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JOCKEY CLUBE DO PIAUÍ: (Re)conhecimento de um exemplar do patrimônio


cultural teresinense

Ana Luíza de Arêa Leão Melo


Estudante de Arquitetura e Urbanismo. Instituto Camillo Filho – ICF
E-mail: arealeaomelo@gmail.com

Lorena Eulálio Nunes


Estudante de Arquitetura e Urbanismo. Instituto Camillo Filho – ICF
E-mail: lorenaeulalio@gmail.com

Neuza Brito de Arêa Leão Melo


Mestre em História do Brasil pela Universidade Federal do Piauí - UFPI. Professora do Instituto
Camillo Filho – ICF
E-mail: neuzabalmelo@gmail.com

Walber Angeline da Silva Neto


Especialista em Prática Projetual de Arquitetura e Engenharia pela Universidade Federal do Piauí –
UFPI. Professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão - FACEMA
E-mail: walberangelineneto@hotmail.com

RESUMO
ESTE ARTIGO APRESENTA DISCUSSÃO ACERCA DO
(RE)CONHECIMENTO DO EDIFÍCIO PÓS-MODERNO DO JOCKEY CLUBE DO
PIAUÍ COMO UM EXEMPLAR DO PATRIMÔNIO CULTURAL TERESINENSE.
PARA TANTO, O TRABALHO QUE AQUI SEGUE SERÁ DIVIDIDO E
APRESENTADO SOB A SEGUINTE METODOLOGIA: NO PRIMEIRO CAPÍTULO,
ABORDAR-SE-Á A APRESENTAÇÃO DO OBJETO ARQUITETÔNICO EM
QUESTÃO, BEM COMO DE DADOS REFERENTES À EVOLUÇÃO HISTÓRICA
DA CIDADE DE TERESINA QUE CONTRIBUEM PARA A ANÁLISE DA
EDIFICAÇÃO ESTUDADA. EM SEGUIDA, O APORTE TEÓRICO SE CONDENSA
NA POSTULAÇÃO DA ARQUITETURA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL, E,
PORTANTO, BEM SOCIAL E HISTÓRICO IMPORTANTE NA CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE DE LUGAR E FORMAÇÃO DA MEMÓRIA URBANA. O TERCEIRO
MOMENTO REVELARÁ A DESCRIÇÃO DO JOCKEY CLUBE DO PIAUÍ, ASSIM,
NESTA SEÇÃO, DAR-SE-ÃO CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E SIMBÓLICAS DO
PRÉDIO E, EM PARALELO, APRESERTARÁ DISCUSSÃO A CERCA DO
EXEMPLAR COMO PATRIMÔNIO CULTURAL. POR FIM, AS CONSIDERAÇÕES
FINAIS ENCERRAM O TEXTO APONTANDO O PRESSUPOSTO DEFENDIDO.
DESCRITORES: ARQUITEURA; BRUTALISMO; EDUCAÇÃO PATRIMONIAL.

ABSTRACT
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THIS ARTICLE PRESENTS A DISCUSSION ABOUT THE KNOWLEDGE


OF THE POST-MODERN BUILDING OF THE PIAUÍ’S JOCKEY CLUB AS AN
EXEMPLAR OF CULTURAL PATRIMONY. THEREFORE, THE TEXT IS DIVIDED
FOLLOWING THIS METHODOLOGY: IN THE FIRST CHAPTER, WILL BE SHOW
THE ARCHITECTURAL OBJECT STUDIED, AS WELL AS DATA CONCERNING
THE HISTORICAL EVOLUTION OF THE CITY OF TERESINA THAT CONTRIBUTE
TO THE STUDY BUILDING ANALYSIS. THEN THEORETICAL CONTRIBUTION
CONDEMNS THE POSTULATION OF ARCHITECTURE AS A CULTURAL
PATRIMONY, AND THEREFORE, IMPORTANT FO THE SOCIAL AND
HISTORICAL CONSTRUCTION OF IDENTITY AND FORMATION OF URBAN
MEMORY. THE THIRD MOMENT WILL REVEAL THE DESCRIPTION OF THE
PIAUÍ’S JOCKEY CLUB , SO, IN THIS SECTION, WILL BE REVEL THE
PHYSICAL AND SYMBOLIC CHARACTERISTICS OF THE BUILDING AND, IN
PARALLEL, WILL PRESENT DISCUSSION ABOUT THE BUILDING AS
CULTURAL PATRIMONY. THEREFORE, THE FINAL CONSIDERATIONS CLOSE
THE TEXT POINING THE DEFENDED ASSUMPTION.

