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POEMA
Projeto de Orientação à Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo

POEMA de um sonho coletivo.

Sonho por fim realizado.

Envolveu pessoas
Envolveu anseios
Envolveu magia

Não fossem tantas mãos, a lírica não seria a mesma.

Com o testemunho do tempo


Pôde o trabalho de tantas e tão bonitas gerações
[de estudantes, de pessoas]

Apreender os mais ricos estilos


Ouvir os mais certeiros sonetos
Transpirar como o mais simbólico

Eterno romance
Eterno fazer
Eterno POEMA
embranco
FeNEA

FeNEA é a entidade de representação estudantil que congrega


todos os estudantes de Arquitetura e Urbanismo do país, principalmente
através dos Centros e Diretórios Acadêmicos.
Sua proposta de trabalho está fundamentada no desenvolvimento
de diversos projetos, que visam melhorar a formação do profissional
arquiteto e urbanista.
Dessa forma, busca ampliar nossa participação enquanto
estudantes universitários e cidadãos na transformação da realidade e do
espaço em que vivemos, por meio de ações que venham a contribuir para
a melhoria da situação social do nosso país.
Os Escritórios Modelo na FeNEA

No início da década de 90, após a reabertura política e o retorno


das atividades nos Centros Acadêmicos e na FeNEA, as discussões
sobre as atividades e práticas acadêmicas dos estudantes de Arquitetura
e Urbanismo durante a graduação foram retomadas, buscando não
somente o complemento da educação universitária, mas também o
compromisso com a realidade social brasileira.
No seguimento das discussões, na busca de imersão na
comunidade, na liberdade da idealização, surgiu o Escritório Modelo de
Arquitetura e Urbanismo EMAU, um projeto de Extensão Universitária
dentro da FeNEA.

POEMA e CARTA de PRINCÍPIOS dos EMAUs

Orientação e caracterização

O Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e


Urbanismo POEMA tem como objetivo orientar e caracterizar os
EMAUs, indicando rumos em sua formação, funcionamento e
manutenção.
O POEMA não tem a pretensão de ser uma receita de como
implantar ou manter um EMAU. Ele apenas aponta os meios, com base
na experiência dos próprios Escritórios Modelo em funcionamento.
A primeira parte do POEMA apresenta as discussões dos
estudantes sobre Extensão Universitária, qual sua necessidade e como
seria caracterizada a Extensão que mais se encaixa nos princípios de um
EMAU. Define ainda, sob linhas gerais, o que é um EMAU e como se dá
sua relação com Comunidade e Sociedade.
Após esta parte conceitual inicial, está a Carta de Princípios dos
Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo. É o documento
elaborado pelos estudantes que reúne todas as diretrizes e
características de um EMAU. A Carta de Princípios é uma síntese dos
diversos pontos comentados aqui no POEMA. Ela funciona como um
norte, e, assim como o POEMA, não tem a pretensão de ser uma receita
de como implantar ou manter um EMAU.
A Carta de Princípios é seguida pelo “E agora José”?, parte do
POEMA que apresenta, de maneira geral, as principais dificuldades e
soluções encontradas pelos EMAUs nos momentos de sua implantação
e manutenção.
Seguindo o “E agora José?”, é apresentado no POEMA alguns
históricos de Escritórios Modelo que descrevem suas experiências: quais
as características de seus trabalhos, como captaram projetos, como
conseguiram apoio de professores, como é o trabalho em grupo dentro
de cada EMAU.
Também é apresentado um histórico dos EMAUs na FeNEA. Como
esta idéia cresceu através do movimento estudantil de arquitetura e se
concretizou, principalmente através da realização do SeNEMAU
Seminário Nacional de EMAUs, momento máximo de troca de
experiências e capacitação de EMAUs.

SeNEMAU

Existem vários momentos de apresentações e discussões sobre


esta forma de Extensão Universitária que são os EMAUs. Encontros
Regionais e Nacionais de Estudantes de Arquitetura (ENEAs e EREAs),
Seminários Regionais de Ensino (SERES), Conselhos Regionais e
Nacionais de Entidades Estudantis de Arquitetura e Urbanismo (COREAs
e CONEAs), além de eventos de outras entidades como a ABEA
Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura, e o IAB Instituto dos
Arquitetos do Brasil.
Os SeNEMAUs são os momentos onde ocorrem a maior e mais
intensa troca de experiências entre EMAUs (em funcionamento e em
formação), tendo servido de arranque inicial para a maioria dos EMAUs
existentes hoje.
O SeNEMAU proporciona o encontro de pessoas com afinidades e
ações em comum, transcendendo a mera formalidade de um seminário.
Como conseqüência dessa reunião que trata de educação,
sociedade, pessoas, mudanças o SeNEMAU é um momento único,
onde o encontro torna as trocas de experiências e os contatos com as
comunidades episódios marcantes.

Um aprender solidário, libertário, desmistificado num espaço vivo


de coletividade e força de vontade.

O histórico dos SeNEMAUs e maiores detalhes sobre este


Seminário são encontrados no Histórico dos EMAUs.
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Sumário

Pág.

A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA 11

EXTENSÃO COMO COMUNICAÇÃO 13

EMAUs 15

EMAUs E COMUNIDADE 17

Carta de Princípios dos EMAU’s 21

Histórico dos EMAUs 29

EMA 29

IN LOCO 32

AMA 39

Estatuto do AMA 49

Casas 62

CÉLULA 66

EMCASA 70

EMAU PUC-Minas 74

9º SeNEMAU 84

Histórico dos EMAUs na FeNEA 85


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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Compondo junto com o Ensino e a Pesquisa a tríade básica e


necessária para uma educação de qualidade, a Extensão Universitária é
caracterizada pelo contato e pela troca de informações e conhecimentos
entre sociedade e Universidade. Entendese que a produção de
conhecimento só se realiza plenamente se houver uma unidade entre os
elementos dessa tríade, que devem existir em constante comunicação.
Entendendo a Universidade como produtora de conhecimento
técnico e científico, e como um importante agente de transformação da
sociedade, ela apresentase como responsável direta por fazer a
comunicação necessária e a troca de saberes com a sociedade.
Tendo a Universidade estas responsabilidades, também é dever
dos estudantes e professores trabalhar para que existam atividades
qualificadas de Extensão.
Vale lembrar que a Extensão é atividade que por excelência faz com
que a sociedade tome conhecimento da importância da Universidade.
Entendese que o elo de ligação Universidade/Sociedade devese dar em
função do interesse didático acadêmico através da equalização dos
conhecimentos produzidos e acumulados dentro das universidades,
tendo em vista o usufruto comum das ciências, artes e tecnologias.
Tantas são as formas de como a Extensão pode acontecer, assim
como tantas são as parcelas da sociedade que podem ter acesso a um
trabalho acadêmico.
Cada Curso possui linhas características de ação extensionista: os
Cursos de Medicina, Odontologia, Enfermagem e outros na área da
saúde atuam em hospitais escola, ambulatórios; os Cursos de Direito
atuam na prestação de serviços e assistência jurídica à sociedade; e
assim por diante.
“Na Universidade a extensão deve ser considerada, enquanto
atividade didático pedagógica e como elemento transformador na
realidade social, objetivo de modo a propiciar a formação crítica, criativa,
independente ao aluno e recolocar a Universidade como local privilegiado
ao saber socialmente comprometido com o desenvolvimento social;
E por natureza será multidisciplinar e deverá estar sempre ligada ao
processo de ensino/aprendizagem retroalimentando os conteúdos dos
cursos, atendendo as expectativas e necessidades de estágio dos
alunos.”
(ABEA texto retirado dos relatos do I Fórum Mundial da Educação
Seminário de Educação em Arquitetura e Urbanismo 26 de outubro de 2001 Porto Alegre RS)

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo

EXTENSÃO COMO COMUNICAÇÃO

“A grande generosidade está em lutar para que,


cada vez mais,
essas mãos, seja de homens ou de povos,
se estendam menos, em gestos de súplica.

Súplica de humildes a poderosos.


E vão fazendo, cada vez mais, mãos humanas,
que trabalhem e transformem o mundo”
Paulo Freire

A Extensão Universitária pode ser realizada de várias maneiras:


pode ser um rápido curso oferecido à sociedade pela Universidade, um
trabalho de ação contínua desenvolvido para uma determinada
comunidade, a aplicação de questionários para levantamento de dados,
assim como muitas outras atividades.
Algumas destas formas de Extensão são plenamente vinculadas
ao mercado, disponibilizando infraestrutura, material humano, científico e
tecnológico das universidades à empresas e outras organizações que
têm capacidade de financiar outros profissionais para desenvolver
atividades realizadas pelo meio acadêmico.
Em contraponto, outras atividades de Extensão são direcionadas a
trabalhos sociais em famílias ou comunidades excluídas. Porém, muitas
vezes estas atividades assumem caráter assistencialista, ou seja,
acabam por se caracterizar como “ajuda ao próximo”, oferecendo
trabalhos gratuitos em que a comunidade recebe passivamente o
conhecimento gerado na Universidade.
Por serem realizados trabalhos de extensão com intenções e
resultados tão variados, o Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo
busca sua forma de exercer esse diálogo com a sociedade. A própria
palavra extensão acaba por ser questionada, como tão bem o faz Paulo
Freire.

“A expressão ‘extensão educativa' só tem sentido se se toma a educação como


prática da ‘domesticação'. Educar e educarse, na prática da liberdade, não é estender
algo desde a ‘sede do saber', até a ‘sede da ignorância' para salvar, com este saber, os
que habitam nesta”
Paulo Freire

Aqui se coloca a crítica a uma Extensão unilateral, onde há um

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

depositar de conhecimentos de um lado a outro, onde há “educadores”


dispostos a “educar” uma determinada parcela da sociedade vazia de
conhecimento. É como “dar o peixe e não ensinar a pescar”, não há um
processo educativo de diálogo, de troca, que faça com que a
comunidade se aproprie do produto gerado, podendo se autosustentar
sem a presença da universidade.

“Como posso dialogar, se alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro,


nunca em mim? Como posso dialogar, se me admito como um homem diferente,
virtuoso por herança, diante dos outros, meros “isto”, em que não reconheço “outros
eu”? Como posso dialogar, se me sinto participante de um “gueto” de homens puros,
donos da verdade e do saber, para quem todos os que estão fora são “essa gente”, ou
são “nativos inferiores”? Como posso dialogar, se parto de que a pronúncia do mundo é
tarefa de homens seletos e que a presença das massas na história é sinal de sua
deterioração que devo evitar? Como posso dialogar se temo a superação e se, só em
pensar nela, sofro e definho?”
Paulo Freire

Os EMAUs buscam, a partir desse questionamento, uma atividade


baseada na troca, no contínuo intercâmbio de informações com as
comunidades que trabalham sem opressão ou qualquer tipo de
imposição de qualquer uma das partes. Que haja sim, um trabalho com
constante participação das comunidades, onde universidade e
sociedade troquem conhecimentos de maneira horizontal, e não a
simplista “extensão” hierarquizada de uma parte sobre a outra. Buscam
uma Extensão como comunicação, onde ambas as partes estendem
seus conhecimentos, e só através do exercício desse diálogo constante
se chegue a uma forma de educação libertária e condizente com nossa
realidade social.

“Quem estende? Nós universitários? Ou a extensão é mútua: trocamos,


mostrando e aprendendo? Ser assistencialista é manter essa postura rígida, meio
erudita, que não abre espaço pra comunicação com a população.
E me parece que a gente que está tentando fazer extensão séria tem que
questionar o “fazer arquitetura”, ainda na faculdade, propondo um exercício de extensão
que faça transparecer a necessidade e importância atual do arquiteto na cidade”
Laila Loddi AMA - Ateliê Modelo de Arquitetura UFSC

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
EMAUs

“O Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo é um grupo 'extensionista', de


iniciativa e gestão estudantil que realiza estudos e projetos de arquitetura e urbanismo
às comunidades excluídas.”
Leonardo S. Rodrigues Ateliê Modelo de Arquitetura AMA UFSC
XII CONABEA Congresso Nacional da Associação Brasileira de Ensino de
Arquitetura, Caxias do Sul RS

O EMAU, Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo é uma


entidade estudantil que realiza Extensão Universitária, entendida
enquanto parte indissociável da Pesquisa e do Ensino de graduação.
Fruto de mais de uma década de discussões em Conselhos,
Seminários e Encontros da FeNEA, o EMAU é definido em essência pela
sua Carta de Princípios, e, de forma mais completa, pelo POEMA.
Uma importante particularidade da proposta do EMAU está em sua
iniciativa e gestão estudantil. Estudantes que, enquanto sujeitos da ação,
têm acesso aos porquês, de onde vieram, aonde querem chegar.
Participam do processo, vivenciam. A reflexão surge de teoria e prática
colocadas lado a lado na construção do conhecimento. A relação entre
estudantes e professoresorientadores deve ser horizontal, garantindo o
aproveitamento didático das atividades do EMAU.

“Sobretudo o Escritório Modelo de Arquitetura seria um espaço para o exercício


concreto da autonomia. Onde todos, 'ensinantes e aprendentes', teriam a possibilidade
de extrair um recorte de contribuição ao mundo local e universal em que vivemos.”
Antenor Vieira
Professor orientador do Escritório Modelo de Arquitetura EMA UFPE

Dessa forma, a base de um EMAU é o trabalho coletivo, tanto em


sua gestão interna, como no exercício multidisciplinar e na relação EMAU
/ Comunidade.
O trabalho em grupo leva todos a entender melhor seu papel como
cidadãos em uma sociedade de complexas relações humanas. A troca
de saberes entre diversos profissionais, e destes com a comunidade, é
uma tentativa de realizar um trabalho mais completo.
A troca multidisciplinar complementa a formação acadêmica além
de fazer com que o trabalho com comunidades organizadas atinja outros
níveis de envolvimento, podendo assim o EMAU estimular a mobilização
da comunidade (com o auxílio de estudantes de Serviço Social, por
exemplo), auxiliar em questões de saúde (estudantes de medicina,
biologia...), em questões judiciárias (estudantes de Direito e afins), etc...

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

A atividade do EMAU parte assim do entendimento da Arquitetura e


Urbanismo enquanto área comprometida com uma situação social
contraditória. Buscando na prática atual de arquitetura e urbanismo o
comprometimento com as camadas excluídas de nossa sociedade, o
EMAU direciona sua atividade à essa parcela da população que nem
sequer tem acesso ao trabalho de um arquiteto.
Trabalhar com comunidades minimamente organizadas em
associações, conselhos ou comissões de moradores, evita que o EMAU
concentre seus esforços na realização de atividades que atinjam um
pequeno número de pessoas. Ou pior, realizar atividades que possam se
tornar assistencialistas, com caráter de ajuda ao próximo ou de atividade
voluntária.

“A questão do assistencialismo confunde muita gente. O que entendo como


prática de assistencialismo é fazer, por exemplo, a casa da dona Maria, ou o banheiro
do seu José, etc. O importante é procurar trabalhos que beneficiem não só uma só
pessoa, e sim uma comunidade ou um grupo delas.”
Leonardo Lopes ALMAS PUC Campinas

Uma outra atividade comum dentro das Universidades é o


Laboratório de Extensão, que muitas vezes é confundido com os EMAUs,
mas possui uma estrutura bastante diferenciada.
O Laboratório de Extensão é uma iniciativa da administração dos
Cursos e Faculdades de Arquitetura e Urbanismo e suas atividades são
coordenadas por professores universitários que selecionam os projetos.
Nestes, os estudantes participam como estagiários.
Como não existe nenhuma legislação que regulamente o trabalho
de estudantes nos EMAUs e nos Laboratórios de Extensão, todos estes
são considerados ilegais, pelo fato dos estudantes, aos olhos da lei como
ela é hoje, estarem desenvolvendo atribuições de profissionais arquitetos
urbanistas.
No entanto, os EMAUs não desenvolvem atividades profissionais, e
sim atividades acadêmicas com interesse didático dentro das
Universidades, constitucionalmente autônomas para desenvolver tais
atividades.
Além do que, todos os trabalhos desenvolvidos dentro dos EMAUs
são acompanhados e orientados por professores universitários, que
possuem responsabilidade técnica e legal para os projetos.
O Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo não interfere no
mercado de trabalho dos profissionais da área, pois trabalham com

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
comunidades sem acesso ao conhecimento do arquiteto e urbanista.
Inclusive a atividade do EMAU vêm disseminando a importância deste
conhecimento.

LABORATÓRIO DE ESCRITÓRIO
EMAU
EXTENSÃO MODELO (EMAU)
Iniciativa de
Professor Estudantes
Implantação
Gestão/Administração
Professor Estudantes
de Recursos
Universidade/Mercado
Recursos Financeiros Universidade
Privado
Infra-Estrutura Universidade Universidade
Captação e Escolha de
Professor Estudantes
Projetos
Qualquer Projeto Comunidades
Área de Atuação Escolhido pelo Prof. Excluídas e
Coordenador Organizadas
Participação dos
Seleção de Estudantes Livre Participação
Estudantes nos
feita por Professores dos Estudantes
Trabalhos

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EMAUs E COMUNIDADE

“Educar e educarse, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que


sabem que pouco sabem, em diálogo com aqueles que, quase
sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu
pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possam
igualmente saber mais.”
Paulo Freire, em
Extensão ou Comunicação?

Historicamente, a atuação do arquiteto está voltada à uma elite.


Grande parte da população não visualiza a abrangência de ação dos
arquitetos, assim como desconhece o próprio significado da profissão.
Por essa falta de conhecimento, essa parcela da sociedade se encontra
excluída da possibilidade de acesso ao trabalho de um arquiteto. A
exclusão desta população, acima de financeira ou social, é cultural.
Segundo o geógrafo Milton Santos, “Não existem comunidades
excluídas, e sim comunidades perversamente incluídas.” É neste sentido
que usamos a expressão “comunidades excluídas”: comunidades
incluídas sob um ponto de vista globalizado, porém, incluídas de uma
maneira perversa.
Essa parcela que compõe a dita “cidade informal” é construtora do
espaço urbano, é agente transformador em potencial. Ainda assim, essa
cidade autoorganizada (que constitui cerca de 80% da cidade) continua
sendo denominada “informal”.

“O urbanismo brasileiro (entendido aqui como planejamento e regulação


urbanística) não tem comprometimento com a realidade concreta, mas com uma ordem
que diz respeito a uma parte da cidade, apenas. Podemos dizer que se trata de idéias
fora do lugar porque, pretensiosamente a ordem se refere a todos os indivíduos, de
acordo com os princípios do modernismo ou com a realidade burguesa. Mas também
podemos dizer que as idéias estão no lugar por isso mesmo: porque elas se aplicam a
uma parcela da sociedade reafirmando e reproduzindo desigualdades e privilégios.
Para a cidade ilegal não há planos, nem ordem. Aliás ela não é conhecida em suas
dimensões e características. Tratase de um lugar fora das idéias”
Ermínia Maricato
A cidade do pensamento único Desmanchando Consensos

A partir dessa forma de olhar a cidade e reconhecendo a


necessidade de uma maior atuação do arquiteto e urbanista nesse “lugar
fora das idéias”, o EMAU procura envolverse com as dinâmicas sociais
responsáveis pela construção do espaço. Por isso, a proposta de

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
trabalho que o EMAU desenvolve tem como foco principal a comunidade,
sendo nesse contexto de cidade “informal” aquela que produz o espaço
urbano que ocupa.
As cidades hoje necessitam de arquitetos interlocutores,
“arquitetosurbanos”, que façam pontes entre os agentes urbanos
(comunidades e poder público). Arquitetos que saibam ler a cidade,
entender suas nuances e trabalhar a partir delas.

