Você está na página 1de 79

Livro Eletrônico

Aula 20

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto)

Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20

Sumário

1 – Nova Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº 13.869/19)................................................................................................................03

2 - Considerações iniciais da Lei 7.716/89........................................................................................................................................44

3 - Racismo envolvendo atos homofóbicos e transfóbicos................................................................................................................50

4 - Crimes da Lei 7.716/89.................................................................................................................................................................53

1277181
5 - Efeitos da condenação - Lei 7.716/89...........................................................................................................................................63

6 - Crime do art. 20 da Lei 7716/89...................................................................................................................................................65

7 – Lista de Questões sem comentários.............................................................................................................................................69

8 – Lista de Questões com comentários............................................................................................................................................70

9 –Resumo.........................................................................................................................................................................................75

10 - Gabarito...........,,.........................................................................................................................................................................77

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto)


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE (LEI 13.869/19)

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Em trâmite no Congresso Nacional desde o ano de 2017, a nova Lei de Abuso de Autoridade entrou
no ordenamento jurídico pátrio por meio da lei ordinária de nº 13.869, de 5 de setembro de 2019, revogando
expressamente a lei antecedente sobre o tema (Lei nº 4868/65), segundo preconiza o art. 44 da Lei nº
13.869/191.

Por oportuno, repare que a Lei nº 13.869/19 também revogou expressamente a majorante do delito de
==137cfd==

violação de domicílio contida no art. 150, §2º, do Código Penal (fato cometido por funcionário público, fora
dos casos legais, ou com inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso de poder), assim
como o tipo penal do art. 350 do Código Penal (exercício arbitrário ou abuso de poder). Além disso, a
supracitada lei trouxe relevantes acréscimos na Lei de Interceptação Telefônica, Estatuto da Ordem dos
Advogados do Brasil, Prisão Temporária e Estatuto da Criança e do Adolescente.

E quando essa nova lei entra em vigor?

De acordo com o art. 45 da Lei nº 13869/19, a novel legislação entra em vigor após decorridos 120
(cento e vinte) dias de sua publicação oficial. Vale dizer, o legislador estabeleceu uma vacatio legis de 120
dias.

É importante também trazer o contexto em que foi confeccionada essa polêmica lei de abuso de
autoridade. O Congresso Nacional criou 30 tipos penais. O Presidente da República, por sua vez, apresentou
19 vetos à novel legislação. Apenas 7 vetos foram mantidos pelo Congresso Nacional. Em resumo, ocorreu a
derrubada (rejeição) pelo Congresso Nacional de 9 (nove) crimes vetados pelo Presidente da República, tudo
em conformidade com o art. 66, §4º, da Constituição Federal 2 e, portanto, 23 crimes da nova legislação
entrarão em vigor em janeiro de 2020.

1
Art. 44 da Lei nº 13.869/19: Revogam-se a Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965 e o §2º do art. 150 e o art. 350, ambos
do Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.

2
Art. 66, §4º, da CF: O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo
ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores, em escrutínio secreto.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 1


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

A Lei 13.869/19 define os crimes de abuso de autoridade cometidos por agentes público, servidor ou
não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído
(art. 1º, caput, da Lei 13.869/19).

A grande finalidade desse diploma legal é criminalizar condutas cometidas por agentes estatais que
valem de seu cargo, função ou mandato eletivo, para constranger outrem, por variados motivos (pessoal,
egoístico, mero capricho, prejudicar terceiros ou para beneficiar a si ou terceiro), com a prática de atos em
descompasso com as regras legais.

Nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13.869/19 3, todos os tipos penais descritos na Lei de Abuso de
Autoridade exigem a presença de especial fim de agir, ou seja, a conduta do agente deve visar a satisfação
pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si ou outrem. Com isso, é forçoso concluir
que os crimes dessa Lei têm elemento subjetivo específico consubstanciado na motivação do agente. Ausente
o dolo específico, o fato é atípico e nem inquérito policial deve ser instaurado.

A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não


configura abuso de autoridade (art. 1º, §2º, da Lei 13.869/19). Dessa forma, é correto dizer
que interpretação diversa de determinada regra legal ou de valoração de fatos e de provas não
podem ser consideradas como práticas de abuso de autoridade. Afinal de contas, o exercício
regular de um direito não pode ser empregado para criminalizar um agente estatal no
desempenho de sua função prevista em lei. Exemplo: Não há que se falar em crime de abuso
de autoridade se o magistrado determinou a custódia cautelar de alguém com base em tese jurídica minoritária
na jurisprudência e na doutrina. Em outras palavras, o art. 1º, §2º, da Lei 13869/19 revela uma excludente
legal de tipicidade que dissipa qualquer criminalização da hermenêutica, ou seja, não há que se falar em “crime
de hermenêutica”. Por oportuno, é crucial destacar que esse assunto já foi enfrentado pelo Superior Tribunal
de Justiça, embora na vigência da Lei nº 4898/95, porém perfeitamente aplicável à novel legislação. Vejamos.

AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. ABUSO DE AUTORIDADE. ART.


4º, "A", DA LEI N.º 4.898/65. DESEMBARGADOR. DECISÃO
JUDICIAL. CONFRONTO COM DECISÃO DE RELATOR DO
STF. CONDUÇÃO COMPULSÓRIA PARA LAVRATURA DE
TERMO CIRCUNSTANCIADO. QUESTÕES ATINENTES À ATIVIDADE JUDICANTE.
ATRIBUTOS DA FUNÇÃO JURISDICIONAL.

1. Faz parte da atividade jurisdicional proferir decisões com o vício in judicando e in procedendo, razão por
que, para a configuração do delito de abuso de autoridade há necessidade da demonstração de um mínimo de

3
Art. 1º, §1º, da Lei nº 13.869/19: As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade quando praticadas
pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero
capricho ou satisfação pessoal.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 2


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

"má-fé" e de “maldade” por parte do julgador, que proferiu a decisão com a evidente intenção de causar dano
à pessoa.

2. Por essa razão, não se pode acolher denúncia oferecida contra a atuação do magistrado sem a configuração
mínima do dolo exigido pelo tipo do injusto, que, no caso presente, não restou demonstrado na própria
descrição da peça inicial de acusação para se caracterizar o abuso de autoridade.

3. Ademais, de todo o contexto, o que se conclui é que houve uma verdadeira guerra de autoridades no plano
jurídico, cada qual com suas armas e poderes, que, ao final, bem ou mal, conseguiram garantir a proteção das
instituições e dos seus representantes, não possibilitando a esta Corte a inferência da prática de conduta
penalmente relevante.

4. Denúncia rejeitada. (APn 858, Relatora: Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, julgado em
24/10/2018)

Tanto o §1º como o §2º do art. 1º, da Lei 13869/19 tiveram como principal objetivo delimitar
claramente o campo de incidência dos tipos penais de abuso de autoridade, de forma a assegurar proteção aos
agentes estatais, sobretudo magistrados, membros do Ministério Público e Delegados de Polícia, no
desempenho de suas respectivas atividades.

E qual é o bem jurídico tutelado na Lei 13869/19?

A Administração Pública, a moralidade administrativa e os direitos fundamentais descritos


expressamente nos tipos penais.

Questão: Quem pode figurar como sujeito ativo no crime de abuso de autoridade?

A resposta está descrita no art. 2º da Lei 13.869/19: É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade
qualquer agente público, servidor ou não, da Administração Direta, Indireta ou fundacional de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo, mas não
se limitando a: I – servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas; II – membros do Poder
Legislativo; III – membros do Poder Executivo; IV – membros do Poder Judiciário; membros do Ministério
Público; VI – membros dos Tribunais ou Conselho de Contas. Parágrafo único. Reputa-se agente público, para
os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,
emprego, ou função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput deste artigo.

OBS 1: Cuida-se de crime próprio, isto é, aquele em que o tipo penal exige uma qualidade especial do
agente, in casu, ser considerado agente público.

OBS 2: O rol elencado nos incisos do art. 2º da Lei 13.869 é numerus apertus (exemplificativo), ou
seja, não se restringe aos cargos ali mencionados.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 3


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

OBS 3: O art. 2º, parágrafo único, da Lei nº 13.689/19 é um exemplo típico de norma penal explicativa,
ou seja, é aquela que esclarece o conteúdo de outra regra penal.

Observem ainda que o conceito de agente público na Lei de Abuso de Autoridade é muito mais
amplo do que o conceito de funcionário público previsto no art. 327 do Código Penal, pouco importando
a forma de investidura, ou seja, basta que o agente tenha algum vínculo com o Estado para que seja considerado
autoridade, civil ou militar, ainda que não seja detentor de estabilidade ou de remuneração.

OBS: Ainda que o agente público esteja de férias ou de licença, ele poderá ser sujeito ativo de um
crime de abuso de autoridade.

OBS 2: Por não ter mais qualquer vínculo com o Estado, o aposentado ou o agente demitido não podem
ser sujeitos ativos do crime de abuso de autoridade.

OBS 3: Tutores, curadores, administradores de massa falida e inventariante embora exerçam múnus
público (função privada com interesse público), a sua atividade é de natureza privada. Logo, não podem ser
sujeitos ativos do delito de abuso de autoridade.

Questão: É possível que um particular cometa o delito de abuso de autoridade?

Esse particular pode cometer crime de abuso de autoridade tanto como coautor como partícipe. Isso se
dá em razão do art. 30 do Código Penal expressamente estabelecer que as circunstâncias de caráter pessoal
quando elementares do crime, comunicam-se a todas as pessoas que nele se envolvam. Assim, a condição de
agente público, por ser elementar do tipo penal do crime de abuso de autoridade, comunica-se ao particular.

E quem é o sujeito passivo do crime de abuso de autoridade?

Em regra, os crimes de abuso de autoridade são delitos de dupla subjetividade passiva (quando o crime
prevê a existência de duas vítimas), porquanto o cidadão que teve um direito fundamental violado por uma
autoridade figurará como sujeito passivo imediato (direto e eventual) e o Estado será o sujeito passivo
mediato (indireto e permanente). Todavia, como salienta o professor Damásio Evangelista de Jesus: “É
evidente que, às vezes, o Estado, ou outra entidade de Direito Público, é o único sujeito passivo. Exemplo:
atentado ao sigilo de correspondência, em que o próprio Estado seja o seu titular”.4

Frise-se que os crimes de abuso de autoridade são dolosos, não sendo previstas figuras culposas na Lei
13869/19. Além disso, como já falamos, é necessário ainda o especial fim do agente de exceder, abusar da

4
JESUS, Damásio de. Apud Freitas, Gilberto; FREITAS, Vladimir Passos de. Abuso de autoridade. 4ª ed. São Paulo: RT,
1991, p.18.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 4


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

autoridade lhe concedida. Dessa forma, não há que se falar em crime de abuso de autoridade se o servidor
agiu com o intuito de atingir a finalidade pública.

Chamo atenção ainda para destacar que todos os crimes de abuso de autoridade da nova
legislação são apenados com detenção.

A competência para processar e julgar os crimes de abuso de autoridade será da Justiça


Ordinária, Federal e Estadual. Conforme determina o artigo 109, IV, da Constituição Federal,
a Justiça Federal será competente caso o delito de abuso de autoridade viole bens, interesses ou serviço da
União Federal, suas entidades autárquicas ou empresas públicas. Exemplo: Crime de abuso de autoridade
cometido por agente federal no interior da Delegacia de Polícia Federal. Não caracterizada a situação do art.
109, IV, da Constituição Federal, o crime de abuso de autoridade será julgado pela Justiça Estadual.

OBS: O simples fato do agente pertence à Administração Pública Federal não fixa a competência da
Justiça Federal, devendo o fato, de alguma forma, atingir bens, serviços ou interessa da União. Esse foi o
entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

COMPETÊNCIA. CRIME. ABUSO. AUTORIDADE.

Trata-se de habeas corpus em que o paciente afirma ser incompetente a


Justiça Federal para processar o feito em que é acusado pelo crime de abuso de autoridade. Na espécie, após
se identificar como delegado de Polícia Federal, ele teria exigido os prontuários de atendimento médico, os
quais foram negados pela chefe plantonista do hospital, vindo, então, a agredi-la. A Turma, por maioria,
entendeu que, no caso, não compete à Justiça Federal o processo e julgamento do referido crime, pois
interpretou restritivamente o art. 109, IV, da CF/1988. A simples condição funcional de agente não implica
que o crime por ele praticado tenha índole federal, se não comprometidos bens, serviços ou interesses da União
e de suas autarquias públicas. Precedente citado: CC 1.823-GO, DJ 27/5/1991. HC 102.049-ES, Rel. Min.
Nilson Naves, julgado em 13/4/2010.

Antes da Lei nº 13491/17, que alterou o art. 9º do Código Penal Militar, o crime de abuso de autoridade não
era da alçada da Justiça Militar da União e nem da Justiça Militar Estadual. Motivo: O delito de abuso de
abuso de autoridade não está tipificado no Código Penal Militar, mas sim na Lei nº 13869/19. Matéria, aliás,
objeto da súmula 172 do STJ:

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 5


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade ainda que
praticado em serviço.

Atualmente, após a vigência da lei 13.491/17, o crime de abuso de autoridade pode ser
enquadrado como crime militar, bastando, para tanto, ter correspondência com alguma das hipóteses do art.
9º, II, do Código Penal Militar (tempo de paz)5. Com isso, a súmula 172 do STJ deve ser revisitada após a
ampliação do conceito de crime militar pela Lei 13491/17.

Qual é o tipo de ação penal nos crimes de abuso de autoridade?

De acordo com o art. 3º, caput, da Lei 13869/19, os crimes de abuso de autoridade são de ação penal
pública incondicionada, ou seja, em prol do princípio da oficiosidade, o Ministério Público tem o dever de
promover a persecução penal diante de um crime de abuso de autoridade, independentemente de representação
do ofendido ou da existência de notitia criminis formulada por qualquer do povo.

Todavia, será admitida ação privada se a ação penal pública não for intentada no prazo legal, cabendo
ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos
do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do
querelante, retomar a ação como parte principal (art. 3º, §1º, da Lei nº 13.869/19). Enfim, na ação penal privada
subsidiária da pública o Ministério Público atuará como interveniente adesivo obrigatório.

5
Art. 9º do CPM: Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados:

a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado;

b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou
reformado, ou assemelhado, ou civil;

c) por militar em serviço ou atuando em função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar
sujeito a administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;

d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração, ou a ordem administrativa
militar.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 6


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses, contado da data em eu se esgotar
o prazo para oferecimento da denúncia (art. 3º, §2º, da Lei nº 13869/19).

Art. 4º São efeitos da condenação:

I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o juiz, a requerimento
do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos por ele sofridos;

II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de 1 (um) a 5
(cinco) anos;

III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública.

Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo são condicionados à
ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade e não são automáticos, devendo ser
declarados motivadamente na sentença.

Além da imposição do efeito principal da condenação (pena), é cediço que há os efeitos secundários
gerados com o trânsito em julgado do édito condenatório. Estamos falando dos efeitos extrapenais que foram
previstos no art. 4º da Lei nº 13869/19.

É de se notar que a nova lei de abuso de autoridade, em seu art. 4º, combinou as regras dos arts. 91 e
92 do Código Penal com o descrito no art. 387 do Código de Processo Penal.

É relevante ainda pontuar que esses efeitos da condenação somente são aplicáveis após o trânsito
em julgado da sentença penal condenatória, tudo em harmonia com o princípio constitucional da presunção
de inocência (art. 5º, LVII, da CF6).

1º efeito extrapenal da condenação: Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime.
Lembre-se que a sentença penal condenatória transitada em julgado vale como título executivo de natureza
judicial, nos exatos termos do art. 515, VI, do Código de Processo Civil. De tal arte, a requerimento do
ofendido, deve o Estado-Juiz fixar na sentença o valor mínimo para a reparação dos danos causados pela
infração, considerando os prejuízos sofridos pela vítima do ato de abuso de autoridade, tudo em perfeita
compatibilidade com o art. 387, IV, do Código de Processo Penal.

2º efeito extrapenal da condenação: A inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função


pública, pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) anos. Todavia, esse efeito não é automático, devendo constar

6
Art. 5º, LVII, da CF: Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 7


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

expressamente na sentença condenatória, e é condicionado à reincidência em crime de abuso de


autoridade.

3º efeito extrapenal da condenação: A perda do cargo, do mandato ou da função pública. Esse efeito
também não é automático, devendo constar expressamente na sentença condenatória, e é condicionado à
reincidência em crime de abuso de autoridade.

Questão: As penas privativas de liberdade descritas na Lei de Abuso de autoridade podem ser
substituídas por restritivas de direitos?

A resposta é afirmativa. De acordo com o art. 5º da Lei nº 13689/19, as penas restritivas de direitos
aplicáveis aos crimes de abuso de autoridade são: a) a prestação de serviços à comunidade ou a entidade
públicas; b) suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1 (um) a 6 (seis) meses,
com a perda dos vencimentos e das vantagens. As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas de forma
autônoma ou cumulativamente.

A Lei de Abuso de Autoridade prevê que o agente público pode ser submetido a três espécies de
sanções: civil, administrativa e penal. São reprimendas autônomas e que podem ser aplicadas de maneira
cumulativa, sem que tal situação caracterize o indevido bis in idem, porquanto são de naturezas distintas7. A
sanção administrativa deve ser aplicada pela autoridade administrativa superior, com a observância do devido
processo legal disciplinar. A sanção civil é incumbência do juízo civil e, por fim, a de natureza penal é tarefa
do juiz criminal.