RESUMEN
ESTE ARTÍCULO PRESENTA DISCUSIÓN ACERCA DEL (RE)CONOCIMIENTO
DEL EDIFICIO POST-MODERNO DEL JOCKEY CLUB DEL PIAUÍ COMO UN EJEMPLO
DEL PATRIMONIO CULTURAL TERESINENSE. A TANTO, EL TRABAJO QUE AQUÍ
SEGUE SERÁ DIVIDIDO Y PRESENTADO COM LA SIGUIENTE METODOLOGÍA: EN EL
PRIMER CAPÍTULO, SE ABORDARÁ LA PRESENTACIÓN DEL OBJETO
ARQUITECTÓNICO EN CUESTIÓN, COMO DE DATOS REFERENTES A LA EVOLUCIÓN
HISTÓRICA DE LA CIUDAD DE TERESINA QUE CONTRIBUEN PARA LA ANÁLISIS DE
LA EDIFICACIÓN ESTUDIANTE. A SEGUIDA, EL APORTE TEÓRICO SE CONDENSA EN
LA POSTULACIÓN DE LA ARQUITECTURA COMO PATRIMONIO CULTURAL, Y,
PORTO, BIEN SOCIAL E HISTÓRICO IMPORTANTE EN LA CONSTRUCCIÓN DE LA
IDENTIDAD DE LUGAR Y FORMACIÓN DE LA MEMORIA URBANA. EL TERCERO
MOMENTO REVELARÁ LA DESCRIPCIÓN DEL JOCKEY CLUB DEL PIAUÍ, ASÍ, EN
ESTA SECCIÓN, DARSE CARACTERÍSTICAS FÍSICAS Y SIMBÓLICAS DEL PREMIO Y,
EN PARALELO, PRESENTARÁ DISCUSIÓN LA CERCA DEL EJEMPLO COMO
PATRIMONIO CULTURAL. POR FIN, LAS CONSIDERACIONES FINALES ENCERRAN EL
TEXTO APUNTANDO EL PRESUPUESTO DEFENDIDO.
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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho discursa acerca da arquitetura pós-moderna do Jockey


Clube do Piauí, em Teresina, assim como a relevância desta edificação como bem
cultural da cidade. Trata-se nesse estudo do Patrimônio Arquitetônico e suas
implicações na leitura do acervo histórico local através de um dos edifícios mais
emblemáticos da capital. Reconhecido pelo município através do tombamento, o
antigo clube (hoje desativado) encontra-se subutilizado, apesar de contemplar um
perímetro significativo numa das regiões mais nobres da cidade, o que releva
percepções e valores contrastantes sobre este, tornando-o alvo de pesquisa no
campo do patrimônio edificado local e além.

A história do Jockey está mesclada à de Teresina, fundada no ano de 1852.


A nova capital foi construída às margens do Rio Parnaíba, até então importante
eixo de transporte de mercadorias. A expansão física das rotas comerciais e dos
investimentos públicos foram vetores importantes para o crescimento da cidade
que, entre 1920 e 1950, espraiou-se nas direções Norte, Sul e ainda no sentido
Leste, quando, em 1952, foram lançados os primeiros empreendimentos
(1).
imobiliários nessa área distante do centro da cidade Neste ano ocorreu a
fundação do Jockey Club do Piauí, que se consolidou como importante local de
lazer, e ainda, com grande papel arquitetônico e urbanístico, posto que foi essa
iniciativa um dos impulsionadores da ocupação da Zona Leste teresinense,
surgindo, assim, bairros como o Jóquei, Fátima e Ininga.

