercado feminino num universo musical extremamente machista com mulheres
assumindo os vocais líricos nas bandas de Metal), Rap Metal até chegarmos ao denominado
Alterna Metal, trocando em miúdos, explorava-se ao máximo tudo o que uma tendência podia
render e depois de saturada lançava-se outra tendência, gerando um círculo vicioso, mas muito

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rentável para a indústria musical. O público estava afoito por novidades, porém esta tendência
afastava os Headbangers mais fiéis e radicais que ainda viam alguma integridade no estilo, além
de desgastar as bandas que deveriam ser o maior patrimônio do mercado musical, como já dizia o
empresário do Iron Maiden, Rod Smallwood: “algumas pessoas compram músicas e algumas
outras compram bandas”, ou seja, em suma as gravadoras lidavam com o Metal como lidavam
com o mercado fonográfico comum dos anos 60 e início de 70 e não como um mercado musical
específico através dos conceitos de segmentação de mercado, tudo isso vinte anos depois.
Algumas bandas lograram êxito e abandonaram quase que por completo as raízes que os
lançaram, entregando-se ao comercialismo do mercado musical, foi o caso do Amorphis e
Paradise Lost, que apostaram numa sonoridade mais branda. Foi notório o fardo do retorno
financeiro das bandas e durante essa época tornaram-se comuns rupturas de integrantes em nomes
consagrados alegando divergências musicais, mas que em realidade não passavam de
divergências monetárias, temos como exemplos o Iron Maiden com a saída do vocalista Bruce
Dickinson (ícone da banda) (1993), o vocalista do Sepultura, Max Cavalera (1996), o vocalista do
Anthrax, Joey Belladona (1992), o baterista do Slayer, Dave Lombardo (1992), o vocalista Chris
Barnes do Cannibal Corpse (1996), o baterista Ventor do Kreator (1994), o resultado foi que, a
partir destas rupturas, as vendas de tais bandas diminuíram bastante. Já outra vertente se
enveredou pelas tendências lançadas pelas grandes gravadoras, no linguajar utilizado pelos
Headbangers, “se vendendo” ao Mainstream, bandas como o Kreator que beberam na fonte do
Industrial e Gótico com Renewal (1992), Cause for Conflict (1995), Outcast (1997) e Endorama
(1999), o Death que adotou uma postura mais melódica e técnica em Individual Thought Patterns
(1993) e Symbolic (1995), mas nem por isso menos pesada, o Carcass que abandou o Grindcore e
adotou um Death Metal técnico em Heartwork (1993), o Napalm Death que adotou novas
sonoridades vindas principalmente do Industrial em Diatribes (1996), Inside the Thorns Apart
(1997), Words From the Exit Wound (1998), o Megadeth que veio atenuando seu peso e
velocidade com Youthanasia (1994), caindo com Criptic Writings (1997) numa sonoridade mais
comercial, culminando com o horrível Risk (1999) (tentativa frustrada de atingir o mercado Pop),
segundo o líder da banda Dave Mustaine: “Nós chegamos perto de cometer um erro grave com
Risk que poderia ser um fim de carreira. Eu gosto daquele álbum, e muitas pessoas também, mas
nossos fãs mais radicais não. Eles preferem as coisas mais pesadas e rápidas. Pelo fato do álbum
dizer “Megadeth” ele esperavam um certo tipo de coisa e o álbum não foi isso o que eles