As notícias de crimes descritos na Lei de Abuso de Autoridade que narram falta funcional deverão ser
informadas à autoridade administrativa competente para a devida apuração disciplinar.

Preconiza o art. 7º da Lei nº 13869/19, as responsabilidades civil e administrativa são independentes


da criminal, não se podendo mais questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando essas questões
tinham sido decididas no juízo criminal. Vale dizer, reconhecida a existência do delito e sua respectiva autoria
na esfera penal, não há que se discutir tais situações nos âmbitos administrativo e cível.

7
Art. 6º da Lei 13869/19: As penas previstas nesta Lei serão aplicadas independentemente das sanções de natureza civil ou
administrativa cabíveis.

Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que descreverem falta funcional serão informadas à autoridade com
vistas à apuração.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 8


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Por sua vez, de forma idêntica ao descrito no art. 65 do Código de Processo Penal, o art. 8º da Lei
13869/19 estatui que faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-disciplinar, a sentença
penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito
cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito. Em outras palavras, o reconhecimento de uma
causa excludente de ilicitude delimitada no artigo 23 do Código Penal, em sentença penal definitiva, obsta a
rediscussão do assunto na esfera cível e administrativo-disciplinar, gerando a eficácia preclusiva
subordinante.

CRIMES DA LEI 13.869/19

Art. 9º da Lei nº 13869/19: Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade


com as hipóteses legais:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de prazo razoável, deixar
de:

I - relaxar a prisão manifestamente ilegal;

II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade provisória,
quando manifestamente cabível;

III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível.’

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
No caso, o sujeito ativo é a autoridade judiciária, haja vista que a decretação de medida privativa de liberdade
é cláusula de reserva jurisdicional (art. 5º, LXI, da CF).

Sujeito passivo – É o cidadão que tem o seu direito de locomoção violado por uma autoridade judiciária.
Lembre-se que em todos os crimes de abuso de autoridade o Estado figurará como sujeito passivo mediato
(indireto e permanente).

Elemento objetivo: Decretar significa impor medida de privação de liberdade em absoluto descompasso
com as hipóteses legais. Exemplo: 1) O juiz decreta a prisão temporária de alguém para apurar a prática de
crime de ameaça (art. 147 do Código Penal), delito situado fora do rol taxativo de cabimento da prisão
temporária.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 9


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

O termo “medidas de privação de liberdade” abrange a custódia cautelar (prisão preventiva e prisão
cautelar), prisão decorrente de execução provisória da pena, prisão oriunda de sentença penal condenatória
transitada em julgado, medida de segurança detentiva, medida socioeducativa de semiliberdade (art. 120 do
ECA), medida socioeducativa de internação (art. 121 do ECA) e internação psiquiátrica.

OBS: Manifesta desconformidade deve ser compreendida como situações em que sequer há discussão
doutrinária e/ou jurisprudencial acerca do cabimento da prisão.

Consumação. O crime se aperfeiçoa no exato instante em que a autoridade judiciária profere a decisão
que decreta a ilegal prisão de alguém, ainda que tal medida de privação de liberdade não se concretize. Cuida-
se de delito formal, ou seja, não há a necessidade da ocorrência do resultado naturalístico para a sua
consumação. Exemplo: O juiz, com o nítido propósito de prejudicar adversário político de sua família, sem a
necessária correspondência legal, decreta a prisão temporária em face desse sujeito pela prática do delito de
ameaça, fora das hipóteses de violência doméstica e familiar contra a mulher. Enquanto o mandado de prisão
preventiva aguarda cumprimento, a vítima obtém no Tribunal de Justiça a concessão de liminar em sede de
habeas corpus. Estamos diante de um crime consumado.

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 1 ano a 4 anos, e multa. Ante a pena mínima cominada ao delito não ser superior a
1 ano de detenção é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95).

Figura equiparada. De acordo com o art. 9º, § único, da Lei 13.689/19/89, a autoridade judiciária
também responde se, dentro de prazo razoável, deixar: a) de relaxar a prisão manifestamente ilegal; b)
substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade provisória, quando
manifestamente cabível; c) deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível.

Reparem que os incisos I e II têm como objetivo punir o magistrado que não atua em conformidade
com o art. 310 do Código de Processo Penal8. No inciso I, apesar de diante de uma manifesta violação às regras

8
Art. 310 do CPP. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).

I - relaxar a prisão ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 10


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

legais ou constitucionais, o magistrado não relaxa a prisão ilegal. Exemplo: Ao receber o auto de prisão em
flagrante delito, o magistrado mantém alguém preso pelo crime de adultério, figura atípica por não constar no
ordenamento jurídico pátrio. Já no inciso II, embora cabível alguma medida cautelar diversa da prisão (art.
319 do CPP), o magistrado determina a medida extrema da prisão preventiva ao arrepio do descrito no art.
282, §6º, do Código de Processo Penal, ou deixa de conceder a liberdade provisória, embora presentes os
requisitos legais para tanto.

Por fim, o inciso III versa sobre a demora em julgar o habeas corpus. Por oportuno, vale lembrar que
a liminar é concedida logo no início da ação constitucional e, portanto, antes do mérito do writ. A concessão
da ordem ocorre no momento do julgamento do mérito do habeas corpus, que se dá no deslinde da ação
constitucional.

A crítica que se faz aqui no parágrafo único desse dispositivo recai sobre as expressões genéricas
“prazo razoável” e “manifestamente cabível” que pode malferir o princípio da taxatividade (mandato certeza),
fundamento jurídico do primado da reserva legal. A Associação dos Magistrados do Brasil (AMB) ajuizou
uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI 6326) questionando a compatibilidade material desse delito
com o Texto Maior.

OBS: O art. 9º, caput, da Lei 13869/19 foi vetado pelo Presidente da República, com a seguinte
mensagem: “A propositura legislativa, ao dispor que se constitui crime ‘decretar medida de privação da
liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais’, gera insegurança jurídica por se tratar de
tipo penal aberto e que comportam interpretação, o que poderia comprometer a independência do magistrado
ao proferir a decisão pelo receio de criminalização da sua conduta”. Todavia, tal veto foi derrubado pelo
Congresso Nacional.

Art. 10 da Lei 13869/19: Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado


manifestamente descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se
revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato nas condições constantes
dos incisos I a III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, poderá,
fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de comparecimento a todos os atos
processuais, sob pena de revogação. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 11


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
No caso, o agente necessariamente tem que ter autorização legal para decretar a condução coercitiva de
testemunha ou investigado. Lembre-se que a condução coercitiva não é determinada apenas por magistrados,
mas também por membros do Ministério Público, autoridade policial e Comissões Parlamentares de Inquérito
(CPI).

Repare que esse tipo penal pode ser cometido de 2 maneiras: a) quando a condução coercitiva for
manifestamente descabida. Nessa situação, os sujeitos ativos poderão ser magistrados, membros do Ministério
Público, autoridade policial e presidente de Comissões Parlamentares de Inquérito; b) quando a autoridade
judiciária não assegurar oportunidade para que a testemunha ou o investigado compareçam espontaneamente
em juízo. Nesse caso, o sujeito ativo somente pode ser a autoridade judiciária, porquanto apenas o magistrado
pode determinar o comparecimento de testemunha e investigado em juízo.

Sujeito passivo – É o investigado e a testemunha que tem o seu direito de locomoção violado por meio
de uma ilegal condução coercitiva. Lembre-se que em todos os crimes de abuso de autoridade o Estado figurará
como sujeito passivo mediato (indireto e permanente).

A intimação prévia da testemunha ou do investigado deve ser feita pessoalmente, ou seja, por oficial de
justiça.

Elemento objetivo: Decretar significa impor a condução coercitiva de testemunha ou de investigado


fora das hipóteses legais ou sem prévia intimação de comparecimento em juízo. Condução coercitiva é uma
medida cautelar de coação pessoal consubstanciada na entrega involuntária de testemunha, perito, ofendido,
investigado ou acusado, diante de uma autoridade para que tal pessoa seja ouvida, reconhecida ou pratique
outros atos de interesse da investigação ou da ação penal.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 12


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

É importante consignar que o Código de Processo Penal prevê a condução coercitiva de testemunha (art.
218 do CPP9), perito (art. 278 do CPP10), vítima (art. 201 do CPP11) e ofendido (art.260 do CPP12).

Questão: É válida a condução coercitiva de investigado/acusado para a prestação de interrogatório em


sede de inquérito policial ou na ação penal, com base no art. 260 do CPP?

O Supremo Tribunal Federal enfrentou essa questão por meio do julgamento das ADPFs 395 e 444,
ocasião em que o Pretório Excelso asseverou que o termo ‘para o interrogatório’ contido na redação do
art. 260 do CPP não foi recepcionado pela Constituição Federal, por violar o direito à não
autoincriminação, corolário do direito constitucional ao silêncio (art. 5º, LXIII, da CF13).

1. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental.


Constitucional. Processo Penal. Direito à não autoincriminação. Direito
ao tempo necessário à preparação da defesa. Direito à liberdade de
locomoção. Direito à presunção de não culpabilidade. 2. Agravo
Regimental contra decisão liminar. Apresentação da decisão, de imediato, para referendo pelo Tribunal.
Cognição completa da causa com a inclusão em pauta. Agravo prejudicado. 3. Cabimento da ADPF. Objeto:
ato normativo pré-constitucional e conjunto de decisões judiciais. Princípio da subsidiariedade (art. 4º, §1º, da

9
Art. 218 do CPP. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá
requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou determinar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá solicitar o
auxílio da força pública.

10
Art. 278 do CPP. No caso de não-comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade poderá determinar a sua
condução.

11
Art. 201 do CPP. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem
seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações. (Redação dada pela
Lei nº 11.690, de 2008)

§1º Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença da
autoridade.

12
Art. 260 do CPP. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que,
sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença. (Vide ADPF 395)(Vide ADPF 444)

13
Art. 5º, LXIII, da CF: “O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada
a assistência da família e de advogado.”

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 13


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Lei nº 9.882/99): ausência de instrumento de controle objetivo de constitucionalidade apto a tutelar a situação.
Alegação de falta de documento indispensável à propositura da ação, tendo em vista que a petição inicial não
se fez acompanhar de cópia do dispositivo impugnado do Código de Processo Penal. Art. 3º, parágrafo único,
da Lei 9.882/99. Precedentes desta Corte no sentido de dispensar a prova do direito, quando “transcrito
literalmente o texto legal impugnado” e não houver dúvida relevante quanto ao seu teor ou vigência – ADI
1.991, Rel. Min. Eros Grau, julgada em 3.11.2004. A lei da ADPF deve ser lida em conjunto com o art. 376
do CPC, que confere ao alegante o ônus de provar o direito municipal, estadual, estrangeiro ou
consuetudinário, se o juiz determinar. Contrario sensu, se impugnada lei federal, a prova do direito é
desnecessária. Preliminar rejeitada. Ação conhecida. 4. Presunção de não culpabilidade. A condução coercitiva
representa restrição temporária da liberdade de locomoção mediante condução sob custódia por forças
policiais, em vias públicas, não sendo tratamento normalmente aplicado a pessoas inocentes. Violação. 5.
Dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88). O indivíduo deve ser reconhecido como um membro da
sociedade dotado de valor intrínseco, em condições de igualdade e com direitos iguais. Tornar o ser humano
mero objeto no Estado, consequentemente, contraria a dignidade humana (NETO, João Costa. Dignidade
Humana: São Paulo, Saraiva, 2014. p. 84). Na condução coercitiva, resta evidente que o investigado é
conduzido para demonstrar sua submissão à força, o que desrespeita a dignidade da pessoa humana. 6.
Liberdade de locomoção. A condução coercitiva representa uma supressão absoluta, ainda que temporária, da
liberdade de locomoção. Há uma clara interferência na liberdade de locomoção, ainda que por período breve.
7. Potencial violação ao direito à não autoincriminação, na modalidade direito ao silêncio. Direito consistente
na prerrogativa do implicado a recursar-se a depor em investigações ou ações penais contra si movimentadas,
sem que o silêncio seja interpretado como admissão de responsabilidade. Art. 5º, LXIII, combinado com os
arts. 1º, III; 5º, LIV, LV e LVII. O direito ao silêncio e o direito a ser advertido quanto ao seu exercício são
previstos na legislação e aplicáveis à ação penal e ao interrogatório policial, tanto ao indivíduo preso quanto
ao solto – art. 6º, V, e art. 186 do CPP. O conduzido é assistido pelo direito ao silêncio e pelo direito à
respectiva advertência. Também é assistido pelo direito a fazer-se aconselhar por seu advogado. 8. Potencial
violação à presunção de não culpabilidade. Aspecto relevante ao caso é a vedação de tratar pessoas não
condenadas como culpadas – art. 5º, LVII. A restrição temporária da liberdade e a condução sob custódia por
forças policiais em vias públicas não são tratamentos que normalmente possam ser aplicados a pessoas
inocentes. O investigado é claramente tratado como culpado. 9. A legislação prevê o direito de ausência do
investigado ou acusado ao interrogatório. O direito de ausência, por sua vez, afasta a possibilidade de condução
coercitiva. 10. Arguição julgada procedente, para declarar a incompatibilidade com a Constituição Federal da
condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório, tendo em vista que o imputado não é
legalmente obrigado a participar do ato, e pronunciar a não recepção da expressão “para o interrogatório”,
constante do art. 260 do CPP. (ADPF 444, Relator: Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em
14/06/2018)

OBS: A condução coercitiva não se limita à persecução penal, mas também é admitida em inquérito
civil, ações trabalhistas e cíveis e em procedimentos do Estatuto da Criança e do Adolescente.

OBS 2: O termo ‘investigado’ contido no tipo penal deve ser interpretado em sentido lato para abrigar
também o acusado. Nesse sentido há precedente do STJ que ao analisar ao termo “investigação” descrito no
art. 2º, §1º, da Lei nº 12.850/13 ampliou o seu alcance para abranger também a ação penal, ou seja, o termo
deve ser empregado como persecução penal (extrajudicial e judicial). Precedente do STJ: HC 487.962.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 14


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

OBS 3: A expressão “manifestamente descabida” é alvo de críticas por alguns doutrinadores por ser
um termo genérico e, por consequência, violar o princípio da taxatividade, fundamento jurídico do primado
da reserva legal (art. 5º, XXXIX, da CF). A Associação dos Magistrados do Brasil (AMB) ajuizou uma ação
direta de inconstitucionalidade (ADI 6326) questionando a compatibilidade material desse delito com o Texto
Maior.

Consumação. O crime se aperfeiçoa no exato momento em que ocorre a autoridade profere decisão para
determinar a condução coercitiva, ainda que tal condução de testemunha ou de investigado não se concretize.
Cuida-se de delito formal, ou seja, não há a necessidade da ocorrência do resultado naturalístico para a sua
consumação.

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 1 ano a 4 anos, e multa. Ante a pena mínima cominada ao delito não ser superior a
1 ano de detenção é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95).

Art. 11 da Lei nº 13.869/19. Vetado

Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade judiciária no prazo legal:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:

I - deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou preventiva à autoridade


judiciária que a decretou;

II - deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontra à sua família
ou à pessoa por ela indicada;

III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa, assinada pela
autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das testemunhas;

IV - prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de prisão preventiva, de


medida de segurança ou de internação, deixando, sem motivo justo e excepcionalíssimo, de executar o
alvará de soltura imediatamente após recebido ou de promover a soltura do preso quando esgotado o prazo
judicial ou legal.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 15


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
No caso, o agente é a autoridade policial, agente estatal incumbido de comunicar a prisão em flagrante à
autoridade judicial no prazo legal.

Sujeito passivo – É o preso que tem violado o seu direito constitucional consagrado no art. 5º, LXII 14,
da CF, pela autoridade policial. Lembre-se que em todos os crimes de abuso de autoridade o Estado figurará
como sujeito passivo mediato (indireto e permanente).

Essa comunicação imediata ao Estado-Juiz visa assegurar não apenas a fiscalização e o controle de
legalidade da prisão (art. 5º, LXVI, da CF), mas também possibilitar ao preso a possibilidade de lhe ser
concedida liberdade provisória (art. 5º, LXVI, da CF).

Elemento objetivo: Deixar injustificadamente de comunicar significa não levar ao conhecimento da


autoridade judiciária sem qualquer razão para tanto.

E qual é o prazo legal para a autoridade judiciária ser comunicada?

O termo “prazo legal” deve ser compreendido como o prazo máximo de até 24 horas a contar da prisão
em flagrante. Essa conclusão deriva do previsto no art. 306, §1º, do CPP: Em até 24 horas após a realização
da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe
o nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.

OBS: Essa comunicação da prisão à autoridade judiciária competente vigora também no estado de
defesa, segundo determina o art. 136, §3º, I, da Constituição Federal: Na vigência do estado de defesa: I – a
prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por este comunicada
imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso requerer exame de
corpo de delito à autoridade policial.

Questão: Responde por esse crime de abuso de autoridade o Delegado de Polícia que não comunica a
apreensão de uma criança ou adolescente à autoridade judiciária competente?

A resposta é negativa. Se o ofendido for adolescente ou uma criança, o crime passa a ser o do art. 231
do ECA: Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata
comunicação à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada. Pena:
detenção de seis meses a dois anos. Aplica-se na espécie o princípio da especialidade (lei especial afasta a
incidência de lei geral).