Contudo, a frequência do clube foi diminuindo e o mesmo entrou em


desuso nos anos 2000. Depois de quase uma década sem atividades, em 2012
(1)
ocorreu a compra do imóvel por um consórcio de construtoras . A partir de então,
começou a especulação sobre o que ocorreria nesse espaço e, entendendo esse
local como de grande representatividade para a cidade, a Prefeitura Municipal,
através de Decreto, decidiu pelo tombamento do bem, efetivado no mesmo ano.
Hoje, é sede de uma das empresas proprietárias.

Considera-se que a Arquitetura, com sua natureza material, perene, mostra


a trajetória dos lugares, das cidades, sua formação e transformações. “A
arquitetura é a cena fixa das vicissitudes do homem, carregada de sentimentos de
4

gerações, de acontecimentos públicos, de tragédias privadas, de fatos novos e


(2)
antigos” . Portanto, é notória a importância do estudo do passado através das
construções, visto que, além das informações impressas em suas partes físicas, seus
espaços podem também ser experimentados, pois ainda fazem parte do presente.

Deste modo, o que se propõe é a utilização de pesquisa bibliográfica e


documental para a obtenção de informações cartográficas, iconográficas e a coleta
de documentos para a obtenção de dados para o embasamento do trabalho,
aspectos sobre a arquitetura do objeto em estudo, além de fatos históricos e atuais
envolvendo aspectos políticos, sociais e culturais pertinentes. Intenta-se a pesquisa
de campo e de acervo fotográfico.

2. A ARQUITETURA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL

A produção arquitetônica se constitui em valorosa fonte de pesquisa para


os estudos transdisciplinares, que compreendem, além da própria Arquitetura, a
História, Sociologia e Antropologia, e caminha pelos lugares da memória, da
identidade e da cultura dos diversos grupos e lugares. Assim, a arquitetura
presente nesses espaços materializa um modo de fazer, apresenta técnicas,
programas e materiais, bem como uma forma de ler a sociedade e suas
configurações, contribuindo para a valorização e preservação dos espaços e do
patrimônio cultural.

Os espaços públicos juntamente com as edificações carregam consigo as


(3)
experiências e memórias de quem os percorreu, um registro da vida social .
Assim, questiona-se: Como o estudo da arquitetura do Jockey Clube do Piauí
poderá colaborar para o (re)conhecimento do patrimônio cultural teresinense?

O objetivo geral da presente pesquisa é, portanto, discutir a arquitetura do


Jockey Clube do Piauí e como esse edifício torna-se um patrimônio cultural para
cidade. Faz-se necessário mencionar que a impossibilidade de entrada na
edificação estudada, devido a entraves burocráticos e da ordem das intenções
particulares dos atuais proprietários, não impossibilita a reflexão proposta, uma
vez que pesquisa não se debruça apenas sobre aspectos formais, técnicos ou
estruturais, mas sobre discussão e levantamento de teorias e pensamentos que
compreendem as questões da construção do patrimônio urbano arquitetônico.
5

Ressalta-se, por conseguinte, que a escolha do tema e do objeto foi


motivada pela importância do Jockey Clube enquanto exemplar arquitetônico pós-
moderno e na formação econômica e social da capital, contudo, marcado pela
atual situação de subutilização. Desta maneira, o estudo proposto, pouco explorado
no cenário acadêmico piauiense, tem a intenção de se aprofundar no
(re)conhecimento acerca do edifício, bem como de sua relevância arquitetônica e
cultural no contexto regional, afim de contribuir para a adoção de políticas urbanas
que resultem na preservação do patrimônio edificado, fomentando as discussões a
respeito da importância do uso compatível para a vivência e permanência de uma
edificação. Visa-se a promoção do estudo da história da arquitetura teresinense,
contribuindo para sua valorização e para que haja maior percepção quanto ao
mérito da salvaguarda do patrimônio para formação da memória e identidade.