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esperavam.” Já o Metallica lançou álbuns aclamados pela crítica, mas que aos ouvidos dos
verdadeiros fãs acabaram por rejeição, foi o caso de Load (1996), Reload (1997). O Sepultura
(antes da separação) foi uma das bandas que arriscou sonoramente e deu-se muito bem ao adotar
de vez ao seu som elementos da música brasileira, até mesmo indígena, que haviam
experimentado em Chaos A.D. (1993) moderadamente e que assumiram de vez em Roots (1996),
foi um boom mundial, infelizmente acabaram se separando logo após o termino da turnê deste
álbum, a banda voltou sem Max Cavalera (vocalista/fundador), mas nunca mais obtiveram o
mesmo sucesso.
Mesmo com estas mudanças, tais bandas alcançavam um público que antes não dava
atenção para o estilo, talvez isso justificasse a assimilação de outros elementos, porém perdia-se
cada vez mais um grande número de Headbangers fiéis às origens do peso do som. Era comum o
lançamento de ao menos uma balada (músicas leves, por vezes românticas, para os padrões
Headbanger) por disco para serem divulgadas e exploradas em rádios, o apelo visual dos
vídeosclips era intenso, porém diante de toda esta comercialização e marketing massivo,
levantaram-se bandas como Motorhead, Overkill, Tankard, Sodom, Cannibal Corpse, que se
mantiveram avessas às mudanças, e inclusive adotaram, por vezes, posturas mais pesadas em
seus álbuns, ganhando a confiança dos Headbangers. Toda essa turbulência somada ao início da
internet, massificação da pirataria (o que não ocorria na época do vinil), além do descaso da
indústria musical diante das mudanças tecnológicas e de sua interferência na sonoridade das
bandas preferidas de um público radical, fez com que a partir dos anos 2000 tudo se tornasse
muito obscuro.
Durante este período de transição entre os anos 90 e 2000, os álbuns não eram mais vistos
como um todo, anteriormente o álbum tinha começo, meio e fim, geralmente nivelado com
excelentes músicas, talvez no máximo uma ou duas músicas não muito boas, o que já colocava
em cheque a qualidade sonora dos álbuns, era o padrão exigente do público Headbanger ouvinte
do Metal, a nova ordem agora era lançar uma ou duas músicas que pudessem obter sucesso
comercial para expandir o público do gênero, trabalhava-se em cima destas e “enchia-se” o
restante do material com mais músicas para “completar” o álbum, características estas do
mercado consumista musical tradicional, inclusive a maioria dos artistas negam essa influência
das gravadoras em seu material. Sucederam-se inúmeros álbuns completamente desnivelados,
revezando boas, péssimas e ótimas músicas, agora a situação era reversa, duas ou três músicas

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boas já se considerava um disco bom, nivelando os padrões por baixo, levando, mesmo que sem
querer, os ouvintes a garimpar na internet as boas músicas e experimentar o álbum. Era a
indústria musical trabalhando contra ela mesma e esquecendo-se que este não era um mercado
comum como os demais. Muita teoria ainda se é dita que as bandas evoluíram musicalmente
falando, porém tudo soa muito parecido hoje em dia e o fato é que não se lança há tempos
nenhum clássico absoluto como na década de 70, 80 e até meados de 90.
As coisas já não iam muito bem e só pioraram com o surgimento do Alterna Metal ou New
Metal ou Nu Metal gerado a partir do som Alternativo misturado com o Metal, que também
apareceu durante este período, era algo dismorfo, parecido com uma colcha de retalhos, unia-se
muito peso, ruídos estranhos, vocais ora guturais ora sussurrados, palavras incompreensíveis ou
mesmo cacofonias, muita importância para aparência espalhafatosa ou pitoresca e adoção de tudo
quanto era moda na época, percebia-se que era algo forçado, pinçava-se características de vários
estilos num só. Algumas bandas até tinham lá seu valor e era notória que eram influenciadas pelo
Metal como Slipknot, Soulfly do ex-Sepultura Max Cavalera, que encontrou neste segmento a
união perfeita para as sonoridades peculiares que sempre gostou de utilizar, ou mesmo bandas
interessantes e diferentes como o System of a Down, mas o restante não passava de lixo
descartável, mas rentável, por outro lado as bandas sobreviventes optaram por deixar seu som
inalterados diante da nova tendência, novamente Motorhead, Overkill, Sodom, Testament, etc.,
outras ao verem suas vendas despencarem optaram ao retorno a uma sonoridade antiga como foi
o caso do Kreator em Violent Revolution (2001) ou ao retorno de formações clássicas como foi o
caso do Iron Maiden em Brave New World (2000), Destruction em All Hell Breaks Loose (2000)
ou ainda o Anthrax em Alive 2 (2005), numa tentativa de reconquistar os Headbngers, ainda
existiram aquelas que ousaram experimentar, mesmo que timidamente, características do tal New
Metal, exemplo: Ozzy Osbourne em Down to Earth (2001) ou explicitamente como Machine
Head a partir de Burning Red (1999), também o Metallica com St. Anger (2003), outras
acabaram sucumbindo. Surgiram milhares de seguidores de bandas do New Metal, mas tudo era
muito efêmero, tais ouvintes não eram nem um pouco fiéis e do mesmo modo como ouviam uma
determinada banda, a deixavam de ouvir logo depois, sendo assim porque pagar se podiam ter de
graça através internet ou quase de graça através da pirataria, principalmente diante dos preços
exorbitantes praticados pelas gravadoras nos materiais oficiais das bandas, ainda mais quando se
perdera aquela mística do fã/ídolo?