14
Art. 5º, LXII, da CF: A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 16


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Consumação. Estamos diante de um crime omissivo próprio, ou seja, a omissão está estampada no
tipo penal. Por ser omissivo próprio não há que se falar na figura tentada. A consumação se perfaz com a mera
omissão.

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 6 (seis) a 2 (dois) anos, e multa. Trata-se de uma infração penal de menor potencial
ofensivo, portanto, compatível com os institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo.

Figuras equiparadas: Incorre na mesma pena quem: a) deixa de comunicar, imediatamente, a execução
de prisão temporária ou preventiva à autoridade judiciária que a decretou. Como é cediço, a prisão temporária
e a prisão preventiva deve ser cumprida após a expedição do mandado pela autoridade judiciária. A execução
dessas prisões deve ser comunicada à autoridade judicial, nos termos do art. 289-A, §3º, do Código de Processo
Penal15; b) deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontra à sua
família ou à pessoa por ela indicada. Na legislação antecedente (Lei nº 4898/65), a inobservância desse direito
constitucional descrito no art. 5º, LXII não era taxado como crime, mas mera infração disciplinar. c) deixa de
entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o
motivo da prisão e os nomes do condutor e das testemunhas. A nota de culpa é o documento confeccionado
pela autoridade policial e que deve ser entregue no prazo de 24 horas a contar da prisão, contendo os motivos
de tal detenção, o nome do condutor e os das testemunhas, conforme determina o art. 306, §2º, do Código de
Processo Penal. Além do mais, é direito do preso a identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório policial (art. 5º, LXIV, da CF); d) prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão
temporária, de prisão preventiva, de medida de segurança ou de internação, deixando, sem motivo justo e
excepcionalíssimo, de executar o alvará de soltura imediatamente após recebido ou de promover a soltura do
preso quando esgotado o prazo judicial ou legal. Na espécie, a figura típica visa punir o Delegado de Polícia
que, sem motivo razoável, mantém alguém preso por mais tempo do que o período estampado na lei ou em
decisão judicial. OBS: O termo internação diz respeito à medida socioeducativa mais gravosa descrita no ECA
(arts. 121/123 da Lei nº 8069/90).

15
Art. 289-A, §3º, do CPP: A prisão será imediatamente comunicada ao juiz do local de cumprimento da medida o qual
providenciará a certidão extraída do registro do Conselho Nacional de Justiça e informará ao juízo que a decretou.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 17


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade
de resistência, a:

I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;

II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei;

III - (VETADO). (Promulgação partes vetadas)

III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à violência.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo deve ser agente policial ou penitenciário, que deve zelar pela integridade física e
moral dos detentos.

Sujeito passivo – É o preso que tem violado os direitos constitucionais consagrados no art. 5º, III16, X17
e LIV18, todos da Constituição Federal, por agente policial ou penitenciário. Lembre-se que em todos os crimes
de abuso de autoridade o Estado figurará como sujeito passivo mediato (indireto e permanente).

Esse tipo penal visa proteger os seguintes diretos fundamentais:

Art. 5º, III, da CF: ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
Art. 5º, X, da CF: são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado
o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
Art. 5º, LIV, da CF: é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

Elementos objetivos do tipo: Constranger significa força o preso a fazer algo contra a sua vontade.
Cuida-se de um tipo penal que admite três modus operandi: violência física (emprego de força contra o corpo
do ofendido), grave ameaça (coação psicológica), violência imprópria (retira da vítima a sua capacidade de
resistir).

16
Art. 5º, III, da CF: Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

17
Art. 5º, X, da CF: são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

18
Art. 5º, LIV, da CF: é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 18


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Inciso I - O agente mostra o preso ou parte do preso à curiosidade pública, com o escopo de humilhá-
lo. Essa situação já foi observada em algumas reportagens policiais em que o agente policial força o preso a
mostrar seu rosto para algum veículo da imprensa. Cuida-se de crime formal, pois não é necessário a produção
do resultado naturalístico (humilhação) para a sua consumação.

Inciso II - Submeter é subjugar. O termo “constrangimento não autorizado em lei” deve ser
compreendido como qualquer constrangimento sem respaldo legal. Exemplos: a) O Diretor do estabelecimento
prisional que insere um detento no regime disciplinar diferenciado sem existir qualquer decisão judicial nesse
sentido. b) Agente penitenciário que, sem qualquer fundamento, não abre a cela para que o detento tome o
banho de sol. A consumação se perfaz no exato instante em que a vítima é colocada em situação de vexame,
constrangimento não autorizado em lei.

Inciso III – Tutela o direito a não autoincriminação ou a produção involuntária de prova contra
terceiros.

OBS: Se, além de submeter o preso à prática de ato não descrito em lei, o agente tiver dolo de causar-
lhe sofrimento físico ou mental, a conduta será a do art. 1º, §1º, da Lei 9455/97 (Lei de Tortura).

Questão: Responde por esse crime de abuso de autoridade o agente que submete adolescente ou criança
sob sua guarda a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei?

A resposta é negativa. Se o ofendido for adolescente ou uma criança, o crime passa a ser o do art. 232
do ECA: Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a
constrangimento. Pena – detenção de seis meses a dois anos. Aplica-se na espécie o princípio da
especialidade (lei especial afasta a incidência de lei geral).

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13.869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 1 ano a 4 anos, e multa. Ante a pena mínima cominada ao delito não ser superior
a 1 ano de detenção é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95). O preceito
secundário ainda prevê o concurso material se da ação do agente resultar violência.

Art. 14 da Lei nº 13.869/19. Vetado

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 19


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Art. 15 da Lei nº 13.869/19. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de função,
ministério, ofício ou profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. (VETADO). (Promulgação partes vetadas)

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o interrogatório:

I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; ou

II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor público, sem a presença de seu
patrono.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo deve ser agente público que, sob ameaça de prisão, constrange as pessoas proibidas
pela legislação processual penal a depor, nos exatos termos do art. 207 do Código de Processo Penal 19.

Sujeito passivo – É a testemunha que não é obrigada a depor (art. 207 do CPP). Lembre-se que em todos
os crimes de abuso de autoridade o Estado figurará como sujeito passivo mediato (indireto e permanente).

Esse tipo penal visa proteger as pessoas proibidas de depor em razão do sigilo decorrente de
função, ministério, ofício ou profissão. Tal pessoa pode depor se, desobrigada pela parte interessada, quiser
dar o seu testemunho. Exemplos de pessoas proibidas de depor: padres, médicos, psicólogos.

Elementos objetivos do tipo: Constranger significa obrigar a pessoa a testemunhar algo que sabe em
razão de seu mister, sob a indevida ameaça de ser preso se não colaborar com a prestação do depoimento.

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 1 ano a 4 anos, e multa. Ante a pena mínima cominada ao delito não ser superior
a 1 ano de detenção é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95).

19
Art. 207 do CPP. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devem guardar
segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 20


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Figuras equiparadas. Incorre na mesma pena quem prossegue com o interrogatório: a) de pessoa que
tenha decidido exercer o direito ao silêncio. O direito ao silêncio está assegurado no art. 5º, LXII, da
Constituição Federal; b) de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor público, sem
a presença de seu patrono. Primeiramente, vale lembrar que, em todo o interrogatório prestado em juízo, a
defesa técnica (advogado/defensor) deverá estar presente, sob pena de nulidade. Assim, é forçoso concluir que
a figura equiparada é direcionada aos interrogatórios prestados durante a fase investigativa e visa garantir a
observância do art. 7º, inciso XXI, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (assistir a seu clientes
investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou
depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou
derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração: a) apresentar
quesitos);

Art. 16 da Lei nº 13.869/19. Deixar de identificar-se ou identificar-se falsamente ao preso por


ocasião de sua captura ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou prisão:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como responsável por interrogatório em sede de
procedimento investigatório de infração penal, deixa de identificar-se ao preso ou atribui a si mesmo
falsa identidade, cargo ou função.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo deve ser agente público que, após a prisão, recusa a identificar-se ou se identifica
de maneira falsa.

Sujeito passivo – É o preso que tem violado o direito constitucional consagrado no art. 5º, LXIV, da
20
CF . Lembre-se que em todos os crimes de abuso de autoridade o Estado figurará como sujeito passivo
mediato (indireto e permanente).

Esse tipo penal visa assegurar ao preso o direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou
por seu interrogatório policial.

Elementos objetivos do tipo: Inicialmente, repare que o crime pode ser cometido de 2 formas: a)
Deixar de identificar-se significa um comportamento omissivo do agente estatal, que responsável pela prisão
ou interrogatório policial de alguém, simplesmente se omite de identificar-se. Nesse núcleo do tipo, por ser
um crime omissivo próprio, a consumação se concretiza com a mera inércia do agente no ato de identificar-
se. Nessa hipótese, não há que se falar em tentativa, pois estamos diante de um delito de mera conduta e

20
Art. 5º, LXIV, da CF: O preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial;

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 21


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

omissivo próprio. De outro giro, também haverá esse delito se o agente se identificar de maneira falsa ao preso.
Na espécie, o crime é comissivo e sua consumação ocorre no momento em que o agente estatal pratica a
conduta delineada no tipo penal, independentemente de conseguir, ou não, ludibriar o preso no tocante à sua
identificação (delito formal).

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 1 ano a 4 anos, e multa. Ante a pena mínima cominada ao delito não ser superior
a 1 ano de detenção é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95).

Figuras equiparadas. Incorre na mesma pena quem, como responsável por interrogatório em sede de
procedimento investigatório de infração penal, deixa de identificar-se ao preso ou atribui a si mesmo falsa
identidade, cargo ou função. Nota-se que o sujeito ativo dessa figura equiparada não se limita ao delegado de
polícia, atingindo também outros agentes estatais encarregados de procedimento investigativos. Exemplos:
Membros do Ministério Público, integrantes das Comissões Parlamentares de Inquérito, etc.

Art. 17 da Lei nº 13.869/19. Vetado

Art. 18 da Lei nº 13.869/19. Submeter o preso a interrogatório policial durante o período de repouso
noturno, salvo se capturado em flagrante delito ou se ele, devidamente assistido, consentir em prestar
declarações:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo deve ser autoridade policial (agente estatal encarregado de realizar o interrogatório
em sede policial).

Sujeito passivo – É o preso que tem violado o direito constitucional consagrado no art. 5º, III, da CF21.
Lembre-se que em todos os crimes de abuso de autoridade o Estado figurará como sujeito passivo mediato
(indireto e permanente).

21
Art. 5º, III, da CF: Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 22


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Esse tipo penal visa evitar a realização de interrogatório policial em período de repouso noturno, de
forma a obter informes elucidativos do delito, valendo-se do “cansaço do investigado”. Nota-se que não há
que se falar nesse delito em 2 hipóteses: a) Flagrante delito – Afinal de contas, o flagrante delito pode ocorrer
a qualquer momento, inclusivo no período de repouso noturno (art. 302 do CPP); b) Se, devidamente assistido,
existir anuência do preso em prestar o depoimento.

Elementos objetivos do tipo: Submeter deve ser compreendido como subjugar, determinar, impor. O
termo “repouso noturno” deve ser interpretado como período em que, à noite, as pessoas estão habituadas a
recolher-se para dormir.

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 6 (seis) a 2 (dois) anos, e multa. Trata-se de uma infração penal de menor potencial
ofensivo, portanto, compatível com os institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo.

Art. 19 da Lei nº 13.869/19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o envio de pleito de preso à


autoridade judiciária competente para a apreciação da legalidade de sua prisão ou das circunstâncias de
sua custódia:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado que, ciente do impedimento ou da demora,
deixa de tomar as providências tendentes a saná-lo ou, não sendo competente para decidir sobre a prisão,
deixa de enviar o pedido à autoridade judiciária que o seja.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo deve ser agente estatal encarregado de encaminhar pleito de preso para aferir a
legalidade da prisão ou circunstâncias de sua custódia.

Sujeito passivo – É o preso que tem violado o seu direito de relatar ao Estado-Juiz a existência de uma
ilegalidade em sua prisão ou nas circunstâncias da custódia. Lembre-se que em todos os crimes de abuso de
autoridade o Estado figurará como sujeito passivo mediato (indireto e permanente).

Esse tipo penal visa não obstar qualquer tipo de comunicação do preso com a autoridade judiciária a
fim de relatar a existência de uma prisão ilegal ou circunstâncias irregulares na custódia. Exemplo: Agente
penitenciário que se recusa a encaminhar ao Juiz da Comarca pedido de habeas corpus formulado de próprio
punho pelo detento.

Elementos objetivos do tipo: Impedir significa barrar, criar obstáculo. Retardar significa demorar,
atrasar. O tipo penal exige ainda que esse impedimento ou essa demora sejam injustificáveis, ou seja, não
tenha motivo razoável para tal procedimento.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 23


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 1 ano a 4 anos, e multa. Ante a pena mínima cominada ao delito não ser superior
a 1 ano de detenção é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95).

Figura equiparada: Incorre na mesma pena o magistrado que, ciente do impedimento ou da demora,
deixa de tomar as providências tendentes a saná-lo ou, não sendo competente para decidir sobre a prisão, deixa
de enviar o pedido à autoridade judiciária que o seja. Repare que estamos diante de um crime omissivo próprio,
pois o tipo penal criminaliza a inércia do magistrado que, ao tomar ciência de uma arbitrariedade vivenciada
por um preso, mostra-se silente, quer seja para tomar uma providência judicial se for competente para tanto,
quer seja para enviar o pleito do preso à autoridade judiciária competente se não tiver competência para
apreciar o pedido. OBS: O art. 19, parágrafo único, da Lei nº 13.869/19 tem sua constitucionalidade discutida
no STF em ADI de nº 6236 promovida pela AMB.

Art. 20 da Lei nº 13.869/19. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso
com seu advogado:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o investigado de
entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu advogado ou defensor, por prazo razoável, antes de
audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado e com ele comunicar-se durante a audiência, salvo no
curso de interrogatório ou no caso de audiência realizada por videoconferência.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo deve ser agente estatal encarregado de autorizar a conversa reservada do preso com
seu advogado/defensor público.

Sujeito passivo – É o preso que tem violado o seu direito de falar a sós com seu defensor. Lembre-se
que em todos os crimes de abuso de autoridade o Estado figurará como sujeito passivo mediato (indireto e
permanente).

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 24


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Esse tipo penal criminaliza a inobservância de uma prerrogativa conferida aos advogados pelo art. 7º,
III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil 22. Exemplo: Delegado de Polícia que não autoriza o
advogado conversar reservadamente com o seu cliente preso sem apresentar qualquer motivo razoável para
assim proceder.

Elementos objetivos do tipo: Impedir significa criar obstáculo para que o advogado converse com o
seu cliente preso. Por oportuno, insta destacar que essa conversa reservada é fundamental para o patrono traçar
a linha defensiva do preso.

O termo “justa causa” é objeto de crítica por tornar o delito em estudo num tipo penal aberto. Em razão
desse motivo, o Presidente da República vetou esse dispositivo legal, com o seguinte fundamento: “O
dispositivo proposto, ao criminalizar o impedimento da entrevista pessoal e reservada do preso ou réu com
seu advogado, mas de outro lado autorizar que o impedimento se dê mediante justa causa, gera insegurança
jurídica por encerrar tipo penal aberto e que comporta interpretação. Ademais, trata-se de direito já
assegurado nas Leis nºs 7.210, de 1984 e 8.906, de 1994, sendo desnecessária a criminalização da conduta
do agente público, como no âmbito do sistema Penitenciário Federal, destinado a isolar presos de elevada
periculosidade.” Contudo, o veto foi derrubado pelo Congresso Nacional.

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 6 (seis) a 2 (dois) anos, e multa. Trata-se de uma infração penal de menor potencial
ofensivo, portanto, compatível com os institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo.

Figura equiparada: Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o investigado de
entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu advogado ou defensor, por prazo razoável, antes de audiência
judicial, e de sentar-se ao seu lado e com ele comunicar-se durante a audiência, salvo no curso de
interrogatório ou no caso de audiência realizada por videoconferência. Essa figura típica visa assegurar
não só a observância da prerrogativa descrita no art. 7º, III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil,
mas também o direito de presença do acusado (direito de presenciar os atos processuais e de auxiliar o seu
patrono no momento da produção das provas). OBS: O art. 20, parágrafo único, da Lei nº 13.869/19 tem sua
constitucionalidade discutida no STF em ADI de nº 6236 promovida pela AMB.

22
Art. 7º da Lei nº 8906/94: São direitos dos advogados:

III - comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração, quando estes se acharem presos,
detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis;

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 25


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Art. 21 da Lei nº 13.869/19. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de
confinamento:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma cela, criança ou adolescente na
companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado, observado o disposto na Lei nº 8.069, de 13
de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo deve ser agente integrante do sistema penitenciário.

Sujeito passivo – É o preso que tem violado o seu direito constitucional de ser encarcerado apenas com
pessoa do mesmo sexo, consoante determina o art. 5º, XLVIII, da Constituição Federal 23. No mesmo sentido,
a LEP preconiza que em estabelecimento penal para mulheres somente se permitirá o trabalho de pessoal do
sexo feminino, salvo quando se tratar de pessoal técnico especializado (art. 77, §2º, da LEP), assim como
assevera que a segurança de tal estabelecimento deva ser realizada por agentes do sexo feminino (art.83, §3º,
da LEP). Por oportuno, lembre-se que em todos os crimes de abuso de autoridade o Estado figurará como
sujeito passivo mediato (indireto e permanente).

