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If I have a Wicked

Stepmother, Where’s My
Price?

Melissa Kantor

Créditos
Comunidade Traduções de Livros
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Tradutor:Letícia
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Tradutor:Juliana
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Tradutor:Carol
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Tradutor:Marina
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Tradutor:Julya
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Tradutor:Bela
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Tradutor:Rafa
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Revisora: Si Costa
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Capítulo 1

Cinderela
√ Mãe Morta
√ Madrasta Má
√ Irmãs Adotivas Diabólicas (2)
√ Sem Amizades

Eu
√ Mãe Morta
√ Madrasta Má
√ Irmãs Adotivas Diabólicas (2)
√ Sem Amizades

Eu mordi a minha caneta, na dúvida se Cinderela tinha ou não amigos. Quero dizer, ela tinha
todos aqueles animais falantes ajudando ela quando ela entrava em apuros. Mas eles contavam
como amigos? Não é como se você pudesse encontrar uma sábia azul depois da escola no
Starbucks para tomar um café latte. Enquanto eu tentava categorizar a pequena fauna de
animais falantes da Cinderela, meus olhos acidentalmente desviaram-se para Jéssica Johnson, a
menina que se senta do outro lado da classe. Quando meus olhos fizeram contato, sua
expressão não mudou – era como se eu não estivesse ali.

Eu risquei Sem Amizades da coluna da Cinderela e escrevi embaixo

Cinderela
√ Pai Morto

Eu
√ Pai Vivo

Mais uma vez, eu não estava certa se essa era uma precisa descrição de nossas situações. Digo,
tecnicamente, meu pai está vivo. Mais do que tecnicamente - não é como se ele estivesse em
coma ou algo assim. Mas considerando que eu estou atualmente morando com sua nova esposa
e minhas irmãs adotivas em Long Island enquanto ele fica de segunda à sexta em São Francisco
trabalhando no grande caso que ele supostamente deveria ter terminado antes da gente se mudar
para Nova York em Agosto, sete meses antes, ele estar vivo não significa grandes coisas.

Eu voltei para minha lista e coloquei uma anotação ao lado de ‗vivo‘.

―...então você não pode subtrair aqui enquanto não tiver dividido aqui.‖ Sr. Palmer escreveu no
quadro, desenhando uma nuvenzinha de giz. Então ele virou para a janela. ―Senhor Marcus,‖
ele cuspiu. ―Você pode me dizer por que isso acontece?‖

A cabeça de John Marcus levantou e ele olhou para a sala em pânico. A revista sobre skates
escorregou de seu livro de matemática e bateu no chão.

Eu mal ouvi o sermão que o Sr. Palmer deu no John, segregando saliva pelo canto da boca. Eu
não era a única não impressionada com o acesso de raiva do Mr. Palmer (seu terceiro do dia);
até mesmo John manteve seus olhos em sua revista, escorregando ela para baixo da sua carteira
com a ponta do dedão. E como sempre, antes mesmo da sirene ter tocado, ignorando o fato de
que Sr. Palmer continuava falando, pessoas começaram a jogar as coisas para suas mochilas.
―Eu acho que vocês vão querer ouvir isso, já que ira cair no teste surpresa de quinta-feira‖
Ninguém prestou atenção nele. Sr Palmer está sempre inventado testes supressas e nunca
passando eles. Todo primeiro semestre eu passei minhas noites me preparando para um teste
que nunca veio. Agora eu só ignoro suas ameaças como todos os outros.

Do lado de fora, no corredor, Madison Lawler, melhor amiga de Jéssica Johnson, abraçou
Jéssica entusiasmaticamente, como se as dificuldades da matemática fosse tão grandes que elas
não podiam suportar. Talvez eu seja paranóica, mas quando eu passei por elas pareceu que a
verdadeira razão pela reunião diária delas era pra me lembrar do quão excluída eu era.

Para a lista, vamos só reconhecer que a mudança não fez maravilhas para minha vida social.
Dizer que não encontrei uma alma gêmea dentro da população de Glen Lake seria um erro. Eu
nem mesmo descobrir um colega pra fazer dever-de-casa. E a ironia da minha atual situação é
que eu só entrei nisso um ano atrás. Quando eu estava na oitava série, quando meu pai ficou
totalmente obcecado como o meu currículo no ensino fundamental não era rico o suficiente ou
tanto faz, e ele decidiu que eu não ia ficar na Academia Wellington para cursar o ensino médio,
se não eu seria uma vazia, inexistente e insignificante existência (mais ou menos o que eu sou
agora). Então eu tive que dar uma beijo de despedida na Escola Bayview Middle, deixa todos
os meus amigos, e ir estudar em Wellington, onde eu não conhecia ninguém. Então, quando eu
estou finalmente me estabilizando e parando de me esconder nos corredores como uma
assassina, praticamente no mesmo momento que o meu telefone começou a receber ligações de
pessoas que não queriam que eu batesse o meu recorde de distância, meu pai anunciou que
estava se casando com a Bruxa Má do Norte, nós estávamos nos mudando para Nova York, e
eu estaria começando meu segundo ano na Glen Lake High nesse outono.

Você sabe com quem as pessoas não conversam quando elas invadem seu território fora do
tempo?

A garota novata.

Eu fiz meu caminho para meu armário e então para o refeitório. Desde janeiro, quando eu
comecei a ter aulas de arte, eu estava me acostumando a comer meu almoço na sala de artes,
evitando terrivelmente a humilhação de comer sozinha em uma mesa do refeitório que poderia
facilmente acomodar vinte. Mas Sra. Daniels, minha professora de artes, estava fazendo
reuniões privadas por todo o estúdio durante todo o almoço, então eu não tinha nenhum local
para onde escapar. Eu comprei um sanduíche e fiz meu caminho para onde parecia uma isolada,
indesejada mesa no canto do lotado refeitório.

Eu descobri que eu estava errada sobre a mesa indesejada, assim como eu estava errada sobre
várias outras coisas em Glen Lake High. Minutos depois de sentar em um canto, um barulhento
grupo de sêniors veio e sentou na outra ponta, balançando suas chaves-de-carro e tirando
batatas-fritas de suas sacolas pra viagem do Mc‘Donalds.

No centro do grupo sentou Connor Pearson, rindo e conversando com seus fieis companheiros.
A estrela do time de basquete e presidente do Conselho Estudantil, Connor também foi votado
―Mais Bonito‖ pela classe dos sêniors. No outono, para arrecadar dinheiro, as animadoras de
torcida rifaram um beijo de Connor Pearson e duzentas garotas compraram rifas (pode ser cento
e noventa e nove rifas mais a sua). Mas tristemente para mim e para todo o resto da população
de Glen Lake, Connor só tinha olhos para Kathryn Ford: Rainha das Volta às Aulas, que, como
todas as boas rainhas, estava atualmente sentada à direita de seu Rei.
Algumas pessoas me fazem sentir estranhamente mais alta e mais ruiva do que eu atualmente
sou, e Kathryn Ford é uma dessas pessoas. Tudo que se refere a ela é pequeno e pálido e
perfeito. Eu às vezes acho que ela foi criada de um kit. Também, ela age como se ignorar
meninos de classes inferiores fosse um esporte.

Basicamente, você não pode não a odiar.

Mesmo assim, eu não sou louca o suficiente para achar que Kathryn Ford é a culpa para Connor
não saber que eu exista. Ou que ela me pôs na lista negra, e é por isso que eu não fiz nenhum
amigo na comunidade da Glen Lake. Eu sei que eu só tenho a mim mesma para culpar. Eu
observo as pessoas nas minhas aulas antes do sinal tocar, e eu sei que tudo que eu tenho que
fazer se eu quiser conversar com eles é conversar Só dizer alguma coisa. Qualquer coisa. E não
é como se eu não quero falar com algum deles. Não é culpa deles que eu fui arrastada enquanto
gritava e chutava feito uma mimada pelo Estados Unidos.

Se supunha-se que aqui deveria estar meu príncipe charmoso, não há nenhum príncipe. Se
mudar para Nova York para terminar os meus três anos de ensino médio parece ter causado
alguma reação mutante em algum gene de fazer amigos que eu nem sabia que eu tinha. Agora,
ao invés de falar com pessoas como eu normalmente faria, eu só sento em silêncio, como se eu
tivesse vendo eles nadando e pulando de um trampolim cada vez mais alto enquanto espero eles
começarem a pular do começo.

E eles nunca começam.

Aquela noite no jantar, enquanto eu estava sentada pensando nas minhas coisas e tentando
decidir se eu deveria tirar meu pai do seu sonho que os Rockets iam perder por 10 pontos, uma
das minhas irmãs adotivas de 12 anos olhou para mim e pressionou seus lábios, como se ela
tivesse comido algo e não gostado do sabor. Eu deveria ter pegado o olhar dela como um aviso,
mas eu estava muito ocupada calculando os pontos do jogo. E é por isso que um minuto depois,
quando ela foi discursar para mim, eu fui pega fora de guarda.

―Você deveria usar um sutiã de bojo, Lucy.‖ Disse Princesa Um, ainda olhando para mim.
―Seus peitos são realmente pequenos.‖

Infelizmente, ela não tinha discutido esse assunto com sua irmã, que estava tão ansiosa para
contrariar o conselho, ela mal mexeu no seu hambúrguer vegetariano ―É muito tarde para isso
agora‖ disse Princessa Dois ―Ela deveria ter começado a usar em setembro.‖

―Isso é uma boa questão.‖ Concordou Princessa Um.

Nenhuma das minhas irmãs adotivas parecia incomodada com o fato de que comparada a elas,
eu sou Pamela Anderson.

―Na verdade,‖ eu disse, ―você se lembra de como semana passada você disse que eu deveria
fazer luzes loiras por causa de como meu cabelo é vermelho?‖

As Princessas concordaram ansiosamente.

―Bem, eu estava pensando em tingir os meus peitos de loiro e conseguir um sutiã de bojo com
uma caveira.‖

―Ha ha, Lucy‖ disse Princessa Um. ―Nova notícia: talvez se você levasse esse tipo de coisa um
pouco mais a sério, você seria convidada para a festa de boas-vindas.‖

―Nova notícia:― Eu a imitei ―Nem o objetivo de vida de todo mundo é ter a palavra PUTA
tattoada na bunda.

―Lucy,‖ Mara disse, saindo do coma que ela entra toda vez que as filhas dela estão me
criticando, ―por favor não use esse palavreado na mesa.‖

Depois do jantar eu desci para o meu ―quarto‖, conhecido na maioria das casas como ―o
sótão.‖.

Pelos primeiros meses depois de eu e meu pai nos mudarmos para a casa da minha madrasta, eu
estava um pouco animada com um fato de que eu morava num calabouço sem mobília onde
minha cama é um colchão de ar; e minhas roupas – que estavam inicialmente numa caixa de
papelão escrito ―roupas‖ – foram lentamente terminando em pilhas por todo o piso, assim que a
primeira, e depois outra, e depois ainda outra das ―gavetas‖ ter caído.

Toda vez que eu tinha coragem de reclamar, e chamar a atenção para o fato de que a única
razão de eu não ter trago toda a minha mobília de São Francisco era por causa de toda a nova e
linda mobília que Mara estava ―tão animada‖ em comprar, eu fui lembrada pela minha
madrasta, a decoradora de interiores amadora, que achar a ―peça perfeita‖ leva tempo. Nações
caíram e levantaram-se, revoluções vieram e foram-se, casais de celebridades tinham se casado
e se separado, e a cabeceira de cama perfeita ainda ilude minha madrasta.

A única coisa legal de estar aqui embaixo é que eu pendurei pôsteres dos meus dois quadros
preferidos; exceto por eles as paredes são completamente nuas, então é como se eu estivesse em
um museu – você sabe, vasto espaço vazio, com espetaculares trabalhos de arte. Deitada em
minha ―cama‖ eu posso ficar olhando para a parede a minha frente onde The Dancer de Matisse
está penduro, ou olhar para o teto, onde eu colei um enorme pôster do Autum Rhythm (Number
30)

Minha mãe foi realmente uma ótima artista. Suas pinturas estão penduradas em museus por
toda Europa, e MOMA e Metropolitan Museum of Art têm uma, cada. As paredes de nossa
casa em São Francisco eram cobertas com seu trabalho, nós colocamos todas elas no armazém.
Meu pai diz que pode machucar os sentimentos de Mara se a gente perguntar se podemos
pendurar as pinturas de mamãe aqui. Esse é o grande assunto na minha vida agora – Os
Sentimentos de Mara. Basicamente, eles estão sempre sendo feridos ou em perigo de serem
feridos.

O que significa que eu estou sempre em problemas ou em perigo de estar em problema.

Antes de eu dormir, eu folheei um livro das reproduções de Cezane que eu peguei na biblioteca.
Mas mesmo olhando nas suas perfeitas pêras, cada uma perfeitamente esculpida, e não
conseguia tirar a minha mente da lista que eu estava fazendo na aula de matemática, a prova de
que algo tinha algo muito, muito errado com a minha vida.

Porque se eu tenho uma madrasta má e duas irmãs adotivas diabólicas, eu não deveria ter um
Príncipe?
Capítulo 2

Uma vez há um tempo atrás eu até tentei fazer um amigo na Glen Lake.

Isso foi em janeiro, no começo do segundo semestre, quando eu estava tolamente convencida
que minha vida ia mudar. Eu me inscrevi para a aula de artes, e do primeiro dia eu podia te
dizer que ia ser ótima. Diferente do resto dos professores da Glen Lake, Sra. Daniels, a
professora de artes, A) Realmente conhece a área dela, B) não é surda, burra, cega e/ou
clinicamente insana, e C) não se veste como se estivéssemos debaixo do Presidente
Washington. Além disso, ela não tem medo de manda tarefas sérias (natureza morta, nudez) e
de dar nota para eles severamente.

As outras crianças na aula não são especialmente talentosas, exceto por um, Sam Wolff, um
junior que é sem dúvida o melhor artista na escola inteira. Suas pinturas estão penduradas por
todo prédio, e quando Sra. Daniels fez a chamada na primeira aula e eu percebi que ele era o
cara que na qual as pinturas eu estava admirando por todo primeiro semestre. Eu estava
completamente admirada. Finalmente alguém com que eu pudesse conversar sobre algo que eu
amava.

Na segunda semana de aula, quando eu cheguei ao studio mais cedo e encontrei ele sozinho,
sentado e rascunhando na velha poltrona no canto, eu percebi, Agora é minha chance. Eu tentei
começar um conversa, falando de como eu gostava de um desenho de natureza morta que
estava em exposição no lobby. É uma pintura de uma dessas pequenas mesas verdes que eles
têm no Starbcucks, e em cima da mesa tem uma xícara de café, um guardanapo amarrotado,
algum troco, e um sonho meio mordido. Mesmo ele brincando com proporções e perspectiva,
de alguma maneira tudo parecia incrivelmente real. Você pode sentir os grãos de açúcar
espalhados pela superfície da mesa e a pegajosa camada de açúcar sobre o sonho.

Eu disse a Sam que eu achava a pintura muito legal e passei um bom tempo olhando para ela.
Eu disse a ele como parecia que você só podia dar uma mordida no sonho. Pelos primeiro sete
oitavos do meu monólogo, ele só deu uma olhada para mim, sem dizer nada. Então, depois de
eu continuar falando e falando por, tipo, duas horas, ele colocou seus óculos (ele usa esses
óculos com armação preta e grossa), parou de olhar, e disse, ―Obrigado‖, mas ele não disse isso
como Obrigado, é muito legal da sua parte tirar um tempo da sua ocupada agenda para
apreciar a arte que eu me esforcei tanto para elaborar. Só saber que meu trabalho é apreciado
é toda a gratidão que eu preciso nesse mundo muito, muito cruel.

Ao invés disso ele disse isso como Você poderia voltar para qualquer buraco da qual você
saiu e parar de me incomodar?

Sem necessidade de comentar que parei de insistir em fazer amizades com qualquer pessoa da
comunidade artística de Glen Lake.

Na quarta-feira, eu passei toda a aula de artes terminando um desenho em carvão de um copo


água, um limão e um caderno em uma prateleira perto de uma janela. Quando o sinal tocou eu
me encaminhei para minha gaveta para guardar as minhas coisas, e Sra. Daniels fez um gesto
para eu ir até o local onde ela estava selecionando a maior parte do tubos de tinta velho de um
armário e atirando eles no lixo. Ela abriu um tubo, testou a tinta nas costas da mão dela, e então
colocou isso de volta na prateleira antes de pegar meu desenho da minha mão.
―Isso parece bom, Lucy.‖ Ela disse, traçando seu dedo pela beirada da página. ―Eu amo o jeito
que as cortinas são transparentes.‖

―Obrigado,‖ eu disse. Eu estava realmente orgulhosa das minhas cortinas, eu desenhei só um


risco nos cantos e umas linhas para indicar pregas, eu queria que o tecido parecesse material,
mas sem peso.

Ela me devolveu o rascunho e cruzou as mãos em frente a seu queixo, tapeando seus dedos
contra seus lábios. ―Lucy, você conhece Francesco Clemente?‖

Sra. Daniels e eu conversamos sobre um monte de artista que nós gostamos, mas eu nunca ouvi
sobre Clemente. Eu estava tentada em fingir que sabia quem ele era então eu não a
desapontaria, mas no último segundo eu mudei de idéia. Digo, e se ele nem fosse um artista? E
se ele fosse o Primeiro Ministro Espanhol ou algo assim?

Eu balancei minha cabeça com um sinal de negação ―Quem ele é?‖

Ela prendeu todo o seu longo cabelo em um coque na altura do pescoço. ―Ele é um artista aqui
em Nova York,‖ ela disse. ―As coisas dele são extraordinárias. Elas me lembram do trabalho
mais antigo de Picasso. Todo aquele talento e alegria.‖ Ela deslizou um lápis pelo coque para
mantê-lo no lugar. ―Ele está com uma retrospectiva no Guggenheim. Você deveria dar uma
olhada.‖

Eu me perguntei se ela falou para todo mundo sobre a exposição ou só para mim. Desde janeiro
eu queria que a Sra. Daniels pensasse que o meu trabalho era de alguma maneira especial. Era
esse o sinal que eu estava esperando? Sem mesmo a minha consciência de que eu estava
fazendo isso, eu senti os cantos dos meus lábios levantarem, algo que não acontecia a um
longo, bom tempo. Era um tipo de milagre que os meus músculos não tivessem atrofiado.
Pensando alto, eu disse ―Talvez eu vá.‖ Eu poderia perguntar ao meu pai se ele queria ir,
também. É claro que isso significava que ele não podia ir esse sábado. Esse sábado tinha sido
reservado por Mara para passar em busca de seu Santo Graal pessoal: a cristaleira no estilo
vitoriano que sem isso o hall de entrada parecia, e eu dei ênfase nisso, ―como se ninguém
amasse ele.‖

―As pinturas de Clemente são simplesmente vibrantes.‖ Sra. Daniels disse. ―E eu acho que você
vai achar isso particularmente interessante por causa da direção que sua arte está levando.‖

Minha arte está levando um direção?

―Soa incrível‖ eu disse, fazendo a decisão de ir lá imediatamente. ―Eu não vou perder isso.
Obrigada.‖

Eu pensei que o elogio da Sra. Daniels ia me carregar pela semana, mas não tão cedo quando eu
abri a porta do refeitório e o calafrio da exclusão social penetrou a calorosa sensação que eu
tinha conseguido com a minha conversa com ela. Eu comprei um sanduíche de peito de peru e
puxei uma cadeira numa mesa vazia onde alguém tinha deixado a sessão de esportes do dia. Ler
sobre basquete deve ter me animado se não tivesse um artigo na primeira página sobre como os
Chicago tinha a partida garantida contra os Lakers hoje à noite. Meu pai cresceu em L.A, e eu
nasci lá. Então mesmo que eu tenha passado a maior parte da minha vida em São Francisco, eu
sou uma grande fã dos Lakers. Como se o artigo obscuro não fosse ruim o bastante, quem
decidiu sentar bem em frente à mesa vazia comigo senão Jéssica e Madison.

―Ok, posso te mostrar o ursinho?‖ Madison perguntou. ―Porque você vai morrer!‖ Eu olhei
para elas. O cabelo de Madison estava sutilmente preso em um rabo-de-cavalo, e seus lábios
era de uma cor ameixa que eu sabia que até minhas irmãs adotivas iriam aprovar.

Jéssica terminou de arrancar a tampa do seu yogurt e olhou para Madison. ―Me dá,‖ ela disse,
levantando a sua mão e balançando seus dedos.

Madison parecia como se ela fosse explodir de alegria enquanto ela passava o ursinho para
Jéssica ―Você tem que apertar ele,‖ Madison explicou.

Jéssica apertou o ursinho, que anunciou ―Eu amo você.‖

Madison deu um pequeno gritinho de alegria, como se ela estivesse esperando a eternidade por
tal confissão desse ursinho em particular. ―Eu sei que é completamente idiota,‖ ela disse. ―Mas
é tão fofo.‖

―Vocês dois são nauseantes,‖ Jéssica disse, mas ela disse isso de um jeito legal, como se ela
não se importasse em ter uma amiga que era parte de um casal nauseante.

―Obrigado,‖ Madison disse. ―Eu estava dizendo a ele que desde que é nosso aniversário de três
meses, ele deveria-― De repente ela apontou pelo refeitório, ―Hey!‖ ela gritou. Então ela
começou a balançar seus braços. Eu olhei na direção que ela estava acenando e vi Matt e Dave,
os namorados de Madison e Jéssica, andando em direção a mesa que nós estávamos sentadas.

Com eles estava Connor Pearson.

Eu o encarei enquanto ele cruzava o refeitório. Era como se meus olhos estivessem agindo por
conta própria; eles não podiam não admirar as longas pernas e os ombros largos de Connor, sua
caminhada graciosa e atlética. E quem podia culpar eles? Se o David de Michelangelo saísse da
L‘Academia usando um uniforme do time de basquete da Glen Lake High School, você ia olhar
também.

Quando os garotos chegaram à mesa, Madison se levantou e deu um beijo de tirar o fôlego.
Como se tivessem sido inspirados pela paixão de seus colegas, Jéssica e Dave começaram a se
pegar com igual, e incrível, desejo.

Finalmente Madison se separou e deu um tapa em Matt no seu braço. ―Eu odeio Matt‖, ela
disse numa voz de menininha.

―Whoa‖ ele disse, passando a mão aonde ela tinha batido. ―Para que isso?‖

―Por assistir o jogo com esses caras hoje à noite ao invés de ver filme comigo.‖ Ela disse.
―Matt. É. Um. Babaca.‖ Ela apontou para ele no peito a cada palavra que ela pronunciava.

―Você não entende,‖ Dave explicou para Madison enquanto Matt desviava dos tapas dela.
―Esse vai ser O jogo. L.A vai se rebaixar.‖ Ele e Matt bateram as mãos no ar.

E então, saindo do nada, como se suporte para o time de casa fosse algum tipo de resposta
automática, eu murmurei ―Aham, certo.‖

Assim que eu percebi o que eu tinha feito, tentei focar os meus olhos no papel, como se as
palavras que eu disse tivessem sido proferidas não pelo meu descuido, mas por alguma coisa
que eu tivesse lido. Era tarde demais. Dave, Matte, Connor, Jéssica e Madison estavam todos
olhando para mim como se eu fosse um pedaço da mobília que tinha de repente recebido o
poder de falar.

―Você está louca?‖ Dave disse. ―Você viu o jeito que Chicago jogou noite passada?‖

Eu desisti de tentar desviar o meu olhar e olhei para ele. ―Como eles jogaram?‖ eu perguntei.
―Os dois melhores jogadores do Lakers estava fora e o juiz deu cinco faltas insanas. Chicago
recebeu o jogo de mão dada.‖

― Recebeu o jogo de mão dada?‖ Dave estava praticamente chocado de indignação. Ele
derrubou seus braços dos ombros de Jéssica. ―Você viu os três pontos? Viu?‖

―Eu vi isso.‖ Eu disse

―Então do que você está falando?? Ele balançou as mãos como se quisesse me chacoalhar.

―Hey, calma aí, cara.‖ Connor disse, segurando os braços de Dave até ele derrubar isso de volta
para o seu lado.

Dave e eu continuamos a nos encarar, mas Dave só estava me encarando por causa do que eu
disse sobre o Chicago, eu estava pirando por bem mais que isso. Falar sem ser convidada para
conversar é quebrar um dos maiores tabus sociais.

Eu estava realmente ferrada.

E então Jéssica abriu sua boca para dizer algo para mim (sem dúvidas nas entrelinhas Cala a
boca, estranha!), Connor deixou os braços de Dave e virou na minha direção. ―Desculpe-me
por isso,‖ ele disse ―O cara aqui tem uma pequena paixão pelo Chicago.‖

E então piscou para mim.

Connor Pearson piscou para mim.

Todo mundo viu isso, também. E eu me senti ficar quente. ―Yeah, claro.‖ Eu gaguejei ―não se
preocupe com isso.‖

Jéssica fechou sua boca e virou para o outro lado. Porque quando Connor Pearson pisca para
alguém, esse alguém não está realmente ferrado.

Ela está realmente perdoada.

―Yo, Pearson!‖ Nós todos olhamos pela porta onde Kathryn Ford e duas das suas criadas
estavam paradas. Mesmo do outro lado do refeitório seu sorriso era de cegar. ―Vocês estão
vindo ou não?‖

―Você sabe isso‖ Connor gritou de volta. Ele virou para Dave e Matt. ―Vamos, caras,‖ ele
disse.

Dave e Jéssica, Matt e Madison começaram a se pegar de novo. Parecia que nada ia por um fim
no selar lábios deles, até Connor pegar a manga da jaqueta de Dave e começar a puxar.
―Vamos!‖ ele disse, agarrando forte o couro. E então Dave estava puxando a jaqueta de Matt e
– ploof! – todos os três tinham ido.

Ninguém disse nada por um minuto depois dos garotos irem embora, e então Jéssica virou na
minha direção.

―Uau, você é realmente, como, ligada em basquete, não é?‖

Poderia ser isso curiosidade no tom dela? Hey, você é a nova garota que está na minha aula de
matemática. Eu realmente deixei passar muito tempo sem tentar te conhecer melhor. Conte-nos
sobre sua paixão por esportes! Eu não estava familiarizada com as normas sócias no meu novo
habitat – era ela amiga ou inimiga?

―Yeah‖ eu disse. Eu odiei que a minha resposta você tão dócil, como se eu tivesse esperando
que ela aprovasse isso. Eu me sentei mais reta. ―Eu sou uma grande fã.‖ Eu estava preparada
para defender meu lazer até a morte.

Isso, aparentemente, não seria necessário, ―Legal,‖ Jéssica disse. Então ela virou de mim para
Madison. ―Você viu Connor e Kathryn no estacionamento hoje de manhã?‖

―Ai meu Deus,‖ disse Madison. ―Eu dou a eles um mês, no máximo, antes deles ficarem
juntos.‖

―Um mês?‖ disse Jéssica. ―Tente uma semana. Você deveria ter ouvido ela. Ela estava toda ‗Eu
ouvi que os Knicks estão tendo uma boa temporada.‘ E ele estava todo ‗Esse pode ser o ano
deles.‘―

―Como se Kathryn de repente se importasse com basquete.‖ Madison disse.

―Como se alguém se importasse com basquete.‖ Disse Jéssica. E ela deu uma pequena mordida
enfática numa cenourinha.

Eu queria dizer algo sobre os prazeres do basquete, como era se perder em um ótimo jogo,
como era assistir o seu time sair da lanterna para marcar em um jogo considerado perdido, ver
um jogador que você estava duvidando por meses manter o seu ritmo. Tinha tanta coisa que eu
poderia ter dito.

Mas eu já tinha dito mais do que o necessário. Eu terminei o meu sanduíche e o artigo e fui
jogar as minhas coisas no lixo, sem me surpreender que nem mesmo Jéssica ou Madison deram
tchau para a minha ida.
Capítulo 3

Quando era só eu e meu pai, nós costumávamos comer a qualquer hora, mas para a inquietação
de Mara, se você não se sentar-se à mesa para as refeições as sete em ponto, você é algum tipo
de bárbaro que não pode ser salvo. E ―se sentar para uma refeição‖ não significa só se sentar.
Significa pratos de porcelana, talheres de prata, velas e arranjos florais elaborados. Mara sai do
―trabalho‖ dela (de meio-meio-meio período como Consultante de Relações Publicas) uns 15
minutos antes, depois de o meu pai tê-la pedido em casamento, então agora ela é livre para
gastar quantidades massivas de tempo e energia obcecada com acessórios culinários, assim
como receitas de crème brulée e algo chamado colher de demistasse. Uma vez, ela entrou na
cozinha enquanto eu estava comendo lo mein direto do pote com os dedos; ela arfou e colocou
a mão no peito como se eu estivesse mordiscando uma cabeça humana.

Como sempre ninguém conversou comigo por todo o jantar – Mara e as Princesas só
compararam teorias sobre os casais das celebridades e tendências da moda. Eu não estava
exatamente chateada por estar sendo ignorada já que as minhas outras opções eram ser instruída
sobre a maneira que eu sou fisicamente e/ou me visto de forma repulsiva.

Depois do jantar o telefone tocou, assim como ele faz todas as noites às 20:00h. Eu estava bem
do lado segurando uma pilha de pratos que eu carregava da sala-de-jantar. Eu derrubei os pratos
na pia e peguei o telefone.

―Hey, Goose, como você vai indo?‖ Meu pai perguntou assim que eu atendi.

―Ok‖ Eu disse.

―Como vai a escola?‖

Mesmo pensando que meu pai pergunta isso todas as noites, eu posso te dizer que ele não quer
realmente saber a verdade. Digo, quem quer ouvir que a filha é uma escória social? Ao invés de
dar detalhes da minha gloriosa vida social, eu disse para ele como Connor, Dave e Matt
achavam que o Chicago iam vencer o L.A.

―Uau, essas crianças na Glen Lake são realmente estúpidas.‖ Ele disse.

―Sem mencionar totalmente grosseiros‖ eu disse, eu comecei uma descrição da sessão de


―beijos e abraços‖ que eu tinha presenciado no almoço. Na metade da minha descrição verbal
dos beijos dos casais, Princesa Um, que estava sentada com sua irmã na mesa da cozinha
mandando e-mails do laptop da mãe delas para todos os meninos do estado, interrompeu.

―Você está falando sobre Jéssica Johnson?‖ ela perguntou.

―Espera só um instante,‖ eu disse para o meu pai. Então me virei ―O quê?‖

―Eu disse você está falando sobre Jéssica Johnson? Porque ela é totalmente demais.―

Eu ouvi meu pai chamando o meu nome pelo telefone.

―Espera um segundo‖ Eu disse, ainda olhando para Princesa Um. ―Como você conhece Jéssica
Johnson?‖ eu perguntei.
Princesa Um suspirou e soprou o de ar com pesar. ―Alô-ou! Ela é, tipo, a irmã mais velha de
Jennifer‖ Jennifer, eu tinha sido informada recentemente, é o nome da garota que é atualmente
a melhor amiga das Princesas. Com o posto de presidente da União Européia, essa posição é
rotativa.

―Espera um minuto, você está me dizendo que tem pais por aqui que o sobrenome é Johnson e
colocam o nome dos filhos deles de Jéssica e Jennifer de verdade? Qual é o nome do irmão
delas, Jack?‖

―Jason‖ as Princesas disseram unidas.

Eu comecei a rir.

―O quê?‖ elas perguntaram, olhando para mim.

―Você não acha que é um pouco estúpido por o nome de seus filhos começando com a mesma
letra do seu sobrenome?‖

―Eu gosto disso.‖ Princessa Um disse ―É chic‖

Eu estava a ponto de dizer que era chic como uma estrela pornô, mas por agora meu pai estava
praticamente gritando o meu nome.

―Desculpe,‖ Eu disse, colocando o telefone de volta a minha orelha. ―Eu só tive que navegar
por uma atmosfera lunática de Long Island.‖

Quando meu pai e Mara decidiram se casar, teve todo esse debate sobre onde deveríamos
morar. Porque o pai das Princesas mora na cidade seguinte e elas têm duas vezes mais tempo de
escola do que eu, a decisão foi que meu pai e eu devíamos nos mudar de São Francisco já que
era melhor que submeter as Princesas a uma traumática travessia do Rio Missisippi. Se você me
perguntar, esse foi um grande erro, já que mudar as Princesas da área-561 era a única coisa que
podia salvar minhas irmãs adotivas a se tornaram má-motoristas, usadoras-de-unhas-postiças e
donas-de-casa viciadas-em-novela.

Infelizmente para elas, ninguém me perguntou.

―Então,‖ meu pai disse ―você leu o Times? Stanford está parecendo muito boa. Eu acho que
esse pode ser o ano.‖ Meu pai, que foi para Stanford, tem uma lealdade ao time da sua
faculdade de tal modo que eu só posso descrevê-lo como perversa. Mesmo que o time deles não
tenha ido para uma final do NCAA a décadas, ele continua a apostar neles.

Antes de eu poder responder, eu ouvi um click, que significava que Mara tinha atendido a
extensão da linha no escritório. É essa totalmente coisa importuna que ela faz – atendendo ao
telefone comigo e meu pai. É como se ela estivesse com medo de que se ela não o
supervisionasse a cada segundo, ele ia perceber o erro que vez ao se casar com ela.

―Olá, amor.‖ Ela disse.

―Oi, querida.‖ Ele disse.

Me mata.

Eu fiz o que eu sempre faço quando Mara se intromete na nossa conversa: a ignorei
―É só em fevereiro.‖ Eu disse ao meu pai. ―Eu não posso começar a pensar em NCCA já.‖

―Espera,‖ Mara disse. ―Eu só comecei a me acostumar com NBA. O que é NCCA?‖

Meu pai só riu como se Mara tivesse tido a coisa mais engraçada na face da terra. ―Nós
cruzaremos aquela ponte quando chegarmos lá, Mrs. Norton‖ ele disse, ainda rindo. ―Docinho,
você é oficialmente fofa."

Eu limpei minha garganta para lembrá-lo que ele não estava exatamente tendo uma conversa
privada.

―Lucy, eu estou só te dizendo,‖ ele disse ―Stanford está tendo uma temporada matadora.‖

Eu suspirei. A verdade é que, mesmo que eu pensasse que Stanford tinha uma chance de vencer
a NCCA, o que eles não vão, eu nunca poderia torcer para escola que é atualmente a
responsável pelo meu estado de miséria. Se meu pai e o irmão de Mara não estivessem no
mesmo andar no primeiro ano de Stanford, e o irmão de Mara não tivesse decidido visitar o
velho amigo dois anos atrás quando ele foi fazer negócios em São Francisco, e meu pai não
tivesse, brevemente desde então, dito uma reunião da sua firma no escritório em New York, e
se ele não tivesse, depois da reunião, encontra seu velho amigo para tomar um drink, e se esse
velho amigo não tivesse levado sua irmã divorciada para o drink, e se essa irmã não estivesse
totalmente a procura de um novo marido, e se meu pai não tivesse se apaixonado por uma
mulher que acha que decoração de interiores é uma arte liberal, eu não estaria atualmente
vivendo em exílio social, relacionado com um casamento e com duas irmãs adotivas de 12 anos
que acreditam que um corte e uma mudança na cor do cabelo é um experiência espiritual
enriquecedora.

―Standfor vai perder pai, dê uma chance a realidade.‖ Era um conforto frio que Stanford tinha
zero chances de levar o título da NCCA para casa, mas ainda era confortante acima de tudo.

―É inacreditável,‖ Mara disse ―se você tivesse me dito a um ano atrás que eu teria uma filha
fanática por esportes, eu nunca teria acreditado.‖

Eu não disse nada. Se você me perguntar, é totalmente estranho como ela começou a se referir
a mim como filha. Certo verão, antes deles se casarem, Mara me tirou do jantar e fez todo esse
discurso de como ela nunca tentaria substituir a minha mãe e como ela totalmente entendia que
eu nunca poderia amar ela do jeito que eu tinha amado a minha verdadeira mãe, mas que ela
esperava que ela podia preencher um espaço na minha vida. Eu disse a ela que eu não
realmente me lembrava da minha verdadeira mãe tão bem assim considerando que ela morreu
de câncer quando eu tinha somente três, então não era como se tivesse realmente algo a se
preencher. Eu quis dizer que eu realmente não me sentia como se precisasse de uma mãe, mas
ficou claro que Mara entendeu que eu quis dizer que eu queria ela para ser minha mãe.

―MÃE‖ As Princesas chiaram.

―O que é?‖ Eu podia ouvir Mara com minhas duas orelhas, na direita, pelo telefone, e na
esquerda, do escritório. Ela estava em todos os lugares de uma vez só.

―Nós precisamos de você!‖

―Estou indo.‖ Eu ouvi o click do telefone enquanto ela desligava.


―Hey, pai.‖ Eu disse, tirando vantagem do nosso ter um minuto para conversar sem Mara ouvir.
―Você quer ir ao Guggheneheim comigo próximo sábado?‖

―Claro, Goose. Vai ser divertido. A gente não vai a um museu a bastante tempo.‖

Eu não podia acreditar o quão fácil tinha sido. Porque eu não tinha sugerido de fazermos
alguma coisa sozinhos antes?

Mara veio correndo para a cozinha ―Sim, meninas?‖

―Esquece‖ Princessa Um disse, não se importando nem de olhar por cima da tela. ―Está
funcionando agora.‖

Mara não estava ao menos chateada de ter corrido toda a casa por nada. Ela só andou para onde
eu estava, ainda no telefone.

―Lucy, você poderia ajudar a terminar de limpar a mesa?‖ eu adoro como ela diz ―ajudar‖,
como se alguém além de mim estivesse fazendo isso.

―Bem, tchau, pai.‖ Eu disse, pegando o conselho de Mara não tão sutil assim.

―Tchau, Goose. Até amanhã.‖ Eu dei o telefone a Mara e fui para sala-de-jantar, onde eu
descobri que nenhum das Princesas tinham carregado nem mesmo um garfo da onde elas
estavam sentadas. Quando eu entrei de novo na cozinha, carregando as coisas delas, eu quase
fiz uma piada de como Cinderela devia saber melhor do que achar que as irmãs dela eram
capazes de limpar algo por elas mesmas, mas eu sabia que ninguém além de mim ia achar
engraçado.

Pessoas nunca acham a verdade divertida.


Capítulo 4

―Lucy, eu sinto que nós vamos encontrar alguma mobília adorável para o seu quarto nessa
viagem. Eu estou tãããão feliz que você pode vir conosco hoje.‖

Era sábado de manhã, e nós estávamos andando pela rua principal de Lomax, New York, uma
cidadezinha no Vale do Rio Hundson. Todos os lugares por onde passávamos eram um café ou
uma loja de móveis antigos. Quando a gente chegou, eu perguntei para um vendedor se ele
sabia algum lugar da cidade aonde se vendia CDs, e ele olhou para mim como se eu tivesse
começado a barganhar um mesa de centro feita de mármore raro.

―Doug, querido, olhe para isso.‖ Mara puxou meu pai em direção a uma vitrine que exibia um
enorme mobília que eu agora sabia que se chamava Cristaleira. ―Isto não iria ficar
simplesmente delicioso no hall?‖

―É bonito, docinho,‖ meu pai disse ―Você quer entrar e dar uma olhada?‖

Os olhos de Mara cintilaram ―Como você me conhece tão bem? É claro que sim.‖ Ele segurou
a porta para ela e ela praticamente dançou para entrar (pelo menos ele não a carregou).

―Você vem, Goose?‖ meu pai perguntou. Ele pergunta como se eu tivesse escolha, como se eu
dissesse ‗não‘ eu não seria acusada de ter um Má Atitude . Aparentemente se você não acha
que examinar mobília antiga de madeira em pequenas cidadezinhas é o melhor jeito de passar o
seu tempo livre, você tem uma Má Atitude. Você também está machucando os Sentimentos de
Mara, o que é uma coisa muito, muito ruim de se fazer. É por isso que eu estou presa nas
pequenas compras de hoje – por que fim-de-semana passado, ao invés de mentir e dizer que eu
tinha um monte de amigos ou trabalho ou qualquer coisa que poderia me manter longe de
passar o fim-de-semana com meu pai comparando cristaleiras no estilo vitoriano novo com o
velho, eu fiz o catastrófico erro de dizer que eu não era lá muito chegada em comprar mobília
antiga. Isso foi no último sábado à noite. Na última manhã de domingo, meu pai veio ao meu
quarto e disse que os sentimentos de Mara tinham sido muito feridos, e ele certamente esperava
que eu considerasse ir com ele no próximo fim-de-semana. Mesmo sabendo que ele tinha usado
a palavra esperava ele claramente significava sabia como ―Eu sei que você vai considerar e vir
conosco próximo fim-de-semana, ou você vai ficar de castigo pro resto da sua vida‖.

Eu disse a ele que eu ia considerar me juntar a eles.

Eu segui Mara pela loja. ―Olhe por ai, Goose,‖ meu pai disse. ―Talvez você ache algo que você
goste para o seu quarto.

Como se não fosse ruim o bastante eu estar morando em uma área ‗desmobilhada‘, Mara tinha
adicionado insulto a injustiça por basicamente remodelar a casa inteira em sete messes desde
que nos mudamos. Eu uma vez fiz o erro de perguntar ao meu pai se não machucava ele ter um
pouquinho de suspeita de que ela tinha sido capaz de escolher, pedir, e trazer de navio da
Inglaterra uma sala-de-estar inteira enquanto continuava a reclamar que não tinha uma única
gaveta na inteira área metropolitana de Nova York que fosse digna do meu ‗quarto-de-porão‘.
Meu pai ficou realmente carrancudo e disse, ―O que você está querendo dizer, Lucy? Que Mara
não quer mobilhar o seu quarto?‖ Na verdade isso era exatamente o que eu queria dizer, mas
ver ele ficando daquele jeito, todo frio e assustado, me deixava maluca. Então eu só disse,
―Nada. Eu não disse nada.‖ e não mencionei isso de novo.
Eu fingi que estava olhando uma penteadeira grosseiramente do tamanho do Arco do Triunfo
enquanto Mara guinchava de prazer em frente à cristaleira. Finalmente seus gritinhos de
empolgação (―Olhe querido, uma gaveta!‖) foram mais do que eu podia suportar, e eu fiz o
meu caminho para o fundo da loja, onde os móveis estavam empilhados tão loucamente que era
impossível achar um lugar para fica em pé. E então meus olhos bateram em algo que pegou
minha atenção – num bom sentido.

―Pai! Hey, pai! Vem ver isso aqui!‖ Deve ter levado a meu pai mais de vinte minutos para
responder; sem dúvidas que é realmente difícil se separar de um cintilante tête à tête sobre
cristaleiras.

―Yeah?‖ Ele finalmente respondeu.

―Vire a esquerda‖ Eu disse ―Eu estou bem no canto onde a pequena mesa está.‖

―Wow, isso é terra incógnita,‖ meu pai disse, subindo sobre um escabelo.

―E olha o que eu descobri‖ eu disse. Encostado na parede estava uma antiga moldura de
madeira. As correntes que passavam pelos suportes eram delicadamente trabalhadas, e a
madeira era de uma vermelho escuro, retirada de algum lugar intrigante. Parecia uma moldura
que Monet ou Ingress teria usado. ―Legal, não?‖ Eu disse.

―Oh, Yeah‖ ele disse. ―É incrível.‖ Ele se ajoelhou, ―Olhe para isso‖ e apontou para o chão.

―Uau‖ eu não tinha percebido que os suportes terminavam em pequenas patinhas de leão. ―É
lindo.‖

Ajoelhados na luz turba da loja de antiguidades eu percebi que era a primeira vez em quase um
ano que eu estava na verdade conseguindo um minuto sozinha com meu pai. Então não foi
exatamente surpresa que eu ouvi Mara chamando o nome dele.

―Doug? Doug, onde você está?‖ O seu tom beirava a histeria.

―No fundo, amor.,‖ ele chamou, ficando de pé. ―Vire a direita na mesa de mármore.‖

―É tão sujo ai atrás‖

Mara prefere suas antiguidades em ótimo estado e limpas. Esta tudo bem que a mobília tenha
sido usada, portanto que não pareça usada.

―Olhe o que Lucy achou‖ meu pai disse, apontando para a moldura. ―Não é incrível?‖

Mara fez uma cara pensativa, ―Oh, é adorável!‖ ela disse. ―Que peça maravilhosa. É como algo
que você acharia em um museu.‖

E então eu sabia que eu nunca estaria permitida a comprar a moldura. Se Mara só tivesse dito
que era adorável, talvez eu teria uma chance, mas ―É como algo que você acharia em um
museu.‖ É traduzido para ―Isso só entra na minha casa sobre o meu cadáver.‖

Meu pai não percebeu isso de primeira ―Oh, você gostou?‖ ele perguntou.

―Eu amei‖ ela disse, indicando com a cabeça animada. ―É realmente uma pena que nós não
tenhamos onde por tão original peça.‖
Diferente de meu pai, eu peguei onde Mara estava indo com seu falso entusiasmo, mas eu não
podia acreditar que ela estava deixando algo tão bonito ―Eu pensei que poderia ir para o meu
quarto.‖ Eu disse.

A indicação de Mara com a cabeça virou uma indicação de negatividade. ―Eu ouvi o que você
disse, Lucy. Só não acho que combina exatamente com o espaço.‖

Yeah, por que você não iria querer comprar algo que confronta com absolutamente nada

―Bem, talvez nos podemos fazer isso funcionar. Você sabe que pode escolher um móvel que
combine com isso.‖

―Mmmmm, yeah.‖ Ela pressionou os lábios, como se estivesse pensando bastante no que eu
tinha dito ―Infelizmente, eu só não acho que vá funcionar.‖

―Bem, porque não?‖ Eu perguntei. Minha voz saiu mais aguda do que eu queria.

Meu pai, que vinha examinando o trabalho em espiral na moldura, olhou para cima. Eu posso
dizer que ele estava tão concentrado na moldura que não tinha sido capaz de ouvir uma palavra
do que tinha sido dito até agora, tão quanto ele estava preocupado, eu estava tomando esse tom
com Mara por nenhuma razão.

―Lucy, eu sei que você esta decepcionada,‖ ela disse ―Mas você sabe que agora nós temos que
nos concentrar no essencial.‖

Ela se virou e foi para a frente da loja. Meu pai pos sua mão no meu ombro ―Talvez outra hora,
Goose.‖ Ele disse

―Yeah, talvez.‖ Eu disse.

Enquanto meu pai pagava pela cristaleira e Mara e o vendedor discutiam sobre uma ótima
maneira de ter o móvel entregue na nossa casa, eu fiquei na porta, pensando preguiçosa na
única coisa boa que me aconteceu recentemente – a piscadela que eu consegui de Connor
Pearson. Eu ainda estava pensando nisso quando nós saímos da loja e começamos a descer o
quarteirão. Ele não tinha só piscado para mim, eu lembrei. Ele tinha me dado aquele realmente
charmoso sorriso, também. A piscadela. O Sorriso. A piscadela. O sorriso. A-

―Oh, Lucy‖ Mara colocou sua mão no meu braço ―Eu deixei minha jaqueta na loja. Você podia
correr lá e pegar para mim?‖

A piscadela. O sorriso... A realidade.

Cinderella nunca tira folga nos fins-de-semana.


Capítulo 5

Ainda bem que Sra. Daniels havia terminado a conferência, então depois de eu pegar o meu
almoço na quinta, eu me encaminhei para o estúdio para come-lo. No meu caminho pelo
Corredor das Humanidades, eu passei por Connor Pearson, que tinha seu braço em torno de
Kathryn Ford casualmente. Eles pareciam com modelos extremamente bonitos retirados de um
catálogo de alguma loja para adolescentes. Assim que eu estava tentando parar de olhar para
ele, Connor Pearson olhou na minha direção. Nossos olhares se encontraram e ele me estudou
por um segundo, como se ele pudesse quase, mas não totalmente, se lembrar de quem eu era. E
então, abriu um sorriso enorme.

―Heeeey – bela aposta no jogo dos Lakers!‖

Ao invés de dar a ele uma espirituosa resposta ou só um sorriso, como eu sou uma garota que
recebe elogios por suas apostas de garotos atletas o tempo todo, eu congelei totalmente. Eu só
fiquei parada lá, como um cervo a ser atingido por um carro.

Por sorte, minha resposta (ou a falta de) não importava. Antes mesmo da pessoa mais
inteligente ter dado a resposta mais esperta, ele já havia ido.

A sala-de-artes estava vazia, mas não parecia deserta. Musica Erodida tocava de um pequeno
rádio que Sra. Daniels tinha na sua mesa, e o cheiro característico de tinta, terebentina e café
eram toda a companhia que eu precisava. Eu me sentei no sofá do canto, tirei meu bloco de
desenho de dentro da mochila, e folheando-o enquanto comia o sanduíche sem gosto que eu
tinha comprado. Estava Sra. Daniels certa? Minha arte estava levando uma direção? Enquanto
eu virava as páginas, eu tentei ver o meu trabalho como um estranho veria, procurando por um
estilo em rascunhos aleatórios que eu havia desenhado nos últimos meses. Mas pelo o que eu
podia dizer, tudo parecia mais o menos a mesma coisa. Eu queria acreditar na Sra. Daniels, que
eu estava desenvolvendo como artista. Mas mesmo me chamar de artista (ainda que uma em
desenvolvimento) parecia pretensioso. Eu olhei pela sala para uma das pinturas de Sam Wolff.

Era uma árvore no inverno – sem folhas, enquanto pingos de neve derretiam pelos galhos.
Como todo o trabalho dele, te colocava lá, fazia você se sentir como estivesse dentro, que se
você tocasse o tronco da árvore, a umidade fria de Fevereiro iria entrar na sua pele. Sim, ele era
um artista. Infelizmente, ele também era um babaca anti-social.

Seria possível para uma pessoa ter talento e uma vida social normal?

Talvez a pergunta fosse: Porque eu, que não tenho nenhum dos dois, desejo tê-los?

Quando eu cheguei no refeitório na sexta-feira, os sanduíches não tinham saído ainda, o que
significa que eu ia ter que ficar em pé na fila sozinha por dez anos esperando na caixa
registradora. Eu tentei cultivar uma cara de legal e desinteressada, como se eu estivesse tão
acima do ensino-médio que eu nem lembrasse que estava cursando-o. Eu na verdade estou em
um pensamento profundo sobre uma tendência intelectual de extrema importância. Mesmo que
você tentasse fazer contato, eu não responderia. Quando a moça do refeitório finalmente
derrubou uma pilha de sanduíches no balcão, eu só peguei um, sem me incomodar de verificá-
lo, joguei o dinheiro na direção dela, e corri para a porta.
Eu estava a metade do caminho para a liberdade quando eu ouvi alguém gritando o meu nome.