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Os verdadeiros Headbangers, que eram aqueles que realmente sustentavam a indústria
musical pesada, colecionadores do material de seus artistas favoritos, desapontados começaram a
desaparecer dos shows e nem davam valor para a mídia, preferiam ouvir os álbuns clássicos de
suas bandas prediletas, ou aquelas que não se venderam, ou ainda, pesquisar bandas novas e de
qualidade através da internet, bandas que nunca tiveram ou terão chance no capitalista
“Mainstream”. De uma forma estranha era a volta às origens do movimento. Essa tendência só
fortaleceu, de fato, a partir do final desta década, na tentativa da volta ao verdadeiro Metal para
reconquistar os fiéis Headbangers. As chamadas bandas de metal alternativo foram
desaparecendo com o passar da moda, a sonoridade começou a voltar ao peso e velocidades
tradicionais, ressurgiram bandas como Benediction em Killing Music (2008), o próprio Black
Sabbath com a alcunha de Heaven and Hell (devido a problemas jurídicos sobre o nome) em seu
The Devil You Know (2009), outras bandas lançaram verdadeiras pérolas como Testament em
Formation of Damnation (2008), Fear Factory em Mechanize (2010), Megadeth em Endgame
(2009), Metallica com Death Magnetic (2008), Slayer em World Painted Blood (2009).

2.6. Novas Tendências

É explícita a tentativa do retorno daquela sonoridade clássica de outrora, tanto por parte dos
artistas, quanto das gravadoras, na tentativa da reconquista do público-alvo Headbanger,
inclusive inúmeras bandas que haviam acabado estão voltando à ativa de olho nesta
oportunidade. Como no mercado financeiro quando há retração, o mercado musical deixou de
apostar em artistas e tendências novas, diante das dificuldades atuais do mercado musical,
voltaram a investir pesado em nomes consagrados, sendo o melhor exemplo a reunião dos Big
Four (Metallica, Megadeth, Slayer e Anthrax), um quarteto de Thrash Metal clássico,
extremamente bem sucedido comercial e artisticamente, em 22 de junho de 2010 para show em
Sófia na Bulgária, um verdadeiro sonho para os Headbangers tradicionalistas. Inclusive a
novidade, talvez na tentativa de lançar e testar uma tendência, a fim de reduzir os custos jurídicos
e logísticos em se reunir grandes nomes do Metal em longas turnês mundiais, foi a exibição
simultânea e ao vivo do evento por aproximadamente quatro horas em diversos cinemas de 800
cidades em 31 países ao redor do mundo como Austrália, Brasil, Canadá entre outros, um
sucesso estrondoso, também lançado em DVD oficial, devido à repercussão gerada.

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A propósito do mercado financeiro, com a desvalorização do dólar, o Brasil voltou a fazer
parte da rota das turnês mundiais de grandes nomes do Metal.
Tão inusitado é este segmento da indústria musical que existe um movimento dos
Headbangers saudosistas para a volta do vinil, tendência muito bem vinda pelos colecionadores
do gênero, nicho que a indústria musical, em época de baixas vendas, está de olho e investindo
pesado. Jéder Janotti nota que o Metal se constitui hoje no que ele chama de “mercado vintage”
(clássico, que marcou época): “É uma coisa de colecionador, de mercado de nicho que ainda
guarda alguns elementos do underground de outrora, mas sem aquele posicionamento político. É
um público pequeno, comparado ao que já foi”.