Esse tipo penal visa assegurar a observância do princípio constitucional de individualização da pena,
de forma a impedir que pessoas de sexos distintos permaneçam na mesma cela ou em idêntico espaço de
confinamento, evitando-se, no ponto, qualquer tipo de violência (física, moral, sexual) entre os detentos. Não
é demais repisar que o artigo 38 do Código Penal é claro ao enaltecer que o preso conserva todos os direitos
não atingidos pela perda de liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física ou
moral.

Elementos objetivos do tipo: Manter significa deixar presos de ambos o sexo no mesmo espaço
durante o cumprimento da prisão-pena ou prisão cautelar.

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

23
Art. 5º, XLVIII, da CF: “ A pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade
e o sexo do apenado;

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 26


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Pena: Detenção, de 1 ano a 4 anos, e multa. Ante a pena mínima cominada ao delito não ser superior a
1 ano de detenção é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95).

Figura equiparada: Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma cela, criança ou adolescente na
companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado, observado o disposto na Lei nº 8.069, de 13 de
julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Essa figura típica é endereçada aos agentes estatais
encarregados da fiscalização de medidas socioeducativas impostas aos adolescentes infratores.

Art. 22 da Lei nº 13.869/19. Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia
da vontade do ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condições,
sem determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em lei:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem:

I - coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou suas
dependências;

II - (VETADO);

III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes das
5h (cinco horas).

§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver fundados indícios
que indiquem a necessidade do ingresso em razão de situação de flagrante delito ou de desastre.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo deve ser agente policial.

Sujeito passivo – É a pessoa que tem inobservado o seu direito constitucional determinado no art. 5º,
XI, da Constituição Federal. Por oportuno, lembre-se que em todos os crimes de abuso de autoridade o Estado
figurará como sujeito passivo mediato (indireto e permanente).

O bem jurídico tutelado pela norma penal incriminadora é a inviolabilidade domiciliar. Estabelece o
art. 5º, XI, da Constituição Federal que a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou,
durante o dia, por determinação judicial.

Dessa forma, em razão dessa proteção ao domicílio, o ingresso regular no domicílio de alguém somente
pode ser feito nas hipóteses descritas na Constituição Federal: flagrante delito; desastre; para prestar socorro;
durante o dia, por determinação judicial ou a qualquer hora do dia ou da noite com permissão do morador. Por
essa razão, o art. 22, §2º, da Lei nº 13.869/19 estabelece que não haverá crime se o ingresso for para prestar

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 27


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

socorro, ou quando houver fundados indícios que indiquem a necessidade do ingresso em razão de situação
de flagrante ou de desastre.

Em virtude do princípio da especialidade, se a autoridade invadir um domicílio de


forma não descrita em lei ou com autorização judicial responderá pelo crime de abuso de
autoridade (art. 22 da Lei nº 13869/19). Contudo, se o agente for um particular o crime será o
de violação do domicílio (art. 150 do Código Penal).

O conceito de domicílio pode ser extraído do art. 150, §4º, do CPP: Qualquer compartimento habitado,
aposento ocupado de habitação coletiva e compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce
profissão ou atividade. Não ingressa nesse conceito: hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação
coletiva, enquanto aberta, salvo o aposento ocupado de habitação coletiva, bem como a taverna, casa de jogo
e outras do mesmo gênero (art. 150, §5º, do CPP).

Essa liberdade de locomoção não é absoluta, podendo ser restringida nas hipóteses descritas na
Constituição Federal ou em lei.

OBS: Durante o estado de sítio pode existir restrição ao direito de inviolabilidade do domicílio, sem
que tal situação configure o delito de abuso de autoridade (art. 139, V, da CF).

OBS 2: As buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo se o morador consentir que se realizem
à noite, e, antes de penetrarem na casa, os executores lerão o mandado ao morador, ou a quem o represente,
intimando-o, em seguida, a abrir a porta (art. 245 do CPP). Se, por acaso, existir anuência do morador, pode-
se ingressar a qualquer hora do dia ou da noite.

Elementos objetivos do tipo: Invadir significa penetrar. Adentrar deve ser interpretado como
ingressar. Permanecer é manter-se. No tipo penal em estudo o agente entra na residência alheia ou suas
dependências (ex: garagem), clandestina (sem permissão) ou astuciosamente (por meio de fraude) ou contra a
vontade do morador.

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 1 ano a 4 anos, e multa. Ante a pena mínima cominada ao delito não ser superior
a 1 ano de detenção é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95).

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 28


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Figuras equiparadas: Incorre na mesma pena quem: a) coage alguém, mediante violência ou grave
ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou suas dependências; b) cumpre mandado de busca e apreensão
após as 21 (vinte e um horas) ou antes das 5h (cinco horas).

Art. 23 da Lei nº 13.869/19. Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de


investigação ou de processo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de eximir-se de
responsabilidade ou de responsabilizar criminalmente alguém ou agravar-lhe a responsabilidade:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com o intuito de:

I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso praticado no curso de


diligência;

II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações incompletos para desviar o


curso da investigação, da diligência ou do processo.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo deve ser agente público.

Sujeito passivo – É o Estado, podendo eventualmente figurar como ofendido a pessoa prejudicada com
tal inovação artificial. Esse tipo penal visa tutelar a Administração da Justiça, proibindo sob o ponto de vista
penal qualquer ato que visa eximir alguém de sua responsabilidade criminal, alterando o estado de lugar, de
pessoa ou de coisa, com reflexo inegável no campo probatório. Tal ato dificulta o trabalho dos órgãos estatais
encarregados da persecução penal.

Em virtude do princípio da especialidade, se o agente público inovar artificiosamente


na persecução o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de eximir-se de
responsabilidade ou de responsabilizar alguém ou agravar-lhe responsabilidade incorrerá no
crime de abuso de autoridade (art. 23, caput, da Lei nº 13869/19). Contudo, se o agente for
um particular o crime será o de fraude processual (art. 347 do Código Penal).

Elementos objetivos do tipo: Inovar artificiosamente significa modificar determinada situação


atinente ao estado de lugar (ex: abertura de um automóvel), de coisa (ex: colocação de droga no bolsa da calça
de um cadáver) ou de pessoa (alterar o aspecto físico da pessoa).

Esse delito obtém a consumação no instante da modificação do local, coisa ou pessoa, desde que apto
a afastar a sua responsabilidade criminal ou a de terceiros.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 29


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve objetivar eximir-se de responsabilidade (beneficiar a si) ou de responsabilidade
criminalmente alguém (beneficiar outrem) ou agravar-lhe a responsabilidade (prejudicar terceiros), tudo
em sintonia com o art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica. Inexiste
a figura culposa.

Pena: Detenção, de 1 ano a 4 anos, e multa. Ante a pena mínima cominada ao delito não ser superior
a 1 ano de detenção é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95).

Figuras equiparadas: Incorre na mesma pena quem a conduta com o intuito: a) eximir-se de
responsabilidade civil ou administrativa por excesso praticado no curso de diligência; b) omitir dados ou
informações ou divulgar dados ou informações incompletas para desviar o curso da investigação, da diligência
ou do processo.

Art. 24 da Lei nº 13.869/19. Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário ou empregado
de instituição hospitalar pública ou privada a admitir para tratamento pessoa cujo óbito já tenha ocorrido,
com o fim de alterar local ou momento de crime, prejudicando sua apuração:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo deve ser agente público.

Sujeito passivo – É a pessoa que trabalha em instituição hospital (pública ou privada) que é constrangida
a admitir tratamento para pessoa cujo óbito já tenha ocorrido. Como se vê, o agente entrega pessoa morta ao
hospital e força seu recebimento, com o objetivo de obter a posteriori, de forma falsa, a declaração de que o
óbito tenha se dado no hospital. Por oportuno, lembre-se que em todos os crimes de abuso de autoridade o
Estado figurará como sujeito passivo mediato (indireto e permanente).

Elementos objetivos do tipo: Constranger é impor, obrigar. Tal constrangimento pode se dar de 2
formas: violência física ou moral (grave ameaça). Essa prática ilegal é popularmente conhecida como
“esquentar cadáver”, porquanto visa alcançar uma causa mortis diversa da realidade.

Esse delito obtém a consumação no exato momento em que ocorre o constrangimento, por meio de
violência física ou moral, pouco importando a obtenção da finalidade almejada pelo agente. Trata-se de um
delito formal.

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 30


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Pena: Detenção, de 1 ano a 4 anos, e multa. Ante a pena mínima cominada ao delito não ser superior
a 1 ano de detenção é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95). O preceito
secundário ainda prevê o concurso material se da ação do agente resultar violência.

Art. 25 da Lei nº 13.869/19. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de investigação ou


fiscalização, por meio manifestamente ilícito:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em desfavor do investigado ou
fiscalizado, com prévio conhecimento de sua ilicitude.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo deve ser responsável por proceder à obtenção de prova na etapa inaugural
(investigativa) da persecução penal, por meio manifestamente ilícito. Ex: O Delegado de Polícia que, sem
autorização judicial, extrai informações do aplicativo WhatsApp contido no aparelho celular do investigado.

Sujeito passivo – É a pessoa prejudicada com a obtenção ilícita da prova. Lembre-se que em todos os
crimes de abuso de autoridade o Estado figurará como sujeito passivo mediato (indireto e permanente).

Esse tipo penal visa resguardar o direito constitucional descrito no art. 5º, LVI, da Constituição
Federal24.

Elementos objetivos do tipo: Proceder significa obter provas por meios manifestamente ilícitos.

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 1 ano a 4 anos, e multa. Ante a pena mínima cominada ao delito não ser superior
a 1 ano de detenção é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95).

Figura equiparada. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em desfavor do investigado ou
fiscalizado, com prévio conhecimento de sua ilicitude.

24
Art. 5º, LVI, da CF: São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meio ilícitos.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 31


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Art. 26 da Lei nº 13.869/19. Vetado

Art. 27 da Lei nº 13.869/19. Requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de infração


penal ou administrativa, em desfavor de alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito
funcional ou de infração administrativa:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou investigação preliminar sumária,
devidamente justificada.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo será os agentes estatais que podem determinar a deflagração de procedimento
investigatório de caráter penal ou administrativo em face de outrem. De acordo com o art. 5º, do Código de
Processo Penal, a autoridade policial pode de ofício determinar a instauração de Inquérito Policial (inciso I),
assim como magistrado e integrantes do Ministério Público podem requisitar a etapa investigativa (inciso II).

Sujeito passivo – É a pessoa que tem aberta contra si um procedimento investigatório sem um lastro
probatório mínimo no tocante a autoria e a materialidade delitiva. Lembre-se que em todos os crimes de abuso
de autoridade o Estado figurará como sujeito passivo mediato (indireto e permanente).

Esse tipo penal visa evitar perseguições infundadas de agentes encarregados da persecução penal ou
de assuntos administrativos ou funcionais.

Elementos objetivos do tipo: Requisitar instauração é ordenar a abertura de um procedimento


investigativo criminal/administrativo/funcional. Esse verbo é destinado aos magistrados e membros do
Ministério Público. Já o a conduta de instaurar procedimento investigatório de infração penal ou
administrativa, em desfavor de alguém, é dirigida aos Delegados de Polícia, Auditores da Receita Federal,
Corregedores, etc.

Esse delito obtém a consumação no exato momento em que é deflagrado o procedimento


(investigativo/administrativo/funcional), pouco importando o desfecho dessa investigação. Trata-se de um
delito formal.

Para a configuração desse crime é indispensável também a ausência de justa causa, ou seja, não deve
existir lastro probatório mínimo para abertura de tal procedimento. Todavia, não haverá crime quando se tratar
de sindicância ou investigação preliminar sumária, devidamente justificada, nos termos do art. 27, § único, da
Lei 13.869/19. Vale dizer, as autoridades dotadas do poder de investigar podem se valer do expediente da
sindicância ou investigação preliminar sumária para num primeiro momento obter indícios da prática de crime,

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 32


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

de ilícito funcional ou de infração administrativa e, em seguida, requisitar ou instaurar procedimento


investigatório de infração penal ou administrativa, em desfavor de alguém, situação que afasta a prática do
delito em análise.

Por oportuno, vale lembrar também o dever imposto pelo Código de Processo Penal 25 aos membros do
Poder Judiciário para remeterem ao Ministério Público as cópias e os documentos necessários ao oferecimento
da denúncia quando no exercício da judicatura tomarem ciência da existência de crimes de ação penal pública.

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 6 (seis) a 2 (dois) anos, e multa. Trata-se de uma infração penal de menor potencial
ofensivo, portanto, compatível com os institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo.

OBS: A Associação dos Magistrados do Brasil questiona a constitucionalidade desse dispositivo legal
no STF por meio da ADI 6236, por entender que a expressão “qualquer indício” malfere o princípio da
taxatividade, fundamento jurídico do primado da reserva legal (art. 5º, XXXIX, da Constituição Federal).

Art. 28 da Lei nº 13.869/19. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que
se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do
investigado ou acusado:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo será necessariamente um agente público.

Sujeito passivo – É a pessoa que tem violado o seu direito constitucional à intimidade, nos termos do
art. 5º, X, da Constituição Federal26. Como é cediço, o preso conserva todos os direitos não atingidos pela
perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral (art. 38 do

25
Art. 40 do CPP. Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os juízes ou tribunais verificarem a existência de crime
de ação pública, remeterão ao Ministério Público as cópias e os documentos necessários ao oferecimento da denúncia.

26
Art. 5º, X, da CF: São invioláveis a intimidade, a vida privada a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 33


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

CP). Lembre-se que em todos os crimes de abuso de autoridade o Estado figurará como sujeito passivo
mediato (indireto e permanente).

Elementos objetivos do tipo: Divulgar significa dar publicidade a gravação ou trecho de gravação
sem nexo com a prova que se pretenda produzir por qualquer veículo de comunicação. Exemplo: Delegado de
Polícia que divulga gravação de adultério cometido por alguém em procedimento investigativo instaurado para
apurar a prática de tráfico ilícito de entorpecentes.

Esse delito obtém a consumação no exato momento em que ocorre a publicidade da gravação ou trecho
dela, ainda que a pessoa que teve a sua intimidade exposta não se considere prejudicada com a ação do agente
público. Trata-se de um delito formal.

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 1 ano a 4 anos, e multa. Ante a pena mínima cominada ao delito não ser superior a
1 ano de detenção é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95).

Art. 29 da Lei nº 13.869/19. Prestar informação falsa sobre procedimento judicial, policial, fiscal ou
administrativo com o fim de prejudicar interesse de investigado:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. (VETADO).

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo será necessariamente um agente público que tem a missão de prestar informes sobre
andamento de processo judicial ou procedimento administrativo.

Sujeito passivo – É a pessoa prejudicada com essa informação falsa dada pelo agente estatal. Lembre-
se que em todos os crimes de abuso de autoridade o Estado figurará como sujeito passivo mediato (indireto
e permanente).

Elementos objetivos do tipo: Prestar informação falsa significa dar notícia que destoa da realidade
extraída de feitos judiciais ou de procedimentos policial, fiscal e administrativo.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 34


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Esse delito obtém a consumação no exato momento em que a notícia falsa é revelada, ainda que não
traga posteriormente qualquer prejuízo ao investigado. Cuida-se de um delito formal.

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve objetivar prejudicar interesse de investigado (prejudicar terceiros), tudo em sintonia
com o art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica. Inexiste a figura
culposa.

Pena: Detenção, de 6 (seis) a 2 (dois) anos, e multa. Trata-se de uma infração penal de menor potencial
ofensivo, portanto, compatível com os institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo.

Art. 30 da Lei nº 13.869/19. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou administrativa sem justa causa
fundamentada ou contra quem sabe inocente:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo será responsável pela deflagração da persecução penal ou pela instauração de
procedimento administrativo em face de alguém que sabe inocente ou sem justa causa motivada.

Sujeito passivo – É a pessoa prejudicada com essa indevida instauração da persecução penal ou do
procedimento administrativo. Lembre-se que em todos os crimes de abuso de autoridade o Estado figurará
como sujeito passivo mediato (indireto e permanente).

Elementos objetivos do tipo: Dar início/proceder significa provocar a instauração de procedimento


oficial (criminal ou administrativo), sem lastro probatório mínimo, ou em face de alguém que sabe inocente.

Esse delito obtém a consumação no instante em que ocorre a instauração da persecução penal ou do
procedimento administrativo, ainda que não traga posteriormente qualquer prejuízo ao investigado. Cuida-se
de um delito formal.

OBS: Esse artigo foi vetado pelo Presidente da República, com o seguinte fundamento: “A propositura
legislativa viola o interesse público, além de gerar insegurança jurídica, tendo em vista que põe em risco o
instituto da delação anônima (a exemplo do disque-denúncia), em contraposição ao entendimento
consolidado no âmbito da Administração Pública e do Poder Judiciário, na esteira do entendimento do
Supremo Tribunal Federal (v.g. INQ. 1.957-7/PR, Dj. 11/11/2005), de que é possível a apuração de denúncia
anônima, por intermédio de apuração preliminar, inquérito policial e demais medidas sumárias de verificação
do ilícito, e se esta revelar indícios da ocorrência do noticiado na denúncia, promover a formal instauração
da ação penal.” Contudo, o Congresso Nacional rejeitou o veto do Presidente da República. A AMB questiona
a constitucionalidade desse dispositivo legal no Supremo Tribunal Federal por meio da Ação Direta de
Inconstitucionalidade de nº 6236, enaltecendo de que o tipo penal contém expressão genérica “sem causa justa

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 35


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

causa fundamentada” e, por consequência, viola o princípio mandato certeza, fundamento jurídico do primado
da reserva legal (art. 5º, XXXIX, da Constituição Federal).