―Oi! Lucy Norton!‖ Eu olhei em volta, Jéssica Johnson e Madison Lawler estavam sentadas
numa mesa, acenando freneticamente na minha direção.

Por um segundo eu considerei apontar para mim e dizer ―Quem, eu?‖ mas considerando que A)
eu não sou uma personagem de uma sitcom, e B) as duas estavam olhando diretamente para
mim, enquanto Jéssica gritava meu nome inteiro. Eu escolhi andar até onde elas estavam
sentadas. Assim que eu cheguei na mesa, Jéssica segurou o meu braço tão forte que as unhas
dela entraram na minha pele.

―Hei‖ Eu disse. Meus cumprimentos foram casuais, ao invés dos de Jéssica, que se agarrava a
mim como se eu fosse a única coisa entre ela e um transplante de órgãos que salvaria sua vida.

―Nós podemos só dizer que achamos que você nunca ia chegar aqui?‖ disse Jéssica, me
puxando para o lado dela. Ela virou para Maddison, que estava concordando de modo
encorajante. ―Eu não tinha dito ‗Eu vou totalmente procurar ela se ela não aparecer por aqui
rápido‘?‖ Maddison continuou concordando, com seu rabo-de-cavalo indo pra cima e pra
baixo, como um compasso.

―Oh‖ eu disse, considerando perguntar, Alguma chance de vocês terem me confundido com
outra pessoa?

Maddison tirou com habilidade uma mexa de cabelo do seu rosto. Então apontou para uma
cadeira na mesa delas ―Senta‖.

Eu puxei uma cadeira e sentei, esperando pelo próximo comando. Late! Rola! Jéssica levantou
suas sobrancelhas para mim, ―Então,‖ ela disse

―Então,‖ eu repeti.

―Então,‖ disse Maddison, ―quem é a menina de cabelos vermelhos fogosos nova na sala que
talvez tenha chamado a atenção de -―

―Licença,‖ Jessica disse alto ―Eu acho que esse é o meu anuncio.‖ Mas Jéssica não parecia se
importar em interromper. De fato, ela sorriu para Maddison, e as duas começaram a dar
risadinhas. A coisa toda estava começando a me deixar bem, bem nervosa. Eu apertei meu
sanduíche misterioso, minha mão meio suada contra o papel.

―Ok,‖ disse Jéssica, prendendo a respiração. ―Quem é o cara mais bonito da escola inteira?
Dica: ele é um sênior e está no time de basquete.‖

Seria isso um truque? Ambos Dave e Matt eram sêniors. Eu decidi enrolar por um tempo.

―Bem, isso é meio que subjetivo,‖ Eu disse cuidadosamente.

Enquanto Maddison fez uma cara (ou por causa da minha enrolação ou por não saber o que
subjetivo significa), Jéssica continuo, ―O nome Connor Pearson diz algo a você?‖

Por um segundo eu não disse nada; eu só abri e fechei a minha boca, como um peixe. Então, o
tão calmamente quanto eu podia, eu repeti, calmamente ―Connor Pearson?‖
Jéssica se inclinou para trás sem dizer uma palavra e levantou as sobrancelhas, primeiro para
mim e depois para Maddison. Por um segundo, eu congelei de medo. Seria isso um tipo de
piada de humilhação bem elaborada? Eu continuei em silêncio, tentando recriar a série de
circunstâncias que fariam Maddison e Jéssica decidirem que elas tirariam tempo das suas vidas
ocupadas para me atormentar, mas era impossível. Vamos só encarar isso: Se Maddison tivesse
energia criativa para elaborar o esquema que eu estou imaginando ela provavelmente estaria
numa classe de matemática avançada.

―O que tem Connor Pearson?‖ Eu disse, mantendo minha voz regular. Talvez isso fosse só um
tipo de teste de cidadania da Glent Lake HighSchool. Qual o nosso mascote? Como você vai do
laboratório pro teatro sem passar pelo lobby? Quem é o garoto mais bonito da escola?

Jéssica balançou sua cabeça, claramente desorientada com o qual difícil eu estava tornando isso
para todo mundo. Então ela passou pela mesa e tocou minha mão, como se contato físico fosse
penetrar minha estupidez. ―Que tal isso, sobre Connor Pearson,‖ Ela pausou dramaticamente e
apertou meus dedos. ―Connor Pearson gosta de... rufem os tambores, por favor...‖ ela virou
para ter certeza que Maddison estava olhando intensamente para ela como eu e então virou para
mim de volta ―Lucy Norton.‖

Uma sensação quente e latejante começou na minha cabeça e se preparou para descer por todo
meu corpo. Ao contrário de todas as ruivas, eu não tenho sardas e não fico vermelha – ao
menos no lado de fora. Mas eu podia sentir-me ficando quente; um pingo de suor desceu pelas
minhas costas, e o sanduíche quase caiu das minhas mãos.

Maddison se virou para Jéssica ―Ela está sem fala‖ ela anunciou, dando uma risadinha.

Jéssica estava rindo, também ―Eu te disse que ela iria ficar‖. Ela levantou as sobrancelhas para
Maddison antes de se virar para mim. ―Connor disse para Dave para me dizer para te dizer que
ele gostaria que você fosse no jogo hoje à noite. Ele disse que ele acha-― ela parou para olhar
para nós duas ―que você é legal.‖

Meu coração estava batendo forte e algo estava errado na minha cabeça, que parecia estar
flutuando em algum lugar em cima do meu corpo.

Eu limpei minha garganta. ―Ele não, hm, sai com Kathryn Ford?‖

Jéssica fez uma cara como se eu tivesse sugerido que Connor saia com Dave ―Eles são só
amigos.‖ Ela disse.

―Yeah‖ Maddison disse, avastando a minha idéia como se fosse uma nuvem inconveniente de
fumaça de cigarro. ―Eles são só amigos.‖

Nós todas ficamos sentadas lá por segundo, digerindo a informação. Então Jéssica tocou minha
mão novamente e balançou a cabeça entusiasmada. ―Então eu digo que você deveria vir ao jogo
com a gente.‖

A Cabeça de Maddison balançou para cima e para baixo ―Yeah, Lucy, venha ao jogo hoje à
noite.‖

Meu cérebro continuava não funcionando direito; eu podia ver os lábios se movendo, mas não
conseguia processar o que elas estavam dizendo. ―Hm, desculpe, você disse hoje à noite?‖
Minha boca estava tão seca que foi difícil separar os meus lábios.
O riso de Jéssica se transformou numa careta ―Qualquer outro plano que você tenha, você tem
que cancelar.‖

Outros planos? Eu quase ri. Quando foi a última fez que eu tive outros planos?

Isso estava realmente acontecendo? Eu estava realmente sendo convidada a um jogo de


basquete pelo cara mais gostoso da escola? Era quase como se-

―Ah, meu Deus,‖ eu disse alto. Porque de repente, olhando através da mesa para Maddison, a
verdade bateu tão forte que eu senti ela estalar entre meus olhos.

O Príncipe Encantado estava requisitando a minha presença hoje à noite.

Jéssica, entendendo errado o meu ataque, gritou ―Eu seeeei!‖ então ela estendeu as mãos na
minha direção e na de Maddison ―Então, você vem?‖ ela perguntou.

Por um segundo eu só fiquei lá, olhando para elas. Com seus suéteres combinando, cabelo
arrumado e com luzes, lábios e olhos bem pintados, Maddison e Jéssica pareciam mais modelos
teen do que fadas-madrinhas. Mas eu não tinha dúvida de que fadas-madrinhas era exatamente
o que elas eram. Porque você não tem que ser Walt Disney para ver que minha vida era um
conto-de-fadas. E finalmente, depois de todo esse tempo, eu tinha chegado a parte que eu
terminva em ―e viveram felizes para sempre‖.

Eu esperei um minuto, me dando tempo para que a importância do momento entrasse. Então eu
respirei fundo, coloquei minha mão junto as de Jéssica, e aceitei meu destino.

―Definitivamente.‖ Eu disse.
Capítulo 6

Às cinco e meia, bem quando eu estava terminando um segundo breakdown e começando meu
terceiro, alguém bateu na porta do porão.

"Lucy, posso descer?" Era Mara.

"Claro". Ela desceu as escadas segurando uma amostra quadrada de carpete na mão, algo com o
qual eu poderia ficar empolgada se ela não tivesse descido com quadrados idênticos pelos
últimos seis meses. Quem poderia saber que existem tantos tons de bege no planeta?

"Como vai?", ela perguntou.

"Bem", eu disse. Foi bom que ela não tivesse aparecido cinco minutos antes, quando eu estava
tentando fazer minha cabeça parar de girar colocando-a entre os joelhos e respirando fundo.

Ela atravessou o piso, que estava coberto de roupas e livros. "O quarto está meio bagunçado",
ela disse.

"É, desculpe por isso", eu disse.

Mara ficou contra a parede, cruzando os braços no peito. "Eu gostaria que você cuidasse um
pouco mais das suas coisas, Lucy."

Eu estava tentada a perguntar para que cuidar das minhas coisas se eu não tinha lugar para
guardar o que eu por acaso quisesse cuidar. Mas isso significaria uma grande discussão sobre
como Mara dava duro para achar a cômoda perfeita e o quanto ela queria que eu gostasse do
meu quarto e me sentisse à vontade lá uma vez que estivesse decorado. Tendo menos de uma
hora para tomar banho, decidir o que vestir, me vestir, e dar mais alguns breakdowns para não
ficar nervosa, essa não era a hora de explicar à minha madrasta que ela não tinha que se
preocupar com o aconchego do meu quarto.

Em vez de tentar explicar minha nova situação, eu decidi simplificar as coisas. "Eu
definitivamente vou limpá-lo quando tiver tempo", eu disse. "Eu só não posso fazê-lo agora."

"Você tem planos hoje?" Foi minha imaginação ou Mara soou chocada?

"Mais ou menos", eu disse. Pensando nos meus planos, eu comecei a ficar com a cabeça leve de
novo, eu esperava não precisar soprar uma sacola de plástico na frente da minha madrasta.

"Oh?"

"Eu meio que fui convidada para o jogo", eu disse. "Por essas garotas que eu conheço."

"Que garotas?" ela perguntou, como se soubesse o livro do ano da Glen Lake decorado e fosse
imediatamente capaz de reconhecer qualquer uma das centenas de garotas cujos nomes eu
poderia dizer.

"Ahn, são só umas garotas que eu conheço", eu disse. Por que eu consigo passar uma dúzia de
sextas-feiras encarando as paredes descascadas do meu "quarto" sem ninguém da minha família
colocar a cabeça aqui em baixo para ver se eu ainda estou viva e, na primeira vez em que eu
realmente tenho planos (grandes planos, que precisam de extraordinária concentração e
preparação em massa), minha madrasta de repente sugere que cantemos um dueto de "Getting
To Know You"¹?
¹"Conhecendo você" em inglês

Eu realmente queria pedir a Mara um pouco de privacidade, mas eu tinha que tomar cuidado
em rejeitar as iniciativas maternas dela. Se eu fizer isso, ela fica toda magoada, então reclama
com o meu pai e ele briga comigo por não ter dado uma chance a ela. O máximo que eu podia
arriscar era dar as costas e escavar uma pilha de roupas.

"Como você vai ao jogo?" Mara claramente não tinha conhecimento dos significados da
linguagem corporal.

"Elas vêm me buscar", eu disse, ainda não virando de frente.

Houve um breve sinal de respiração. "Elas dirigem? Quantos anos elas têm?"

"Estão no segundo ano", eu disse. "Vêm me pegar em um táxi.

Mara pensou no que eu disse por um minuto. "Que horas você estará em casa?"

Eu hesitei. Que horas eu vou estar em casa? Em São Francisco eu nunca tive um horário oficial
para estar em casa, eu só tinha que ligar e informar ao meu pai que horas esperar por mim.

"Eu não sei", eu disse. "Mas eu ligo se for chegar tarde."

"Como?" disse Mara. Ela falou isso como se eu tivesse dito que iria ligar pra ela de Charles de
Gaulle se a tarde virasse uma viagem continental.

"Eu disse que vou ligar se ficar tarde."

―Lucy, seu pai não vai ficar feliz quando eu contar para ele que eu não tenho a mínima idéia de
que horas você estará em casa.‖

Eu trinquei os dentes. Como se eu precisasse dela para me dizer sobre quais circunstâncias meu
pai ia ou não iria ficar bravo.

―Olha, Mara, eu não sei o que te dizer. Eu não vou chegar em casa tarde.‖ Lembrando de algo
que Jéssica me disse no almoço, eu disse ―Eu acho que os garotos tem um horário de recolher
durante a temporada ou algo assim‖.

Os olhos de Mara quase pularam da cara dela. Muito tarde, eu percebi o que tinha feito. ―Os
garotos?‖ ela disse. ―Que garotos?‖.

Eu me forcei a andar até Mara e por minha mão no braço dela. Nós estávamos em um território
muito, muito delicado.

―Eu estou indo num jogo de basket com Jéssica Johnson. Você sabe, a irmã mais velha de
Jennifer?‖ Quem diria que eu estaria agradecida com minhas meias-irmãs pelo conhecimento
intimo que elas tinham da família J-J-J-Johnson?

Mara concordou.
―Então depois nós poderemos jantar depois do jogo com alguns jogadores,‖ eu adicionei ―Eu
vou estar em casa as onze.‖. Honestamente, eu não tinha idéia de que horas eu estaria em casa,
mas o vôo do meu pai chegava seis e meia. As onze eu estaria lidando com ele e não ela.

―Bem-em‖ ela disse ―Onze soa razoável‖

Por um segundo eu fiquei com medo de que eu não iria me segurar de gritar com ela. Eu não
tenho horário de dormir, a regra é que eu tenho que ligar se for me atrasar. Eu só disse que
iria estar em casa as onze para te tirar da minha cola, sua bruxa má controladora.”

Felizmente eu fui capaz de reprimir a necessidade de expressar esses sentimentos. A única


coisa que eu não conseguia controlar era como minha mão apertava-se levemente no braço da
Mara.

Ela confundiu meu aperto de raiva com algum tipo de gesto afetuoso e sorriu para mim.

―Eu só quero o que é melhor para você,‖ ela disse.

―Ah, eu sei, Mara.‖

Eu aposto que foi isso que a madrasta da Cinderela disse, também.

De pé na frente do espelho do banheiro com uma camiseta e calça de moletom, eu podia ver
que me livrar da Mara tinha me lançado de um dos muitos obstáculos da noite diretamente para
outro: O que eu iria vestir?

Os conselhos fashion das minhas irmãs adotivas ecoaram no meu cérebro. Lucy, você não vai
usar isso vai? Lucy, as suas calças são tããão cinco minutos atrás. Dez minutos atrás. Ontem.
Mês passado. Ano passado.
Hoje à noite eu definitivamente não queria estar cinco minutos atrás. Eu queria estar atual. Eu
queria estar bonitinha. Eu queria estar sexy. Eu queria estar descolada. O problema era que eu
absolutamente não tinha idéia de quais eram os padrões de Glen Lake de gostosa, bonitinha,
sexy, ou descolada. Na Wellington, todo mundo basicamente usava jeans e camisetas o tempo
todo. Mesmo se tivesse um baile ou algo assim, as pessoas se vestiam o mais casualmente
possível, como se nem em um milhão de anos elas fariam algo tão podre como se arrumar para
um baile de escola. Eu acho que a idéia é aparecer com um aspecto de como se você nem
soubesse que tinha um baile; você só tinha ido passer com o cachorro ou comprar cigarros ou
algo assim, e quando deu por si você estava agitando com os seus colegas.

Mas as pessoas em Glen Lake se arrumavam até mesmo para a escola. Elas usavam conjuntos,
camisas de cores coordenadas e calças e meias. Eu mesma não tenho nenhum conjunto. A não
ser que conte jeans e uma camiseta preta. O que é totalmente o meu uniforme de cinco-
minutos-atrás.

De jeito nenhum eu iria usar jeans e uma camiseta preta para o jogo depois de usar isso
basicamente todos os dias do ano.

Eu finalmente me decidi por uma camiseta apertada e verde com decote em U com uma sainha
preta, meia-calça preta, e botas pretas com um salto baixo e grosso. Por cima da camiseta, eu
coloquei uma blusa de moletom velha de Stanford do meu pai. Eu olhei para mim mesma no
espelho. Não estava mal. A blusa de moletom dizia, ―Eu sou super doidinha‖, enquanto a saia
dizia, ―Eu sou super sexy.‖
A não ser que eu estivesse enganada e todo o conjunto simplesmente dissesse, ―Eu sou uma
super esquisita.‖ Eu encarei o meu reflexo.

―Ei, Connor,‖ eu disse nervosamente. Minha voz soou aguda e diminuta, Barbie Tropical
bombada com estrogênio.

Eu limpei minha garganta. ―Ei, Connor,‖ eu disse novamente, abaixando a minha voz em um
oitavo.

Agora eu soava como Harvey Fierstein.

Um carro buzinou do lado de fora. Meu coração começou a golpear e eu tive a sensação no
fundo do meu estômago de que estava prestes a vomitar.

Outra buzinada. Eu tomei um longo fôlego e exalei lentamente.

―Ei, Connor,‖ eu disse para o espelho. Soava bom. Não perfeito, mas bom. Eu estudei o meu
reflexo. Algo ainda não estava bem certo. Eu tirei a blusa do moletom.

O carro buzinou novamente.

Eu estiquei a mão e puxei o prendedor do rabo-de-cavalo. Meu cabelo caiu ao redor do meu
rosto e ombros, um aquarela de vermelhor vivo.

Eu encarei a mim mesma, duramente. Com o meu cabelo solto, eu definitivamente não parecia
uma imitação de mulher. E a camiseta verde ficava bem contra o vermelho. Nada mal. Nada
mal mesmo.

Eu apaguei a luz e corri escada acima.

―Desculpa estarmos atrasadas,‖ disse Jessica, enquanto ela e Madison deslizavam para abrir
espaço ao lado delas no banco traseiro. ―Essa aqui‖ – ela apontou para Madison – ―levou por
volta de dez anos para decidir o que usar.‖

Madison deu de ombros e apontou para mim. ―Gostei da sua saia,‖ ela disse.

―Ah, obrigada,‖ eu disse, aliviada.

―Ei, as suas irmãzinhas estão na sala da minha irmã,‖ disse Jessica. ―Ela são totalmente
adoráveis.‖ As Princesas? Adoráveis?

―Er, é,‖ eu disse. ―Eu acho que Jennifer é a grande amiga delas.‖ Eu consegui não acrescentar
por enquanto no final da minha sentença.

―É, ela é uma completa pirralha,‖ disse Jessica. ―Ela me deixa louca.‖

Eu sabia que havia uma oportunidade se apresentando aqui, mas eu não estava certo sobre
como proceder. Eu dizia que as Princesas eram umas completas pirralhas, também, ou isso me
faria parecer uma vaca? Talvez eu tivesse que defender a Jennifer, dizer que ela era adorável,
como a Jessica tinha dito que as Princesas eram. Enquanto eu analisava e rejeitava meia dúzia
de superficialidades, eu percebi que seis meses na Sibéria social tinham cobrado seu preço. Eu
não era mais capaz de levar adiante até mesmo a mais mundana das conversas.
Enquanto eu estava ocupada tentando bolar uma observação banal mas ao mesmo tempo
profundamente significante sobre as minhas irmãs adotivas monstruosas, a conversa avançou.

―Você está totalmente animada sobre o Connor?‖ perguntou Jessica.

―Bem, eu–‖

―Deus, essa cor é escura demais,‖ disse Madison, que tinha tirado um espelho da bolsa da
Jessica para checar seu batom.

Era verdade; a boca dela estava manchada com um tom perturbador de roxo. Ela esfregou seus
lábios com um lenço de papel.

Jessica desmanchou rabo-de-cavalo, virando-se na minha direção enquanto afofava seu cabelo
ao redor do seu rosto. ―Uau,‖ ela disse, ―seu cabelo é realmente vermelho.‖

Ela estava fazendo uma observação ou uma acusação?

―Er, é,‖ eu disse. Minha mão voou para a minha cabeça como se tocar meu cabelo o fizesse
menos vermelho.

―Vou usar o seu gloss,‖ disse Madison, alcançando a bolsa da Jessica.

―É, claro. Vá em frente,‖ disse Jessica. Ela ainda estava olhando para mim. ―É natural?‖

―Er, é,‖ eu disse pela segunda vez enquanto Jessica pegava sua bolsa de volta da Madison e
procurava nela.

Eu nunca deveria ter soltado o meu cabelo. O que eu estava pensando? Eu me sentia
absolutamente exposta, como se eu estivesse vivendo aquele sonho em que você está andando
pelo corredor na escola e de repente percebe que não está usando nenhuma roupa.

―Minhas irmãs adotivas vivem me dizendo para tingir,‖ eu disse, tentando controlar meu tom
para que ficasse em algum lugar entre uma afirmação e uma pergunta. Tinha um prendedor na
minha bolsa?

―Por que você tingiria?‖ perguntou Jessica, correndo sua escova pelo seu cabelo. O olhar que
ela me deu foi um de confusão honesta. ―É totalmente legal.‖

―Ah, obrigada,‖ eu disse, forçando uma risada. ―Quero dizer, não estava pensando seriamente
em tingir.‖

Mas, é claro, por um segundo ali, eu estive.

Eu nunca fui à um jogo de basquete de escola antes. Oficialmente, Wellington tinha um time de
basquete, mas eles não são exatamente do tipo campeões estaduais, e ninguém que eu
conhecera já seguiu seus pontos de perto. O time de Glen Lake por outro lado, é uma força
destruidora, algo que os poetas de versos épicos devem cantar sobre nos próximos séculos.
Logo que chegamos eu chequei o placar: 5-0 para Glen Lake. O time visitante estava dando um
lance livre. Eu sempre amei observar os jogadores na linha de falta. O jeito como eles driblam
lentamente, param, driblam novamente. Eles são como figuras religiosas entrando em um
transe místico. O cara fazendo esse lance estava nervoso, e ele segurou a bola por um longo
tempo antes de jogá-la em direção a cesta. Antes mesmo que ela deixasse suas mãos eu podia
dizer que não ia entrar, mas eu observei ela cair perto da cesta de qualquer jeito, sentindo a
combinação de simpatia e alívio que eu sempre sinto quando um time oposto perde um lance.

O ginásio, que poderia ter facilmente agrupado milhares de pessoas, estava dois terços cheio, e
a multidão estava entusiasmado o bastante para o dobro das pessoas que realmente estavam ali.
Nós subimos até a metade das arquibancadas lotadas e nos sentamos com um grupo de
estudantes do segundo ano que eu não conhecia. Enquanto Madison e Jessica falavam com seus
amigos, eu olhei para baixo para a quadra e achei Connor, que estava gritando algo para o cara
que estava com a bola. Mesmo dessa distância ele era lindo. Diferente de um monte de caras
altos ele não é desengonçado e desajeitado, e seu cabelo espesso e escuro caia sobre suas
sobrancelhas. Enquanto eu estava observando, ele tirou-o de seu rosto e então correu seus
dedos por ele. Eu senti um pequeno choque de eletricidade formigar na minha própria mão.

O placar rapidamente ficou absurdamente perto. No quarto tempo Glen Lake conseguiu fazer
uma cesta atrás da outra por um curto tempo, mas então o outro time alcançou e nós ficamos
empatados por um longo tempo. Eu estava na beirada do meu assento, especialmente num
momento realmente tenso quando Connor e a defesa do time foram em direção à cesta como se
não houvesse nada que os impediria de marcar. Eles passavam a bola facilmente para frente e
para trás até que a defesa, repentinamente cercada, tentou, e falhou dar uma volta nos caras que
o estavam cercando. Eu segurei minha respiração enquanto ele driblava em um lugar,
procurando por uma abertura, então passou para o centro, que, em um lance quase impossível
do lado de fora do círculo de três pontos, afundou a bola. Eu atirei meu punho no ar e gritei,
―SIM!‖

―O quê?‖ perguntou Jessica, que estivera falando com Madison.

―Você perdeu isso?‖ Eu perguntei. Nosso lado todo estava torcendo. Mesmo nós estarmos
sentadas bem ao lado uma da outra, eu tive que gritar para ser ouvida.

―O quê?‖ ela perguntou, ―O que eu perdi?‖ e de repente Madison estava me encarando,


também.

―O número dezessete acabou de marcar,‖ eu expliquei. ―Nós estamos na frente por dois.‖ Eu
me perguntei se a razão pela qual elas não estavam exatamente assistindo o jogo tinha algo a
ver com o fato de que Matt e Dave ainda tinham que sair do banco.

―Ai meu Deus, esse é o irmão do Matt,‖ disse Madison, estapeando suas bochechas com suas
mãos para que parecesse com O Grito. ―Não acredito que perdi essa.‖

―Que bom,‖ disse Jessica. ―É melhor esperar que Matt não pergunte sobre isso.‖

Madison tirou seu cabelo da frente de seu rosto. ―Pooor favoor,‖ ela disse. ―O que ele vai fazer,
me interrogar sobre o jogo?‖ Então ela riu. ―E se ele interrogar, Lucy pode me ajudar. Certo
Lucy?‖ Ela colocou seu braço ao redor dos meus ombros e me deu um apertão, apertando sua
bochecha nas minhas costas por um segundo antes de me soltar.

―Certo,‖ eu disse.

Quando Connor afundou a última cesta da vitória, até mesmo Jessica e Madison estavam de pé.
A onda de prazer que havia me banhado era algo muito mais intenso do que qualquer tipo de
espírito escolar.
Por toda as arquibancadas as pessoas estavam chamando o nome do Connor. Ele sorriu para os
fãs e até mesmo deu um pequeno aceno, o que só fez as pessoas gritarem mais alto. Eu sabia
que ele não estava acenando para mim, mas mesmo assim. Connor Pearson sabe quem eu sou,
eu me encontrei pensando. Ele sabe o meu nome. É claro que o meu nome é justamente a única
coisa que ele sabe sobre mim, mas era algo.

Afinal de contas, o que o Príncipe Encantado sabia sobre a Cinderela além do número do
sapato dela?
Capitulo 7

Piazzola está localizado na Vila de Glen Lake, numa estrutura de madeira envelhecida que
costumava ser um moinho e está situado na beira do rio que atravessa o Centro da Cidade, é, na
verdade, um edificio bem legal, diferentemente de toda Glen Lake, que tem todo este falso ar
de cidade antiga de Glenne Loch. Se você olha o Piazzola por fora você pode até pensar que é
um restaurante italiano chique porque é todo de madeira escura e iluminação fraca, mas
basicamente é apenas uma pizzaria.

Quando nós entramos, tinha uma longa fila formada quase que inteiramente das pessoas que
estiveram no jogo.

Jessica, Madson, e eu tinhamos tomado um taxi na escola, e quando Dave, Matt e Connor
chegaram, cabelos molhados pelo banho, havia apenas um grupo de pessoas na nossa frente
esperando por uma mesa. Pessoalmente, eu não me importaria se tivessem cinquenta grupos de
pessoas na nossa frente, já que eu estava uma pilha de nervos. Como eu ia conseguir engolir
algum pedaço de pizza? Eu estava num encontro. Eu estava num encontro com o garoto mais
popular da escola e eu nunca tinha tido um encontro na minha vida.

Minha ansiedade não diminuiu exatamente pelo fato de que assim que chegaram os garotos, os
dois casais começaram a se beijar enquanto eu e Connor ficamos ali em pé. Seu cabelo
molhado estava brilhando,e suas bochechas estavam vermelhas.

―Oi‖, ele disse,sorrindo. ―Você veio‖.

―Eu vim‖, eu disse.

Os olhos deles estavam num azul profundo, e enquanto nós nos encarávamos, ele colocou os
braços em volta do meu ombro, se aproximou de mim, mal encostando seus lábios na minha
bochecha. Eu senti uma agradável brisa de alguma coisa doce e deliciosa – Colônia, sabonete
ou shampoo, eu não tinha certeza. Meu coração pulou até a garganta e eu não pude mais
respirar. Eu tive certeza que eu ia desmaiar.

Pra minha sorte, os casais logo pararam de se beijar e Connor deu um passo atrás.

―Dave, Matt, vocês conhecem a Lucy‖, disse Jéssica.

―Oi‖, disse Dave.

―Oi‖, disse Matt.

―Oi‖, eu disse. ―Grande jogo‖.

Matt e Dave murmuraram obrigado, eu me perguntei se eles se sentiram estranhos de levar


crédito de uma vitória que eles não tinham contribuído em nada. Então, pensei, talvez eles
ainda estejam amargos pela derrota do Chicago para os Lakers semana passada. Enquanto eu
estava tentando me decidir como eu poderia abordar o assunto do Chicago Bulls sem parecer
que eu estava me vangloriando, a recepcionista veio até onde nós estávamos e chamou o nome
da Jéssica.

―Somos nós‖, disse Jéssica. ―Mesa para seis‖.Enquanto nós entrávamos pelo restaurante atrás
da recepcionista, Connor colocu seus braços em volta dos meu ombro como se fosse uma coisa
que ele tivesse feito um milhão de vezes antes. Nós passamos no mínimo por 5 ou 6 mesas de
estudantes do Glen Lake, e em cada uma delas, alguém sempre acenava e dizia. ―Oi,Connor‖
ou ―Grande jogo, Connor‖ ou ―Como vai,Connor?‖ E até um simples, ―E aí, cara!‖ Connor não
parou pra falar com ninguém, mas ele sorriu para muitos e disse ―oi, cara‖, algumas vezes para
pessoas que eu não conhecia. Todos que chamaram Connor também sorriram para mim, o que
foi bem legal, mesmo que alguns dos sorrisos parecessem mais com um ponto de interrogação.

Assim que o garçom tirou nosso pedido, Madison virou para o Connor. ―Aquele foi um
arremesso maravilhoso‖, ela disse. Eu imaginei se ela realmente viu ele fazendo o arremesso da
vitória, ou se só estava repetindo o que ouviu as outras pessoas falarem.

―É‖, disse Dave.‖Grande jogada‖. Ele e Connor bateram as mãos por cima da mesa.

―Obrigado, cara‖, disse Connor. Ele tinha tirado a jaqueta e o suéter e estava usando apenas
uma camiseta cinza que mostrava o quanto os ombros dele eram bem definidos.
Meu estomago revirou, e eu tive que olhar para o outro lado.

―Então, ruiva‖, ele disse. Demorou um minuto para eu perceber que ele estava falando comigo.
―Você gostou do jogo?‖ Ele colocou sua mão nas costas da minha cadeira.

―Foi um grande jogo‖, eu falei pra ele,―eu fiquei roendo minhas unhas o tempo inteiro‖.

―Lucy sabe tudo sobre basquete‖, Jéssica informou Connor.

―Bem, depois daquela vitória do Lakers, eu estou planejando levar as provisões dela bem mais
a sério‖, Connor disse, sorrindo um sorriso privado só para mim.

―O que?‖perguntou Madison, e quando Connor não explicou, ele se voltou para Matt, ―Que
provisões?‖ ela perguntou.

Eu sorri de volta para Connor e olhei dentro de seus olhos azuis.―É por isso que você quis que
eu viesse esta noite?‖ eu perguntei, balançando a cabeça. ―Pra ter meus palpites para as finais?"

Ele arqueou a sombracelha para mim. ―Talvez seja isso‖, ele disse. ―Talvez seja isso‖.

Quando não tinha mais nada sobrando das duas grandes pizzas que nós pedimos, a não ser uns
pedaços de borda, Jessica, Madison e eu pedimos licença e fomos ao banheiro. Enquanto
Jessica e eu fazíamos xixi, Madison ficou em frente ao espelho contando para nós quantas
calorias tinha em cada pedaço de pizza. Assim que eu saí do reservado, Maddison virou pra
mim e perguntou se eu achava que ela estava gorda. Quando eu disse que não, ela esperou a
Jéssica sair do reservado e então perguntou a Jessica se ela achava que ela estava gorda. Jessica
disse que não. Madison disse que nós duas éramos mentirosas e beliscou uma gordura bem
acima do quadril para provar sua teoria.

Quando nós voltamos para mesa havia um monte de dinheiro no centro dela.Eu peguei a minha
bolsa para tirar o dinheiro.

―Não se preocupe‖, disse Connor, ―Eu paguei a sua parte‖.

Paguei a sua parte.


Então ele riu para mim, como se pagar meu jantar fosse a coisa mais normal do mundo.

―Obrigada‖, eu disse. Mas o que eu queria dizer era , Connor, sou toda sua.

Connor, Dave e Matt se levantaram. ―Vocês, garotas, podem nos comprar sorvetes‖, disse Matt.

―Ah, Ei‖, disse Madison enquanto seguíamos os garotos para fora do Piazzola, ―eu não vou
comer sorvete. Vocês sabem o quanto de gordura tem numa bola de sorvete?‖

Nós descemos a Rua Main em direção a Sorveteria Gelato e na primeira ou segunda quadra eu
me dei conta de quanto nós dois estávamos calados. Jessica e Dave estavam tendo algum tipo
de conversa aconchegante (Jessica estava fazendo gestos e Dave assentia com a cabeça), e
Madison e Matt estavam rindo, mas Connor e eu estávamos apenas andando, sem falar nada.
Justo quando eu tive certeza que minha falta de coisas interessantes para dizer estava tornando
o meu encontro dos sonhos em um pesadelo, Connor colocou sua mão bem atrás do meu
pescoço.

Você pode até achar que é desconfortável ter alguém te segurando pelo pescoço, mas não é. É
exatamente o oposto, de fato. Eu não sei se era por causa de todos os treinos com a bola de
basquete, mas Connor Pearson sabia exatamente como colocar as mãos po trás do pescoço de
uma pessoa, não tão gentil, e também não tão apertado. Quando nós chegamos na sorveteria,
ele estava usando seu dedão e dedo indicador para me fazer uma massagem realmente leve, e
eu sabia que não importava que nós não estivessemos conversando.

Nós andamos em volta da vila comendo nossos sorvetes por algum tempo até que os garotos
tiveram que voltar para casa por causa do toque de recolher. Madison me acenou enquanto ela e
Matt andavam em direção ao carro dele, e Jessica me deu um abraço apaixonado como aqueles
que ela dava em Madison depois de uma prova de Matemática.

―Te vejo segunda‖, ela disse, finalmente me soltando e seguindo em direção ao carro de Dave.
―Sim, te vejo segunda‖, eu disse. Connor e eu andamos em direção ao carro dele e ele manteve
a porta aberta para mim enquanto eu deslizava pelo couro do banco de passageiros.

Por toda noite eu tentei manter meu ar sofisticado de quem não estava nem aí, como se sair
com um cara lindo, popular, mais velho, fosse uma coisa que eu fizesse regularmente em
Wellington. Agora que Connor e eu estávamos sozinhos, contudo, a fachada estava caindo.
Violentamente.Meu estomago estava dando nós. Minha boca estava como o deserto do Saara.
Eu busquei uma bala na minha bolsa, mas assim que meus dedos fizeram contato com a
embalagem da bala, me ocorreu que talvez aparecendo de repente com um curioso cheiro forte
de menta na minha boca, assim que eu acabei de entrar no carro, podia me dar uma imagem de
garota fácil, como, Oi, eu acho que nós vamos nos beijar a qualquer momento, e eu quero estar
preparada. Eu fechei a minha bolsa deixando o pacote de Altoids dentro.

Eu nunca estive num carro com um garoto antes. Quer dizer, obviamente, eu já estive nm carro
com uma espécie masculina, mas eu nunca fui levada em casa de um encontro por um garoto.
Connor apertou um botão no rádio e Mos def começou a tocar. O volume estava um pouco alto
para que nós dois pudéssemos conversar, mas Connor não pareceu se importar, então também
não me importei. Ele pousou sua mão levemente no meu joelho enquanto dirigia.

Quando nós chegamos na minha vizinhança, eu falei minhas primeiras e únicas palavras de
todo caminho: ―Vira a esquerda na esquina‖, seguido por, ―é a terceira casa a direita‖.
―Bem, é isso‖, eu disse. Enquanto Connor diminuia a velocidade em frente a minha casa e
estacionava o carro, minhas mãos começaram a suar.

―Ei, ruiva‖, ele disse,e tirou seu cinto de segurança.

Na luz baixa do carro , eu podia apenas ver suas bochechas e seu perfil perfeito.E então tudo
começou a ficar borrado e eu percebi que ele estava se inclinado na minha direção.
Seus lábios eram macios, e ele colocou suas mãos em volta da minha nuca e moveu seus dedos
gentilmente sob os meus cabelos. Beijar ele era como tomar um copo de água cristalina e
gelada quando você está queimando de calor.Eu não queria parar nunca mais.

Quando ele finalmente se separou de mim e eu abri meus olhos, eu não conseguia me focar em
nada.

―Eu tenho que ir‖, ele disse suavemente,―toque de recolher‖.

―Ah,certo‖, eu disse, ―toque de recolher‖.

―Eu me diverti muito hoje a noite‖, ele disse.

Eu mal podia formar as palavras, meus lábios estavam derretendo.

―Eu também‖, eu finalmete consegui dizer.

―Então, te vejo segunda‖, ele disse.

Eu assenti, e alcancei a porta para abri-la, e comecei a sair sem tirar o cinto de segurança, o que
me puxou de volta. Eu votei para o mesmo lugar que estava.

―Eu esqueci de tirar meu cinto‖, eu disse. Mesmo sabendo que eu não bebi nada, me senti
bêbada.

―Sim‖, ele disse, e se inclinou e me beijou de novo antes de alcançar o cinto e abri-lo para mim.
―Agora sim‖, ele disse.

―Obrigada‖, eu disse. Eu saí pela porta e fechei ela atrás de mim. Agora era como se todo meu
corpo estivesse derretendo, demorei um tempo pra poder me coordenar para ir me afastando do
carro. Eu me virei e vi Connor dirigindo para longe. Minhas bochechas estavam quentes e meus
lábios estavam inchados, como se eu estivesse mordendo eles. Então eu flutuei de volta pra
casa, percebendo que possivelmente eu passei a melhor noite da minha vida.

Aparentemente ser Cinderela não era tão ruim assim.


Capítulo 8

Quando eu acordei de manhã eu me senti tão bem como se tivesse ganhado as finais da NBA.
Não só eu tinha tido o mais perfeito, maravilhoso, incrível (para não mencionar único) encontro
da minha vida, eu ia realmente passar um dia sozinha com o meu pai, algo que não acontecia
desde que morávamos em uma costa diferente.

―Lucy, está acordada?‖ Era o meu pai gritando da cozinha. Eu olhei para o relógio – dez e
quinze. Nós deveríamos estar a caminho do Guggenheim em trinta minutos.

―Estou!‖ Eu gritei, jogando as cobertas para longe de mim e saltando para fora da cama.

Meu pai odeia esperar as pessoas.

Enquanto me apressava para ficar pronta, eu mantinha o filme do beijo de Connor correndo na
minha mente. Eu o via se inclinar na minha direção, perfeitamente iluminada pelas luzes da rua.
Eu senti sua mão na minha cintura, seus lábios encostando contra a minha têmpora.

Geralmente meu pai começa a marchar pela sala como um animal engaiolado, checando seu
relógio e suspirando dramaticamente a medida que a hora estimada de partida se aproxima.
Mas essa manhã quando eu subi as escadas, ele estava lendo calmamente o jornal na sala de
estar, e eu era quem estava inquieta para ir embora. Eu mal conseguia esperar para entrar no
carro e começar a contar a ele tudo sobre a minha noite.

Bem, talvez não tudo sobre ela.

―Vamos, vamos, Senhorzinho,‖ eu disse, apontando para o meu pulso onde meu relógio, se eu
usasse um, estaria. ―Você acha que Patton leu a seção de Artes e Lazer no dia D?‖

Meu pai olhou para cima. ―Bem, bem, bem, como estamos no horário certo,‖ ele disse. ―Você
parece praticamente pronta para sair por essa porta.‖

―E você pode tirar o ‗praticamente.‘ Eu estou saindo.‖ Eu comecei a ir em direção a porta.

―Eu acho que Mara está um pouco atrasada,‖ meu pai disse. ―Nós estamos ajustando a hora
estimada de partida em meia hora.‖

"Mara?" Eu disse como se nunca tivesse ouvido o nome antes.

―Não se preocupe, Sargento, nós logo a colocaremos em nosso patamar de pontualidade,‖ disse
meu pai.

Eu fiquei feliz de estar de costas para ele para que ele não conseguisse ver a expressão em meu
rosto. Eu tentei deixar minha voz neutra. ―Eu só não... Quero dizer, eu não sabia que ela ia,‖ eu
disse. Assim que eu consegui moldar minha boca em algo semelhante a um sorriso, eu me virei.

―Claro que ela vai,‖ disse meu pai. Ele pareceu confuso. ―Por que ela não iria?‖

Bem, por que ela iria? ―Eu achei que íamos, sabe, para a cidade só nós dois.‖ Eu tentei lembrar
da própria conversa em que contei a ele sobre a exibição. Ele tinha mencionado que Mara ia?
Quando eu disse ―juntos‖ ele achou que eu quis dizer os três de nós juntos?

Agora meu pai estava franzindo a testa. Ele abaixou sua voz. ―Lucy, eu acho que iria realmente
machucar os sentimentos da Mara se ela achasse que você não quer que ela vá conosco.‖

Eu abaixei a minha, também. ―Não é que eu não queira que ela vá,‖ eu comecei. Mas também
eu não sabia como terminar a sentença. Porque honestamente, era exatamente o que era.

―Eu achei que você gostasse da Mara,‖ disse o meu pai. Ele não parecia mais bravo, ele parecia
magoado, como se eu tivesse aberto um presente que ele estava muito animado em me dar só
para ver o meu rosto cair.

―Eu gosto da Mara,‖ eu disse. ―Sério.‖ Eu fui até onde ele estava sentado e fiquei no chão ao
lado da cadeira dele. Ele colocou sua mão na minha cabeça.

―Querida, somos uma família agora,‖ ele disse. ―E famílias fazem as coisas juntas.‖

Eu estava prestes a dizer que muitas famílias que eu conheço fazem coisas separadamente, mas
bem quando eu abri minha boca, Mara desceu a escada.

―Tcha-ram!‖ ela disse, de pé na arcada entre a sala de estar e o vestíbulo. ―Só quinze minutos
atrasada. Um recorde pessoal.‖

Meu pai aplaudiu. ―E valeu cada segundo extra,‖ ele disse. Ela veio e beijou o topo da cabeça
dele, então se inclinou e beijou o topo da minha. Meu escalpo latejou com aborrecimento onde
os lábios dela tinham tocado-no.

―Pronto?‖ ela perguntou.

―Podi apostá,‖ disse meu pai, ficando de pé. Ele esticou sua mão e me ajudou a levantar do
chão. "Lucy? Está pronta?‖

Eu olhei para cima. Seu rosto era uma mistura de preocupação e impaciência que eu nunca
tinha visto antes. ―É,‖ eu disse, esticando a minha mão para pegar a dele. ―Estou pronta.‖

Quando chegamos no carro, eu abri a porta do lado do passageiro e estava prestes a entrar
quando vi meu pai olhando para mim. Ele franziu a testa e balançou sua cabeça ligeiramente.

Eu fiz uma careta para ele gesticulou em direção ao assento. ―Entra,‖ eu disse para Mara.

―Agora, é isso que eu chamo de serviço,‖ ela disse, deslizando para dentro do carro. Eu fechei a
porta e abri a de trás, deslizando pelo assento traseiro para sentar no meio. Eu capturei o olhar
do meu pai enquanto ele olhava no espelho retrovisor antes de recuar.

―Você está bem aí atrás?‖ ele perguntou.

Mas era mais uma afirmação que uma pergunta, então eu dei a resposta que eu sabia que ele
queria. ―Claro,‖ eu disse. ―Simplesmente ótimo.‖

―É isso que nós gostamos de ouvir,‖ ele disse, colocando o carro em marcha ré.

Certamente é, eu pensei. Certamente é.


―Graças a Lucy, nós vamos ver uma das mostras de arte mais quentes em Nova York,‖ meu pai
disse, esticando sua mão sobre a marcha e pegando a mão de Mara. Não havia tráfego na
alameda, e ele estava dirigindo a cerca de mil seiscentos e nove quilômetros por hora.

―Clemente é o sucesso do momento.‖ Deitada no assento traseiro, eu girei meus olhos para o
teto do carro.

Mara virou-se e sorriu para mim. ―Como você ficou sabendo da mostra?‖

Eu sabia que ela só estava falando comigo porque o meu pai estava ali, então mantive minha
resposta o mais curta possível. ―Da minha professora de artes.‖

Mara ainda estava virada me encarando. ―Deve ser legal para você ter uma professora que você
respeita tanto na aula de artes,‖ disse Mara.

―É? Por que isso?‖

Mara estava sempre falando sobre como é importante que as garotas tenham bons professores
de matemática e ciência porque uma vez que elas cheguem no ensino médio, elas
aparentemente começam a bombar nessas matérias. É bem engraçado ouvir ela falar seus
monólogos feministas, considerando que ela passou sua vida adulta inteira sendo sustentada por
não somente um mas dois maridos. Eu acho que a idéia da minha madrasta de oportunidade
igualitária é a mulher aproveitar toda oportunidade que tiver para descontar algo no cartão de
crédito do homem.

Ela derrubou a mão do meu pai, esticou a mão atrás de si, e deu tapinha na minha coxa antes de
se virar para frente de novo. ―Bem eu acho que estava pensando no quão importante a Sra.
Daniels deve ser já que sua mãe era uma artista,‖ ela disse.

Mara está totalmente convencida de que eu nunca falo sobre a minha mãe por causa do quão
traumatizada eu estava por sua morte. É uma das muitas teorias brilhantes sobre
comportamento humano que ela confeccionou da biblioteca de livros de auto-ajuda que ela
acumulou durante seus anos como divorciada. Eu me sentei e tentei fazer com que meu pai
fizesse contato visual comigo ao encarar o espelho retrovisor, mas apesar de ser um dia
nublado, ele tinha colocados os seus óculos de sol do Exterminador do Futuro, e eu não
conseguia encontrar seus olhos.

―Ela é legal,‖ eu disse, e eu deitei de novo.

O Museu Guggenheim fica na esquina da Fifth Avenue com a Eighty-Ninth Street, diretamente
do outro lado do Central Park. Frank Lloyd Wright designou o estranho e lindo prédio – uma
pilha de círculos brancos que se expandiam de baixo para cima. Hoje o museu estava lotado de
turistas, a maioria dos quais parecia que tinha acabado de sair de um cruzeiro e mal conseguia
esperar para voltar a bordo. Enquanto líamos o painel introdutório da exibição, Mara, que
estava inclinada contra o meu pai, sussurrou algo em seu ouvido, e ele riu e envolveu o braço
que não estava ao redor da cintura dela ao redor de seu peito.
Era isso que ele queria dizer por famílias fazendo coisas juntas?

―Ei, pai, olha só isso,‖ eu disse, ―esse não seria um nome ótimo para uma banda – Criação
Extraordinária?‖ Eu apontei para a frase no painel.
Meu pai estava sussurrando algo no ouvido da Mara quando eu comecei a falar, e agora ambos
olharam para mim, como se tivessem esquecido que eu estava lá.

―O que você disse, querida?‖ ele pergunta.

Bem quando eu ia me repetir, meu pai fez cócegas em Mara, que deixou escapar um grito e
disse, ―Doug!‖

Deus, comparado a esses dois, Madison e Matt realmente tem uma certa decência.

―Eu disse que eu acho que vou seguir,‖ eu disse.

―Por quê?‖ Mara estava com seus dedos entrelaçados nos do meu pai. Suas bochechas estavam
coradas.

―Eu meio que tenho que olhar umas coisas para a aula.‖

―Você quer dizer, como uma tarefa?‖ perguntou meu pai. Ele tinha corrido uma mão pelo
cabelo de Mara, deixando seus dedos descansarem na sua nuca. Eu pensei na noite passada e
em Connor segurando meu pescoço.

Tudo tinha oficialmente ficado um tantinho estranho demais.

―É, exatamente,‖ eu menti. ―Como uma tarefa.‖

―Bem, está certo,‖ ele disse. ―Suponho que nos encontraremos no final.‖

Eu já estava recuando, me perdendo na multidão. ―Ótimo,‖ eu disse, concordando


entusiasmadamente. ―Vejo vocês no final.‖

Eu caminhei por décadas do trabalho de Clemente, nervosa demais para ver qualquer uma das
telas brilhantemente coloridas ao meu redor. Se tudo o que ele ia fazer era acariciar Mara, por
que meu pai se incomodou em vir? Ele realmente queria arruinar o meu dia? Essa era uma
teoria plausível, exceto que para planejar arruinar meu dia meu pai teria que na verdade pensar
em mim, algo que ele claramente não fazia mais.

E então, de repente, bem quando eu estava considerando sair com tudo na Fifth Avenue e
deixar Mara, meu pai, e o museu para trás, eu parei com tudo por causa de uma pintura que
ocupava quase uma parede inteira: um rosto amalucado de vermelho e verde e amarelo. A boca
estava aberta em um sorriso, e cada dente era um crânio. A língua era um impossível rosa
pálido e delicado. Sentado na afiada ponta do lindo e do grotesco, não era como qualquer outra
obra de arte que eu já tinha visto.

Eu não sei quanto tempo eu fiquei parada ali, de boca aberta, quando eu notei o cara que ficava
olhando da pintura para mim sem parar. Eu me endireitei um pouco mais antes de perceber que
era só Sam Wolff da minha aula de artes. Sam tem cabelo preto e encaracolado, e quando ele
está pintando ou desenhando, ele o puxa, então geralmente quando eu o vejo seu cabelo está
mais ou menos de pé. Mas eu acho que quando ele não faz isso, ele fica deitado mais
planamente, o que explicaria minha falha em reconhecê-lo de primeira.

―Ei,‖ ele disse, virando-se para me encarar. ―Você está na minha aula de artes.‖ Ele não sorriu.
―Ah, certo,‖ eu disse. ―Eu estava tentando descobrir de onde eu te conheço. O que você está
fazendo aqui?‖ Eu me perguntei se a Sra. Daniels tinha lhe contado sobre o museu, também.
Por um lado, eu gostava da idéia de que eu era a única estudante para a qual ela tinha contado
sobre a exibição. Pelo outro, se ela ia me agregar com outro de seus estudantes, Sam Wolff não
era exatamente uma companhia pobre artisticamente.

