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FACULDADE DE EDUCAÇÃO SANTA TEREZINHA -

FEST

MEDOS E PRECONCEITOS NO
PARAÍSO Gislene Aparecida dos Santos

Profª Me. Claudia


Silva Lima
► No Brasil, as assimetrias que existem na sociedade são
mascaradas através da edificação de uma falsa imagem de
democracia, de um paraíso no qual seria inconcebível a
existência de qualquer forma de violência e de qualquer
forma de autoritarismo.

► Ora, qual a imagem que o brasileiro tem de si e de seu


país? Não acreditamos que vivemos em um pedaço do
mundo harmônico no qual as pessoas são boas e cordiais, a
natureza é abundante e generosa, já disseram ‘um país
tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza’ onde os
dias são o revezamento do trabalho e das festas, folias e
malandragens de um povo sensual?
► Uma das formas de identificarmos as lacunas nesta
concepção de HARMONIA é verificarmos como se
elabora a ideia segundo a qual, no Brasil, os negros
representam o que se configurou chamar como classes
perigosas.
► Ou seja, quando se diz que esse segmento da
população produziria os elementos que trariam
desordem e insegurança à sociedade. Assim, por um
lado se afirma que o Brasil é um país harmônico e não
violento e, por outro, se diz que quando a violência
‘esporadicamente’ emerge na sociedade, ela seria
praticada por esses indivíduos
MITO DA DEMOCRACIA RACIAL

Racismo Velado, Escondido, Maquiado,


invisível, silenciado. Racismo simbólico

Apesar dos fatos e das estatísticas provarem o contrário, no país, a


discriminação, o racismo e a violência contra negros são toleradas
como se, de fato, elas não existissem.
A mídia e parte da intelectualidade brasileira são
omissas em relação a isso. Todos se portam como se o
Brasil fosse privado de conflitos raciais e se
constituísse numa autêntica democracia racial.

Essa ideia permanece no imaginário social como:


recurso de legitimação simbólica à disposição das
elites brasileiras’.(Hasenbalg, 1988, p. 192). Desta
forma, o racismo e as violências contra esse segmento
da população tornam-se invisíveis e são silenciadas.
O RACISMO NO “PARAÍSO”

► No momento da constituição do Estado brasileiro republicano


(em 1889 foi proclamada a república no Brasil),". esses argumentos,
presentes na história da escravização dos negros no Brasil tanto
quanto nas demais colônias, são utilizados não mais para justificar
a escravidão (abolida em 1888), mas para demonstrar como o
povo negro não serviria para formar uma NAÇÃO FORTE E
DESENVOLVIDA.
► A preocupação com a nova ordem, a República que
vem substituir o Império decadente, colocava uma nova
questão: que tipo de cidadãos seriam os ideais para
formar uma nação livre. Obviamente, não os escravos,
pois a abolição já havia se efetuado; mas e os negros?
Quais seriam as contribuições dos cidadãos negros à
República?
► Segundo Carlos Vainer , o Estado brasileiro e suas classes
dominantes propiciaram o desenvolvimento de uma política racial
fundamentada no ideal de uma harmonia/democracia entre as
raças e no branqueamento da população.

Daí facilitarem a imigração e proibirem a entrada de “indivíduos


humanos” das raças de cor preta. A eugenia afirma-se como
negócio do Estado: construção da nacionalidade, aperfeiçoamento
da população.
► Desta forma, intensificam-se debates ao redor do sujeito negro, para
investigar se ele era ou não adequado à configuração do povo brasileiro. Neste
momento destaca-se a escola racista que tinha como grande expoente nacional
Nina Rodrigues que em seus textos buscava fundamentar a inferioridade inata da
raça negra considerada por ele inapta à civilização e a qualquer forma de
desenvolvimento. Para ele não havia igualdade entre as raças, e a presença da
raça negra era o atestado da morosidade do progresso da nação.

► Nina Rodrigues recuperava o argumento dos imigrantistas que viam enorme


perigo no enegrecimento do Brasil e, por isso, defendiam a re-colonização do
Brasil por europeus, afastando os indivíduos negros e a possibilidade das uniões
interraciais. O mestiço era visto como um ser decaído por natureza. Partilhava
dessa posição o jornalista Euclides da Cunha para quem “A mistura de raças mui
diversas é na maioria dos casos prejudicial (...) A mestiçagem extremada é um
retrocesso, de sorte que o mestiço é quase sempre um desequilibrado”
NINA RODRIGUES APELA A UMA OPOSIÇÃO QUASE
INSUPERÁVEL ENTRE “RAÇA SUPERIOR” E “RAÇA INFERIOR”:

[...] a analyse objectiva dos phenomenos physicos, illuminada pelos principios


da evolução biológica, veio demonstrar que a intelligencia humana tira as suas
raízes genealógicas, muito longe e bem a baixo, do automatismo reflexo dos
animaes inferiores.