“ Não se trata simplesmente de trocar um tipo de arquiteto (arquiteto urbanista) por


outro (arquitetourbano), que continuaria mantendo o controle total sobre a construção
da cidade, mas sim de mudar o modo de atuar na cidade, o próprio papel do arquiteto.
(...) Esse outro tipo de arquiteto teria um outro papel, promoveria e possibilitaria a
participação efetiva da população.''
Paola Jacques Berenstein, em
Estética da Ginga A arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica

O processo projetual, baseado no diálogo entre as partes, objetiva


produzir um bem coletivo, podendo resultar na apropriação e
conseqüente sustentabilidade da comunidade. Para que haja essa
apropriação, além do conhecimento técnico que nós como estudantes
de arquitetura e urbanismo trazemos, é fundamental que a comunidade
se sinta integrada ao processo de construção coletiva, contribuindo com
seu conhecimento empírico.
Dessa forma, a ação dos EMAUs nas comunidades não se propõe à
realização de propostas prontas e acabadas, trabalha com a
possibilidade de uma ação compartilhada e flexível, onde a arquitetura é
vivida enquanto processo. É nesse processo envolvendo a comunidade
que o EMAU não caracteriza o seu trabalho enquanto assistencialista.

“Dar comida a quem tem fome, tratar uma pessoa doente, construir casas ajuda a
salvar vidas e dar dignidade a muita gente. Mas o trabalho que busca despertar a
consciência , mobilizar grupos sociais, influenciar políticas públicas representa ações
no campo da cidadania que fazem parte da transição da democracia representativa
para a democracia participativa.”
Oded Grajew
Diretorpresidente do instituto Ethos
“O assistencialismo não avalia o impacto da ação, enquanto a promoção humana
busca resgatar as pessoas e colocálas em situação ou em condições mais humanas. O
assistencialismo não muda o processo, atua apenas nos sintomas.”
Luis Norberto Pascoal
Coordenador do Comitê Nacional do Voluntariado

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Trabalhando sempre junto com a comunidade, compreendese seus


anseios e necessidades, as relações entre os membros que a compõe e
as relações dela com outras comunidades, com entidades externas e
com o poder público.
Compreendendo melhor estas relações, tanto comunitárias quanto
acadêmicas, o trabalho do EMAU procura se distanciar também de uma
das principais conseqüências do assistencialismo: o clientelismo.

“Quem faz assistencialismo, cria o clientelismo, promove a dependência e com


isso, organiza a miséria, através de ações relâmpagos, criando uma espécie de
manutenção da miséria organizada. Com esta estratégia, os paraninfos realizam seus
planos, difundem a idéia, e em muitos casos, ganham até incentivos fiscais, o lucro fácil
e a chegada ao poder.”
Paulo Lamego

O trabalho do EMAU, obviamente, não deve ter interesses políticos


para com a comunidade. Esse “clientelismo”, aqui colocado como um
jogo de interesses, reflete uma possível relação de dependência da
comunidade para com o EMAU. Ele pode acontecer se o processo
projetual com a comunidade não tiver como principal objetivo garantir a
sustentabilidade da mesma. Ou seja, que a comunidade consiga
caminhar com as próprias pernas quando a presença do EMAU não for
mais possível ou necessária.

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
Carta de Princípios dos Escritórios Modelo de Arquitetura
e Urbanismo

A Extensão, assim como o Ensino e a Pesquisa, é fundamental para


a formação acadêmica. É um instrumento de interação do meio
acadêmico com a sociedade, tendo como princípio contribuir para o
desenvolvimento desta, através da troca de conhecimento e o
compromisso da Universidade com o desenvolvimento do saber.
O Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo EMAU é um
projeto sem fins lucrativos, conceituado e fomentado pela FeNEA
Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do
Brasil. Visa a melhoria da Educação e da formação profissional, através
da vivência social e da experiência teórica e prática como um todo.
A Carta de Princípios é o Código de Ética da FeNEA para os
Escritórios Modelo, sendo reconhecidos apenas aqueles que sigam os
princípios inclusos nesta.
O Escritório Modelo segue, como eixo norteador ético, os quatro
postulados da UNESCO e União Internacional de Arquitetos para a
educação em Arquitetura e Urbanismo:
 Garantir qualidade de vida digna para todos os habitantes
dos assentamentos humanos;
 Uso tecnológico que respeite as necessidades sociais,
culturais e estéticas dos povos;
 Equilíbrio ecológico e desenvolvimento sustentável do
ambiente construído;
 Arquitetura valorizada como patrimônio e
responsabilidade de todos.

PRINCÍPIOS DO EMAU

Ser um projeto de extensão universitária;


Propiciar a melhoria da formação acadêmica;
Retornar à comunidade acadêmica o conhecimento adquirido em
suas atividades;
Difundir a atividade de arquitetura e urbanismo, complementando e
não competindo com o mercado profissional;
Atender a populações sem possibilidades de ter acesso ao

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

trabalho do arquiteto e urbanista;


Ser de livre participação a todos os estudantes de arquitetura e
urbanismo e outros interessados, sendo um espaço de debate e
produção aberto a toda a sociedade;
Proporcionar o trabalho coletivo, visando uma gestão democrática
e horizontal;
Estabelecer um processo projetual participativo, promovendo a
mobilização social;
Garantir o trabalho integrado a outras áreas do conhecimento;
Ser autônomo em relação a sua gestão e seleção de projetos e
orientadores;
Ser isento de remuneração pelos beneficiários;
Garantir seu funcionamento e continuidade;
A Responsabilidade Técnica sobre os projetos elaborados pelos
EMAUs segue legislação reguladora dos exercícios das profissões;

E AGORA JOSÉ?

“Disse: É tudo inútil, se o último porto só pode ser a cidade infernal,


que está lá no fundo e que nos suga num vórtice cada vez mais estreito.
E Pólo: O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está
aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem
duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o
inferno e tornarse parte saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, e
preserválo, e abrir espaço.”
Ítalo Calvino

Quando se pensa em montar um Escritório Modelo, as dúvidas


surgem naturalmente, das mais variadas formas. No entanto, os
primeiros obstáculos são geralmente muito parecidos nos diversos
Cursos do Brasil.
Como reunir pessoas interessadas, como encontrar um bom
projeto, como conseguir apoio dos professores, da Universidade,
espaço físico, bolsas de extensão, como conseguir?
Antes de abordar estas questões, é fundamental que cada grupo
analise as peculiaridades de seu Curso.

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
As pessoas...

“Não basta ter belos sonhos para realizálos.


Mas ninguém realiza grandes obras se não for capaz de sonhar grande.
Podemos mudar o nosso destino,
se nos dedicarmos à luta pela realização de nossos ideais.
É preciso sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho;
de examinar com atenção a vida real;
de confrontar nossa observação com nosso sonho,
de realizar escrupulosamente nossa fantasia.
Sonhos, acredite neles.”
Lênin

O EMAU surge a partir do momento em que um grupo de


estudantes se une com interesse e determinação em buscar uma
educação libertária. A formação do grupo, a relação entre as pessoas, o
desejo coletivo e o espírito de grupo são os primeiros e principais
impulsos para a realização dos trabalhos, e conseqüente funcionamento
do EMAU.
Uma questão bastante polêmica é a de quando um EMAU pode ser
considerado um EMAU. A resposta que se estabeleceu com a
experiência de vários Escritórios foi que, independente de oficialização,
estatuto, opinião dos professores ou qualquer outro fator, quando existe
um grupo de pessoas trabalhando segundo as diretrizes da Carta de
Princípios existe EMAU.
Até mesmo alguns Escritórios Modelos que já funcionam a anos,
não possuem espaço físico próprio, e alguns não são oficializados junto a
Universidade como Escritório Modelo. No entanto isso não significa que
eles não existam. São EMAUs como qualquer outro que possua espaço
próprio, tenha estatuto registrado ou bolsas de estudo.
Nem sempre as necessidades são supridas com grande facilidade.
Porém quando os trabalhos começam a se concretizar, e principalmente
quando a arquitetura começa a aparecer, a credibilidade dos colegas, e
até mesmo dos professores, irá se consolidando gradualmente, fazendo
com que o grupo cresça e passe a somar cada vez mais participantes.

Importante componente em qualquer trabalho de Extensão


Universitária, os professores são o principal cordão umbilical do EMAU
com a Universidade, sendo eles o caminho mais curto até as bolsas de
extensão, ajudas de custo a materiais e diversas outras beneficiações
que têm direito os EMAUs enquanto grupo de extensão.

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

No entanto, os professores têm um papel muito mais importante do


que o de facilitar a viabilidade física e financeira do EMAU. Ele é quem
orientarará e será o responsável técnico legal dos projetos frente aos
órgãos reguladores da profissão de Arquitetura e Urbanismo. Por isso é
importante ressaltar que o professor orientador tem que estar legalmente
apto a ser o responsável técnico pelo projeto em questão, assim como
emitir anotações de responsabilidade técnica e outros documentos que
se façam necessários.
Outra característica importante do professor orientador de
trabalhos do EMAU é a experiência com comunidades excluídas, assim
como a organização política destas. Logo, é importante que na escolha
do orientador haja a preocupação em notar suas características quanto a
sensibilidade social e política, além de sua didática e conhecimento
técnico.
Sob uma ótica global dos trabalhos do EMAU onde tudo se soma e
nada se subtrai vale lembrar que a necessidade de um professor
orientador na elaboração dos projetos não implica que não possa haver
outras pessoas, técnicos, profissionais qualificados colaborando com o
EMAU.
Os colaboradores, ou coorientadores, podem ser qualquer pessoa
que tenha conhecimento necessários aos trabalhos desenvolvidos pelo
EMAU.
Somando todos estes personagens, o EMAU se caracteriza como
um ambiente de trabalho compartilhado de maneira horizontal e plural,
possibilitando a plena atuação dos estudantes, professores,
colaboradores e comunidades.

Os projetos...

“Por seres tão inventivo e pareceres contínuo,


tempo, tempo, tempo, tempo entro num acordo contigo
(...)
acredito ser possível reunirmonos tempo, tempo, tempo,
tempo num outro nível de vínculo”
Caetano Veloso

Para que tenha um melhor aproveitamento acadêmico, é


importante que os próprios estudantes vão a busca de um projeto que
lhes proporcione acúmulo de conhecimentos e experiências enquanto
cidadãos e futuros profissionais.

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
Normalmente, o tempo de estudos e projetos dentro do EMAU é
diferenciado de projetos acadêmicos hipotéticos, ou de projetos
comerciais. O contato direto com a comunidade, o processo projetual
participativo, o enriquecimento do projeto com consultas e apoio de
outras áreas do conhecimento, são fatores que qualificam muito os
projetos dos EMAUs, mas também fazem aumentar seu tempo.
Dessa característica do tempo de projeto é que se nota outra
importância da existência do trabalho dos EMAUs. Em escritórios de
arquitetura privados ou entidades com fins lucrativos seria inviável a
captação de projetos com a demanda de tempo absorvida pelo EMAU
não de uma maneira desgastante, mas de uma maneira
didáticopedagógica.
Para encontrar um projeto com um perfil que contemple os
princípios defendidos pelos EMAUs, pela FeNEA, podese procurar por
associações de bairro, associações de moradores e demais entidades
representativas de populações excluídas. Quando trabalhamos com
comunidades organizadas temos uma participação, direta ou indireta,
mais efetiva dos moradores locais e uma garantia maior da
sustentabilidade de qualquer intervenção, seja ela política, social,
habitacional ou patrimonial.
O Estatuto da Cidade, lei nº 10.257/01, tem contribuído bastante na
reunião de representantes das comunidades de diversos municípios. Um
espaço deste caráter, onde problemas habitacionais e urbanos são
expostos pelos cidadãos mais atingidos, é um local propício para adquirir
informações e contatos para descoberta de projetos interessantes.
Um segundo espaço de busca neste imenso leque é o meio
universitário. Dentro da Universidade existem, em outros Cursos,
diversos projetos de extensão que geralmente precisam de estudos e
projetos arquitetônicos a serem executados paralelamente ou
conjuntamente com a equipe inicial.
Existem algumas vantagens quando se parte de um projeto já
iniciado, como a existência de um contato com a comunidade, e estudos
iniciais desenvolvidos.
Quando a opção for pela busca de um projeto partindo de um
trabalho de extensão já existente, a procura em outros cursos fora da
Arquitetura e Urbanismo pode apresentar mais uma vantagem, que é o
de já começar a trabalhar com um grupo multidisciplinar. Esses trabalhos
podem ser adequados e complementar perfeitamente os trabalhos do
EMAU.

25
- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

Mais uma via importante a ser considerada para a obtenção de


projetos qualificados para os EMAUs são as ONGs (Organizações Não
Governamentais) e outras Entidades e grupos autônomos que trabalham
pela melhoria da qualidade de vida das populações excluídas, podendo
contribuir muito na informação e na viabilização de projetos.

Podem também ser consideradas uma fonte de informação e


captação de projetos reuniões comunitárias, reuniões de Associação de
Moradores e fóruns, como por exemplo o Fórum Social Mundial, que
reúne centenas de entidades governamentais e não governamentais,
com uma abordagem essencialmente relacionada à qualificação da vida
das populações excluídas.

O início e término de cada um dos trabalhos do EMAU com a


comunidade é uma questão muito relativa a cada projeto, a cada
comunidade. Um dos parâmetros indicadores do início do trabalho é o
fato do EMAU estar funcionando com a participação da comunidade.
Assim como um parâmetro para se analisar o desfecho de um trabalho
seria o despertar de multiplicadores dentro da comunidade, quando a
comunidade se apropria plenamente dos produtos dos trabalhos do
EMAU e pode então caminhar com suas próprias pernas.

Estatuto e Regimento Interno...

O Estatuto, ou o regimento interno, são documentos que só


poderão ser desenvolvidos com segurança quando o EMAU já possuir
experiência em seu funcionamento e tempo de vivência de trabalho em
grupo.
Colocar o carro na frente dos bois, tentando elaborar um Estatuto
ou Regimento Interno antes mesmo de dar início à elaboração dos
projetos, pode levar o EMAU a enfrentar algumas dificuldades futuras.
Escrevendo um Estatuto ou regimento que se baseie na forma com
que o grupo tem trabalhado é a maneira mais segura de fazer com que
estes princípios iniciais sejam conservados, impedindo, por exemplo,
que o EMAU seja transformado futuramente em um Laboratório de
Extensão por algum professor, ou então em uma Empresa Júnior por
algum grupo de alunos que tenha princípios de intervenções
mercadológicas.
O Estatuto é o documento que pode ser usado para estabelecer

26
POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
convênios e/ou parcerias com a prefeitura da cidade, com outros órgãos
governamentais municipais, regionais e federais, além de conseguir
financiamentos em instituições, ONGs e outras entidades nacionais e
internacionais.
O Estatuto também é fundamental para muitas outras conquistas
do EMAU. Na maioria das Universidades, é muito difícil conseguir um
espaço físico sem um Estatuto. E como esta normalmente é uma questão
decidida por professores, a credibilidade que eles darão ao trabalho do
EMAU enquanto grupo de estudantes será muito maior com um Estatuto
que regularize e oficialize os trabalhos deste grupo, sendo na maioria dos
casos o Estatuto decisivo para a obtenção do local de trabalho.
Outras importantes conquistas, muitas vezes desencadeadas pelo
Estatuto, são as aquisições de recursos materiais e financeiros das
Universidades, bolsas de extensão, fundos de amparo à extensão
universitária, e outros benefícios que se tem direito enquanto grupo de
extensão.
O Regimento Interno do EMAU, como o próprio nome diz, é um
conjunto de diretrizes criadas pelos próprios estudantes, estabelecendo
como funcionarão as ações do grupo. É um documento que inicialmente
pode ser rascunhado pelos estudantes, onde sejam expostas as
características de seus trabalhos, como eles serão elaborados e
principalmente como serão distribuídos os esforços necessários à
realização destes trabalhos dentre as pessoas do grupo.
O Regimento Interno facilitará bastante os trabalhos quando for
desenvolvido o Estatuto. Podemos chamar o Regimento Interno de um
“embrião” de Estatuto.
Mais uma importante questão que pode estar presente no
Regimento Interno, ou diretamente no Estatuto, é como se dará a
sustentabilidade política do EMAU. Ou seja, como será a substituição das
pessoas mais antigas, com mais experiência no EMAU, por pessoas mais
novas.
Esta questão é extremamente peculiar a cada EMAU, não sendo
portanto assunto possível de ser generalizado por depender da forma
com que cada EMAU irá desenvolver seus trabalhos.
Alguns exemplos reais de Estatutos estão presentes logo a seguir,
no Histórico dos EMAUs.
Vale lembrar que é importante uma assessoria jurídica para a
elaboração do Estatuto, é uma orientação que evitará perdas
desnecessárias de tempo.

27
em branco
POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
Histórico dos EMAUs

EMA
Escritório Modelo de Arquitetura
UFPE Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Artes e Comunicações
Rua Acadêmico Hélio Ramos, Cidade universitária
Recife PE

Diante da movimentação política gerada na UFPE em prol de um


Diretório Acadêmico (DEAU) que estava sem gestão a um ano,
acrescentado por um quadro de abusos de autoridade por parte dos
professores e desânimo dos alunos, criouse uma chapa para o DEAU, e
vários estudantes começaram a discutir sobre outros tipos de atuação no
Curso que promovessem críticas e novas propostas. Criouse o N.A.D.A.
(Núcleo de apoio ao D.A.) Pretendendo acrescentar idéias, opiniões,
conselhos e ser um braço de extensão do Diretório Acadêmico junto aos
alunos.
Em agosto de 2002 o DEAU promove as primeiras assembléias
onde cobra a gestão participativa dos alunos, nessas assembléias a
Extensão Universitária é indicada como assunto a ser melhor promovido
pelo Curso. O DEAU realiza uma palestra de apresentação do que é um
Escritório Modelo, onde o professor Antenor Vieira expõe exercícios
anteriores de criação e alguns projetos solicitados ao Departamento. É
elencado um grupo para coordenar a criação de um Escritório Modelo na
UFPE.
Em 14 de Setembro de 2002 se realiza a primeira reunião do EMA
Escritório Modelo de Arquitetura UFPE, onde de cinco projetos o grupo
escolheu atender a solicitação do Centro Religioso Santa Bárbara /
Nação Xambá, por ser endereçado expressamente ao Escritório Modelo
de Arquitetura, apresentar a oportunidade de se trabalhar um tema não
convencional a uma faculdade de arquitetura e pelo conhecimento de
que comunidades negras são preconceitualizadas dentro da sociedade
recifense.
O trabalho solicitado pela Nação Xambá era o de ampliação do
salão onde se realizam os cultos e tratamento do recolhimento de águas
pluviais e afloramento de água do solo.
O EMA começou o projeto por uma equalização cultural, explicando
aos membros da comunidade o trabalho do arquiteto, a faculdade de
arquitetura e o que se pensava para um Escritório Modelo de Arquitetura.