3. Conclusão

Torna-se necessário ressaltar que os artistas que mais vendem álbuns em escala mundial,
são aqueles que foram pioneiros em seus estilos ou que lançaram alguma tendência característica
como marca registrada, tornando-se referência, ou ainda, os que souberam ousar ou retroceder na
dose e horas exatas de acordo com as tendências do mercado musical.
Chama-se atenção para a situação em que as bandas líderes em vendagens após atingir
determinado status, primam por sua reputação e seu nome acaba vendendo por si só, esta
característica dá a tais bandas uma amplitude bem maior para experimentações uma vez que,
independente da qualidade de seu material artístico, os fãs sempre vão achar o material bom,
criando uma espécie de margem de erro aceitável nas vendas de seus álbuns.
Vale destacar ainda o posicionamento dos líderes de mercado do Metal na mente dos
Headbangers para demonstrar a estratégia utilizada pelos artistas em cada gênero como se segue:
Heavy Metal: O líder de vendas é Ozzy Osbourne, o Madman (Homem Louco) como é
conhecido, lançou-se em carreira solo nos anos 80 logo após ter sido despedido do Black Sabbath
no final dos anos 70. Extremamente carismático Ozzy sempre soube seguir as tendências
musicais de cada período, já passou por fases mais Rock’n Roll, Glam, Dark, Pop, Alternativa,
Conservadora, etc. e tem ao lado excelentes músicos que ele recruta de outras bandas que se
destacam. Considerado um dos ícones do estilo, Ozzy procura sempre estar em evidência na
mídia, inclusive participou de um reality show na TV americana que levou o nome de sua família
“The Osbournes”, além disso, sempre faz participações especiais em álbuns de músicos
influentes. Lançou seu próprio festival itinerante de Metal o Ozzfest em 1996, revelando novos

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nomes para música pesada, tornando-se uma espécie de padrinho do gênero. Seu álbum mais
vendido foi o álbum de estréia da carreira solo denominado Blizzard of Ozz (1980).
Vale ressaltar também o Iron Maiden, que foi a banda pioneira da Nova Onda do Metal
Britânico em resposta ao movimento Punk. O Iron Maiden sabe como ninguém fazer vender seus
álbuns e outros produtos através da divulgação e da exploração do visual do seu mascote Eddie,
uma espécie de caveira que aparece em todos os seus vídeoclips, produtos e inclusive em seus
shows adornando o cenário e fazendo aparições físicas também, tornando-se sua marca
registrada. O Iron Maiden se manteve longe de mudanças bruscas e é muito respeitado por sua
legião de fãns em todo mundo devido à sua integridade. Seu disco mais vendido é o 3º chamado
The Number of the Beast (1982).
Thrash Metal: O líder é o Metallica que foi o precursor do movimento Thrash Metal. O
Metallica soube mesclar características do Metal Underground e posteriormente da música
Mainstream, aumentando em muito sua legião de fãs, porém em determinado momento afastou-
se demais de suas características primárias, ficando perdido com relação ao seu posicionamento,
recentemente voltou a tocar um som mais próximo daquele que o caracterizou nos anos 80. Seu
álbum mais vendido é o 5º disco chamado Metallica (1991), também conhecido como Black
Álbum.
Vale destacar também a banda Slayer, que podemos considerar como a segunda em
vendagens no segmento Thrash Metal, a banda foi altamente influenciada pela banda Venom,
trazendo temáticas satânicas para o Thrash Metal nos anos 80, é extremamente avessa às
mudanças utilizando-se de muito poucas ao passar dos anos e de forma pouco perceptível
mantendo sempre fiéis às suas raízes, talvez por isso possua o grupo de fãs mais fanático do
gênero Metal. Seu disco mais vendido é o Reign In Blood (1986), considerado o maior clássico
do gênero Thrash Metal.
Black Metal: Temos como ponta de lança o Venom que foi o precursor das temáticas
satânicas explícitas no gênero Metal. Venom com o passar dos anos poliu seu som, pois no
primórdio, apesar de ser considerado Cult, tocava de modo muito simplório, hoje, evoluída, é a
banda que melhor representa a escola tradicional do estilo e seu público-alvo vai além dos
ouvintes do Black Metal, seu disco mais vendido é o clássico Black Metal (1982) que deu nome
ao gênero. Por outro lado temos o Dimmu Borgir que é uma banda da nova guarda do Black
Metal que alcançou uma popularidade incrível aperfeiçoando o Black Metal cru de outrora e