O aperfeiçoamento lento e gradual da actividade psychica, intelligencia e


moral não reconhece, de facto, outra condição além do aperfeiçoamento
evolutivo da serie animal. [...] na série animal as complicações crescentes na
composição histologica ou biochimica da massa cerebral só se operam com o
auxilio da adaptação e da hereditariedade, de um modo muito lento e no
decurso de muitas gerações. Assim também, os gráos sucessivos do
desenvolvimento mental dos povos. (NINA RODRIGUES, 1938, p.45-46).
(sic).
► Para Nina Rodrigues, negros, índios e mestiços não são
capazes de desenvolver uma civilização, não são capazes de
produzir uma cultura elevada, mas são potencialmente perigosos.
O que se deve fazer é tratar todas suas manifestações “sociais”,
“culturais” como signos de anormalidade, sinais de doença e
demência. Não são ou criminosos ou loucos, são criminosos e
loucos pois o crime é o mal gerado pelas e nas raças inferiores.
Incapazes de correção, os criminosos deveriam ser excluídos da
sociedade, recolhidos aos asilos.
► A descrição do negro como lascivo, libidinoso, violento,
beberrão, imoral ganha as páginas dos jornais compondo a
imagem de alguém em que não se pode confiar. Condenavam
o samba e a capoeira como práticas selvagens e que
terminavam em desordem e violência. Acusavam os negros
por praticarem bruxarias, por não possuírem espírito familiar
sendo as mulheres sensuais e infiéis e os maridos violentos,
retratos da falta de estrutura moral, psíquica e social do negro
A HARMONIA
MESTIÇA
Outrora (em Nina Rodrigues, por exemplo), o mestiço
seria o fruto natural de todas as degenerescências,
inclinado para os vícios e para toda forma de corrupção
moral; os elementos africanos encontrados na cultura
nacional eram a justificativa para o atraso do Brasil em
relação às nações europeias; o mestiço era o resultado de
toda a influência negativa da cultura africana sobre a
brasileira e a purificação da raça, afastando cada vez mais
esses traços africanos, seria a única maneira para a
população marcada pela corrupção negra, alcançar algum
alívio e evolução.
Mas em Gilberto Freyre: ... a miscigenação deixa de ser considerada
unicamente como um fenômeno biológico ou como um processo
físico-psicológico gerador de mentalidades e aptidões em que se
formaria a cultura, processo com a negativa função de retardar ou mesmo
de perturbar a nossa evolução na direção das perfeições prometidas pela
lei do progresso biossocial. E é apreciada como um fenômeno de outra
ordem, diríamos mais nobre, de natureza social e de sentido positivo, um
corretor das distâncias sociais e do profundo hiato cultural entre o branco
e o indígena, particularmente entre aquele e o negro, entre o senhor e o
escravo ou liberto, entre o civilizado e o bárbaro, entre a casa-grande a e
senzala.
Em Casa Grande e senzala o negro é o escravo doce, a
mulata zombeteira, a ama-de-leite maternal, a negra
masoquista, o moleque brincalhão, o preto velho que
conta histórias, a curandeira que socorre com seus feitiços,
a mucama que serve sexualmente o seu senhor. São
escravos “patogênicos” não pela raça mas pela própria
escravidão. A descrição da harmonia da relação entre
senhores e escravos, da cumplicidade expressa na relação
sadomasoquista entre eles é o “retrato do Brasil”. Ao
descrever a vida familiar, as festas, Freyre ressalta a
bondade dos senhores que, de alegria libertavam escravos,
presenteavam-nos.

Um vocabulário especial é utilizado para defini-los: são


mucamas, moleques... Eles são ‘inventados’, e o tom
paternalista desta invenção recobre sua faceta violenta.
Ao recriar a história do
negro no Brasil da forma
como faz (o olhar da casa
grande em direção à senzala,
do dominador em relação ao
dominado), Gilberto Freyre
contribui não só para a
invenção de uma nova
‘identidade’ para negros,
brancos e mestiços, como
também para a configuração
de toda uma identidade
nacional baseada em uma
falsa democracia.
Foi meu objetivo demonstrar que esta representação
negativa dos negros faz parte de uma certa forma de pensar
o Brasil, é uma ideologia, uma imagem articulada a partir de
nosso arsenal cultural; e demonstrar como essa forma de
representar os negros se vale de imagens e estereótipos que
são aceitos como naturais pela população

O racismo é ocultado através da incorporação de valores


considerados típicos da África ou que fazem parte da herança
cultural deixada pelos negros. No Brasil é comum dizer-se que
todos gostam de samba, carnaval, comidas, danças e religiões de
origem afro-brasileira. Esses valores tornaram-se símbolos
nacionais como se representassem uma grande apreciação pelo
negro e a inexistência de discriminação

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