―O que eu estou fazendo aqui?‖ perguntou Sam. Ele olhou ao redor para as pinturas e então de
volta para mim. ―Estou comprando um sofá-cama.‖

Eu não sabia se ele estava rindo comigo ou de mim. ―Engraçado,‖ eu disse.

Quando ele não disse nada, eu provavelmente deveria ter tomado seu silêncio como um sinal
sutil de que ele não estava interessado em prosseguir com a conversa, e mesmo assim eu
mergulhei nela. ―Então, gostou da exibição?‖ Eu perguntei.

Ele tinha voltado a olhar para a pintura. ―O quê?‖ ele perguntou distraidamente.

―Você gostou da exibição?‖ Minha pergunta, que não tinha sido exatamente brilhante da
primeira vez, soou completamente idiota da segunda.

―Se eu gostei dela?‖ Sam repetiu minha pergunta lentamente, rolando as sílabas em sua boca ou
porque não estava certo de como responder a ela ou porque ele sentia que estava
experimentando um sabor novo e particularmente impressionante de idiotice.

―Sim,‖ eu repeti em uma voz esnobe. ―Você gostou dela?‖ Por que eu estava sendo tão rude?
Afinal de contas, ele só repetiu a minha pergunta. Muitas pessoas faziam isso e eu não
estourava com elas. Mas havia algo no jeito como ele estava parado aqui, silenciosamente,
como se estivesse totalmente sozinho com a pintura, como se eu nem ao menos estivesse aqui,
isso estava me enlouquecendo.

Mas também, era meio como eu estava parada aqui há um minuto.

Sam finalmente olhou para mim. ―Sim,‖ ele disse. ―Eu gostei.‖

―Ah,‖ eu disse, despreparada para tal resposta civil. ―Bem, eu gostei, também.‖

Sam correu sua mão pelo seu cabelo. Com seus cachos novamente guindados para o teto, ele
parecia mais com o cara na minha aula de artes do que parecera há um minuto.

―Isso é... ótimo,‖ ele disse.

―É,‖ eu disse. ―Ótimo.‖

Ele olhou para seu relógio. ―Bem, eu tenho que ir,‖ ele disse. ―Eu vou me encontrar com
alguém no centro.‖

―Ah, é, é claro,‖ eu disse. Eu olhei para o meu punho sem relógio. ―Eu devia ir andando logo,
também.‖

―Está bem. Bem, tchau,‖ ele disse, virando-se para ir.

―É, está bem. Tchau.‖ Eu o observei desaparecer na multidão.


Eu vaguei por uma salinha no espaço da exibição principal. No passado, sempre que meu pai e
eu íamos a um museu, nós jogávamos esse jogo onde tínhamos que escolher qual pintura
queríamos se só pudéssemos ter uma. Eu tentei jogar o jogo sozinha, andando lentamente pela
sala e parando perante cada peça enquanto eu imaginava possuí-la. As coisas aqui eram
completamente diferentes da pintura que eu acabara de olhar; tudo nessa sala ou era uma
página de um manuscrito diminutamente iluminado ou um desenho de lápis igualmente
intrincado. Eu imaginei pendurar primeiro uma peça e então outra na minha sala. Mas não era
divertido sem ter alguém para quem mostrar o que eu tinha escolhido, então finalmente eu parei
de tentar e me dirigi para o lobby. Eu acabei vagando pela loja de lembranças, onde meu pai e
Mara estava comparando anéis de guardanapo. Eu os observei por um minuto, rindo e falando
juntos, antes de eu chamar o meu pai. Ele olhou para cima, mas ele não pareceu
particularmente feliz em me ver nem nada.

Na corrida toda de volta no carro, eu tentei descobrir o que estava de errado comigo. Como
você pode ser a Cinderela depois de ela conhecer seu príncipe e ainda se sentir incrivelmente
triste?
Capítulo 9

A primeira coisa que eu fiz quando o ônibus parou na Escola na segunda feira de manhã foi ver
se a SUV do Connor estava no estacionamento dos sêniors. E estava. Eu vou dizer isso pelos
dependentes de carro no subúrbio-é bem mais fácil achar um carro aqui do que em uma grande
metrópole como São Francisco.

À caminho da aula de química, minha última aula antes do intervalo, eu ainda não tinha visto
Madison, Jessica, ou Connor, mas eu comecei a me sentir estranha. Todos os lugares que eu ia
pequenos grupos de pessoas estavam cochichando uns com os outros. Primeiro eu me perguntei
se algum escândalo tinha acontecido no fim-de-semana, como em Novembro quando dois
garotos foram expulsos por vender Ecstasy. No meu caminho entre a aula de química e a
cafeteria, no entando, eu comecei a perceber que a conversa estava mais localizada, uma coisa
que me seguia por todo lado. Duas conversas cessaram assim que eu passei e começaram logo
depois que eu estava longe o suficiente para não escutar. Eu achei que estava sendo paranóica,
mas depois eu passei por um grupo de garotas sênior que eu não conhecia que estavam
conversando perto de seus armários. Assim que eu me aproximei elas pararam de conversar e
olharam para mim. Então, enquanto eu passava, elas disseram, "Oi," mesmo que eu nunca
tivesse dito uma palavra à elas.

"Oi,"eu disse de volta, pensando, O que está acontecendo?

De repente eu comecei a ter uma sensação estranha no meu estômago. E se Connor tivesse dito
ao Dave ou ao Matt sobre como nós demos uns amassos no carro, só que ele transformou isso
numa espécie de piada. É, cara, ela estava totalmente na minha. Ela praticamente pirou
quando eu a beijei. Eu lembro como eu tinha ficado tão desorientado que tinha tentado sair do
carro sem tirar o cinto de segurança. Seria sobre isso que estavam todos falando? Lembrando
de todos os filmes que eu tinha visto em que o cara bonito e popular chama a garota feia e
impopular para sair por causa de uma aposta, eu andei rápido, sem encontrar os olhos de
ninguém por quem eu passava.

A cafeteria estava lotada, mas ao invés de pegar meu sanduíche e seguir para a saída em
direção ao estúdio, eu me encontrei andando até a mesa em que Madison, Jessica e eu sentamos
na sexta-feira. Quando eu me aproximei, eu pude ver Jessica sentada lá sozinha, mas quando eu
estava para acenar, eu me parei. E se a Madison tivesse planejado toda essa coisa com o Connor
para me humilhar? Por que eu tinha sido tão rápida em avaliar a Madison como estúpida
demais para inventar uma piada prática e compelxa? É isso que acontece quando você
subestima as pessoas-elas destroem você.

Eu decidi que eu ia diminuir a velocidade enquanto me aproximava da mesa de Jessica, mas


não iria parar. Dessa maneira, se ela não me pedisse para sentar com ela, eu podia fingir que eu
só estava passando ao ir me juntar aos meus outros amigos. Quando eu estava a duas mesas de
distância, eu cortei minha velocidade pela metade, e no momento em que eu estava a uma mesa
de distância da de Jessica, um caracol paralítico poderia me ultrapassar. No momento em que
eu ia começar a andar para outro lugar, Jessica olhou para cima, me viu, e falou com alegria.

"Ah meu Deus," ela disse, correndo e me dando um abraço. "Eu posso só dizer," ela andou
comigo de volta à mesa e me puxou para perto dela, "que vocês dois são adoráveis juntos?"

"Você realmente acha?" eu senti a urgência em administrar um polígrafo* naquele instante.


* detector de mentiras
"Ah meu Deus, você está brincando? Eu queria que você pudesse ver vocês dois. Foi tudo
sobre o que nós falamos o fim-de-semana inteiro. A gente queria te ligar, mas nós não sabemos
seu celular. Então nós ficamos pensando, 'Eles não fazem o casal mais fofo?'"

Eu não sabia o que dizer. Eu nunca tinha sido parte de um casal fofo antes.

"Oo-i!" chamou Madison, caminhando até nós. Ela caiu na cadeira do lado oposto à Jessica
com sua enorme mochila no ombro. "Por favor digam que alguma de vocês sabe alguma coisa
sobre as imagens de O Grande Gatsby?"

"A gente o leu no primeiro semestre. É tudo sobre a luz verde." disse Jessica. "Só fique falando
sobre a luz verde"

"Por cinco páginas?" Madison balançou a cabeça e mudou de assunto. "Mas chega de falar
sobre mim. Como estão vocês?"

Minha porta-voz respondeu com entusiasmo. "Como você acha que ela está?" ela colocou os
braços ao redor dos meus ombros e me deu um abraço. "Ela é simplesmente, tipo, a namorada
do Connor Pearson."

"Eu sei!" Madison praticamente gritou. Ela colocou a mochila no chão e se inclinou em minha
direção. "Ele está totalmente afim de você. Ele disse ao Matt que te acha muito inteligente." Ela
fez uma pausa e sorriu para mim. "E bem sexy. Ele disse que ia te convidar para ir ao jogo na
sexta-feira." Ela colocou minhas mãos nas delas e então alcançou as de Jessica também. "Quão
incrivelmente legal é isso?"

"Certo, nos conte tudo," disse Jessica. Ela estava sorrindo e apertando minhas mãos
firmemente.

Quando foi a última vez que alguém me pediu para contar qualquer coisa, muito menos tudo?
A curiosidade delas era como o calor do sol após um mergulho num gelado oceano.

"Ele beija bem?" perguntou Madison.

"É," eu adimiti. "Ele beija bem."

Jessica e Madison me deram um apertão na mão.

"A gente sabia!" Madison disse.

"Então, espere," disse Jessica. "Quão bom?"

Eu não podia deixar de sorrir ao lembrar do meu beijo com Connor.

"Oooh, ela está sorrindo," disse Madison.

Eu puxei minhas mãos de volta e coloquei meu rosto nelas. "Parem," eu disse através dos meus
dedos. "Vocês estão me deixando envergonhada."

"Certo, nós vamos parar," disse Jessica. Mas quando eu olhei para cima ela e Madison ainda
estavam me encarando e sorrindo para mim.
"Você é, tipo, tão legal," Jessica anunciou, e Madison concordou com se Jessica tivesse dito
uma verdade santa.

Olhando para seus rostos maravilhados, eu podia literalmente ver o poder do toque de Connor.
Com o beijo dele, o príncipe tinha transformado essa enteada antipática em uma garota popular.

Eu não fui atrás do Connor até depois do sexto período, quando nós estávamos indo um em
direção do outro dos lados opostos do corredor. Eu o vi antes que ele me visse, e observando-o
de uma distância, eu lembrei de todas as vezes que eu tinha passado por ele no corredor antes
de hoje, totalmente ciente de quem ele era enquanto ele nem mesmo sabia que eu existia. Então
ele me avistou, e de repente ele estava com um sorriso de orelha a orelha, como se me ver fosse
a melhor coisa que havia acontecido com ele no dia.

Ele era realmente meu namorado agora? Isso não parecia ser possível.

"Oi, Tomate*," ele me chamou, diminuindo a velocidade. Ele estava usando um suéter verde de
aparência macia com a sua jaqueta do basquete por cima. O corredor estava cheio de pessoas
indo para as salas, e pelo canto do olho, eu observei que algumas delas estavam reparando em
nós dois.
* Eu traduzi o "Red", Vermelha, que o Connor chama a Lucy para Tomate porque "Vermelha"
ficaria muito estranho :)

"Oi, Connor," eu disse. Uma garota que eu não conhecia passou e disse, "Oi, Connor," e ele
acenou na direção dela sem olhar para cima.

"Então, você vem ao jogo na sexta, certo?"

"Certo," eu disse. Pensar no jogo e que depois dele eu sairia com Connor me fez sentir
excitada, e eu me arrepiei um pouco.

"Você está com frio?" ele perguntou.

"Ah, não, eu só-"

Mas ele já estava tirando a jaqueta e colocando-a sobre os meus ombros. Era pesada e cheirava
a qualquer delicioso sabonete ou colônia ou xampu que Connor usasse.

"Ei, você está muito bem com ela," ele disse, me admirando. "Porque você não fica com ela por
um tempo?" Ele pegou a minha mão por um segundo.

"Sim, claro," eu disse."Eu vou ficar com ela por um tempo". Eu senti como se fosse desmaiar.
Eu sinceramente senti como se fosse desmaiar. E eu sabia que se eu desmaiasse, Connor me
pegaria no colo e me carregaria até a enfermaria, e imaginar ele fazendo isso me fez sentir
como se fosse desmaiar ainda mais. Felizmente, nesse instante o sinal tocou.

"Tenho que ir," ele disse. "Higby fica maluco se eu me atraso." E ele se virou e foi arrastado
pela multidão.

Pela hora que eu cheguei à aula de Inglês, a última do dia, eu devo ter dito oi para pelo menos
50 pessoas. Talvez 150. Era como se eu fosse uma celebridade ou algo assim. Enquanto eu
andava pela sala de aula vazia, eu percebi que era a primeira vez que eu tinha estado sozinha
desde o almoço. Eu sentei na minha cadeira de sempre, abri meu caderno em uma página em
branco e comecei a desenhar, feliz por ter a sala silenciosa só para mim.

Minha solidão, entretando, tinha uma vida curta. Um minuto depois Rachel Smith entrou na
sala e correu até onde eu estava sentada, puxando a cadeira da mesa próxima à minha.

Quando ela se sentou, ela explodiu uma bolha em minha direção. "Eu vi você no Pizzolla's na
sexta," ela disse.

"Ah, é," eu disse. "Eu jantei lá." Foi isso que nós fizemos no Piazzolla's? Eu não podia na
verdade me lembrar de ter comido alguma coisa.

"Quer chiclete?" ela segurou o pacote na minha direção. Durante o momento eu tinha sentido o
cheiro de alguma coisa de morango.

"Não obrigada," eu disse.

Ela guardou o chiclete em sua bolsa. "Eu acenei quando você estava saindo, mas eu acho que
você não me viu."

Ela tinha acenado para mim? "Eu acho que não," eu disse. "Desculpa." Nesse instante Bethany
Mille entrou e fez o caminho mais curto para a mesa vazia ao meu lado.

"Oi," disse Bethany. Ela estava usando uma minisaia que teria sido muito curta até para um
gato. Quando ela tirou a jaqueta, os peitos dela praticamente saíram da sua blusa de corte baixo
para a mesa dela. Ela me deu um enorme sorriso.

"Oi," eu disse. Rachel e Bethany, que são melhores amigas, normalmente sentam uma do lado
da outra para que elas possam trocar bilhetinhos do momento em que a aula começa até o
segundo em que ela termina. Uma vez, em setembro, eu cometi o erro de sentar na mesa vazia
ao lado da de Bethany, e ela pediu para eu mudar de lugar. Na verdade, ela não me pediu para
mudar, ela me disse para mudar. O que ela disse foi, "Você está sentada no lugar da minha
amiga."

"Você e Connor Pearson são o casal mais fofo," Bethany gritou. "Vocês estavam tão bem na
sexta." Ela apertou meu ombrou quando disse "Sexta." Então ela deixou a mão dela cair na
minha mesa.

"Urn, brigada."

"Porque vocês dois são tipo, altos e magros e tal. Vocês parecem dois modelos."

"Obrigada," eu disse novamente. Se tem uma coisa que eu sei que não pareço com, é uma
modelo. Eu olhei para baixo para o meu desenho enquanto o resto da sala começava a encher.
Algumas pessoas sorriram para mim ou disseram oi.

"Oooh, isso é legal," Rachel disse, olhando para o meu caderno. "Realmente parece com um
copo d'água."

Bethany olhou para baixo para admirar meu desenho, também. "Totalmente. Você é tipo, uma
artista muito boa? Porque isso é muito bom."Ela disse acenando com a cabeça
entusiasmadamente, e depois repetiu. "Muito."
"Ah, eu não sou-" eu comecei a dizer, mas nesse instante a Srta. Merriam entrou na sala.

"Vamos sentar, classe," ela disse.

Rachel chegou perto e deu um tapinha no meu ombro. Então ela disse com a boca, "Me liga."

Eu confirmei com a cabeça, muito surpresa para mencionar que eu não tinha o número dela.

Eu posso ter me transformado em realeza na escola, mas meu alto status não tinha efeito algum
na minha vida em casa, onde eu permanecia tão invisível quanto sempre. No jantar Mara e suas
filhas falavam exclusivamente sobre as compras que elas tinham feito depois da escola (sem
mim, naturalmente). Pricesa Um não podia se decidir se ela deveria ter comprado um suéter
verde, como tinha feito Princesa Dois, ou se ela estava certa em tê-lo comprado em azul, como
Mara. Mara prometeu que elas poderiam voltar ao shopping na sexta feira e Princesa Um
poderia ter o suéter verde, também.

Enquanto Princesa Dois reclamava sobre o quão injusto isso era, Mara ouvia atentamente,
comendo pequenas porções da sua comida seguidas por um pequeno gole de água.

"Ah, garotas, eu quase esqueci," ela disse depois de assegurar à Princesa Dois que ela também
podia comprar outro suéter."O pai de vocês ligou e disse que vocês precisam levar algo
arrumado para usar nesse fim-de-semana porque eles vão receber algumas pessoas para jantar
no sábado a noite."

"Eu odeio quando eles têm companhia," reclamou Princesa Um, batendo o grafo no prato com
impaciência.

"É tão injusto," disse Princesa Dois. "Nós temos que sentar lá sem dizer nada e todo mundo nos
ignora."

"Eu vou falar com Diana sobre isso," disse Mara. "Vocês duas são uma adição adorável ao
jantar. Ela deveria ser mais atenciosa."

As Princesas odeiam a madrasta delas Diana com uma paixão, e eu tenho a sensação que era
mútuo. Eu tinha encontrado com Diana algumas vezes quando ela e o pai das Princesas deixava
ou pegava-as, e eu sempre tentei usar telepatia para que ela soubesse que eu compartilhava os
sentimentos dela e que ela tinha 100% do meu apoio.

"Sinto muito, amorzinho," disse Mara. Eu juro, ela estava praticamente chorando. Era tudo que
eu podia fazer para não vomitar o meu risoto.

"Você não entende," disse Princesa Dois. Então ela caiu na cadeira como se ir para a casa do
pai equivalesse a ir à cadeira elétrica. "Você não sabe como é viver com a Diana."

Eu queria colocar que ela na verdade também não sabe como é viver com a Diana considerando
que ela "mora" com ela a cada 4 dias do mês. Depois eu queria dizer que eu sou quem vive com
uma terrível madrasta 365 dias por ano, e que se eu só tivesse que fazer isso dois fins-de-
semana por mês, eu me consideraria sortuda.

Eu terminei meu risoto e coloquei mais um pouco no meu prato. Mara observou o que eu estava
fazendo com suas sobrancelhas levantadas. "Lucy, você não precisa devorar sua comida. Ela
não vai a nenhum lugar."
"Desculpa."

"Se você comer rápido demais, seu cérebro não consegue registrar que seu estômago está cheio.
É por isso que você deve comer pequenos bocados e lavar cada um com um gole de água."

No momento em que eu ia dizer à Mara o que ela podia fazer com a água dela, o telefone tocou.
Eu olhei para o meu relógio. Oito horas. A única esperança que eu tinha de ter pelo menos um
segundo a sós com meu pai era se eu fosse mais rápida que Mara. "Eu atendo," eu disse. Eu
corri para a cozinha com meu prato e agarrei o telefone.

"Oi, pai," eu disse, ainda segurando meu prato.

"Oi, Goose," ele disse."Como você está?"

"Bem," eu disse. Eu queria contar à ele o quão bem as coisas realmente estavam, desde que
normalmente meu ok era uma mentira total, mas não houve tempo para isso. Pela porta aberta,
eu vi Mara se levantar e caminhar até o telefone na sala.

"Você vai assistir algum jogo dos Knicks?" ele perguntou. A outra linha tocou, e eu ouvi Mara
atender. Eu esperava que fosse uma das amigas dela ligando para falar de um novo regime de
decoração de interiores, alguma coisa que seguramente deixaria minha madrasta ocupada por
horas.

"Talvez," eu disse."Provavelmente só o 4º quarto, de todo jeito." Eu enxaguei meu prato e o


coloquei na máquina de lavar louça. A coisa sobre um jogo dos Knicks é que você sabe como
vai terminar-derrota. Mesmo assim, de vez em quando eles podem surpreender você.

Houve um clique."Lucy?" Deus, ela não podia deixar a gente a sós por dois minutos?

"Sim?"

"Telefone para você."

"Para mim?" eu não podia imaginar que seria. Nem Jessica nem Madison tinham dito alguma
coisa sobre me ligar mais tarde.

"Tchau," disse meu pai.

"Tchau, Pai," eu disse. Eu ouvi ele dizer "Olá, querida," antes que eu tivesse a chance de
desligar.

Eu apertei o botão para a linha em espera. "Alô?"

"Oi, Tomate."

Meu coração começou a acelerar. Eu apertei minha mão no meu pulso e comecei a fazer
pressão contra minha cabeça, esperando que a pressão pudesse de alguma forma me impedir de
flutuar para o espaço.

"Oi," eu disse.

"Como vai?"
"Bem," eu disse."E você?"

"Não tão mal," ele disse. Houve uma pausa. Isso definitivamente não era bom. Uma coisa é um
longo silêncio quando você está andando perto de alguém e ele está massageando seu pescoço.
Outra coisa é estar no telefone com aquele alguém e não ter o que dizer.

Eu vasculhei meu cérebro procurando um tópico para começar a conversa. "Você está
assistindo o jogo?" eu finalmente perguntei.

"Você sabe disso. Na verdade, você pode ouvir?" eu podia ouvir algo no fundo, mas eu não
podia dizer o que era. Felizmente, Connor respondeu à sua própria pergunta, "Esse é o Madison
Square Garden* com som de última geração."
* MSG, cobre jogos de basquete dos Knicks, etc.)

"Não seja tão humilde," eu disse."Mas essa acústica não vai te deixar mais deprimido quando
eles perderem?"

"Caramba, mulher. Você é difícil." Eu podia dizer pela voz dele que ele estava sorrindo, e eu
sorria, também. Eu deslizei pela parede até que sentei no chão.

"Bem, se o sapato serve," eu disse.

"Escute aqui," ele disse. "Só porque você é bonitinha não ache que você pode se safar depois de
desrespeitar o time da casa."

Connor Pearson tinha acabado de me dizer que eu era bonitinha.Eu estava com os dedos
enroscados no fio do telefone com força para me impedir de gritar.

No fundo, eu escutei o anunciante dizer alguma coisa.

"Certo, eu vou assistir o jogo, Tomate. Eu ligo para você no meio-tempo*, certo?"
* intervalo de 15 minutos entre o segundo e terceiro quarto no basquete

"Certo," eu disse. Connor desligou, mas eu esperei um minuto antes de me levantar e colocar o
telefone no gancho. Eu podia ver pela luz que Mara e meu pai ainda estavam conversando na
linha um. Normalmente eu até teria ficado com raiva, mas hoje a noite eu não ligava. Deixe que
eles conversem até o amanhecer se eles quiserem. Eu tinha um jogo para assistir.
Capítulo 10

Eu teria dito que nada poderia me fazer não gostar da Srta. Daniels, mas depois dela ter nos dito
que passaríamos os próximos dois meses trabalhando em auto-retratos, eu não tinha tanta
certeza. Na minha opinião, a única razão de fazer um quadro é parar de pensar em si mesmo
enquanto estiver trabalhando. Qual a diversão de passar uma aula de artes olhando no espelho?

No almoço, bem quando eu estava explicando para Madison e Jessica a diferença entre
natureza morta e um retrato, Kathryn Ford veio até a mesa em que estávamos sentadas. Ela
estava com uma garota tão bonita que rivalizava com Kathryn. Com seu espesso e encaracolado
cabelo castanho e olhos azuis enormes, ela parecia com uma modelo da Victoria‘s Secret em
carne e osso. Essa era uma mulher que definitivamente não precisava de sutiã com enchimento.

―Ei,‖ disse Kathryn. Ela jogou sua bolsa Prada na mesa e sentou numa cadeira.

―Ei,‖ disse a outra garota, jogando a sua própria bolsa Prada e desmoronando numa cadeira
próxima à Kathryn.

―Ei,‖ eu disse. Madison e Jessica disseram, ―Oi.‖

―Então, o que contam?‖ Kathryn perguntou, como se sentar e falar conosco fosse algo que
acontecesse todo dia.

―Náo muito,‖ disse Madison, jogando o mesmo jogo de fingimento. ―O que você conta?‖

―Quase nada,‖ disse Kathryn. Ela olhou para mim. ―Gostei da sua camiseta,‖ ela disse.

―Ah, obrigada.‖ Eu estava usando uma camiseta jurássica dos Ramones que meu pai comprou
num show antes de eu nascer. Minha mãe tinha tingido com cores loucas e psicodélicas. Já está
bem desbotada, mas eu ainda gosto dela.

―Então, você está saindo com Connor,‖ ela disse.

Ela estava me perguntando ou dizendo?

―É, ela está saindo com Connor,‖ Jessica aumentou a voz. Ela falou de maneira defensiva,
como se Kathryn devesse tomar cuidado.

Kathryn riu. ―Relaxa,‖ ela disse para Jessica. Então se virou para mim. ―Connor é uma
gracinha. Ele é praticamente meu irmão.‖ Ela riu. ―E, de qualquer jeito, eu não saio com caras
do ensino médio.‖

Ela riu novamente, assim como o resto de nós, como se a ideia de Kathryn Ford namorando um
cara do ensino médio fosse nada menos que hilária. Quando todas paramos de rir, Kathryn
bateu no ombro de sua linda amiga. ―Sem ofensa,‖ ela disse.

―Não ofendeu,‖ ronronou a linda garota, e as duas começaram a rir de novo.

―De qualquer maneira,‖ Kathryn continuou, ―eu só queria saber se você precisa de uma carona
pro jogo na sexta.‖
―Ah, não,‖ disse Madison. ―Não precisa.‖

Kathryn continuou olhando para mim, como se a Madison não tivesse falado. ―Obrigada,‖ eu
disse, uniformemente. ―Estamos bem.‖

―Você que sabe,‖ disse Kathryn. Ela esticou seus braços sobre sua cabeça, e sua minúscula
regata subiu, revelando seu estômago perfeitamente reto. ―Acho que te vejo por aí.‖

―É, claro,‖ eu disse.

Assim que elas se foram, Madison se virou para mim. ―Ela é tão falsa.‖ Ela deixou sua voz alta
e esganiçada. ―‗Você precisa de uma carona? Connor é praticamente meu irmão. Gostei da sua
camiseta.‘ Deus.‖

―Eu sei,‖ Jessica disse. ―Gracinha? Puur favorr.‖

Eu não disse muito enquanto a conversa reviu todas as maneiras de como Kathryn Ford era
uma hipócrita falsa de duas-caras que não era tão bonita quando pensava que era. Porque havia
apenas um aspecto da hipocrisia falsa e de duas-caras que tivera um mínimo de efeito em mim.

Eu não saio com caras do ensino médio.

De algum jeito, eu tinha o pressentimento que se Kathryn decidisse mudar sua política, eu
estaria em grandes apuros.

Na tarde de sexta, algumas pessoas tinham ficado no estúdio depois da aula terminar, incluindo
Sam Wolff. Exceto eu e Sam, todos estavam mais falando do que trabalhando. Sam estava se
focando arduamente em sua pintura, e eu estava me focando arduamente no relógio, desejando
que a hora que eu tinha jurado passar desenhando passasse mais rápido. E não era só porque eu
tinha zero de idéias para o meu auto-retrato. Tudo em que eu conseguia pensar era nos meus
planos para a noite. Eu iria pegar o último ônibus, que saia as cinco e me deixava em casa às
cinco e meia, com muito tempo para tomar banho, me vestir, e deixar meu cabelo secar antes
que Madison e Jessica me pegassem as sete. Não só hoje era um jogo crucial para chegar às
estaduais, mas haveria uma enorme festa depois na casa de algum veterano. E o treinador tinha
prometido aos garotos que se eles ganhassem, eles podiam ficar sem horário de recolher essa
noite. Nem precisa dizer que eu não ia mencionar isso para Mara. Só de pensar em todas as
horas que eu conseguiria dar uns amassos no Connor me dava arrepios. Eu queria que fossem
cinco horas agora.

As quatro e quarenta e cinco, eu peguei a minha mochila e a jaqueta do Connor, enfiei meu
caderno de desenho na minha gaveta, e me dirigi à porta. Enquanto eu passava pelo seu
cavalete, eu não pude evitar notar a pintura na qual Sam estava trabalhando.

―Uau,‖ eu disse. Era uma natureza morta de uma mesa de jantar depois que uma refeição
massiva fora consumida – havia pratos vazios pela metade de pasta, pratos de servir vazios,
guardanapos amassados, e facas e garfos abandonados. A pintura era espetacular: uma natureza
morta em pequeninos e coloridos quadrados. Eu me inclinei para ver os quadrados de perto e
percebi que os desenhos nele não eram simplesmente desenhos; cada um era na verdade uma
pequenina imagem. A garrafa de vinho era feita de um monte de uvas, os cubos de gelo
derretidos eram na verdade uma diminuta cordilheira coberta de neve. Se afastando da seção
terminada das pinturas você via o contorno de cada coisa feita pelas formas e sombras dentro
dos quadrados. Só quando você estivesse bem perto da tela você conseguia ver os detalhes das
imagenzinhas.

―Isso é maravilhoso.‖ Eu queria tocar a rica e espessa pintura. ―Sabe de quem isso me lembra?
Chuck Close.‖ Chuck Close era um artista que eu tinha conhecido anos atrás, quando meu pai e
eu fizemos uma viagem pré-Mara para Nova York e fomos ao Museu de Arte Moderna. Desde
então ele tem sido um dos meus artistas favoritos. Close faz a mesma coisa que Sam fizera,
quadrados de formatos e cores que criam uma imagem figurativa.

Sam não disse nada. De fato, ele nem ao menos olhou pra mim.

Mais uma vez eu senti aquilo que sentira no museu: o impulso de colocá-lo em seu devido
lugar: ―Sabe,‖ eu disse, ―é habitual reconhecer quando alguém se dirige diretamente a você.
Chama-se ser educado.‖

Ele não moveu seus olhos do cavalete. ―Eu não estava exatamente pronto pra mostrar ao
público.‖

A verdade era que a Sra. Daniels sempre meio que levou muito a sério não olhar a arte das
outras pessoas antes que elas estivessem prontas pra mostrar.

―Ah,‖ eu disse. ―Bem, desculpa.‖

Sam acenou e olhou de volta para a sua pintura. Que seja. Ele provavelmente nem mesmo deve
ter ouvido falar em Chuck Close. E por que ele tinha que agir como se eu tivesse ido bisbilhotar
sua gaveta? Teria matado-o simplesmente dizer obrigado? Quer dizer, é pedir muito?
Obrigado.

Eu saí da sala sem dizer tchau, entrando no último ônibus bem quando o motorista estava
fechando as portas.

Eu conseguia ouvir Avril Lavigne explodindo do quarto das Princesas assim que eu abri a porta
da frente. Às vezes eu acho que as minhas meias-irmãs não são realmente pessoas, e sim um
epicentro de algum diagrama de Venn* cultural.
* Os diagramas de Venn foram introduzidos em 1881 pelo filósofo e matemático britânico John
Venn e são ilustrações similares de conjuntos, relações matemáticas ou relações lógicas.

Como se respondendo ao meu pensamento sobre elas, ambas as Princesas enfiaram suas
cabeças para fora do seu quarto e, me espiando no vestíbulo da entrada, vieram correndo pelas
escadas. Elas estavam usando vestidos de veludo vagamente náuticos.

―Vocês vão velejar?‖ eu perguntei, pendurando a jaqueta de Connor no closet.

Os vestidos delas – um azul, o outro vermelho – eram um tipo de variação horrível de um tema.
O veludo apertado agarrava o corpo delas, que faltavam uma ou duas curvas cruciais. Ambas as
garotas usavam uma pesada sombra azul e glitter em suas bochechas, e descendo as escadas,
cada uma balançava ligeiramente em seus sapatos de plataforma. Quando elas estavam a
poucos metros, eu vi que seus vestidos ainda tinham etiquetas. Princesa Dois estava escovando
o cabelo da Princesa Um, que com cada escovada ficava com cada vez mais frizz.

―Mamãe está realmente brava,‖ Princesa Um me informou. Então ela levantou suas
sobrancelhas e suspirou, cultivando um olhar de supermodelo entediada no meio da photoshoot.

―Do que você está falando?‖ eu perguntei, colocando minhas mãos nos meus quadris no que
eu percebi tarde demais ser a postura que elas geralmente assumiam comigo.

―Você comprou essa camiseta na Marmara?‖ perguntou Princesa Um, distraída do prazer de
levar más notícias pelo prazer de falar sobre moda.

―O quê?‖ eu perguntei.

Ela revirou os olhos. ―Marmara? É só, tipo, a loja mais legal na Miracle Mile.‖ A Miracle Mile
é um shopping esnobe ao ar livre a alguns minutos da nossa casa. Para as Princesas, é o terreno
sagrado similar ao Templo do Monte em Jerusalém.

―É,‖ disse Princesa Dois, ―as coisas deles são tãão legais. Tem essa menina na nossa sala e–‖

―AI!‖ Princesa um afastou sua cabeça e girou para olhar para Princesa Dois. ―Você está me
machucando.‖

―Bem, desculpa,‖ Princesa Dois rosnou. ―Mas está todo embaraçado.‖

Princesa Um pegou a escova de Princesa Dois. ―Não está embaraçado. Você é simplesmente
uma desajeitada. E vai ser alisado sábado que vem, de qualquer jeito,‖ ela disse. ―Acabamos de
ganhar esses,‖ ela me informou, gesticulando para seus vestidos. ―Para o bar mitzvah do Jason
Goldberg.‖

―Nós vamos no RMS semana que vem,‖ disse Princesa Dois.

―O RMS?‖ eu perguntei. ―Eu achei que você tivesse acabado de dizer que ia a um bar mitzvah.‖

―Oi! O Rainha Mary Segunda. É, tipo, um transatlântico enorme.‖

―Eu sei o que é. Mas eu achei que vocês iam–‖

―Ele veleja para a Europa.‖ Princesa Um explicou.

―Vocês vão velejar para a Europa?‖

―Dãh. Você não consegue velejar para a Europa e voltar em uma noite,‖ disse Princesa Dois.
Isso vindo de uma garota que, há apenas duas semanas, perdeu pontos em um teste de geografia
por não saber que a Inglaterra é uma ilha.

―É, dãh,‖ Princesa Um ecoou. ―Nós só vamos entrar no barco. Para o bar mitzvah do Jason
Goldberg.‖

―É no RMS?‖

Mas elas estavam cansadas de me impressionar com seu triunfo no círculo de bar mitzvahs.

―Mamãe disse que você não limpou seu quarto e está uma área de desastre federal,‖ disse
Princesa Dois. Apesar de serem pronunciadas por sua filha, as palavras eram obviamente de
Mara.

―Nossa, talvez isso seja porque eu não tenho algo chamado móveis,‖ eu sugeri.
Elas deram de ombros e se viraram em uníssono, duas modelos de passarela ligeiramente
instáveis. ―Que seja,‖ disse Princesa Um.

―É, que seja,‖ disse Princesa Dois.

Eu peguei um Oreo da cozinha e desci para o meu quarto. Olhando ao redor eu tive que admitir
que eu não ganharia o selo de aprovação do Good Housekeeping* tão cedo. Mas o que eu
deveria fazer a respeito? Eu não tinha gavetas. Eu não tinha armário. Certamente até a malvada
Mara conseguiria perceber que eu estava fazendo meu melhor para manter alguma aparência de
ordem no caos que era a minha vida sem móveis.
* revista americana para mulheres que trata de assuntos relacionados a administração da casa e
a vida familiar.

Eu deitei no meu colchão de ar, me perguntando quando meu pai chegaria em casa e se a
primeira coisa que eu fosse ouvir dele seria um sermão limpe-o-seu-quarto. Se eu não fosse sair
para o jogo em menos de uma hora, eu poderia ter elaborado um contra-argumento, mas já que
ficar de castigo colocaria uma enorme interferência nos meus planos, eu decidi que era melhor
eu engolir o sermão dele e concordar em passar o próximo dia fazendo algo quanto a essa
bagunça.

Eu pensei na festa pós-jogo, me perguntando se Connor e eu sairíamos de carro juntos ou se ele


iria depois, como ele tinha ido ao Piazzolla. Eu imaginei ele chegando após eu já estar lá, como
ele me acharia na multidão, chegaria perto e colocaria seus braços ao meu redor. E aí, Tomate,
ele diria. Ei, Connor, eu diria. E então enquanto todos ficariam parados lá, fingindo não
observar, ele me daria um de seus beijos maravilhos e eu–

Houve uma batida na minha porta. ―Lucy?‖ Era Mara.

Esse foi um desenrolar inesperado. ―Sim?‖ Eu sentei rapidamente, escondendo debaixo de um


travesseiro o Oreo que eu estivera mordiscando. Mara não gosta quando levamos lanchinhos
para fora da cozinha.

Ela abriu a porta e chamou. ―Posso falar com você por um instante?‖

―Sim, com certeza. É claro.‖

Um minuto depois ela apareceu ao pé da escada, totalmente glamurosa com saltos altos e um
justo vestido preto com uma fenda de um lado.

―Eu desci aqui hoje mais cedo, e fiquei extremamente surpresa em ver que bagunça esse quarto
estava.‖ Seus lábios estavam fechados num aperto, e ela estava com suas mãos cruzadas em sua
frente, como se tudo no quarto fosse tão imundo que ela tivesse medo de tocá-lo.

―É, sei o que quer dizer. Eu fico pensando em como vou arrumar tudo assim que tiver, você
sabe, gavetas e coisas para colocar as minhas roupas dentro.‖

Ela balançava sua cabeça enquanto eu falava mas manteve suas sobrancelhas levantadas, como
se comentando a insanidade do meu álibi.

―Honestamente, Lucy, eu não vejo como não ter alguns móveis seja uma desculpa para a
bagunça que esse quarto se tornou,‖ ela disse depois de eu ter terminado.
―Bem, eu não quis justificar isso,‖ eu disse. ―Mas seria definitivamente mais fácil guardar
minhas roupas se eu tivesse algo onde guardá-las.‖ Eu deslizei minha mão de debaixo do
travesseiro, deixando o Oreo para trás. Como uma ave de rapina, Mara seguiu o movimento
com seus olhos.

Ela sugou seu lábio inferior por um segundo antes de responder. ―Então a culpa é minha do seu
quarto estar uma bagunça,‖ ela disse finalmente.

―Não, não estou dizendo que é sua culpa,‖ eu disse, apesar de não ver exatamente de quem era
a culpa se não dela. Quero dizer, a mulher nunca ouviu falar da Ikea*? ―Eu só estou dizendo
que normalmente, sabe, quando eu tenho um armário e uma penteadeira e coisas assim, eu sou
muito mais organizada que isso.‖
* IKEA é uma companhia privada sueca especializada na venda de móveis domésticos de baixo
custo.

―Bom, o fato é que agora você não tem essas coisas, e essa é uma maneira inaceitável de
manter seu quarto. Eu gostaria de saber o que você vai fazer a respeito. Ou você simplesmente
estava planejando esperar até eu ter tempo na minha agenda cheia para correr por aí e comprar
móveis para você?‖

Eu amo a idéia de Mara ter uma agenda cheia. É como se ir aos seus compromissos semanais
de manicure/pedicure e coloração de cabelo a fizessem a CEO de uma corporação
multinacional.

―Mas, Mara, você não queria que eu trouxesse as minhas coisas de São Francisco, e você fica
dizendo que quer ser quem decora a casa, então eu não vejo como posso sair e comprar móveis
para mim mesma.‖ Para não mencionar minha falta de carro e centenas de dólares de renda
disponível.

―Não estou certa se gosto de você usando esse tom de voz, Lucy,‖ disse Mara, dando um passo
em direção a cama e apontando para mim. Não conseguindo evitar, me inclinei para longe do
avanço dela.

―Não estou usando um tom,‖ eu disse. ―Só estou afirmando um fato.‖

―Olá?‖ Era o meu pai chamano escada acima. ―Estou em casa. Cadê todo mundo?‖

―Estou aqui embaixo, Doug,‖ Mara chamou. Eu estava prestes a dizer Estou no meu quarto,
pai, mas ao invés disso eu simplesmente sentei lá.

Ele veio pulando escada abaixo, dando um pequeno assobio quando ele viu o vestido de Mara.
―Oi, doçura,‖ ele disse. Usando calça jeans e um suéter cinza gasto, ele parecia relaxado e feliz,
como se estivesse realmente feliz por estar em casa. Ele deu um beijo de chegada em Mara e
então veio e me beijou.

―Como foi a sua semana?‖ ele perguntou. Mara se juntando às nossas conversas no telefone
tinha finalmente ficado chato demais para suportar, então de segunda eu simplesmente evitei
falar com ele quando ele ligava.

―Parece que temos um probleminha,‖ disse Mara, antes que eu pudesse respondê-lo.
―Ah, é, o que foi?‖ ele perguntou, dançando na direção dela e deslizando seu braço ao redor da
cintura dela. ―Acharam uma cura para diabetes e o evento beneficente está cancelado?‖
Desde que mudamos para Nova York, Mara esteve arrastando meu pai para todos esses eventos
de arrecadação de fundos. Na teoria, ela espera curar cada calamidade que ameaça o planeta.
Na verdade, ela só quer exibir seu homem novo no circuito de caridade.

―Lucy parece ter a impressão de que é minha culpa seu quarto estar tão bagunçado,‖ Mara
disse.

―Isso não é nem um pouco verdade!‖ eu disse. ―Eu só disse que não podia guardar as minhas
roupas até ter móveis nas quais guardá-las.‖

―E então ela usou um tom bastante esnobe que eu não gostei,‖ Mara continuou, me ignorando.

―Ai meu Deus, é como se, se eu não estou ajoelhando-me perante você a cada segundo eu estou
usando um tom esnobe,‖ eu disse. Eu conseguia sentir lágrimas fermentando e eu as engoli.

―Ei, ei!‖ disse meu pai, que não estava mais sorrindo. ―Eu acabei de chegar em casa. Eu não
quero toda essa brigaria.‖ Ele colocou seu braço ao redor de Mara. ―Lucy, eu gostaria que você
se desculpasse com a Mara, e eu quero esse quarto endireitado.‖

―Eu vou indireitá-lo. Eu vou endireitá-lo amanhã.‖

―Não,‖ disse meu pai, ―você vai endireitá-lo hoje à noite.‖

―Pai, eu tenho que ir à um jogo de basquete.‖

Tive certeza que puder ver meu pai hesitando, mas então ele disse, ―Sinto muito, mas você não
vai sair hoje à noite.‖

―O QUÊ?!‖ Quase não era uma palavra, só um grito estrangulado.

―Nós queremos esse quarto limpo, e queremos ele limpo hoje à noite.‖ O jeito como meu pai
dizia ―nós‖ enquanto ficavam um ao lado do outro, seu braço ao redor da cintura de Mara,
simplesmente acentuava como os dois comprimiam um time perfeitamente coordenado. De
repente eu me senti muito ciente de ser a única pessoa no meu lado do quarto.

―Por que não posso simplesmente limpá-lo amanha? Se você me deixar ir ao jogo, eu prometo
que levanto cedo e limpo tudo.‖ Eu estava lutando contra o pânico.

Meu pai estava prestes a ceder, eu podia afirmar. Ele nunca fora um daqueles pais que ligavam
para como o meu quarto estava, e eu sabia que ele não se importaria se eu o limpasse de manhã.
Mas bem quando ele abriu sua boca para dizer algo, Mara falou.

―Lucy, seu pai e eu dissemos hoje à noite, e isso significa hoje à noite,‖ ela disse, virando nos
calcanhares e se dirigindo escada acima. Meu pai deu um passo em minha direção bem quando
Mara disse, ―Doug, vamos nos atrasar.‖

Ele hesitou por um segundo e então disse, ―Te vejo de manhã, Goose.‖

―O quê?‖ eu disse, e eu estava chorando de verdade agora. ―Você está dizendo que essa
conversa está acabada?‖
―Não há conversa,‖ ele disse. ―Nós te pedimos para fazer uma coisa e nós queremos que você a
faça.‖

O jeito como ele repetiu nós quase tirou o meu fôlego.

―E isso é tudo o que você tem a dizer?‖ eu perguntei por fim.

―Lucy, sinto muito,‖ ele disse. ―Mas você precisa fazer o que te mandam.‖ Então ele, também,
se virou e se dirigiu escada acima.

Tentando parar de chorar, eu peguei meu celular e disquei o número de Connor.

―E aê, qualê? É o Connor. Você sabe o que fazer.‖

―Hm, ei, Connor, eu–‖ um soluço quase escapou, e eu tomei um longo fôlego. ―Eu não posso ir
ao jogo hoje à noite. Eu – esse negócio todo aconteceu em casa, e eu estou de castigo. Eu
realmente sinto muito. Então, boa sorte e... divirta-se na festa.‖ A última parte da mensagem
quase me levou ao limite. Eu apertei ENCERRAR A CHAMADA o mais rapidamente que
pude. Então eu disquei o número de Jessica.

―É a Jessica. Deixe uma mensagem e eu ligarei de volta.‖

―Oi. Sou eu. Minha madrasta está tentando ganhar algum tipo de prêmio de vadia-do-ano, e eu
estou de castigo hoje à noite. Então divirta-se por nós duas.‖

Depois de desligar eu sentei encarando meu telefone por um longo minuto, me perguntando o
que aconteceria se a Cinderela nunca chegasse ao baile. O Príncipe Encantado passaria a noite
ansiando por ela, chorando em sua cerveja real? Ou ele simplesmente conheceria outra pessoa,
alguma garota que não tem uma madrasta má castigadora de enteadas?

Alguma garota que não mais não ―sai com caras do ensino médio‖?
Capítulo 11

Eu me forcei a não olhar minhas mensagens antes que fosse para cama, sabendo que eu me
sentiria muito mal se Connor não tivesse ligado. Mas a primeira coisa que eu fiz quando
acordei em meu quarto imaculado foi checar as minhas mensagens de voz.

Duas mensagens. Minhas mãos tremiam tanto que eu mal conseguia acessá-las.

―Ei, Tomate,‖ Eu soltei um gritinho involuntário. ―Você quer que eu dê umas porradas em um
dos seus familiares? Porque eu dou.‖ Só o som da voz dele fez a briga de ontem a noite com o
meu pai parecer um sonho ruim. ―É melhor você não estar de castigo, Tomate. Eu vou te buscar
as sete no sábado e vou te levar para jantar.‖

Eu toquei a mensagem mais três vezes antes de salvá-la. A segunda ligação era da Jessica.

―Posso só dizer que sua madrasta totalmente ganha meu voto de vadia-do-ano? Me ligue
quando acordar. Vamos às compras amanhã.‖ Eu toquei essa mensagem de novo, também.
Adivinhe só, Mara, nem todos ficam do seu lado, sua vaca estúpida.

Eu mal tinha desligado o telefone quando ele tocou. ―Alô?‖

―Nós chegaremos na sua casa em vinte minutos,‖ disse Jessica. ―Vamos ao Miracle Mile.‖

―Connor vai me levar para jantar hoje a noite,‖ eu disse.

Jessica gritou. ―Ai meu Deus! Ele te ama.‖

Eu não conseguia pensar no que dizer sobre isso, então eu só gritei. Então eu me lembrei de
algo. ―Jessica, eu não tenho nada para usar.‖

―Está bem, não entre em pânico,‖ disse Jessica. ―Eles não a chamam de Miracle Mile por
acaso.‖

A mãe de Madison nos deixou no Bistro del Filles no almoço, onde Madison, depois de nos
dizer quantos milhões de gramas de gordura tinham em cada entrada que pedimos, só pediu
uma garrafa d‘água. Então ela comeu por volta de dois terços do Croque Monsieur de Jessica
antes que Jessica ameaçasse apunhalá-la com um garfo se ela não pegasse seu próprio
sanduíche.

Às quatro horas, apesar do meu dueto de compradoras profissionais, eu ainda não tinha nada
para usar no meu encontro com Connor. Madison e Jessica preteriam tudo que eu gostava como
chato, enquanto tudo que elas queriam que eu experimentasse custava mil vezes mais do que eu
planejava gastar. Finalmente, já que estávamos sem tempo, nós concordamos em nos dividir.
Madison foi para a Chanel para conseguir um rímel, enquanto Jessica e eu nos dirigimos para a
Ralph Lauren para procurar um vestido para mim.

Assim que passamos pela porta, eu vi Jessica notar uma regata de linho azul e hesitar por um
segundo antes que continuar pelas araras.

―É bonita,‖ eu disse. ―Você devia experimentar.‖


Ela balançou sua cabeça. ―Estamos aqui para encontrar um vestido à altura de um encontro para
você.‖

Mas eu a cutuquei em direção à regata. ―Vá em frente,‖ eu disse.

―Tem certeza de que não se importa em esperar?‖ ela perguntou. ―Eu vou ser bem rápida.‖

―Tenho certeza,‖ eu disse. ―Leve o tempo que precisar.‖ Enquanto Jessica foi procurar por um
provador eu vaguei ao redor procurando por algo que eu possivelmente pudesse usar no meu
encontro. Mas a não ser que Connor fosse me levar num cruzeiro em seu iate, não havia nada
na Ralph Lauren que serviria. Finalmente, eu desisti; em uma alcova de painel de madeira
armazenada com vestidos de noite, eu achei uma cadeira vazia e desmoronei nela, atirando
minha cabeça para trás, fechando meus olhos, e suspirando.

―Eu não sei,‖ disse uma voz familiar, ―foi você que me disse o que black-tie significa.‖

Meus olhos se abriram com tudo. Sentado há alguns metros de mim estava a última pessoa no
mundo que eu esperaria achar na seção de vestidos de noite da loja da Ralph Lauren na Miracle
Mile.

Sam Wolff.