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incorporando características refinadas ao seu som com o advento de teclados e outros
instrumentos, além de apresentações quase que teatrais ao lado de sinfônicas, transformando-se
no maior expoente do chamado Black Metal Melódico, estilo extremamente receptivo à
mudanças e experimentações, seu álbum mais vendido é Enthrone Darkness Triumphant (1997).
Death Metal: Pode ser considerado o gênero mais avesso às mudanças e experimentações,
sendo assim destaca-se o Cannibal Corpse com suas capas repugnantes já tradicionalmente
censuradas, lirismo e musicalidade repulsiva para ouvidos menos preparados, contrastando com
sua técnica apurada. Esta banda soube aproveitar a ascensão do Death Metal na década de 90
chegando a fazer ponta no filme Ace Ventura, seu disco mais vendido é o Tomb of Mutilated
(1992).
Concluí-se que o que era um pleno mercado em ascensão nas décadas de 70, 80 e 90,
tornou-se, a partir de 2000 até o presente, um nicho específico de mercado, devido ao descaso
como foi manipulado, numa clara tentativa frustrada de massificação, mas, mesmo assim,
destaca-se, ao contrário de outras ondas musicais que surgiram e desapareceram, o Metal por
mais que sofra tendências, modismos e perseguições, parece ressurgir das cinzas e teima em não
morrer durante estas quatro décadas de existência, se tornando o gênero mais duradouro das
vertentes da música pesada, sempre retornando com a fúria de sua essência inicial, apesar de todo
esse descaso, comprovando, mais uma vez, que existe mercado rentável para tudo, desde que
estrategicamente sejam respeitadas as características singulares de cada segmento, pois quanto
mais específico o mercado maior a tendência de se gerar fidelidade junto ao público-alvo e mais
avesso às mudanças este se torna, principalmente neste caso em que, mais que um estilo musical,
para os Headbangers, o Metal é um estilo de vida.

HEAVY METAL: The Segmentation of Segmentation

Abstract
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This scientific paper, based on the knowledge acquired through the discipline of Strategic
Management, MBA course in Strategic Management and Business Intelligence at Unis (Centro
Universitário do Sul de Minas in Varginha – MG), talks about the music industry as a macro
market. It also explains the segmentation of music genres focusing on the most characteristic
genre among them, Metal (Heavy Metal, popularly known), dividing it in genres, subgenres,
trends, perspectives and peculiarities inherent to this music style. Adopted as a micro-market
(niche), it analyzes the transformation of a specific market which is divided into four major
genres that generates a multitude of subgenres influenced by the variances of their own genre or
aggregation of trends of other genres outside of Metal, creating new styles and new trends,
showing its evolution, processing and marketing over four decades. The four largest commercial
strands of Metal are taken as its parameters. They are: Heavy Metal, Thrash Metal, Death Metal
and Black Metal. The goal is to prove that the more specific the market (Music market ) is ,in
other words, the greater is its segmentation (Metal), the greater is the tendency to generate
loyalty among its target audience (Headbangers) and more averse to changes it becomes.

Keywords: Market’s Segmentation, Loyalty, Heavy Metal.

Referências:

CHRISTE, IAN, Heavy Metal - A História Completa/ Ian Christe; tradução Milena Durante e
Augusto Zantoz – São Paulo: ARX, Saraiva, 2010 – Tradução de Sound of the Beast – The
Complete Headbanging History of Heavy Metal, Copyright © 2003, 2004 by Ian Christe.

DUNN, SAM, Metal - A Headbanger's Journey ou Metal – Uma Jornada Pelo Mundo do Heavy
Metal (Brasil), Constantin Film (2005) (Vídeo Documentário).

FERREIRA, FRANCIS HAIME GIACOMELLI, Segmentação de Mercado – Biblioteca


Temática do Empreendedor – Sebrae - www.bte.com.br
JUNIOR, JANOTTI, J. S. Heavy Metal com Dendê: Rock Pesado e Mídia em Tempos de
Globalização. Rio de Janeiro: E-papers, 2004.
METAL ARCHIVES, © 2002-2010 Encyclopaedia Metallum, http://www.metal-archives.com
RIOS, DELLANO, Caderno 3 – Diário do Nordeste: Histórias de Peso, 04/07/2010,
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=809576

ROCK LOCO, Blog, Heavy Metal: A História Completa é a Bíblia do Rocker, 07/07/2010,
http://rockloco.blogspot.com/2010/07/heavy-metal-historia-completa-e-biblia.html
WHIPLASH! Rock e Heavy Metal 1996-2010 - http://www.whiplash.net

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