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 1 ano a 4 anos, e multa. Ante a pena mínima cominada ao delito não ser superior a
1 ano de detenção é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95).

Art. 31 da Lei nº 13.869/19. Estender injustificadamente a investigação, procrastinando-a em prejuízo


do investigado ou fiscalizado:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, inexistindo prazo para execução ou conclusão de
procedimento, o estende de forma imotivada, procrastinando-o em prejuízo do investigado ou do
fiscalizado.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo será necessariamente um agente público responsável pela etapa investigativa em
face de alguém.

Sujeito passivo – É a pessoa prejudicada com a indevido prolongamento da investigação que pesa contra
si. Lembre-se que em todos os crimes de abuso de autoridade o Estado figurará como sujeito passivo mediato
(indireto e permanente).

O tipo penal visa coibir as investigações infindáveis contra alguém, visando prejudicar o averiguado
com essa procrastinação.

Elementos objetivos do tipo: Estender significa prolongar a investigação sem ter qualquer justificativa
plausível para tanto, com o fito de causar prejuízo ao investigado com essa demora.

Esse tipo penal recebe severas críticas por ser não possível aferir de modo objetivo o prazo razoável para
encerrar um procedimento investigativo, com inegável prejuízo ao princípio da taxatividade, fundamento
jurídico do primado da reserva legal (art. 5º, XXXIX, da Constituição Federal).

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 36


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 6 (seis) a 2 (dois) anos, e multa. Trata-se de uma infração penal de menor potencial
ofensivo, portanto, compatível com os institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo.

Figura equiparada. Incorre na mesma pena quem, inexistindo prazo para execução ou conclusão de
procedimento, o estende de forma imotivada, procrastinando-o em prejuízo do investigado ou do fiscalizado.

Art. 32 da Lei nº 13.869/19. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de
investigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro procedimento
investigatório de infração penal, civil ou administrativa, assim como impedir a obtenção de cópias,
ressalvado o acesso a peças relativas a diligências em curso, ou que indiquem a realização de diligências
futuras, cujo sigilo seja imprescindível:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo será necessariamente o agente público que nega ao interessado, seu
advogado/defensor, acesso aos autos de procedimento investigatório de infração penal, civil ou administrativa,
ou impede a obtenção de cópias.

Sujeito passivo – É o investigado e/ou seu advogado que são prejudicados ao traçar a sua linha
defensiva por não ter conhecimento de todo o caderno investigativo. Repise-se que essa atitude do agente
estatal afronta o exercício da ampla defesa consagrado no art. 5º, LV, da Constituição Federal 27. Lembre-se
que em todos os crimes de abuso de autoridade o Estado figurará como sujeito passivo mediato (indireto e
permanente).

27
Art. 5º, LV, da CF: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 37


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

O tipo penal criminaliza o entendimento consagrado na súmula vinculante de nº 1428 e as prerrogativas


conferidas aos advogados nos incisos XIII e XIV, do art. 7º do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil 29.

Elementos objetivos do tipo: Negar significa recusar, obstar acesso aos autos de investigação de
infração penal, civil ou administrativa. Também configura esse delito se o agente impede (cria obstáculo) para
a obtenção de cópia dos citados procedimentos. Todavia, não há que se falar em crime se a recusa do agente
estatal recair em peças referentes a diligências em curso que apontem providências futuras, cujo sigilo
seja imprescindível. Afinal de contas, o conhecimento prévio do investigado acerca de diligências em curso
ou futuras causaria ineficácia da investigação.

Esse dispositivo legal foi vetado pelo Presidente da República, com o seguinte fundamento: A
propositura legislativa gera insegurança jurídica, pois o direito de acesso aos autos possui várias nuances e
pode ser mitigado, notadamente, em face de atos que, por sua natureza, impõem o sigilo para garantir a
eficácia da instrução criminal. Ademais, a matéria já se encontrar parametrizada pelo Supremo Tribunal
Federal, nos termos da Súmula Vinculante nº 14.” Contudo, o Congresso Nacional rejeitou esse veto do Chefe
do Poder Executivo Federal. OBS: A AMB ajuizou ADI de nº 6236 no STF questionando a constitucionalidade
desse artigo, com o argumento de violar a independência judicial (art. 95, I, II e III, e 93, IX, da CF).

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 6 (seis) a 2 (dois) anos, e multa. Trata-se de uma infração penal de menor potencial
ofensivo, portanto, compatível com os institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo.

28
Súmula vinculante 14: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao
exercício do direito de defesa.

29
XIII - examinar, em qualquer órgão dos Poderes Judiciário e Legislativo, ou da Administração Pública em geral, autos de
processos findos ou em andamento, mesmo sem procuração, quando não estiverem sujeitos a sigilo ou segredo de justiça,
assegurada a obtenção de cópias, com possibilidade de tomar apontamentos; (Redação dada pela Lei nº 13.793, de 2019)

XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de
flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar
peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245, de 2016)

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 38


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Art. 33 da Lei nº 13.869/19. Exigir informação ou cumprimento de obrigação, inclusive o dever de


fazer ou de não fazer, sem expresso amparo legal:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se utiliza de cargo ou função pública ou invoca a
condição de agente público para se eximir de obrigação legal ou para obter vantagem ou privilégio
indevido.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo será necessariamente o agente público.

Sujeito passivo: É pessoa que sofre a exigência do agente estatal para prestar alguma informação ou
cumprir alguma obrigação (de fazer ou não fazer), sem qualquer respaldo legal.

O tipo penal visa proteger o cidadão de qualquer abuso do agente estatal. Afinal de contas, nos termos
do art. 5º, II, da Constituição Federal, ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei.

Elementos objetivos do tipo: Exigir significa obrigar, impor. Na espécie, o ofendido é obrigado a fazer
algo (prestar informação ou obrigação de fazer), ou a não fazer algo, pelo agente estatal, sem qualquer
autorização legal para assim proceder.

OBS: A AMB ajuizou ADI de nº 6236 no STF questionando a constitucionalidade desse artigo, com o
argumento de violar a independência judicial (art. 95, I, II e III, e 93, IX, da CF).

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 6 (seis) a 2 (dois) anos, e multa. Trata-se de uma infração penal de menor potencial
ofensivo, portanto, compatível com os institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo.

Figura equiparada: Incorre na mesma pena quem se utiliza de cargo ou função pública ou invoca a
condição de agente público para se eximir de obrigação legal ou para obter vantagem ou privilégio indevido.
Exemplo: Promotor de Justiça que se recusa a passar por bafômetro, invocando para tanto o seu cargo público.

Art. 34 da Lei nº 13.869/19. Vetado

Art. 35 da Lei nº 13.869/19. Vetado

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 39


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Art. 36 da Lei nº 13.869/19. Decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de ativos financeiros


em quantia que extrapole exacerbadamente o valor estimado para a satisfação da dívida da parte e, ante a
demonstração, pela parte, da excessividade da medida, deixar de corrigi-la:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo é a autoridade judiciária, a quem compete decretar, em feito judicial, a
indisponibilidade de ativos financeiros.

Sujeito passivo: É pessoa que sofre uma constrição patrimonial exagerada pela autoridade judiciária.
Lembre-se que em todos os crimes de abuso de autoridade o Estado figurará como sujeito passivo mediato
(indireto e permanente).

Elementos objetivos do tipo: Decretar significa estabelecer, cumprir. Na espécie, o crime ocorre no
instante em que o magistrado, após decretar a indisponibilidade de ativos para satisfação de um débito, toma
ciência do exagero da medida quanto ao seu valor e, deliberadamente, deixa de corrigir o ato de constrição
patrimonial exacerbado.

OBS: A AMB ajuizou ADI de nº 6236 no STF questionando a constitucionalidade desse artigo, com o
argumento de que o tipo emprega expressões genéricas “extrapole exacerbadamente” e “excessividade da
medida”, ferindo o princípio da taxatividade, fundamento jurídico do primado da reserva legal (art. 5º, XXXIX,
da CF).

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 1 ano a 4 anos, e multa. Ante a pena mínima cominada ao delito não ser superior a
1 ano de detenção é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95).

Art. 37 da Lei nº 13.869/19. Demorar demasiada e injustificadamente no exame de processo de que


tenha requerido vista em órgão colegiado, com o intuito de procrastinar seu andamento ou retardar o
julgamento:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 40


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo é uma autoridade judiciária que atua em Tribunais. Atinge, portanto,
desembargadores e ministros dos Tribunais Superiores.

Sujeito passivo: É o Estado que tem sua credibilidade abalada no meio social com a demora na prestação
jurisdicional, bem como a parte prejudicada com esse retardamento injustificado do Poder Judiciário em
solucionar a lide e restabelecer a paz social.

O tipo penal visa prestigiar o direito fundamental consagrado no art. 5º, LXXVIII, da Constituição
Federal30.

Elementos objetivos do tipo: Demorar demasiada e injustificadamente significa atrasar o exame de um


processo de que tenha pedido vista dos autos para melhor examiná-los.

A crítica que se faz aqui nesse dispositivo recai justamente sobre as expressões genéricas “demasiada e
injustificadamente”, porquanto não existe lei ou ato normativo capaz de definir o que seria um exame de
processo demorado e injustificável.

OBS: A AMB ajuizou ADI de nº 6236 no STF questionando a constitucionalidade desse artigo, com o
argumento de que tal crime viola o princípio da taxatividade, fundamento jurídico do primado da reserva legal
(art. 5º, XXXIX, da Constituição Federal).

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 6 (seis) a 2 (dois) anos, e multa. Trata-se de uma infração penal de menor potencial
ofensivo, portanto, compatível com os institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo.

Art. 38 da Lei nº 13.869/19. Antecipar o responsável pelas investigações, por meio de comunicação,
inclusive rede social, atribuição de culpa, antes de concluídas as apurações e formalizada a acusação:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

30
Art. 5º, LXXVIII, da CF: “A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo
e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 41


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
Na espécie, o sujeito ativo é responsável pela etapa investigativa (autoridade policial, membro do Ministério
Público e relator de CPI).

Sujeito passivo: É o investigado que tem antecipada a sua atribuição de culpa, antes de concluídas as
investigações e formalizada a acusação, pelo agente estatal encarregado da etapa investigativa.

Esse tipo penal tem o escopo de coibir a atribuição de culpa por veículos de comunicação (internet,
impressa escrita, televisão) de alguém que sequer teve contra si deflagrada a ação penal.

Elementos objetivos do tipo: Antecipar a atribuição de culpa significa considerar alguém culpado antes
de encerrada as investigações policiais e formalizada a acusação por meio da peça acusatória
(denúncia/queixa-crime).

Elemento subjetivo: É o dolo. O tipo penal ainda reclama o especial fim de agir do agente, ou seja, a
conduta do agente deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si
ou outrem, nos termos do art. 1º, §1º, da Lei nº 13869/19. Sem essa finalidade específica, a conduta é atípica.
Inexiste a figura culposa.

Pena: Detenção, de 6 (seis) a 2 (dois) anos, e multa. Trata-se de uma infração penal de menor potencial
ofensivo, portanto, compatível com os institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 42


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Por derradeiro, é importante ainda mencionar que a nova lei de abuso de autoridade realizou um
acréscimo no Estatuto da OAB para criminalizar as prerrogativas de advogados descritas nos incisos II 31,
III32, IV33 e V34 do art. 7º, caput, com pena de detenção de 3 meses a 1 ano, e multa.

31
Art. 7º, II, do EOAB: a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de
trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da
advocacia; (Redação dada pela Lei nº 11.767, de 2008)

32
Art. 7º, III, do EOAB - comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração, quando
estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis;

33
Art. 7º IV, do EOAB - ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo ligado ao
exercício da advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade e, nos demais casos, a comunicação expressa
à seccional da OAB;

34
Art. 7º, V, do EOAB - não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala de Estado
Maior, com instalações e comodidades condignas, assim reconhecidas pela OAB, e, na sua falta, em prisão
domiciliar; (Vide ADIN 1.127-8)

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 43


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

2 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS – LEI Nº 7.716/89


Iremos abordar nesse tópico a Lei 7.716, de 05 de janeiro de 1989, diploma legal popularmente
conhecido como “Lei do Racismo”. Todavia, devemos desde já deixar bem claro que essa lei não se limita a
incriminar preconceito de raça ou de cor, mas também aborda os delitos resultantes de discriminação ou
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. É o que dispõe o art. 1º da Lei 7716/8935:

Art. 1º da Lei 7716/89: Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

OBS: Observem que essa Lei não tipificou como crime a discriminação ou preconceito em virtude de
ideologia política, por motivação filosófica ou preferência esportiva. Logo, se a discriminação ocorrer por
esses motivos, a conduta é atípica em relação aos delitos previstos na Lei 7716/89.

OBS 2: Embora a ementa dessa Lei mencione somente a definição dos crimes resultantes de
preconceitos de raça ou de cor, os tipos penais desse diploma legal envolvem raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional.

OBS 3: Esse artigo 1º da Lei 7716/89 deverá doravante sempre ser conjugado com os tipos penais
dessa lei, ou seja, as situações descritas como criminosas sempre estarão relacionadas ao preconceito e à
discriminação desses aspectos da pessoa humana (raça, cor, etnia, religião e procedência nacional).

Qual é o bem jurídico tutelado pela Lei 7716/89?

Essa lei visa proteger a dignidade da pessoa humana (princípio fundamental da República Federativa
do Brasil – art. 1º, III, da CF), assim como o direito à igualdade (art. 5º, caput, da CF)

A Constituição Federal veda esse tratamento discriminatório e visa assegurar o direito à igualdade em
inúmeros dispositivos:

Art. 1 da CF: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios
e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III – a dignidade da pessoa humana;

35
OBS: O art. 1º da Lei 7716/89 sofreu alteração legislativa pela Lei 9459/97 para abarcar também os crimes resultantes de
discriminação ou preconceito de etnia, religião ou procedência nacional. A redação original limitava-se aos crimes decorrentes
de discriminação ou preconceito de raça ou de cor.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 44


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Art. 3º da CF: Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, cor, idade e quais outras formas de
discriminação;
4º da CF: A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes
princípios: VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo;

Importante regra constitucional encontra-se estampada no art. 5º, XLII, dispositivo que, em razão da
gravidade do delito, entendeu não admitir fiança e nem a incidência do instituto da prescrição ao delito de
racismo, possibilitando ao Estado a qualquer momento exercer o jus puniendi em face do autor da prática
ilícita. Eis a redação do art. 5º, XLII, da CF:

Art. 5º, XLIII, da CF: a prática de racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei.

Questão: Qual é o alcance da expressão “racismo” contido no dispositivo constitucional?

A inafiançabilidade e a imprescritibilidade diz respeito tão somente aos crimes em decorrência


da raça, não podendo essa vedação constitucional abarcar outras formas de discriminação, sob
pena de restar configurada a indevida analogia in mallam partem.

OBS: O Texto Constitucional está afinado com a Declaração Universal dos Direitos do Homem e com
a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de discriminação racial.

Para melhor compreender essa Lei, devemos conceituar racismo, preconceito, discriminação, raça,
cor, etnia, religião e procedência nacional.

Racismo – é a teoria de que certos povos são considerados superiores a outros em virtude de suas
qualidades psíquicas e biológicas. O racismo para a subsunção aos tipos penais descritos na Lei nº 7716/89
não se exaure a um conceito estritamente biológico. Ao revés, o racismo também abrange uma dimensão social
para englobar situações de agressão injusta resultante de discriminação ou preconceito contra pessoas em
virtude de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero.

Preconceito – ocorre quando há uma opinião ou um juízo antecipado sobre uma pessoa sem antes ter
elementos adequados e suficientes para a formação de um conceito. É uma opinião que a pessoa já traz consigo,
de forma antecipada. O termo preconceito advém do latim praejudicium. Prae quer dizer anterior e judicium
julgamento. É um julgamento anterior (antecipado). O preconceito caracteriza por ser estático, ou seja, o
agente não realiza nenhum ato que coloque em prática esses conceitos preconcebidos.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 45


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Discriminação – é uma atitude dinâmica de realização de separação ou de segregação, traduzindo a


concretização do preconceito. A discriminação pode ser negativa ou positiva 36 (ações afirmativas. Exemplo:
Cotas nas universidades). A conduta criminosa recai sobre a discriminação negativa.

Raça – é um conjunto de indivíduos com características semelhantes (cor da pele, estrutura, forma
física, etc.) e que se transferem por hereditariedade. É um conceito biológico.

Etnia –é um conjunto de indivíduos identificados por dados culturais, psicológicos ou políticos. É um


conceito cultural.

No entanto, o Supremo Tribunal Federal nos autos do HC 82424/03 entendeu que raça e etnia seriam
expressões sinônimas. Por esse julgado não haveria diferenciações de raça em sentido estrito. Vejamos.