29
- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

A comunidade foi aproximando os alunos da realidade de um terreiro de


Candomblé e das especificidades de seu espaço.
Foram feitos levantamentos de memória oral, físicoarquitetônico e
urbano, inserção das pessoas que pertencem ao Xambá dentro da malha
urbana.
O convívio com a comunidade acrescentou as necessidades do
trabalho no terreiro vários itens, elencados pela comunidade e
percebidos pelo EMA. Sentiuse a necessidade de incorporar ao trabalho
estudantes de biologia e design, pedir assessoramento a engenheiros
civis especializados em saneamento e estanqueamento do solo.
Fezse um projeto onde foram incorporados todas solicitações da
comunidade e pontos levantados pelo EMA. Apresentouse a
comunidade em forma de maquete, para a melhor compreensão e
apreensão do projeto. Foram feitas críticas e modificações que geraram
um projeto final, que foi dividido em etapas de implantação para que se
possa construir com as possibilidades de financiamento que dispõe a
comunidade.
O projeto tem como princípio ecotécnicas que tentam minimizar o
impacto do ambiente pela arquitetura. O EMA faz a ligação desses
conceitos com os da religião (Candomblé), que considera manifestações
de suas entidades, seus deuses, com elementos da natureza, como o rio,
o fogo, o vento, e que não devem ser maculados.
Com o VIII SeNEMAU em Recife, em fevereiro de 2004, o EMA dá
início a produção de tijolos de solo cimento, com material de teste para a
reforma do terreiro, banquinhos em ferrocimento e pintura com cal nas
casas, nas cores dos orixás, recuperando antigas tradições da
comunidade. O evento da FeNEA auxilia no rompimento do preconceito
do bairro, do Recife e do Brasil em relação aos integrantes do Xambá.
No SeNEMAU foi também iniciado um novo projeto no EMA, o do
Maracatu Chuva de Prata, que pretende desenvolver um centro de ensino
de cultura popular integrado a sede do Maracatu como forma de dar
alternativas de ocupação a juventude do bairro de Rio Doce, em Olinda,
em vias de marginalização.
Após o SeNEMAU o EMA acolhe ainda o projeto Castainhos,
comunidade remanescente de quilombo no interior do estado de
Pernambuco. O projeto de uma biblioteca pretende ser modelo de
técnica e de gestão em sustentabilidade e autonomia de um povoamento
que vive na intenção de afirmação de sua identidade, mesmo que em
meio a um sistema que lhe coloca a margem de um município que não se

30
POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
interessa por seus problemas.
Após dois anos de trabalho o EMA da UFPE consegue suas
primeiras bolsas de extensão com o Projeto Castainhos e com o grupo de
biologia do Nação Xambá, a universidade não demonstra maleabilidade
suficiente para oficializar o EMA como grupo de extensão, sendo seus
projetos oficializados separadamente como projetos de extensão de
professores. O espaço físico do EMA restringese a um armário entre os
dos alunos de arquitetura, a necessidade de uma sala foi tornada
fundamental desde a produção de trabalhos não recolhidos no local, foi
intensificada no VIII SeNEMAU de Recife e se torna premente com a
multiplicação de projetos.

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

IN LOCO
Grupo de Pesquisa e Extensão Comunitária
Universidade Ritter dos Reis
Rua Orfanotrófio, 555 Alto Teresópolis
Porto Alegre RS

Formação do Grupo:

No primeiro semestre de 2001 alguns alunos do 5º semestre de


Arquitetura do Uniritter começaram a se questionar sobre o ensino
oferecido pela Faculdade, que não abordava a questão da realidade
brasileira em habitação, em nenhum semestre ao longo do curso.
Decidiram, então, pesquisar por conta própria arquitetura social, técnicas
alternativas de construção e movimentos sociais urbanos. Formouse o
Grupo de Extensão Comunitária In Loco tendo apoio de professores que
se mostravam ansiosos em ver a discussão sobre o papel do arquiteto
neste contexto seguir adiante. Destacase a orientação, apoio e
colaboração da Prof. Arq. Maria Isabel Milanez, então Coordenadora de
Extensão e hoje Coordenadora da FauUniritter.
Durante o primeiro ano o grupo mantevese na parte de pesquisa,
travando debates entre seus integrantes e com os mais diversos
colaboradores, inclusive de outras áreas do conhecimento tais como
História, Direito e Psicologia. Neste período os alunos buscaram
entender a função social do arquiteto, procurando entender à realidade
das comunidades de baixa renda, onde o grupo pretendia atuar,
tomando consciência da responsabilidade que envolve este trabalho e a
importância que este faria na vida das pessoas que residem nestas áreas
e no próprio ensino da arquitetura. O contato com a FeNEA foi, também,
uma importante fonte de discussão e informação sobre Escritório Modelo
e Extensão.
A partir desses debates o grupo definiu seus princípios e objetivos e
a maneira de se relacionar com a comunidade e com a faculdade. O In
Loco defende a idéia de que não basta detectar problemas e implantar
soluções, mas utilizar a arquitetura como articuladora de ações.
Baseiase na relação com a comunidade, que participa de todo o
processo, desde o levantamento e análise dos dados até a execução da
proposta, contribuindo durante a elaboração do projeto. Para que isso
seja possível, esse trabalho deve ser não assistencialista e envolver forte
mobilização social coletiva para a melhoria das condições de vida dos
próprios moradores, onde os estudantes levam conhecimento técnico e

32
POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
num diálogo franco encontramse soluções para o bem comum.

Depois de um ano pesquisando,


o In Loco decidiu atuar na Vila Nossa
Senhora do Brasil, já que alguns
integrantes começaram a conviver
com parte desta comunidade, levados
pela colega Iazana Guizzo, que fazia
trabalho voluntário no Centro Espírita
Fraternidade. Esta comunidade faz
parte da Grande Cruzeiro (maior
complexo de favelas da cidade de Porto Alegre), localizase próxima à
faculdade, no morro Santa Teresa. É formada por aproximadamente
quatro mil moradores, os mais antigos estão lá há mais de quarenta
anos. A Vila conta com abastecimento de água encanada e luz elétrica.
Apresenta algumas moradias precárias, mas na sua maioria já foram
substituídas por casas de alvenaria; é, portanto uma comunidade
consolidada.
Através do contato com Seu
Castilhos diretor do Centro Espírita
Fraternidade, o In Loco começou a se
relacionar com a direção da Escola
Estadual Afonso Guerreiro Lima,
vendo que esta poderia ser um meio
para atingir toda a comunidade
divulgando o trabalho do grupo.
Sabese que para realizar um bom
trabalho de arquitetura, que seja realmente apropriado e valorizado pela
comunidade, devese conhecer profundamente a realidade sobre qual se
atua, mais ainda, quando se pretende que a comunidade seja atuante
nesse processo. Assim, para entender as relações existentes na vila,
como os moradores se relacionam entre si, com o espaço em que vivem
e com o restante da cidade, e mesmo como meio de aproximação entre
os estudantes do In Loco e as pessoas da comunidade, o grupo passou a
utilizar a arte como uma ferramenta de aproximação. Realizamos eventos
como o Circo da Arte, com oficinas de desenho, percussão, fotografia,
etc. dadas por artistas convidados, e apresentações de bandas e grupos
de dança e de capoeira da própria comunidade.
Em janeiro de 2002, durante o 6º SeNEMAU, evento promovido pela

33
- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

FeNEA, que teve sede em Porto Alegre, o grupo foi convidado a organizar
um ateliê. O trabalho consistiu em oficinas de desenho, maquete, etc.
Essas oficinas foram feitas com crianças e serviram para apreender a
percepção que elas têm da vila, fazendo maquetes e desenhando o
caminho que fazem para ir de casa até a escola e à associação de
moradores.

Os dados obtidos a partir daí


serviriam de embasamento para a
formulação de projetos para o pátio da
escola. O grupo entendia que este
espaço devia ser aberto e servir a toda a
comunidade, mas a direção da escola
não concordava com esta posição, o que
impossibilitou que esse trabalho
seguisse adiante.

Outras parcerias:
Essas atividades com as crianças permitiram ao grupo se integrar à
comunidade, e a partir do segundo ano, passamos a discutir com os
moradores e lideranças sobre uma nova alternativa de ação. Firmou
então uma parceria com a Associação de Moradores da Vila Nossa
Senhora do Brasil e com o grupo de hiphop da comunidade DNA mc's.
Desta parceria resultaram diversos eventos e atividades sociais como
festas juninas, dia das crianças, Festa Pela Causa e festa de Natal, que ao
mesmo tempo em que beneficiavam a comunidade ajudavam o grupo a
se aproximar dos moradores.
Paralelamente a estas atividades, no que diz respeito à arquitetura,
o grupo optou por trabalhar na qualificação dos espaços públicos,
acreditando que a melhoria dos espaços de uso comum estimula os
moradores a providenciarem melhorias para suas próprias casas. Na
medida em que vêem qualificados os espaços da vila podem valorizar o
local onde moram e desenvolver um sentimento ligado ao lugar, podem
se sentir orgulhosos de viver nesta vila e, com isso, desejosos de vêla
cada vez mais qualificada e de trabalhar para este fim.

Projetos:
O grupo, com o auxílio dos integrantes do DNA mc's, fez um
levantamento do espaço da vila, verificando uso e tipologia das

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
edificações, características das vias de circulação interna e como estas
se relacionam com a cidade. Este levantamento permitiu mapear vazios
no tecido urbano e pontos que poderiam ser estratégicos para uma
intervenção que beneficiasse a vila como um todo. De posse dessas
informações, em reuniões na associação de moradores o grupo mais a
comunidade decidiram que ideal seria tratar primeiramente de pontos
chaves localizados na Rua Nossa Senhora do Brasil. Foram definidos
quatro pontos de intervenção que formariam o “Corredor Cultural da
Brasil”.
Decidiuse por tratar no princípio de dois desses locais, escolhidos
por sugestão dos moradores. O primeiro, um vazio numa das
extremidades da Rua. N. S. do Brasil, um ponto de ligação com a cidade
dita formal. O segundo ponto a meio caminho entre as duas
extremidades da via, na entrada de um dos seus diversos becos.

Feira da Brasil:

No primeiro local, por ser um ponto de contato com o restante da


cidade, imaginouse que seria um bom lugar para a implantação de uma
feira que serviria para divulgar o trabalho de artesanato, culinário e
serviços feitos pelos moradores. Seria uma alternativa que além de
resgatar a identidade e autoestima dessa população, ainda poderia gerar
renda. Para este espaço também se pensou em atividades culturais,
assim a feira seria projetada de tal forma que o espaço pudesse assumir
diferentes configurações para shows e apresentações de teatro, por
exemplo. Naturalmente para que pudessem ser implementadas essas
atividades seria necessário à profissionalização dos artesãos e o
desenvolvimento de todo um programa cultural, que começou a ser feito
através de oficinas ministradas por profissionais de diferentes áreas.
Algumas dessas oficinas começaram a ser realizada como a de
desenho, teatro e audiovisual. Entretanto, o trabalho esbarrou na falta de
motivação da população, não tendo o êxito de envolver totalmente a

35
- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

comunidade.

Beco 21:

Já no segundo espaço,
denominado Beco 21, foi feito, em
conjunto com os moradores,
levantamento físico, social e
ambiental do local. Considerandose
crítica a falta de pavimentação e de
drenagem da água das chuvas, a
presença de instalações elétricas
precárias, a falta de um lugar
adequado para as crianças brincarem e a falta de segurança. Os
moradores, num total de 22 famílias, julgavam necessário resolver em
primeiro lugar a questão da pavimentação e do escoamento da água.

A isso o grupo In LoCo conseguiu


agregar um projeto de qualificação da
paisagem e instalação de mobiliário
urbano, propondo para a entrada do
beco um local de convívio com bancos
que servem também de contenção para
a terra do declive, onde seriam plantadas
árvores frutíferas. E para a parte de baixo
do beco, uma rampa que permitiria
acessibilidade a todos os moradores, inclusive os portadores de
necessidades especiais. Foram elaborados os desenhos do projeto que
já foram alterados e que ainda estão sendo discutidos com os
moradores.

Um grupo de moradores iniciou


por conta própria a pavimentar com
concreto à parte do beco em frente às
suas casas, e moradores de outra parte
do beco já procuram a assessoria
técnica do In Loco.
Atualmente, no que diz respeito ao

36
POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
Beco 21, os moradores junto com o grupo In Loco estão buscando meios
para concluir a obra.

O grupo hoje:

O In Loco sempre entendeu que qualquer trabalho dependeria da


mobilização dos moradores e imaginava que estes estariam motivados a
trabalhar cooperativamente para um bem que é coletivo. Porém a
iniciativa de trabalhar com um grupo de famílias tem esbarrado na falta de
união do grupo de moradores, que estão preocupados apenas com seus
problemas específicos, não tendo interesse de se ajudarem
mutuamente. Talvez por não considerarem que haja uma grande
necessidade de mobilização coletiva, afinal, a vila não corre o risco de ser
removida e as condições de vida não são tão precárias, na realidade não
existe a cultura de movimento social na comunidade. Talvez ajudar a
desenvolver essa cultura seja o desafio do In Loco.
Ao mesmo tempo, na Faculdade, o Grupo que começou como uma
iniciativa independente, conquistou o apoio de professores e, mostrando
o trabalho feito de forma coerente, argumentando sobre o retorno que
esta iniciativa poderia ter, o In Loco foi aceito pela instituição, é ligado ao
núcleo de extensão e conta com toda a infraestrutura necessária.
Apesar de todas essas conquistas, o maior desafio para o grupo
tem sido assegurar sua continuidade, motivar os alunos da faculdade
tem sido preocupação constante, mas praticamente sem resultado. Por
isso o grupo tem procurado retornar à comunidade acadêmica o
resultado desse trabalho com palestras e exposições, como a de Junho
de 2004, realizada na Faculdade e depois levada para a Associação de
Moradores da Brasil.
O In Loco é hoje um espaço (conquistado), de discussão, pesquisa
e vivência para todos os alunos, é uma alternativa na qualificação do
ensino na Ritter dos Reis, é um espaço que precisa ser apropriado pelos
estudantes.
IN LOCO... POR QUE?... PARA QUEM?...
IN LOCO nasceu da VONTADE
Da vontade de preencher o vazio e transformálo em LUGAR
Da vontade SOLIDÁRIA, da aproximação.
Da necessidade existencial de um GRUPO INQUIETO com a exclusão.
Com a EXCLUSÃO SOCIAL, com a EXCLUSÃO ESPACIAL.
Nasceu da CAPACIDADE DO APRENDIZ DE SONHAR com uma vida mais justa e
humana,
Com a UTOPIA que alavanca os grandes ACONTECIMENTOS.

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

O IN LOCO já não é mais UM GRUPO, é sim uma forma de ver e agir.


É CONVICÇÃO que reverbera e propaga uma ARQUITETURA NECESSÁRIA.
Necessária por indispensável, por URGENTE.
É ARQUITETURA POR INTEIRO, pois seus efeitos agem na ESSÊNCIA DO SÊR
atingido.
Uma ARQUITETURA SOLIDÁRIA que busca nas relações interpessoais a melhor
forma de INCLUSÃO. Construindo não só o habitat, o teto, mas os direitos básicos da
CIDADANIA.
Se na origem foram alguns o futuro lhe reserva muitos.E o DESEJO é que o
FUTURO seja o HOJE PARA QUE MUITOS POSSAM SER O TODO.

Por tudo isto, registro minha emoção e orgulho, pois sintome cúmplice deste
grupo de alunos excepcionais da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do UniRitter,
futuros arquitetos brasileiros mergulhados neste tão doloroso e tão real problema
nacional a favela e sua gente.
Maria Isabel Marocco Milanez

CONTATOS
FONE (51) 3230.3333 ramal 3258
inloco@ritterdosreis.br

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
AMA
Ateliê Modelo de Arquitetura
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
Rua Antonio Edu Vieira, Cidade Universitária da Trindade
Departamento de Arquitetura e Urbanismo Centro Tecnológico
Florianópolis SC

“Para um arquiteto o mais importante não é construir bem, mas


saber como vive a maioria do povo.”
Lina Bo Bardi

O AMA surge a partir de uma inquietação. Surge a partir da vontade


de refletir e experimentar um novo tipo de atuação do estudante de
arquitetura, e do futuro arquiteto, comprometida socialmente. A partir de
um questionamento sobre um ensino alienado às questões de nossa
cidade, dentro de uma escola burguesa voltada às elites.
A extensão universitária que víamos na escola estava longe de ser
um espaço de reflexão e atuação pedagógica. A maioria dos trabalhos
dos laboratórios era voltado a pesquisas, dentro de um esquema
acadêmico de reprodução de saberes.
A possibilidade de formarmos um Escritório Modelo nos pareceu
fantástica; uma possibilidade de realizar nossos sonhos. Soubemos que
já haviam tentado montar um EMAU em nosso curso duas vezes, sem
sucesso. Os arquivos das tentativas passadas nos mostraram muita
burocracia e pouca interação com a comunidade. Isso nos estimulou a
tentar fazer diferente...
Em 2000 tivemos oportunidade de sediar um CONEA na UFSC, onde
nos informamos sobre os EMAUs. Em 2001 participamos do Vº Seminário
Nacional sobre Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo, SeNEMAU,
em Campo Grande.
Na vivência em um acampamento semterra, discordamos das
atividades propostas pela Comissão Organizadora, que não tinha
programado um trabalho onde pudéssemos interagir com a população
local efetivamente, mas apenas um trabalho braçal, sem troca de
experiências com a comunidade.
Animados com as oficinas de coberturas alternativas feitas na
segunda Semana da Arquitetura da UFSC, resolvemos realizar algumas
pequenas coberturas de caixas de leite reaproveitadas e de grama com
estrutura de bambu, tudo feito com os materiais disponíveis no local e com
a participação dos “barraqueiros” do local, os responsáveis pelas

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

construções.
O resultado desta atividade a alegria da comunidade por poder
minimizar todo aquele sol de Campo Grande com tão pouco custo nos
emocionou e nos estimulou a voltar pra Floripa e começar a trabalhar.
Durante mais de um ano passamos por um processo lento e
gratificante, aonde vimos nosso grupo começar a surgir. Foram horas de
discussões e a luta era para que o trabalho fosse feito de maneira coletiva.
Porém, foi somente com o primeiro projeto que conseguimos
avançar nas discussões e aprender com a vivência prática. Antes de
elaborarmos estatuto ou regimento interno, fomos experimentar o contato
e a aprendizagem direta, o que nos ajudou muito a, depois, saber quais as
melhores formas de nos organizar internamente e assim redigir nosso
estatuto. A vivência foi fundamental neste processo.

“Porque toda crítica que não se desdobra em prática transformadora, é apenas


academicismo, no sentido de distanciamento da realidade, ou erudição, no sentido de
elitização de um conhecimento.”
(Canteiro Livre Experimental e Comunitário num acampamento do MST. Unesp
Bauru 2002)

O primeiro projeto surgiu de um contato com estudantes e


professora do Serviço Social, na comunidade Santa Terezinha II, no
complexo Monte Cristo, periferia continental da capital. No interesse em
construir uma cooperativa de doces e salgados, para atender mulheres
desempregadas da comunidade, firmouse uma parceria entre nosso
grupo e estudantes e profissionais de outras áreas de conhecimento; o
início de um projeto multidisciplinar. Fizemos um projeto arquitetônico
tecnicamente simples, devido à urgência com que seria enviado a uma
instituição alemã de assistência a obras sociais na América Latina, que
financiaria o projeto da cooperativa.
Já no ano de 2002, com a participação no VI SeNEMAU Porto Alegre
e também no IIº Fórum Social Mundial, conseguimos visualizar a
amplitude de projetos que podem ser elaborados pelos EMAUs, levando
em consideração a inserção do grupo junto a comunidade. Pudemos
perceber o reconhecimento da comunidade pela nossa futura profissão e
como um trabalho social como esse amplia o entendimento e os
significados da palavra 'arquitetura' pelas comunidades. A troca de
conhecimentos, através da arte e do contato, é meio de exercício da
prática libertária; da extensão mútua. Percebemos como podemos
aprender com essas populações, com o saber popular. E levar nossas

40
POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
experiências, num processo constante de troca.
Nos organizamos dentro do grupo, reformulando a estrutura interna
do AMA, que passou a ser formado por Comissões de Projeto. Nesta
época, em março de 2002, surgiram três projetos, o que nos fez optar por
essa organização em comissões. Nosso orientador era (é) o professor
Lino Peres, figura importante na vida o AMA, desde o início. Grande
estimulador e parceiro.
Entretanto, como uma das poucas pessoas dentro do Departamento
de Arquitetura e Urbanismo da UFSC envolvidas com causas sociais,
nosso orientador sempre esteve (está) imerso em várias atividades, fato
esse que sempre nos deu liberdade para gerir o AMA, mas um tanto de
desamparo também, devido a ausências. Refletindo hoje sobre essa
questão, sentimos que essa 'ausência' foi importante para nossa
autonomia. Por outro lado, nos trouxe (traz) problemas, tanto na orientação
dos projetos, como na captação de recursos.
Hoje estamos nos aproximando de outros professores, buscando
trazer mais e diferentes profissionais para dentro do AMA.
E a captação de recursos veio através de um projeto de extensão,
que durante todo ano 2002 nos forneceu três bolsas de extensão, uma
para cada Comissão. Foi com essas bolsas que dividíamos dentro das
Comissões entre 3 ou 4 pessoas que pudemos viabilizar deslocamentos
até as comunidades, material de reprografia, revelação de fotos e todo
suporte para a realização dos trabalhos nas três comunidades. Além do
recurso que conseguimos junto ao projeto ProExtensão: um computador e
um acervo bibliográfico. Não conseguimos renovar estas bolsas e até hoje
trabalhamos sem qualquer recurso. O trabalho fica assim prejudicado,
com menos idas às comunidades, por exemplo.