Ele estava encurvado sob um caderno de desenho, e ele não me viu. Com seu jeans desbotado e
sua camiseta rasgada da Red Groome, ele parecia um pouco deslocado sentado em uma cadeira
de chita muito acolchoada. Mas ele não parecia intimidado, como a maioria dos outros caras
que estavam sentado ao redor esperando suas esposas ou namoradas mostrarem um vestido que
estavam considerando comprar. Ao invés disso, ele parecia totalmente alheio ao que o cercava,
como se ele pudesse tão facilmente estar no Rive Gauche* ou no meio do Long Island
Expressway**. Enquanto eu observava, ele puxou distraidamente um cacho similar à um saca-
rolhas da parte de trás da sua cabeça, então repentinamente soltou-o e desenhou uma série de
linhas na página.
* também conhecido como Margem Esquerda (Left Bank), é a parte sul da margem do rio
Sena, na França.
** uma rodovia interestadual com 114km

Bem quando me virava para procurar Jessica, a porta do provador bem na frente de onde Sam
estava sentado abriu com tudo para revelar a linda garota que tinha sentado na minha mesa
naquele dia com Kathryn Ford. O delgado vestido coquetel preto que ela estava usando
mostrava seu incrível corpo.

―Certo, esse ou o verde?‖ ela perguntou. Para meu espanto, ela estava falando com Sam.

Ele não olhou para cima. ―Úni, dúni, tê,‖ ele disse, ainda desenhando.

―Sam,‖ ela disse, ―você está começando a me encher o saco.‖

Ele suspirou e fechou seu caderno de desenho.

―Está bem,‖ ele disse. ―Vire-se.‖ Ela girou em seus calcanhares. ―O verde.‖ Considerando o
quanto ela parecia bonita no vestido que estava usando, eu não conseguia nem começar a
compreender como era o vestido verde.
―Ah, por favor,‖ ela disse. ―Você tem um péssimo gosto.‖

―E você está pedindo a minha opinião porque...‖

―Esqueça, está bem?‖ Ela olhou para si mesma no espelho, franzindo a testa, apesar de eu não
ter a mínima idéia do que ela tenha visto que a fez franzir a testa. ―Obviamente, se eu quiser
que isso dê certo, eu terei de fazer sozinha.‖

―Jane, você fica espetacular em tudo que prova, até e inclusive naquele primeiro vestido em
que eu te vi há 3 horas.‖

Agora eu estava começando a me sentir estranha por estar escutando conversa alheia tão
atentamente. E se Sam se virasse repentinamente e me visse?

―Dá pra você ficar quieto por um minuto? Eu nem consigo escutar meus pensamentos.‖ Ela se
estudou no espelho. ―Odeio esse jantar de ensaio estúpido, odeio esse casamento estúpido, e
odeio minha irmã estúpida.‖

―Amém,‖ disse Sam, abrindo seu caderno de desenho novamente.

Ela lançou-lhe um olhar. ―Vou levar ambos e decidir em casa,‖ ela disse. Então ela abriu o
provador e desapareceu atrás dele bem quando Jessica apareceu segurando uma sacola de
compras. ―Aí está você,‖ ela disse. ―Ah, oi, Sam.‖

Sam se virou preguiçosamente. Eu congelei, certa de que ele diria, Gostando muito de ouvir a
minha conversa?. Mas a única coisa que ele disse foi, ―Ei.‖ Então ele meio que levantou sua
cabeça na minha direção com um movimento que estava entre um aceno e nada.

Agora eu estava totalmente confusa. Como Sam não só conhecia A) a veterana mais linda, mas
também B) Jessica?

Jessica colocou sua mão no meu ombro. ―Então, provavelmente deveríamos encontrar a
Madison,‖ ela disse.

―É, vamos,‖ eu disse. Eu fiquei de pé, e a dor no meu pé que tinha desaparecido enquanto eu
estava sentada voltou.

―Te vejo por aí.‖ Jessica disse para Sam. Sem realmente levantar os olhos de seu caderno, ele
nos saudou. Quando saímos, eu estava prestes a perguntar como ela conhecia o Sam, mas ela o
fez antes.

―Ele está na minha aula de artes,‖ eu disse. ―Mas sabe o que é realmente estranho? Eu acho
que ele estava com aquela garota que anda com a Kathryn Ford.‖

―Ah, é,‖ ela disse. ―Jane Brown. Eles namoram.‖

Eu quase tropecei em uma rachadura inexistente na calçada. Sam Wolff, a pessoa mais
antisocial do planeta, tinha uma namorada supermodelo?

―Ela é uma mega-vaca,‖ disse Jessica. ―Mas os caras totalmente amam ela. Você consegue
acreditar que de todos os caras gostosos em Glen Lake ela escolheu um artista calouro qualquer
que é um esquisito total?‖
Algo no jeito como Jessica dizia artista e esquisito não me descia. Eu pensei nas lindas pinturas
de Sam e parei de andar. ―O que tem de esquisito em um artista?‖

Jessica mudou sua sacola para a outra mão. ―Ah, sem ofensas,‖ ela disse, colocando sua mão no
meu ombro. ―Não quis dizer que ele é um esquisito porque é um artista. Eu só quero dizer
que... Ele, tipo, nunca fala nem nada. Por que ela iria querer namorá-lo?‖

Nós começamos a andar de novo. ―Eu não sei,‖ eu disse, lembrando da cena na loja. ―Se ela é
tão vaca, talvez seja estranho ele namorar ela.‖

―Ele é tipo, seu amigo?‖ perguntou Jessica. ―Porque você está sendo meio defensiva em relação
a ele.‖

―Não, não somos amigos.‖ De repente eu percebi que Jessica estava certa; eu estava sendo
defensiva em relação ao Sam. O que era bem estranho considerando a nossa falta total de
qualquer coisa semelhante a uma amizade. ―Ele, tipo, nunca fala comigo,‖ eu admiti.

―Bom, não se sinta mal,‖ disse Jessica. Ela avistou Madison andando na nossa direção e
acenou. ―Como eu disse, ele é um esquisito total.‖

―Eu não me sinto mal,‖ eu disse. ―Eu nem ligo.‖ Era verdade. Eu não ligava. Eu estava para
contar a Jessica o quão rude Sam tinha sido comigo naquele dia no museu quando ela agarrou o
meu braço.

Eu apontei para o meu cabelo. ―Vermelho,‖ eu disse. Então eu apontei para o vestido. ―Não,‖
eu disse.

―Qual é,‖ disse Jessica. ―Ruivas podem totalmente usar vermelho. Experimente.‖

―Connor iria morrer se você usasse isso no jantar,‖ disse Madison.

―É, assim como o meu pai,‖ eu disse. Elas estavam falando sério. O vestido era menor que o
meu celular.

―Só experimente,‖ disse Jessica.

―É,‖ disse Madison. ―O que tem a perder?‖

Eu as deixei me levar para a loja e esperei enquanto a vendedora achava o vestido no meu
tamanho. Elas ficaram uma de cada lado meu falando sobre como o vestido era sexy e como eu
ficaria bem nele, enquanto eu fingia considerar comprá-lo.

Assim que eu coloquei o vestido, eu nem mesmo precisei de um espelho para confirmar o que
eu já sabia: de jeito nenhum eu iria comprá-lo. Olhando para baixo, eu vi que o decote
precipitava-se abaixo do meu sutiã, e eu conseguia sentir que a saia minúscula mal roçava as
minhas coxas. Para não mencionar a cor. Eu saí do provador.

Jessica e Madison arfaram. ―Ai meu Deus,‖ disse Madison, pulando para cima e para baixo.
―Isso é tãããão sexy.‖

Eu me afastei dela, para poder me ver no espelho de corpo inteiro. Por um segundo tive a
certeza de estar olhando o reflexo de outra pessoa.
―Adorável,‖ disse a vendedora. ―Tão adulta. E está na promoção. 50% de desconto.‖

―Gente,‖ eu disse, acenando com a mão na frente dos rostos delas. ―Eu não posso comprar esse
vestido.‖

―Você tem que tê-lo,‖ disse Jessica. ―Você fica maravilhosa nele.‖

―É,‖ disse Madison. ―Se eu ficasse tão magra assim em um vestido, eu totalmente compraria.‖

―É um vestido lindo,‖ disse a vendedora.

Eu olhei de volta para mim mesma no espelho. Era como se eu tivesse sido transformada na
minha irmã mais velha incrivelmente sexy. Ou talvez na minha irmã mais velha incrivelmente
vagabunda. Eu me virei. Dava para ver as linhas da minha calcinha através do tecido apertado.

―Venha aqui,‖ disse a vendedora, me chamando com seu dedo. Quando eu cheguei onde ela
estava, ele me girou e em um movimento, desamarrou meu sutiã, deslizou as alças pelos meus
ombros, e o retirou. ―Pronto,‖ ela disse. ―Muito melhor.‖ Então ela apontou para a minha
bunda. ―E também, você vai precisar de um fio dental.‖

―Um fio dental?‖

―Sim,‖ ela disse. ―Um fio dental é‖

―Eu sei o que é,‖ eu disse rapidamente. ―Eu só não tenho um.‖

―Ah, vamos para a Lace Escapes,‖ Madison disse. Então começou a dar risada.

Jessica riu, também. ―É,‖ disse, rindo mais, ―eles têm umas coisas muito boas.‖

A risada delas era contagiante. ―Meninas, parem,‖ eu disse, rindo. ―Eu não sei...‖
Mas eu sabia.

Eu ia comprar.

A mãe da Jessica estacionou seu carro bem quando nós três estávamos saindo da Lace Escapes.
Ela buzinou e acenou. ―Oi, meninas,‖ ela chamou. Então ela apontou para a sacola de Jessica.
―O que você comprou?‖

Jessica acenou para sua mãe. ―Comprei a regata mais fofa na Ralph Lauren. Você vai amar.‖

―Ah, que bom, querida. Mal posso esperar para ver,‖ disse a Sra. Johnson. Então ela sorriu para
mim e eu sorri de volta. Um monte de adolescentes fica estressado ao conhecer os pais das
pessoas, mas isso não me incomodava. Eu me dou muito bem com os pais – eles sempre dizem
ao meu pai que garota boazinha eu sou, como eu sou tão bem educada e tudo mais. Por um
segundo, contudo, enquanto a Sra. Johnson estava sorrindo na minha direção, eu senti uma
palpitação nervosa. Tive medo dela perguntar o que eu tinha comprado, e eu teria que dizer,
―Ah, sabe, só um vestido vermelho sexy e um fio dental com lacinhos.‖
Não era bem essa a impressão de garota boazinha que eu estava ávida a fazer.
Capítulo 12

Pouco antes das sete, Princesa um soltou um berro que penetrou pelas tábuas da sala de estar –
onde ela e sua irmã estavam sentadas perto da janela esperando por Connor – e reverberou pelo
porão – onde eu estava parada na frente do espelho, esperando por Connor.

―Ele dirige uma Lexus!‖

―Isso é tão legal,‖ Princesa Dois gritou para mim. ―Lexus é um carro muito bom.‖

Eu não ligava para que carro Connor estava dirigindo; eu só estava aliviada por ele não ter me
dado um bolo. Mas eu não tinha muito tempo para agradecer a minha fada madrinha nesse
instante em particular, já que eu estava lidando com o que só podia ser descrito como uma
situação de fio dental extremamente traiçoeira.

A mulher na Lace Escapes me assegurou que o fio dental que eu tinha comprado era o mais
confortável do mercado. ―Você nem vai sentir,‖ ela disse umas dez mil vezes.

Mas como você não sentiria algo que fica subindo pela sua bunda? E não só fica subindo pela
sua bunda, deve ficar subindo pela sua bunda.

Eu trepidei, esperando que o fio dental se relocalizasse, mas não ajudou. Talvez eu
simplesmente precisasse tirá-lo. Mas e se nós tivéssemos um acidente de carro e os
paramédicos descobrissem que debaixo do meu minúsculo vestido vermelho eu não estava
usando calcinha nenhuma? Talvez eles decidissem que qualquer garota que fosse tão vulgar
não merecia viver.

A campainha soou e eu escutei as Princesas gritarem, ―Nós atendemos! Nós atendemos!‖ Eu


não me movi.

Quanto mais eu ficava parada ali, mas convencida eu ficava de que deveria começar do zero –
simplesmente tirar o fio dental e o vestido e usar algo normal tipo...

Mas é claro que esse era o problema. Normal tipo o quê? Normal tipo calça jeans e uma
camiseta? Porque se o vestido fosse tirado, isso era basicamente tudo que restava para escolher.
Eu fiz a minha dancinha do ―Fio Dental, Por Favor Saia da Minha Bunda‖ novamente. Algo em
algum lugar deve ter se mudado porque por um segundo fui capaz de me concentrar em outra
coisa que não a minha retaguarda. Infelizmente, essa outra coisa eram os meus dedos do pé,
que estavam apertados juntos em um par de sapatos que eu tinha comprado para (e não tinha
usado desde então) a festa de noivado do meu pai e da Mara – uma noite na qual eu estivera
com tanta dor emocional que meu pé doendo mal foi registrado.

Eu olhei para o meu reflexo. A garota mais velha no espelho que dava de ombros para mim não
parecia nem ao menos tão desconfortável quanto eu me sentia. Na verdade, ela parecia bem
descolada e sexy. Eu fiquei mais ereta. Contanto que eu não tivesse que andar mais do que 9
metros, eu provavelmente ficaria bem. Eu sorri, checando para ver se havia batom nos meus
dentes. Então eu me inclinei, corri minhas mãos pelo meu cabelo, e afofei as pontas como eu vi
Jessica fazer. Ficou bom.

Infelizmente, eu não sentia que estava bom. Inclinar tinha feito com que o fio dental movesse
para o oeste novamente.
Andando pela sala de jantar, eu conseguia ouvir Connor falando, e quando eu enxerguei o
vestíbulo, eu vi que as Princesas estavam de cada lado dele, encarando silenciosamente seu
lindo rosto. Eu acho que elas eram novas demais para apreciar como seu corpo ficava bem em
uma calça cáqui e suéter escuro.

Connor me viu e assobiu. ―Oi, maravilhosa,‖ ele disse, olhando-me de alto a baixo. ―Nossa,
isso é o que eu chamo de vestido.‖

As Princesas olharam para mim, e então a Princesa Um acenou para a Princesa Dois.

―Você está bonita, Lucy,‖ disse Princesa Um.

Eu não estava certa se elas iriam continuar o elogio com um insulto (―É, uma bonita vadia‖).
Quando nenhuma das duas acrescentou coisa alguma, eu disse, ―Obrigada.‖ Elas voltaram a
olhar adoravelmente para Connor.

Bem então meu pai e Mara desceram as escadas. Ela estava usando um avental, como se ela
estivesse se escravizando o dia todo no fogão, quando na verdade ela passara a maior parte da
tarde se vestindo, antes de jogar algumas bandejas cobertas por papel-alumínio no forno.
Enquanto ela vinha na nossa direção, ela removeu seu avental, expondo seu minúsculo vestido
rosa de seda, que não parecia tão diferente do meu. Isso não podia ser um bom sinal, mas eu
não conseguia entender qual de nós não devia estar vestida do jeito que ela estava.

Meu pai olhou novamente quando viu o que eu estava usando, e por um segundo eu tive certeza
de que ele ia me dizer que de modo algum eu sairia de casa desse jeito. Eu quase desejei que
ele dissesse – meus dedos do pé estavam latejando. Mas então ele simplesmente esticou sua
mão. ―Você deve ser o Connor,‖ ele disse. ―É um prazer conhecê-lo.‖

―Prazer em conheceê-lo, senhor,‖ disse Connor, e mesmo achando que era uma coisa brega de
se dizer, eu fiquei feliz por Connor ter dito. Eu queria que hoje à noite fosse perfeito, mesmo se
perfeito significasse cheio de clichés, como Connor chamando meu pai de senhor.

―Lucy nos contou tanto sobre você,‖ disse Mara. Essa era uma mentira total. Eu nem havia
mencionado Connor para Mara, e eu mal contara algo para meu pai sobre ele, só havia dito que
eu ia sair com um cara do time de basquete cujo nome era Connor. ―Quer se juntar a nós para
um drinque?‖ ela perguntou. Ela enfiou a mão dele debaixo do braço dela e o guiou pelo arco
que separava o vestíbulo da entrada da sala de estar.

―Na verdade, nós provavelmente deveríamor ir,‖ eu disse para as costas recuantes deles.

―Não se preocupe, será um drinque rápido,‖ ela disse, rindo. Ela ainda estava com sua mão na
dele, praticamente grampeando o seu braço. Meu pai os seguiu, e após um segundo, eu segui,
também.

―O que você gostaria, querido?‖ ela perguntou, guiando Connor para o sofá. Ela estava sendo
tão solícita que eu pensei que ela poderia realmente ajudá-lo a se sentar, mas no último segundo
ela deixou que ele próprio cuidasse disso. ―Devo preparar um martíni?‖ Ela riu novamente,
como se tivesse acabado de ouvir a piada mais engraçada do mundo.

Connor disse a ela que tomaria uma Coca.


―Doug, querido, seja prestativo e pegue uma Coca pro Connor.‖ Embora Mara estivesse
disposta a anotar os pedidos, com certeza ela não iria se prostituir na cozinha para executá-los.

―Claro,‖disse o meu pai, sorrindo.

Eu me dirigi a uma das cadeiras com braço, mas quando tentei sentar, eu percebi
repentinamente que meu vestido era realmente curto. Tipo, extremamente curto. Tipo, é-
melhor-você-não-sentar-se-não-estiver-preparada-para-dividir-o-seu-fio-dental-com-a-sala-toda
curto. Eu acabei meio que deslizando na beira da cadeira e cruzando minhas pernas
apertadamente, balanceando o meu peso no meu pé esquerdo.

Mara se virou na minha direção. ―Lucy, o que você gostaria?‖

―Eu estou bem,‖ eu disse. Ela se sentou perto de Connor no sofá, e um segundo mais tarde
ambas as Princesas vieram e se sentaram, algo que eu nunca as vi fazer em todos os meses que
morei com elas. A World Wide Web tinha quebrado, deixando-as sem acesso a
mensagens instantâneas de noite?

―Então, você joga basquete?‖ Mara perguntou, o que respondia minha pergunta se meu pai
tinha ou não dito que Connor estava no time. ―Sabe, Lucy é uma grande fã de basquete.‖ Ela
sorriu do outro lado da sala para mim. ―Não é, Lucy?‖

Eu devia mesmo responder a pergunta dela? Já que ela continuava a sorrir para mim e não disse
mais nada, percebi que devia. ―Claro que sou,‖ eu disse, dando a ela um sorriso curto.

Ela se virou para Connor.

―É estranho ver uma garota que é tão obcecada com esportes,‖ ela disse.

Estranho? Obcecada? Eu senti minhas mãos se fechando em punho.

―É, é bem legal,‖ disse Connor. Eu não conseguia afirmar se ele tinha mal-interpretado seu
insulto deliberadamente ou se ele estava me defendendo de propósito, mas de qualquer jeito,
Mara de repente decidiu tentar uma outra abordagem.

―Vivendo com ela e seu pai, eu realmente estou começando a ligar para esportes,‖ ela disse.
―Eu devo estar infectada com a Febre de Março*.‖
* A March Madness, como é conhecida, é um torneio da Primeira Divisão Masculina do
Campeonato de Basquete Masculino da NCAA. Tem duração de três semanas e conta com 65
times de basquete de faculdade dos Estados Unidos.

A única Febre de Março que eu vira Mara ser infectada era seu desejo insano de perder 2 quilos
de sua moldura já esquelética antes da temporada de verão.

―É,‖ disse Princesa Dois, ―Lucy faz basquete parecer realmente interessante. Eu quero que ela
me ensine tudo.‖ Ela realmente teve a audácia de olhar para mim enquanto dizia isso,
esquecendo de mencionar que em dezembro ela sugeriu que eu deveria ser A) tão alta e B) tão
interessada em basquete por causa de um desequilíbrio hormonal não-diagnosticado.

―Os drinques estão servidos,‖ disse meu pai, chegando com uma bandeja. Princesa um saltou
de pé; pulando a mesinha de centro para pegar a Coca para Connor, ela meramente escapou de
se impalar com uma estatueta de vidro.
―Obrigado,‖ ele disse, sorrindo para ela.

―Certo,‖ ela disse, não olhando bem para ele. Então ela voltou para a bandeja, que não tinha
nenhum copo agora que meu pai e Mara tinham ambos pego seus drinques.

―Lucy, você não quer um drinque?‖ ela perguntou. ―Eu pego um pra você.‖

Connor estava sorrindo para Princesa um com aquele olhar que as pessoas têm quando estão
simultaneamente entretidos e tocados pelas maneiras excelentes de uma criança. Eu, por outro
lado, estava sorrindo para ela com aquele olhar que as pessoas têm quando tem bastante certeza
de que alguém que eles conhecem bem foi replicado por alienígenas.

―Estou bem,‖ eu disse, meus dentes cerrados. Então, não conseguindo me impedir, eu
acrescentei, ―Obrigada.‖

―De nada,‖ ela disse. ―Se mudar de idéia, me avise.‖

Isso tudo estava ficando um tantinho demasiado para mim, e eu me levantei. ―Nós deveríamos
ir,‖ eu disse.

―Mas Connor nem teve chance de beber sua Coca,‖ disse Mara, tocando-o na manga.

Minha carne se arrepiou.

―Tudo bem, Sra. Norton,‖ disse Connor, tomando um grande gole e sorrindo para ela. ―Lucy
está certa.‖ Ele se levantou, e as duas Princesas pularam de pé. Após um segundo, meu pai e
Mara levantaram, também.

―Foi um prazer conhecê-lo,‖ Connor disse pro meu pai.

―Igualmente,‖ disse meu pai. Ele olhou de mim para Mara como se desejasse que não
estivéssemos vestidas tão identicamente. Então ele apertou a mão de Connor novamente.
―Aproveite seu jantar,‖ ele disse para ele.

―Sim,‖ disse Mara, tomando sua mão e meio segurando, meio apertando-a. ―Aproveite seu
jantar.‖ Então ela olhou para mim e de volta para Connor. ―E tome conta da nossa menina.‖

Agora eu fiquei feliz por não ter nada para beber; meu estômago vazio era a única coisa que me
impedia de vomitar nela toda.

―Eu tomarei, Sra. Norton,‖ ele disse. ―E obrigado pela Coca.‖ Ele olhou para as Princesas. ―Foi
um prazer conhecê-las, meninas.‖

―Igualmente,‖ disse Princesa um. Princesa Dois só suspirou.

Todos nos levaram até a porta e esperaram enquanto eu esticava minha mão para o closet e
pegava a jaqueta de Connor. ―Bom, tchau,‖ eu disse.

Mesmo com um armário antigo daqueles que a parte intermediária abre para a frente do
tamanho do Titanic contra uma parede, a entrada é bem grande, mas com todos reunidos ao
nosso redor eu praticamente tive que ir para fora para ter espaço o suficiente para colocar a
jaqueta.

―Tchau, Lucy,‖ disseram as Princesas.

―Tchau, crianças,‖ disse o meu pai. ―Divirtam-se.‖

Mara só acenou e sorriu para nós, como uma participante em um concurso de beleza.

Quando entramos no carro e fechamos as portas, Connor se virou para mim antes de colocar a
chave na ignição.

―Uau,‖ ele disse, ―você tem uma família maravilhosa.‖

Eu estava prestes a dizer para ele que minha ―família‖ é tão maravilhosa quanto os Masons,
mas quando eu abri a minha boca para explicar a farsa que ele acabara de testemunhar, ele se
inclinou na minha direção.

―Bom te ver, Tomate,‖ ele disse.

E bem então, encarando o imenso poder dos deliciosos beijos de Connor, o sermão que eu
estivera para entregar sobre a dupla natureza do mal puro foi perdido para sempre.

Enquanto Connor e eu dirigíamos até o restaurante, eu comecei a me sentir nervosa.


Tecnicamente, esse era o nosso primeiro encontro. Tudo bem, saímos antes. Mas não
estávamos sozinhos. E se não tivéssemos nada para falar durante o jantar? E se simplesmente
ficássemos sentados lá, encarando um ao outro sobre a mesa em silêncio total? Mas então
Connor começou a falar, explicando que ele estava dirigindo o carro de seu pai porque uma luz
de alerta havia se acendido repentinamente no painel de sua SUV. Quando ele acabou a
história, ele colocou um CD, girou o volume e pôs uma mão no meu joelho. Um minuto mais
tarde, ele pegou minha mão e correu seu dedão pelas minhas costas.

Meu terror de que passássemos a noite em um baixo silêncio, substituído pela sensação mais
poderosa de descrença que eu já experimentei. Isso estava realmente acontecendo comigo? Mas
do que tudo, eu desejei poder mostrar uma prévia desse momento para o meu eu desesperado e
solitário do primeiro semestre.

Connor achou uma vaga bem em frente ao restaurante, um local japonês chamado Osaka, e
antes de sairmos do carro começamos a nos beijar. Eu teria ficado perfeitamente feliz se não
tivéssemos ido jantar, mas após alguns minutos, Connor se afastou.

―Estou morrendo de fome, Tomate.‖ Ele tirou as chaves da ignição e abriu sua porta. ―Vamu
comê.‖

Sofrendo da minha comum confusão após-beijar-Connor, eu levei um pouco mais de tempo do


que ele para me destrinchar do carro. Na hora que eu desabotoei meu cinto de segurança, e me
manobrei pra calçada, Connor estava esperando na porta do restaurante, segurando-a aberta
para mim.

Dentro do Osaka havia mesas normais e, na direção dos fundos, mesas baixas nas quais as
pessoas sentavam-se em almofadas com suas pernas cruzadas no estilo indiano.

―Boa noite,‖ disse a recepcionista, andando na nossa direção carregando dois menus.
―Gostariam de sentar no estilo ocidental ou no estilo japonês?‖ Quando ela disse ―estilo
japonês‖ ela gesticulou na direção de uma das mesas baixas.

―Ocidental,‖ eu praticamente gritei. Ele acenou, e Connor e eu a seguimos até uma mesa
normal contra a parede. Eu me sentei normalmente, grata por ter uma toalha de mesa entre o
mundo e o meu fio dental.

―Deus, eu amo sushi,‖ eu disse. ―Não acho que comi desde que deixamos São Francisco. Meu
pai e eu costumávamos comer praticamente todo dia.‖

―Ah, é? Que legal, Tomate,‖ ele disse. Eu olhei pro menu. Yellowtail*. Camarão atum. Eu nem
mesmo percebera o quanto eu sentia falta das minhas infusões regulares de sushi até esse
minuto.
* yellowtail, peixe marinho de dorsal amarela encontrado na Califórnia.

―Pronto?‖ perguntou a garçonete. Ela abriu sua caderneta e segurou prontamente sua caneta.

―Pede aí, Tomate,‖ disse Connor.

―Hm, eu vou querer dois pedaços de yellowtail, um unagi*, um camarão, e um rolinho


especial**,‖ eu disse. Ela acenou, anotando tudo. Então ela se virou para Connor.
* unagi, enguia de água doce.
** do original, special hand roll.

―Uau, Tomate,‖ ele disse. ―Você é ousada. Eu vou querer o bife teriyaki***.‖ Ele fechou seu
menu e entregou para ela.
*** método japonês de cozinhar, em que o peixe ou a carne são postos a marinar em molho de
soja e vinho de arroz, e depois são grelhados nas brasas.

―Já experimentou sushi?‖ eu perguntei a ele assim que a garçonete se foi.

―Peixe cru? De jeito nenhum,‖ ele disse. Ele fez uma cruz com seus pauzinhos como se para
repelir vampiros. Eu estava prestes a perguntar por que não, quando me ocorreu o pensamento
de que talvez eu devesse mudar de assunto ao invés de continuar a chamar a atenção dele para o
fato de que estava prestes a comer comida que ele aparentemente achava tão revoltante quanto
os mortos-vivos.

―Desculpa você ter tido que passar por toda aquela cena na minha casa,‖ eu disse. Eu queria
que ele soubesse como a Mara e as Princesas realmente eram. ―Elas nunca agem desse jeito.‖

Antes que eu pudesse explicar o que queria dizer, Connor deslizou seus dedos pelos meus.

―Não se preocupe com isso, Tomate. Sua família é bacana. E sua mãe é tão legal. Percebo de
onde puxou suas lindas pernas.‖ Ele sorriu e apertou minha mão.

―Ela não é minha mãe,‖ eu praticamente gritei. A idéia de que alguém pudesse pensar que Mara
era minha mãe me deixava enjoada. ―Ela é minha madrasta.‖ Mesmo a própria palavra tinha
algo negro e aranhoso nela. Eu peguei a minha mão da de Connor e limpei meus dedos agora
suados no meu guardanapo, que, apesar de Mara estar ausente, eu o coloquei no meu colo
assim que sentamos.

―Brincadeirinha,‖ disse Connor. Fiquei feliz dele não começar a fazer milhões de perguntas
sobre a minha família. Quero dizer, acho que meu namorado precisa saber que sua namorada
vive com seu pai e sua madrasta má porque sua mãe está morta. Mas eu não estava exatamente
ansiosa para trazer a tona um assunto que sem dúvida alguma seria uma grande depressão.

Connor tomou um gole de sua água, assim como eu. Assim que eu coloquei o copo de volta na
mesa, um garçom apareceu magicamente ao meu cotovelo e reencheu-o.

―Obrigada,‖ eu disse. Ele acenou e deslizou para longe.

―Ei, você assistiu o jogo ontem à noite?‖ Connor perguntou, mastigando gelo.

―O do Knicks ou do–‖

―Não, o jogo do Syracuse.‖

―É,‖ eu disse. ―Eu senti que eles simplesmente cruzaram os braços no quarto tempo. Todos têm
dito que eles têm essa defesa impossível de ser parada, mas eu achei eles uma podreira total.‖

―Total,‖ ele concordou, tirando um pouco de gelo do seu copo com um garfo. ―Você assistiu
até o fim? Viu como eles perderam o último arremesso?‖

Eu concordei e fiz careta. ―Foi trágico,‖ eu concordei.

E nós discutimos o jogo e quem achávamos que chegaria às finais da NCAA*, eu comecei a
sentir essa estranha sensação sobre a conversa. Era como se o basquete fosse essa ilhinha de
papo no qual eu e Connor estávamos, e se nós tentássemos sair dela, nos afogaríamos em um
mar de silêncio. Na hora que nossa comida chegou, eu estava certa de que não poderíamos mais
ter itens relacionados ao basquete para discutir, mas então Connor chegou ao assunto do time
de Glen Lake, e como nesse ano eles estavam melhor do que nunca.
* A National Collegiate Athletic Association (Associação Atlética Universitária Nacional) é a
entidade máxima do esporte universitário dos Estados Unidos. Organiza e gerencia
competições regionais e nacionais entre as universidades do país.

Infelizmente, eu não consegui realmente me focar no que ele estava dizendo, só que não era
porque eu não conhecia a maioria das pessoas das quais ele estava falando. Assim que eu me
inclinei para dar minha primeira mordida no sushi, a alça do meu vestido deslizou do meu
ombro, quase levando a parte de cima direita inteira com ela. Eu derrubei o pedaço de
yellowtail que estava prestes a saborear e agarrei meu vestido, firmemente e puxando-o de
volta. Então eu tomei um fôlego profundo e, me inclinando para frente o mínimo possível,
peguei o yellowtail de volta com meus pauzinhos. Enquanto abaixava meu queixo para colocar
o pedaço na minha boca, um aglomerado de arroz caiu dos meus pauzinhos e deslizou pela
frente do meu vestido. Eu o senti se alojar entre meus seios, bem onde uma miniatura rosa
decorativa poderia ter se aninhado se eu estivesse usando sutiã.

Eu entrei em pânico. Deveria tentar removê-lo? Como você enfia a mão na frente do seu
vestido e subitamente puxa um meteoro de arroz? Talvez a melhor coisa a se fazer era
simplesmente deixar lá e esperar que fosse embora por conta própria. Mas e se ele ―fosse
embora‖ pelo sul? Eu conseguia visualizar agora. Eu me levantaria, e um segundo depois uma
bola de golfe de arroz cairia na minha cadeira. Eu ficaria parecendo o Peter Orelhudo, o coelho
que tínhamos na turma da segunda série, que derrubava bolinhas onde quer que fosse.

Essa imagem em particular ocupou uma parte não-insignificante do meu cérebro pela maior
parte do jantar. Eu ficava acariciando levemente o meu peito bem acima do topo do meu
vestido, esperando achar um momento oportuno para mergulhar minha mão no corpete e
remover a ofensiva bola de arroz. O problema com o plano era que os olhos de Connor estavam
colados na minha mão, que eu percebi tarde demais ser um ponteiro direcionando seu olhar
para o meu (basicamente inexistente) decote. Se ele não tivesse derrubado seu garfo na metade
da refeição e tivesse precisado procurar ao redor por um garçom para pegar um novo para ele,
eu poderia ter tido que permanecer sentada pelo resto da minha vida. Felizmente, os três
segundos durante os quais ele se distraiu foram tudo o que eu precisei para me inclinar para
frente o bastante para que o tecido apertado ficasse folgado, tirado o arroz do meu vestido, e
colocado-o próximo à minha pilha de wasabi.

―Posso pegar seus pratos?‖ perguntou nossa garçonete.

―É claro,‖ disse Connor, colocando seu guardanapo na mesa e se esticando. ―Isso estava
delicioso.‖

Eu acenei em acordo enquanto a garçonete habilmente limpou a mesa.

―Alguma sobremesa?‖

Connor balançou sua cabeça para ela e então olhou do outro lado da mesa para mim,

―Desculpa, Tomate. Agora que talvez cheguemos às estaduais, o Treinador está louco para que
estejamos em casa às dez quando não houver jogo. Ele ligou para a casa do Matt semana
passada para inspecioná-lo.‖

―Não se preocupe com isso,‖ eu disse. ―Estou cheia.‖

―Eu trarei a conta,‖ disse a garçonete.

Enquanto ficávamos sentados lá, Connor acariciou as costas da minha mão, e eu sentir o
arrepio que sempre sentia quando ele me tocava. ―Esse vestido é muito quente,‖ ele disse.

Olhar dele fez com que todo o fiasco do arroz de repente tivesse valido a pena. ―Obrigada,‖ eu
disse.

―Opa, eu fiquei tagarelando,‖ disse connor, sorrindo para mim. ―Você é uma ótima ouvinte.‖

Aquele sorriso. Me deixava tonta. ―Obrigada,‖ eu disse novamente.

―Mas eu quero saber mais sobre você,‖ ele disse, virando a minha mão e pressionando sua
palma na minha.

―O que você quer saber?‖ eu perguntei, repentinamente ansiosa. Eu devia ter preparado
algumas anedotas engraçadas sobre mim mesma. O que poderia ser mais chato do que uma
pessoa iniciando sua história de vida? Bem, eu nasci em Los Angeles e depois da minha mãe ter
morrido quando eu tinha três anos... Connor dormiria antes que eu atingisse a quarta série.

Felizmente, bem quando eu estava considerando narrar uma infância imaginária mais
fascinante publicada ao redor do globo, a garçonete trouxe a nossa conta. Connor tirou seu
cartão de crédito e o entregou. Sua confiança casual enquanto lidava com a conta era sexy; o
fazia parecer mais velho. Não tão velho que parecesse nojento ele sair com uma garota do
ensino médio, contudo. Ele parecia simplesmente velho o bastante.
―Obrigado pelo jantar,‖ eu disse. Saiu mais formal do que eu intencionei, como se eu estivesse
agradecendo ao amigo do meu pai ou algo assim.

Connor não pareceu ligar, contudo. Ele levantou uma sobrancelha para mim. ―Sem problema,
Tomate. Mas eu ainda te devo uma sobremesa.‖ Soava paquerador, como se estivéssemos
falando sobre algo muito mais íntimo do que sorvete.

―Talvez eu deva uma sobremesa a você,‖ eu disse. Eu esperava soar paqueradora também, e
não como se eu estivesse calculando o que cada um de nós tinha gasto um com o outro.

Connor me lançou seu sorriso matador. ―Toda a sobremesa que eu preciso é você nesse
vestido,‖ ele disse. Então ele soltou um uivo como o de um lobisomem.

Ambos rimos, e quando a garçonete trouxe o recibo do cartão de crédito para Connor assinar,
ainda estávamos rindo. Quando finalmente paramos de rir, ele disse, ―Você é hilária, Tomate,‖
mesmo tendo sido ele quem fez a piada. Isso fez eu me sentir viva e divertida.

Na porta, Connor me ajudou a colocar a minha (dele) jaqueta, e do lado de fora ele me inclinou
contra a porta do carro e começamos a dar amassos. Sua língua traçou uma linha da minha
orelha para a minha clavícula. Eu desejei que tivéssemos simplesmente pulado o jantar e
passado a noite toda no carro dele se engraçando, mas não é como se você pudesse exatamente
sugerir algo assim.

No caminho todo de volta para casa Connor segurou a minha mão; felizmente ele teve que
consertar o equalizador no som algumas vezes, então eu fui capaz de limpar minha palma no
meu vestido antes que ela ficasse suada demais. E ele não simplesmente segurou a minha mão
como se fosse uma pedra que por acaso ele pegou. Ele a segurava perfeitamente, traçando meus
dedos com seu polegar e então apertando minha mão fechada, ou roçando os dedos dele sobre
minhas dobras. Eu não sabia quais eram os planos profissionais de Connor, mas ele
definitivamente poderia ficar rico ensinando outros caras como segurar a mão de uma garota.

Quando paramos na frente da minha casa, Connor me beijou levemente nos lábios.

―Obrigado por entender sobre o horário de recolher, Tomate,‖ ele disse. ―Mesmo que
cheguemos às estaduais, são só mais algumas semanas, e então podemos ficar fora até o
amanhecer. E eu espero que você use esse vestido.‖ Ele levantou minha mão até seus lábios e
beijou-a.

Já que eu planejava colocar fogo no meu vestido assim que entrasse, Connor provavelmente
não o veria de novo. Eu não mencionei isso, contudo, especialmente já que ficar fora até o
amanhecer com Connor soava uma ótima idéia para mim. Nós ficamos sentados no carro, nos
beijando, até que o relógio do painel marcasse nove e cinquenta e cinco.

―Tenho que ir, Tomate,‖ ele disse suavemente.

―É,‖ eu disse. Eu me lembrei de tirar meu cinto de segurança antes de abrir a porta o carro.

―Te ligo amanhã,‖ ele disse. Eu fechei a porta e acenei; antes que ele fosse embora, ele imitou
uivar para a lua.

Quando eu deitei na cama, eu fechei meus olhos e assisti novamente os beijos de Connor na
minha mente. Então eu sai da cama, peguei meu iPod, e assisti-os novamente, dessa vez com
música. Eu desliguei as luzes e me aninhei debaixo das cobertas, deixando a música ligada. Eu
fechei meus olhos, sentindo as mãos de Connor no meu rosto, seus lábios gentilmente traçando
a curva da minha orelha. A última música que eu escutei antes de adormecer foi ―Little Red
Corvette‖. Eu tentei descobrir porque era a trilha sonora perfeita para a noite, e quando eu
descobri a resposta, eu quase me matei de tanto rir.

É claro que era perfeita.

Era Prince*.
* príncipe, em inglês.
Capítulo 13

Connor me ligou durante o jogo da Carolina do Sul no domingo, e nós ―assistimos‖ a segunda
metade do jogo juntos. Depois ele ligou novamente, e nós ficamos no telefone até o final do
show pré-jogo, quando ele teve que sair porque ele tinha dito ao seu pai que eles assistiriam ao
jogo juntos.

Na segunda logo depois da primeira aula, ele chegou por trás de mim, colocou suas mãos nos
meus olhos, e sussurrou no meu ouvido, "Adivinha quem é," e eu senti meu estômago cair com
a animação familiar. Eu me virei para encará-lo, envolvi meus braços apertadamente ao redor
da cintura do dele, e nós nos apoiamos em um armário enquanto um cara que eu não conhecia
gritou, ―Arrumem um quarto.‖ Eu conseguia sentir Connor sorrir, mas ele não parou de me
beijar até que o sinal de aviso tocou.

―Te vejo mais tarde,‖ eu disse, me desvencilhando e levantando minha sobrancelha para ele.

―Não se eu te ver primeiro,‖ ele disse.

Era estranho, contudo – eu parecia estar vivendo duas vidas distintas. Na escola, eu nunca
ficava sozinha. Quando eu me sentava em uma das minhas aulas, dentro de segundos, duas ou
três pessoas estavam competindo por cada mesa vizinha da minha. No almoço, Madison,
Jessica e eu nos sentamos juntas enquanto pessoas que me ignoraram por dois terços do ano
clamavam por um lugar na nossa mesa. Às vezes quando tínhamos aulas em partes totalmente
diferentes do prédio, Connor me ligava no meu celular entre aulas, então eu falava no telefone
com ele e com quem quer que eu estivesse andando. Não havia horas o bastante na escola para
eu ver e falar com todos que queriam me ver e falar comigo.

Mas minha fada madrinha teve ter se esquecido de salpicar seu pó mágico na minha casa,
porque sempre que eu estava em casa de noite, Mara e as minhas meias-irmãs estavam ou fora
ou me ignoravam completamente. Não que eu ligasse. Eu só não conseguia evitar notar.

Na sexta-feira depois do meu jantar de sushi com Connor, meu pai chegou em casa enquanto
Mara estava levando as Princesas para a casa do pai delas. Ele entrou pela porta bem quando eu
estava tirando a jaqueta de Connor do closet do vestíbulo da entrada.

―Ei, Goose,‖ ele disse, derrubando sua mala de viagem e me dando um abraço.

―Ei,‖ eu disse, abraçando-o de volta. Ele me olhou de cima a baixo. Eu estava usando calça
jeans e uma camiseta amarela pálida.

―Agora, posso não saber muito de moda, mas tenho que dizer que realmente prefiro isso àquele
vestido vermelho seu.‖

Eu dei de ombros como se não conseguisse realmente perceber a diferença. Ele deslizou sua
pasta de seu ombro e pegou um cabide do closet. ―Você quer assistir o jogo amanhã de tarde?‖
ele perguntou, pendurando seu casaco. ―Eu podia pegar uma pizza. Ou poderíamos estourar
aquela pipoca de microondas amanteigada nojenta.‖

Bem então um táxi parou na frente de casa e buzinou. Eu conseguia ver Madison e Jessica
sentadas no banco traseiro. ―Não posso,‖ eu disse. ―Eu vou assistir o jogo na casa do Connor.‖
Meu pai fechou a porta do closet. ―Sabe, eu me sinto um pouco estranho por não termos nem ao
menos conversado sobre esse novo relacionamento,‖ ele disse.

Eu cruzei meus braços ao redor do meu peito e bati meu pé. Quero dizer, ele não conseguia ver
que minhas amigas estavam do lado de fora esperando por mim? ―Sobre o que você quer
conversar?‖

―Eu não sei,‖ ele disse. Ele coçou sua cabeça e sorriu para mim. ―Você está bem? Mara disse
que praticamente não te vê durante a semana.‖

Eu bufei. Essa era boa. Talvez ele devesse ter tentado perguntar a ele por que ela nunca me via
durante a semana. ―Estou bem, pai,‖ eu disse.

Ele colocou sua mão no meu ombro. ―Isso é ótimo,‖ ele disse, apertando-me. ―Nós
simplesmente não conversamos há um tempo, é só.‖

―É, claro,‖ eu disse, mas ele não soltou o meu ombro. Eu tive que escorregar de debaixo de sua
mão para chegar a porta.

―Bem, talvez nós assistamos juntos no domingo.‖

―É, talvez,‖ eu disse, colocando a jaqueta de Connor e abrindo a porta de vidro.

Mas eu sabia que não iria poder assistir ao jogo com meu pai no domingo. Eu tinha uma
tonelada de trabalhos que precisavam ser feitos.

Eu acenei para Madison e Jessica, e me apressei em direção ao táxi.

Eu basicamente não vi meu pai antes que ele fosse embora para São Francisco domingo à noite.
Eu não vi muito de Mara ou das Princesas nos dias que se seguiram, tampouco, o que pode
explicar por que ninguém me avisou sobre a cama que magicamente apareceu no meu quarto
entre quando eu sai para escola na manhã de quarta e quando eu voltei para casa na quarta a
tarde. Não era exatamente do meu gosto – realmente moderna com gavetas de fórmica e uma
cabeceira que espaços de armazenamento estranhos e geométricos, como algo que você veria
em um filme futurista de 1970 – mas não se olha os dentes de cavalo dado, e qualquer um que
passou oito meses dormindo em um colchão de ar definitivamente não pode ser exigente
demais. Eu subi novamente para agradecer Mara, mas ninguém estava em casa.

Na noite seguinte Mara e as Princesas e eu realmente acabamos jantando juntas. Eu não


conseguia acreditar – não havia absolutamente nenhum filme que elas queriam ver? Nenhuma
loja para elas esvaziarem as mercadorias? Nenhuma inauguração de restaurante na Costa Norte
onde elas podiam jantar sem ter a minha presença intolerante?

Mas dentro de segundos, ficou claro por que elas não se importavam de eu comer com elas –
era porque elas não estavam comendo, na verdade. A Vogue de Mara tinha chegado mais cedo
de dia, assim como a TeenVogue das Princesas. Isso é algo parecido com um feriado nacional
na Casa Norton, e uma vez que foi estabelecido que a minha calça jeans era ―da marca errada‖,
ninguém se incomodou em falar comigo. Eu comi meu macarrão pensando em uma pintura de
Picasso que a Srta. Daniels tinha me mostrado mais cedo em resposta à minha última (e podre)
idéia para um auto-retrato. Chamada ―Large Nude in a Red Armchair,‖ era uma rendição
bizarra de uma mulher cuja caceça e dentes a faziam parecer um cavalo nervoso. A intenção da
Sra. Daniels era de que Picasso pintava retratos que eram simultaneamente dos exteriores e dos
interiores das pessoas. ―Como o interior da Lucy se parece?‖ ela ficava perguntando.

Pensar sobre o seu eu interior e comer macarrão não é exatamente apetitoso; enquanto eu
girava cada bocada no meu garfo, eu imaginava que os fios de espaguete eram meus intestinos.
Eu estava gostando da imagem apesar da nojentisse, considerando um auto-retrato de mim
mesma comendo meus próprios órgãos, que deve ter sido o porquê de eu ter perdido meu nome
sendo chamado.

―O-lá!‖ Princesa Um olhou para mim com exasperação. ―Terra para Lucy, Terra para Lucy.‖
Ela girou seus olhos para sua irmã.

―Desculpa,‖ eu disse. ―Estava falando comigo?‖

―Não, Lucy, eu estava,‖ disse Mara. Ela esticou a mão e deu um tapinha na minha, como se eu
fosse um filhotinho não-treinado que ela dominava.

―Desculpa,‖ eu disse novamente.

―Minha amiga Gail está vindo de Nova York no sábado, e eu a convidei para ficar conosco essa
semana. Eu esperava que ela pudesse ficar no seu quarto, e você pudesse ficar no escritório.‖
Ela ajustou sua franja e tomou um gole do vinho.

―Espere,‖ eu disse, e então porque não conseguia formular um pensamento, eu simplesmente


disse, ―O quê?‖

Mara me deu um sorriso de comercial de pasta de dente, como se fossemos grandes amigas que
regularmente pediam pequeníssimos favorzinhos uma à outra. ―Eu disse que estava me
perguntando se você estaria disposta a deixar minha amiga Gail dormir no seu quarto quando
ela vier no sábado.‖

―Por que Gail não pode ficar no escritório?‖ Eu perguntei. Parecia muito estranho para mim
Mara não estar hospedando sua amiga no nosso escritório recentemente colorido em
combinação, especialmente já que durante os meses em que ela esteve decorando-o, eu devo tê-
la escutado usar a frase ―sofá-cama conversível‖ dez mil vezes.

―O negócio é, ela tem um problema nas costas, e eu odiaria pedir para ela domir num sofá-
cama.‖ Ou num colchão de ar.

De repente a aparição da minha nova cama não era exatamente tão mágica.

Eu sei que eu devia me sentir mal sobre as costas da amiga dela, mas considerando que ela mal
falou comigo por dias, eu não estava exatamente morrendo para fazer um favor a Mara.

―Bem,‖ eu disse, ―Não tenho certeza. Posso pensar nisso?‖

O sorriso de alta voltagem de Mara escureceu. ―É claro, Lucy. É o seu quarto.‖

―Deus, Lucy, você não tem que ser tão egoísta,‖ disse Princesa Um.

―É,‖ disse Princesa Dois. ―Gail teve um acidente de carro quando era criança.‖

―E ainda assim eu não vejo você oferecendo a sua cama,‖ eu disparei.


―Está bem, Lucy, chega,‖ disse Mara, decidindo fazer vista grossa no fato de sua filha ter
acabado de me chamar de egoísta. ―Se você não quiser ajudar, a escolha é sua.‖

―Eu não disse que eu não quero ajudar,‖ eu disse. ―Eu simplesmente disse que quero pensar
sobre isso.‖

―O que tem para pensar?‖ perguntou Princesa Dois. ―Ou você quer ajudar ou não quer.‖

―Alguns de nós gostamos de pensar,‖ eu disse, olhando furiosamente para ela, ―Nem todos
achamos que é um crime realmente usar nosso cérebros.‖

Mara bateu na mesa com sua palma, fazendo seu copo de vinho pular. ―Lucy, eu não vou aturar
você falando dessa maneira com a sua irmã.‖

―E quanto à maneira como ela está falando comigo?!‖ A Mara era surda? Ou ela simplesmente
escolhia não ouvir o que saia da boca de suas filhas?

―Tudo o que eu disse é que você está sendo egoísta,‖ disse Princesa Um. ―Não é errado dizer
algo se for verdade.‖ Ela virou para sua mãe. ―Não está certo?‖

―Eu não sou egoísta,‖ eu disse. ―E eu não estou exatamente te vendo voluntariar a sua cama
para Gail dormir.‖

―Eu totalmente voluntariaria a minha cama, mas acontece que eu tenho um problema nas
costas, também,‖ disse Princesa Um.