HABEAS-CORPUS. PUBLICAÇÃO DE LIVROS: ANTI-


SEMITISMO. RACISMO. CRIME IMPRESCRITÍVEL.
CONCEITUAÇÃO. ABRANGÊNCIA CONSTITUCIONAL.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO. LIMITES. ORDEM
DENEGADA.

1. Escrever, editar, divulgar e comerciar livros "fazendo apologia de ideias preconceituosas e discriminatórias"
contra a comunidade judaica (Lei 7716/89, artigo 20, na redação dada pela Lei 8081/90) constitui crime de
racismo sujeito às cláusulas de inafiançabilidade e imprescritibilidade (CF, artigo 5º, XLII).

2. Aplicação do princípio da prescritibilidade geral dos crimes: se os judeus não são uma raça, segue-se que
contra eles não pode haver discriminação capaz de ensejar a exceção constitucional de imprescritibilidade.
Inconsistência da premissa.

3. Raça humana. Subdivisão. Inexistência. Com a definição e o mapeamento do genoma humano,


cientificamente não existem distinções entre os homens, seja pela segmentação da pele, formato dos olhos,
altura, pêlos ou por quaisquer outras características físicas, visto que todos se qualificam como espécie
humana. Não há diferenças biológicas entre os seres humanos. Na essência são todos iguais.

4. Raça e racismo. A divisão dos seres humanos em raças resulta de um processo de conteúdo meramente
político-social. Desse pressuposto origina-se o racismo que, por sua vez, gera a discriminação e o preconceito
segregacionista.

36
A discriminação positiva não é criminosa, pois visa atingir a efetividade da igualdade entre as pessoas, ou seja, determinada
pessoa receberá um tratamento desigual para alcançar a igualdade material.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 46


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

5. Fundamento do núcleo do pensamento do nacional-socialismo de que os judeus e os arianos formam raças


distintas. Os primeiros seriam raça inferior, nefasta e infecta, características suficientes para justificar a
segregação e o extermínio: inconciabilidade com os padrões éticos e morais definidos na Carta Política do
Brasil e do mundo contemporâneo, sob os quais se ergue e se harmoniza o estado democrático. Estigmas que
por si só evidenciam crime de racismo. Concepção atentatória dos princípios nos quais se erige e se organiza
a sociedade humana, baseada na respeitabilidade e dignidade do ser humano e de sua pacífica convivência no
meio social. Condutas e evocações aéticas e imorais que implicam repulsiva ação estatal por se revestirem de
densa intolerabilidade, de sorte a afrontar o ordenamento infraconstitucional e constitucional do País.

6. Adesão do Brasil a tratados e acordos multilaterais, que energicamente repudiam quaisquer discriminações
raciais, aí compreendidas as distinções entre os homens por restrições ou preferências oriundas de raça, cor,
credo, descendência ou origem nacional ou étnica, inspiradas na pretensa superioridade de um povo sobre
outro, de que são exemplos a xenofobia, "negrofobia", "islamafobia" e o anti-semitismo.

7. A Constituição Federal de 1988 impôs aos agentes de delitos dessa natureza, pela gravidade e repulsividade
da ofensa, a cláusula de imprescritibilidade, para que fique, ad perpetuam rei memoriam, verberado o repúdio
e a abjeção da sociedade nacional à sua prática.

8. Racismo. Abrangência. Compatibilização dos conceitos etimológicos, etnológicos, sociológicos,


antropológicos ou biológicos, de modo a construir a definição jurídico-constitucional do termo. Interpretação
teleológica e sistêmica da Constituição Federal, conjugando fatores e circunstâncias históricas, políticas e
sociais que regeram sua formação e aplicação, a fim de obter-se o real sentido e alcance da norma.

9. Direito comparado. A exemplo do Brasil as legislações de países organizados sob a égide do estado moderno
de direito democrático igualmente adotam em seu ordenamento legal punições para delitos que estimulem e
propaguem segregação racial. Manifestações da Suprema Corte Norte-Americana, da Câmara dos Lordes da
Inglaterra e da Corte de Apelação da Califórnia nos Estados Unidos que consagraram entendimento que
aplicam sanções àqueles que transgridem as regras de boa convivência social com grupos humanos que
simbolizem a prática de racismo.

10. A edição e publicação de obras escritas veiculando idéias anti-semitas, que buscam resgatar e dar
credibilidade à concepção racial definida pelo regime nazista, negadoras e subversoras de fatos históricos
incontroversos como o holocausto, consubstanciadas na pretensa inferioridade e desqualificação do povo
judeu, equivalem à incitação ao discrímen com acentuado conteúdo racista, reforçadas pelas conseqüências
históricas dos atos em que se baseiam.

11. Explícita conduta do agente responsável pelo agravo revelador de manifesto dolo, baseada
na equivocada premissa de que os judeus não só são uma raça, mas, mais do que isso, um
segmento racial atávica e geneticamente menor e pernicioso.

12. Discriminação que, no caso, se evidencia como deliberada e dirigida especificamente aos
judeus, que configura ato ilícito de prática de racismo, com as conseqüências gravosas que o
acompanham.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 47


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

13. Liberdade de expressão. Garantia constitucional que não se tem como absoluta. Limites morais e jurídicos.
O direito à livre expressão não pode abrigar, em sua abrangência, manifestações de conteúdo imoral que
implicam ilicitude penal.

14. As liberdades públicas não são incondicionais, por isso devem ser exercidas de maneira harmônica,
observados os limites definidos na própria Constituição Federal (CF, artigo 5º, § 2º, primeira parte). O preceito
fundamental de liberdade de expressão não consagra o "direito à incitação ao racismo", dado que um direito
individual não pode constituir-se em salvaguarda de condutas ilícitas, como sucede com os delitos contra a
honra. Prevalência dos princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica.

15. "Existe um nexo estreito entre a imprescritibilidade, este tempo jurídico que se escoa sem encontrar termo,
e a memória, apelo do passado à disposição dos vivos, triunfo da lembrança sobre o esquecimento". No estado
de direito democrático devem ser intransigentemente respeitados os princípios que garantem a prevalência dos
direitos humanos. Jamais podem se apagar da memória dos povos que se pretendam justos os atos repulsivos
do passado que permitiram e incentivaram o ódio entre iguais por motivos raciais de torpeza inominável.

16. A ausência de prescrição nos crimes de racismo justifica-se como alerta grave para as gerações de hoje e
de amanhã, para que se impeça a reinstauração de velhos e ultrapassados conceitos que a consciência jurídica
e histórica não mais admitem. Ordem denegada. (HC 82424, Relator: Min. MOREIRA ALVES, Relator p/
Acórdão: Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 17/09/2003)

Cor – é o colorido da pele, ou seja, a tonalidade da pele.

Religião – é qualquer doutrina que cultua a existência de uma força superior ou sobrenatural.

Procedência nacional – diz respeito ao elemento identificador da origem da pessoa.

Questão: Por qual delito responde o agente que, em razão da discriminação racial ou religiosa, causa
a outrem sofrimento físico ou mental mediante violência (física ou moral)?

Em decorrência do princípio da especialidade, o agente responderá pelo delito de tortura, nos exatos
termos do art. 1º da Lei 9455/97: Art. 1º Constitui crime de tortura: I – constranger alguém com emprego de
violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: c) em razão de discriminação racial
ou religiosa. Para ficar claro, se o dolo do agente for de causar sofrimento físico ou mental, por meio de
violência física ou grave ameaça, tendo como motivação a discriminação racial ou religiosa, o delito será de
tortura-discriminação (tortura preconceituosa).

Os tipos penais da Lei nº 7.716/89 são marcados por um especial fim de agir, qual seja, de
discriminação de alguém em razão de raça, cor, etnia, religião e procedência nacional. Se
ausente especial fim de agir (dolo específico), a conduta é atípica. Exemplo: Brincadeira entre
amigos onde resta evidente o animus jocandi entre eles.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 48


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

OBS: A Lei nº 7437/85 enumera outras formas de discriminação em razão de raça, cor, sexo, ou estado
civil, que constituem contravenções penais. Ocorre que no concernente à discriminação em virtude de
raça e cor, os tipos penais da Lei nº 7437/85 foram derrogados pela Lei 7716/89. Vale dizer, a Lei 7437/85
continua em vigor quando a discriminação ocorrer em razão de sexo ou estado civil.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 49


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

3 - RACISMO ENVOLVENDO ATOS HOMOFÓBICOS E


TRANSFÓBICOS

De fato, a Lei nº 7.716/89 não prevê expressamente qualquer manifestação preconceituosa referente à
orientação sexual como ato de racismo. Tanto assim o é que o Supremo Tribunal Federal, nos autos do
Inquérito de nº 3590/DF, firmou orientação no sentido de que o rol de elementos de preconceito e
discriminação mencionados no art. 20 da Lei nº 7.716/89 era taxativo.

Em que pese a necessidade de melhor resguardar a população LGBT, o Congresso Nacional sempre
demonstrou uma enorme recalcitrância em tratar dessas condutas homofóbicas e transfóbicas na esfera
penal.

Diante dessa resistência, a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros) impetrou
mandado de injunção37 no Supremo Tribunal Federal no ano de 2012 com o escopo de ver reconhecidas as
condutas homofóbicas e transfóbicas como formas de racismo ou, de forma subsidiária, que tais atos fossem
considerados como discriminações atentatórias a direitos e garantias fundamentais (MI 4733/DF). O
argumento para tanto era de que havia uma mora inconstitucional do Congresso Nacional em tratar a
homofobia e a transfobia no aspecto penal, invocando o não cumprimento dos mandados de criminalização
descritos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição Federal.

Art. 5º da Constituição Federal:

XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;

XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos
termos da lei;

Transcorrido um ano, o Partido Popular Socialista (PPS) ajuizou ação direta de inconstitucionalidade
por omissão38 (ADO nº 26/DF) no Supremo Tribunal Federal com o propósito de ver declarada a omissão do
Congresso Nacional em aprovar lei que incrimina atos de homofobia e transfobia, com fundamento nos

37
Mandado de injunção é uma ação constitucional que visa combater a morosidade do Poder Público no desempenho de sua
função legislativa para viabilizar o exercício concreto de direitos, liberdades ou prerrogativas constitucionalmente previstas.

38
Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão é uma espécie de ação do controle concentrado de constitucionalidade
que tem por objetivo comunicar o Poder competente da mora legislativa na regulamentação de norma constitucional de eficácia
limitada, inércia que inviabiliza o exercício de direitos consagrados na Constituição Federal, conforme determina o art. 103,
§2º, da Constituição Federal.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 50


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

mandados de criminalização delineados nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição Federal. O
Supremo Tribunal Federal julgou essas 2 ações na data de 13 de junho de 2019, fixando as seguintes premissas:

1. Até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a implementar os mandados de
criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição da República, as condutas
homofóbicas e transfóbicas, reais ou supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à
identidade de gênero de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este em sua dimensão
social, ajustam-se, por identidade de razão e mediante adequação típica, aos preceitos primários de
incriminação definidos na Lei nº 7.716, de 08.01.1989, constituindo, também, na hipótese de homicídio doloso,
circunstância que o qualifica, por configurar motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”);

2. A repressão penal à prática da homotransfobia não alcança nem restringe ou limita o exercício da liberdade
religiosa, qualquer que seja a denominação confessional professada, a cujos fiéis e ministros (sacerdotes,
pastores, rabinos, mulás ou clérigos muçulmanos e líderes ou celebrantes das religiões afro-brasileiras, entre
outros) é assegurado o direito de pregar e de divulgar, livremente, pela palavra, pela imagem ou por qualquer
outro meio, o seu pensamento e de externar suas convicções de acordo com o que se contiver em seus livros e
códigos sagrados, bem assim o de ensinar segundo sua orientação doutrinária e/ou teológica, podendo buscar
e conquistar prosélitos e praticar os atos de culto e respectiva liturgia, independentemente do espaço, público
ou privado, de sua atuação individual ou coletiva, desde que tais manifestações não configurem discurso de
ódio, assim entendidas aquelas exteriorizações que incitem a discriminação, a hostilidade ou a violência contra
pessoas em razão de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero;

3. O conceito de racismo, compreendido em sua dimensão social, projeta-se para além de aspectos estritamente
biológicos ou fenotípicos, pois resulta, enquanto manifestação de poder, de uma construção de índole
histórico-cultural motivada pelo objetivo de justificar a desigualdade e destinada ao controle ideológico, à
dominação política, à subjugação social e à negação da alteridade, da dignidade e da humanidade daqueles
que, por integrarem grupo vulnerável (LGBTI+) e por não pertencerem ao estamento que detém posição de
hegemonia em uma dada estrutura social, são considerados estranhos e diferentes, degradados à condição de
marginais do ordenamento jurídico, expostos, em consequência de odiosa inferiorização e de perversa
estigmatização, a uma injusta e lesiva situação de exclusão do sistema geral de proteção do direito. STF.
Plenário. ADO 26/DF, Rel. Min. Celso de Mello; MI 4733/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em em
13/6/2019 (Informativo 944 do STF).

Questão: A decisão do STF que determina a aplicação da Lei nº 7716/89 às condutas homofóbicas e
transfóbicas não configura analogia in malam partem?

A resposta é negativa e foi muito bem enfrentada pelo Min. Celso de Melo em seu voto na ADO 26:

A solução propugnada não sugere a aplicação analógica das normas penais previstas na Lei
7716/1989 nem implica a formulação de tipos criminais ou cominações de sanções penais.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 51


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

É certo que, considerando o princípio constitucional da reserva absoluta de lei formal, o tema
pertinente à definição de tipo penal e à cominação de sanção penal subsume-se ao âmbito das normas de
direito material, de natureza eminentemente penal, regendo-se, em consequência, pelo postulado da reserva
do parlamento.

Assim, inviável, em controle abstrato de constitucionalidade, colmatar, mediante decisão desta Corte
Suprema, a omissão denunciada pelo autor da ação direta, procedendo-se à tipificação penal de condutas
atentatórias aos direitos e liberdades fundamentais dos integrantes da comunidade LGBT.

Na verdade, a solução ora proposta limita-se à mera subsunção de condutas homotransfóbicas aos
diversos preceitos primários de incriminação definidos em legislação penal já existente (Lei 7.716/89), pois
os atos de homofobia e de transfobia constituem concretas manifestação de racismo, compreendido em sua
dimensão social, ou seja, o denominado racismo social.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 52


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

4 – CRIMES DA LEI 7.716/89

Art. 3º da Lei 7716/89: Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo
da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos.

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça, cor etnia, religião
ou procedência nacional, obstar a promoção funcional (Inserido pela Lei nº 12288/2010)

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
No caso, o agente tem que ser funcionário público com atribuição para a admissão da pessoa habilitada à
ocupação do cargo público.

Sujeito passivo – É a pessoa que sofre a discriminação.

Elemento objetivo: Impedir tem o sentido de proibir, de não permitir ou de obstruir. Obstar é criar
dificuldade.

Estamos diante de um tipo penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado).
Assim, se o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto fático, em
homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito.

OBS: Administração Direta deve ser compreendida como as pessoas jurídicas de direito público interno.
Exemplo: União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Já a Administração Indireta diz respeito às
autarquias, empresas públicas, sociedade de economia mista e fundações. Por fim, concessionárias de serviços
públicos são as pessoas jurídicas de direito privado que exercem atividades de interesse público por delegação
do Poder Estatal. Tal concessão é feita mediante contrato administrativo.

Para configuração desse delito é indispensável que a pessoa discriminada reúna todos os requisitos
previstos para exercer o cargo. Vale dizer, a pessoa discriminada está apta para exercer o mister, porém o
impedimento ou o óbice advém unicamente da motivação discriminatória (raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional).

Questão: Qual é o alcance da expressão cargo público?

Em decorrência do princípio da legalidade, depreende-se que a expressão cargo público deve ser
interpretado em sentido estrito, ou seja, não abrange emprego ou função pública. Em outras palavras, o fato
será atípico em relação a esse delito se o impedimento ou o óbice ao acesso de alguém a emprego ou função
público se der por motivação discriminatória.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 53


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Consumação. O crime se aperfeiçoa com a prática de impedimento ou obstáculo criado ao pretendente


ao acesso a cargo na Administração Pública (Direta ou Indireta) ou em concessionárias. Cuida-se de delito
formal. Isso significa dizer que mesmo que o pretendente consiga posteriormente ocupar esse cargo por
decisão judicial, o delito estará consumado.

Elemento subjetivo: É o dolo. Não existe a forma culposa.

Pena: Reclusão, de 2 anos a 5 anos. Não é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº
9099/95).

Figura equiparada. De acordo com o art. 3º, § único, da Lei 7716/89, configura figura equiparada
quem , movido por discriminação (racial, religiosa, etnia, procedência nacional, cor) obstar a promoção
funcional. Nessa situação, a pessoa discriminada já é integrante da Administração Pública (Direta ou
Indireta) ou de concessionária de serviço público, porém a sua ascensão funcional é impedida por motivação
discriminatória (racial, religiosa, cor, procedência nacional e etnia).

OBS: No art. 3º, caput, da Lei 7716/89, a pessoa discriminada ainda não faz parte da estrutura da
Administração Pública (Direta ou Indireta) ou da concessionária de serviço público.

OBS 2: Se o agente impedir ou obstar o acesso de pessoa devidamente habilitada a qualquer cargo da
Administração (Direta ou Indireta) ou concessão de serviço público, por discriminação em razão da idade, o
crime será do art. 100, I, da Lei 10741/03 (Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um)
ano e multa: I – obstar o acesso a qualquer cargo público por motivo de idade).
Art. 4º da Lei 7716/89: Negar ou obstar emprego em empresa privada.