Comissão Chico Mendes


Chico Mendes, mais do que uma favela do continente é uma
comunidade com nome de guerreiro, com nome de líder da floresta
amazônica, sinônimo de resistência e luta. 'Luta' talvez seja a palavra que
melhor defina a vida dos moradores da Chico Mendes. Luta diária contra a
pobreza, a insalubridade, a exclusão social, a violência crescente. Luta por
direito à voz, à cidadania, a um espaço na cidade e foi pra apoiar essa luta
que o AMA envolveuse com essa comunidade, desde março de 2002.
O assentamento foi formado no começo dos anos 90, na beira da via
expressa. As famílias vieram, na grande maioria, do oeste de Santa
Catarina, no conhecido processo de êxodo rural. Saíram do campo, onde

41
- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

as condições de vida são ruins (fruto da mecanização da produção


agrícola, além de outros fatores) e migraram para a cidade. Mas na
periferia da capital encontram o desemprego e a miséria.
Talvez por ser o mais visível dos assentamentos do continente de
Florianópolis, pra quem chega na cidade pela BR 101, a Chico Mendes
(além das outras comunidades que compõem o bairro Monte Cristo) foi
“beneficiada” pelo programa federal de reurbanização Habitar Brasil,
posteriormente financiado pelo BID programa esse realizado em diversas
capitais do país. Para conseguir o financiamento, a fundo perdido, a
prefeitura municipal teve que afirmar a sustentabilidade da implantação do
projeto na localidade. Na prática essa “sustentabilidade” não se efetivou,
como apontaram diversos estudos feitos na área. O que se percebe é uma
imposição autoritária de um modelo urbanosocial.
As casascarimbo, de tamanho muito pequeno independente se a
família tem 4 ou 10 membros desconsideram qualquer questão de
identidade da população. É imposta uma maneira de morar, uma maneira
de viver e por estas casas as famílias assumem financiamentos por até 25
anos. Não é feito nenhum trabalho sócioeconômico eficaz junto à
população, perpetuando a ação pública de descaso com a totalidade dos
problemas sociais.
A mera provisão de habitação não tem resolvido as questões da
comunidade, pelo contrário, a violência se agrava a cada dia. Áreas de
lazer, áreas culturais e de profissionalização inexistem no projeto, assim
como inexiste uma política de integração legal, social e urbana destas
comunidades à cidade e seus serviços.
A imposição autoritária do projeto tem desarticulado o movimento
social e tem feito muitas famílias abandonarem o local, já que não
conseguem pagar pelas casas, voltando para o campo, ou,
principalmente, formando novos assentamentos em áreas mais distantes
da cidade.
O processo de segregação aumenta, tanto com a abertura de largas
avenidas que fragmentam as comunidades, quanto com a exclusão que
se mantém.
O trabalho do AMA ao longo desse tempo visou a proposição de
alternativas aos pontos do projeto. Estivemos junto aos representantes
populares desenhando propostas mais condizentes com os desejos da
população e tentamos negociar e firmar parcerias com a prefeitura.
Entretanto, autoritarismo e incompetência por parte dos técnicos
impossibilitaram maiores trocas e assim o projeto, feito em gabinetes, foi

42
POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
implantado.
Hoje existe a perspectiva de um grande parque urbano num terreno
nas proximidades da comunidade, que iria atender todo o continente, que
carece muito de áreas verdes de lazer. Esperase que tal necessidade seja
considerada pelo poder público este que historicamente vem agindo em
benefício das classes dominantes. E as classes dominadas permanecem
sendo escondidas atrás de fachadas na via expressa. Ou nos morros e
guetos da cidade...

Comissão Panaia
A comunidade da Panaia, localizada no bairro Carianos, ao sul da
ilha, pode ser classificada como uma pequena favela. Mas com
características bem específicas. Ela está restrita a uma área no interior de
um quarteirão, em malha urbana já conformada, com um pequeno acesso
que lhe dá forte característica de “gueto”.
É formada por duas famílias e seus descendente, que atualmente
somam 40 famílias e 164 pessoas. São em sua grande maioria negros e
ocupam a área a longos 40 anos de exclusão, preconceito e submissão.
Depois de um difícil processo para reverter uma ordem de despejo,
fomos chamados para desenvolver, em conjunto com a população, o
projeto urbanístico, paisagístico e habitacional para a área em questão.
Durante sua elaboração, estivemos em contato com a realidade social e
com a conformação espacial já consolidada, isso foi decisivo para
chegarmos a um projeto coerente, que contempla o planejamento
arquitetônico e os anseios da população.
Apesar disto, ele precisou sofrer modificações e adaptações devido
a extensas e controversas negociações com a Secretaria de Habitação do
município de Florianópolis, além do IPUF, Promotoria Pública, etc. Essa
experiência nos fez vivenciar a realidade da política pública, e romper
barreiras e preconceitos quanto ao diálogo e trabalho em parceria com as
comunidades envolvidas.
Hoje podemos comemorar. Devido à luta e persistência da
comunidade, junto ao nosso esforço diante do processo, conseguiremos,
em um futuro muito próximo, executar o projeto em parceria com a
Prefeitura Municipal de Florianópolis.
O trabalho que desenvolvemos com esta comunidade, ao longo de
dois anos, compreende muito mais do que simples extensão universitária.
Conhecer e vivenciar as dificuldades pela qual passam os indivíduos
destituídos de cidadania e autoestima nos remete a nossa própria vida e

43
- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

formação, e nos leva a analisar a realidade de forma ímpar, nunca


proporcionada pela academia.
Projetar lugares ideais, em situações ideais, está longe de ser aquilo
que necessitamos como arquitetos e urbanistas para exercer nosso papel
tão essencial e subestimado nas cidades em que vivemos.
Certamente, acompanhar as conquistas e modificações que se dão
na maneira de encarar o espaço que habitamos, a relação entre o todo e
as partes, sua influência direta no modo de vida, são sinceramente
essenciais para a formação do verdadeiro cidadão.

Comissão Angra dos Reis


Angra dos Reis é o nome escolhido para uma comunidade ao norte
da ilha de Florianópolis, que luta contra a exclusão social. Para muitos, é
uma favela, um gueto em meio ao imenso mar de dunas. Dunas próximas
à orla da praia dos Ingleses, dunas que avançam, mas que são impedidas
de seguir seu fluxo natural por causa da urbanização.
É o homem em confronto direto e diário com as forças da natureza.
Porém nem sempre foi assim.
Uma grande área que incluía parte das dunas, onde hoje é a
comunidade, até a praia foi vendida por um nativo e loteada há cerca de 30
anos. Nessa época, muitos moradores conseguiram licença para a
retirada de areia de seu lote, que era fixa com vegetação de restinga. O
problema é que além de retirada em excesso, a areia começou a ser
comercializada, pois não havia fiscalização pelos órgãos competentes.
O resultado foi um grande impacto ambiental na área, e a areia sem
vegetação começou a avançar no loteamento. Nessa época, o
governador Andrino resolveu embargar o loteamento e fazer um novo
limite de construção na área, pois essa vinha crescendo
desordenadamente devido à retirada ilegal de areia. É aí que inicia a luta
de muitos moradores em conter o avanço das dunas em suas casas, com
o plantio de mudas nativas.
Qualidade de vida é um sonho para muitos que lá residem. Água,
luz? Isso parece ser um direito comum de todos cidadãos, porém não é
assim em Angra dos Reis. Mas por que algumas pessoas são restritas a
esses serviços básicos, se as mesmas pagam impostos e têm um
endereço fixo, além de morar em uma rua cadastrada e reconhecida pela
prefeitura da cidade?
Próxima a uma área turística, a orla de Ingleses, a comunidade
deparase diariamente com a falta de coerência dos órgãos públicos, que

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
alegam a poluição do lençol freático pela comunidade, por estar em área
de preservação permanente (APP), sendo que a poucos metros dali
encontramos esgotos a céu aberto desembocando diretamente no mar.
Esgotos de quem? De hotéis de luxo, restaurantes caros, lojas de grife, até
de mansões à beira mar.
É evidente que para a cidade, é preciso “esconder” certos tipos de
população “nãoapropriadas” a certos espaços urbanos. Esse descaso
com a luta dos moradores é evidente na proposta do novo plano diretor,
hoje em trâmite na Câmara de Vereadores, proposto pelo IPUF, onde a
região de Angra é vista em parte como Área Turística Residencial (ATR),
cortada por uma grande via, e desconsiderada no fim da rua, como se ela
não existisse.
A Associação de Moradores ACARI vem lutando pela legalidade da
área, para que não sejam despejados. O pedido está parado no
Patrimônio da União desde 2002, e enquanto esperam, os moradores
atuam na área, em parceria com o AMA, através de trabalhos constantes.
Muros de arrimo com garrafas pet, mutirões de plantio de mais de 2000
mudas de plantas nativas, coleta de mais de 2 toneladas de lixo das dunas,
participações em reuniões com o Conselho Comunitário dos Ingleses,
com vereadores, entrevistas com a mídia, vem fortalecendo cada vez mais
o movimento de resistência desta comunidade.
O objetivo do trabalho é a criação de um parque na área estabilizada
com vegetação nativa, onde os próprios moradores da comunidade
poderão mostrar aos outros moradores da Ilha e aos turistas um pouco
sobre o que é viver em harmonia com a natureza; as características
ambientais e a história de uma área tão bela e conflituosa; além da criação
de um espaço gerador de renda para a população.

Comissão Serrinha
O projeto na comunidade da Serrinha nasceu da união de algumas
ações já consolidadas e novos projetos que surgiram após a
disponibilidade de um terreno da Universidade localizado na comunidade.
Diversas áreas estão envolvidas: Saúde (através do H.U.),
Engenharia Sanitária e Ambiental, Biologia e Desportos. Para a
continuidade desses projetos sentiuse a necessidade de um local
apropriado, cujo projeto está sendo desenvolvido pelo AMA.
Seguindo o princípio de aproximação Universidade Comunidade, o
prédio disponibilizará de salas, biblioteca, laboratório da Botânica (cujo
objeto de estudo será a Mata Atlântica existente no terreno) e uma sala

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

para administração da AMOS (Associação de Moradores da Serrinha).


A AMOS tem sido grande colaboradora do projeto desempenhando
com sucesso seu papel de ligação entre Comunidade e Universidade.
Os recursos para a construção estão sendo buscados junto à
iniciativa privada e a própria comunidade, uma vez que a mãodeobra já
existe no local e pode ser ampliada promovendose a qualificação de
novos profissionais.

O grupo hoje...
Com a projeção dos trabalhos do AMA, e através de constantes
divulgações dentro do curso (como coquetéis, exposição de fotos,
apresentação de vídeos e momentos de debate) conseguimos um
espaço no prédio, uma sala que servia de depósito. Ter nossa sala mudou
nossa relação com o curso; transformouse numa referência física, um
local onde podíamos ser achadas, onde aconteciam as reuniões
semanais, enfim, nossa casa.
As reuniões semanais são momentos do grupo todo, momentos
coletivos, onde cada comissão expõe a situação atual dos projetos, onde
trocamos informações, e passamos um tempo juntos. Sempre houve a
vontade de estabelecer nesse horário seminários, para leitura de textos e
amadurecimento de idéias, chamando professores e estudantes para
encontros informais, debates que possam embasar nossa atuação.
Porém ainda não conseguimos consolidar essa prática.
No ENEA Curitiba 2002, Floripa foi escolhida para ser sede do VIIº
SeNEMAU. A partir daí formamos a Comissão Organizadora do SeNEMAU
Floripa, que aconteceu em fevereiro de 2003. Preparamos Ateliês na três
comunidades em que estávamos envolvidas e propusemos dinâmicas
que integrassem os participantes, numa construção/gestão coletiva do
seminário. Os debates foram em torno do tema "extensão como
comunicação", e foi a partir daí que começamos e estudar mais as teorias
pedagógicas de Paulo Freire, e refletir a atuação da extensão universitária
dentro de uma prática de educação libertária. Esta reflexão permeia nosso
trabalho sempre.
O SeNEMAU em Floripa mexeu com o grupo, aumentou nossos
vínculos, expôs nossas deficiências. Aproximounos de nós mesmos e das
comunidades.
O debate sobre "extensão como comunicação" levamos também
para o ENEA Ouro Preto, numa oficina que realizamos durante o encontro.
A intenção era estimular nos participantes a percepção de formas de

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
linguagem em comunidades excluídas. Entender a arquitetura e o
urbanismo destas comunidades como expressão cultural, assim como a
música (samba) e os movimentos de resistência (hip hop). Entender a
arquitetura e a configuração espacial nestas comunidades como
expressões de identidade própria é essencial para atuações junto à esta
população.
Mesmo com a experiência crescendo (e os resultados dos projetos
tendo grande repercussão, inclusive dentro da Prefeitura Municipal) ainda
não éramos oficializados dentro do Departamento. Não éramos
reconhecidos, embora já tivéssemos um estatuto pronto, e uma atuação
cada vez mais consolidada. Tentamos levar a discussão entre os
professores, e regulamentar nosso estatuto nas reuniões de Colegiado.
Foram meses de tentativas frustradas, e várias questões levantadas pelo
corpo discente do curso a grande maioria fruto do medo pela
regulamentação de um grupo de autonomia estudantil. Conseguimos o
'reconhecimento' em novembro de 2003, com a oficialização do Estatuto
do AMA.
A renovação no grupo sempre foi uma preocupação nossa; motivo
pelo qual fizemos divulgações do AMA dentro do curso, e produzimos
jornais e informativos. A continuação dos trabalhos, e principalmente da
essência do tipo de extensão que defendemos, é a razão de tentarmos
estimular a entrada de novos integrantes no AMA. O que tem sido difícil,
porque apesar do interesse em participar dos projetos, os novos
integrantes, na maioria, ainda enfrentam dificuldades no engajamento nas
comissões.
Tem sido um desafio estimular uma postura mais ativa por parte dos
novos integrantes, para que eles façam parte do processo contínuo de
construção do AMA. Desafio esse que percebemos em outros EMAUs
com a mesma 'idade' que o AMA: as pessoas vão se formando, vão saindo
do grupo, e a dificuldade é que o grupo que permanece dê continuidade
aos trabalhos, e se transforme cotidianamente, dando sua cara ao EMAU.
Pudemos perceber essa questão em conversas e apresentações
dos EMAUs no VIIIº SeNEMAU 2004, em Pernambuco. Os EMAUs tem
uma vida em constante modificação, e é necessário que os grupos
estejam preparados para isso, para as renovações. Concluímos nesta
ocasião que uma maneira de fazer isso é estar sempre conversando;
estimulando um pensamento crítico, a respeito não só da arquitetura,
como do ensino, das ideologias urbanas, da sociedade. Estimulando o
potencial de transformação dos estudantes e futuros profissionais, das

47
comunidades e dos movimentos populares. Alimentando sempre os
sonhos.

“(...) uma atuação prática que busque e aponte novos modos de produção
arquitetural, ao mesmo tempo que aprofunde a crítica ao atual modo de produção,
mas isso, via uma prática acadêmica que atrele a universidade pública às camadas
populares, na problemática espacial dessas camadas e nas questões sociais
envolvidas na produção do espaço. Obviamente com o objetivo de emancipação das
camadas populares e concomitante superação das contradições estruturais da
sociedade.”
(Canteiro Livre Experimental e Comunitário num acampamento do MST. Unesp
Bauru 2002)

CONTATOS
ama_ufsc@yahoo.com.br
(48) 3319393 / 3319550 (DAU UFSC)

48
POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
Estatuto do AMA
Ateliê Modelo de Arquitetura
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
Rua Antonio Edu Vieira, Cidade Universitária da Trindade
Departamento de Arquitetura e Urbanismo Centro Tecnológico
Florianópolis SC

Carta de princípios do AMA

1 O Ateliê Modelo de Arquitetura é um grupo de extensão


universitária, de iniciativa e gestão estudantil, com o objetivo maior de
complementar a formação de Arquitetos e Urbanistas através do
exercício de ações práticas junto a comunidades, oferecendo às parcelas
mais carentes da sociedade, o conhecimento e a tecnologia gerados e
acumulados na Universidade, independente de fins assistencialistas,
políticopartidários ou religiosos;

2 O Ateliê Modelo de Arquitetura atenderá somente às


comunidades de baixa renda e populações sem possibilidades
sócioeconômicas de acesso aos trabalhos desenvolvidos por
profissionais da área da Arquitetura e do Urbanismo, distribuindo
eticamente a produção universitária e ampliando o campo de trabalho de
profissionais em exercício regular da profissão, através da
conscientização e do reconhecimento do Arquiteto Urbanista por parte
destas populações, que vivem à margem cultural da sociedade;

3 Os estudantes do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC


são livres para se organizarem em Comissões de Projeto, a fim de
realizarem os trabalhos de extensão, sendo garantida a integração
vertical entre os alunos de diferentes turmas, incentivando que estas
Comissões se organizem da forma que seja mais conveniente para a
realização de seus trabalhos, sendo autônomas em relação à seleção de
projetos e de orientadores, e não sendo remuneradas pelos beneficiários
pela execução de seus trabalhos;

4 O Ateliê Modelo de Arquitetura é aberto à colaboração e ao


assessoramento de grupos de pesquisas, laboratórios universitários,
profissionais, docentes e estudantes de diferentes áreas do
conhecimento, conforme for a necessidade do projeto a se desenvolver,

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

visando sempre a integração disciplinar e não restringindo a pesquisa


das informações necessárias para o projeto no campo da Arquitetura e
do Urbanismo. Destacamos a parceria que deve ser estimulada entre o
AMA e os Laboratórios do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da
UFSC.

5 O Ateliê Modelo de Arquitetura divulgará, através de suas


Comissões de Projeto, todo o conhecimento obtido através das
atividades de extensão realizadas, à comunidade acadêmica da UFSC e
aos demais estudantes de Arquitetura principalmente através da
Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do
Brasil FeNEA, a fim de promover a socialização do saber e intercâmbio
entre os estudantes e demais interessados.