―Ah, por favor,‖ eu disse. ―Só porque a Senhorita Coisinha gosta de dormir em sua própria
cama ela de repente tem problemas de coluna?‖

Princesa Um virou-se para sua mãe. ―Mãe, Lucy está sendo má comigo.‖

―Falando em ser capaz de criticar mas não aguentar...‖ eu disse. ―Não vá choramingar para sua
Mamãe, sua pirralhinha.‖

―Já chega, Lucy!‖ disse Mara. ―Quando eu contar isso ao seu pai–‖

―Ah, claro, coloque o meu pai no meio.‖ Eu deixei minha voz aguda e chorona. ―Ah, Doug!
Doug, querido. Venha rápido. Você não vai acreditar no que Lucy fez dessa vez. Deixe que eu
pego o telefone para você, Mara. Deixe que eu pego o telefone para que você possa contar a ele
tudo sobre sua horrível filha.‖ Isso era tão típico. Eu sabia que ela nunca contaria a ele que as
Princesas tinha me chamado de egoísta e inútil. Ela faria soar como se elas estivessem todas,
Ei, Lucy, como foi o seu dia? e eu respondesse, Não é da conta de vocês, suas pirralhas
egoístas.

―Eu acho que o seu pai tem o direito de saber como sua filha se comporta em sua ausência,‖
Mara disse. Sua voz estava ameaçadora.

Falando em injustiça... Eu conseguia me sentir começar a chorar. Eu pisquei rapidamente,


tentando segurar as lágrimas. ―E quanto a como elas se comportam na ausência dele?‖ Eu
apontei para o outro lado da mesa.

―O jeito como as meninas se comportam é entre elas e eu,‖ disse Mara. ―Eu as disciplinarei.‖
―Ah, por favor,‖ eu disse. ―Se você olhar disciplina no dicionário, não diz, ‗Levar para
comprar roupas novas.‘‖

Mara jogou seu guardanapo na mesa. ―Eu não vou tolerar falarem comigo desse jeito na minha
casa.‖

―Ah, agora a casa é sua.‖ Não havia nada que eu pudesse fazer para impedir as lágrimas de
correrem pelas minhas bochechas. Eu empurrei minha cadeira para trás e fiquei de pé. ―Eu
sabia que todo aquele negócio sobre ser a ‗nossa‘ casa era uma bela porcaria.‖

―Como ousa!‖ sibilou Mara, ficando de pé, também. ―Vá para o seu quarto nesse minuto.‖

―Você não está me mandando para o meu quarto,‖ eu disse, meio choramingando meio
gritando. ―Eu estou escolhendo ir lá porque é o mais distante de você que eu consigo ir!‖

Quando eu cheguei no porão, eu tentei bater a porta, mas já que abria para fora, isso não era
exatamente possível. Eu tive que me contentar em puxá-la para perto de mim o mais forte que
pude. Eu caminhei pelo quarto, fervendo. Eu nunca tinha odiado ninguém tanto quanto eu
odiava Mara. Eu queria que eu fosse o tipo de pessoa que cometeria um assassinato e o fizesse
parecer um acidente. Eu queria que eu fosse o tipo de pessoa que cometeria um assassinato e
não o fizesse parecer um acidente. Eu me importava se fosse para a cadeira? A vida na prisão
podia realmente ser muito pior do que a vida com a minha madrasta?

Finalmente, eu tive um colapso na minha cama e tentei me acalmar deixando meus olhos se
perderam nas formas e cores fluídas de Matisse. Não funcionou, contudo. Eu só fiquei deitada
lá, odiando Mara e minhas meias-irmãs, até que de repente me ocorreu que eu nem mesmo
sabia o nome do hotel do meu pai em São Francisco. Não havia maneira de eu ligar para ele a
não ser que eu primeiro eu fosse até Mara e pegasse o número. Isso me assustou. E se eu
quisesse falar com ele e ela não me deixasse? E mesmo se eu pudesse falar com ele, e se ele
não me ajudasse?

Eu coloquei meus fones e deixei white chocolate space egg* explodir meus pensamentos do
meu cérebro. Algum tempo mais tarde, inteiramente vestida e com as luzes ainda acesas, eu
devo ter adormecido.
* terceiro álbum da cantora e compositora americana Liz Phair, lançado em 1998.
Capítulo 14

Eu acordei antes do meu alarme soar e fiquei deitada na cama por um tempo, observando os
minutos avançarem de quarenta e oito para cinquenta e cinco. Então eu subi para pegar um
pouco de suco de laranja. Na mesa da cozinha havia um bilhete com a caligrafia longa e esguia
de Mara.

LUCY, SEU PAI E EU A ESPERAMOS EM CASA LOGO APÓS A ESCOLA.

Eu fique parada lá, lendo e relendo o bilhete, como se estivesse em alguma língua estrangeira
na qual eu ainda não fosse fluente.

Às oito horas, o jogo que determinaria se iríamos ou não para o campeonato estadual iria
começar, e aproximadamente duas horas mais tarde, Connor e todos os outros que eu conhecia
em Glen Lake estariam celebrando na casa de Darren Smith. A festa de Darren seria grandiosa.
Não, não grandiosa. Gigantesca. De estourar os miolos.

De fazer a terra tremer.

Eu já tinha perdido a segunda maior festa do ano por causa da Mara. De jeito nenhum eu
perderia a maior. Quais as chances de eu voltar para casa depois da escola, ter uma conversa
civilizada com meu pai e Mara sobre a briga de ontem à noite, então me deixarem ir à festa do
Darren? Meu tiro de despedida de Mara flutuou perante meus olhos, como se a briga tivesse
sido capturada de perto pela memória defeituosa. É O MAIS DISTANTE DE VOCÊ QUE EU
CONSIGO IR!

Ninguém exceto eu tinha levantado. Eu voltei a descer, tomei um banho de três minutos, me
vesti, ―esqueci‖ meu celular na minha cama e joguei uma roupa de estourar os miolos digna de
festa na minha mochila antes de escapar pelas portas dos fundos. Ao invés de arriscar ser
encurralada pela Mercedes da Mara no ponto de ônibus, eu andei dois quilômetros e meio até
Glen Lake, chegando na escola quase uma hora mais cedo.

A manhã toda eu fiquei sentada nas minhas aulas me sentindo uma fugitiva.

Duas vezes alguém bateu na porta da sala de aula, uma vez na de inglês e uma vez na de
química, e deu um bilhete para a professora. Cada vez eu esperei que ela olhasse para cima,
capturasse meu olhar, e lesse em voz alta do pedaço de papel, Lucy Norton, você está de
castigo para o resto da sua vida. Pegue suas coisas; a polícia está esperando por você no
escritório do diretor. Levei até o almoço para perceber o quão estúpida eu estava sendo.
Ninguém viria me buscar, certamente não antes das três e meia, quando eles podiam
razoavelmente começar a me esperar em casa. Uma vez que eu parei de me ver como uma
presa em fuga, o dia se esticando antes do jogo de basquete às oito horas começou a parecer
interminável.

O que eu iria fazer entre as duas e cinqüenta, quando minha última aula acabava, e a hora do
jogo?

―Ei, o que você vai fazer depois da escola?‖ Eu perguntei a Madison.

―Consulta médica,‖ ela disse, quebrando um pedaço de biscoito de lascas chocolate e atirando-
o em sua boca.
Jessica não poderia ir ao jogo a não ser que fosse diretamente para casa depois da escola e
trabalhasse em seu trabalho de história. No espaço de dez minutos, eu passei de duas opções
viáveis para depois da escola para nenhuma. Apesar de talvez ficar na casa da Jessica ou da
Madison não teria sido uma boa idéia de qualquer jeito; esse seria o primeiro lugar onde Mara
procuraria por mim uma vez que se tornasse claro que eu havia desobedecido-a.

Quando a última aula acabou, eu fiquei em meu cavalete enquanto todos os outros arrumavam
suas coisas. Já que eu não tinha nenhum outro lugar para ir, eu imaginei que podia tentar usar o
tempo para algo bom. A classe lentamente esvaziou, deixando-me sozinha com meus desenhos.
O problema era que eu ainda não entendia realmente o que a Srta. Daniels queria de nós. Agora
eu estava encarando outra folha branca de papel e mastigando minha borracha, tentando decidir
se era moralmente duvidoso abrir as gavetas das outras pessoas e roubar suas idéias. Quando a
porta do estúdio abriu, eu olhei para cima. Talvez fosse Connor; eu tinha ligado para seu celular
de um orelhão perto do ginásio para ver se ele queria dar uma volta antes do jogo. Por ―dar uma
volta,‖ eu tinha querido dizer ―dar uns amassos,‖ a única atividade no universo que
possivelmente poderia tirar minha mente de minha vida caseira profundamente perturbada.

Não era Connor, era Andrea, essa garota totalmente irritante que está na aula de desenho
corporal da Srta. Daniels. Quando ninguém está no estúdio, ela gosta de vir aqui e falar no seu
celular. Ela olhou para mim, decidiu que eu era uma ninguém, e enfiou a mão em sua bolsa.
Então ela foi até o sofá, jogou-se nele, e discou um número em seu telefone. ―O-lá! Não, sou
eu. . . . Ai meu Deus. . . . Sério?‖ Sua voz estridente poderia quebrar vidro. ―Eles fizeram isso? .
. Mas eu contei à você. . . . Não, eu te contei isso...‖ Eu arrumei as minhas coisas o mais rápido
que pude e enfiei na minha gaveta. Em um momento de perfeita simetria, bem quando a porta
do estúdio fechava atrás de mim, eu ouvi Andrea dizer, ―Cai fora!‖

O corredor estava deserto. Três e vinte e cinco. Quatro horas e trinta e cinco minutos até a hora
do jogo. Talvez eu chamasse um táxi e fosse para a Barnes and Noble* fazer lição. Eu fui até
meu armário. Será que eu deveria ir ao cinema? Mas quem vai ao cinema sozinho no meio da
tarde? Eu desejei que pudesse ser simplesmente congelada criogenicamente por algumas horas
e então emergir, bem descansada, ainda que um tanto gelada, na hora do começo do jogo.
Havia algo no meu armário. De longe parecia com um recorte de jornal, mas quando eu cheguei
mais perto eu percebi que era um cartão postal. Eu estudei a frente do cartão, que tinha a foto
de uma pintura, um retrato. Então eu virei o cartão. MILTON NEWMAN: NOVOS
TRABALHOS; A GALERIA MARGARET TANNER. RUA WEST FOURTEENTH 525.
CIDADE DE NOVA YORK. ABERTURA DIA 31 DE MARÇO, DA CINCO ÀS SETE.
* famosa rede de livrarias.

31 de março – isso era hoje. Eu olhei ao redor, totalmente assustada. Isso era uma coincidência
demais de grande. Quem me conhecia bem o bastante para saber que eu A) gostava de arte e B)
tinha quatro horas para matar? Connor? Não, ele provavelmente não tinha nem recebido minha
mensagem. Madison? Dificilmente ela era uma participante da cena de arte de Nova York.
Jessica? Mesma coisa. Não. Não. Não. Alguém estava me observando? Alguém tinha me
escutado perguntar à Jessica e Madison se podíamos sair depois da escola? Eu estava vivendo
alguma situação de perseguição bizarra?

Bem quando eu estava começando a ficar totalmente apavorada sobre estar totalmente sozinha
no corredor com um perseguidor em potencial, a resposta chegou até mim. A Srta. Daniels. É
claro. Ela deve ter colocado o cartão no meu armário. Todos os professores tem uma lista dos
armários dos estudantes, para que se tiverem vontade eles podem fazer com que o armário de
um estudantes seja vasculhado por drogas ou pornô ou recibos de cartão de crédito do
termpaper.com*
* site onde alunos conseguem trabalhos de escola feitos

Mas a Srta. Daniels não teria me dado esse cartão postal na aula? Ou me contado sobre a
abertura como ela tinha sobre a exibição do Clemente? O negócio todo era realmente estranho.
Por outro lado, meu armário ficava entre o estúdio e o estacionamento dos funcionários Talvez
ela tenha querido me entregar na aula mas então esqueceu. Eu conseguia totalmente imaginar a
Srta. Daniels andando pelo corredor, enfiando a mão em sua bolsa para pegar suas chaves do
carro, e achando o cartão em sua bolsa. Ela provavelmente carregava os números dos armários
em sua pasta com sua lista de chamada ou algo assim. Fazia total sentido.

Eu nunca tinha ouvido falar em Milton Newman antes, mas o retrato era fantasticamente
deslocado, quase, mas não exatamente uma foto-realística. Me lembrava um tantinho de algo
que eu tinha visto antes, mas eu não conseguia me lembrar do que. Eu chequei o relógio do
corredor. Três e meia. Era apenas uma corrida de táxi de cinco minutos até a estação de trem de
Glen Lake. A abertura era das cinco às oito. Eu podia ir na cidade, ver as pinturas, e voltar para
Long Island em tempo o bastante para o jogo.

Eu tinha acabado de ser convidada para a minha primeira abertura de arte de Nova York. Pela
segunda vez esse ano, a Srta. Daniels tinha me escolhido dentre o resto da classe como alguém
que seria beneficiada ao ver uma exibição que ela gostara. Eu realmente iria dizer não?

Felizmente a muda de roupas que eu tinha trazido para a festa podia servir como roupa para a
abertura de galeria de Manhattan: botas pretas de salto grosso, calça preta de cós baixo, e uma
camiseta diminuta e fina como papel da C and C que Madison tinha me dado semana passada,
já que ela disse que ficava realmente bonitinha em mim e ela nunca mais a usava. Eu poderia
me trocar, ir para a cidade, ver as pinturas, me misturar e me entrosar, então pular em um trem
e voltar para Glen Lake em tempo o bastante antes do jogo começar.

Minha tarde tinha repentinamente ido de porcaria para estupenda.

Eu tinha que me lembrar de contar à Srta. Daniels que ela dava uma excelente fada madrinha.
Capítulo 15

Quando meu táxi parou na frente da galeria Margaret Tanner logo após as cinco, o sol estava se
pondo no rio Hudson, e todo o quarteirão explodia com luz. A galeria ficava em um campo de
cascalhos brancos, ligeiramente afastado dos prédios vizinhos, e havia uma pequena piscina
refletora na frente. Uma parede de pedra de acabamento precário circulava a propriedade.

A frente da galeria era toda de vidro, e através dela eu conseguia ver a multidão e algumas das
pinturas: retratos enormes e realísticos. Enquanto eu ficava parada no portão, olhando para o
campo de cascalhos, um táxi parou e um casal emergiu, conversando em italiano. A mulher
tinha cabelo curto e espetado e o homem usava minúsculos óculos geométricos. Ambos eram
magros e chiques, e enquanto andavam pela piscina refletora, pareciam com algo saído de um
anúncio de moda da Vogue.

Claramente, era uma coisa ótima eu estar usando uma calça preta.

Dentro, a multidão era igualmente fabulosa. As mulheres, mesmo as mais velhas, eram
bronzeadas e tonificadas, e muitas delas estavam usando micro minissaias. Os homens vestiam
ternos de linho ou combinações de camisa-e-calça de aparência cara que até mesmo alguém tão
debilitada no quesito moda como as Princesas insistiam que eu era, podia afirmar que eram
extremamente modernos. A sala bem iluminada zumbia, e o ocasional disparar de um flash de
câmera só aumentava a sensação de que essa era uma reunião importante de celebridades.

O artista, que eu reconheci do cartão (aparentemente um auto-retrato), estava parado em um


canto, cercado por um aglomerado de pessoas. Eu me dirigi para duas das pinturas que eu não
tinha visto da rua. Eram paisagens enormes, tão ricas e variadas que meus olhos se sentiram
sobrecarregados, e eu percebi de quem o trabalho de Newman me lembrava – Chuck Close. Eu
circulei na frente de uma das pinturas lentamente, observando como os círculos e linhas
pareciam mudar de cor quando eu os olhava de ângulos diferentes.
Pinturas eram simplesmente tão legais. Como as pessoas sabiam como fazer isso, colocar cores
e formas próximas umas das outras bem no modelo exato? Eu me perguntei se a minha mãe
poderia ter explicado isso para mim, ou se era tudo intuitivo, impossível de articular.

Eu recuei da pintura, procurando ao redor da sala pela Srta. Daniels. A verdade era que eu não
conseguia muito bem imaginá-la nessa multidão. Talvez ela se transformasse numa mulher
super-descolada do cenário de artes de Manhattan assim que saía da escola. Eu examinei de
perto algumas das mulheres de micro minissaias, determinando que a única maneira da Srta.
Daniels estar nessa sala comigo era se ela tivesse cortado seu comprido cabelo e o tingido de
loiro platina, vermelho cereja, ou azul.

Eu imaginei que a encontraria antes de ir embora; talvez ela fosse uma dessas pessoas que
acreditava em chegar atrasada. Além do mais, eu estava começando a me sentir constrangida de
pé no canto procurando ao redor da sala por um rosto familiar. Eu me virei para olhar uma
pintura que estivera estudando, mas infelizmente bem então eu vi um rosto familiar. Só que não
era o rosto familiar que eu queria ver. Era outra pessoa da minha aula que a Srta. Daniels deve
ter convidado.

Sam Wolff.

Ugh.
Sam estava virado de lado. Ele estava usando uma jaqueta esportiva e calças de flanela carvão,
e ele estava falando com o artista, que disse algo que fez Sam jogar sua cabeça para trás e rir.
Eu não conseguia acreditar. Por que a minha primeira abertura em Nova York tinha que incluir
Sam Wolff? E por que Sam tinha que ficar parado ali, casualmente conversando com o artista
como se eles fossem melhores amigos? Eu já conseguia ver como ele agiria quando visse que
eu estava na abertura também. Ele ou A) totalmente me ignoraria ou B) me procuraria para
dizer algo condescendente. Deus, por que ele era tão babaca? Era o bastante para me fazer
querer ir embora sem nem me incomodar de ver o resto das pinturas.

Eu estava prestes a fechar o zíper da minha jaqueta e ir para fora, quando eu percebi o quanto
estava sendo estúpida. Quero dizer, eu tinha tanto direito quanto ele de estar aqui. Não era
como se ele fosse o dono do lugar. Quem ligava se ele estava puxando o saco do artista
enquanto eu estava parada sozinha no canto? A Srta. Daniels tinha convidados nós dois. Eu
olharia as pinturas, agradeceria a ela por me convidar, e iria embora. Não havia razão para que
eu tivesse que ao menos dizer oi para ele.

Bem quando eu estava virando as costas para onde ele estava parado, Sam olhou na minha
direção. Ótimo. Eu o vi pedir licença, e ele veio na minha direção.

―Então, você decidiu se aventurar nas ruas de Gotham.‖ Suas bochechas estavam coradas, e ele
segurava um copo vazio pela metade de vinho em uma mão. Ele tocou a manga da minha
jaqueta. ―Você, de fato, trouxe o time de futebol americano com você?‖

―Basquete,‖ eu o corrigi, afastando meu braço da mão dele. ―Eu odeio futebol americano.‖

―Ah, desculpa,‖ ele disse. ―Não percebi que tinha diferença.‖

Isso era demais. ―Você não percebeu que tinha diferença?‖ Cruzando meus braços, eu dei uma
risada sarcástica. ―Ah, por favor. Você acha que isso faz você parecer todo ‗intelectual‘ e
‗artístico‘ dizer, ‗Minha nossa, há uma diferença entre futebol americano e basquete? Que
curioso.‘ Mas isso não o faz soar esperto, isso te faz soar idiota. Como uma pessoa que não
sabe que há uma diferença entre Picasso e Monet.‖

Mesmo enquanto as palavras estavam saindo da minha boca, eu não conseguia acreditar como
estava sendo antipática. Eu nunca falava desse jeito com ninguém. Nem mesmo com a minha
madrasta.

―Uau, que analogia impressionante,‖ ele disse. ―Futebol americano é para o basquete o que
Picasso é para Monet.‖ Um garçom passou com uma bandeja de vinho, e Sam pegou um e me
deu.

Eu peguei, mas não agradeci ele. Só porque aconteceu da Srta. Daniels ter convidado nós dois
para a mesma abertura, não queria dizer que eu tinha que ser educada com ele. Eu gostaria de
poder encontrá-la, contudo. Estava ficando cada vez mais estranho ficar numa festa sem a
pessoa que me convidou.

Sam cutucou meu ombro com seu dedo indicador. ―Então, e daí, se eu não ligar para os
magníficos pontos do basquete, você não vai falar comigo?‖

Eu queria dizer a ele para não me cutucar. Eu também queria dizer a ele que eu não ia falar com
ele mesmo se ele ligasse para os magníficos pontos do basquete, mas bem quando eu abri
minha boca para dizer essas coisas, Sam olhou para o outro lado da sala para um homem e uma
mulher que estavam vindo em linha reta na nossa direção. ―Ah, Jesus,‖ ele murmurou. Ele
tomou um gole do vinho e se centrou de pé como se preparando-se para algum tipo de ataque.
Por um segundo eu pensei que vi algo em seu rosto que nunca tinha visto antes – algo um tanto
triste ou talvez confuso. E então, tão rapidamente quanto apareceu, se foi.

―Querido,‖ disse a mulher, lançando-se em nós. ―Eu quero que conheça Diego Martinez.
Diego, esse é meu filho Sam – Ele também é um artista.‖ Ela colocou seu braço ao redor de
Sam e beijou o ar ao redor da bochecha dele.

A noite estava ficando cada vez mais estranha. O que a mãe de Sam estava fazendo aqui?
―Prazer em conhecê-lo,‖ disse Sam, esticando sua mão para Diego apertar.

Diego estava usando um terno preto perfeitamente amassado. ―Encantando,‖ ele disse. Eu não
reconheci seu nome, mas o terno de Diego Martinez, junto com sua barba por fazer, o faziam
ter a aparência exata que um artista deveria ter.

―E essa é?‖ A mãe de Sam estava me olhando curiosamente. Ela estava com uma blusa de
alcinha de seda verde clara e uma calça boca-de-sino preta de seda, e seu cabelo tingido na
altura do queixo era bem mais vermelho que o meu.

"Lucy Norton, Maggie Tanner," disse Sam. ―Mãe, Lucy.‖

Tanner. Seu nome era bastante familiar. Onde eu o tinha escutado antes?

―É claro. Lucy." Ela acenou seu braço ao redor da sala. ―Então, gostou do meu showzinho?‖ ela
perguntou.

Ai meu Deus. Ai meu Deus. AIMEUDEUS.

De repente eu me lembrei onde eu tinha visto o nome Margaret Tanner.

―Oh, ah, está ótimo,‖ eu disse. ―É realmente um show ótimo.‖

Essa era a galeria dela. O que significava– ―Sim, Sam achou que você gostaria,‖ ela disse.Ela
pegou Diego pelo braço. ―E só espere até ver o que esse gênio consegue fazer.‖

Sam tinha me convidado? Sam?!

―É claro,‖ eu disse. ―Eu, hm, estou ansiosa.‖

Diego sorriu, pegou a mão da mãe de Sam, e beijou cada um de seus dedos, um por vez. O
processo pareceu levar uma eternidade. ―Com Maggie do meu lado, eu sou incansável,‖ ele
disse finalmente. ―Já viu uma dona de galeria mais bonita na sua vida?‖

Aparentemente essa era uma pergunta retórica, porque a mãe de Sam simplesmente disse,
―Querido,‖ e sorriu com alegria para nós antes de dar um pequeno aceno. ―Bem, estamos indo.
Divirtam-se.‖

―Obrigada,‖ eu disse. Eu observei eles darem alguns passos antes da mãe de Sam ser abraçada
por um homem alto com cavanhaque. Eu ouvi ela dizer, ―Querido!‖

―Sabe do que mais?‖ Sam perguntou, olhando não para mim, mas para um ponto logo acima do
meu ombro.
Eu balancei minha cabeça. ―O quê?‖

―Eu preciso de um pouco de ar.‖

Não tinha certeza se ele queria que eu o seguisse, mas eu segui.

―Obrigada por me convidar,‖ eu disse, recuando internamente pela lembrança de como eu tinha
sido rude com ele mais cedo. Nós estávamos sentados do lado de fora em um banco há alguns
metros da piscina refletora. Sam não tinha dito nada desde que tínhamos ido para fora, e minha
frase saiu estranha e ensaiada, o que fazia sentido, já que eu tinha experimentado diversas
variações na minha cabeça antes de pronunciá-la.

―É, claro,‖ ele disse, mas ele soou distraído, como se não tivesse realmente escutado o que eu
tinha dito.

Eu imaginei que podia ao menos dizer tudo de uma só vez. ―Eu, hm, não percebi que você
colocou o cartão no meu armário,‖ eu disse. ―Eu achei que a Srta. Daniels tinha me convidado.‖

Sam ficou de pé e andou até a piscina refletora. ―Ah.‖ Ele disse. Ele saltou para a parede de
pedra e correu ao redor da piscina e começou a andar ao lado dela. ―Decepcionada?‖

―O quê?‖

―Eu disse, você está decepcionada?‖

Agora eu estava confusa. ―Com o quê?‖

―Que fui eu que te convidei?‖

―Não. Por que eu ficaria decepcionada?‖

Ele estava andando totalmente natural, apesar da tampa da pedra em que ele estava equilibrado
ter só alguns centímetros de largura. ―Eu não sei. Por que você suporia que a Srta. Daniels foi
quem te convidou? Por que você não acharia que seria eu?‖

―Ah, talvez porque toda vez que eu tento falar com você, você me olha como se desejasse que
eu fosse atropelada por um carro,‖ eu respondi.

―Fala sério,‖ ele disse, do outro lado da piscina.

―Ou um ônibus.‖

―Por favor. Eu não sou tão mal assim. É só que é... embaraçante quando alguém comenta sobre
a sua pintura.‖

Eu pensei em explicar sobre a diferença entre um comentário e um elogio, mas pela maneira
como ele estava de repente olhando para baixo, eu podia afirmar que só falar sobre eu falar
sobre o seu trabalho estava deixando-o desconfortável.

―Como você sabia qual era o meu armário?‖ eu perguntei.

―O seu caderno.‖
―O quê?‖

―Está no seu caderno.‖

―Ah,‖ Era verdade. No primeiro dia de escola eu tinha escrito meu número do armário no meu
caderno para que não esquecesse.

Sam tinha caminhado dois terços da piscina agora, e ele olhou para mim. Então ele pulou sem
derramar uma gota do seu vinho e voltou para o banco. Ele ficou de pé na frente de onde eu
estava sentava e correu sua mão pelo seu cabelo, fazendo-o ficar de pé. Então ele balançou sua
cabeça como se estivesse tentando clarear algo desagradável. ―Desculpe pela minha mãe lá
atrás,‖ ele disse.

―Não se preocupe com isso,‖ eu disse. ―Você devia conhecer a minha madrasta.‖

―É?‖ ele perguntou.

―Deus, ela é dez milhões de vezes pior que a sua mãe,‖ eu pensei por um segundo. ―Tipo, ela
coleciona estatuetas de vidro realmente caras,‖ eu disse.

―Ta brincando!‖ Sam disse, e pela primeira vez desde que sua mãe tinha vindo até nós, ele
sorriu.

―Sério,‖ eu disse. ―E uma vez um dos pares dos unicórnios coordenados quebrou, e ela
começou a chorar.‖ Sam ainda estava sorrindo. ―Pelo menos a sua mãe coleciona arte,‖ eu
disse.

―E artistas,‖ ele disse. Ele parou de sorrir e olhou de volta para a galeria. ―E quanto a sua mãe?‖
ele perguntou. ―O que ela faz?‖

―Na verdade, ela não faz mais nada,‖ eu disse. ―Ela está morta.‖

―Ah, uau,‖ ele disse, se virando para me encarar. ―Que droga.‖

―É, eu acho,‖ eu disse. Eu nunca sei como dizer às pessoas que minha mãe está morta, já que é
quase uma certeza de parar até mesmo a conversa mais vivaz. Foi um alívio tão grande que o
Sam não fez o franzir de Pobrezinha da Lucy que a maioria das pessoas fazia.

―É por isso que você se mudou para Nova York?‖ ele perguntou. ―Ela morreu recentemente?‖

―Ah, não, ela morreu faz tempo,‖ eu disse. ―Nós nos mudamos porque meu pai casou de novo,
e minhas revoltantes meias-irmãs não funcionam a menos de dezesseis quilômetros da Miracle
Mile.‖

Sam entortou os olhos e olhou para o céu, como se estivesse tentando entender alguma coisa.

―Entãããão, você tem uma madrasta má que é uma vaca e umas meias-irmãs malvadas,‖ ele
disse finalmente.

―Eu sei,‖ eu disse. ―É muito Irmãos Grimm.‖

―Fala sério.‖
Enquanto eu olhava para Sam, que estava de pé bem na minha frente e ainda olhava para o céu,
eu meio que podia ver como alguém como Jane, alguém que podia sair com qualquer cara que
ela quisesse, sairia com ele. Com sua jaqueta esportiva, segurando um copo de vinho, ele era
bonito. Não bonito como o Connor era. Mas daquele jeito puramente maravilhoso. Isso era
diferente. Eu considerei como Sam tinha rido quando estava falando com Milton Newman.
Apesar de terem pelo menos uma dúzia de adultos ao redor dele, apesar dele estar falando com
um cara que era claramente um artista bem sucedido conhecido, ele parecera totalmente
relaxado.

Era isso – Sam era descolado.

Ele sentou no banco próximo a mim. ―Então,‖ ele disse. ―Você foi arrancada de São Francisco
e arrastada pelo país até Long Island. Você é do segundo ano. Você não conhece ninguém.
Ainda assim, em poucos meses você consegue agarrar o capitão do time de futebol americano –
desculpa, do time de basquete. Nada mal.‖

Eu tomei um gole do meu vinho, então me virei para encará-lo. ―Eu realmente não acho que o
cara que sai com a rainha do baile do ano passado deve ser tão condescendente, você acha?‖

Sam riu. ―Touché,‖ ele disse. Após um minuto ele acrescentou, ―Ela não era realmente a rainha
do baile.‖

―Ainda assim,‖ eu disse, dando um tapinha levemente no joelho dele. ―Eu sinto que o ponto é
justificável.‖

―É,‖ ele reconheceu. ―Suponho que seja.‖ Ele esticou seus braços para cima, então deixou sua
mãos caírem em sua cabeça e correu seus dedos pelo seu cabelo. ―Ei, talvez você seja a rainha
do baile esse ano,‖ ele disse. Então apontou para mim. ―Sonhos se tornam realidade, certo?‖

Eu abaixei meu copo no chão recoberto de pedrinhas. ―Está bem, posso só dizer que eu não
gostava de você antes, e então por alguns minutos eu gostei de você, e agora eu não estou
gostando novamente?‖

―Desculpa,‖ ele disse. Quando eu não disse nada, ele disse novamente. ―Sério, me desculpa.‖
Ele balançou sua cabeça e deu risada. ―Eu só não consigo entender como alguém que parece
ligar tanto para arte quanto você gosta de basquete.‖

Eu cruzei meus braços. ―Por que não? Por que você não pode aceitar que uma pessoa consiga
gostar de esportes e arte?‖

―Não sei.‖ Ele deu de ombros. ―Falha de imaginação, eu acho.‖

―Falha de alguma coisa,‖ eu disse. ―Você devia ligar para o basquete. Você devia abrir a sua
mente para a beleza do jogo.‖

Sam balançou sua cabeça de um lado para o outro, sorrindo. ―Bem, talvez eu faça isso,‖ ele
disse.

―Falando na beleza do jogo, que horas são?‖ eu perguntei. Eu estava bem certa que estava se
aproximando das sete, o que significava que eu precisava pensar em ir embora. Havia um trem
as sete e vinte que eu planejava entrar, e a Estação Penn era cerca de dez minutos da galeria de
táxi.
Sam esticou sua mão e preguiçosamente puxou a manga de sua jaqueta. ―São sete e dez,‖ ele
disse.

Eu saltei do banco, meu coração martelando. ―Ai meu Deus! Como isso é possível?‖

―Bem, a mãozona está no–‖

―Não, não, eu tenho que dar o fora daqui,‖ eu disse. ―Estou atrasada.‖

Ele amassou seu rosto com confusão zombeteira. ―Espera, deixe-me adivinhar...‖ De repente
ele balançou sua mão no ar. ―Eu sei, eu sei. Deve ser a noite do GRANDE JOGO, certo?‖

Eu não consegui evitar sorrir. ―Se eu tivesse tempo, eu te socaria,‖ eu disse.

―Nesse caso, é melhor eu te chamar um táxi,‖ ele disse, e ele se virou e andou na direção do
portão. Eu o segui e esperei na calçada enquanto ele chamava um táxi, tentando não bater meu
pé impacientemente. Felizmente um táxi parou logo; dentro de um minuto Sam estava
segurando a porta aberta para mim.

Enquanto eu deslizava no banco traseiro, percebi como eu estava sendo rude. ―Desculpa sai
correndo assim,‖ eu disse, colocando meu cinto.

―Sem problema,‖ ele disse. ―Eu não iria querer que você virasse uma abóbora perante os meus
olhos.‖ E então, sorrindo, ele fechou a porta do táxi.

―Para onde?‖ perguntou o motorista.

―Estação Penn, por favor.‖ O táxi acelerou, e quando paramos na esquina em um sinal, eu
percebi que não tinha nem ao menos realmente dito tchau. Eu virei meu pescoço para ver se
Sam ainda estava de pé do lado de fora da galeria, mas ele não estava lá. Eu deslizei de volta no
meu assento.

―Você sabe que horas são?‖ Eu perguntei ao motorista.

―São sete e quinze,‖ ele disse.

Se eu perdesse o trem das sete e vinte, o próximo seria as sete e quarenta, o que significa que de
jeito algum eu chegaria no jogo das oito antes das oito e meia.

Era tudo culpa da Mara. Se ela não fosse uma bruxa, não teríamos brigado, e se não tivéssemos
brigado, eu não teria vindo para a cidade para evitar ser castigada, e se eu não tivesse vindo
para a cidade para evitar ser castigada, eu não teria ficado na galeria todo aquele tempo falando
com Sam, e se eu não tivesse ficado na galeria falando com Sam, eu não teria perdido o meu
trem, e se eu não tivesse perdido o meu trem, eu não chegaria atrasada ao jogo.

Hoje à noite era a ilustração perfeita de por que Cinderela e seu Príncipe se casaram vinte e
quatro horas depois de se conhecerem. Porque quando você vive com a sua madrasta, não há
felizes para sempre.
Capítulo 16

Eu esperava chegar na metade do primeiro quarto se tivesse sorte, mas quando eu abri a porta
do ginásio, os time ainda estavam se aquecendo. Como isso era possível? Olhando para o
relógio pouco abaixo do placar, eu vi que dizia que era oito e meia. Então eu estava atrasada.
Mas o jogo também estava.

Eu fiquei de pé na porta observando enquanto cada jogador dava um lance e então se fundia na
contorcente fila de jogadores se formando e reformando abaixo da cesta. Fãs torciam tão
selvagemente que o ginásio literalmente balançava. Música estourava dos auto-falantes, e o
próprio cômodo parecia estar suando por todos os corpos comprimidos dentro. Eu senti o calor
e o barulho agindo em mim como um elixir. Em menos de um minuto eu identifiquei o Connor
– como mágica, no segundo em que eu o vi, ele afundou uma cesta perfeita, e a torcida, eu
incluída, ficou louca.

Levou uma eternidade para encontrar Madison e Jessica, e então minhas botas de salto grosso
transformou a subida para onde elas estavam sentadas em uma aula de aeróbica. Na hora em
que eu cheguei no espaço que elas foram capazes de guardar para mim, eu estava arfando tão
arduamente quanto os caras do time. ―Desculpe o atraso,‖ eu disse depois de abraçar as duas e
dizer olá. Então eu olhei para baixo para a quadra bem em tempo de nos ver perder a bola.

Jessica dispensou a minha desculpa. ―Adivinha?‖ ela perguntou.

South Meadow era bom. Realmente bom. Mal conseguimos pegar a bola quando eles a
pegaram de volta.

―Adivinha?‖ Jessica perguntou novamente.

Eu apontei para o relógio. ―Por que o jogo começou tarde?‖

―Eu acho que o ônibus deles quebrou ou algo assim,‖ Madison disse. Eu observei enquanto o
juíz apitava a Glen Lake por viajar com a bola.

―Você não vai perguntar o quê?‖ disse Jessica.

―O que o quê?‖ Eu perguntei. South Meadow fez um tiro livre, e eu consegui tirar meus olhos
da quadra tempo o bastante para notar que tanto Madison quanto Jessica estavam sorrindo de
orelha a orelha. ―O quê?‖ Eu repeti.

―O comitê do baile vai anunciar o tema do baile na segunda.‖ Seu sorriso se alargou. ―E sabe
do que mais?‖

―O quê?‖ O juíz soprou seu apito bem quando Jessica colocou seu braço ao redor do meu
ombro e se inclinou para sussurrar no meu ouvido. Ele tinha anotado outra falta contra a Glen
Lake? Eu não conseguia ver.

―Quais três garotas são as únicas do primeiro ano que receberão convites?‖

De repente minha mente estava muito longe do jogo. ―Não!‖ Eu disse, encarando-a.

Jessica acenou. ―Sim.‖


Agora eu comecei a sorrir, também. ―Espera um segundo,‖ eu disse, repensando o que ela tinha
dito. ―Você não sabe se eles vão nos convidar.‖

Madison colocou seu braço ao redor do meu outro ombro e se inclinou sobre mim, nós três
formando um abraço apertado. ―Não só eles vão nos convidar,‖ ela disse, ―mas eu acho que
eles vão nos convidar hoje à noite.‖

―Hoje à noite?‖ Eu repeti.

Ela e Jessica me apertaram, como se quisessem fazer um sanduíche de Lucy. ―Hoje à noite,‖
disse Jessica.

Bem então Connor pegou a bola, e nós três saltamos de pé junto com o resto dos fãs do Glen
Lake. Eu torci até ficar rouca enquanto Connor despejava a bola na direção da cesta, se
movendo tão facilmente que ele nem precisava enganar as pessoas mandadas para marcá-lo –
seu corpo fluído simplesmente oscilava para um lado, então para o outro, e de repente havia
apenas espaço vazio onde ele estivera há um segundo. Observando-o afundar a bola, eu não
conseguia acreditar que alguém tão confiante e talentoso tinha me escolhido para ser sua
namorada.

Ainda batendo palma, Jessica se inclinou sobre mim. ―Lá vai o seu par do baile,‖ ela disse.

―Para,‖ eu disse, batendo nela no ombro. ―Olha o jogo.‖ Mas eu não consegui evitar rir e nem
ela.

Foi provavelmente a única vez que alguém do nosso lado do ginásio riu a noite toda. Pelo
terceiro quarto, o jogo, o qual todos tinham previsto que seria bem apertado, estava provando
ser qualquer coisa fora isso. South Meadow – um time que parecia ter a habilidade de ler as
mentes uns dos outros, doze gigantes que faziam até mesmo os nossos maiores jogadores
parecerem anões – era imbatível. Não, não imbatível – intocável. Enquanto eles afundavam
cesta após cesta, nós mal pontuávamos, até que eventualmente estávamos atrás por quase trinta
pontos. O treinador deles começou a rotacionar jogadores que provavelmente não tinham saído
do banco a temporada toda, deixando o placar ficar um pouco mais apertado antes de mandar
de volta um ou dois iniciantes bem descansados. Os nossos iniciantes, enquanto isso, estavam
exaustos; eles estavam correndo a noite toda, mas nas poucas vezes quando foram tirados, eles
não conseguiram ficar parados. Eu observei eles marcharem para frente e para trás pela quadra,
bebendo água sem parar até que fossem mandados de volta. Quando o sinal final tocou e South
Meadow tinha ganho por 15 pontos, a maioria dos caras do banco da Glen Lake estava
segurando suas cabeças em suas mãos. Alguns realmente estavam chorando.

Até Madison e Jessica ficaram desapontadas, apesar de que por uma razão totalmente diferente.
―Os caras vão ficar tão irritados,‖ disse Madison.

―Talvez devêssemos ir a lanchonete por um tempo,‖ sugeriu Jessica. ―Sabe, dar a eles uma
oportunidade de chafurdarem um pouco?‖

Nós decidimos que essa era uma boa idéia, e enquanto Madison chamava um táxi para nos
levar para a Dan‘s Diner, Jessica mandava uma mensagem de texto para Dave de que nós os
encontraríamos na festa. Quando eu peguei minha carteira para checar quanto dinheiro eu tinha,
eu vi o canto do cartão-postal que Sam tinha posto no meu armário. Entre estar tão deprimida,
era legal lembrar da parte da noite que não tinha sido um desastre completo.
Não falamos muito no Dan‘s, e ninguém pronunciou a palavra baile. Simplesmente sentamos
com nossas batatas fritas e Cocas nos perguntando o quanto os garotos ficariam desapontados,
até que finalmente Jessica decidiu que tínhamos esperado tempo o bastante e ela chamou um
táxi para nos levar para a festa da não-vitória.

Nós viramos na Avenida Cypress e começamos a andar pelo que claramente era uma
vizinhança mega-rica, do tipo que você nem consegue ver as casas da estrada. Quando
chegamos perto da casa do Darren, o tráfego repentinamente se tornou um problema – carros
estavam estacionados dos dois lados da rua, e o nosso carro diminuiu a velocidade para um
rastejo para conseguir passar entre as fileiras. Nós paramos na frente de um gigantesco portão
de ferro forjado com uma águia de ferro empoleirada no topo, pagamos o motorista, e nos
juntamos ao rio de pessoas se dirigindo à entrada de cascalho. Pairando em uma subida acima
de nós estava na casa do Darren, a maior casa que eu já tinha visto fora de um estúdio de
cinema; era como se um Chateau francês tivesse sido levantado de sua fundação, flutuando
através do Oceano Atlântico, e caído, perfeitamente intacto na Costa Norte de Long Island.

Do lado de dentro das massivas portas dianteiras um grupo de caras estava jogando mini
basquete; a entrada era tão grande que o jogo deles nem mesmo era perturbado pela multidão
de pessoas correndo de um lado para o outro. Madison, Jessica, e eu olhamos umas para as
outras. A entrada se ramificava em duas direções, e Jessica esticou suas mãos como um par de
balanças, ficando parada desse jeito até Madison bater em seu braço direito. Nós viramos à
direita, passamos por uma larga escadaria, e nos dirigimos por um comprido corredor cheio de
pessoas. Todos estavam bebendo algo – cerveja, vinho, drinques de aparência tropical com
colarinho. Nós passamos por Kathryn Ford, Jane Brown, e um bando de outras veteranas
bebendo champagne diretamente da garrafa. A casa fedia a álcool e maconha; meu corpo todo
formigava de animação.

Está bem, é verdade, tínhamos perdido o jogo. E a temporada tinha acabado. E os veteranos,
alguns dos quais provavelmente nunca jogariam basquete novamente, tinham acabado de sofrer
a pior derrota de suas carreiras. Mas essa era a maior festa do ano. Praticamente a escola toda
está aqui. E pela primeira vez desde que tínhamos começado a namorar, Connor não tinha
horário para voltar para casa. Minha cabeça girava com as possibilidades. Desobedecer o
bilhete da Mara foi, sem dúvida, a coisa mais esperta que eu tinha feito na minha vida toda.

Eu mal conseguia esperar para achar o Connor.

Algumas pessoas pelas quais passamos disseram que tinham visto Connor, Matt e Dave pela
última vez na cozinha. Nós continuamos, seguindo as instruções deles. Devia ter uns cem
cômodos na casa. Talvez mil. Toda vez que achávamos que tínhamos chegado na cozinha, nos
encontrávamos em outra biblioteca, sala de estar, sala de bilhar, conservatório. Eu estava
começando a ter a sensação de que a cozinha era como Brigadoon* – nós podíamos procurá-la
o quanto quiséssemos, mas nunca encontraríamos.
* Brigadoon é um musical de Alan Jay Lerner, que conta a história de uma misteriosa vila
escocesa que aparece somente um dia a cada 100 anos.

A quilômetros da porta dianteira, chegamos em uma pequena alcova com nada dentro exceto
uma poltrona, e iluminada na parede oposta, a minúscula pintura em óleo em uma elaborada
moldura chapeada de ouro. Enquanto passávamos, eu olhei para a pintura.

―Ai meu Deus,‖ eu disse.

―O quê?‖ perguntou Jessica.


―Você está bem?‖ perguntou Madison.

Eu apontei para uma jovem de tutu em uma barra de balé. ―É um Degas,‖ eu disse.

―Um o quê?‖ perguntou Madison.

―Um Degas. Ele é um impressionista francês muito famoso. Meu pai ama ele.‖ Eu balancei
minha cabeça em estupefação. ―Eu não acredito que eles têm um Degas.‖

Madison e Jessica se aproximaram da moldura. ―É, tipo, super caro?‖ perguntou Jessica.

―Provavelmente,‖ eu disse.

Jessica deu de ombros. ―Legal,‖ ela disse, se virando. ―Vamos.‖

Nós sabíamos que tínhamos que estar chegando perto quando ouvimos o coro. ―Vai! Vai! Vai!
Vai!‖ Seguindo o som finalmente nos levou para uma enorme e moderna cozinha, clara como
uma sala de cirurgia e cheia de aparelhos de aço imaculado que refletiam a cena de volta, como
espelhos numa casa de diversão.

O coro vinha de um grupo de pessoas reunido ao redor de um barril no meio do cômodo.


Pingando, suor ou cerveja, eu não sabia, David estava curvado para trás pela cintura, sugando
de uma torneira. Seu rosto estava vermelho e as veias em seu pescoço sobressaltadas. Alguém
estava gritado números, e quando essa pessoa chegou em trinta, Dave cuspiu a torneira,
atingindo ele mesmo e as pessoas próximas com uma garoa de cerveja. Todos comemoraram.
Eu não vi Connor em lugar algum.

Dave cambaleou para longe do grupo e desmoronou numa cadeira. A pessoa que era a próxima
da fila pegou a torneira. ―Vai, Brewster,‖ alguém gritou. ―Brewster, o Brewmeister*!‖ berrou
outra pessoa. Eu observei Jessica, que parecia irritada, chegar até Dave.
* uma piadinha aqui, fazendo um trocadilho com Brew, que significa uma bebida fermentada,
cerveja. Brewmeister, então, seria o mestre da cerveja.

Madison e eu trocamos olhares. Ela deu de ombros seguiu Jessica, então eu a segui;
Dave tinha parado de arfar para respirar e estava rindo de, pelo que eu pude perceber, nada.
Jessica, seus braços dobrados firmemente em seu peito, estava balançando sua cabeça para ele.
Ele parou de rir e começou a se balançar para frente e para trás na cadeira, os olhos
parcialmente fechados.

―Você está bêbado, sabia disso?‖ ela perguntou, chutando-o no pé.

―Eu num to bêbado,‖ ele disse indistintamente, sorrindo para ela. ―Venhaqui.‖ Ele levantou
seus braços para abraçá-la e então os derrubou, como se fossem pesados demais para segurar.
―Está bem, talvez eu esteja bêbado.‖

―É, talvez,‖ ela disse.

Como se para acenar em concordância, Dave deixou sua cabeça cair. Mas não levantou
novamente. Mais uma vez, Jessica chutou-o no pé. Dessa vez tudo o que ele fez foi dar de
ombros.

―Onde está o Connor?‖ eu perguntei. Dave olhou para mim, sua cabeça girando. Ele disse algo
que soava com, ―Fundo.‖

―Fundo?‖ eu repeti.

Ele tomou um longo fôlego e encarou os meus olhos, todos os seus poderes de concentração
focados nessa comunicação elusiva. ―Fundo. Da. Casa,‖ ele conseguiu dizer, articulando cada
sílaba com precisão extraordinária. Então ele meio apontou, meio acenou para um corredor que
se ramificava da cozinha e riu.

―Onde está o Matt?‖ perguntou Madison.

Dave moveu seu olhar opaco de mim para Madison, e então de volta. ―Torresmo,‖ ele disse.

―O quê?‖ ela perguntou.

Nós conseguíamos ver ele se esforçando para uma última tentativa. ―Mesmo,‖ ele disse
finalmente.

Ele olhou para mim, confuso. ‖Eu acho que ele quer dizer que estão no mesmo lugar,‖ eu
traduzi.

Eu fui na direção que Dave tinha indicado, com Madison logo atrás de mim. Jessica deu mais
um chute no pé do Dave antes de seguir.

Eu estava começando a ter o péssimo pressentimento de que a minha noite dos sonhos não
estava bem como eu tinha planejado. Nós descemos o longo corredor que acabava em portas
francesas, que abriam para um deque com vista panorâmica sobre a piscina coberta.

No deque, desmaiado debaixo de uma grande mesa de vidro, estava Connor. Há alguns metros
de distância Matt repousava.

Connor deitado de barriga, com sua cabeça descansando em seu antebraço. Por um segundo eu
me perguntei se ele ainda estava respirando, mas então Jessica foi até lá e chutou seu tornozelo
e ele grunhiu.

Eu me abaixei. ―Connor?‖ eu perguntei.

―Ei, Tomate,‖ ele disse. Suas palavras estavam indistintas; eu pressenti mais do que ouvi o que
ele estava falando. Então ele levantou sua cabeça. ―Beleza?‖

―Você está bem, Connor?‖ eu me sentei na madeira fria e toquei seu cabelo. Próximo ao seu
quadril descansava uma garrafa vazia de Wild Turkey*.
* Wild Turkey é uma marca de uísque bourbon.

―Nós perdemos, Tomate,‖ disse Connor.

―Eu sei,‖ eu disse. ―Eu realmente sinto muito.‖

―Eu acho que eu preciso dormir por um pouquinho,‖ ele disse, deixando sua cabeça cair de
volta. ―Obrigado por vir aqui.‖
Capítulo 17

Você sabe o que o Príncipe Encantado não deveria fazer? Ele não deveria vomitar tudo na bota
da Cinderela . Eu limpei o vomito de Connor do couro , ajudei-o a entrar no carro de Kathryn
Ford, e sentei atrás dele enquanto ele dormia, roncando pesadamente, mas eu não estava
achando ele charmoso como eu sempre achava. De fato, eu não estava achando ele charmoso
de modo algum.

Meu pai ia me matar. E pelo que? Na hora que Kathryn virou no meu quarteirão, eu estava em
pânico. As palmas das minhas mãos estavam tão suadas que eu podia sentir o cheiro delas. Pela
primeira vez desde que eu tinha decidido fazer aquilo, ignorar a nota de Mara estava
começando a parecer uma péssima, péssima idéia.

Bem quando Kathryn parou o carro em frente a minha casa, eu tive um choque momentâneo-
parecia como se as únicas luzes acessas lá dentro fossem as que Mara e meu pai deixaram
acessas quando eles saíram naquela noite. Mas então eu vi que uma lâmpada estava acesa no
estúdio do meu pai, e eu sabia que onde quer que todos estivessem, ele estava em casa.

E estava esperando por mim.