§1º Incorre na mesma pena que, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes
do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica (Incluído pela Lei 12.288, de 2010):

I – deixar de conceder os equipamentos necessários ao emprego em igualdade de condições com os


demais trabalhadores (Incluído pela Lei 12.288, de 2010);

II – impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício profissional; (Incluído
pela Lei nº 12.288, de 2010)

III – proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, especialmente


quanto ao salário.

§2º Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade, incluindo atividades de
promoção da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento de
trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não
justifiquem essas exigências. (Incluído pela Lei nº 12288, de 2010).

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 54


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Sujeito ativo: Trata-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
No caso, o agente tem que ser funcionário público com atribuição de administrador da pessoa jurídica ou com
o papel de admitir os empregados na sociedade.

Sujeito passivo – É a pessoa que sofre a discriminação.

Elemento objetivo: Negar tem o sentido de não admitir. Obstar é criar dificuldade.

Estamos diante de um tipo penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado).
Assim, se o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto fático, em
homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito.

OBS: Emprego deve ser compreendido como qualquer modalidade de trabalho, ainda que se trate de
estágio por prazo determinado.

Consumação. O crime se aperfeiçoa com a criação de obstáculo ou impedimento criado ao pretendente


ao emprego na empresa privada. Cuida-se de delito formal.

Elemento subjetivo: É o dolo. Não existe a forma culposa.

Pena: Reclusão, de 2 anos a 5 anos. Não é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº
9099/95).

OBS: Se o agente negar ou obstar emprego em empresa privada por discriminação em razão da idade,
o crime será do art. 100, II, da Lei 10741/03 [Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um)
ano e multa: II – negar alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho]

Figuras equiparadas. Há 3 figuras equiparadas: a) Deixar de conceder os equipamentos necessários


ao empregado em igualdade de condições com os demais trabalhadores; b) impedir a ascensão funcional do
empregado ou obstar outra forma de benefício profissional; c) proporcionar ao empregado tratamento
diferenciado no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário;

Art. 5º da Lei 7716/89: Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir,
atender ou receber cliente ou comprador:

Pena: reclusão de um a três anos.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
No caso, o agente tem que ser o administrador ou proprietário do estabelecimento empresarial.

Sujeito passivo – É a pessoa que sofre a discriminação.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 55


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Elemento objetivo: Recusar tem o sentido de não aceitar. Impedir é proibir.

Estamos diante de um tipo penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado).
Assim, se o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto fático, em
homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito.

Consumação. O crime se aperfeiçoa com a prática de impedimento ou da recusa de acesso ao


estabelecimento comercial, negando-se receber, atender ou server cliente ou comprador.

Elemento subjetivo: É o dolo. Não existe a forma culposa.

Pena: Reclusão, de 1 ano a 3 anos. É possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº
9099/95), porquanto a pena mínima não é superior a 1 ano.

Art. 6º da Lei 7716/89: Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento
de ensino público ou privado de qualquer grau.

Pena: reclusão de 3 (três) a 5 (cinco) anos.

Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um
terço).

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito
ativo. No caso, o agente tem a atribuição para efetivar a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de
ensino público ou privado de qualquer grau.

Sujeito passivo – É a pessoa que sofre a discriminação.

Elemento objetivo: Recusar tem o sentido de não aceitar. Negar é rejeitar Impedir é proibir. Reparem
que as condutas do tipo penal apresentam o mesmo significado.

Estamos diante de um tipo penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado).
Assim, se o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto fático, em
homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito.

Consumação. O crime se aperfeiçoa com a prática do impedimento, da recusa ou da negativa de


inscrição ou ingresso do aluno no estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau. É delito
formal.

Elemento subjetivo: É o dolo. Não existe a forma culposa.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 56


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Pena: Reclusão, de 3 anos a 5 anos. Não é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº
9099/95), porquanto a pena mínima é superior a 1 ano.

Causa de aumento da pena: Em virtude da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, o


legislador previu a causa de aumento de 1/3 se o delito for cometido contra menor de dezoito anos.

Art. 7º da Lei 7716/89: Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou
qualquer estabelecimento similar:

Pena: reclusão de 3 (três) a 5 (cinco) anos.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito
ativo. No caso, o agente deve ser o administrador ou o dono do hotel, pensão ou estalagem.

Sujeito passivo – É a pessoa que sofre a discriminação.

Elemento objetivo: Recusar tem o sentido de não aceitar. Impedir é proibir.

Estamos diante de um tipo penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado).
Assim, se o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto fático, em
homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito.

Nesse tipo penal observamos que o legislador se valeu da interpretação analógica


(interpretação intra legem) ao empregar as expressões “ou qualquer estabelecimento
similar”, ou seja, além de hotel, pensão e estalagem, o tipo penal também abrange locais
similares a esses lugares. Exemplos: Pousada, albergue, etc.

Consumação. O crime se aperfeiçoa com a prática do impedimento de acesso ou recusa de hospedagem


à pessoa que sofre a discriminação. É delito formal.

Elemento subjetivo: É o dolo. Não existe a forma culposa.

Pena: Reclusão, de 3 anos a 5 anos. Não é possível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº
9099/95), porquanto a pena mínima é superior a 1 ano.

Art. 8º da Lei 7716/89: Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias,
ou locais semelhantes abertos ao público:

Pena - reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 57


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito
ativo. No caso, o agente deve ser o administrador ou o dono do restaurante, bares, confeitarias.

Sujeito passivo – É a pessoa que sofre a discriminação.

Elemento objetivo: Recusar tem o sentido de não aceitar. Impedir é proibir.

Estamos diante de um tipo penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado).
Assim, se o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto fático, em
homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito.

Nesse tipo penal observamos que o legislador se valeu da interpretação analógica


(interpretação intra legem) ao empregar as expressões “ou locais semelhantes abertos ao
público”, ou seja, além de restaurantes, bares e confeitarias, o tipo penal também abrange
locais similares a esses lugares. Exemplo: Food truck.

Consumação. O crime se aperfeiçoa com a prática do impedimento de acesso ou recusa de atendimento


à pessoa discriminada em restaurantes, bares, confeitarias ou locais semelhantes abertos ao público. É delito
formal.

Elemento subjetivo: É o dolo. Não existe a forma culposa.

Pena: Reclusão, de 1 ano a 3 anos. É cabível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95),
porquanto a pena mínima é superior a 1 ano.

Art. 9º da Lei 7716/89: Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas
de diversão, ou clubes sociais abertos ao público:

Pena - reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
No caso, o agente deve ser o administrador ou o dono do estabelecimento esportivo (academia, escola de
natação, etc), casas de diversão e clubes sociais abertos ao público.

Sujeito passivo – É a pessoa que sofre a discriminação.

Elemento objetivo: Recusar tem o sentido de não aceitar. Impedir é proibir.

Estamos diante de um tipo penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado).
Assim, se o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto fático, em
homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 58


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Consumação. O crime se aperfeiçoa com a prática do impedimento de acesso ou recusa de atendimento


à pessoa discriminada em estabelecimentos esportivos, casas de diversões ou clubes sociais abertos ao público.
É delito formal.

Elemento subjetivo: É o dolo. Não existe a forma culposa.

Pena: Reclusão, de 1 ano a 3 anos. É cabível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95),
porquanto a pena mínima é superior a 1 ano.

Art. 10 da Lei 7716/89: Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, barbearias,
termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades.

Pena - reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
No caso, o agente deve ser o administrador ou o dono do salão de cabeleireiros, casas de massagem, termas
(ex: sauna) ou estabelecimentos com as mesmas finalidades.

Sujeito passivo – É a pessoa que sofre a discriminação.

Elemento objetivo: Recusar tem o sentido de não aceitar. Impedir é proibir.

Estamos diante de um tipo penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado).
Assim, se o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto fático, em
homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito.

Nesse tipo penal observamos que o legislador se valeu da interpretação analógica


(interpretação intra legem) ao empregar as expressões “ou estabelecimentos com a mesma
finalidade”, ou seja, além de salão de cabeleireiros, barbearias, termas, casa de massagem, o
tipo penal também engloba locais similares a esses lugares. Exemplo: Locais onde se exerce
a acunputura.

Consumação. O crime se aperfeiçoa com a prática do impedimento de acesso ou recusa de atendimento


à pessoa discriminada em salão de cabeleireiros, barbearias, termas, casa de massagem ou estabelecimento
com as mesmas finalidades.

Elemento subjetivo: É o dolo. Não existe a forma culposa.

Pena: Reclusão, de 1 ano a 3 anos. É cabível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95),
porquanto a pena mínima é superior a 1 ano.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 59


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Art. 11 da Lei 7716/89: Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e
elevadores ou escada de acesso aos mesmos:

Pena - reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito
ativo. No caso, o agente deve ter atribuição para permitir que alguém ingresse em entradas sociais, elevadores
ou escadas de edifícios. Exemplos: Síndico, porteiro, segurança, etc.

Sujeito passivo – É a pessoa que sofre a discriminação.

Elemento objetivo: Impedir é proibir, vedar o acesso aos locais descritos no tipo penal.

Consumação. O crime se aperfeiçoa com a prática do impedimento de acesso à pessoa discriminada em


entradas sociais, edifícios (públicos ou residenciais) e elevadores ou escada de acesso aos mesmos.

Elemento subjetivo: É o dolo. Não existe a forma culposa.

Pena: Reclusão, de 1 ano a 3 anos. É cabível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95),
porquanto a pena mínima é superior a 1 ano.

Art. 12 da Lei 7716/89: Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas,
barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte conhecido.

Pena - reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
No caso, o agente deve ter o papel de controlar o uso ou o acesso das pessoas aos meios de transporte.

Sujeito passivo – É a pessoa que sofre a discriminação.

Elemento objetivo: Impedir é proibir.

Nesse tipo penal observamos que o legislador se valeu da interpretação analógica


(interpretação intra legem) ao empregar as expressões “ou qualquer outro meio de
transporte concedido”, ou seja, além de aviões, navios barcas, barcos, ônibus, trens,
metrô, o tipo penal também abrange outros meios de transporte. Exemplos: Táxi, Fura-
Fila, etc.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 60


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Consumação. O crime se aperfeiçoa com a prática do impedimento de acesso ou uso aos meios de
transportes descritos no tipo penal.

Elemento subjetivo: É o dolo. Não existe a forma culposa.

Pena: Reclusão, de 1 ano a 3 anos. É cabível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº 9099/95),
porquanto a pena mínima é superior a 1 ano.

OBS: Se o agente impedir o acesso ou uso dos meios de transporte público, de pessoa idosa, por
discriminação em razão da idade, o crime será do art. 96 da Lei 10741/03 (Discriminar pessoa idosa,
impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar
ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade: Pena
– reclusão de 6 (seis) meses a 1(um) ano e multa).

Art. 13 da Lei 7.716/89: Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças
Armadas.

Pena - reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o tipo penal exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
No caso, o agente deve tem a incumbência de admitir pessoas nas Forças Armadas (Marinha, Exército e
Aeronáutica).

Sujeito passivo – É a pessoa que sofre a discriminação.

Elemento objetivo: Impedir é proibir. Obstar é criar dificuldade, embaraço para o acesso de alguém nas
Forças Armadas.

Estamos diante de um tipo penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado).
Assim, se o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto fático, em
homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito.

Consumação. O crime se aperfeiçoa com a prática do impedimento de acesso ou com a criação de


obstáculo à pessoa discriminada para ingressar nas Forças Armadas.

Elemento subjetivo: É o dolo. Não existe a forma culposa.

Pena: Reclusão, de 2 anos a 4 anos. É cabível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº
9099/95), porquanto a pena mínima é superior a 1 ano.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 61


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Art. 14 da Lei 7716/89: Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência
familiar e social.

Pena - reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum, isto é, pode ser cometido por qualquer pessoal.

Sujeito passivo – É a pessoa que sofre a discriminação.

Elemento objetivo: Impedir é proibir. Obstar é criar dificuldade, obstáculo.

Estamos diante de um tipo penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado).
Assim, se o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto fático, em
homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito.

Consumação. O crime se aperfeiçoa com a prática do impedimento de acesso ou com a criação de


obstáculo à pessoa discriminada que almeja o casamento ou a convivência familiar ou social. Cuida-se de
delito formal. Vale dizer, esse crime estará consumado ainda que a pessoa discriminada consiga
posteriormente o casamento ou a convivência familiar ou social por qualquer meio.

Elemento subjetivo: É o dolo. Não existe a forma culposa.

Pena: Reclusão, de 2 anos a 4 anos. É cabível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei nº
9099/95), porquanto a pena mínima é superior a 1 ano.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 62


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

5 – EFEITOS DA CONDENAÇÃO - LEI 7.716/89

Art. 15. Vetado.

Art. 16 da Lei 7716/89: Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o
servidor público, e a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior
a três meses.

Art. 17. Vetado.

Art. 18 da Lei 7716/89: Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são automáticos, devendo
ser motivadamente declarados na sentença.

A Lei nº 7.716/89 estabeleceu 2 efeitos da condenação, quais sejam, perda do cargo ou função
pública para o servidor público e a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por
prazo não superior a 3 meses.

Primeiramente há de se pontuar que esse efeito da condenação somente é aplicável após o trânsito
em julgado da sentença penal condenatória, tudo em harmonia com o princípio constitucional da presunção
de inocência (art. 5º, LVII, da CF39).

Enquanto no Código Penal40 foi estabelecido um quantum da pena privativa de liberdade para
a imposição da perda do cargo ou função pública, na Lei 7716/89 não foi estabelecido

39
Art. 5º, LVII, da CF: Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

40
Art. 92 do CP: São também efeitos da condenação:

I – a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 63


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

qualquer quantum da pena privativa de liberdade para a imposição do referido efeito secundário da
condenação.

Chamo a atenção de vocês para destacar que a suspensão do funcionamento do estabelecimento


particular tem o prazo máximo de 3 meses de duração. Isso significa dizer que o juiz pode fixar prazo inferior,
tendo como limite máximo o tempo de 3 meses. No momento de estabelecer esse limite temporal, o magistrado
deve levar em conta os princípios da razoabilidade e da preservação da empresa, de forma tal efeito
secundário da pena não acarrete na falência da sociedade empresária.

Por oportuno, lembre-se que esses efeitos secundários da condenação não são automáticos, isto é,
devem ser declarados expressamente na sentença. Logo, inexistindo menção expressa no ato sentencial não há
que se falar nesses efeitos.

(CESPE/Juiz de Direito da Paraíba/2015) A perda do cargo ou função pública pelo


servidor público está prevista como efeito da condenação por crimes resultantes de
preconceito de raça ou de cor, no entanto, para que isso ocorra, deve o juiz declará-
lo motivadamente na sentença.

Comentário: O item está correto. De acordo com o art. 18 da Lei nº 7716/89, os efeitos da condenação
citados na referida lei (perda do cargo ou função pública para o servidor/suspensão do funcionamento do
estabelecimento particular por prazo não superior a três meses) não são automáticos, ou seja, devem constar
de forma expressa na sentença.

a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de
poder ou violação de dever para com a administração pública;

b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos;

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 64


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

6 – CRIME DO ART. 20 DA LEI 7716/89

Art. 20 da Lei 7716/89: Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor,
etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97).

Pena: reclusão de um a três anos e multa.(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou


propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. (Redação dada
pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social
ou publicação de qualquer natureza: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido
deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de
15/05/97)

I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;(Incluído pela


Lei nº 9.459, de 15/05/97)

II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por


qualquer meio; (Redação dada pela Lei nº 12.735, de 2012) (Vigência)

III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de


computadores. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)

§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição
do material apreendido. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa, não exigindo
o tipo penal qualquer qualidade especial do sujeito ativo.

Sujeito passivo – É a pessoa que sofre a discriminação.

Elemento objetivo: Praticar tem o sentido de executar. É certo que nos demais tipos penais contidos
na Lei 7716/89, o agente também pratica a discriminação. O que diferenciará esses delitos será o local do
delito ou o modus operandi. Assim, essa conduta típica (praticar) deve ser adotada de forma subsidiária, ou

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 65


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

seja, o que não se enquadrar nas infrações penais anteriores, deve ser catalogada no art. 20 da Lei 7716/89.
Induzir é incutir o ideal discriminatório em alguém. Incitar é reforçar o propósito discriminatório a alguém,
ou seja, é instigar.

Repare que essa participação moral (induzir e instigar) foi erigida como conduta criminosa
autônoma pela Lei 7716/89. Vamos exemplificar para melhor compreender essa questão.

Exemplo: João induz Pedro a impedir o acesso de Antônio num estabelecimento comercial em
decorrência de discriminação resultante de religião. É certo que Pedro responderá pelo art. 5º da Lei 7716/89
e João não figurará como partícipe pelo crime do art. 5º da Lei 7716/89, mas sim pelo crime autônomo do art.
20 da Lei 7716/89.

Estamos diante de um tipo penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado).
Assim, se o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto fático, em
homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito.

Consumação. O crime se aperfeiçoa com a prática, o induzimento ou a incitação da discriminação ou


preconceito. É delito formal.

Elemento subjetivo: É o dolo. Não existe a forma culposa.

Qual é a diferença entre esse delito do art. 20 da Lei 7716/89 e o crime de


injúria discriminatória41?