A discussão sobre o Jockey Clube remete, imediatamente, à cidade de


Teresina revelando dois conceitos fundamentais para a presente pesquisa: Cidade e
Arquitetura. A cidade pode ser entendida como um registro, uma escrita ou ainda
como sua própria história materializada. Ela é capaz de incorporar consciência e
memória em si mesma através dos vestígios da arquitetura que permanecem ao
longo do tempo, já que arquitetura é um produto da coletividade, representando
(2)
de forma concreta a sociedade .

Assim, entende-se que a cidade pode contar e escrever sua história, como
um texto ou um documento. A consciência desta dimensão da escrita incorporada
pela arquitetura levou a discussões sobre preservação da memória coletiva a partir
(4)
da conservação de bens arquitetônicos . No caso em estudo, o Jockey Clube, há
uma arquitetura que reflete os anseios de sua época, tornando-se um exemplar de
seu estilo para a cidade.

A Arquitetura Moderna surgiu como uma resposta ao fim da Primeira Guerra


Mundial, quando os arquitetos da época entenderam que a arquitetura poderia ser
utilizada como um instrumento de transformação, tendo como princípios
fundamentais a expressão direta dos materiais, os processos de montagem, a
economia e a funcionalidade. A pretensão destes profissionais era a criação de
(5)
edifícios mais eficientes .
6

Após a Segunda Guerra Mundial tiveram início uma série de críticas


envolvendo as premissas modernistas, como o fato de ser uma arquitetura
desassociada do contexto geográfico e vernacular. Foi então que, a partir da
década de 1950, os debates na tentativa de reformular as metas da doutrina
modernista ocorreram intensamente, ficando perceptível para os projetistas a
doutrina como uma amarra. Desse modo, surgiram diversas tentativas de adaptação
(5)
da Arquitetura Moderna aos novos preceitos, como foi o caso do Brutalismo .

O Brutalismo é uma reação à atitude purista do período de vanguarda da


década de 1920. Pregava que os materiais de construção fossem aplicados com
impressão de rusticidade, sem tratamento adicional e que as formas fossem
massivas e primitivas, como o concreto aparente e a alvenaria de tijolos. Além da
valorização dos materiais brutos, dava ênfase à tecnologia, a simplicidade da
estrutura e prezava pelos valores locais e pelo bem estar social. Foi nesse contexto
(6)
que, em 1976, surgiu a forma que caracteriza o Jockey Clube . Um dos poucos
edifícios brutalistas da cidade, o edifício em estudo carrega valores considerados
tão importantes que o tornaram alvo da salvaguarda por parte do poder público.

Diante disto, o conceito de Patrimônio deve aqui ser tratado. Para tanto,
retorna-se a termos como Monumento e Monumento Histórico, que ocorreram ainda
na Roma Antiga e no Renascimento, respectivamente. O termo Patrimônio foi
empregado durante a Revolução Francesa, sendo relacionado à reunião dos bens do
povo francês. Contudo, findado o conflito, manteve-se a ideia de Monumento
Histórico. Só após a Segunda Guerra Mundial essa condição se modificou e, a fim de
responder ao desaparecimento do grande número de monumentos urbanos, além de
bens imateriais, foi que, na década de 1970, ocorreu a sobreposição do conceito de
(7)
Patrimônio Cultural Universal sobre o de Monumento Histórico .

3. HISTÓRIA, ARQUITETURA E PATRIMÔNIO

A fundação do Jockey Club do Piauí, no início da década de 1950 ocorreu


por iniciativa privada do Coronel Otávio Miranda que, à época, por residir na
Avenida Frei Serafim, desejava mudar-se para fora da zona central de Teresina,
inclusive devido já às altas temperaturas da região. Assim, ele encontrou na
fundação do clube de corridas de cavalos e também no lançamento de loteamentos
7

na área um atrativo para outras famílias tomarem iniciativa semelhante. O


loteamento Vila de Fátima e o loteamento Jóquei que posteriormente
transformaram-se em bairros foram consequências dessa iniciativa, bem próximos
(1)
ao terreno do Jockey Club do Piauí .