Eu respirei fundo. ―Bem, obrigada de novo,‖ eu disse para Kathryn. ―Desculpe se isso arruinou
a sua noite.‖

―Não se preocupe. Eu falei para o Mark que encontraria com ele na cidade.‖ O tom de Kathryn
deixava claro que ela não gastava suas noites de sexta-feira em festas com a galera abaixo dos
21.

―Oh, certo,‖ eu disse. ―Você tinha mencionado isso.‖

Ela apontou para Connor, adormecido no banco do passageiro. ―Nosso garoto está bem
destruído, não é?‖

Alguma coisa no jeito que ela falou nosso garoto meio que me soou estranho, mas não era
como se eu estivesse prestes a corrigí-la. Um, na verdade, Kathryn, ele é meu garoto.
―Sim,‖ eu disse.

Ela olhou para ele durante um longo minuto. ―Ele é uma gracinha,‖ ela disse.

Agora oficialmente eu estava aborrecida . Não chame meu namorado de gracinha. O ódio que
eu tinha reservado para Mara declinou um pouco perante meu ódio inesperadamente poderoso
por Kathryn Ford.

Ela estalou a língua no céu da boca. ―Pena que ele é muito novo para mim,‖ disse. Ela virou as
costas para onde eu estava sentada, passando pelos acentos da frente e deu um tapinha nos
meus joelhos. ―Ele é todo seu.‖

―Oh. Ah, obrigada,‖ eu disse. Então me senti como uma total idiota por dizer aquilo, já que eu
tinha acabado de agradecer a ela por me insultar. ―Bem, boa noite,‖ eu disse. ―Se divirta na
cidade.‖

―Eu vou,‖ ela disse.


Eu caminhei até a frente tão devagar quanto se estivesse calçando sapatos de chumbo
literalmente arrastando meus saltos. Em frente à entrada, eu gastei vários minutos tirando a
jaqueta de Connor e pendurando-a. Logo que fechei a porta de armário, eu me senti insegura,
como se a jaqueta fosse um paletó de armadura que sem ele eu estaria totalmente exposta. Por
um rápido segundo eu considerei em apenas ir para o andar de baixo e cair na cama, fingindo
que não tinha visto as luzes do meu pai. Mas então pensei como seria me defender dele de
manhã, na frente de Mara e das Princesas. Tão ruim quanto essa noite ia ser, amanhã podia
apenas ser pior.

Eu caminhei pela sala de estar sombria e desci os dois degraus do estúdio dele, onde uma
pequena fresta de luz brilhava embaixo da porta fechada. Eu parei ali, respirando
profundamente, e então bati.

―Entre,‖ meu pai disse. Eu empurrei a porta. Ele estava sentado em sua escrivaninha, digitando
no laptop.

―Ei,‖ eu disse.

―Ei,‖ ele disse.

―Quando você chegou em casa?‖ eu perguntei. Eu estava surpresa, era capaz de manter minha
voz normal quando tudo o mais em mim estava tremendo o bastante para eu sentir isso.

―Algumas horas atrás,‖ ele disse. Ele recostou-se em sua cadeira e colocou seu pés em cima da
mesa, fazendo gestos para que eu me sentasse na cadeira em frente a ele. ―Ouvi que você teve
uma semana e tanto.‖

Eu encolhi e tomei assento, sentindo como se estivesse em uma posição de testemunha. ―Acho
que se pode dizer isso.‖

―Quer me dizer o que aconteceu?‖ ele perguntou, passando a mão pelo cabelo.

Meu pai não é apenas um advogado, ele é um advogado que é obcecado pela ―beleza inerente‖
do Sistema Legal Americano. Imagine isso, Lucy, um país onde o acusado é inocente até que se
prove culpa. Usualmente quando ele começa a falar sobre a Conta de Direitos, eu apenas reviro
os olhos ou pondero que não há nada especialmente bonito em ajudar corporações
multinacionais que processam umas as outras, que é o tipo de Direito que meu pai pratica; mas
hoje à noite eu estava feliz que ele estava tão impetuosamente cometido com os direitos do
acusado. Afinal, até mesmo se Long Island parecesse como se estivesse em um universo
diferente de São Francisco, oficialmente ainda estávamos nos Estados Unidos.

Sentei de frente com minhas mãos nos joelhos. ―Ok, o negócio é que eu não fiz nada, e de
repente Mara e todo mundo estava dizendo como tenho sido egoísta.‖

―E por que você acha que diriam uma coisa dessas?‖ ele perguntou, batendo a ponta dos dedos
juntos.

Eu estava aliviada. Tinha pensado que ele automaticamente iria tomar partido de Mara, mas
agora podia ver que ele ia ouvir minha versão da história. ―Eu não sei,‖ disse. ―Mara me pediu
para deixar sua amiga dormir no meu quarto, e eu perguntei se podia pensar a respeito, e de
repente todo mundo estava agindo como se eu tivesse dito não, quando eu não disse.‖
―Então você sentiu como se fosse atacada por razão nenhuma?‖ Era minha imaginação ou o
tom dele tinha mudado? Antes meu pai tinha soado genuinamente curioso; agora ele soava
excessivamente curioso, como se ele realmente não estivesse curioso.

Me recusei em acreditar que a pergunta do meu pai era retórica. Era realmente impossível para
ele imaginar que sua preciosa esposa e enteada com sua filha inocente. ―Como uma questão de
fato, eu acho mesmo isso.‖

―Bem, eu não estava lá, Lucy, então não posso dizer ao certo o que aconteceu, mas Mara fez
isso soar como se você tivesse sido extremamente rude com ela sem razão alguma.‖

―Bem, já ocorreu a você que só porque Mara fez soar como se fosse assim não quer dizer que
tenha acontecido assim?‖

―Lucy, eu não entendo o que está acontecendo aqui.‖ Ele colocou os pés no chão e arrumou-se
na cadeira. ―Mara disse que pediu a você para fazer um favor a sua amiga Gail, e você disse
não, e então começou a gritar com ela e com as garotas.‖ Ele não estava gritando, mas eu diria
que ele estava ficando frustrado.

―Não posso acreditar que você está tomando partido dela,‖ eu disse. ― Você não está nem ao
menos me ouvindo.‖

―Lucy, não estou tomando partidos. Estou apenas te dizendo o que ouvi.‖

Mas quando ele colocou as mãos abertas na borda verde da escrivaninha, sua aliança de
casamento brilhou.

Eu segurei os braços da minha cadeira, fortemente. ―Bem, você ouviu errado.‖

―Então o que aconteceu?‖

Ele tinha totalmente perdido minha descrição anterior?

Mesmo que eu nunca tenha sido muito de chorar, por um segundo de tempo em muitos dias, eu
senti meu queixo tremer e meus olhos se encherem de lágrimas. ―Você não entende o que é
para mim viver aqui. Você está fora em São Francisco enquanto estou amarrada com a
Feiticeira má do Leste e sua ova de peixe do mal".

Assim que as palavras saíram da minha boca, eu me arrependi delas. Algumas coisas não
devem ser ditas em voz alta.

Meu pai colocou as mãos no rosto e esfregou os olhos. Então olhou para mim. ―Lucy, quando
você diz coisas como essa, fica mesmo muito difícil de acreditar que Mara esteja inventando
histórias sobre você insultar a ela e as meninas.‖

Eu rosnei. ―Oh, sim, como se você acreditasse em mim se não dissesse coisas como essa.‖

―Por que você age como se todo mundo estivesse te atacando? Todo mundo está lutando para
fazer essa família dar certo. Todo mundo.‖

Eu não podia acreditar nisso. Lutando? Lutando! ―Você quer dizer fazendo compras, Pai? Você
quer dizer que estão todos fazendo compras para essa família dar certo? Porque eu não vejo luta
nenhuma acontecendo por aqui."

"E essa é exatamente o tipo de resposta pretensiosa que eu estou cansado," disse meu pai.
"Como esse tipo de coisa é útil de se dizer"?

"Bem, talvez eu não quero ser útil," disse, levantando-me. "Talvez eu esteja cansada de ser
útil".

Meu pai levantou-se, também. "Cansou de ser útil? Lucy, estar cansada de algo que você tem
que fazer temporariamente".

"Você sabe que elas totalmente me ignoram quando você não está aqui, pai. Tudo o que elas
fazem é fazer compras e vão a cinemas e vão jantar sem mim".

"Lucy, justo no último final de semana Mara chamou você para ir a cidade conosco, e você
disse não"

"Papai, você está cego? Ela só pediu que eu fosse porque você estava sentado bem aí. Ela quer
que pense que ela preocupa-se comigo, mas realmente, ela me odeia".

"Te odeia? Essa é a razão pela qual ela estava tão chateada que você tenha gritado com ela
ontem à noite, porque ela te odeia? Se odiasse, ela se importaria? Ela se importaria que você
não venha para casa quando ela fala para vir? Ela não estaria apenas feliz de não te ver se ela
odiasse"?

"Não," disse, choramingando. "Ela não só me odeia. Ela me odeia e quer arruinar minha vida".

"Lucy, eu realmente não sei como você espera que eu responda a esse tipo de paranóia".

Ele não disse nada depois disso, e eu também não. Soube que era inútil tentar me defender
mais.

Agora caminhávamos para a fase da sentença do julgamento.

"Quero que se desculpe com Mara pelo que aconteceu," disse. Tirou alguns lenços da caixa na
sua escrivaninha e os passou a mim. "Sei que isso significaria muito para ela depois do que
você disse. E até que vejamos uma mudança real em seu comportamento, você não vai sair com
seus amigos.‖

Estava com meu nariz enterrado num lenço, mas quando ele disse a última parte, a minha
cabeça arrebatou.

"Castigo? Você está me colocando de castigo? Por quanto tempo"? Até onde eu podia contar,
ele me castigaria indefinidamente.

"Até que nós vemos uma mudança em sua atitude". Esperou um segundo, mas eu estava
perplexa demais com o meu castigo para responder.

Finalmente ele continuou. "Olha, eu sei que você está triste, Lucy, e eu sinto muito. Mas acho
que se pensar sobre isso, verá que você mesma está trazendo isso para si".
O cômodo estava num silêncio mortal. Quando tornou-se claro que eu ainda não ia dizer nada,
meu pai sentou-se. Permaneci de pé e ele olhou para mim.

"Por que você não vai dormir, Goose. Se quiser, podemos conversar sobre isto de manhã. Boa
noite".

Ele sequer esperou eu sair do cômodo antes de voltar a seu computador. Eu tinha sido
dispensada. Cheguei à porta, ele estava ocupado datilografando.

Nada.

Isso é o que acontece com a madrasta da Cinderela.

Nada.

Eu só pensei na história porque me lembrei de como na Bela Adormecida, a fada que causou
todos os problemas se transforma em um dragão e o Príncipe Encantado a apunhala, e ela
morre aquela morte realmente horrível. Mas não há nada desse tipo na Cinderela. Aliás, você
nunca descobre o que acontece com a madrasta da Cinderela nem suas meias-irmãs. Até onde
posso contar as três somente passam o tempo saindo por aí, provavelmente arrumando uma
garota nova para trazer o café da manhã na cama e lavar as roupas à mão.

Adivinho que você deve pensar que é castigo suficiente que elas tenham que viver o resto de
suas vidas sabendo que Cinderela ficou com um marido realmente gostoso vivendo a vida
perfeita, enquanto aquelas 3 feiosas, senhoras mesquinhas vão envelhecer e morrer sem jamais
receber uma foto do Palácio.

Mas e se a vida da Cinderela não for tão perfeita? Tipo, e se o Príncipe Encantando vomitar nas
botas da Cinderela depois que seu time perder o grande jogo? E se a menina mais popular da
escola implica pela única razão da Cinderela ter ficado com Príncipe em primeiro lugar é
porque ela não estava interessada nele? E se a Cinderela ficar de castigo durante um período
inespecífico de tempo? E se for assim que a história termina? E se esse é o feliz para sempre?

Bem, se você quer minha opinião, isso é um saco.


Capítulo 18

Mara estava sentada na cozinha da mesa quando acordei na manhã seguinte. Ela estava de
costas para mim, e andando em volta da mesa, vi que ela escrevia uma nota de agradecimento.
Essa é basicamente sua atividade favorita, escrever essas notas realmente falsas a seus amigos e
conhecidos. Minha querida Laura, como eu posso agradecer a você pelo adorável tempo que
tivemos ontem a noite? Você é uma anfitriã tão generosa e encantadora.

"Oi," eu disse, tentando não soar tão derrotada como me sentia. Ela usava um terninho pêssego
coordenado, e seu cabelo e maquiagem eram perfeitos. Era como se ela tivesse planejado passar
o dia correndo em um escritório.

"Olá, Lucy," ela disse, olhando para mim.

"Um, escuta," eu disse. Eu estava com minhas mãos nas costas da cadeira do lado oposto ao
dela, um pé descansando na outra, como uma garotinha.

"Sim?" ela disse. Ela manteve a caneta em posição de escrever, deixando claro que era melhor
eu ser rápida.

"Eu só queria, você sabe, me desculpar pelo que eu disse na outra noite."

Ela umedeceu seus lábios. "Para ser franca, Lucy, eu estava chocada. Ninguém nunca tinha
falado comigo daquele jeito antes."

Eu não sabia se ela esperava por outro pedido de desculpas, mas se esperava, ela não estava
conseguindo. Eu talvez não quisesse ser castigada pelo resto da vida, mas até pela liberdade
tem limite para se puxar saco.

Continuei com o discurso que tinha planejado enquanto escovava os dentes. "E sobre sua amiga
ficar no meu quarto- quero dizer, tudo bem. Eu- tudo bem para mim dormir no esconderijo
enquanto ela estiver aqui. Vou limpar meus bagulhos- quero dizer, fazer uma limpeza- vou
limpar meu quarto para ela." Minha entrega tinha sido muita mais polida quando eu falei com
meu reflexo no espelho do que estava sendo agora.

"Bem," ela disse, "Estou certamente feliz de ver essa mudança em sua atitude." Ela assentiu
para mim. "Suas desculpas estão aceitas."

Eu deveria agradecer a ela? Não falei nada.

"Agora," ela continuou, "já que você não vai sair com seus amigos essa noite"- amei como ela
expressou isso como se a escolha tivesse sido minha- "seu pai gostaria que se juntasse a nós
para o jantar."

Não soou como se o "convite" tivesse sido exatamente opcional, mas eu pretendia considerar
sua oferta por um segundo antes de dizer. "Sim, claro."

"Ótimo. Então nos veremos mais tarde," ela disse. Me virei para sair. "Sem jeans, hoje a noite,
por favor," ela disse atrás de mim.
Cinco minutos mais tarde eu estava de volta na cama, onde eu instantaneamente adormeci. A
próxima coisa de que soube, foi uma pancada na minha porta.

"Que é?" gritei. Tive aquela confusão, o sentimento estúpido que você sente quando dorme
muito tempo.

De alguma forma as Princesas ouviram o "que é" como "Entre!" e elas se uniram nos degraus.

"Você estava dormindo?" disse Princesa Um.

"Não," eu disse. "As vezes eu meio que deito no escuro por horas com meus olhos fechados."

As duas olharam para mim por um minuto. "Você está brincando?" Princesa Dois perguntou
finalmente.

"Sim, estou brincando." Eu disse, bocejando. "Agora, o que vocês querem?"

"Connor ligou," disse Princesa Dois. "Está na secretária eletrônica." Ela colocou as mãos nos
lábios. "Ele é, tipo, seu namorado?"

"Sim, " eu disse. Me senti um pouco assustada depois de dizer isso, como se tivesse azarando a
mim mesma.

"Julie Wexler disse pra gente que a irmã dela disse pra ela que Connor é o garoto mais popular
da escola," Princesa Um disse. Mesmo na pálida luz que vinha da cozinha, eu podia ver a
admiração nos olhos dela. Julie Wexler tinha recentemente substituído Jannifer Johnson na lista
rotativa de melhores amigas das Princesas; os pronunciamentos dela eram repetidos como se
ela, como uma profeta do Velho Testamento, passasse todo seu tempo se comunicando
diretamente com Deus.

"Acho que ele é popular," eu disse, arqueando as costas e bocejando.

Princesa Dois me olhou rápido antes de virar para a escada. "Vamos!" ela chamou a irmã,
"Temos que nos vestir."

"Ei," disse quando ouviu minha voz. "Acho que fiquei um pouco bêbado ontem à noite".

"Só um pouco," eu disse.

Música pulsou no fundo, e Connor fez umas batidas junto com ela por um segundo antes de
dizer, "Tenho que te compensar, Tomate. Como posso te compensar"?

Venha até minha casa e crave uma estaca no coração da minha madrasta. "Eu não sei," disse.

"Aposto que isso vai me custar". De alguma forma ele conseguiu fazer com que as palavras
soassem um pouquinho como se fosse uma ameaça, um pouquinho como um desafio; de
qualquer forma, era bem sexy.

"Aposto que vai," eu disse. Connor gostava de mim o bastante para gastar o resto da sua vida
numa cadeia por matar minha madrasta? Talvez se eu pedisse enquanto usava aquele vestido
vermelho...
Ele abaixou a voz. "Posso pedir uma coisa, ou você está com muita raiva"?

Tremi. Parecia como se ele cochichasse na minha orelha. "Eu não sei," disse, cochichando,
também. "Depende do que é".

"Bem, tente se esforçar". Ele pausou. "Acha que você talvez esteja disposta a ir ao baile
comigo"?

Aaaaahhhhh!

Ele me pediu. Ele realmente tinha me pedido. Dei um salto, milagrosamente conseguindo
engolir um grito. Então consegui sentar na borda da cama, cruzar minhas pernas nos tornozelos,
e falar tranqüilamente no telefone. "Acho que devo considerar isso," disse. Mas era impossível
permanecer sentada, e saltei, pulando de um pé para o outro.

"Você me mata, Tomate," disse. "Não há ninguém mais legal que você".

Era uma coisa boa que Connor não pudesse me ver, já que eu não estava segura de parecer
legal saltando em volta numa camiseta gigante e um par de meias grossas alaranjadas com
buracos nos calcanhares, minha mão pressionando meus lábios então nenhum grito escaparia.

Ouvi o estalo de alguém pegando a extensão. "Oi? "Era Mara.

Oh meu Deus, agora ela escutava minhas ligações com meu pai e meu namorado.

"Sim, olá, Mara. Eu estou no telefone."

"Lucy, você está acordada. Por que você não vem aqui no andar de cima para dizer oi"?

"Eu–"

"Agora," ela disse, e desligou.

"Tenho que ir, Connor," eu disse.

"Me liga mais tarde," ele disse. "Par do Baile."

Desliguei o telefone comum e agarrei meu celular antes que Mara viesse confiscá-lo.
Jessica atendeu no primeiro toque. Ela sequer disse oi.

"Connor te chamou?"

"Bem agora".

"Oh meu Deus!" ela gritou. "Dave me pediu, tipo, cinco minutos atrás, e Madison está no
telefone com Matt agora mesmo."

"Vamos ao baile!" Quis gritar dos telhados, mas controlei minha voz. A última coisa que eu
necessitava era que minha madrasta soubesse que havia algo em minha vida que eu realmente
anciava. Isso só acabaria por fazer ela ficar mais ávida de tirar isso de mim.

Houve uma pancada na minha porta.


"Lucy, Mamãe diz que você tem que vir no andar de cima agora.‖

Abaixei minha voz a um cochicho. "Tenho de ir.‖

"Vamos ao baile," Jessica cochichou.

"Por que você está cochichando?" Perguntei, começando a dar uma risadinha.

"Por que você está cochichando?" ela perguntou, dando risadinha, também.

"Eu não sei," eu disse.

"Eu também não," ela disse. Então começou rir pra valer e eu também. "Te ligarei mais tarde,"
ela disse.

Eu estava rindo demais para dizer algo mais, então apenas desliguei o telefone.

A mesa da sala de jantar elaboradamente foi posta para doze, e música clássica macia tocava na
sala de estar, onde Mara, meu pai, e uma mulher que não reconheci sentavam tomando bebidas.

"Ei, querida," disse meu pai, notando-me. "Está certa de que dormiu o suficiente?" Sabia que
ele estava brincando, e me forçei a sorrir.

"Acho que sim," disse. Então andei até à mulher desconhecida e estendi minha mão. "Sou
Lucy," eu disse.

"Sou Gail," ela disse. Com exceção de seu cabelo loiro tingido, ela podia ter sido o clone de
Mara. Estavam ambas com saias sedosas escuras e empalidecidos suéteres felpudos, e cada
uma segurava um copo de vinho branco na mão.

Perguntei-me se Gail sabia que ia dormir no meu quarto, mas pareceu descortês perguntar.

Com o convite de Connor ainda tocando na minha orelha, eu sabia que a última coisa que eu
podia admitir era meu pai pensar que eu estava sendo rude a amiga de Mara. Desculpa, Connor,
eu sei que eu disse que podia ir ao baile com você, mas estou de castigo. Eternamente. Sorri
amplamente e virei para Mara.

"Tem alguma coisa em que eu possa ajudar?" Tinha vestido um vestido de seda azul que eu não
usava desde que tinha aproximadamente doze anos. Era feio como o pecado, mas não era jeans.

"Tudo que precisava ser feito já está feito por agora," disse Mara, "mas acho que seria
realmente amável se você e as meninas ajudassem a servir bebidas e o jantar quando os
convidados chegarem."

Ajudar a servir bebidas e o jantar? O que eu era, a nova empregada? Mantive um sorriso
rebocado no rosto. Baile. Baile. Baile. Você vai ao baile. "Claro," disse. "Feliz em ajudar.‖
Comecei a me sentir ridícula por estar parada no meio da sala, então me desculpei. "Acho que
deixarei isso no esconderijo," eu disse, pegando a mala que tinha empacotado para minha tarefa
como uma convidada de verdade em minha própria casa.

"Lucy, eu estava contando para as meninas como eu acho que você ficaria encantadora de preto
e branco hoje a noite," Mara disse atrás de mim. Me virei. "Você não acha que isso pareceria
amável?"

"Oh, sim," disse. "Acho que isso seria legal".

Mara sorriu para mim como se eu fizesse todos os seus sonhos se realizarem. Sorri de volta da
mesma maneira. Realmente, Mara somente tinha feito um de meus sonhos realizar-se. Ia ver as
Princesas forçadas a mecherem seus traseiros de princesinhas e ajudar a servir a refeição.

Durante dois minutos de entradas pela porta, os Martins, os Aliens e o Clurmans claramente
tinham recebido a idéia de que eu era uma empregada ao contrário da filha de seu anfitrião, sem
dúvida em parte porque A) estava vestida como uma garçonete numa entrada sem graça. e B)
Mara, ao invés de me apresentar, dizia somente, "Lucy, por favor pegue o casaco de todo
mundo e coloque na minha cama". Apesar de Mara ter dito que eu e as Princesas estaríamos
servindo juntas, eu era a única vestida como se estivesse coletando um contracheque no fim da
noite. Minhas meias-irmãs vestiam novas camisas pretas e brancas da moda esportiva de Petit
Bateau* (Princesa Um tinha um padrão branco no preto, enquanto Princesa Dois ia de preto no
branco) e minissaias pretas minúsculas, conjuntos sem dúvida comprados para esta ocasião. Até
onde eu podia contar, elas não faziam muito além de "ajudar" no bartend** do meu pai, uma
tarefa que envolvia pouco mais do que jogar a rodela ocasional de limão ou o swizzle stick***
no copo ocasional. Eu, entretanto, gastei a primeira parte da noite correndo de um lado a outro
para a cozinha com pratos de aperitivos quentes que Mara tinha mandado de seu provedor
favorito. As travessas eram pesadas, a cozinha estava quente, e rapidamente eu tinha
desenvolvido uma dor de cabeça claramente repulsiva. Mara, sorrindo e conversando com seus
convidados, mal me reconheceu enquando eu andava ao redor da sala oferecendo sopros de
queijo.
*Petit Bateau é uma das marcas prediletas das parisienses
** Aqueles bares que tem dentro de casa.
*** Aquele pauzinho que se coloca dentro das bebidas

"Você está fazendo um grande trabalho," disse meu pai quando veio na cozinha pegar mais
gelo.

Eu estava apoiava no fogão observando para me assegurar de que o espinafre em massa folhada
não tinha queimado.

"Isso é o que eu gosto de ver". Ele veio e me deu um aperto no ombro. "Essa é a menina que eu
sempre soube que você podia ser".

Ele sempre soube que eu podia ser uma empregada? Eu abri minha boca para dizer a ele o que
eu sempre soube que ele ia ser, mas então tive uma foto de mim jazendo inclinada em minha
cama, esculpindo linhas em minha cabeceira de formica para marcar os meses de meu
encarceramento enquanto Connor escorregava um buquê no pulso de sua nova namorada e a
escoltava na limosine que esperava.

"Estou alegre, pai," disse, sorrindo fracamente. "Estou realmente alegre". Observei-o deixar a
cozinha e voltei ao forno.

Eu nunca saberei se o Martins, os Aliens, nem o Clurmans sequer compreenderam quem eu era,
ou se apenas decidiram que meu pai e Mara eram empregadores incrivelmente esclarecidos que
permitiram que a ajudante se sentasse e comesse com eles e seus convidados sempre que ela
não servia um novo prato. Já que cada travessa que tinha que ser carregada da cozinha era
muito pesada para as Princesas carregarem, o trabalho era meu. Não foi até sobremesa, quando
elas se mostraram tanto ao circular com um prato minúsculo de quadrados de petits, em que
ambas serviram a todos; enquanto elas andavam ao redor da mesa, os convidados faziam oohs e
aahs sobre quão prestativas e graciosas elas eram. Fiquei observando elas ajudarem-se tanto
quanto "serviam" pastéis, escovando meu agora-emaranhado cabelo para fora dos meus olhos e
fervendo de raiva. Aquela hora eu carregava os casacos para baixo, para a sala de meu pai e de
Mara e os distribuía entre os convidados, eu sequer fiquei surpresa pelo Sr. Martin me elogiar
por fazer um trabalho tão grande e perguntar se estava disponível para ajudar a ele e sua esposa
em uma festa que eles teriam no próximo fim de semana. Não pude dizer se brincava ou não,
então só respondi que estava de castigo e lhe entreguei o casaco.

"Lucy, você fez um belo trabalho esta noite," disse meu pai. Ele fechou a porta no último dos
convidados e colocou o seu braço ao redor de Mara. "Você e as meninas, eu devo dizer".

"Sim, obrigada, Lucy," disse Mara. "Boa noite".

"Boa noite," eu disse.

Enquanto Mara subia a escada, meu pai bocejou. "Acho que vou subir também," ele disse. "E
você deve estar exausta".

Eu não precisava de um espelho para saber que meu cabelo estava grudado na minha testa e
minha camisa branca estava ensopada de suor. Os meus pés doíam. Olhei para cima e vi a saia
de Mara magicamente sem nenhum amassado, seu cabelo brilhando na luz.

"Sim," eu disse, perguntando-me onde minha fada-madrinha tinha passado a noite. "Estou um
pouco cansada".

"Bem, boa noite, querida".

"Boa noite, pai," eu disse. Ele virou para subir a escada, então voltou outra vez. "Esta noite
realmente parecia como se fossemos uma família," disse, sorrindo para mim. Isso queria dizer
que eu não estava mais de castigo?

"Uhm, pai"?

"Sim, Goose"?

Talvez essa não fosse a melhor hora para perguntar. "Te vejo de manhã"

Ela passou por mim e me deu um tapinha na cabeça antes de virar e seguir Mara escada acima.
Tirei meu avental e estava prestes a abrir a porta do porão quando me lembrei que ia dormir no
cômodo de convidados durante a semana.

Meu pai pensou seriamente que essa noite nós fomos uma família?

Se for assim, me coloque em um orfanato.


Capítulo 19

Segunda-feira no almoço, Jessica e Madison queriam que eu as encontra-se no refeitório para


nós podermos discutir o tema do baile (Agora e Para sempre) que tinha sido acabado de ser
anunciado, mas eu recusei. Se eu não começasse a fazer meu auto-retrato, eu iria ser reprovada
na única matéria que eu não odeio. Quando eu fui ao estúdio, a Sra. Daniels estava sentada na
mesa dela lendo Art Through the Ages, de Gardner, com um pilha de post-its. Ela me deu um
pequeno aceno.

"Se sentindo artística?" ela perguntou.

"Apavorada" eu a corrigi, indo até a mesa dela. "Isso nunca aconteceu comigo antes. Eu
simplesmente não consigo entender como começar."

"Bem, e se você começar pensando numa pintura que signifique muito pra você?"

"Você quer dizer, pegar de algum lugar?" Sra. Daniels riu.

"Eu quero dizer para você considerar usar isso como uma base de quem você é" Ela pegou o
pesado livro nas duas mãos e passou através da mesa para mim, grunhindo com o esforço.
"Aqui. Eu tenho que ir a uma reunião. Porque você não dá uma olhada?"

Dois terços do livro tinham passado, e eu ainda não conseguia enxergar qual era o objetivo do
exercício da Sra. Daniels.

Ela tinha realmente esperado que dez milhões de fotografias de Igrejas renascentistas fossem
me inspirar num retrato do século XXI?

"Ei."

Eu olhei pra cima para ver Sam descansando no final do sofá. Eu não tinha nem ouvido ele
entrar.
"Ei, você", eu disse.

"Obrigado de novo por vir sexta a noite" Ele tirou seus óculos e esfregou uma das lentes na
barra de sua camiseta. "Foi ótimo ter você lá." Ele recolocou seus óculos de novo e me deu um
sorriso realmente legal.

"Foi ótimo estar lá," eu disse. "Obrigada por me convidar." Com tudo o que tinha acontecido
desde que eu deixei Sam na cidade, eu tinha quase me esquecido como tinha sido legal estar na
galeria. Eu estava, na verdade, realmente feliz por ver ele.

"Você conseguiu chegar a tempo do 'grande jogo'?" ele perguntou, colocando aspas nas últimas
duas palavras.

"Ha, ha. Para falar a verdade, eu consegui."

"Que mulher renascentista você é," ele disse. "Arte. Esportes." Ele olhou para o livro no meu
colo. "E você está até olhando para pinturas da Renascença." ele balançou sua cabeça numa
zombaria pasma. "Incrível."
"Você é hilário"

"É um talento." Ele olhou em volta da sala. "Você viu a Sra. Daniels?"

"Ela foi a uma reunião"

Ele assobiou baixinho para ele mesmo. "Sem problema," ele disse, atirando sua mochila sobre o
ombro. "Te encontro depois."

"Até depois," eu disse.

A interrupção do Sam pareceu uma desculpa boa quanto qualquer outra para desistir do meu
exílio auto-imposto e ir achar Jessica e Madison na lanchonete. Mas daí eu pulei para o final do
livro, e de repente eu estava encarando uma reprodução de The Dancers. Foi um pouco
estranho eu me sentir possessiva por ver uma pintura em Art Through the Ages onde todo
mundo podia vê-la. Eu olhei para as estranhas, fluídas imagens de Matisse e toquei a página
brilhante com meu dedo. Talvez eu possa-

"O-lá!"

"Ok, nós não conseguíamos viver sem você." Eram Madison e Jessica.

"Ei, dá uma olhada nisso." Eu virei o livro para elas.

"Legal," disse Madison, mas ela nem tinha realmente olhado a pintura.

"Nós temos a maior fofoca para você," disse Jessica.

"Kathryn e o namorado dela terminaram," disse Madison.

"Sem chance," eu disse.

"Verdade!" disse Madison. "Ela queria ir ao baile com ele e ele disse que não queria ir a uma
festa com um bando de crianças do ensino-médio. Ele tem tipo 30 anos ou qualquer coisa
assim."

"Ele tem 20," Jessica a corrigiu.

"Tanto faz," disse Madison. "Isso não é loucura?"

"Totalmente," eu disse, fechando o livro. Eu iria lidar com meu auto-retrato mais tarde. Eu me
levantei e agarrei a jaqueta do Connor, deixando o Art through the Ages na mesa da Sra Daniels
assim que passei.

"Eu me pergunto se ela vai chamar um calouro, como a Jane Brown fez," disse Jessica,
segurando a porta para mim.

Sam aceitando um convite para ir ao baile pareceu tão extremo para ele. Eu imagino que ele
deve realmente gostar da Jane.
"Desde que ela não chame alguém do segundo," disse Madison. "Nós três somos as únicas do
segundo ano a ir."

"Falando nisso," disse Jessica, "você quer ir olhar vestidos depois da escola?"

Eu balancei minha cabeça. "Não posso," eu disse. "tenho um encontro com o Connor."

As três e dez, quando eu fui para a saída do estacionamento dos veteranos, Connor já estava lá.

E ele estava falando com Kathryn Ford.

Os ombros perfeitos e minúsculos de Kathryn estavam encostados contra um armário, enquanto


o resto do seu corpo formava um triângulo com a parede e o chão. Connor encontrava-se acima
dela, olhando para aqueles olhos azuis de barbie e acenando a cabeça enfaticamente. Ela o
alcançou e escovou algo para fora da cabeça dele.

"Ei, Lucy!" De algum modo sentindo minha presença, Kathryn girou sua cabeça em minha
direção mas deixou o resto do seu corpo virado de frente para Connor, como um louva-deus.

Ou uma cobra.

Eu andei até onde eles estavam parados.

"Como você está, Tomate?"

"Hum, ok." de pé tão perto de Kathryn, eu de repente me senti enorme, como um daqueles
gigantes que entra em cidades muito unidas e é derrotado. "Obrigada de novo pela carona
sexta-feira," eu disse para ela.

"Oh, claro," ela disse. "Hoje a noite, entretanto, vou ser eu desmaiada no banco do passageiro."
Ela conferiu Connor. "Você está dirigindo, certo?"

"Sem chance, Jose," ele disse. "A noite dos veteranos na cidade? Eu estou rastejando."

"Bom, eu tenho uma viagem," ela disse. "Vejo vocês crianças mais tarde." Ela se desencostou
da parede e penteou o seu cabelo para frente, acima do seu ombro direito. Ele certamente era
brilhante. Brilhante. Como se ela tivesse pisado fora de um anúncio de Pantene*. "Tchau,
irmão." Kathryn ficou de pé nas pontas dos pés e envolveu não só os braços dela, mas o corpo
todo em volta de Connor. Enquanto eles ainda estavam se abraçando, ela se virou para mim.
*Pantene é uma marca de shampoo.

"Ele não dá simplesmente os melhores abraços?"

Kathryn, talvez você queira pegar um pedaço dessa brilhante maçã vermelha que eu tenho na
minha mão. Eu fiz ela especialmente para você.

"Oh, sim," eu disse, acordando do meu devaneio. "Totalmente."

Finalmente eles se soltaram um do outro, e Kathryn começou a descer o corredor.

"Venha," Connor disse para mim, segurando a porta aberta. "Vamos pegar alguma coisa para
comer." Enquanto a gente atravessava o estacionamento dos veteranos, foi difícil apagar da
minha mente a memória da Kathryn pressionando seu corpo contra Connor. E se hoje a noite na
cidade ele de repente percebe-se que ele estava cansado de mim, que eu não era divertida o
bastante ou legal o bastante ou... Kathryn o bastante? Mas justamente quando eu estava
imaginando os dois dirigindo em direção ao pôr-do-sol juntos, o SUV gigante do Connor
protegendo o mini da Kathryn, Connor me levantou e me jogou em cima do seu ombro.

"Quem é a minha garota?" ele perguntou.

"Connor, me põe no chão!" eu gritei.

"Fale," ele disse. "Quem é a minha garota?" ele me deu uma palmada de brincadeira na bunda.

"Connor," eu repeti, rindo, "me coloca no chão."

"Não até você dizer."

"Eu sou!" eu gritei. "Eu sou. Agora me coloca no chão."

"É assim que eu gosto," ele disse, e quando ele me colocou no chão e envolveu seus braços ao
meu redor, o beijo perfeito que ele plantou com seus lábios perfeitos deletou com perfeição a
imagem que eu tinha formado do meu perfeito futuro não-princesa.

No jantar, minha madrasta não só se direcionou a mim, como, na verdade, fez meu dia.

"Lucy, seu pai e eu conversamos, e nós queremos agradecer você por ter sido uma grande ajuda
no sábado a noite nós apreciamos isso de verdade. Você pode se sentir livre para fazer qualquer
plano que você queira na sexta a noite."

Eu nem esperei meu pai telefonar, simplesmente desci as escadas correndo assim que o jantar
acabou e digitei o número do celular de Connor.

"Ei, e aí? É o Connor. Você sabe o que fazer agora."

"Ei, sou eu," eu disse. "Eu tenho boas notícias. Me liga mais tarde." Depois que eu deixei
minha mensagem, eu percebi que o Connor não sabia que eu estava de castigo - eu falei para
ele que eu precisava estar em casa logo após nossa tarde juntos, mas eu não contei a ele o
porque. Então talvez eu não estar mais de castigo não se qualificasse como boas notícias para
ele.

Mesmo assim, eram boas notícias para mim.

O dia seguinte a Noite dos Veteranos na Cidade era o Dia curto dos Veteranos. Eu não sei se
foi Connor estar ausente, mas tudo parecia um pouco irreal, como se eu estivesse andando em
uma aquarela em vez de um mundo tridimensional. Eu não conseguia me focar em nada. Em
matemática, Jessica tirou vantagem do Sr. Palmer dar bronca em John Marcus por atender seu
celular durante a aula para me perguntar se Connor tinha me dito os detalhes de como ontem a
noite ele, Matt, e Dave vomitaram na rua fora de algum clube. Eu balancei minha cabeça.

"As vezes esses garotos me tiram totalmente do sério," ela sussurrou. "Matt contou para a
Madison que eles tomaram shots* de tequila a noite toda." Ela fez uma careta. "Tanto faz. Ei,
você quer ir ver vestidos para o baile depois da escola?"
*Shot é tipo uma dose de tequila, vários shots quer dizer que eles tomaram várias doses de
tequila por assim dizer, eu não traduzi porque muita gente aqui no Brasil fala shot em vez de
dose.

"Senhorita Johnson, senhorita Norton, vocês estão bem preparadas para o quiz de amanhã?" o
Sr Palmer olhava fixamente para Jessica na frente da sala.

"Desculpa, Sr Palmer," disse Jessica.

"É, desculpe," eu disse. Quando ele se virou e continuou escrevendo na lousa, Jessica rolou
seus olhos para mim. Eu acenei, mas eu não conseguia me livrar da sensação de ansiedade na
boca do meu estômago. Dave tinha ligado para Jessica. Matt tinha ligado para Madison.
Porque o Connor não tinha ligado para mim?

Depois da aula, Madison se encontrou comigo e Jessica no corredor.

"Ok, nós vamos comprar nossos vestidos no shopping depois?" Jessica perguntou quando nós
caminhamos para o refeitório.

"Vamos esperar até as férias de primavera,' disse Madison. "Minha mãe está totalmente em
cima de mim por causa desse aviso de advertência que eu peguei em matemática." Ela tomou
um gole de água e empurrou a porta da lanchonete com seu quadril. "Matt disse que ele
vomitou seis vezes até agora," ela disse. "O quão totalmente nojento é isso?"

"Totalmente," Jessica concordou. "Dave disse que ele esteve vomitando a manhã toda."

Eu não disse nada, bastante auto-consciente sobre o fato de que eu não tinha a mínima idéia de
quantas vezes Connor tinha vomitado nas últimas 24 horas. Era o que elas queriam ouvir,
certo? Bom, Matt pode ter vomitado até seis vezes e Dave pode ter vomitado durante toda a
manhã, mas já que ele é o garoto mais popular da escola, Connor, naturalmente, vomitou até
mais do que os dois juntos. Eu sei porque eu sou a namorada dele e, como tal, sou responsável
pela difusão de informações sobre as funções gastrointestinais de Sua Majestade.

Elas sentaram numa mesa vazia. "Eu só preciso pegar um sanduíche," eu disse, não me
sentando.

Madison e Jessica me deram uma olhada. "O que?" eu perguntei.

"Você está bem?" perguntou Madison.

Eu dei de ombros. "Sim, claro."

Jessica pegou a minha mão. "Luuuucy," ela disse, soando exatamente como Ricky Ricardo*.
"Você tem algumas explicações para dar."
*Ricky Ricardo era um personagem de uma série de TV chamada I Love Lucy (Eu amo a
Lucy)

Eu arrastei uma cadeira, me sentei, e fechei meus olhos, muito envergonhada pelo que eu ia
dizer para olhar para elas. "Connor não me ligou o dia todo."

Jessica começou a rir, e Madison também. Mas quando eu não me juntei a elas, elas pararam.
Eu abri meus olhos. "Você não está preocupada de verdade por causa disso está?" perguntou
Jessica.
"Isso foi a, tipo, 24 horas," eu disse.

Jessica colocou seu braço ao me redor. "Querida, ele está tão na sua."

"Você acha?" eu perguntei, já me sentindo melhor.

"Totalmente," disse Madison. "Ele está, provavelmente, muito ocupado rezando para o Deus da
privada para se lembrar de ligar."

"Talvez você esteja certa," eu disse.

"Talvez não, eu estou," ela disse.

Quando eu cruzei a lanchonete para comprar meu sanduíche, eu me senti um milhão de vezes
mais feliz do que eu estava cinco minutos atrás, embora eu tenho que admitir que meu bom-
humor não tinha exatamente nascido de altruísmo. Quero dizer, Jessica tinha acabado de me
convencer que meu namorado estava fisicamente incapaz de levantar um telefone. Eu não
deveria ter sido sobrecarregada de simpatia e preocupação?

Mas em vez de estar triste por ele, eu me sentia feliz por mim. Porque todo mundo sabe que é
melhor ter um namorado que se sente doente demais para ligar do que ter um que não liga
nunca.
Capítulo 20

Depois da escola eu fui ao estúdio. A idéia que tive olhando o The Dancers ontem ficou
comigo, e quanto mais eu trabalhasse no meu esboço, mais forte meu sentimento cresceria de
que essa idéia poderia ir longe. Eu mal tirei meus olhos da página a tarde toda, e o único tempo
que tive, eu fiz contato visual com a Senhorita Daniels, que olhou para mim um exato segundo.

"Você parece ter uma boa intenção aí," ela disse, gesticulando para minha prancheta de esboço.
"Estou tomando isso como um bom sinal".

"Há esperança," eu disse.

"Quer me mostrar o que você conseguiu?"

Olhei para o que tinha estado desenhando. "Sim, claro," eu disse, não me sentindo muito
segura. Descruzei minhas pernas e fui até a mesa dela, onde ela me olhava expectativamente.

Pressionei meu caderno contra o peito."Tenho receio de que você odeie isso," eu disse.

"Você odeia isso?" ela perguntou.

"Não."

"Você gosta disso?"

Eu assenti.

"Bem, por que eu odiaria se você gosta?"

"Porque você odiou todos os outros."

Ela sorriu. "Primeiro de tudo, eu não os odiei. Eu disse que não achava que eles dariam um
auto-retrato muito interessante. E segundo, se você os defendesse cada um deles por um
segundo sequer, eu teria deixado que me convencesse."

Eu não podia acreditar no que ela estava me dizendo."Sério?"

"Sério. Você apenas nunca pareceu particularmente animada com nenhum dos desenhos que
me mostrou."

"Suponho que sim," eu disse, e mesmo assim soei hesitante, eu sabia que o que ela dizia era
verdade. Todas as outras idéias que eu tinha considerado nasceram do desespero, não da
inspiração.

"Agora," ela disse, levantando a mão. "Me deixe ver o que você tem para mim."

Silenciosamente, eu passei para ela meu esboço. Senhorita Daniels olhou-o de cima a baixo.
Então ela pegou a meu lápis.

Uh-Oh, lá vem.
"Vê como tem 3 figuras aqui e nenhuma aqui? Você poderia mover essa daqui só um
pouquinho, e vai ficar mais balanceado. Então você terá menos espaços vazios," ela apontou
para o lado esquerdo da página, que estava quase toda em branco, " e mais aqui."
Isso significa...

"Espera, você está dizendo que eu posso... que está, sabe, ok?

Ela olhou para mim. "Você acha que está ok?"

Olhei para as figuras que desenhei, uma linha de Lucys de mãos dadas, cada uma um
pouquinho diferente da outra e olhando levemente para uma direção diferente. O jeito que elas
estavam simultaneamente conectadas e ainda isoladas, cada uma olhando para algo diferente,
mas olhando do mesmo jeito, expressando algo sobre quem eu sou que eu não achava ser capaz
de colocar em palavras. Esperava que a senhorita Daniels não me pedisse para explicar.

"Eu gostei mesmo," ela disse. "E eu acho que é digno de você. Então por que você não começa
a pintar amanhã?"

"Sério?"

A senhorita Daniels sorriu."Sério."

Bem na hora Sam entrou e ficou do outro lado da mesa.

"Desculpe, estou interrompendo algo?" ele perguntou.

"Já acabamos," eu disse, sacudindo o caderno fechado. Mesmo que eu dissesse as palavras, eu
não acreditava nelas.

"Bem então, se está bem para você," ele disse para senhorita Daniels, "vou levar aquela pintura
para casa agora."

Senhorita Daniels fez uma cara triste. "Acho que não posso mantê-la aqui para sempre." Ela
olhou para a parede, e percebi que eles estavam falando da pintura da árvore que eu gostava
tanto. "Mas- e não estou só dizendo isso para segurá-la aqui por mais um dia- não acho que
você possa carregar sozinho, e eu tenho um compromisso em..." Ela olhou para o relógio. "...3
minutos. Então se você quiser esperar até as cinco e meia eu posso fazer isso. Ou podemos
esperar até amanhã."

"Posso ajudar?"

Os dois olharam para mim.

"Tem certeza de que não se importa?" perguntou Senhorita Daniels. "Não é pesado, só é
grande."

"De verdade, você não tem que," disse Sam. "Posso levar para casa uma outra hora."

"Não," eu disse. "Eu gostaria de ajudar." Era o mínimo que eu podia fazer considerando como
ele tinha me convidado para minha primeira e única visita a Galeria de Nova York. "Só me diz
o que fazer."

Eu não podia ver como a pintura enorme que carregávamos tinha uma chance de uma bola de
neve no inferno de caber dentro do porta-mala do carro do Sam- um lindo, amarelo fusca que
era da época de Jimi Hendrix e Janis Joplin- sem ser completamente destruído. Ainda bem que
eu não falei das minhas dúvidas, já que com alguns puxas e empurras, a lona deslizou
facilmente no espaço minúsculo; havia ainda lugar para nós sentarmos na frente com nossos
assentos mais ou menos ereto.

"Essa foi incrível," eu disse, balançando a cabeça com admiração enquanto nós saíamos do
estacionamento. "Não vou mentir- quando vi as proporções dos objetos em questão, tive
algumas preocupações."

"Oh, somente um pouco de fé," disse Sam. Ele parou e carro e se virou para mim. "Espera.
Onde estou levando você?"

"Casa, eu acho." Dei a ele meu endereço.

"Tenho certeza que serei capaz de reconhecer o lugar," ele disse, dirigindo. "É a única com uma
torre acessível por uma janela, certo?"

"Bem, sim e não. Tem um túnel secreto que corre embaixo do fosso do porão onde eu passo a
noite, mas é guardado por um mágico e agressivo dragão."

"Claro," disse Sam. "Eu ficaria desapontando com menos que isso." Sem tirar os olhos da
estrada, Sam pescou ao redor do bolso da porta do carro por um CD, achou e colocou para
tocar. Um nostálgico subterrâneo Blues encheu o carro quando Sam alcançou através de mim e
abriu o porta-luvas. Pensei que ele procurava por um CD diferente, mas tirou uma caixa de
Raisinets. "Chocolate"? perguntou, segurando a caixa entre os joelhos enquando abria com uma
única mão.

"Claro," eu disse, e ele sacudiu alguns na minha mão.

"Então, como vai? Vejo que sua madrasta ainda tem que contratar um lenhador para levar você
até uma floresta e mata-la".

"Bem, ela tentou," eu disse, jogando alguns Raisinets na minha boca. "Mas é realmente difícil
receber uma ajuda boa hoje em dia. Você se surpreenderia com quanto problema que ela está
tendo só para achar um lenhador local".

"Estas coisas levam tempo," reconheceu Sam. Guiamos juntos em silêncio até que finalmente
eu não podia ficar calada sobre o que estava em minha mente por mais um segundo.

"Adivinha o que," eu disse, quando paramos em um sinal vermelho. Eu quase dava risadinha
com animação.

"O que"? perguntou Sam. Ele olhou para mim expectativamente.

O olhar de Sam me fez sentir um pouco boba. Quero dizer, não era como se minha notícia era
tão emocionante. Mesmo assim, ainda me fazia emocionar. "Eu finalmente tive uma idéia para
meu auto-retrato.‖

"Ei, isso é grande," disse Sam, sorrindo. Um carro atrás de nós buzinou, e Sam colocou o carro
em engrenagem. "Posso perguntar o que é, ou você não está pronta para dizer ainda"?

Franzi o rosto e sacudiu a cabeça. "Não quero ser rude, mas. ..‖
"Espera, você está preocupada com que eu julgue sua etiqueta pobre"? Sam perguntou, rindo.
"Você uma vez não me nominou como a mais Rude-Pessoa-Prêmio Vivo"?

Virei em direção a ele. "Oh, sim, o que aconteceu com isso"? Perguntei.

Ele virou a esquerda na minha quadra. "Deram para algum rapaz em Manhattan que corta suas
unhas no metrô."

"Uma pena," eu disse. "Você está chateado?"

Sam encolheu. "Ganha-se aqui, perde-se ali". Apontei minha casa, e Sam estacionou na frente e
desligou o motor. "Se importa se eu perguntar qual foi a sua inspiração?"

"A Arte do Gardner Pelas Idades. Sou uma ladra desavergonhada," admiti.

"Bem, como Picasso disse, bons artistas emprestam. Grandes artistas roubam'. E como sabe, eu
mesmo roubei minha parte de idéias. O que não quer dizer que eu seja um grande artista,"
adicionou rapidamente.

"Eu não sei," eu disse. "Você é muito bom". Observei um rubor aproximar-se as suas
bochechas enquanto ele deva uma batida no volante numa tentativa de ignorar o que tinha
acabado de dizer. "Deus, você é tão fácil de embaraçar," eu disse. "Olhe para você, ficando
todo vermelho".

"Vamos" ele disse. Observei ele lutar contra um sorriso importunando o canto da sua boca.

"Isto é tão divertido," eu disse. "Isso podia ser um novo jogo. Faça Sam enrubecer".