CAPÍTULO I

DENOMINAÇÃO, SEDE E DURAÇÃO

Artigo 1º O Ateliê Modelo de Arquitetura, doravante denominado


AMA, fundado em data da fundação, é uma associação civil, de
personalidade jurídica de direito público, sem fins lucrativos e com prazo
de duração indeterminado, com sede e foro em Florianópolis, Santa
Catarina, com endereço no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Santa Catarina Centro Tecnológico, no Campus
Universitário da Trindade, que se regerá pelo presente estatuto e pelas
disposições legais aplicáveis.

CAPÍTULO II

FINALIDADES

Artigo 2º O Ateliê Modelo de Arquitetura tem como finalidades:

a) Proporcionar aos seus membros Efetivos e Associados as


condições necessárias à aplicação prática de conhecimentos técnicos
relativos à área de formação profissional;
b) Desenvolver atividades de assessoria técnica às comunidades

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
organizadas em projetos nas áreas da arquitetura e urbanismo, como
habitação, paisagismo e outras, potencializando a atuação profissional
nas parcelas da sociedade impedidas de adquirir esses serviços;
c) Tornar disponíveis às comunidades carentes que não têm acesso
aos profissionais da área da Arquitetura, recursos humanos, técnicos e
científicos da Universidade, capazes de contribuir para a melhoria da
qualidade de vida e do ambiente construído;
d) Realizar os trabalhos de extensão para o coletivo, atingindo o
maior número de beneficiários possível, através de Associações de
Moradores, entidades e Conselhos de bairro e demais organizações
comunitárias, nunca realizando trabalhos assistencialistas, ou de
interesse pessoal;
e) Realizar estudos e elaborar diagnósticos, bem como assessorar
a implantação de soluções indicadas para os problemas diagnosticados
em todo o processo do projeto arquitetônico, dos estudos preliminares
ao uso e funcionamento;
f) Desenvolver projetos com participação dos beneficiários em
todas as etapas do projeto em questão, de modo a garantir a mobilização
social e a composição de propostas e intervenções arquitetônicas e
urbanísticas que respondam democraticamente às necessidades e
anseios das populações beneficiadas pelos trabalhos de extensão;
g) Valorizar os estudantes e professores da Universidade Federal
de Santa Catarina e a referida instituição junto ao meio acadêmico, ao
meio profissional e junto à sociedade, bem como promover o
reconhecimento da Arquitetura e do Urbanismo e a necessidade da
atuação do profissional arquiteto urbanista pela comunidade;
h) Desenvolver atividades permanentes de pesquisa em habitação
popular, sustentabilidade sócioeconômica, além de estudos urbanos,
paisagísticos e de impacto ambiental;
i) Estabelecer convênios com instituições nacionais e
internacionais, tanto na área de cooperação e intercâmbio técnico e
científico, quanto na área de pesquisa, bem como na obtenção de
recursos para a viabilização dos princípios interdisciplinares acima
propostos;
j) Não remuneração dos serviços prestados pelo AMA por parte dos
beneficiários, sendo sua sustentabilidade financeira e a de seus
participantes entendida como compromisso da UFSC com a produção
de conhecimento e tecnologia, e da extensão destes à sociedade.
(Ver artigo 29°)

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

CAPÍTULO III

QUADRO SOCIAL, DIREITOS E DEVERES

Artigo 3º Os membros e orientadores do AMA poderão ser de 4


(quatro) categorias:

a) Membro Efetivo: todo estudante do Curso de Arquitetura e


Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina que, interessado
nos trabalhos de extensão desenvolvidos pelo Ateliê Modelo de
Arquitetura, e integrado a alguma Comissão de Projeto em exercício,
contribua através de prestação de serviços para a condução de suas
atividades e consecução de suas finalidades, durante um período
préestabelecido. Tal membro terá direito à voz e voto em todas as
instâncias deliberativas do AMA, inclusive no Conselho do AMA caso
esteja representando sua Comissão de Projeto;
b) Membro Associado: todo estudante do Curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina que terá direito a
voto somente nas Assembléias do AMA, porém tendo livre direito à voz na
Reunião das Comissões de Projeto, assim como no Conselho do AMA.
c) Orientador: todo professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Federal de Santa Catarina que contribua na difusão dos
serviços prestados pelo Ateliê Modelo de Arquitetura, através de atuação
como especialista na orientação das atividades desenvolvidas, na
medida que haja solicitação para sua área de atuação, e na
responsabilidade técnica junto ao CREA/SC pelos projetos executados.
d) Coorientador: todo Arquiteto e Urbanista, Engenheiro, docente
em outras áreas do conhecimento, e demais profissionais que
contribuam no desenvolvimento de trabalhos de extensão
multidisciplinares, conforme a carência de cada projeto.

Artigo 4º São direitos dos membros do Ateliê Modelo de


Arquitetura:

a) Comparecer e votar nas Assembléias Gerais;


b) Solicitar a qualquer tempo, oralmente ou por escrito, informações
relativas às atividades do Ateliê Modelo de Arquitetura;
c) Utilizar todos os serviços colocados à sua disposição pelo Ateliê
Modelo de Arquitetura;

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
d) Requerer a convocação da Assembléia Geral e do Conselho do
AMA, na forma prevista neste estatuto.

Artigo 5º São deveres de todos os membros do Ateliê Modelo de


Arquitetura:

a) Respeitar o estatuto bem como as deliberações da Assembléia


Geral, do Conselho do AMA e da Reunião das Comissões de Projeto;
b) Exercer diligentemente os cargos para os quais tenham sido
eleitos;

Artigo 6º Perdese a condição de membro do Ateliê Modelo de


Arquitetura:

a) Pela renúncia;
b) Pela conclusão, abandono, cancelamento de matrícula ou
jubilamento do curso na UFSC no caso de membros Efetivos;
c) Pela morte;
d) Por decisão de 2/3 (dois terços) dos membros da Assembléia
Geral fundamentada na violação de quaisquer das disposições do
presente estatuto;
e) Pelo esgotamento do tempo máximo de permanência de (3) três
anos, salvo os casos onde o Conselho do AMA decidir pela continuidade
da execução das atividades de Membro Efetivo.

CAPÍTULO IV

INSTÂNCIAS DELIBERATIVAS DO AMA

TÍTULO I

ASSEMBLÉIA GERAL

Artigo 7º A Assembléia Geral é o órgão de deliberação soberano


do Ateliê Modelo de Arquitetura e poderá ser de caráter ordinário ou
extraordinário.

PARÁGRAFO ÚNICO No caso de escolha de projetos, ficará submetido


à apreciação e aprovação pelo Colegiado do Departamento de

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

Arquitetura e Urbanismo.

Artigo 8º Todos os membros terão direito à voz e voto nas


Assembléias Gerais, correspondendo 1 (hum) voto a cada membro,
sendo possível a representação por procuração, assim como o pedido
de identificação de estudante do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
UFSC feito pelo condutor da Assembléia em exercício.

Artigo 9º As Assembléias Gerais poderão ser convocadas através


de edital afixado em mural do Curso de Arquitetura da UFSC, pela maioria
simples do Conselho do AMA, ou de 1/3 (um terço) do total dos membros,
com no mínimo 5 (cinco) dias úteis de antecedência.

PARÁGRAFO ÚNICO As Assembléias Gerais poderão ser, ainda,


convocadas pelo requerimento de 1/3 (um terço) dos membros Efetivos
do Ateliê Modelo de Arquitetura.

Artigo 10º A Assembléia Geral Ordinária reunirseá uma vez por


ano, dentro dos 5 (cinco) meses subseqüentes ao término do ano civil.

Artigo 11º A Assembléia Geral Ordinária destinase a:

a) Estabelecer as diretrizes fundamentais do AMA, com base em


seus princípios e finalidades;
b) Discutir os relatórios de atividades elaborados pelas Comissões
de Projeto;
c) Apreciar a prestação de contas do Conselho do AMA e deliberar
sobre questões financeiras relevantes, quando reivindicadas por alguma
Comissão de Projeto;
d) Eleger o representante discente e o representante dos
orientadores do AMA para comporem, juntamente com os
representantes das Comissões de Projeto, o Conselho do AMA;
e) Aprovar e emendar regimentos a serem encaminhados pelo
Conselho do AMA;
f) Aprovar a perda da condição de membro Efetivo do AMA,
conforme este estatuto, seus princípios e finalidades;

Artigo 12º A Assembléia Geral Extraordinária reunirseá a qualquer


tempo, por convocação do Conselho do AMA ou de 1/3 (um terço) do

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
total dos membros, não havendo oposição maior que 2/3 (dois terços)
dos membros.

Artigo 13º Serão nulas as decisões da Assembléia Geral sobre


assuntos não incluídos em sua pauta, a não ser que na Assembléia Geral
se encontrem presentes todos os membros Efetivos e não haja oposição
de qualquer um deles.

Artigo 14º A instalação da Assembléia Geral requer a presença da


maioria simples dos membros, e suas decisões serão sempre tomadas
por maioria simples de votos dos membros presentes.

PARÁGRAFO 1º Se na hora marcada para a Assembléia Geral não


houver “quorum” para a sua instalação, a Assembléia será dada como
adiada para data conveniente, a ser designada pela maioria simples das
Comissões de Projeto, através de seus representantes no Conselho do
AMA.
PARÁGRAFO 2º Caso a hipótese do parágrafo acima venha a se
concretizar, fica estabelecido que a exigência do número de presentes
passa a ser desnecessária, ficando todavia respeitado o prazo mínimo de
5 (cinco) dias úteis para a sua realização, sendo convocada na forma
estipulada no artigo 9, acatandose como válidas as decisões que por ela
se venha tomar.

Artigo 15º A Assembléia Geral será inicialmente conduzida por um


Conselheiro do AMA, ou pelo representante dos membros que
reivindicaram tal Assembléia, e as funções de secretário da Assembléia
Geral serão desempenhadas por qualquer dos membros Efetivos ou
Associados, escolhidos pela Assembléia Geral.

PARÁGRAFO ÚNICO Após iniciada, a Assembléia Geral será conduzida


pelo membro escolhido entre e os membros Efetivos e Associados
presentes.

TÍTULO II

CONSELHO DO AMA

Artigo 16º O Conselho do AMA é o órgão de deliberação de

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

encaminhamentos e funções administrativas do Ateliê Modelo de


Arquitetura, e compete ao Conselho do AMA:

a) Regulamentar as deliberações da Assembléia Geral;


b) Examinar e emitir pareceres sobre as demonstrações
financeiras, relatórios de atividades e orçamentos do exercício
apresentados pelas Comissões de Projeto;
c) Propor à Assembléia Geral as diretrizes fundamentais do Ateliê
Modelo de Arquitetura;
d) Manifestar-se sobre propostas de trabalhos e projetos de
extensão que lhe sejam encaminhados pela Reunião das Comissões de
Projeto, analisandoos e submetendoos aos princípios do Ateliê Modelo
de Arquitetura para posterior aprovação ou reprovação das propostas;
e) Analisar a responsabilidade técnica dos orientadores indicados
pelas Comissões de Projeto quanto ao exercício legal da profissão,
segundo a legislação aplicada ao projeto trabalhado pela Comissão em
questão;
f) Aceitar convênios, subvenções e legados, sem que interfiram nos
princípios do AMA;
g) Indicar, contraindicar, nomear e destituir Membros Associados
para exercerem cargos administrativos no Conselho do AMA;
h) Deliberar sobre a forma de administração com que o Conselho
do AMA funcionará, tendo como cargos mínimos a serem indicados e
nomeados pelo próprio Conselho, dois Coordenadores e um Secretário,
sendo estes cargos exercidos apenas por Membros Efetivos ou
Membros Associados do AMA;
i) Elaborar e planejar o processo de rotatividade dos cargos
administrativos;
j) Deliberar sobre os casos omissos nesse estatuto, por solicitação
encaminhada pela Comissão de Projeto, com recurso da decisão para a
Assembléia Geral.

PARÁGRAFO ÚNICO O Conselho do AMA se instalará somente com a


presença de 2/3 de seus membros e as decisões serão tomadas por
maioria simples de voto dos membros representantes.

Artigo 17º O Conselho do AMA é composto por um representante


de cada Comissão de Projeto, um representante discente do Curso de
Arquitetura e Urbanismo e um representante dos Orientadores do AMA,

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
sendo que o número de membros Efetivos do Ateliê Modelo de
Arquitetura, no Conselho do AMA, nunca seja igual ou inferior à metade
do total de membros do Conselho do AMA.

PARÁGRAFO ÚNICO Caso não se completem as vagas do Conselho do


AMA, haverá uma Assembléia Geral Extraordinária onde será feita a
indicação de membros Efetivos pelas Comissões de Projeto.

Artigo 18º Todos os membros Efetivos de uma Comissão de


Projeto são suplentes do representante de sua Comissão no Conselho do
AMA, em caso de impedimento do representante de comparecer à
reunião do Conselho do AMA.

Artigo 19º O representante discente que integrará o Conselho do


AMA será indicado pela entidade oficial de representação discente do
Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, atualmente o Centro
Acadêmico Livre de Arquitetura CALA, caso este membro do Conselho
do AMA não seja indicado pela Assembléia Geral.

Artigo 20º O Conselho do AMA reunirseá, pelo menos, uma vez a


cada trimestre, através de edital afixado em mural do Curso de
Arquitetura da UFSC, com antecedência mínima de 5 (cinco) dias úteis.

PARÁGRAFO ÚNICO As reuniões do Conselho do AMA deverão ser


convocadas por sua administração em exercício, ou por uma Comissão
de Projeto, assim como estas partes integrantes do Conselho julgarem
necessário, ou mediante requerimento de no mínimo 1/3 de seus
membros.

TÍTULO III

COMISSÕES DE PROJETO

Artigo 21º As Comissões de Projeto são investidas de poderes de


representação do Ateliê Modelo de Arquitetura, de forma a assegurar a
consecução de suas finalidades, observando e fazendo observar o
presente estatuto e as deliberações da Assembléia Geral e do Conselho
do AMA.

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

Artigo 22º Compete às Comissões de Projeto:

a) Analisar e escolher a área e o projeto em que a Comissão deseja


trabalhar, assim como escolher seus Orientadores, e Coorientadores
quando necessário, encaminhando ao Conselho do AMA o pedido de
abertura da Comissão de Projeto;
b) Reunir-se no mínimo mensalmente às outras Comissões, com o
propósito de intercambiar informações de cada Comissão de Projeto, na
forma de seminários, exposições, vivências ou outros;
c) Divulgar as experiências da Comissão de Projeto, obtidas com
os serviços prestados ao AMA e à sociedade, para todos os estudantes
de Arquitetura e Urbanismo e de outras áreas do conhecimento, e aos
demais colaboradores e interessados na extensão universitária de
caráter social;
d) Responsabilizar-se pelo contato direto com os clientes durante
todas as etapas do projeto, das fases preliminares e estudos iniciais ao
uso posterior ao trabalho da Comissão de Projeto;
e) Responsabilizar-se, juntamente com seu Orientador, pela
aquisição e manutenção de bolsas de extensão universitária aos
Membros Efetivos da Comissão de Projeto, e de demais angariações de
recursos necessários para a sustentação financeira dos trabalhos, sem
que estas angariações interfiram nos princípios do AMA e neste estatuto;
f) Decidir, entre todos os Membros Efetivos da Comissão de
Projeto, como será empregado o total de recursos arrecadados pela
Comissão, sejam estes recursos bolsas de extensão ou demais formas
de arrecadação que não interfiram nos princípios do AMA e neste
estatuto;
g) Dissolver o Conselho do AMA, caso este desrespeite o estatuto e
os princípios do AMA, ou não cumpra corretamente as atividades para as
quais tenha sido designado;
h) Propor ao Conselho do AMA a perda da condição de membro do
Ateliê Modelo de Arquitetura, conforme as disposições do presente
estatuto.

Artigo 23º Em quaisquer atos que envolvam obrigações sociais,


inclusive assinaturas de contratos, emissão de procuradores, o Ateliê
Modelo de Arquitetura será representado pelos Membros Efetivos da
Comissão de Projeto que necessitar de representação para cada caso
específico.

58
POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
PARÁGRAFO ÚNICO Nos atos que envolverem questões relativas a mais
de uma Comissão de Projeto, responsabilizamse pelas obrigações
sociais do AMA os membros do Conselho do AMA.

CAPÍTULO V

DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 24º Das reuniões, lavrarseão atas que serão paginadas em


seqüência ininterrupta e, sendo aprovadas, receberão as assinaturas de
todos os membros presentes.

PARÁGRAFO ÚNICO As atas não poderão conter linhas em branco,


passíveis de posterior utilização, entrelinhas, rasuras ou emendas.

Artigo 25º Das atas constarão necessariamente:


a) Transcrição do edital de convocação contendo a natureza da
reunião ;
b) Hora, dia, mês, ano e local de sua realização;
c) Nome de quem a conduziu;
d) Expediente recebido remetido;
e) Síntese das resoluções tomadas;
f) Resultado das votações;
g) Qualquer outro fato tratado na reunião.

Artigo 26º Os resultados do Ateliê Modelo de Arquitetura que por


ventura verificarem ao final de cada exercício social, serão
compulsoriamente reinvestidos nas atividades por ele conduzidas.

Artigo 27º É vedada a remuneração, por parte dos clientes


beneficiários, aos integrantes do Conselho do AMA e das Comissões de
Projeto pelo exercício de tais funções, bem como a distribuição de
bonificações ou vantagens a dirigentes, Membros Efetivos, Associados,
Orientadores ou Coorientadores do Ateliê Modelo de Arquitetura.

Artigo 28º Os membros Efetivos que se graduarem no exercício de


seus mandatos serão substituídos, em caso de impedimento dos
mesmos, da seguinte forma:

59
- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

a) Sendo Membro Efetivo, caberá a sua Comissão de Projeto indicar


substituto e encaminhar o seu nome ao Conselho do AMA para
aprovação, com recurso para a Assembléia Geral se necessário;
b) Sendo Conselheiro, caberá ao Conselho do AMA indicar o
substituto e encaminhar o seu nome à Assembléia Geral.

Artigo 29º O patrimônio do Ateliê Modelo de Arquitetura será


composto:

a) Pelo produto das contribuições recebidas;


b) Pelo produto dos convênios firmados;
c) Por subvenções e legados oferecidos e aceitos pelo Conselho do
AMA;

PARÁGRAFO ÚNICO Todo convênio ou contribuição oferecida ao Ateliê


Modelo de Arquitetura terá que ser aprovado pelo Colegiado de
Departamento, sendo este responsável por analisar rigorosamente as
propostas, observando se estão de acordo com os princípios do AMA.

Artigo 30º O Ateliê Modelo de Arquitetura será extinto a qualquer


tempo, por deliberação de no mínimo 2/3 dos membros em Assembléia
Geral convocada para essa finalidade.

PARÁGRAFO ÚNICO Em caso de extinção do AMA, o seu patrimônio


será destinado à alguma instituição sem fins lucrativos de cunho social.

Artigo 31º É vedada a utilização do AMA com fins de promoção


político/partidária, religiosa ou pessoal.

Artigo 32º O presente estatuto poderá ser modificado a qualquer


tempo em Assembléia Geral convocada para este fim, pelo voto
afirmativo de 2/3 dos membros do AMA.

Artigo 33º Os casos omissos neste estatuto serão decididos pelo


Conselho do AMA, com recurso para Assembléia Geral.

Obs.: Este estatuto foi elaborado de acordo com o Art. 19 da Lei nº


6.015, de 31 de de 1973 Lei dos Registros Públicos e com os Arts.53 ao
60 do Código Civil de 2002.