Quando o clube foi construído, englobava uma área bem maior que a atual.
Sua sede, uma construção que já abrigava muitos usos, era pouco ventilada,
erguida com materiais mais tradicionais, como a telha de barro, ainda moldada à
mão. Desse modo, em meados dos anos 1970 fez-se necessário a construção de uma
nova sede onde inicialmente era o hipódromo, com projeto de autoria do arquiteto
piauiense Raimundo Dias, formado pela Universidade de Brasília – UNB (8).

O concreto aparente, o conforto térmico e os espaços amplos são uma


constante utilizada por Raimundo Dias nos seus projetos e, também, no Jockey
Club do Piauí, que pode ser entendido como um rico exemplar do brutalismo. Essa
vanguarda, que colocava em cheque os princípios Modernos e abriu caminho para a
Pós-Modernidade, ganhou grande destaque com obras de Le Corbusier, arquiteto
franco suíço que utilizou a capacidade plástica do concreto, a rusticidade e a
valoração dos materiais em seu estado natural em vários de seus projetos a partir
da década de 1950. O brutalismo brasileiro, fortemente influenciado por Corbusier,
ganhou destaque ainda com a construção de Brasília, em 1960.

A sede do novo clube teve a fachada (figura 1) recuada da Avenida Nossa


Senhora de Fátima, conformando uma entrada grandiosa, facilitando a entrada dos
automóveis que podiam deixar os passageiros antes de se deslocarem ao
estacionamento na lateral. Os arcos em balanço que se destacam na forma
marcante foram obtidos graças à estrutura em concreto armado e são, ainda nos
dias atuais, elementos arquitetônicos de grande destaque no prédio e no entorno
que o envolve.

Os salões principais (figura 2), no primeiro e segundo pavimentos, foram


vazados e ampliados em terraços, sem corredores, elementos que dificultariam a
ventilação, pois a climatização artificial era algo caro e de difícil acesso. Ligando
os dois principais pavimentos, na área do grande salão de bailes, uma escada
helicoidal marca o espaço. O hall de entrada também tem uma escada permitindo
8

o acesso ao prédio e a demais espaços como o restaurante. No pavimento inferior


foram posicionados banheiros e vestuários para as piscinas, inclusive uma maior,
com raias. Em todo o prédio o arquiteto utilizou painéis pré-moldados e artísticos
que trazem a linguagem moderna, estilizando as letras iniciais do complexo, JCP,
estendendo esse padrão até nos azulejos dos banheiros.

Figuras 1 e 1 - Fachada /Salão principal do clube

Fonte - Ylana Sena/CidadeVerde, 2010

Nos últimos anos, esse elemento arquitetônico de formas tão expressivas,


por perder o uso, passou a ser alvo de grande especulação. O terreno amplo e
subutilizado provoca, sobretudo naqueles que não compreendem a importância do
edifício como gerador de memória e identidade, o desejo de sobreposição desse
bem tão marcante, principalmente por razões econômicas.

Assim, em 2012 ocorreu a compra do imóvel por um consórcio de


construtoras que pleiteou a destruição do prédio para a construção de um novo
empreendimento imobiliário. Diante dessa ameaça, a Prefeitura Municipal de
Teresina, através do Decreto nº 12.048 de abril de 2012, tombou a sede do Jockey
Club do Piauí. Atualmente, o prédio abriga a matriz de uma das empresas
proprietárias. Há ainda rumores de um pedido de destombamento do imóvel, fato
que apesar de não comprovado oficialmente, visto que não há informações nesse
âmbito nos órgãos competentes, deve aqui ser mencionado por contribuir para a
discussão em questão.

Por estar numa das zonas mais novas da cidade e por ser um bem
relativamente recente, alguns não compreendem o clube como um marco histórico,
sobretudo quando afloram interesses econômicos. Muitos acham que a história
recente não é história, contradizendo o que já afirmou a Carta de Washington de
9

1987, onde foi acordado que toda cidade é histórica, e foi além, explicando que
(9)
toda a cidade é histórica .