"Ha Ha," ele disse.

"Que artista brilhante você é, Sam," eu disse altamente. "Que talento natural. Que técnica".

Sam sorria, mas também estava todo vermelho. "Você vai parar?"

"E sua pincelada". Beijei as pontas dos meus dedos. "É nada menos do que um gênio".

Ele ligou o motor. "Bem, tchau, Lucy. Agradeço por toda sua ajuda".

"Sem mencionar seu uso extraordinário de cor".

"De verdade, obrigada por tudo". Ele aumentou o volume no pronto do Dylan.

"Sério, Sam, você devia se alugar para festas. Você é mais valioso do que o Old Faithful*".
*Old Faithful é um géiser localizado no Parque Nacional de Yellowstone, em Wyoming, nos
Estados Unidos. No Brasil é chamado de Velho Fiel.

Sam colocou as mão em forma de concha ao redor da orelha. "O que é que Lucy"? ele gritou.
"Você disse que tem que ir"?

"De verdade, eu tenho que ir," gritei de volta. Provocar Sam era muito legal, mas tinha dito a
Madison que eu investigaria um vestido que ela tinha enviado por e-mail. Era mais tarde do que
tinha esperado chegar em casa. "Agradeço pela carona," eu disse, enquanto abria a porta.
Sam estendeu as mãos e então apontou para o rádio e para sua orelha, sacudindo a sua cabeça.
"Lamento, Lucy, não posso ouvir uma palavra que você diz," gritou. "Obrigada de novo".

Rindo, eu bati a porta e observei Sam do meio-fio quando meu telefone celular tocou. Peguei
ele. "Estou entrando em casa enquanto falamos," eu disse. "Vou olhar e te ligo de volta".

"Cinco minutos," ela disse.

"Cinco minutos," prometi. Tinha planejado agarrar um lanche, mas agora percebi que era
melhor checar a internet primeiro. Quando você diz que ligará para alguém em cinco minutos,
você não pode ligar em vinte.

Ser da realeza não é nenhuma desculpa para ser rude.


Capítulo 21

Quando Connor finalmente resolveu ligar, era fácil dizer que minhas fantasias paranóicas dele
andando por aí ao acaso com Kathryn Ford era um pouco extraviado.

"Oi Tomate," ele disse. Ele soava realmente mau. "Desculpe por não ter ligado. Estou meio que
doente."

"Sim, você não soa legal."

"Não me sinto bem. Eu e Matt e Dave começamos a tomar doses de tequila." Teve uma pausa,
e ouvi Connor engolir saliva. "Não posso nem mesmo falar sobre isso." A voz dele estava fraca,
como se tivesse que fazer esforço para falar.

Me sinto terrível por ele "Você está ok?" Eu nunca fiquei de ressaca, mas uma vez eu passei 24
horas vomitando por causa de um molusco.

"Eu viverei. Mas qual é a sua boa notícia?"

Por um segundo eu não pude lembrar, então me veio a memória. "Oh, eu estava potencialmente
de castigo para sempre, mas não estou agora."

"Isso é demais, Tomate."

Houve uma batida na minha porta. "Lucy," chamou Princesa Dois, "jantar."

"Connor, posso te ligar de volta? Minha madastra fica louca se eu não estiver lá em cima para o
jantar às 7 em ponto."

Connor gemeu. "Não fale em jantar, por favor."

Como a pintura de uma obra prima, a procura pelo perfeito vestido de baile não é uma questão
para ser empreendida ligeiramente. Deve-se ter o único propósito do negócio, a coragem, a
devoção cega à tarefa à mão de um crente verdadeiro. Deve-se ter força. Deve-se ter visão.

Deve-se ter um cartão de crédito do pai.

Para se obter o chamado cartão de crédito do pai, eu gastei o primeiro sábado da pausa da
primavera sendo mandada por Mara. que queria ver como a sala de estar pareceria se o sofá
estivesse onde o love seat* estava e o love seat estava no esconderijo. Enquanto eu mudava
estatuetas de vidro, mesas, e um relógio hediondo de avô** pela casa, eu sabia que Jessica e
Madisson estavam na Miracle Mile, embrulhadas em seda e cetim, sendo medidas dos pés a
cabeça por vendedoras obsequiosas a cada capricho delas. Mas uma menina tem de fazer o que
uma menina tem de fazer, e segunda-feira, quando entrei no Roses Are Red com o Visa do meu
pai no bolso traseiro do jeans, eu sabia que sangue, suor, e lágrimas tinham valido a pena.
* Sofas como esse
http://www.thefurniture.com/store/images/AE/livingroom/passion/7580red_love.jpg
** Desse tipo aqui
http://www.antiquereproductions.org.uk/ebay/ar/grandfather_clock_mg9814/grandfather_clock
_mg9814_full_size.JPG

"Esse aqui é legal," disse Madison, tirando um vestido pink pálido de onde estava pendurado
entre dois outros pinks. Estavamos esperando pela vendedora voltar com o vestido que
Madison tinha reservado no sábado. "Eu experimentei esse mas me fez parecer muito lavada "

Olhei para o vestido. "Não sei, Madison," eu disse. "Pink?"

Ela colocou o vestido de volta e veio até mim. "Você sabe o que tem que fazer?" Ela me
encarou intensivamente nos olhos. "Você tem que se imaginar na noite do baile, ok?"

Do outro lado da loja, Jessica virou os olhos para mim e girou os dedos próximos à têmpora.

"Você está brincando?" perguntou Madison, se virando para a mulher. "Eu estive aqui no
sábado."

A vendedora sorriu vagamente. "Tem certeza de que você está na loja certa? Porque tem
tantas..."

"Oh, meu Deus," disse Madison, "posso pelo menos entrar lá olhar?" Antes que a mulher
tivesse a chance de responder, Madison passou por ela, pelas cortinas e entrou nas
dependências da loja. Eu dei para a vendedora uma pequena encolhida, e ela sorriu para mim,
agitando suas mãos no ar nervosamente.

"Está bem aqui," disse Madison, emergindo de volta com uma sacola de peça de roupa. "Está
aqui."

"Oh, sim!" disse a vendedora. Ela bateu palmas. "Agora eu me lembro. Você vai levar esse."

"Ela está decidindo se compra esse," corrigiu Jessica.

"Claro," disse a mulher, se movendo até Madison e pegando o vestido dela. "Apenas me siga."
Ela desapereceu atrás das cortinas.

Madison voltou de onde eu estava parada. "Pense no que eu te disse. Você tem que imaginar."

"Ok," eu disse. "Eu vou."

Ela deu um pequeno pulo de animação. "Espere até você ver meu vestido!" ela guinchou, se
virando para a os provadores. "É ma-ravilhoso." No metade do caminho, ela parou e se virou
para nós. " Mas você tem que jurar que dirá se odiou ou não, ok? Seja brutalmente honesta."

Eu coloquei minha mão sobre o coração. "Honra de escoteira," eu disse.

Enquanto Madison estava lá atrás, Jessica e eu nos mergulhamos nas prateleiras dos vestidos. A
maioria era realmente pegajosa—tulle, lantejoulas, tulle e lantejoulas, mais tulle. A seleção de
lojas e a reverência de Madison por pink estava começando a dar um pouco nos nervos sobre o
vestido que ela tinha escolhido. E se ela emergisse do provador parecendo uma anfitriã? Bem
quando eu estava prestes a perguntar a Jessica o que Madison definia como "brutalmente
honesta", Madison saiu de dentre as cortinas.

Ela parecia uma estrela de cinema.


"Oh, meu Deus, Madison! Está... você está...wow." O vestido era seda de clarete, sem alças,
com um adorável top e um corpete apertado que acabavam numa saia longa. Não havia tanto
como uma manchinha de tulle. A vendedora se apressou e peritamente prendeu cabelo de
Madison.

"Madison, você está incrível," disse Jessica. "É definitivamente o meu favorito".

Madison girou em volta "Não pareço magra?"

"Magérrima," eu disse.

"Basicamente, é como a pessoa mais magra do planeta," adicionou Jessica.

"Então devo comprá-lo"? ela perguntou.

"Está brincando?" eu disse. "Compre ele imediatamente".

Ela fez um chiado pequeno de animação. "Tá bom, vou comprá-lo," ela disse, se olhando de
novo no espelho e sorrindo com o que via. Então ela virou e me encarou. "Jessica tem dois
vestidos reservados na Kewpid," ela disse. "Então você é a próxima".

Madison me fez sentar num assento minúsculo love seat na área dos provadores, fechar meus
olhos, e imaginar o baile. Ela me fez caminhar por toda a noite, começando com coquetéis em
sua casa, acabando com minha dança lenta romântica com Connor quando éramos coroados rei
e rainha do baile.

"Agora," ela disse finalmente, "rápido: o que você está vestindo?"

Abri meus olhos e olhei para ela. "Sinto muito, Madison," eu disse.

"Nada?" Eu podia dizer que ela realmente estava decepcionada, então fechei os olhos durante
outro minuto. Então os abri outra vez e sacudi a cabeça.

"Sinto muito."

Ela sentou-se ao meu lado, soltando um suspiro. "Wow eu realmente pensei que isso
funcionaria."

Dei um tapinha no seu joelho. "Não é sua culpa. Eu só não sou uma pessoa muito espiritual."
Quis soar tranqüilizadora, mas repentinamente estava lutando contra o pânico. E se minha
incapacidade de imaginar uma noite de baile fosse um sinal? E se eu gastasse cada minuto livre
entre agora e o baile procurando um vestido, mas nunca achar o correto? Como você pode ser a
rainha do baile de jeans e camiseta?

Somente então, Jessica colocou sua cabeça pelas cortinas. "Você garotas ainda não estão
tentando essa droga de visualização estão?"

"Não é droga," disse Madison. "O Dalai Lama diz—"

"Quando Sua Santidade conseguir uma coluna na Vogue, Lucy tomará seu conselho de moda,"
disse Jessica, pisando pelas cortinas. Nos seus braços estava um longo, vestido azul escuro.
"Até lá ela precisa de auxílio mundial." Parada em frente a mim, ela arremessou a parte inferior
do vestido sobre meu colo, dando um passo para trás a coisa toda ficou entre nós.

"Eu não sei, Jessica," eu disse. A seleção de Jessica não estava aliviando muito meu sentimento
crescente de pânico. Mesmo porque eu sei que um vestido parece diferente numa pessoa do que
num cabide, eu estava bem certa de que eu não precisava ver este vestido em particular em
minha pessoa em particular para saber que não era o vestido para mim. O espartilho, que
parecia ter sido feito de uma seda pesada, estava provavelmente ok, mas a saia parecia que
tinha o potencial de estar extremamente pegajoso. "Chiffon?"

"É o novo veludo," disse Jessica. "Confie em mim".

Eu não queria ser rude, mas chiffon me lembra um lote inteiro de tulle. Havia lantejoulas nele?
Tomei o cabide de Jessica enquanto trabalhava no fraseado de uma recusa gentil. Lembrando
de como impetuosamente Jessica e Madison tinham lutado para eu comprar o vestido vermelho,
compreendi que eu teria que ter mais em meu arsenal do que, não é bem meu estilo. Que tal,
odeio esse porque me pareço uma prostituta pegajosa?

Mas quando coloquei o vestido sobre a minha cabeça e senti o declive rico de tecido lisamente
abaixo do meu corpo, eu me perguntei quão pegajoso um vestido de um sentimento tão
delicioso podia ser. E quando me olhei no espelho, eu não precisei me perguntar. A resposta
estava clara—não tão pegajoso.

O espartilho era de seda apertada, apertado na frente, decotado nas costas, e sem alças como o
de Madison. Tinha esperado que a saia fosse poufy, perfeito para um extra em "E o vento
levou", mas ele caía quase diretamente no meio do meu calcanhar. Não era transparente, mas
você podia ver a forma das minhas pernas pelo tecido delicado embaçado. A minha pele
parecia brilhar contra a seda azul escura. Eu não podia acreditar. Eu parecia ... bonita.

Quando eu pisei para fora do provador e vi a expressão de Jessica e Madison, eu soube que
estava certa sobre como eu parecia. Rodopiei, bem como Madison fez.

"Lucy, você parece surpreendente," disse Madison. "Eu não posso acreditar que você achou o
vestido perfeito na primeira tentativa"!

"Que achou o vestido perfeito"? corrigiu Jessica.

"Senhoras, eu vou ao baile," eu disse.

Comecei a rir, e também Jessica e Madison. "Você quer dizer à formatura," disse Madison com
sua gargalhada.

Sacudi a cabeça, ainda rindo, e não me importei de corrigi-la.


Capítulo 22

Não foi até o fim da semana que Jessica encontrou o vestido que queria, então nós passamos
cada segundo dos intervalos da primavera fazendo compras. Eu meio que planejei usar as férias
para fazer alguns esboços para a paisagem que eu supostamente estava pronta para começar
(agora que as aulas, com a única exceção de mim, tinham terminado os auto-retratos, nós
passamos para paisagens). Mas como você pode dizer a sua amiga que ela estava por conta
própria depois dela ter te ajudado a encontrar o vestido mais perfeito do mundo para o baile?

Você não pode.

E é por isso que, assim que voltássemos para a escola, eu não apenas gastaria cada um dos
meus períodos livres no estúdio freneticamente esboçando minha paisagem e trabalhando no
meu auto-retrato.

"Feito," eu disse.

Sam, a única pessoa na sala, estava esboçando no sofá.

"Você disse algo?" ele perguntou.

Eu não me virei, tão maravilhada pelo que tinha acabado de acontecer para me mexer. "Eu
terminei," repeti, minha voz falhou. Pelos 2 últimos meses, tinha sonhado com esse momento,
fantasiando como seria colocar todo o horrível, impossível e frustrante projeto a minha frente.
Pensei que assim que terminasse a pincelada final eu dançaria pelos corredores do Glen Lake,
virando meu chapéu para os que estivessem passando. Terminei! Terminei! Mas agora que
tinha mesmo terminado, não me sentia celebrando nem um pouco. Apenas sentia... nada.

Pude ouvir Sam aplaudindo. "Posso ver?"

"Um... sim, claro." A ironia dele perguntando se poderia ver era a mesma que eu ficava menos
que um pé longe de meu cavalete, eu não poderia ver o que pintei. Formas e cores rodavam na
lona a minha frente, se recusando a formar uma imagem coerente. Isso era meu auto-retrato,
essa série de borrões sem sentido?

Sam veio para o meu lado e estudou a pintura. Ele olhou para ela por um longo tempo, sem
dizer nada, e me perguntei que mentiras ele usaria para me assegurar que minha bagunça
abstrata não era uma bagunça abstrata. "Lucy," ele finalmente disse, "está incrível."

Eu quis perguntar o que ele queria dizer, como ele poderia dizer aquilo, o que ele pensava que
estava olhando, mas tive medo dele pensar que eu estava pescando elogios. O que você quer
dizer, o que eu quero dizer? Eu apenas disse que está incrível. E então, como se ele pudesse ler
minha mente, Sam começou a falar. "É demais como todas as figuras de Lucy estão de mãos
dadas mesmo que estejam olhando em direções diferentes." Olhei de uma Lucy para a outra
enquanto ele falava, seguindo sua voz, assistindo seu dedo voar pela tela.
"E aquela ali"- ele apontou para a menor de todas- "o jeito que ela mal dá as mãos para a
próxima." Ele assentiu. "Você pode senti-la tentando escapar. É brilhante."

"Na verdade, aquela ali foi um erro." Eu tentei rir. "Vê, eu começei no lugar errado, então não
pude atar a mão direito."
Sem tirar os olhos da tela, Sam encolheu. "Então?" Ele bateu o ombro no meu. "Isso faz a
pintura, Lucy. Acredite."

Ele ficou lá, inclinado contra mim um outro minuto antes de voltar para o sofá. Mesmo depois
dele ter caminhado de volta me deixado com minha tela, eu ainda podia sentir o cotton macio
da sua camiseta contra minha pele descoberta.

E então, tudo de uma vez, como se Sam não tivesse falando em palavras mas em pinceladas, eu
vi minha pintura, a vi do mesmo jeito que ele tinha visto. E com a mudança de labirinto de
formas e cores se solidificaram em formas, eu percebi que a última Lucy não parecia como se
fosse um erro. Ela deixava a pintura melhor. Por causa dela, por parecer como se estivesse
correndo para escapar, a inteira linha de Lucys pareciam estar se movendo. Sam estava certo.
Era realmente um erro brilhante.

Eu estava tão focada na pintura que quase me esqueci que Sam ainda estava na sala comigo,
quando de repente ele disse, "Sabe, tenho pensado em-'

Então a porta se abriu. Era Madison e Jessica, e quando elas me viram, bateram as palmas das
mãos.

"Te disse que ela estaria aqui," disse Jessica.

"Ei, pessoal," eu disse. Estava contente que elas tenham aparecido. Graças a Sam, eu não
poderia esperar para mostrar minha pintura. Era exatamente como eu pensei que eu me sentiria
quando terminasse.

"Ei, Sam," disse Jessica.

"Ei, Jessica," disse Sam. Ele e Madison assentiram um ao outro.

"Ok," Madison disse para mim da entrada. "você pode faltar matemática, mas não pode perder
o almoço."

"Sim," disse Jessica, quando seu telefone começou a tocar, "não é permitido artistas famintos
no baile." Ela procurou o celular dentro da bolsa.

"Alo? Espere." Ela se virou para Madison. "Minha mãe quer saber se sua mãe quer que ela faça
alguma coisa para o coquetel na sua casa. Ela deveria ligar para sua mãe?"

"Pensei que elas já tivessem se falado," disse Madison.

Me virei para Sam no sofá. "O que você ia dizer?"

"Eu queria dizer que..." ele parou e mexeu a cabeça. "Quis dizer que deveria ter ido há meia
hora." Ele levantou-se. "Mas eu realmente gosto do seu auto retrato." Agarrou sua mala que
estava no chão.

"Não, Mãe. eu falei 50," disse Jessica. "Não quinze."

"Obrigada," eu disse às costas de Sam. "Sua crítica quase fez eu me sentir uma artista."
Enquanto abria a porta do estúdio, Sam se virou. "Você é uma artista," ele disse. Então
desapareceu no corredor.

Jessica desligou o telefone. "Ok, minha mãe é oficialmente retardada." Ela se virou para
Madison. "Espero que sua mãe esteja preparada para aprontar esse coquetel com uma pessoa
retardada."

"Por favor," disse Madison, "minha mãe é tão retardada que faz a sua mãe parecer como
Einstein."

Jessica foi até onde a minha bolsa e a jaqueta de Connor estavam no chão e pegou-as. "Almoço,
madame?"

"Claro," eu disse, relutantemente me afastando da pintura. "Eu poderia comer."

"Bom," disse Jessica. "Porque nós temos uma atualização oficial do baile para você."

"O que?"

"Que rainha que voltou ao lar se reuniu com seu namorado de milhão anos de idade e portanto
ensaca o baile de Glen Lake?" ( Não consegui traduzir essa parte direito)

"Não brinca!" eu disse.

Madison assentiu. "Totalmente," ela disse.

Enquanto Jessica veio até onde eu estava parada ela olhou para meu cavalete. "Wow, gosto da
sua pintura." Ela apontou para a maior de todas Lucys. "É você?" Quando eu assenti, ela sorriu.
"Ela totalmente parece com você."

Madison veio para ver o que olhávamos. "OhmeuDeus! Você pintou isso?" perguntou Madison,
olhando de mim para a pintura. "É incrível."

"Sim," eu disse. "É o auto retrato que eu falei para vocês,"

"Oh!" Madison exclamou. "É você!" ela apontou para uma das mais sorridentes Lucys.

"Espera," disse Jessica. "Eu pensei que essa era você."

Madison olhou para onde Jessica Apontou. "Ei," ela disse. " Essa é você."

Jessica se virou para mim. "Como tem tantas de você?"

"É meio que-"

"São como clones?" perguntou Madison.

"Bem, não exatamente. É mais-" Por que tinha parecido tão mais fácil quando eu estava falando
com Sam?

"É realmente legal," disse Jessica. "Você é um talento mondo. Agora-" Ela me pegou pelo
braço e me tirou de perto do cavalete. "Nós devemos discutir sobre o namorado de Kathryn e as
opções de roupas do pós baile nos Hamptons."

"E o que nós precisamos comprar," Madison explicou, nos seguindo.

"Então, vamos nessa, Rainha do Baile," disse Jessica, enquanto ela abria a porta do estúdio.
"Sua corte real espera por você."

Enquanto caminhávamos pelo corredor, eu cruzei meus braços com os delas. Talvez Jessica e
Madison não pegaram todas as nuances da minha pintura como Sam. Mas eu ainda estava
satisfeita de que elas fossem minhas amigas.
Capítulo 23

Algumas horas depois, enquanto eu estava na frente do congelador aberto questionando os


benefícios nutricionais dos Nuggets de frango versus um sorvete para comer depois do lanche
da escola, meu celular tocou. Era meu pai.

―Ei,‖ Eu disse olhando para o relógio na parede. ―É sexta-feira. Você já não deveria estar em
um avião?‖

―Oi, Goose. Eu ainda estou em São Franciso.‖ Ele disse. ―Não podemos sair com essa neblina.‖

―Grande surpresa,‖ eu disse, abrindo o sorvete. Havia quase meia colherada no pote. Eu o
coloquei de volta.

―Mara está aí?‖ Ele perguntou.

―Não.‖ Eu peguei os Nuggets de frango do congelador.

―Bem, estou com problemas, não consigo ligar pra ela. Você pode avisá-la que eu estou parado
aqui e que espero pegar um vôo pelo menos pra perto de Chicago essa noite?‖

Eu despejei uns Nuggets no prato e os coloquei no microondas. ―Certo, chefe.‖

―E sobre você Goose, grandes planos com o seu grande homem?‖

―Grandes planos, grande homem,‖ eu disse. Na verdade, nós só iríamos a pizzaria e ao cinema.
Mas era o suficiente.

―Parece divertido,‖ disse meu pai. ―Ei, você pode pegar meu e-mail sobre o Andy
Goldsworthy?‖ Andy Goldsworthy era uma artista que eu e meu pai adorávamos e que faria
uma estréia pra apresentar suas esculturas no telhado do Metropolitan essa semana.

―Hum...‖ Eu estava quase dizendo Pai e Mara ignoram Lucy no museu? Felizmente o telefone
da cozinha começou a tocar antes que eu pudesse respondê-lo. Eu olhei pra ver quem estava
ligando.

―É a Mara,‖ eu disse.

―Ótimo,‖ ele disse. ―Diga a ela meu plano, está bem? E que eu estou tentando ligar no celular
dela.‖

―Eu digo.‖ Eu disse.‖Te amo.‖

―Também te amo querida. E diga a Mara que eu a amo.‖

Essa parte da mensagem eu não entregaria. Eu coloquei a caixa com o resto dos Nuggets de
volta no congelador e atendi o telefone.

―Oi Lucy, aqui é a Mara. Seu pai já está em casa?‖ Eu percebi que ela estava ligando do seu
carro. ―A bateria do meu celular acabou. Eu acho que ele está tentando falar comigo.‖
O microondas apitou. ―Ele está na Califórnia.‖

―O que?‖ Ela soltou um gemido estridente, você pensaria que eu apenas diria, ele está com o
advogado do divórcio.

―Ele ainda está na Califórnia.‖ Eu peguei o prato com os Nuggets. ―A neblina está muito densa.
Ele disse que tentou te ligar.‖

―Oh, Jesus. Nós iríamos mostrar a cidade pra algumas pessoas essa noite. Eu já estou em
Manhattan.

Eu não estava exatamente certa de que Mara esperasse que eu fizesse algo. Talvez ela pensou
que eu, como o Super Homem, pudesse parar o mundo de girar e voltasse o tempo, fazendo
com que meu pai pegasse um avião pra fora de São Francisco. Infelizmente, os poderes de
Cinderela são limitados em servir refeições e domar príncipes.

Através do telefone, eu ouvi uma buzina. ―Okay, Okay,‖ ela murmurou. Eu ouvi mais buzinas.
Mesmo quando não estava distraída e falando no celular, Mara não era exatamente a motorista
mais atenta.

―Escute,‖ ela disse. ―Vou tentar falar com as meninas. Se você ver elas, você vai deixá-las a par
da situação? Lhes diga que seu pai não pode levá-las pra casa e que elas podem pegar um táxi
ou ligar para o pai irem buscá-las?‖ Ela continuou a pensar em voz alta por alguns minutos,
passando pelas lógicas em sua mente. Eu só sentei e fiquei ali comendo meus Nuggets, sem
dizer nada, como se ela fosse um personagem em um programa de Tv mostrando como eu era
preguiçosa pra me levantar e desligar.

―Bom, então está certo, se divirta hoje a noite.‖ Disse ela, finalmente se lembrando de que
falava com alguém no telefone.

―Obrigada.‖ Eu disse.

―O que foi isso?‖ Ela gritou de repente, imóvel. ―Estou perdendo você, Lucy.‖

―Eu disse obrigada,‖ eu repeti, mais alto dessa vez.

―Eu não consigo te ouvir,‖ disse ela. ―Lucy? Lucy?‖ Então o silencio.

Assim que eu desliguei o telefone a porta abriu e fechou. Eu ouvi um telefone tocar, mas não
foi o meu. Eu voltei a comer meus Nuggets.

―Alo? Alo?‖ A Princesa número um apareceu na porta da cozinha. O celular pressionado contra
a orelha. Ela jogou a mochila em direção a cadeira. ―Mãe, é você?‖ Ela escutou por um
segundo antes de balançar a cabeça e desligar.

―Eu acho que era mamãe,‖ disse ela por cima do ombro. ― Mas não tenho idéia do que ela
disse.‖ A Princesa número dois se materializou ao lado de sua irmã.

―Eu acho que ela estava te dizendo que meu pai está preso em São Francisco, ela está na cidade
e saiu pra jantar, você pode chamar um táxi ou perguntar para o seu pai se ele pode vir te
buscar. ―
―O QUE?‖ Gritou a Princesa número um. Ela me encarou de boca aberta, então agarrou sua
irmã pelo braço.

―O que?‖ Eu repeti. Ela estava tão apavorada por causa da mudança de planos?

―O que?‖ Perguntou a Princesa número dois.

A Princesa número um ainda estava agarrando sua irmã. ―Você ouviu aquilo?‖

―Ouvi o que?‖

A Princesa número um virou para sua irmã e falou bem devagar. ―Mamãe disse que Doug não
pode nos levar até papai e que temos que pegar um táxi.‖

―Então?‖ Perguntou a Princesa número dois.

―Então nós temos que ir para o ...‖ A Princesa número um deixou sua irmã ansiosa e então
continuou olhando pra ela sem expressão. Então ela se inclinou e cochichou no ouvido de sua
irmã.

―AI MEU DEUS!‖ Disse a Princesa número dois, exatamente enquanto seu celular tocava. Ela
o levou até o ouvido. ―Alo?...Ah, Oi, Mãe... Sim, nós recebemos a sua mensagem... Claro, nós
vamos chamar um taxi.‖ Ela pulou, gritando silenciosamente. ―Não, você não tem que ligar pra
ele. Sério, mãe, não se preocupe com isso.‖ Ela estava tentando não rir de alguma coisa que sua
mãe tinha dito. ―Tá... Tá... Também te amo mãe.‖ Ela desligou e olhou pra sua irmã. ―Ai. Meu.
Deus. Vamos.‖

Mesmo com a inocência de uma criança, você poderia dizer que as Princesas não eram boas. Eu
não estava certa do que deveria fazer. Eu não queria parecer autoritária. Contudo, se elas
fizessem alguma coisa realmente estúpida, talvez eu usaria pouco de intervenção adulta. Ou no
mínimo um pouco de intervenção pré-adulta.

―Qual é?‖ Eu perguntei,tentando manter minha voz alegre, como seu eu só quisesse conversar.
―Grande encontro hoje a noite?‖

―O que você quer saber, Lucy?‖ Perguntou a Princesa número um, virando-se e saindo
bruscamente da cozinha. Sua irmã a seguiu indignada,com uma aspereza equivalente. ―Tenha
uma vida, Lucy,‖ disse a Princesa número um por cima de seu ombro.

Desde que eu resolvi atender a segunda extravagância do QM Jason Goldberg, as princesas


ficam reclamando que não sobraram temas bons para a festa de Bar-Mitzvah, mas suas
tentativas de separação me deram uma idéia.

Algo ruim vem por aí...

Eu tinha que me lembrar de sugerir isso.

Quando o Connor me buscou para irmos a pizzaria, ele estava realmente de mau humor.
Aparentemente, seu carro estava na loja novamente e seus pais o responsabilizou por não ter
tido mais cuidado com ele.
―Como se eu quisesse dirigir este pedaço de lixo.‖ Disse ele, batendo no painel do Lexus.

No caminho até a pizzaria eu não falei nada além de ―Huumm‖, ―Sim‖ e ―Sério?‖. Quando nós
paramos no estacionamento em frente a pizzaria, Connor finalmente disse, ―Mas chega de falar
dos meus problemas. Como você está, Red?

Eu só abri minha boca pra dizer alguma coisa e ele deu um grito. ―Ah sim, um ponto!‖ E um
segundo depois, ele estava explicando porque o Lexus era mais fácil de estacionar do que SUV.
Até a hora em que nós saímos do carro e atravessamos a rua, ele tinha voltado a falar dos pais.

―Ai meu Deus,‖ disse Madison, acenando da mesa onde ela, Matt, Jéssica e Dave já estavam
sentados. ―Você tem que ouvir sobre as bolsas que a minha mãe viu na SoHo. Elas são muito
fofas e acho que podemos comprar para o baile da escola.‖

―Ótimo,‖ eu disse. De repente eu tive uma ideia. ―Espera, sabe o que devemos fazer?‖

―O que?‖ Perguntou a Madison, inclinando-se para mim.

Connor, Matt e Dave estavam totalmente absortos em sua conversa, mas puxei o ombro do
Connor pra chamar sua atenção. ―Todos nós podemos ir no centro da cidade amanhã? Nós
podemos comprar as bolsas e então ir na estréia do Andy Goldsworthy no Metropolitan. Vai ser
no telhado.‖ Eu não podia acreditar o quão brilhante minha idéia era. Quão perfeito poderia ser
ver a exibição do Andy Goldsworthy com que não gastariam tempo me ignorando?

Um silêncio pairou na mesa. Durante um minuto completo, ninguém falou uma palavra.

―Museus não combinam muito comigo, Red.‖ Disse o Connor finalmente, ―Mas eu aposto que
você pode responder essa. Dave disse que James LeBron jogava em uma escola em Cleveland.
Certo ou errado?

Estava presente a maneira não sutil do Connor de me dizer pra descartar o assunto do Museu.
―Akron,‖ eu disse. ―Os Cavaliers encontraram ele no Akron.‖

―Exatamente!‖ Disse o Matt. Ele se virou e apontou para Dave. ―Que é um perdedor!‖

Connor riu. ―Verdade.‖ Ele disse, descansando seu braço nos meus ombros. ―Minha garota é
demais, ou é demais minha garota?‖ Ele se inclinou e me beijou. Todos estavam olhando, então
eu correspondi o beijo, mas alguma coisa estava definitivamente errada.

Instantaneamente eu me senti como se eu fosse a garota mais sortuda do mundo, como se eu


fosse um cão treinado ganhando o primeiro lugar em uma competição.
Capítulo 24

Quando eu andei do carro do Connor até a porta da frente de casa, estava feliz por dizer que
achava que estava ficando doente, então ele não me deu um beijo de boa noite. E se o seu beijo
de boa noite me fizesse sentir do mesmo jeito do beijo de mais cedo, só que dessa vez
estávamos sozinhos e eu não podia repreendê-lo por termos uma platéia? Meu estomago doía e
tudo o que eu queria era deitar na minha cama e ficar nela. Talvez eu estivesse mesmo ficando
doente. Eu coloquei minha mão na testa. Eu parecia estar quente? Provavelmente tudo que eu
precisava era de uma xícara de chá quente e fui até a cozinha fazer um pouco. A luz da
secretária eletrônica piscava avisando que tinha recado.

―Oi pessoal.‖ Era o meu pai. ―A boa notícia é que eu estou prestes a pegar um vôo pra Chicago.
A má notícia é que talvez eu tenha que passar a noite aqui. Estarei em casa amanhã entre o fim
da manhã e o começo da tarde.‖ A segunda mensagem era do pai das Princesas. ―Oi meninas, é
o papai. Eu recebi sua mensagem. Eu não sei por que não consigo ligar para os seus celulares.
De qualquer jeito, amanhã está ótimo. Mas a mãe de vocês terá que trazê-las porque eu tenho
um jogo de Squash. Certo, durmam bem.‖

Bem, bem, bem. Então as princesinhas não eram boas. Eu peguei um pouco de hortelã do
armário, perguntando-me onde elas teriam ido. Talvez um encontro? Talvez uma festa pra um
menino ou menina? Eu tentei imaginar um monte de alunos do sétimo ano no cinema ou
jogando gire a garrafa. Isso era um pouco perspicaz, na verdade.

Meu celular começou a tocar e o procurei dentro da minha bolsa. Mas não estava lá. Fiquei
frenética. Onde estava meu celular? O toque parou. Eu procurei dentro dos bolsos da jaqueta do
Connor. Eu não o tinha pegado quando saí de casa?

Somente quando eu ia ligar pra ele, começou a tocar de novo. Eu escutei por um segundo e abri
o congelador. Ali, próximo dos nuggets, estava meu celular. Eu o peguei, notando que
deveriam adicionar um picolé aos celulares, eu tinha quatro chamadas perdidas.

―Alo?‖

―Lucy?‖ Parecia que mais de uma pessoa estava falando meu nome.

―Quem é?‖ Eu perguntei.

―Lucy? É você?‖ Havia duas vozes diferentes, ambas sussurrando.

―É a Lucy.‖ Eu disse. Eu falei muito alto e claro, como se eu precisasse compensar os


sussurros. ―Quem...‖

―Lucy, você tem que vir nos buscar!‖ Disse uma das vozes. E agora ela estava falando sozinha,
eu sabia quem era.

―Emma?‖ Eu perguntei.

―Lucy, venha nos buscar, por favor,‖ ela disse. ―Por favor, Lucy, você vem nos buscar?‖ Ecoou
Amy.
―Onde vocês estão?‖ Eu coloquei o dedo na minha orelha vazia, como se o problema de não
conseguir ouvir as Princesas era o silêncio em que a casa estava.

―Nós estamos na...‖ Houve uma conversação abafada entre elas e então parou.

―Onde vocês estão?‖ Eu repeti.

―Nós estamos na casa do Bobby,‖ disse Amy.

―Mill Road, número dezoito.‖ Disse Emma.

―Mas o que vocês estão fazendo aí?‖ Eu exigi. ―Vocês deveriam estar com seu pai.‖

―Nós viemos pra... pra...‖ Amy começou a chorar e eu ouvi Emma dizendo, ―Me dê o telefone.‖
Então houve outra pausa e finalmente Emma estava com o telefone.

―Nós estávamos na festa,‖ ela disse e sua voz também começou a vacilar. ―Nós estamos com
medo, Lucy,‖ disse Emma. Agora ela também estava chorando. Mesmo que eu não gostasse
das minhas irmãs postiças, era horrível as ouvir elas chorando daquele jeito.

―Olhem, liguem pro seu pai e peça pra ele ir buscá-las. Ele provavelmente estará aí em cinco
minutos.‖

―Nós... Nós... Não podemos.‖ Emma começou a chorar mais forte. Amy pegou o telefone de
volta.

―Se nós ligarmos pro papai, estaremos com problemas. Nós deveríamos estar aí.‖

―Por que vocês não chamam um táxi e vem pra casa? Então?‖ Eu sugeri.

Ao invés de confortá-las, minha sugestão fazia ambas terem um acesso de soluços. Agora tudo
o que elas conseguiram falar foi ―Nós não podemos,‖, ―Estamos com medo,‖ e ―Lucy, por
favor, venha nos buscar.‖ Elas soavam tão lamentáveis que eu esqueci como elas eram
normalmente. Pela terceira vez Emma disse, ―Estamos com medo, Lucy‖ Eu comecei a me
preocupar que talvez elas realmente tivessem feito algo pra ficar com medo.

―Está bem,‖ finalmente eu disse. ―Olha, eu vou buscá-las.‖

O que eu disse apenas as fez chorar mais, embora entre soluços ou algo como isso, elas
disseram depois de um tempo, ―Obrigada, Lucy.‖

―Olha, só fiquem aí,‖ eu disse. ―Estarei aí o mais rápido que eu puder.‖

Eu desliguei e disquei pra companhia de táxi Glen Lake.

O número dezoito da Mill Road era uma mansão no estilo Tudor virada pra estrada.

Umas árvores de praia com galhos retorcidos se destacavam no jardim da frente, eu senti uma
cintilação de ansiedade quando o táxi entrou na entrada da garagem circular e parou na
escuridão, a cara era arrepiante. E se as garotas estivessem com problemas que eu não pudesse
controlar? Eu disse pro motorista estacionar na direita e pedi pra ele esperar.
Eu tentei vê-las através das pequenas janelas da porta da frente, mas além de ser cerca de sete
metros do chão, o vidro era embaçado. Eu toquei a campainha. Ninguém respondeu. E de novo.
Só depois de mais três vezes uma voz finalmente perguntou, ―Quem é?‖

Eu apertei minhas mãos em punhos. A voz era masculina. ―Abra a porta,‖ Eu disse firmemente.
Nada aconteceu por alguns segundos e então a porta balançou e abriu.

Parado na minha frente estava um garoto magro usando um jeans folgado e não devia ter mais
que treze anos. Olhando ele, me senti ridícula por ter ficado com medo do que encontraria na
casa, mas me vendo, obviamente não tinha o mesmo efeito pra ele. Sua face ficou
instantaneamente pálida. Ele segurou a porta, brincando nervosamente com a fechadura.

―Eu vim buscar a Emma e a Amy,‖ Eu disse. Minha voz soava paterna pra mim e o garoto
recuou para que eu pudesse passar.

―Eu acho que elas estão nos fundos,‖ disse ele.

―Tá bom.‖ Eu comecei a andar passando por ele autoritariamente antes de me lembrar que eu
não sabia como chegar ―aos fundos‖. Um corredor ramificava-se para a esquerda e eu segui o
som do rap pulsando e cheguei em uma sala mal iluminada.

O ar estava denso por causa da fumaça. Garrafas vazias e cacos de vidro estavam espalhados
pelo chão. No sofá uma garota estava sentada no colo de um menino, beijando-o. No canto, três
garotos e uma garota estavam sentados ao redor de uma mesa com tampo de vidro com uma
bola de papel alumínio e do lado uma lâmina de barbear.

A cena foi tão assustadora que eu me sentia doente. Isso era o que os alunos da sétima série
faziam pra se divertir hoje em dia? O que havia de errado em um simples Gire a Garrafa?

Calças largas veio atrás de mim.

―Nós só estávamos...‖ ele começou a dizer.

Eu levantei minha mão para o parar. ―Esquece,‖ eu disse. ―Não quero saber.‖ Ele balançou
nervosamente alguns trocados no bolso. ―Só quero achar minhas irmãs e dize-las pra me
apresentar pra porta da frente.‖

Quando Emma e Amy me viram no corredor da entrada, não me olharam nos olhos. ―Vejo você
depois, Bobby,‖ elas disseram quando nós paramos do lado de fora.

―Sim, vejo vocês,‖ ele disse, fechando e trancando a porta.

―Oi,‖ eu disse logo que ficamos sozinhas. Elas não disseram nada, apenas examinaram o
cascalho na frente de seus pés. ―Vocês estão bem?‖ Perguntei finalmente.

Elas assentiram, ainda sem olhar pra cima.

Finalmente Emma falou. ―Não era pra ter sido assim,‖ disse ela. ―Não era para os garotos da
oitava série terem vindo.‖ Instantaneamente olhando pra mim e depois para o táxi.

―Aqueles eram alunos da oitava série?‖


Amy estremeceu, não compreendendo o meu tom. ―Você está brava com a gente?‖. Ela
perguntou.

Eu disse. ―Estou brava com eles.‖ Eu me virei de volta pra casa. ―Eles todos são uns...‖
Mas relembrando o quanto Amy e Emma choraram no telefone mais cedo, me deixou em
dúvida. Elas precisavam era de uma palestra anti-drogas. Talvez esse era um dos momentos
para serem deixadas sozinhas. ―Não estou brava com vocês.‖ Eu disse firmemente. ―E estou
feliz que tenham me ligado.‖

―Obrigada, Lucy.‖ Disse a Amy. De repente ela deu um passo na minha direção e passou seus
braços pela minha cintura. Um segundo depois, Emma fez o mesmo.

―Nós pensamos que você ficaria realmente brava,‖ explicou Emma.

―Mas nós não sabíamos o que fazer,‖ adicionou Amy. ―Não sabíamos pra quem ligar.‖

―Então nós pensamos em você,‖ disse Emma. ―Nós te deixamos um milhão de mensagens.‖

―E então você respondeu.‖ Elas ainda estavam com os braços ao meu redor. Quando eu tentei
andar, senti como se eu estivesse em uma corrida de três patas.
Capítulo 25

Passou muito tempo desde que eu gostei de acordar na manhã de sábado sem um dos beijos
perfeitos do Connor da noite anterior passando pela minha mente. Mas em vez de pensar em
seus beijos imperfeitos, me peguei pensando na Emma e na Amy. Eu estava em choque- elas
tinham sido tão... legais. Antes delas subirem as escadas pra dormir, cada uma me deu um
abraço apertado e a Emma disse, ―Você é a melhor, Lucy.‖ Então a Amy disse, ―É, Lucy. Nós
temos sorte de você ser nossa irmã mais velha.‖

Eu saí da cama, escovei meus dentes, vesti um jeans e uma camiseta e desci pra cozinha,
realmente ansiosa pra tomar café-da-manhã com a minha família.

A primeira coisa que eu ouvi quando empurrei a porta do porão foi o pai da Emma e da Amy.
―A única lição que vocês vão aprender disso é que não podem sair por aí fazendo o que
querem.‖

Eu parei na cozinha. Mara estava em pé, inclinada sobre a pia. Emma, Amy e o pai estavam
sentados na mesa da cozinha. Emma e Amy de um lado e ele do outro. O senhor Gilman estava
vestindo um short e uma camisa de colarinho brancos e enquanto estava sentado, batia a
raquete contra seu joelho.

O rosto de Emma estava molhado de lágrimas. ―Não, papai, isso não é verdade.‖ Ela disse.

Você não precisa ser psíquico para colocar dois e dois juntos. Eu precisava ajudar, mas me
ocorreu que talvez, a história que elas contaram pra seus pais era diferente da verdade. A última
coisa de que elas precisavam era de uma ―defensora‖ que deixasse escapar detalhes que elas
tinham preferido omitir. Eu cumprimentei o Senhor Gilman, fui até a geladeira e peguei o suco
de laranja.

―Lucy, eu queria falar com você sobre isso,‖ disse Mara. ―A coisa toda me deixou muito
preocupada.‖

Eu olhei em direção às minhas irmãs postiças, mas seus olhos estavam abaixados. Eu me senti
realmente mal por elas. ―Bem, eu sei que nada disso é da minha conta, mas eu acho que vocês
devem pegar leve com elas.‖ Eu andei de volta até o armário e peguei um copo. ―Elas tiveram
uma noite difícil.‖

―Isso é muito generoso de sua parte,‖ disse Mara. ―Mas eu acho que Amy e Emma devem
pagar pelo que elas fizeram. E eu gostaria de saber mais sobre o seu papel nessa pequena...
aventura.‖

Eu coloquei o copo e deixei o suco cair, totalmente confusa. Por que de repente eu me sentia
como uma suspeita do CSI: Long Island?

―Eu não as segui o suficiente, Mara,‖ eu disse. ―As garotas me disseram que você sabia que
elas estavam na festa.‖ Disse Mara.

Eu estava certa de que não tinha a escutado. ―Como?‖

Ela repetiu, sílaba por sílaba. ―Elas disseram que você sabia que elas estavam na festa.
Aparentemente você foi buscá-las de táxi quando terminou.‖
Eu olhei para as minhas irmãs postiças. Claramente, elas decidiram que o problema era igual a
uma torta- o maior pedaço era meu. O menor, delas.

―Você está me dizendo que não foi isso o que aconteceu?‖ Perguntou Mara. Ela tentou fazer
soar como se agora ela se importasse com a minha resposta, o que era uma piada completa. De
forma alguma ela aceitaria a possibilidade de que suas preciosas anjinhas estavam mentindo
através dos próprios dentes.

Era uma boa idéia eu colocar o copo na mesa porque se não, possivelmente eu o atiraria nela.
Apenas alguns minutos atrás eu tinha ficado feliz com a idéia de comer junto com a minha
família? Agora eu tinha vontade de pular pela cozinha e estrangular todas elas- Mara, Emma e
Amy. Não, espera. Talvez o que eu deveria fazer era estrangular minhas irmãs postiças, então
rasgar a bota caríssima de couro italiano da Mara e cravar os saltos como se fossem pregos,
direto no coração dela.

A geladeira estalou no silêncio, como se o mecanismo zumbisse. Eu peguei o copo, coloquei de


volta no armário, caminhei de volta pra geladeira e guardei o suco. O tempo todo, ninguém
disse uma palavra.

Quando eu cheguei à porta do porão, me virei pra minha mãe postiça e a encarei. ―Quer saber
do que mais, Mara? Eu não disse nada.‖

Eu abri a porta pro meu calabouço e puxei-a deixando que batesse atrás de mim.

Era quase meio dia quando o táxi estacionou e eu ouvi meu pai andando dentro da casa.

―Olá?‖ Chamou ele. ―Olá, alguém em casa?‖ Mara o respondeu, mas eu não. Eu só estava
deitada na minha cama, escutando um pouco de música divertida do meu iPod e pensando o
quanto eu estava brava. O quanto eu estava brava com ele.

Não passou muito tempo pra que ele batesse na minha porta.

―Lucy?‖

―Sim?‖

―Lucy, eu preciso falar com você,‖ disse ele, seu pé acertando o degrau. Sua voz parecia
cansada e eu me lembrei que ele tinha passado a maior parte da noite no aeroporto.

―Eu não me sinto bem pra conversar, pai,‖ eu disse. Eu não me sentei e não tirei os fones. Por
um segundo eu me deixei levar pela insana fantasia de que meu pai não tinha vindo conversar
comigo sobre o que tinha acontecido com a Emma e a Amy, ele tinha vindo falar comigo uma
coisa totalmente diferente. Lucy, ontem a noite no O’Hare(aeroporto), eu tive uma epifania.
Que pesadelo você tem vivido. Eu estou incrivelmente arrependido de tudo que eu fiz você
passar e espero que você possa me perdoar. Mara e eu vamos nos divorciar. Você e eu vamos
voltar pra São Francisco. Por favor, pegue suas coisas e fique pronta para sairmos pro
aeroporto em uma hora.

―Lucy, isso tudo é muito perturbador pra mim. O que exatamente aconteceu na noite passada?‖

Eu me sentei. ―O que você gostaria de saber, exatamente?‖


Ele pareceu surpreso com a minha resposta, ou talvez fosse só o meu tom. De qualquer forma,
ele hesitou por um segundo antes de falar, ―Bem... eu acho que gostaria de saber o que está
acontecendo.‖

Eu tirei meus fones. ―Sério, pai? Você realmente gostaria de saber o que está acontecendo?‖

Ele balançou sua cabeça de um lado para o outro, já irritado. ―Lucy, você...‖

―Certo, pai, por que eu não te digo o que está acontecendo? Aqui está o que tem acontecido.
Você se casou. Você me trouxe aqui, me deixou com essas pessoas que eu mal conheço, você
agiu como se magicamente formaríamos uma família e então você correu de volta pra São
Francisco para que pudesse começar a trabalhar no seu ―grande caso‖. Então você pode ser
feliz, o recém casado que não pode desistir do maior, melhor, mais importante, mais fabuloso,
mais incrível, mais importante, mais incompreensível caso do universo. Você só me despejou
aqui e...‖

―Lucy, eu não te despejei aqui. Você vive aqui. Essa é a sua...‖

―Oh, calma, calma, calma!‖ Eu disse, balançando meus braços. ―Deixe-me adivinhar. Hum...‖
Eu coloquei minha mão na testa e fechei os olhos, como num programa de televisão, pensando
se precisava de mais alguns segundos pra pensar na resposta certa. ―Essa é a minha... casa.
Certo? Estou certa, pai?‖ Eu assenti com um falso entusiasmo.

Ele cruzou os braços e encostou-se ao corrimão. ―Lucy, eu pensei que já tínhamos conversando
que sarcasmo realmente não é útil.‖

―Oh, sério pai? Então me diga. O que é útil? O que é útil, pai? Porque deixe eu lhe dizer uma
coisa. Essa não é a minha casa.‖ Eu apontei pra ele. ―Você é a minha casa. Você, pai. Não é a
Mara, nem a Emma e muito menos a Amy. Você. Ou foi você. Mas eu acho que não tenho mais
uma casa agora, tenho? E acho que isso não é tudo o que importa pra você, é? Isso não é um
grande negocio como o seu grande caso.‖ Ele ficou me olhando por um longo minuto e então
eu senti a cama e os fones ao meu redor.

Por um longo compasso, meu pai ficou quieto e então ele disse, ―Lucy, isso é...‖

―Você quer saber, pai, eu realmente não me sinto bem pra falar com você nunca mais. Então se
você não se importa, pode me deixar sozinha?‖ Eu coloquei meus fones de volta e aumentei o
máximo que podia.

Meu pai não se moveu e eu fechei meus olhos. Quando os abri, ele tinha ido.
Capítulo 26

Passei quase o final de semana inteiro isolada, dormindo ou tentando dormir, sem me preocupar
em pegar meu celular quando ele tocou ou checar a caixa de mensagens. A última coisa com
que eu poderia lidar era contar pro Connor, pra Jéssica e pra Medison que eu tinha escolhido a
semana antes do baile pra brigar com o meu pai de um jeito que me garantisse uma vida
subterrânea. Quando eu ouvi meu pai e Mara saírem pra jantar no sábado à noite, subi as
escadas e fiz um sanduíche de amendoim com manteiga, então agarrei duas sacolas de mini
cenouras e uma caixa de cereal. Domingo à tarde, o pai de Emma e Amy as deixou lá. Depois
uma ou ambas bateram na minha porta, mas eu não respondi.