60
POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
Compõe as Comissões de Projeto do AMA na data de sua fundação, os
Membros Efetivos do AMA:

Comissão Chico Mendes:


- Laila Loddi
- Sumara Lisboa (coorientadora)

Comissão Panaia
- Ana Cláudia Lorenzi
- Leonardo Silva Rodrigues
- Thaísa Kleinubing

Comissão Angra dos Reis


- Cíntia Fernandes

Compõe o Conselho do AMA, na data de sua fundação:


Laila Loddi - Representante da Comissão Chico Mendes
Leonardo Rodrigues - Representante da Comissão Panaia
Cíntia Fernandes - Representante da Comissão Angra dos Reis
Everson Martins - Representante dos Estudantes de Arquitetura e
Urbanismo da UFSC, através do CALA Centro Acadêmico Livre de
Arquitetura.
Lino F. B. Peres - Representante dos Orientadores

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

Casas
Centro de Ação Social em Arquitetura Sustentável
UnB Universidade de Brasilia
Fau Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Campus Universitário Darcy Ribeiro
Brasilia DF

O CASAS Centro de Ação Social em Arquitetura Sustentável é o


escritório modelo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de Brasília. O processo de construção do CASAS se iniciou
em uma greve ocorrida nas Universidades Públicas entre agosto e
novembro de 2001. Nesse momento, não existia clara a idéia de EMAU
por parte do grupo. Só existia a necessidade de propor alternativas a
forma de se aprender a projetar na faculdade. O grupo foi se unindo,
juntando pessoas que queriam mais contato com a sociedade, em uma
cidade como Brasília, onde as comunidades excluídas estão à margem
do projeto para a capital do país.
Desde 1958, quando foi criada a primeira cidadesatélite,
Taguatinga, a cidade vive um processo de expulsão de toda invasão que
ocorra no plano piloto para loteamentos com condições mínimas de
infraestrutura, distantes em média 30km do centro planejado. Esse
processo constitui por enquanto um modelo polinucleado de ocupação
urbana, com cidadesdormitório dependentes economicamente de
Brasília. O controle exercido pelo governo, que é distrital e nomeia
administradores para cada região administrativa, dificulta a organização
de comunidades, até pelo fato de serem cidades recentes, com
identidade em construção.

PRIMEIRA FASE SeNEMAU POA e freirinhas...


A partir do VI SeNEMAU em Porto Alegre, tendo tomado contato
com o conceito de EMAU difundido pela FeNEA, o grupo se fortaleceu e
se viu diante da oportunidade de trabalhar com uma entidade
assistencial atuante em uma cidade satélite, o Gama.
Essa foi a primeira experiência do grupo, um trabalho com uma entidade
que abriga adolescentes com câncer que chegam a Brasília para se tratar
em hospital especializado. O fato de ser uma entidade assistencial tornou
o trabalho bastante pragmático, pois lidávamos com prazos curtos e
limitações de condições de trabalho. A cidade do Gama se localiza a
cerca de 50km da Universidade, fazendo com que tivéssemos que nos

62
POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
deslocar por conta própria e trabalhar aproveitando a infraestrutura
oferecida pela faculdade. Esse primeiro projeto tinha como objeto final a
construção de um novo abrigo para esses adolescentes, que seria uma
ampliação da instituição. A comunidade, liderada por irmãs católicas,
possuía uma verba para a construção que exigia prazos curtos para que o
projeto estivesse pronto. Isso exigiu do grupo, que estava se
estruturando, e cheio de vontade de trabalhar, um projeto de arquitetura
elaborado em um curto espaço de tempo, e logo em seguida o início do
acompanhamento da obra. A relação com a comunidade foi bastante
limitada, não estiveram envolvidos com o processo projetual. A liderança
era muito marcante e dificultava as relações com as pessoas da
comunidade.
De qualquer forma, foi uma excelente maneira do grupo ir se
testando, conhecendo as relações e entender a forma como queria
funcionar. Desde o princípio, adotamos a postura de trabalhar primeiro
pra depois pensar em estatuto e formas de gestão. Houve algumas
tentativas de formulação de estatuto, todas foram em vão.
Outro projeto com características semelhantes foi iniciado no
CASAS logo em seu primeiro ano de funcionamento. Dessa vez,
trabalhando com uma ONG, também assistencial, em uma outra cidade
satélite do DF. Em Brazlândia, a comunidade solicitou ao EMAU um
projeto para reforma de uma creche em funcionamento, e a construção,
em um outro terreno adquirido pela instituição, de casaslar para crianças
órfãs, lar para velhinhos, espaço para cursos profissionalizantes para
adolescentes da comunidade.

SEGUNDA FASE depois do SeNEMAU Floripa...


Dessa vez, após passar pelo VI SeNEMAU na cidade de
Florianópolis, o grupo começou a tentar, através das lideranças da
comunidade, um maior contato com a comunidade realmente atendida
pelas futuras intervenções do EMAU em Brazlândia.
O grupo se manteve essencialmente o mesmo, com algumas
entradas e saídas... procuramos difundir o EMAU dentro da Faculdade,
para alunos e professores, através de coquetéis de apresentação dos
projetos, sempre com o apoio do Centro Acadêmico. Inclusive, a maioria
dos membros do CASAS eram também membros do CAFAU.
Conseguimos aprovação do Departamento para que funcionássemos,
recebemos uma sala e computador. Tudo isso somente depois de
mostrar o trabalho de um grupo já existente e atuante.

63
- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

O ano que se seguiu ao SeNEMAU Floripa foi um ano de muitas


reflexões em torno do grupo e das tentativas de intervenção em cidades
satélites. Ao mesmo tempo em que o grupo sentia a necessidade de um
trabalho com comunidades em que pudéssemos ter um maior contato
com a realidade espaçosocial das cidades, sem a interferência de
lideranças fortes como havia acontecido nos dois projetos, o grupo se via
desgastado e com necessidade de procurar renovação.
Após incontáveis discussões, nenhuma nova frente de trabalho
iniciada, saídas de alguns membros e até da professora orientadora, o
grupo chegou a se reunir para decidir se declarava acabado ou não o
CASAS. Mas antes que isso acontecesse, novas pessoas interessadas
apareceram, e junto com elas uma oportunidade de trabalho com um
grupo do curso de Serviço Social da UnB. A proposta era trabalhar a
mobilização de uma associação de feirantes atuantes em uma Feira do
Produtor, localizada em uma área próxima a um loteamento de classe alta
e um de classe baixa, São Sebastião. A feira apresentava características
de elemento integrador dessas duas classes, pela sua localização e tipo
de produtos oferecidos. A proposta de mobilização, para daí se utilizar da
feira como elemento irradiador, partiu do grupo de Assistentes Sociais.
Aliado a esse processo de mobilização estaria a intervenção espacial o
espaço onde hoje ocorre a feira, a ser proposto pelo CASAS.
Nesse início de projeto participaram seis novos membros e dois
membros antigos. Foram feitas atividades lúdicas com os feirantes,
discussões em torno do projeto através de desenhos feitos na hora com
as pessoas, organização de uma feira de trocas para chamar atenção da
população, etc. O contato com a feira durou pouco mais de um mês, e,
após o início de 2004 o grupo do Serviço Social se desarticulou e a frente
de trabalho encontra-se parada.
De qualquer forma, foi através desse trabalho com a Feira do
Produtor que se fez a passagem do CASAS. Os novos membros
começavam a se apropriar do EMAU...

TERCEIRA FASE depois do SeNEMAU Recife...


Os “calouros” do CASAS estiveram quase todos presentes ao VIII
SeNEMAU, em Recife, onde estava se completando essa passagem. E
foi muito importante o fato de estarem juntos novos e velhos membros
unidos na construção coletiva do encontro junto aos outros EMAUs. No
processo de preparação para a longa viagem, o CASAS se juntou para
filmar uma apresentação de seus integrantes e trabalhos. No prazo curto,

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
não conseguimos fechar a apresentação, mas o resultado dos encontros
e conversas durante a filmagem foi a retomada do sentimento de grupo,
do autoconhecimento. Assim, o CASAS chegou em Recife unido e pronto
para se apresentar de qualquer outra maneira terminamos cantando um
repente, contagiados que estávamos pela cultura Pernambucana.
Voltamos do SeNEMAU empolgados pela energia positiva do
encontro, prontos para contagiar os amigos que não puderam ir. E foi
com essa energia que pegamos um novo trabalho junto à Faculdade que
realizou um convênio com uma ONG, visando capacitar estudantes de
comunidades marginais do DF num curso de paisagismo, financiado
pelo programa 1° emprego do Governo Federal. O objetivo desse
processo é realizar intervenções paisagísticas em praças degradadas do
entorno de Brasília. Nesse novo processo estão atuando,
predominantemente, os novos membros do grupo, enquanto alguns dos
veteranos se afastaram, afinal, têm que se formar algum dia.
Esse novo trabalho ainda está em andamento, mas a vivência de
até então mostrou que um processo projetual participativo junto às
comunidades pode ser muito mais completo do que a velha relação
estéril cliente X arquiteto. Mostrou também que as parcerias com
entidades como ONGs, Governos, Prefeituras e a própria Faculdade
possuem um enorme potencial, mas devem ser pensadas com cautela.
Isso porque as relações de interesse são muito desiguais e quase
sempre resultam em prazos curtos, “só pra mostrar serviço”.
Entendemos que isso não condiz com a realidade do trabalho social com
comunidades, cada uma com sua dinâmica, cada processo com seu
ritmo. Forjar resultados é, essencialmente, uma prática assistencialista.

Quem é e foi o CASAS...


Carolina Pescatori, Gabriel Schvarsberg, Denise Vieira, Ricardo
Soares, Marcel Sant'Ana, Stepan Krawstchuk, George da Guia,
Alessandra Lessinger, Lara Oze, Momchil Stoyanov, Pedro Grilo, Thiago
Bom Dia, Gobelly Castilo, Juliana Terra e Lia Bezerra. De outras áreas tem
também o Veludinho (Márcio Rocha), do Desenho Industrial, e o Jonas do
Serviço Social, lembrando que EMAU é também uma atividade
interdisciplinar.

Professoras Marta Romero, Eliani e Bahiana (Serviço Social)


CONTATO
casas_unb@yahoogrupos.com.br

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

CÉLULA
Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo
Universidade Federal do Espírito Santo UFES
Vitória ES

Por que CÉLULA?

A célula é o início de tudo...


É a unidade fundamental da vida...
O curso de Arquitetura e Urbanismo da UFES está localizado no
prédio denominado CEMUNI (Célula Modular Universitária) III.

E como surgimos?

A tentativa de montar um escritório modelo na UFES não é recente.


Por três vezes alunos se mobilizaram e objetivaram concluir este sonho.
Porém as preocupações iniciais eram sempre uma barreira: não tinham
espaço físico, não tinham computadores, materiais ou mesmo não
conseguiam definir um estatuto.

Foi aí que em 04 de dezembro de 2002 o CALAU Centro


Acadêmico Livre de Arquitetura e Urbanismo da UFES, organizou uma
reunião com o objetivo de disseminar o ideal dos EMAU's para os alunos
do curso.

Acreditávamos que nesta primeira reunião o interesse dos alunos


seria pequeno, que não haveria ninguém além das pessoas envolvidas
com o CALAU. Estávamos enganados. Havia mais de trinta alunos entre
membros do CALAU e alunos de todos os períodos, que juntos
discutiram e aos poucos descobriam o que era “essa coisa” chamada
EMAU.

Passamos a nos reunir uma vez por semana e passo a passo o


grupo foi se consolidando, surgindo então o Escritório Modelo de
Arquitetura e Urbanismo da UFES, hoje, o CÉLULA.

Nossa preocupação inicial era entender o funcionamento de um


EMAU, como trabalhar com comunidades carentes e até discutir o que é
o termo “carência”. Desde o início não aspiramos por espaço físico e

66
POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
muito menos reivindicamos computadores ou tentamos aprovar um
estatuto, queríamos que estas coisas acontecessem como
conseqüência. Por este motivo o CÉLULA funciona até hoje dentro de
uma caixa onde reunimos todo o nosso material.

Nossa forma de trabalho ...

CONCEITUAÇÃO: trabalho com a arquitetura social, na prática


da extensão dos conhecimentos adquiridos dentro da universidade e
adquirindo conhecimentos que a universidade não contempla.
INVESTIGAÇÃO: busca de informações dentro da problemática
de cada comunidade trabalhada.
AÇÃO: elaboração dos projetos em parceria com as
comunidades.
MULTIDISCIPLINARIDADE: participação de estudantes e
profissionais de outros cursos, ONG's e entidades.
Nossa forma de trabalho consiste na horizontalidade e cooperatividade
no desenvolvimento de todo o processo projetual.

“Mude, mas comece devagar, porque a direção é


mais importante que a velocidade.”
Clarice Lispector

Os projetos...

O CÉLULA trabalha hoje com dois projetos: a humanização da


pediatria do Hospital Dório Silva HDS, no município da Serra e a
Cooperativa de Blocos e Facções COOBLOFAC, em Cariacica.

HDS Hospital Dório Silva

O projeto do HDS surgiu logo depois da formação do CÉLULA,


através de um contato feito com a Empresa Junior de Comunicação
Social da UFES ECOS, que já estava desenvolvendo um projeto de
mudança da imagem pública do hospital.
O hospital faz parte da rede pública e atende tanto a população
excluída moradora da Serra, quanto da Grande Vitória. Hoje ele está
integrado em um projeto do Governo Federal de humanização hospitalar
e foi dentro da ação deste projeto que surgiu a ONG HUMANIZAR,
composta por funcionários de todos os setores do HDS e nossos

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

principais parceiros e colaboradores.


A princípio, fomos chamados a ajudar na comunicação visual
interna e externa do hospital e na elaboração do projeto das três
recepções que o mesmo possui. Contudo, após uma visita ao local
constatamos duas coisas: a primeira que o projeto da sinalização era
uma oportunidade de interdisciplinaridade, visto que os alunos do curso
de Desenho Industrial estariam mais habilitados a desenvolvêlo e que
poderíamos aprender com isto; a segunda que a estrutura do Hospital se
encontra em estado precário e, aí sim, acreditamos que enquanto
estudantes de arquitetura poderíamos dar nossa significativa
contribuição.

Após reuniões com o Grupo


Humanizar, de acordo com as
possíveis parcerias, definimos nossa
área de atuação: a Pediatria.
Realizamos então, os primeiros
levantamentos, registros
fotográficos, fluxogramas,
levantamos, com o auxílio dos
funcionários, as necessidades Foto 01 Área externa da Pediatria
técnicas e produzimos um diagnóstico sobre o qual baseamos o nosso
projeto.

O projeto já foi concluído e construído


junto ao corpo médico e funcionários
envolvidos com aquele setor do
hospital. Elaboramos uma planilha de
orçamentos e agora aguardamos
resposta dos possíveis
patrocinadores e parceiros do HDS.
Foto 02 Enfermaria 308

COOBLOFAC Cooperativa de Blocos e Facções

Através da ONG OPS (Organização de Práticas Sociais), um grupo de


Vitória formado por alunos e profissionais que atuam na área de direito
dentro de comunidades excluídas que buscam se organizar, fomos
apresentados a alguns cooperativados da COOBLOFAC Cooperativa de

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
Blocos e Facções do município de Cariacica.
A COOBLOFAC foi criada através de um incentivo do movimento
missionário da Igreja Católica, objetivando uma fonte de renda para
famílias de comunidades carentes daquele município.
Nas primeiras aproximações com
a cooperativa, as principais solicitações
eram de que se desviasse o curso da
água que passa não só pelo terreno
mas por todo bairro, provocando
constantes inundações, e ainda a
criação de uma quadra de futebol que
proporcionasse uma maior integração
Foto 03 O terreno da COOBLOFAC dentro da comunidade na qual a fábrica
se insere.
Realizados os levantamentos físicos
e fotográficos do terreno, constatamos
junto com os cooperativados que as
necessidades da cooperativa estavam
além do solicitado, visto que a própria
linha de produção e espaços físicos já
existentes poderiam ser otimizados.
Foto 04 O Entorno.

Sendo assim, entramos numa nova fase: auxiliar tecnicamente na


organização dos espaços, repensando o local visando a coexistência
entre indústria de blocos e futura área de lazer.
Com a parceria e coorientação de Marcelo e Rita, ele engenheiro
civil e ela arquiteta, assim como com a significativa colaboração dos
cooperativados envolvidos, hoje estamos realizando o projeto de um
galpão para armazenamento e secagem dos blocos produzidos pela
fábrica.

Alcançar as comunidades tem sido um dos maiores desafios


dentro do trabalho dos EMAUs. No caso da COOBLOFAC pretendemos
trabalhar a conscientização de toda a comunidade para que possa cuidar
do manancial hídrico que possui. Também neste intuito seguiremos
realizando o projeto da área de lazer que proporcionará, como já foi dito,
a integração entre comunidade e cooperativa

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

EMCASA
Escritório Modelo de Causas Sociais em Arquitetura
UFAL Universidade Federal de alagoas

FORMAÇÃO

A Universidade Federal de Alagoas tem um histórico marcante no


que diz respeito à participação em trabalhos sob forma de Escritório
Modelo. Já existiram duas versões anteriores de grupos de EMAUS na
UFAL e Maceió foi a cidade sede do primeiro SENEMAU, que aconteceu
em 1984.
A vontade de se formar, novamente, um Escritório Modelo na UFAL
surgiu no segundo semestre de 2003, após o ENEA Ouro Preto, onde
ocorreram discussões sobre o projeto desenvolvido pela FENEA que
incentivava a ação dos universitários numa perspectiva social da
arquitetura. Vários estudantes se identificaram com a ideologia de um
EMAU e, a partir daí, reuniões públicas começaram a acontecer
semanalmente para se debater questões referentes ao POEMA e à Carta
de Princípios.
O próximo passo foi escolher um nome que pudesse representar,
de imediato, os interesses de seus integrantes, mostrar o engajamento
do grupo em dar um retorno concreto para a sociedade, visando a
melhoria da qualidade de vida nas comunidades carentes, bem como a
troca de experiências entre a sociedade e os estudantes. Assim, foi
escolhido o nome EMCASA, Escritório Modelo de Causas Sociais em
Arquitetura. Causa, devido ao fato de que, formalmente, determina a
condição de ser do Escritório Modelo e como causa eficiente, significa
que o EMAU é capaz de gerar fenômenos em sua área de atuação;
Sociais, pela disposição de trabalhar junto às comunidades carentes,
visando o crescimento e desenvolvimento da sociedade.
Após um tempo de debates, decidiu-se que estava na hora de se
elaborar o estatuto do EMCASA, o que mais tarde demonstrou que esta
foi uma ação precipitada, devido à imaturidade do grupo o que provocou
problemas no que diz respeito à interpretação do estatuto,
principalmente no referente ao público que se beneficiaria com o trabalho
do Escritório Modelo. A dificuldade foi exposta durante o SENEMAU
Recife, e ficou decidido que o estatuto só seria formulado quando o grupo
tivesse mais experiência e se sentisse preparado para isto.

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
Com as experiências trocadas no SENEMAU Recife e o apoio do
projeto CARAVANAS realizou-se o momento POEMA na UFAL, o que
disseminou a idéia do EMAU entre os estudantes de arquitetura. Em
seguida houve uma apresentação formal do que era o EMCASA e qual os
seus trabalhos para o Departamento do curso, o que rendeu o apoio dos
professores. Foi também através desta apresentação que o Escritório
Modelo conseguiu captar seus primeiros projetos e professores
orientadores.