Assim, ressalta-se que o desejo maior no planejamento urbano é o de


crescimento da cidade, mas o crescimento ordenado de maneira a receber os
avanços da contemporaneidade, mas sem perder os elementos que permitem
preservar origens, cultura e tradições.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os olhares acima expostos reforçam a ideia de que o edifício sede do


Jockey Clube do Piauí constitui-se em um exemplar arquitetônico que carrega
símbolos e simbologias que, sob o olhar histórico arquitetônico, ajudam a construir
a memória patrimonial da cidade de Teresina. A discussão aqui levantada funciona
como uma forma de suscitar um instrumento legal que é a vigilância. Além disso,
intenciona-se promover a discussão sobre a perda gradativa dos elementos
arquitetônicos e as simbologias ali presentes, visto o abandono da edificação
(figuras 3 e 4).

Figuras 2 e 4 - Estágio de abandono - Entrada do clube/fachada

Fonte: Walber Angeline, 2017

É válido frisar a questão que dispõe da importância do Patrimônio Histórico


e Cultural como agente formador da memória coletiva de um determinado grupo,
uma vez que este é capaz de produzir lembranças que conferem sentimentos de
identidade e de pertencimento. Estes bens carregam em si valores e significados
(10)
que são traduzidos pela sociedade, de forma a lhes conferir um lugar .
Assim sendo, o edifício estudado tem relevância pela sua simbologia frente
ao espaço ao qual está inserido, constituindo um objeto arquitetônico em uma área
10

que pouco tem de equipamentos urbanos históricos, devido sua formação recente
na capital piauiense. Desta forma, a valorização de tal exemplar é uma forma de
reconhecimento das transformações urbanas, bem como das implicações sociais
que ali ocorreram, formando uma fonte de pesquisa para análise minuciosa das
práticas históricas, políticas e sociais de Teresina.

Conhecer a edificação em questão é de relevância máxima para


compreensão das possibilidades e potencialidades deste, fator que contribui para a
desmistificação da ideia de tombamento engessado, possibilitando a requalificação
do edifício e contribuindo para fortalecimento da identidade cultural.

É, a partir desta visão, que o presente trabalho pretende contribuir para a


valorização e reconhecimento deste importante exemplar histórico-arquitetônico
teresinense, fomentando as discussões a cerca do patrimônio e promovendo a
educação urbana e patrimonial.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 CASTELO BRANCO, A. F. V. “A ação do estado e do mercado imobiliário no


processo de segregação sócioespacial em bairros da zona leste de Teresina”.
(2012): 1-151

2 ROSSI, A. A arquitetura da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

3 MELO, N. B. A. L. O ecletismo parnaibano: hibridismo e tradução cultural na


paisagem da cidade na primeira metade do século XX. Teresina: EDUFPI, 2012.

4 ROLNIK, R. O que é cidade. São Paulo: Brasiliense, 2004.

5 FAZIO, M.;MOFFET, M.; e WODEHOUSE, L. A História da Arquitetura Mundial.


Porto Alegre: AMGH,2011.

6 COLIN, S. Uma introdução à arquitetura. Rio de Janeiro: Uapê, 2000.

7 CHOAY, F. A alegoria do patrimônio. Lisboa: Edições 70, 2006.

8 AFONSO, A; NEGREIROS, A. Documentos da arquitetura moderna em Teresina.


1ª edição. Teresina: Gráfica HALLEY, EDUFPI. 2010.

9 CURY, Isabelle (Org.) Cartas Patrimoniais.Rio de Janeiro: IPHAN, 2000.

10 SILVA NETO, W. A. Memória de identidade fragmentada: um estudo do


patrimônio arquitetônico da primeira praça de Teresina dos anos de 1980 aos
dias atuais. 2013 Monografia – Instituto Camillo Filho, Teresina 2013.

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