Podemos apontar 3 grandes diferenças:

A) Bem jurídico tutelado – No art. 20 da Lei 7716/89 o bem jurídico tutelado é a dignidade da pessoa
humana e o direito à igualdade. Já na injúria discriminatória do Código Penal a proteção recai sobre a honra
subjetiva da pessoa.
B) Dolo do agente - No art. 20 da Lei 7716/89 o agente vista realizar uma conduta de apologia à
discriminação ou preconceito, não pretende atingir pessoa(s) determinada(s) e sim promover o preconceito

41
Art. 140 do CP: Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

§3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa
ou portadora de deficiência:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 66


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

de forma impessoal. Já na injúria discriminatória o agente almeja atingir pessoa(s) certa(s), emitindo
conceitos depreciativos e qualidades negativas.
C) Ação penal – No delito de racismo do art. 20 da Lei 7716/89 a ação penal é pública incondicionada. Já
na injúria discriminatória a ação é pública condicionada à representação (art. 145, § único, do CP).

Pena: Reclusão, de 1 ano a 3 anos e multa. É cabível a concessão de sursis processual (art. 89 da Lei
nº 9099/95), porquanto a pena mínima não é superior a 1 ano.

DISCRIMINAÇÃO RELACIONADA AO NAZISMO. Dispõe o art. 20, §1º, da Lei 7716/89:


Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que
utilizem a cruz suástica, para fins de divulgação do nazismo.

Pena – reclusão de 2 a 5 anos e multa. Em razão da pena mínima supera 1 ano não é compatível com
a suspensão

Sujeito ativo: Cuida-se de crime comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa, não exigindo o
tipo penal qualquer qualidade especial do sujeito ativo.

Sujeito passivo – É a coletividade.

Elemento objetivo: Fabricar tem o sentido de produzir. Comercializar é o mesmo que vender. Distribuir
é entregar. Veicular é realizar propaganda.

Vale destacar que a cruz suástica, também conhecida como cruz gamada, é um símbolo do movimento
nazista que foi conduzido por Adolf Hitler.

Estamos diante de um tipo penal misto alternativo (crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado).
Assim, se o agente praticar mais de uma conduta descrita no tipo penal, no mesmo contexto fático, em
homenagem ao princípio da alternatividade, incorrerá num único delito.

Consumação. O crime se aperfeiçoa com a fabricação, a distribuição ou a veiculação dos símbolos,


emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que empreguem a cruz suástica ou gamada, para fins de
divulgação do nazismo. É delito formal.

Elemento subjetivo: É o dolo. Não existe a forma culposa. Nesse delito, o agente, além de visar
discriminar alguém em razão de raça, cor, etnia, religião e procedência nacional, também deve visar divulgar
o nazismo.

FORMA QUALIFICADA. Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos
meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza, a pena será de 2 a 5 anos e multa. Após o
trânsito em julgado, haverá a destruição desse material apreendido como efeito da condenação.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 67


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Como forma de cessar a propagação dessa discriminação e preconceito pelos meios de


comunicação social ou publicação de qualquer natureza, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério
Público ou a pedido deste, ainda antes de instaurado o inquérito policial, sob pena de desobediência:

1) Recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;


2) Cessação das respectivas transmissões radiofônicas ou televisas;
3) Interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de computadores

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 68


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

LISTA DE QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS

1. CESPE/Delegado de Polícia da Bahia/2013

Pratica crime o empregador que, por motivo de discriminação de raça ou cor, deixar de conceder equipamentos
necessários ao empregado, em igualdade de condições com os demais trabalhadores.

2. FCC/Defensor Público do Amapá/2018

A Lei nº 7716/89 tipifica e estabelece punição de crimes resultantes de discriminação ou preconceito de


raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional estando excluída a discriminação ou preconceito
relativo à orientação sexual.

3. CESPE/Procurador do Estado do Ceará/2008

A recusa de admissão no quadro associativo de clube social em razão de preconceito de raça não caracteriza
crime de racismo, em face da natureza jurídica do clube, pessoa jurídica de direito privado.

4. CESPE/Juiz de Direito da Paraíba/2015

A perda do cargo ou função pública pelo servidor público está prevista como efeito da condenação por crimes
resultantes de preconceito de raça ou de cor, no entanto, para que isso ocorra, deve o juiz declará-lo
motivadamente na sentença.

5. FUNCAB/Delegado de Polícia do Espírito Santo/2013

No interior de uma aeronave de uma companhia americana, quando esta sobrevoava o estado da Bahia,
Patrícia, que embarcara no aeroporto de Vitória-ES, viajando para os Estados Unidos da América, teve um
desentendimento com uma comissária de bordo, por causa do assento em que estava posicionada. Em razão
do tratamento dispensado pela comissária de bordo, Patrícia solicitou seu nome, ocasião em que a funcionária
da companhia aérea disse que não daria, inclusive afirmou: Amanhã vou acordar jovem, bonita, orgulhosa,
rica e sendo uma poderosa americana, e você vai acordar como safada, depravada, repulsiva, canalha e
miserável brasileira. Assim, essa aeromoça:

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 69


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

a) não praticou crime perante a lei brasileira, em face do princípio do pavilhão.


b) praticou o crime de injúria racial, com fulcro no art. 140, §3º do CP.
c) praticou o crime de tortura (Lei nº 9455/97), pois constrangeu a vítima, causando-lhe sofrimento mental,
em razão da discriminação racial.
d) praticou o crime de racismo, preceituado na Lei 7716/1989.
e) praticou o crime de difamação, com fulcro no art. 139 do CP.

6. CESPE/Delegado de Polícia de Pernambuco/2016

A condenação por crime de racismo cometido por proprietário de estabelecimento comercial sujeita o
condenado à suspensão do funcionamento de seu estabelecimento, pelo prazo de até três meses, devendo
esse efeito ser motivadamente declarado na sentença penal condenatória.

7. CESPE/Delegado da Polícia Federal/2018

Constitui crime de preconceito racial a discriminação de alguém em decorrência de sua orientação sexual.

8. CESPE/Promotor de Justiça de Mato Grosso do Sul/2018

Configura crime de preconceito de raça ou cor (Lei n. 7.716/1989) distribuir emblemas com símbolos que
utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 70


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

LISTA DE QUESTÕES COM COMENTÁRIOS

1. CESPE/Delegado de Polícia da Bahia/2013

Pratica crime o empregador que, por motivo de discriminação de raça ou cor, deixar de conceder equipamentos
necessários ao empregado, em igualdade de condições com os demais trabalhadores.

Comentários: O item está correto. É que o estabelece o art. 4º, §1º, I, da Lei 7716/89 (Incorre na mesma
pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou de práticas resultantes do preconceito de
descendência ou origem nacional ou étnica: I – deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado
em igualdade de condições com os demais trabalhadores.

2. FCC/Defensor Público do Amapá/2018

A Lei nº 7716/89 tipifica e estabelece punição de crimes resultantes de discriminação ou preconceito de


raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional estando excluída a discriminação ou preconceito
relativo à orientação sexual.

Comentário: O item está errado. Após o julgamento da ADO de nº 26 e do MI de nº 4733/DF, o STF


entendeu que até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a implementar os mandados
de criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição da República, as condutas
homofóbicas e transfóbicas, reais ou supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à
identidade de gênero de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este em sua dimensão
social, ajustam-se, por identidade de razão e mediante adequação típica, aos preceitos primários de
incriminação definidos na Lei nº 7.716, de 08.01.1989, constituindo, também, na hipótese de homicídio doloso,
circunstância que o qualifica, por configurar motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”).

3. CESPE/Procurador do Estado do Ceará/2008

A recusa de admissão no quadro associativo de clube social em razão de preconceito de raça não caracteriza
crime de racismo, em face da natureza jurídica do clube, pessoa jurídica de direito privado.

Comentário: O item está errado. A situação em tela caracteriza o crime de racismo, nos termos do art. 9º da

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 71


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

Lei 7716/89 (Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou
clubes sociais abertos ao público. Pena: reclusão de 1 a três anos.

4. CESPE/Juiz de Direito da Paraíba/2015

A perda do cargo ou função pública pelo servidor público está prevista como efeito da condenação por crimes
resultantes de preconceito de raça ou de cor, no entanto, para que isso ocorra, deve o juiz declará-lo
motivadamente na sentença.

Comentário: O item está correto. De acordo com o art. 18 da Lei nº 7716/89, os efeitos da condenação
citados na referida lei (perda do cargo ou função pública para o servidor/suspensão do funcionamento do
estabelecimento particular por prazo não superior a três meses) não são automáticos, ou seja, devem constar
de forma expressa na sentença.

5. FUNCAB/Delegado de Polícia do Espírito Santo/2013

No interior de uma aeronave de uma companhia americana, quando esta sobrevoava o estado da Bahia,
Patrícia, que embarcara no aeroporto de Vitória-ES, viajando para os Estados Unidos da América, teve um
desentendimento com uma comissária de bordo, por causa do assento em que estava posicionada. Em razão
do tratamento dispensado pela comissária de bordo, Patrícia solicitou seu nome, ocasião em que a funcionária
da companhia aérea disse que não daria, inclusive afirmou: Amanhã vou acordar jovem, bonita, orgulhosa,
rica e sendo uma poderosa americana, e você vai acordar como safada, depravada, repulsiva, canalha e
miserável brasileira. Assim, essa aeromoça:

a) não praticou crime perante a lei brasileira, em face do princípio do pavilhão.


b) praticou o crime de injúria racial, com fulcro no art. 140, §3º do CP.
c) praticou o crime de tortura (Lei nº 9455/97), pois constrangeu a vítima, causando-lhe sofrimento mental,
em razão da discriminação racial.
d) praticou o crime de racismo, preceituado na Lei 7716/1989.
e) praticou o crime de difamação, com fulcro no art. 139 do CP.

Comentários: A alternativa correta é a letra D. Estamos diante do delito de racismo capitulado no art. 20
da Lei 7716/89 (Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional. Pena: Reclusão de 1 a 3 anos e multa). Reparem que o dolo da comissária de bordo foi
de realizar distinção da pessoa em virtude de sua procedência nacional. Agiu, assim, com o intuito de atingir
a dignidade da pessoa humana e o direito à igualdade.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 72


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

A alternativa A está errada. A lei brasileira tem incidência no caso, eis que o delito foi praticado em território
nacional (art. 5º do CP).

A alternativa B está errada, pois a injúria discriminatória é cabível quando o agente visa atingir a honra
subjetiva de pessoa(s) determinada(s), o que não ocorreu na espécie.

A alternativa C está errada, pois não há que se falar em tortura ante a inexistência de violência ou grave
ameaça, com o escopo de causar à vítima sofrimento físico ou mental.

A alternativa E está errada, caracteriza-se a difamação quando o agente difamar outrem, imputando-lhe fato
ofensivo à sua reputação. O bem jurídico tutelado é a honra objetiva, o que não ocorreu no caso em análise.

6. CESPE/Delegado de Polícia de Pernambuco/2016

A condenação por crime de racismo cometido por proprietário de estabelecimento comercial sujeita o
condenado à suspensão do funcionamento de seu estabelecimento, pelo prazo de até três meses, devendo
esse efeito ser motivadamente declarado na sentença penal condenatória.

Comentário: O item está correto, eis que segundo estabelece o art. 16 da Lei 7716/89 a suspensão do
funcionamento do estabelecimento particular apresenta o prazo máximo de 3 meses. Além do mais, o art. 18
do referido diploma legal aponta que aludido efeito secundário da condenação não é automático, porquanto
deve constar expressamente da sentença.

7. CESPE/Delegado da Polícia Federal/2018

Constitui crime de preconceito racial a discriminação de alguém em decorrência de sua orientação sexual.

Comentário: O item está correto. Após o julgamento da ADO de nº 26 e do MI de nº 4733/DF, o STF


entendeu que até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a implementar os mandados
de criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição da República, as condutas
homofóbicas e transfóbicas, reais ou supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à
identidade de gênero de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este em sua dimensão
social, ajustam-se, por identidade de razão e mediante adequação típica, aos preceitos primários de
incriminação definidos na Lei nº 7.716, de 08.01.1989, constituindo, também, na hipótese de homicídio doloso,
circunstância que o qualifica, por configurar motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”).

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 73


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

8. CESPE/Promotor de Justiça de Mato Grosso do Sul/2018

Configura crime de preconceito de raça ou cor (Lei n. 7.716/1989) distribuir emblemas com símbolos que
utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.

Comentário: O item está correto, eis que em perfeita sintonia com o estipulado no art. 20, §1º, da Lei 7716/89
(Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda
que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 74


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

RESUMO
Abuso de autoridade: A Lei nº 13.869/19 versa sobre o crime de abuso de autoridade e visa proteger a Administração Pública, a
moralidade administrativa e os direitos fundamentais expressamente descritos no tipo penal. A lei nº 13.869/19 revogou
expressamente a Lei nº 4898/65 e terá vigência em janeiro de 2020.

Crimes de abuso de autoridade: São infrações penais dolosas e necessariamente apenadas com detenção. Ademais, todos os todos
os tipos penais descritos na Lei de Abuso de Autoridade exigem a presença de especial fim de agir, ou seja, a conduta do agente
deve visar a satisfação pessoal, mero capricho, prejudicar terceiros ou beneficiar a si ou outrem. Com isso, é forçoso concluir que
os crimes dessa Lei têm elemento subjetivo específico consubstanciado na motivação do agente. Ausente o dolo específico, o fato é
atípico e nem inquérito policial deve ser instaurado. A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não
configura abuso de autoridade. Não há que se falar em “crime de hermenêutica”.

Sujeito ativo: Qualquer agente público, servidor ou não, da Administração Direta, Indireta ou Fundacional de qualquer dos poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território.

Agente público: Considera-se agente público todo aquele que, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,
Abuso de autoridade e crimes de preconceito

nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão
ou entidade da Administração Direta, Indireta ou Fundacional. Todavia, lembre-se que um particular pode responder pelo crime de
abuso de autoridade se agir em concurso de pessoas com o agente público, tudo em conformidade com o art. 30 do CP (Não se
comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime).

Responsabilidade: O abuso de autoridade sujeitará o seu autor às sanções administrativa, civil e penal. Vale dizer, tais sanções são
autônomas e podem ser aplicadas de forma cumulativa, sem que isso configure o indevido bis in idem.

Competência: A competência para processar e julgar os crimes de abuso de autoridade será, em regra, da Justiça Ordinária, Federal
e Estadual. Conforme determina o artigo 109, IV, da Constituição Federal, a Justiça Federal será competente caso o delito de abuso
de autoridade viole bens, interesses ou serviço da União Federal, suas entidades autárquicas ou empresas públicas. Exemplo: Crime
de abuso de autoridade cometido por agente federal no interior da Delegacia de Polícia Federal. Não caracterizada a situação do art.
109, IV, da Constituição Federal, o crime de abuso de autoridade será julgado pela Justiça Estadual.

Ação Penal: Os crimes de abuso de autoridade são de ação penal pública incondicionada.

Preconceito e Discriminação: Esse assunto é tratado pela Lei 7.716, de 05 de janeiro de 1989, diploma legal popularmente
conhecido como “Lei do Racismo”. Todavia, vale destacar que essa lei não se limita a incriminar preconceito de raça ou de cor, mas
também aborda os delitos resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. A
supramencionada lei não tipificou como crime a discriminação ou preconceito em virtude de ideologia política, por motivação
filosófica ou preferência esportiva. Logo, se a discriminação ocorrer por esses motivos, a conduta é atípica em relação aos delitos
previstos na Lei 7716/89.

Dolo específico: Todos os tipos penais sempre estarão relacionados ao preconceito e à discriminação desses aspectos da pessoa
humana (raça, cor, etnia, religião e procedência nacional).

Bem jurídico: A dignidade da pessoa humana e o direito à igualdade.

Previsão constitucional: A prática de racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos
da lei (art. 5º, XLII, da Constituição Federal).

Diferença entre o delito de racismo e o crime de injúria discriminatória: Há 4 distinções:

A) Bem jurídico tutelado – No art. 20 da Lei 7716/89 o bem jurídico tutelado é a dignidade da pessoa humana e o direito à
igualdade. Já na injúria discriminatória do Código Penal a proteção recai sobre a honra subjetiva da pessoa.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 75


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

B) Dolo do agente - No art. 20 da Lei 7716/89 o agente vista realizar uma conduta de apologia à discriminação ou preconceito,
não pretende atingir pessoa(s) determinada(s) e sim promover o preconceito de forma impessoal. Já na injúria discriminatória
o agente almeja atingir pessoa(s) certa(s), emitindo conceitos depreciativos e qualidades negativas.
C) Ação penal – No delito de racismo do art. 20 da Lei 7716/89 a ação penal é pública incondicionada. Já na injúria
discriminatória a ação é pública condicionada à representação (art. 145, § único, do CP).

SÚMULAS

Súmula vinculante 11: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade
física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade
disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da
responsabilidade civil do estado.

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 76


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi


Ivan Luís Marques da Silva, Vitor De Luca
Aula 20
1277181

GABARITO

1 2 3 4 5 6 7 8
Certo Errado Errado Certo D Certo Certo Certo

Legislação Penal e Processual Especial p/ TJ-PE (Juiz Substituto) 77


www.estrategiaconcursos.com.br

06520567922 - Camila Leonardo Nandi

Você também pode gostar