ALTO DA BOA VISTA

O primeiro projeto do EMCASA junto à comunidade foi em


Guaxuma, um bairro de Maceió em um assentamento conhecido como
Alto da Boa Vista. Trata-se de uma área alta, próxima à praia, detentora de
uma magnífica vista para o mar, e que atualmente vem sendo vítima da
especulação imobiliária.
O lugar se encontra no início de um processo de usucapião
urbana para fins de moradia coletiva, e dentro deste processo, o
EMCASA foi solicitado através da professora Regina Dulce, que tinha
contato com a associação de moradores, para realizar um levantamento
sócio-econômico e territorial da área, necessário para se ter
conhecimento da quantidade de famílias que habitavam o local e para a
divisão dos lotes.
O primeiro passo foi fazer contato com a população, e conhecer
melhor a situação da área. Aos poucos se foi descobrindo as
particularidades da área, observou-se: que há ocupação em encostas, e
em muitas vezes os caminhos se fazem em descidas íngremes e
estreitas; que o campo de futebol é um marco espacial para os
habitantes; que a nomeação das ruas se deu a partir do posteamento da
região pela companhia de energia do Estado; que existem vales naturais
que fazem a drenagem das águas pluviais; e conhecemos até o grupo
musical que é formado por alguns jovens do assentamento.
Numa segunda ida ao local o grupo foi dividido em equipes, que
com a ajuda de alguns moradores fizeram o levantamento programado.
Infelizmente, tratava-se de uma batalha jurídica contra uma grande
construtora de Alagoas que havia adquirido uma parte das terras, onde
está localizada a invasão, num leilão promovido pelo Estado. Até hoje
estamos esperando resultados das etapas seguintes do processo, que
diz respeito ao levantamento topográfico realizado por técnicos da

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

prefeitura e à questão jurídica (pedida na defensoria pública), para que o


trabalho seja levado adiante. Felizmente contamos com o apoio do curso
de Direito da UFAL, que procura estudar o caso e faz o possível para
ajudar.

MIOSÓTIS

O projeto Miosótis consistia na elaboração de um espaço que


funcionasse como biblioteca, e na requalificação de uma sala de multiuso
numa escola de primeiro grau situada no bairro do Henrique Hequelma,
em Maceió.
Tal escola é sustentada e comandada por uma ONG, que contactou
o EMCASA através da coordenação do curso. Foram feitas várias visitas à
escola, onde se procurou fazer o levantamento espacial e de
necessidades para a execução do projeto arquitetônico, que devia estar
em harmonia com as edificações já existentes e com a vegetação do
local, que é uma característica marcante da escola, cheia de fruteiras e
flores que dão um aspecto de sítio.
Como o trabalho se fazia urgente, devido a sua precisão para
viabilização de um projeto de captação de recursos financeiros e
reconhecimento da escola junto ao MEC, a interação com as crianças
ficou deficiente, pois a intervenção do EMCASA aconteceu no período de
férias.

FAVELA DO LIXÃO

O EMCASA também teve uma pequena participação no cadastro


sócio-econômico das famílias que habitam as Vilas Emater I e II,
conhecidas como favela do lixão, realizado em parceria com a Caixa
Econômica Federal.
Os moradores do lugar conseguiram a autorização de
financiamento para a construção de suas casas, urbanização e
regularização da situação fundiária por parte do Ministério das Cidades.
O trabalho era muito parecido com o do Alto da Boa Vista, e com o
cadastramento pode-se constatar a realidade de uma parcela da
população muito excluída, que possui a carência de tudo, principalmente
higiene, observado pelo fato de que estavam morando em meio ao lixo do
Lixão de Maceió e todas as pessoas sofrem com problemas de doença
de pele, desde idosos até recém nascidos.

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
Como no caso do Alto da Boa Vista o processo jurídico encontra-se
em andamento, e neste caso, com problemas na liberação do espaço,
pois o terreno destinado para a ocupação destas pessoas está
penhorado em mais de quinze diferentes processos contra o Estado de
Alagoas.

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

EMAU - PUC-MINAS
Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo - PUC-Minas
Pontifícia Universidade Católicas de Minas Gerais

Quem dera eu achasse um jeito


de fazer tudo perfeito,
feito a coisa fosse o projeto
e tudo já nascesse satisfeito.

Quem dera eu visse o outro lado,


o lado de lá, lado meio,
onde o triângulo é quadrado
e o torto parece direito.

Quem dera um ângulo reto.


Já começo a ficar cheio
de não saber quando eu falto,
de ser, mim, indireto sujeito. Sede do EMAU PUC- Minas,foto2004.

LEMISKI, Paulo.Sujeito Indireto

Em 2001, estudantes da PUC-Minas do curso da Arquitetura e


Urbanismo, presentes no XXV ENEA (Encontro Nacional dos Estudantes
de Arquitetura e Urbanismo), tomaram conhecimento do projeto de
Escritórios Modelos de Arquitetura e Urbanismo, fomentado pela FENEA,
já havendo, naquele momento, alguns Escritórios Modelos em
funcionamento. No segundo semestre do mesmo ano começou, então, o
trabalho de implantação do EMAU na Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais.
Instalado no espaço onde funcionava a antiga sede do Diretório
Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo (D.A.A.U.), que a princípio havia
sido pleiteado a prefeitura do campus, o escritório teve seu início
marcado pela busca de entendimento dos princípios formadores de um
Escritório Modelo, bem como pelo estabelecimento de um conceito
próprio, caracterizado pela formulação do Regimento Interno e do
Estatuto (em anexo). Decorrente de a proposta caracterizar o EMAU
como Extensão Universitária tornou-se necessário o reconhecimento do
escritório perante a Universidade, ressaltando que o D.A.A.U. e o
Departamento do curso o fizeram de imediato. Um projeto para
apresentação do Escritório Modelo foi elaborado para a apresentação a
Pró Reitoria de Graduação, com o intuito de se obter apoio institucional

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
desta universidade. Dessa apresentação e recorrente reconhecimento,
resultou a demanda pelo primeiro projeto, uma creche, em Nova
Contagem, município de Contagem, em Minas Gerais.
Com uma infra-estrutura ainda precária e com dificuldades
financeiras, seus trabalhos eram desenvolvidos por seus membros em
suas residências, nas proximidades da Universidade. Somente as
reuniões ocorriam na sede do Escritório, a fim de gerar movimento e de
assegurar a permanência do espaço físico. Com uma pequena área,
aproximadamente 12 m², o escritório está bem situado dentro da
Universidade, em uma localidade agradável e de boa visibilidade para
alunos do curso e freqüentadores do campus, o que tem mostrado suma
importância para coletivizar o conhecimento e os trabalhos nele
desenvolvidos.
Seu mobiliário foi doado, em parte pelo D.C.E. (Diretório Central dos
Estudantes) e pelo D.A.A.U, e adaptado ao escritório pelos membros em
suas reformas, em regime de mutirão. Em julho de 2003 o EMAU
conseguiu através de uma solicitação à Pró-Reitoria de Infra-estrutura um
novo mobiliário, que foi projetado por seus membros e será desenvolvido
na marcenaria e serralheria da própria Universidade.
Hoje, devido à falta de computadores, desenvolvemos nossos projetos
no laboratório de informática do curso de Arquitetura e Urbanismo ou na
sede do D.A., debilitando nossas atividades no espaço do escritório, mas
sem inviabilizá-las.
O escritório conta, desde 2003, com um auxilio financeiro do
Diretório Acadêmico, que mensalmente faz um repasse, sendo este
fundamental a manutenção de suas atividades. Este repasse possibilita
adquirir os materiais necessários no dia-a-dia do escritório, como papéis,
esquadros, lápis, materiais de limpeza, dentre outros. Contamos também
com um ramal telefônico disponibilizado pelo departamento do Curso.
À medida que a demanda de projetos foi surgindo, o escritório foi
avaliando as necessidades e viabilidades de atuação no que se refere às
relações internas e forma de trabalho, deste modo foi elaborado o
Regimento Interno. Sendo assim, a cada projeto ficou determinado um
número médio de 4 (quatro) membros, variando de acordo com a
demanda do projeto, sendo um deles Coordenador de Projeto. A
apresentação do andamento acontece nas Assembléias Gerais
Ordinárias que ocorrem toda segunda-feira na sede do escritório, aberta
a todos os alunos do curso. Por muitas vezes as discussões não são
findadas nessas assembléias, gerando a necessidade de um

75
- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

prolongamento, onde é suprido, com a organização de um seminário de


exposição dos trabalhos, também aberto a toda a comunidade PUC -
Minas.
Para convidar os interessados é feita uma divulgação nas salas de
aula através de panfletos que contam um pouco sobre nosso trabalho e
objetivo. A inserção de novos membros acontece em função do interesse
e disposição do novo integrante. Enquanto não surgem novas demandas
no escritório, o candidato pode e deve freqüentar normalmente as
Assembléias Ordinárias para melhor compreensão do conceito e do
funcionamento do EMAU e participar da gestão do escritório. Ao ser
selecionado para participar do desenvolvimento de algum projeto, o
candidato não é automaticamente aprovado como membro, isso ocorre
somente após um período experimental, onde seu desempenho e
interesse são avaliados, podendo-se identificar, desta forma, as pessoas
realmente compromissadas com as atividades do EMAU. Os
interessados em integrar-se ao corpo do escritório modelo recebem um
material informativo juntamente com um formulário, que deve ser
preenchido e entregue ao escritório.
Quanto à administração: Foram delegados cargos de diretorias no
intuito de divisão e atribuição de tarefas; são realizadas Assembléias
Ordinárias, toda semana, e Assembléias Extraordinárias, ao menos uma
vez por mês, para definir assuntos burocráticos; Atas são redigidas em
todas as reuniões, sejam elas ordinárias ou extraordinárias, e registradas
em cartório quando assuntos de caráter administrativo ocorrem; O
Estatuto, contendo o Regimento interno, foi registrado em cartório e
foram providenciados o CNPJ e a isenção de INSS, o que nos trouxe
maior liberdade e segurança de atuação.
O trabalho desenvolvido pelo EMAU PUC-Minas, caracterizado
como extensão universitária, é impulsionado pela prática de aprendizado
e crescimento através da troca de vivência e de saberes com as
comunidades a que estivermos nos relacionando, caracterizando a todos
como agentes produtores e perpetuadores de conhecimento. O
propósito deste escritório é restituir à profissão o seu sentido social,
público e ético na busca por sociedades mais harmoniosas e cidades
mais humanas.
Visando a concretização de nosso intuito, projetos foram iniciados e
em pequenos resumos, os descrevemos abaixo, uns se encontram em
andamento, outros foram findos por diversificados fatores,

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
Creche Ipê Amarelo

Imagens do projeto realizadas em 2002

A Pró-Reitoria de Extensão da PUC-Minas iniciou em 1996 um


Projeto de Desenvolvimento Comunitário na região de Nova Contagem,
município de Contagem, denominado Projeto Cireneu / Estação Nova
Contagem. Esse projeto desenvolve atividades de extensão em diversos
setores dessa região, como por exemplo: educação, saúde e infância,
sempre com o objetivo de apoiar e incentivar a organização comunitária
do local. Esse trabalho tem caráter inter e multidisciplinar e conta com a
participação de alunos e professores de diversos Departamentos da
universidade, incluindo o de Arquitetura e Urbanismo.
Conhecendo a proposta de trabalho do EMAU PUC-Minas, o
professor Cláudio Listher Marques Bahia, Chefe do Departamento de
Arquitetura e Urbanismo, durante o segundo semestre de 2001, convidou
o escritório para desenvolver dentro do Projeto Cireneu / Estação Nova
Contagem seu primeiro projeto arquitetônico, uma creche para a
comunidade do bairro Ipê Amarelo, na Região de Nova Contagem.
Os alunos que participaram do desenvolvimento do Projeto da
Creche Ipê Amarelo aprenderam a trabalhar em equipe e venceram o
desafio de projetar uma creche com qualidade arquitetônica, em um
pequeno terreno e com severas limitações financeiras, realidade quase
ausente nas salas de aula dos cursos de Arquitetura e Urbanismo do país
inteiro.
Apesar de simples e compacta, a creche exprimi parte do universo
lúdico em que devem envolver-se as crianças, através de suas cores
vivas, seu espaço para brincadeiras e seus equipamentos. Além disso,
respeita as características do bairro Ipê Amarelo e, provavelmente, será
por muito tempo no local o melhor exemplo de uma boa edificação,
respeitosa com seu público e com seu entorno.
No final de 2003, a comunidade procurou novamente o EMAU PUC
MINAS para desenvolver o projeto executivo, que se encontra hoje em
andamento.

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

Colégio São Francisco

Em abril de 2002 o EMAU PUC-Minas foi contactado pelo então


Diretor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Cláudio Listher
Marques Bahia, representando a Pró-Reitoria de Extensão da
Universidade, afim de acordar um projeto entre o EMAU e a Universidade,
visando a execução de um levantamento arquitetônico do Colégio São
Francisco, em Conceição do Mato Dentro, Minas Gerais.
Esse levantamento seria o início de um projeto de recuperação da
escola-rural, desativada em 1987. A escola era de importância
significativa para a cidade e para a região, formando mão-de-obra
qualificada para atuação na região, predominantemente rural.
Identificada a demanda e discutida a atuação do EMAU no
levantamento, foi comunicado ao Diretor Cláudio Bahia a aceitação do
projeto pelo EMAU. Ficou então acordada a participação do EMAU
apenas no levantamento do Colégio São Francisco, não havendo
participação no projeto arquitetônico de adaptação para reativação do
mesmo. O trabalho do EMAU foi concluído na entrega do levantamento
digitalizado à PUC-Minas.

Predinhos de Santa Tereza

Fotos em 2003, por Rodrigo Bueno Belo

Em março de 2002, o então Pró-Reitor de Extensão, Bonifácio


Teixeira, procurou o EMAU PUC-MINAS para a realização de um projeto
de adaptação e adequação de dois edifícios abandonados no bairro de
Santa Tereza, na rua Clorita, números 64 e 100, em Belo Horizonte,
apelidados pelos moradores de Predinhos de Santa Tereza.
Os edifícios tiveram suas obras paralisadas em 1995, quando a JET

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
Construtora, responsável pelo empreendimento, pediu falência e
abandonou as obras dos edifícios. Com os prédios vazios e seus
esqueletos de concreto estagnados, em 1997 moradores de rua
apropriaram-se dos edifícios, onde instalaram-se com suas famílias e
executaram pequenas obras afim de possibilitar sua habitação. Sem
nenhuma infra-estrutura, os moradores ocuparam precariamente os
dezessete andares de ambos os edifícios.
A atuação do EMAU, sob a orientação da professora e arquiteta
Margarete Araújo, ficou acordada como elaboração de infra-estrutura e
adaptação das instalações existentes. Iniciaram-se rapidamente os
trabalhos de levantamento e diagnóstico dos problemas existentes no
local. Os membros envolvidos ficaram, a princípio, responsáveis pela
elaboração de um diagnóstico, que seria apresentado à comunidade e
entregue aos moradores membros da comissão para guarda do mesmo.
Já em 2003, a orientadora sugeriu e argumentou junto aos membros do
EMAU, envolvidos ou não no projeto, uma parceria entre o Escritório
Modelo e o Escritório de Integração, por ela coordenado. Após algumas
semanas de discussão e reflexão, optou-se pela parceria, com a
concordância da maioria dos membros do EMAU. A partir desse
momento surgiram novas possibilidades de viabilização do projeto. Ao
final de 2003, o Governo da Minas Gerais disponibiliza recursos
financeiros e reforça apoio legislativo ao trabalho desenvolvido junto aos
moradores dos Predinhos de Santa Tereza. Com isso, então, forma-se
uma equipe maior, onde são agregados arquitetos recém formados e
mais orientadores.
Os Predinhos de Santa Tereza são foco da atenção dos meios de
comunicação da cidade. O EMAU acabou sendo citado em algumas
dessas matérias, o que o evidenciou dentro da Universidade e o fez, por
fim, ganhar notoriedade em jornais e em programas da TV PUC.
É um projeto com programa extenso, que, por tanto, terá várias gerações
de estudantes envolvidos

Plano Diretor do Instituto Raul Soares (I.R.S.)

Durante o mês de setembro do ano de 2002, o Professor Fernando


Lara e a Gerente do IRS, Instituto Raul Soares, Daniela Dinardi
apresentaram ao EMAU uma proposta de elaboração de um Plano
Diretor para o Instituto. O I.R.S. é um hospital psiquiátrico, que possui

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

tombamento municipal de fachadas, volume e conjunto paisagístico,


inserido no tombamento do Conjunto da Praça Floriano Peixoto e
adjacências. Localiza-se no bairro Santa Efigênia, área hospitalar de Belo
Horizonte.
A necessidade de um Plano Diretor para o I.R.S. justifica-se pelo
fato de algumas alterações serem imprescindíveis para adequar o
edifício às novas tendências no tratamento psiquiátrico que vêm se
desenhando nas últimas décadas. Tal adequação precisa ser feita sem
agredir o conjunto paisagístico e o edifício tombado, nem a sua relação
entre os imóveis do entorno imediato. Além disso, outro aspecto muito
relevante é o fato de se tratar de um terreno amplo e bem localizado que
esta sendo mal utilizado, despertando assim a atenção da especulação
imobiliária. Sabe-se que a especulação imobiliária, para atender a
interesses privados, pode gerar usos e ocupações inadequados a tal
área, inibindo potencialidades que ela tem para uso do hospital e para o
uso público da cidade. Um Plano Diretor para o Instituto Raul Soares
orientará essas mudanças previstas, bem como resguardará tal área de
um eventual uso impróprio. Além disso, auxiliará na recuperação física do
edifício e resgate de sua história, que é de significativa importância para a
memória da cidade de Belo Horizonte.
Desde outubro de 2003 o EMAU vinha tentando viabilizar o projeto
do Plano Diretor do I.R.S., sob a orientação do professor Fernando Lara.
Mas com a eleição do novo Governador do Estado, alguns diretores e
funcionários do Instituto foram substituídos, o que acarretou na quase
total paralisação das atividades. Esse fator, associado às dificuldade de
se conseguir recursos para a elaboração do projeto, juntamente com as
reflexões levantadas sobre a ética do trabalho dentro do escritório,
fizeram com que o trabalho fosse encerrado.

Vilas do entorno do Parque do Caraça

www.desvendar.com/parquesereservas/santuariodocaraca
Fotos de 22/03/2003,por Rodrigo Bueno Belo

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
Em 2002 a PUC-Minas e a RPPN do Caraça - Reserva Particular de
Patrimônio Natural do Caraça (um antigo colégio, fundado ainda no
século XVIII, importante mais tarde na formação de diversos políticos da
República brasileira e que mereceu, dentre outras, a visita do imperador
do Brasil Dom Pedro II, já no século XIX) - firmaram um extenso convênio
de atendimento ao Parque e às vilas de seu entorno, envolvendo diversos
cursos como Arquitetura, Biologia, Geografia, Serviço Social,
Enfermagem e Sociologia, no intuito de dinamizar e preservar a área e as
construções históricas de sua responsabilidade, além de oferecer
suporte às pequenas vilas que circundam o Parque, buscando formas de
beneficiar as comunidades que lá se desenvolveram.
A participação do EMAU neste projeto acontece através da
investigação das necessidades de intervenção ou reeducação da cultura
construtiva local, oferecendo apoio técnico e suporte às futuras
intervenções arquitetônicas executadas pelos moradores em suas
construções, caracterizando o projeto, em primeira instância, como uma
atividade de pesquisa.
Hoje, o EMAU, em parceria com o Departamento de Arquitetura e
Urbanismo, sob a orientação do professor Cláudio L. M. Bahia, está
investigando e fazendo o reconhecimento do sítio urbano e da
comunidade residente em Santana do Morro, vila escolhida inicialmente
para tal investigação, buscando maior aproximação e maior
conhecimento de sua população e de suas demandas, objetivando
aprimoramento de propostas, afim de torna-las familiarizadas com a
comunidade Santanense.

Sede da Associação Campo dos Sonhos

No final de 2002 o EMAU foi procurado por uma estudante de


Biologia da PUC-Minas, representando a Associação Campo dos
Sonhos, responsável por fornecer refeições e apoio aos moradores de
rua de Belo Horizonte, com o pedido de execução do projeto
arquitetônico de sua sede. Com um terreno doado em Betim, região
metropolitana, de aproximadamente 360m², o escritório foi incubido de
conceber um edifício com sala para administração, auditório, banheiros
equipados com chuveiros e cozinha industrial para atender às
necessidades da Associação.
Iniciados os estudos de ocupação do lote e das leis de uso e

81
- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

ocupação do solo locais, o EMAU defrontou-se com um problema de


ordem legal, o loteamento doado à Associação estava irregular, além de
localizar-se no perímetro de uma APA - área de proteção ambiental. Em
assembléia, colcuiu-se que um projeto arquitetônico, na atual situação,
acarretaria possivelmente mais danos que benefícios a área. O escritório
busca agora formas de auxiliar a Associação na resolução do problema,
para enfim regularizar a situação legal do terreno e efetivar o projeto
arquitetônico da sede, dando prosseguimento aos estudos do projeto
sob a orientação do arquiteto José Euzébio Teixeira.

Pintando o 7

O Pintando o 7 é um projeto de mobilização social do EMAU PUC-


Minas, que envolve o corpo discente e docente do curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade, com objetivo principal de mostrar aos
alunos do 1º período uma faceta da profissão do Arquiteto e Urbanista,
que muitas vezes não está dentro de suas expectativas iniciais e/ou é
desconhecida por alguns. Além disso, colocar em contato esses alunos
com as atividades que ocorrem no EMAU, trabalho que provavelmente
terá continuidade com a participação de muitos deles.
Ocorreria, assim, através de uma parceria entre o Escritório Modelo
e a disciplina de Desenho e Expressão, deslocando o trabalho final,
pintura em painéis, para fora do campus, onde estão sendo
desenvolvidos trabalhos do escritório com comunidades já organizadas,
como ocorre, por exemplo, nos Predinhos de Sta. Tereza.
O projeto consiste em pintar casas, muros ou outra peça urbana
como trabalho final da disciplina de Desenho e Expressão. Essa
intervenção seria previamente acordada entre os moradores e os alunos,
provavelmente por intermédio da liderança comunitária, evitando ou
diminuindo o risco de uma intervenção indesejada ou indevida no local,
podendo ser também trabalhada isoladamente ou como parte de um
painel, composto pelas áreas ou peças urbanas beneficiadas.
Quanto à viabilização financeira da atividade, pode-se buscar junto
à Extensão ou até mesmo ao setor privado o material necessário à sua
execução, cabendo ao EMAU PUC-Minas a escolha do local e a
interlocução entre a liderança comunitária e a Universidade.

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
Mutirão dos Conjuntos Habitacionais
Jaqueline e Leblon

O projeto de atendimento ao mutirão dos conjuntos habitacionais


Jaqueline e Leblon, em parceria com a ASP - Assessoria Social e
Pesquisa - é um trabalho de orientação e treinamento para formação de
mão-de-obra, capacitada a ler e entender projetos de arquitetura e
urbanismo no canteiro de obras,que, permitindo ao operário da
construção civil e aos futuros moradores dos conjuntos, busca uma
melhor compreensão e participação no processo de construção das
moradias. Neste projeto, o EMAU PUC-Minas, dada a insuficiência
curricular em abordar o processo construtivo in loco, conseguiu com um
dos mestres-de-obras encarregados das obras do campus Coração
Eucarístico, em Belo Horizonte, organizar um treinamento em obras de
construção civil dividido em dois módulos teórico e prático afim de
capacitar e auxiliar os membros do escritório no treinamento dos
moradores dos conjuntos em construção.
Porém, no ano de 2004 não foi possível a Prefeitura de Belo
Horizonte disponibilizar recursos para continuar as edificações o que
acarretou a paralisação do mutirão e de nossos trabalhos.

Av. Dom José Gaspar, 500 prédio s/n estacionamento do IPUC - Coração Eucarístico
Belo Horizonte - Minas Gerais - CEP: 30535-610
CNPJ: 05.580.853/0001-63
Contatos: emaupucminas@yahoo.com.br

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

9º SeNEMAU - Seminário sobre Escritórios Modelo de


Arquitetura e Urbanismo

O nosso projeto mais recente foi a realização do SeNEMAU


Vitória. Um processo que começou durante o 8º SeNEMAU em Recife e
que veio se consolidar no CONEA Brasília, em que, enfim, aceitamos
sediar a 9ª edição deste que consideramos um dos mais importantes
projetos da FeNEA Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura e
Urbanismo.

A TODOS AQUELES QUE TÊM NO CORAÇÃO UM IDEAL

E pensar que um mundo inteiro cabe numa caixa.


Um mundo de sonho, um mundo de esperança, um mundo de sorrisos.
Uma caixa que de mão em mão, de coração em coração,
constrói a História, edifica a vida de tanta gente.
Sua tampa se abre e nunca se fecha.
Em seu interior, os projetos do Seu João e da Dona Maria,
os desenhos da comunidade, o idealismo suado da galera,
o olhar desses jovens arquitetos, a paixão desse povo bonito,
dessa força jovem que emociona, que grita bem alto
que a juventude não deixou de sonhar, não deixou de provocar,
não perdeu a vontade de lutar;
e que, olhando pela janela,
viu com os olhos da beleza e da técnica um mundo melhor para o seu próximo,
um mundo digno para o seu povo.
Segurem bem forte essa caixa!
Não a deixem titubear! Essa idéia é modelo de um escritório social,
de um ofício ideal, que pensa coletivo, que acredita que é possível
tornar, em verdade, o desejo em realidade.

Anderson Buss Woelffel


estudante da UFES
(texto redigido logo após assistir
a apresentação do EMAU para a comunidade acadêmica)
22 de maio de 2003...O EMAU é móvel, pode estar
em qualquer lugar...

“... atuar com o EMAU se apresenta como um


excelente exercício de ética profissional e, acima de
tudo, de cidadania, correspondendo às exigências
de uma formação universitária plena e responsável.”
Milton Esteves Junior
(professor orientador do CÉLULA)

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
Histórico dos EMAUs na FeNEA

O conceito de estudantes se organizarem dentro de seus Cursos


para desempenharem uma função similar à do cotidiano dos
profissionais atuantes em suas áreas, com o objetivo de enriquecerem
sua formação acadêmica, é empregado nas melhores universidades do
mundo desde o século XIX.
No Brasil, e mais especificamente na arquitetura, esta preocupação
existe praticamente desde a regulamentação da profissão, no início da
década de trinta.
Com a abertura política no início da década de oitenta, recomeçam
as discussões sobre Escritório Modelo e outros tipos de estágios
oferecidos aos estudantes.
Os encontros regionais e nacionais de estudantes de arquitetura,
EREAs e ENEAs, até então proibidos pelo regime militar, voltam a
acontecer, e dentro deles as discussões sobre estágio e extensão
universitária ganham força.
É então, no início dos anos noventa que se tem conhecimento das
primeiras atividades de EMAUs , tais como as conhecemos hoje. Com
este formato de Extensão de iniciativa e gestão estudantil,
multidisciplinariedade, projetos participativos e demais princípios e
características apresentadas no POEMA.
Estas experiências levaram os estudantes presentes na plenária
final do XVIII ENEA Brasília 1994, a deliberarem pela construção do
POEMA Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e
Urbanismo.
Com o POEMA pronto, cresce mais ainda a vontade de se discutir e
trabalhar o assunto Escritório Modelo, que então não é mais
contemplado apenas nos Conselhos e Encontros da FeNEA.
É deliberado então, no XX ENEA Fortaleza 1996, a realização de um
SeNEMAU Seminário Nacional sobre Escritórios Modelo de Arquitetura e
Urbanismo, que ocorre na cidade de Maceió, no ano de 1997.
Com a participação de vários representantes de Escolas do Brasil,
o SeNEMAU em Maceió recorre a arquitetos e estudantes para se discutir
teoricamente o que devia ser um EMAU, como poderia funcionar
internamente e o que devia buscar como princípios.
Decidese realizar mais SeNEMAUs como forma de levar as
faculdades as informações que subsidiem a formação de EMAUs.
De Maceió em diante, os SeNEMAUs aconteceram ano após ano,

85
- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

realizandose em seguida nas cidades de Recife PE, em 1998; Palmas


TO, em 1999; São Paulo SP, em 2000; Campo Grande MS, em 2001;
Porto Alegre RS, em 2002; Florianópolis SC, em 2003; e novamente em
Recife PE, em 2004.
Em Recife realizase o primeiro SeNEMAU com apresentação de
projetos realizados por Escritórios Modelo. Recife promove o encontro
com comunidades de baixa renda: favelas, palafitas e cidades históricas
do interior de Pernambuco, mesmo sem possuir Escritório Modelo, o que
se analisa posteriormente como danoso às comunidades visitadas, pois
criaram expectativas que não puderam ser atendidas.
Este segundo SeNEMAU foi o primeiro com a apresentação de
Escritórios funcionando, o EMAU da UFPE e o EMAU da UFAL.
O SeNEMAU Palmas partiu de uma decisão política interna da
FeNEA. Foi um evento realizado para mobilizar os estudantes do
Tocantins, pois era um novo Curso que não tinha a mobilização
necessária para realizar um evento maior, EREA ou ENEA, mas que, para
os participantes da época, o SeNEMAU seria o evento ideal para
articulação local. Isso também acarretou que este SeNEMAU obteve
pouca participação, compareceram apenas estudantes locais e diretores
da FeNEA.
O III SeNEMAU realizou um ateliê em uma comunidade que
obteve grande êxito. Tratavase de uma comunidade que seria relocada
por conta da instalação da hidrelétrica de Luis Eduardo Magalhães.
O IV SeNEMAU São Paulo, realizado no ano de 2000, foi o
primeiro SeNEMAU realizado por um Escritório Modelo já consolidado.
Motivo principal que proporcionou um evento de grande sucesso, com
seus objetivos alcançados. A Comissão Organizadora era composta
pelo LabHabgfau, da FAUUSP, o que permitiu que os ateliês do
SeNEMAU fossem realizados nas comunidades onde o EMAU já
trabalhava.
Percebeuse então que o trabalho anterior e posterior, nas
comunidades onde são realizados os ateliês do SeNEMAU, são
fundamentais para o sucesso dos trabalhos, tanto para os participantes,
quanto para o EMAU e para a comunidade.
É no SeNEMAU São Paulo que é desenvolvida a Carta de
Princípios dos Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo. Ela é
criada devido à necessidade de se possuir um documento que explicite e
caracterize a atividade de um Escritório Modelo, pois o POEMA era muito
abrangente.

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
Já no V SeNEMAU Campo Grande, realizado em 2001, o sucesso do
SeNEMAU anterior não se repetiu. A Comissão Organizadora não tinha
experiência em extensão comunitária, tão pouco em Escritório Modelo.
Isto fez com que o único ateliê fosse insuficiente para a maioria
dos participantes, falha decorrente da ausência de um trabalho e um
contato mais profundo entre a Comissão Organizadora e a comunidade,
neste caso uma comunidade de trabalhadores rurais semterras.
Porém no SeNEMAU Campo Grande não só o ateliê não teve
êxito. O Momento de trocas de experiências entre os EMAUs e as
discussões da Carta de Princípios e do POEMA foram extremamente
prejudicadas pela instabilidade interna da FeNEA, que passava por um
momento de reestruturação.
O SeNEMAU Campo Grande terminou com uma vontade coletiva
de melhorar seu formato, potencializar os ateliês e principalmente
permitir que haja a troca de experiências que for necessária entre os
EMAUs.
A Carta de Princípios sofreu sua primeira revisão neste SeNEMAU, porém
as alterações se restringiram em melhorias de texto, reduções de
palavras e expressões de duplo sentido, não havendo alterações em sua
estrutura.
O VI SeNEMAU foi realizado na cidade de Porto Alegre RS, em
Janeiro de 2002, na semana anterior do Fórum Social Mundial (FSM). Foi
organizado pelo inLoco (em processo de formação) e pelo COLMEA
Conselho Livre Metropolitano de Estudantes de Arquitetura, entidade que
teve seu início no ENEA Porto Alegre 1997 e obteve sua consolidação
com o VI SeNEMAU.
A apresentação da proposta deste seminário realizouse no V
CoNEA da gestão 00/01 em Taubaté (SP). Foi discutido e deliberado um
projeto geral que incluía proposta de data, cronograma, local, apoios e
patrocínios, tema e metodologia, assim como um breve resumo sobre as
prováveis comunidades para ateliê.
O COLMEA estava também diretamente responsável pela
organização do II Acampamento Intercontinental da Juventude, do FSM
2002, evento para 15 mil jovens. As duas atividades acabaram por dividir
os esforços da organização, refletindo no resultado do VI SeNEMAU.
Por outro lado a presença de quatro diretores da FeNEA na
Comissão Organizadora facilitou o contato com outras entidades e
profissionais pelo Brasil. Mesmo coordenado por diretores, houve
dificuldade de comunicação entre a Comissão Local e a FeNEA.

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

Neste SeNEMAU aconteceram quatro ateliês: em uma tribo


indígena da região metropolitana de Porto Alegre; na Vila Nossa Senhora
do Brasil, comunidade urbana do Complexo Cruzeiro onde era
desenvolvido o trabalho do EMAU da Ritter dos Reis, o In Loco; em uma
comunidade semterra onde era desenvolvido um trabalho do grupo de
extensão dos estudantes da UFRGS; e um estudo de pósocupação de
um conjunto habitacional da prefeitura de Porto Alegre.
Teve como palestrante a Arq. Ermínia Maricato, professora da
FAUUSP, que relatou a experiência da criação dos Laboratórios de
Habitação destacando a relação com escritórios profissionais de
assistência técnica e com o Sindicato de Arquitetos.
Aconteceu também um grupo de trabalho paralelo aos ateliês,
com representativa participação de diversas diretorias da FeNEA,
Comissão Organizadora, estudantes e Escritórios Modelo. Este grupo
iniciou o processo de reformulação da Carta de Princípios o texto da
Carta seria condensado à forma de tópicos bastante sucintos e objetivos
e do POEMA, processo que culminou neste documento.
Fórum de Legitimidade momento final do seminário, com o
objetivo de discutir junto às entidades profissionais e representantes do
poder público sobre o reconhecimento e regulamentação da atividade
dos EMAUs. Foram convidados: Conselho Federal de Engenharia
Arquitetura e Agronomia (CONFEA), Instituto dos Arquitetos do Brasil
(IAB), Federação Nacional de Arquitetura (FNA), Governo do Estado do
RS, através da Secretaria da Habitação e um deputado federal. Destas,
apenas o CONFEA não respondeu a convite feito em mãos à assessoria
da Presidência.
Durante o XXVI ENEA Curitiba 2002 os Escritórios presentes se
reuniram e traçaram as primeiras diretrizes para a reformulação do
POEMA, para o início de um longo processo onde muitas pessoas e
EMAUs participaram, direta e indiretamente.
Em Curitiba se decidiu que o POEMA teria que entusiasmar o
estudante. Teria que expressar as características principais também em
sua programação visual, o contato direto com as comunidades.
Seria o documento que conteria todos os assuntos pertinentes
aos EMAUs, que tratasse de Extensão Universitária e que realmente
orientasse os estudantes nos diversos princípios que os EMAUs seguem.
Depois de Curitiba, os EMAUs voltaram a se encontrar no CONEA
de transição, realizado em Vitória. Foi então elaborado a nova estrutura
que o POEMA se apoiaria para se desenvolver.

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POEMA - Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo
Para que o POEMA contemplasse toda a Carta de Princípios, os
princípios foram distribuídos em três temas centrais, que são os três
primeiros tópicos do POEMA a Extensão Universitária, as Comunidades
e os EMAUs.
Após estes tópicos principais, que seriam uma espécie de ensaio
teórico sobre os princípios, apresentarseia então a Carta de Princípios,
seguida do E agora José e das experiências reais dos EMAUs com seus
históricos.
O VII SeNEMAU foi organizado pelo Ateliê Modelo de Arquitetura,
na cidade de FlorianópolisSC. Vários EMAUs já formados participaram,
tornando as discussões mais palpáveis, já que estavam girando em torno
de grupos em organização.
As discussões em torno de extensão, comunidades e EMAU
tomaram os dois primeiros dias do Seminário. Porém, a metodologia
inicial foi abandonada: pessoas que já tinham EMAU e pessoas que
querendo montar um EMAU estavam em grupos separados. Houve
necessidade de discussões entre os dois grupos, que, estando em
momentos diferentes, tornariam a troca de experiência mais rica. Assim,
cada EMAU existente fez uma apresentação de suas atividades.
Nos dias seguintes às discussões, aconteceram ateliês nas três
comunidades em que o AMA atuava. Ao final do Seminário, no fórum das
comunidades, foram avaliados, por estudantes e comunidades, os
resultados dos ateliês. Cada ateliê teve suas peculiaridades, mas o
objetivo de todos, a vivência prática da atuação de um EMAU, foi
alcançado sobre diferentes olhares.
Em Florianópolis, pela primeira vez, foi escolhida a sede do
próximo SeNEMAU, que viria a acontecer, em 2004, na cidade de Recife.
No ENEA Ouro Preto, em julho de 2003, o grupo de EMAUs havia
ganhado forças, e conversavase sobre a criação de uma Comissão
Nacional de Escritórios Modelo. Durante o ENEA, os EMAUs se
encontraram todos os dias, entre trocas de experiências e discussões em
torno do SeNEMAU Recife. Foi recebida uma Carta da junta de
arquitetura do sistema CONFEA/CREA, levantando questionamentos
quanto à atuação do EMAU. Dentre outros pontos, classificaram o
trabalho do EMAU enquanto exercício ilegal da profissão. Em carta
resposta elaborada pelos EMAUs durante o encontro, colocouse que a
carta do CONFEA foi elaborada com base em documentos antigos da
FeNEA sobre EMAUs e que o POEMA estava em processo de
reformulação. Também que o EMAU, enquanto atividade acadêmica, não

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- Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil

caracteriza invasão do mercado de trabalho.


Em seguida ao ENEA Ouro Preto, a nova Diretoria da FeNEA
assume, dessa vez com membros da DIEPE Diretoria de Ensino
Pesquisa e Extensão representantes de EMAUs. Durante a gestão,
deuse continuidade ao processo de reformulação do POEMA e de
difusão da idéia de Escritório Modelo. A Comissão Nacional de EMAUs
não chegou a funcionar, tendo ficado mesmo a cargo da DIEPE a
reformulação do POEMA.
No SeNEMAU Recife, organizado pelo EMA Escritório Modelo de
Arquitetura da UFPE, foi invertida a estrutura adotada no SeNEMAU
Florianópolis. Em vez de ocorrerem discussões e depois ateliês, a
proposta do EMA era que se invertesse para que os participantes
pudessem primeiro vivenciar o trabalho do EMA nas comunidades em
que atuava, trocando experiências com outros EMAUs presentes, e
depois fossem feitas as discussões em torno dos temas do POEMA.
Foi dedicado um dia inteiro para a apresentação do trabalho feito
pela DIEPE na reformulação do POEMA, que foi plotado em tamanho A1
e colado nas paredes para que todos pudessem ler e rabiscar. A
discussão girou em torno de questões essenciais, como o sentido da
palavra extensão, como se referir às comunidades em que o EMAU
atua... Essas discussões no SeNEMAU e em todos os momentos que se
seguiram formaram a base para a construção do POEMA.

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