Eu acordei cedo na segunda, a casa estava silenciosa e a maleta do meu pai ainda estava no
corredor, o que era incomum, mas já havia acontecido. De vez em quando ele voava pra
Califórnia na segunda de manhã ao invés de domingo à noite. Que irônico... A primeira vez em
meses que ele ficou uma noite extra e nós não estávamos conversando.

No almoço, à caminho do meu estúdio, eu corri para o Connor.

―Oi, Red,‖ ele disse. ―Por que você não retornou minha ligação?‖ Ele passou o braço pelo meu
ombro e começamos a andar na mesma direção pra ele estava se dirigindo.

―Ai, Deus,‖ eu disse. ―Eu tive o pior fim de semana.‖ Eu me sentia muito bem em ter o braço
do Connor ao meu redor enquanto andávamos juntos.

―Isso é ruim, Red,‖ disse ele. ―Você quer ir ao ginásio comigo?‖ Ele fingiu levantar pesos.
―Você sabe... apoio pro time da casa.‖ Ele adotou a postura de um fisiculturista posando para os
seus admiradores. ―Eu, Matt e Dave vamos levantar um pouco de peso. Seria muito melhor se
você estivesse lá.‖

Connor deu a volta em mim, driblando em um imaginário jogo de basket. ―E ele corre pela
quadra, visualiza a cesta e marca!‖ Connor jogou suas mãos atrás da cabeça, vitorioso e fez o
som da multidão descontrolada.

―Bela apresentação,‖ eu disse.

―Obrigado, Red,‖ disse ele, vindo até mim e passando seus braços ao redor da minha cintura.

Eu me senti tão bem parada ali com o Connor me abraçando. Era como se toda a horrível briga
com a minha família tivesse acabado. Fazendo um laço atrás do meu pescoço.

―Senti sua falta, Red.‖ Disse ele.

E naquela hora e ali, eu tomei uma decisão. Mesmo se meu pai me deixasse pra baixo, eu iria
ao baile. Se eu tivesse que fugir e morar na rua o resto dos meus dias, faria isso. Connor só
arrumaria outra garota por cima do meu cadáver.

Eu me virei e nos beijamos. ―Eu também.‖ Eu disse, quando nós finalmente paramos pra
respirar. Eu realmente tinha fugido desse beijo na sexta à noite? Claramente, meu cérebro tinha
sido exposto a alguma substância tóxica ou algo do tipo.

Eu o beijei novamente.
―Hummm, bom,‖ disse ele, se afastando. ―Então, você virá ao ginásio?‖

Assistir Connor, Matt e Dave levantando pesos não parecia o jeito mais emocionante de passar
um período, mas o Connor era o único brilho na minha vida triste. Se ele queria que eu fosse
assisti-lo trabalhando, eu iria.

―Só me deixe terminar uma coisa,‖ eu disse. Minha paisagem estava indo um milhão de vezes
mais rápido do que o meu auto-retrato, mas eu ainda estava pra trás desde que tinha começado
tão tarde. Eu tinha jurado pro Sr. Daniels que eu terminaria no final da semana e a seção estava
provando quase impossível obter direito. ―Me de vinte minutos.‖

―Você que sabe,‖ disse ele, recuando. Deus, ela era bonito. Eu ainda podia sentir seus lábios
nos meus. ―Esteja lá ou será uma idiota.‖ (a fala dele é uma expressão, “Be there or be
square.” Eu pesquisei na internet e square quer dizer uma pessoa ordinária, achei melhor
colocar idiota.)

Sam estava deixando o estúdio quando eu cheguei e desde que eu estava na minha freqüente
névoa pós beijo do Connor, que eu esbarrei nele.

―Você sabe, normalmente, arte não é um esporte de contato,‖ disse ele.

―Me desculpa,‖ eu disse. Claramente, o Connor precisava de seu próprio cartão de aviso:
espere cinco minutos após beijar esta pessoa, antes de voltar às suas atividades normais.

―Não, foi culpa minha,‖ disse Sam. ―Estou atrasado.‖

Eu me abaixei e peguei a caneta que ele deixou cair quando nós colidimos. ―Pra um encontro
muito importante?‖

―Obrigado,‖ ele disse, pegando a caneta e a colocando de volta no bolso. ―Por um encontro
muito desagradável, na verdade. Eu tenho que ir pegar minha gravata.‖

Eu lembrei o quanto eu me diverti com a Medison e a Jessica no shopping quando fomos


comprar nossos vestidos. ―Isso vai ser ótimo,‖ eu disse, todas sorrimos das nossas lembranças e
da minha recente decisão de ir sem me importar com as consequências. ―Você provavelmente
vai gostar disso.‖

―Na verdade, eu provavelmente não quero,‖ disse ele. Então ele riu, mas parecia forçado.
―Desculpe, não me deixe chover em seu desfile de finalistas do baile.‖ Ele afagou meu ombro e
começou a descer o corredor. ―Até mais.‖

―Até mais,‖ disse eu depois dele.

O estúdio estava completamente vazio. Eu arrumei meu cavalete e comecei a trabalhar, me


concentrando no canto da tela que estava me dando problema. O verde que eu misturei parecia
bom e eu manchei um pouco com a esponja. Então eu mergulhei meu pincel em um pouco de
azul e fiz uma pequena linha no verde.

Agora sim. Eu borrei o canto até o azul dando o efeito de uma sombra ondulada na grama.
Curvar, fazer a volta, borrar. Curvar, fazer a volta, borrar.
Quando eu olhei pro relógio, meia hora já havia passado. Maldição. Eu realmente não pretendia
deixar o Connor esperando. Eu coloquei minha pintura pra longe e empurrei o cavalete contra a
parede o mais rápido que pude, então levei meu pincel até a pia para o lavar. Claro que a tinta
demorou pra sair, não importava o quão forte eu limpasse as cerdas, a água se recusava a ficar
clara. Só quando eu comecei a ficar realmente estressada com tempo que estava demorando, eu
reparei que o rico azul que corria era exatamente da cor do meu vestido pro baile. Como
Connor me lembrou que eu estava dez minutos atrasada para encontrá-lo no ginásio quando me
viu com aquele vestido. O vestido. Eu visualizei meu vestido, me visualizei o vestindo, como
eu flutuei através da pista de dança em direção ao Connor vestido de smoking. Quão incrível
foi sentir seus braços ao meu redor enquanto nós dançávamos noite a fora? Connor e Lucy no
baile. Eu fechei meus olhos para ver a cena melhor.

Um segundo depois meus olhos se abriram. Meu coração estava batendo descompassado e eu
não conseguia recuperar o fôlego. Eu só fiz o que Madison me disse para fazer em Rosas são
vermelhas – me visualizei no baile, tendo o mais romântico momento da minha vida, dançando
lentamente com o meu príncipe perfeito.

O problema era que na minha imaginação, eu não estava dançando com o Connor.

Eu estava dançando com o Sam.


Capitulo 27

O CD que Jessica gravou para mim estava tendo sucesso em abafar os sons do jantar que estava
sendo servido, mas isto não poderia ajudar em nada sobre o delicioso cheiro que estava vindo.

Comida chinesa para viajem.

Eu não podia acreditar nisto. Nos nunca comemos comida chinesa. Mencione comida chinesa
na frente da minha madrasta e ela vai falar durante horas sobre o teor de sódio, óleos graxos,
MSG. Quando meu pai e eu vivíamos em San Francisco, nos provavelmente comíamos comida
chinesa duas vezes por semana. Desde que mudamos para New York a dez meses, nos devemos
ter comido somente três vezes. E todas às vezes, Mara estava fora por algum motivo.

Eu sinto como se estivesse em um esconderijo de guerra na floresta. Eles poderiam fazer o que
eles quisessem, mas sem chances deles me fazerem sair do quarto. As mini cenouras que eu
levei para o quarto para passar o fim de semana sozinha no meu quarto se acabaram. Eu
aumentei o volume do meu Ipod. Quem precisa de comida quando você tem Janis Joplin? Eu
cantei algumas linhas em voz alta. "Summertime, and the living is easy. Fish are jumping, and
the cotton is high."

Eu definitivamente senti o cheiro de frango com laranja, meu prato favorito. Em San Francisco,
existia um lugar que fazia um perfeito – por fora a pele crocante, por dentro um frango macio,
com muita casca de laranja caramelizada . Dois em três restaurantes que nos fomos em Long
Island fazia um tipo de borracha pegajosa, mas o terceiro realmente sabia o que estava fazendo.
Minha boca se encheu de saliva, e eu engoli. A musica acabou, e a musica de formatura*
começou.
{NA: No ingles Prom significa formatura, mas Prom Music é uma musica q só toca na
instrumental, aqui ela faz um trocadilho com as palavras, mas para não confundir, coloquei
como musica de formatura}

Formatura. Connor. Sam. Eu bati na tecla para desligar a música, enterrando meu rosto em meu
travesseiro.

Por que não há um botão para desligar o cérebro?

Senti-me tonta, de fome ou pelos meus pensamentos, eu não tinha certeza. De qualquer jeito,
Eu não podia apenas permanecer aonde estava. Eu decidi que Mara, Emma, e Amy foram
definitivamente comer na sala de jantar, então eu iria lá em cima, pegar um pouco de comida,
comer sozinha na cozinha, e depois ver o jogo de basquete na tv. A única coisa pior que comer
e assistir o jogo sozinha era passar fome e não assistir o jogo sozinha. Eu me levantei.

Quando eu empurrei a porta para abrir, fui apresentada a visão mais chocante de toda a minha
vida. Não estavam apenas Emma, Amy, e Mara comendo em volta da mesa da sala (uma coisa
que Mara diz que apenas servos deveriam fazer), mas meu pai estava sentado com elas.

"Eu pensei que nos conseguiríamos te convencer a subir alguma hora." Ele disse, se
debruçando na mesa para pegar uma das caixinhas.

Eu olhei de um para outra na mesa seguidamente, tentando entendeu o que, exatamente, estava
acontecendo. Emma e Amy estava sentadas para frente do meu pai e da minha madrasta, de
costas para mim.
Isto não era parte do plano. Uma coisa era roubar um pouco de comida da caixa chinesa
enquanto minha madrasta malvada e suas filhas do mal comparavam suas compras na Lucky na
sala de jantar. Outra bem diferente era pegar meu prato e sentar no balcão sozinha enquanto
todo mundo ali estava me olhando. Minha mão ainda estava na maçaneta. Será que era tarde
demais para me virar e voltar a me esconder no esconderijo? Eu me lembrei de uma reportagem
que havia lido no jornal uma vez que dizia que é importante ter suprimentos de comida e água
para três dias por perto sempre. Porque eu não levei isto a serio?

Meu pai apontou para uma caixinha com os pauzinhos. "Frango com laranja" ele disse.

Okay, isto era totalmente injusto. Quero disser, eu estava com fome.

"Porque você não se senta conosco?" perguntou meu pai. Ele empurrou a cadeira ao lado dele e
acenou para que eu sentasse.

Sem tirar minha mão da maçaneta, considerei minhas opções. A) Me virar, voltar para meu
esconderijo, E provavelmente morrer de fome ou B) sentar, comer, assistir ao jogo.

Mas se eu sentar e comer com eles, eu seria obrigada a conversar com eles? Eu olhei para as
costas de Emma e Amy, lembrando da fantástica ligação, a desculpa. obrigado, Lucy. nos te
amamos, Lucy. Lucy, você é a melhor.

Traidoras.

Eu decidi que poderia sentar e comer sem falar. Andei até a cadeira que meu pai havia indicado
e me sentei. Mara passou para mim a caixa de frango com laranja. Eu peguei os pauzinhos e
tirei o plastico de isolamento. Todo mundo estava olhando para mim como se eu fosse um
microorganismo de uma doença mortífera. Eu me servi um pouco de frango e comi um pedaço.
Foi um pouco difícil engolir com quatro pares de olhos olhando cada movimento que eu fazia.
Quando eu coloquei meus pauzinhos na mesa, Emma pegou uma caixinha do outro lado da
mesa e perguntou.

"Arroz?"

Eu acenei. Um aceno não é igual a uma palavra falada. Eu coloquei um pouco de arroz no meu
prato enquanto todo mundo na mesa permanecia em silencio. Comi outro pedaço.

"Emma e Amy tem algo que querem disser para você." Meu pai disse.

Olhei para o outro lado da mesa em direção a elas,minha boca cheia de frango e laranja. As
mãos delas estavam juntas.

"Garotas." Disse meu pai.

Emma olhou para mim. Depois de um segundo, Amy olhou, também. "Nos desculpe, Lucy."
elas disseram juntas.

Eu engoli, mas não disse nada. Estava tudo quieto, e então meu pai continuou pressionando.
"Desculpa pelo o que?"

"Nos sentimos muito por ter colocado você em problemas" Disse Emma, olhando para suas
mãos.
"E sentimos muito por fazermos parecer que você sabia aonde estávamos o tempo todo" Disse
Amy, Abaixando a cabeça.

De repente Emma olhou-me nos olhos. "Serio, Nos desculpe." ela disse. "Você foi tão legal,
Lucy."

"Não nos odeie, Lucy." Disse Amy.

Eu não sabia o que disser. Quero disser, eu não odiava elas exatamente. Mas não amava elas,
também. Olhei em volta da mesa. Meu pai comeu um pedaço do seu moo-shu, e eu pensei
―peguei o olhar entre ele e Mara.‖

"Lucy, agora é minha vez de me desculpar." Disse Mara. "Eu deveria ter acreditado que você
jamais faria algo para prejudicar Emma e Amy."

Nós estávamos em algum mundo paralelo? Eu acenei para ela. Ela pegou um guardanapo na
pilha ao seu lado e entregou para mim. "Aqui" Disse. "Para o seu colo."

Então nos estávamos no mundo real. "Obrigado" disse, pegando-o.

Um aceno diz muito sobre o resto da conversa. Quando terminamos de comer, meu pai trouxe a
sacola de lixo da cozinha e nos colocamos todos os guardanapos e caixinhas de comida que
conseguimos lá.

Eu tinha absoluta certeza que esta era a primeira vez em San Francisco que eu não tive a
obrigação de limpar a mesa.

Mais tarde, meu pai desceu exatamente quando eu estava arrumando meu alarme.

"Hey!" Ele disse.

"Hey." Disse. Eu chequei o volume e arrumei o horário para A.m., não P.m.

"Então, eu vou trabalhar fora de New York por um escritório pelas próximas semanas.‖ Disse
enclinado no corrimão. "Como fiz hoje."

Coloquei o relógio no chão perto da minha cama. "Legal." Disse.

"Este é o melhor que posso fazer por agora."

"Okay,‖ Disse.

Ele esperou, como se quisesse disser mais alguma coisa. Ou esperava que eu dissesse mais
alguma coisa, não tenho certeza. Mas o que mais eu poderia falar? Eu acho que tudo esta
melhor agora. Emma e Amy pediram desculpa, você esta temporariamente em New York, e
Mara deixou nos comer comida chinesa e comer galinha! Bibbitybobhityboo!-- nos somos uma
grande família feliz.

Contudo, meu pai e eu apenas ficamos olhando-nos por um momento de silêncio.

"Então a gente se vê amanha‖ ele disse, por fim.


"Yeah." falei.

"Bem," Ele falou. "Boa-noite."

"Boa-noite."

Então me deixou dormir.

O que meu pai disse fez com que fosse impossível não pensar em como a minha vida poderia
mudar se ele realmente trabalhasse na sua firma em New York ao invés de voar para a costa
oeste todo sábado. A idéia dele abrindo a porta da frente todas as noites quanto ele chegar do
dia de trabalho me fez tão feliz que eu quase comecei a chorar. Como seria fácil sentar para
jantar com minha madrasta e suas filhas se meu pai estivesse lá também; se e depois disto eu e
ele assistirmos ao jogo juntos ou comprar sorvetes como costumávamos fazer? Se ele estivesse
por perto, não seria possível minha vida em casa se tornar... Aceitável?

Finalmente eu consegui me mexer e dormir. Por que enquanto minha fantasia era certamente
linda, não era realmente tão real. ―Duas semanas.‖ Eu disse para o meu travesseiro ―Duas
semanas ele disse.‖

Este é o problemas com contos de fadas. Tudo acontece por um tempo limitado
Capítulo 28

Toda a fofoca da semana do baile voou rápido e furiosamente. Em matemática, enquanto o Sr.
Palmer tagarelava sobre gráficos parábolas, Jessica me ensinou o que era um ponto de
disseminação, utilizando os mais recentes rumores sobre os casais que o fariam na noite de
sábado e os que não fariam. Mesmo que eu o estivesse fazendo enquanto ele estava falando de
outra coisa, eu pensei que o Sr. Palmer teria ficado orgulhoso de me ouvir explicar, quando
chegamos a Jane e Sam, que você não pode resolver uma equação, se você não sabe se alguma
coisa (isto é, a vadia da Jane) é uma variável ou uma constante. Eu percebi que apesar do meu
professor de matemática ser clinicamente insano, eu realmente tinha aprendido alguma coisa
em sua aula.

Tendo acabado de falar sobre ele em matemática, fiquei surpresa quando Sam não apareceu na
aula de arte, e fiquei ainda mais surpresa quando ele também não estava lá no dia seguinte. Não
foi até o final da semana que perguntei ao Sra. Daniels onde ele estava, e enquanto ela estava
me contando tudo sobre as faculdades que ele estava visitando e como ela esperava que ele
considerasse seriamente RISD, de repente me lembrei do sonho que eu tive sobre nós dançando
lentamente no baile. Isso me fez sentir muito auto-consciente. Primeiro eu tenho uma visão
estranha de nós dançando juntos e, em seguida, eu estou preocupada do por que ele não está na
escola? Assim quando eu estava começando seriamente a lamentar ter me incomodado a
perguntar a Sra. Daniels sobre o paradeiro de Sam, eu vi Jessica e Madison de pé na porta do
estúdio. Jessica apontou para seu relógio e eu cortei a Sra. Daniels, explicando que eu tinha que
correr.

Minha preocupação sobre por que eu estava me preocupando sobre por que Sam estava ausente
não durou muito tempo. No momento em que estávamos no meio do corredor e eu tinha ouvido
os novos e aprimorados dados eleitorais oficiais de Jessica indicando que Connor e eu
estávamos indo definitivamente ser rei e rainha do baile, eu mal me lembrava que tinha falado
com a Sra. Daniels , muito menos sobre o que nós tínhamos estado falando.

Entretanto, com meu pai em casa era quase uma fantasia revestida de açúcar que eu tinha
criado em minha imaginação. Quase.

Como eu esperava, vimos um jogo juntos e buscamos sorvete. E não foi Mara interrompendo o
jogo para que meu pai pudesse olhar para as amostras de tecido para a cadeira em seu quarto ou
Emma e Amy vindo conosco na nossa corrida a sobremesa que fez sua estada em casa menos
do que perfeita. Era o grande X vermelho que eu fiquei desenhando no meu calendário mental.
Treze. Onze. Dez.

Porque mesmo quando eu queria comemorar o fato de que eu tinha conseguido meu pai de
volta, eu não pude deixar de medir o quão feliz eu estava agora contra o quão ruim eu iria me
sentir quando ele partisse para San Francisco.

Na manhã do baile eu acordei com meu celular tocando. Eu pude dizer pela luz lutando para
dirigir seu caminho através das minúsculas janelas do porão que ia ser um dia lindo de sol.

"Estamos nos reunindo na Madison as quatro, certo?" Era Jessica.

"Yeah, certo," eu disse, bocejando. "Quatro horas.‖

"Eu disse a Kathryn que ela deveria vir também," disse Jessica. "Para se preparar e tudo mais."
Apenas metade acordada, eu me perguntei se eu tinha ouvido Jessica certo. "Kathryn? Eu
pensei que ela não estava vindo."

"Oh, yeah, bem, ela e seu namorado tiveram essa briga mundial na noite passada. Ela estava
vindo de stag". Jessica riu. "Eu disse que ela poderia vir na nossa limusine. Não é legal?"

"Ah, sim, é muito legal."

Ainda é chamado ir de stag se seu plano é chegar sozinha mas sair com alguém?

"Então você estará lá às quatro, certo?" Jessica perguntou.

"Certo," eu disse. "Eu vou estar lá às quatro.‖

Meu pai e Mara tinham saído quando eu cheguei lá em cima.

Havia um bilhete, como antigamente. Claro. Claro. Eu já sabia que era apenas uma questão de
tempo antes que nós voltássemos ao negócios como usual? Provavelmente eles tinham
esquecido o baile, também, esquecendo que precisava estar em Madison às quatro. Boa coisa
que eu tinha a companhia de táxi Glen Lake na discagem rápida.

Às três horas, quando eu estava saindo do banho, eu ouvi o carro do meu pai entrar na garagem.
Poucos minutos depois houve uma batida na minha porta.

"Sim?" Eu tinha uma bolsa aberta na minha cama cheia de coisas para o baile e os Hamptons.

"Lucy? Podemos descer?"

"Tudo bem."

A porta se abriu e meu pai e Mara desceram. Ou começaram a descer. Pareceu levar uma
eternidade. Olhei para as escadas e vi que eles estavam cada um carregando um pacote pesado
embrulhado em papel pardo. Eles devem ter estado indo para a área de armazenamento do
porão para repudiar quaisquer preciosos tesouros que eles tinham descoberto ao longo do Rio
Hudson.

"Hey", disse meu pai quando ele chegou ao degrau final. Ele estava arfando ligeiramente. Mara
estava de pé atrás dele, mas graças a suas sessões diárias de ginástica, ela não estava sem
fôlego.

"Hey, eu disse.

Ficamos ali por mais um minuto. "Nós estávamos em Lomax hoje", disse meu pai.

"Oh". De quantas estantes uma família precisa?

Meu pai estava sorrindo para mim. "Eu me lembrei de que você admirava isso, então nós
queríamos pegar por você."

Eu não tinha certeza do que ele estava falando. "Isto?" Eu perguntei

Ele apontou para o pacote que Mara segurava equilibrado contra seu quadril. "Abra."
Fui então para Mara e peguei o pacote dela. Ajoelhando na frente dele, eu puxei o papel
marrom, arrancando uma camada após a outra. Eu me perguntei se isso era uma daquelas
pequenas caixas que ficam dentro de uma dúzia de recipientes maiores. Deus, ela
provavelmente tinha me conseguido algum terrível pedaço de jóia para usar no baile. Lucy, a
má notícia é que eu não consegui mobiliar seu quarto. A boa notícia é que eu consegui
mobiliar você! Com este lindo pingente de strass destacando um instrutor de Pilates e sua
aluna.

Finalmente eu bati em alguma coisa que não era papel pardo, e de repente eu sabia o que estava
debaixo do embrulho com qual eu estava lutando.

"Oh meu Deus,‖ eu disse. Eu arranquei uma seção de papel para revelar uma perna do cavalete
de madeira que eu tinha visto há muito tempo. "Wow". Estudei os pés-da-garra e tracei minha
mão ao longo da madeira intricada. Era ainda mais bonito do que eu lembrava, ou talvez ele
tivesse acabado de ser polido. Mesmo na penumbra, a madeira brilhava. "Obrigado", eu disse,
levantando.

"Nós pensamos que ... bem, eu pensei." Meu pai limpou a garganta, ainda lutando para
encontrar o pronome certo. "Parecia possível que você gostaria de colocar isso nisso." Ele
caminhou na minha direção, balançando desajeitadamente o grande, quadrado pacote que ele
estava segurando. "Era para eu guardá-lo para o seu aniversário de dezoito anos", disse ele,
"mas eu achei que você poderia usá-lo agora." Ele deitou o pacote aos meus pés e deu um passo
para trás.

"Oh," eu disse. "O que é isso?"

Meu pai parou e engoliu. "É uma pintura que sua mãe fez. Ela queria que você a tivesse."

Os três de nós estavam lá, sem se mover ou dizer qualquer coisa, como se o retângulo marrom
aos meus pés estivesse tiquetaqueando. Depois de um minuto meu pai pôs sua mão no ombro
de Mara. "Desculpe-me um segundo," disse ela. Então ela se virou e subiu as escadas.

Meu pai deu um pequeno tossido. "Você se importa se eu ficar enquanto você o abre?"

Minha garganta estava apertada, e eu apenas balancei a cabeça para indicar que eu não me
importava. Então eu desatei a corda e descasquei a embalagem.

Eu não tinha visto um dos quadros da minha mãe a um longo tempo - desde que nós tínhamos
os embalado e os colocado no depósito quando nos mudamos - e eu nunca tinha visto esse
antes. O quadro era de um muro de cidade coberto com pichações e cartazes, alguns dos quais
estavam descascando, alguns dos quais estavam parcialmente cobertos por outros cartazes.
Cada um dos cartazes era um auto-retrato da minha mãe, o mesmo repetidas várias vezes em
ligeiras cores diferentes - verdes e azuis, castanhos e amarelos, e aqui e ali o roxo da sombra
tênue. Seus olhos estavam arregalados, seus cabelos encaracolados e selvagens em torno de seu
rosto pequeno, seu sorriso misterioso como o da Mona Lisa. Quando meus olhos estudaram os
cartazes, eu percebi que eles estavam agrupados para formar uma imagem composta. Uma vez
que eu percebi isso, só levei um minuto para ver que era a de uma mulher segurando um bebê
em seus braços.

"Ela começou isso quando ela ficou doente", disse meu pai, sua voz grossa. "Ela fez isso por
você." Ele ergueu a mão para seu rosto, e eu percebi que ele estava chorando. "Ela teria estado
tão feliz em saber que você está se tornando um artista."
Eu nunca tinha visto meu pai chorar antes, e isso me fez começar a chorar também.

"Eu queria ter conhecido ela," eu disse. "Eu queria que ela tivesse me conhecido." E então
acrescentei: "Eu queria que pudéssemos ter sido uma família."

Meu pai colocou seu braço ao meu redor e apertou meus ombros. "Eu também queria isso,"
disse ele, tomando uma respiração profunda e enxugando os olhos com as costas da mão.
"Você sabe, Goose Lucy, eu não posso fazer tudo perfeito. Eu queria poder, mas eu só posso
fazer o melhor que posso. E eu -" Ele tomou uma respiração profunda, estremecendo. "Eu
sempre serei sua casa. E você sempre será a minha. E eu espero que um dia isso se sinta como
sua casa, também."

Eu sabia que se eu tentasse dizer alguma coisa, eu ia começar a berrar.

"Então aqui está o negócio, criança." Ele cavou um lenço do bolso e assoou o nariz. "Eu vou
estar em casa por mais uma semana. Então eu vou voltar para San Francisco por mais duas
semanas. E depois disso, se eu não puder trabalhar nas coisas do escritório de Nova York, eu
disse a eles que eles terão que terminar sem mim. " Ele apertou meus ombros. "O que você diz
para isso?"

Eu abri minha boca para lhe responder, e um muito alto soluço saiu. Eu coloquei minha mão
sobre minha boca e balancei a cabeça.

"Esse é um ‗Não‖ agito de cabeça ou um ‗ok‘ agito de cabeça‖ Eu balancei a cabeça


novamente. "Não?" disse meu pai. Eu balancei minha cabeça novamente.

"Ok," ele disse. Eu pude dizer pela sua voz que ele estava sorrindo.

Concordei, e ele me entregou o lenço. "É um bocado pior que estranho," ele disse.

Eu assoei o nariz, alto, e respirei fundo. Então nos sentamos lá, sem dizer nada, apenas olhando
juntos para a pintura.

Finalmente eu limpei meus olhos na minha manga. "Eu acho que eu deveria ir," eu disse.

"Eu acho que sim", disse ele.

Assim que me levantei, houve uma batida acima de nossas cabeças. Segundos depois, Emma e
Amy vieram abaixo as escadas. "Queremos ver Lucy em seu vestido. Queremos ver Lucy em
seu vestido!"

Elas pararam quando me viram. "O que você está vestindo?" elas exigiram. "Onde está o seu
vestido?"

Apontei para a sacola. "Está ali. Vou me vestir na Madison."

"O quê?" Elas me olharam como se eu tivesse acabado de anunciar minha intenção de comer
uma delas para o jantar. "Mas você não pode! Você tem que se vestir aqui!"

"Lucy, você tem que nos deixar te ajudar."

"Eu realmente não preciso de ajuda para me vestir."


Emma circulou ao redor da cama. "Você sabe o que queremos dizer."

"Eu adoraria vê-la no vestido", disse meu pai. "A menos que isso arruinasse seus planos."

"Sim, Lucy", disse Emma. "Coloque-o agora."

"Sim", repetiu Amy. "Coloque-o."

Emma, sentindo que minha resolução estava enfraquecendo, aproveitou sua oportunidade. "Ok,
vamos lá para cima, e depois nós voltaremos em cinco minutos, e você estará com o vestido
posto." Ela começou a agrupar todo mundo na frente dela. "Vamos", ela disse que quando meu
pai hesitou. "Se mova". Depois que ela tinha colocado todos na escada, Emma se virou para
mim. "Cinco minutos", ela disse.

Eu escutei a porta se fechar atrás dos três, e então eu caminhei até o vestido. Eu levei um longo
tempo tirando meu jeans e minha camiseta, dobrando-os perfeitamente e colocando-os "longe"
em suas respectivas pilhas no chão. Então eu sai do meu sutiã e tirei o saco de roupa fora do
gancho, retirando os pinos que, uma vez que não havia tiras, estavam segurando o vestido no
lugar. Eu mal tive tempo para entrar nele e chegar próxima de fechar a metade inferior do zíper
antes da porta do porão se abrir.

"Nós estamos descendo, Lucy", Amy gritou.

"Sim, pronta ou não, aqui vamos nós", gritou Emma. E em um segundo, eles estavam de pé ao
meu lado. Meu pai e Mara seguiram mais devagar, Mara vindo todo o caminho para o porão,
meu pai sentado no degrau.

"Ooooh", disse Emma.

"Mmmmm", disse Amy.

"É tãããão bonito", disse Emma.

"Eu amei", disse Amy.

Elas circularam ao meu redor, avaliando o vestido de diferentes ângulos.

"É realmente lindo, Lucy", disse meu pai.

Mara se aproximou de mim e colocou a mão nas minhas costas. "Posso?"

"Claro", eu disse, soltando a tela para que ela pudesse fechar o zíper. Por um instante parecia
que ia ser muito apertado, mas ela persuadiu-o até ficar todo fechado.

―É lindo", disse ela, dando um passo para trás e me examinando.

"Que sapatos você está vestindo?" perguntou Emma.

"Yeah, que sapatos?" Amy perguntou.

"Aqueles". Apontei para a minha mala. O dedão de uma dos meus pumps pretos ficando para
fora.
"O quê?" Amy gritou.

"Você está louca?" Isto veio de Emma.

"Meninas!" disse meu pai rapidamente.

"Desculpe", disse Emma.

"Sim, desculpe", disse Amy.

"Eu não tenho mais nada", expliquei. "Desculpe"


.
Emma começou a saltar para cima e para baixo, quase explodindo de frustração. "Você tem que
usar sapatos de tiras", disse ela.

"Você tem que usar sapatos de tiras dourados", disse Amy, pulando para cima e para baixo
com ela.

Emma parou de saltar e fez uma cara de nojo para Amy. "Ela não vai usar sapatos dourados",
disse ela. "Você vive em um trailer ou algo assim? Prata. Ela tem de usar sandálias prateadas".

Antes que Amy pudesse responder, eu pisei dentro "Bem, adivinhe, senhoras, eu odeio quebrar
vocês, mas ela não está vestido dourado ou prateado. São pumps pretos ou os pés descalços."
Eu encontrei-me olhando para meu pai para a confirmação da minha decisão.

Ele deu de ombros. "Aqueles sapatos parecem bonitos para mim." Se meu pai não tivesse uma
vez emparelhado um paletó esporte xadrez com calças listradas, sua avaliação do meu calçado
teria sido muito mais reconfortante.

E, de repente, do nada, quando eu estava me perguntando se talvez ir descalça não era a solução
para todos os meus problemas, Mara disse: "Você gostaria de usar sapatos prateados?‖

"Sim!" Emma e Amy gritaram.

Dei de ombros. "Por que, você tem uma varinha mágica?"

"Não exatamente", disse ela. "Mas eu tenho um par de sapatos prateados no meu armário."

No momento em que chegamos em Madison, sua garagem estava cheia de carros, e estes
alinhavam a rua em frente à casa. Eu tentei apenas dizer adeus ao meu pai, Mara, Emma, e
Amy, mas uma vez que Emma e Amy descobriram que as famílias de outras pessoas estavam
ficando para coquetéis, elas se recusaram a partir.

A festa estava sendo realizada no quintal. Eu vi Connor do outro lado do gramado com Matt e
Dave. Ele estava realmente bonito em seu smoking, tanto que eu não podia acreditar que minha
imagem mental do baile havia produzido Sam em vez dele. Quando ele me viu, ele fez um
gesto para eu ficar onde estava e em seguida entrou na casa. Um minuto depois ele veio até
onde eu estava.

"Ei, querida!" disse ele, pegando em meu vestido e cabelo. "Você está bem poderosa".Ele
deslizou um corpete de gardênias brancas no meu pulso. "Aqui vai você, Red", disse ele.
As flores cheiravam rica e espessamente, e eu as coloquei próximas ao meu nariz e inalei
profundamente.

"Obrigado," eu disse.

Eu tinha planejado usar um colar de pérolas de minha mãe, mas Emma e Amy tinham me
convencido que era muito Cidade e Campo, assim que eu estava com um longo colar de pérolas
de cristal que enrolava em volta do meu pescoço como uma gargantilha, em seguida caia no
meio das minhas costas.

"Olhe", Amy disse quando eu estava finalmente equipada para sua satisfação, "algo velho, algo
novo, algo emprestado, algo azul".

"É um casamento, sua louca", disse Emma. "Não um baile".

Amy deu de ombros. "Tanto faz".

Emma e Amy tinham trabalhado em meu cabelo, me ajudando a colocá-lo em um coque, de


alta dificuldade. Elas queriam que parecesse como uma foto que elas tinham visto na
TeenVogue da Princesa de Liechtenstein (embora pudesse ter sido Roménia - elas eram vagas
sobre os detalhes geográficos). Lembrando ou não a realeza européia, eu devo ter olhado muito
bem porque Connor se manteve piscando para mim e sorrindo. Ele estava piscando e sorrindo
para Madison e Jessica, também, dizendo-lhes o quão quente elas estavam e quão sortudos Matt
e Dave eram.

"Olá, crianças!" Kathryn gritou, acenando para todos no gramado da plataforma. Eu não sei se
ela tinha estado bebendo acima das escalas de Jessica, mas ela estava mais do que um pouco
insegura sobre seus saltos extremamente altos. E enquanto o resto de nós estava usando
vestidos longos, o vestido de Kathryn ("vestido") era curto. Muito curto. Era tão curto que,
quando ela parou de acenar e começou a rir, meu primeiro pensamento foi que ela estava
envergonhada porque ela tinha descido sem sua saia.

Connor não pareceu se importar, no entanto. Quando Kathryn atravessou o gramado para dar
um oi para nós, Connor deu-lhe o mesmo sorriso que ele tinha dado a mim, Jessica, e Madison.
Quando ele disse a ela o quão quente ela estava, Kathryn riu.

"Pare", disse ela. "Estou envergonhada." Então ela lhe deu um abraço nada amigável, e eu me
perguntei se o cumprimento de Connor tinha incentivado em Kathryn a idéia de que eu estava
indo de stag e ela estava com um acompanhante.

As limusines começaram a chegar às sete.

"Vamos, rapazes, gritou Jessica. "Vamos lá".

Madison começou a manobrar Matt para a frente. Eu caminhei até onde meu pai e Mara
estavam conversando com os pais de Connor.

Sra. Pearson estendeu a mão. "Olá, Lucy", disse ela. "É muito bom finalmente conhecer você."

"É bom finalmente conhecê-la também", eu disse. Diziam que ninguém conhecia um cara como
sua mãe, então eu fiquei tentada a perguntar a Sra. Pearson se ela achava que era um pouco
estranho que Connor passasse a maior parte do coquetel tentando colocar Kathryn em uma cela.
Mas antes que eu pudesse fazer a pergunta a ela, Jessica veio até mim. "Está na hora", disse ela.

"Oh, certo,‖ eu disse. Virei-me para o meu pai e Mara. "Bem, eu acho que eu deveria ir."

Meu pai me deu um abraço. "Você está linda."

"Obrigado", disse. "E obrigado de novo pela pintura." Olhei por cima do ombro para Mara. "E
obrigado pela armação ", eu disse a ela." É realmente linda."

"Estou feliz que você gosta", disse ela.

"Aqui, deixe-me tirar uma foto", disse Sr. Pearson. Ele se aproximou de mim e do meu pai e
nos colocou um ao lado do outro, colocando a mão do meu pai no meu ombro e envolvendo o
meu braço em torno da cintura do meu pai. Mara estava a poucos metros de distância, e eu
poderia dizer pela forma como ela estava nos observando que ela realmente queria estar na
foto. Fiquei esperando o meu pai chamá-la, mas ele não chamou, ele simplesmente deixou o Sr.
Pearson nos posicionar.

Era tão tentador deixá-la ficar lá.

"Tudo bem", disse Sr. Pearson. Ele deu alguns passos e se virou, posicionando sua câmera de
nós. "Um, dois -"

"Espere!" Eu gritei.

Sr. Pearson moveu a câmera longe do rosto. "Qual é o problema?" ele perguntou.

"Eu só preciso ... espere um segundo." Entrei debaixo do braço do meu pai e fui até
Mara."Venha estar na foto", eu disse.

"Está tudo bem, Lucy", disse ela. "Por que você só não tira uma foto sua e de seu pai. Eu
realmente não me importo."

Ela está dizendo que está tudo bem. Apenas tire a foto sem ela.

Eu balancei minha cabeça. "Não, sério," eu disse. "Eu gostaria de uma de todos nós." E assim
quando eu disse isso, eu percebi que nem sequer era uma mentira total.

Ela e eu nos olhamos por um minuto, e então ela sorriu para mim. Eu sorri de volta."Ok,
então", disse ela.

Ela me seguiu até onde meu pai estava à espera, e nós deixamos o Sr. Pearson nos organizar
para que meu pai estivesse em um lado de mim e Mara estivesse no outro. Assim quando Sr.
Pearson estava prestes a tirar a foto, houve um grito. Olhei na direção que veio para ver Amy e
Emma correndo pelo gramado para onde estávamos. "Espere!" Emma gritou.

"Queremos estar na foto", Amy disse. Elas deslizaram em cada lado de mim e colocaram seus
braços em volta da minha cintura.

"Nós fizemos o cabelo dela", disse Emma para a Sra. Pearson, que estava de pé ao lado de seu
marido.

"Bem, está adorável", disse ela distraidamente.


"Eu fiz o cabelo dela", Amy disse. "Você fez a maquiagem."

"Isso é uma mentira", disse Emma. "Eu totalmente fiz o cabelo dela!"

"Oh meu deus, o que você está falando?" Amy bateu o pé. "Você nem sequer tocou o cabelo
dela."

"Meninas, meninas," disse meu pai. Ele colocou uma mão em cada um dos seus ombros e
empurrou-as para encarar o Sr. Pearson.

"Fiz sim", murmurou Emma.

"Não fez não", respondeu Amy.

"Vamos concentrar aqui", disse meu pai, e eu senti os braços de Emma e Amy se apertarem ao
redor da minha cintura quando eu sorri e Mara disse, "Queijo(Cheese, é a mesma coisa quando
dizemos X aqui."

"Um, dois, três", disse Sr. Pearson. E por um segundo após o disparo clicar todos nós ficamos
exatamente onde estávamos. Uma família.
Capítulo 29

"Ei, cara", disse Connor, quando entramos no saguão do Plaza. Ele sombreou os olhos com a
mão. "Isso é brilhante."

Enquanto nós todos bebiamos polidamente em nossas taças durante o brinde com champanhe
na Madison, como o consumo de álcool não era grande coisa, logo que chegamos na limusine
todos começaram a dar goladas dos frascos que Connor, Dave, e Matt tinham trazido.
Infelizmente um gole do que qualquer que seja que eles estavam bebendo era tudo que eu
poderia segurar. Queimou a minha garganta e eu ofeguei.

"O que é isso?" Eu perguntei


.
"JD, baby", disse ele, batendo o frasco contra o peito e arrotando. "Seu bom e velho amigo Jack
Daniel's."

Nós tínhamos sido avisados de que uma vez que chegássemos ao baile, não poderíamos partir,
então todos queriam beber tanto quanto possível na viagem de trinta minutos para Manhattan.

Kathryn, que aparentemente era uma boa amiga de Jack Daniel's, sentou-se à esquerda de
Connor, enquanto eu me sentei espremida entre ele e a porta da limusine. Quanto mais perto
chegávamos de Manhattan, o vestido de Kathryn subia ainda mais em sua perna e menos
consciente da minha presença Connor pareceu estar.

Eu não sei o que eu tinha esperado, mas baile não estava exatamente indo se transformar na
noite mais mágica da minha vida. Se qualquer coisa, parecia ser como um monte de outras
noites. Logo que chegamos ao hotel, todas as meninas entraram no banheiro e todos os rapazes
entraram no Palm Room. Era quase como se tivéssemos chegado juntos e eles e tivessem vindo
juntos. Estando no banheiro com Madison e Jessica, eu tive a estranha sensação de que nem
mesmo estávamos no baile; estávamos apenas no banheiro do Piazzolla. Quando saíssemos,
estáriamos no familiar linóleo e sala de jantar de madeira, e lá estariam Dave, Connor e Matt
sentados em uma mesa cheia de massa de pizza e guardanapos de papel amassado.

A mesa não tinha qualquer massa de pizza sobre ela, mas quando chegamos lá, os caras tinham
atirado seus guardanapos uns nos outros. Madison estava balístico, e Matt parecia encabulado.
Sentamo-nos, e sem pensar, peguei meu guardanapo do meu prato e o coloquei no meu colo.
Jessica bateu no ombro de Dave e apontou para ele colocar o guardanapo no colo. Então todos
nós ficamos sentados ali, sem dizer nada.

Do outro lado da sala, vi Jane chegar através do portal. Seu vestido era amarelo brilhante, longo
e apertado, com um profundo decote, e ela estava linda. Ela fez uma pausa para examinar o seu
domínio quando Sam caminhou detrás dela. Mesmo ele estando iluminado pela luz do corredor,
eu sabia que era ele porque seu cabelo estava em pé quase em linha reta para cima, como se ele
tivesse puxado-o sem parar durante horas. Quando a porta se fechou atrás dele, vi que ele
estava vestindo vermelhos tênis Converse com seu smoking, e eu não pude deixar de rir de
mim mesma, como se Sam tivesse apenas me contado uma grande piada. Comecei a ficar de
pé, planejamento andar e dizer a ele que eu achava que o tênis era uma boa chamada, mas
quando eu levantei, ele colocou a mão sobre a pequena costa de Jane para levá-la à sua mesa.

E de repente, eu tenho uma sensação ruim no estômago. Por causa da vista de Sam guiando
Jane para o outro lado da sala, eu sabia. Eu sabia. Eu sabia por que, naquele dia no estúdio, ele
foi a pessoa com quem eu tinha imaginado dançar lentamente. Eu sabia porque eu tinha sentido
falta dele quando ele não estava na sala de aula esta semana.

Acima de tudo, eu sabia por que essa noite se sentia nem de longe como a noite mágica da
minha vida.

Eu fiquei onde estava, meio em pé, meio sentada, congelada pelos longos minutos que levaram
Sam e Jane para encontrar a sua mesa. Então eu me forcei a parar de observá-los, cair no meu
lugar, e respirar fundo, incapaz de sair de debaixo da onda quente de tristeza que tinha passado
sobre mim.

"Eles realmente estão ótimos juntos, não é mesmo?"

"Eu sei. Eu amo o vestido dela."

"É tãããão sexy."

Como todo mundo, eu tinha os meus olhos na pista de dança, onde o rei e rainha do baile
estavam dançando. Suas coroas capturaram os raios refletidos do disco de discoteca e enviaram
diamantes de luz ao redor da sala. Seus braços estavam entrelaçados, e eu estava tentando
pensar se eu já tinha ouvido falar de uma cultura onde os irmãos e irmãs dançavam tão perto
quanto Kathryn e Connor estavam dançando. A cada poucos segundos alguém assobiava ou
gritava, "Vá em frente!" ou simplesmente começavam a bater palmas. Kathryn estava
claramente saboreando a atenção. Ela continuou sorrindo e acenando, e quando sua coroa quase
escorregou, ela a pegou e a derrubou novamente em sua cabeça em um gesto gracioso, sem
perder um passo.

Eu podia sentir os olhares de Madison e Jessica mesmo sem olhar para elas. A partir do
segundo que a comissão do baile tinha anunciado os nomes do rei e rainha do baile, elas não
tinham deixado meu lado, me dizendo quão louca a comissão era, como eles só queriam que os
seniores ganhassem, como Connor estava totalmente apaixonado por mim.

"Connor nem mesmo está tendo um bom tempo", disse Jessica. Ela tinha seu braço ao meu
redor, e ela apertou meu ombro.

"Eu acho que eles parecem realmente desajeitados juntos", disse Madison. "Ela é muito baixa
para ele."

"Me desculpe", eu disse. "Eu estou indo para o banheiro."

"Você nos quer junto?" perguntou Jessica.

Eu balancei minha cabeça. "Eu já volto."

O corredor estava silencioso e vazio. Eu passei minha mão ao longo do trilho de cadeiras
elaboradas, apreciando como os meus saltos afundavam no tapete macio.

Era a primeira coisa que eu tinha apreciado toda a noite.

Jessica e Madison não poderiam ter estado mais erradas: Kathryn e Connor pareciam ótimos em
conjunto.Ela tinha nascido para ser rainha do baile. E ele tinha nascido para ser rei do baile.
Que eles estavam cumprindo o seus destinos era inegável.
Igualmente inegável era o quão pouco de ciúme eu sentia.

A única coisa que eu senti era alívio. Total e completo alivio. Eu não queria ir para os
Hamptons e assistir Connor, Dave e Matt ficarem bêbados. Eu não queria mais me preocupar se
eu gostava ou não de beijar Connor.

E acima de tudo, eu não queria falar sobre basquete. Agora não. E não por um longo, longo
tempo.

A temporada acabou. Era hora de começar uma vida real.

Quando me aproximei da esquina, ouvi uma voz de menina. Ela não estava gritando,
exatamente, mas ela estava definitivamente chateada.

"... acredito quando você disse aquilo."

Eu virei a esquina. Sam e Jane estavam no corredor, a meio caminho entre mim e o banheiro.
Ele estava encostado na parede, braços cruzados, e ela estava sentada em um sofá baixo na
frente dele.

"Jane", disse ele, "você não está me escutando."

Eu parei no meu caminho. Mesmo que a minha invasão da conversa deles tenha sido um
acidente total, eu me senti sorrateira, como se eu tivesse espiando. Tão rápida e silenciosamente
como possível, eu escorreguei na esquina e caminhei na direção de onde eu tinha vindo.

Kathryn e Connor estavam cercados por outros casais que se aglomeraram na pista de dança,
mas por causa de suas coroas ainda era fácil identificá-los. Os braços dela estavam ao redor dos
ombros deles, e ela tinha os dedos de uma mão enterrados nos cabelos dele. Fui até eles e o
toquei no ombro.

"Ei, Red", disse ele. "Como está?"

"Eu acho que eu estou indo, Connor", eu disse.

Connor olhou para mim, os olhos avermelhados. "Você está partindo, Red?‖

"Sim, eu só não acho que consigo ir nos Hamptons". Kathryn não se incomodou em esconder o
fato de que ela estava ouvindo, nem que ela tentou esconder o sorriso de gato Cheshire(O
sorriso do gato de Alice no país das maravilhas), que o meu anúncio suscitou.

"Claro, Red," ele disse enquanto balançava para frente e para trás com a música. "Não se
preocupe."

Eu fiquei na ponta dos pés e o beijei levemente no rosto, me perguntando se ele tinha notado
que alguém mais estaria dizendo eu sou quando ele perguntasse, Quem é a minha garota?

"A gente se vê, Connor," eu disse.

"Sim", disse ele, ainda dançando com Kathryn. "A gente se vê"

Atravessando o salão do Hotel Plaza, eu percebi que na escola na segunda-feira tudo seria da
forma que tinha sido antes de Connor reparar em mim. Eu já podia ver Jessica e Madison
correndo para encontrar Kathryn, muito ocupadas fazendo amizade com a nova namorada de
Connor para se preocuparem com a antiga. Por um segundo eu me senti triste, pensando sobre o
quão solitário o almoço ia ser. Mas depois me lembrei - jantar. Meu pai estaria em casa para o
jantar. E na hora do almoço eu não tinha que me sentar sozinha no refeitório se eu não quisesse,
eu poderia simplesmente ir para o estúdio e trabalhar na minha paisagem. Então, talvez tudo
ficasse bem. Talvez no fim, era melhor ter uma madrasta chata e nenhum príncipe do que uma
madrasta malvada e um príncipe chato.

Pouco antes de eu puxar a porta aberta, senti uma mão nas minhas costas. Eu me virei com o
nome de Connor já nos meus lábios.

"Connor, eu não -" Mas não era Connor. Era Sam.

"Hey," ele disse, um pouco ofegante.

"Ei,‖ eu disse.

"Eu só ..." Ele limpou a garganta e respirou fundo. "Eu só tenho que ..." Ele me olhou, olhou
para longe, olhou de volta para mim. "Eu ..." Ele riu. "Eu não posso acreditar que eu estou
fazendo isso." Ele colocou a mão nos seus óculos e os tirou. "Isso vai ser mais fácil se você
estiver embaçada." Eu tive um segundo para perceber como seus olhos eram escuros, antes de
ele desviar o olhar novamente. "Olha, eu sei que isso vai parecer loucura, mas a coisa é, eu
gosto você ". Ele riu com o que ele tinha acabado de dizer. "Eu sei que é uma forma
incrivelmente sétima série de colocar isso, e eu sei que você tem um namorado, e eu tinha uma
namorada até a poucos minutos. E eu sei que esse é totalmente o momento errado para tudo o
que eu estou dizendo, mas isso tem estado na minha mente por semanas, e agora estou prestes a
partir, e se eu não disser isso hoje a noite, eu nunca vou levantar a coragem de dizer
novamente. Então. Eu gosto de você. E se algum dia você quiser dar o fora no seu atual
Príncipe Encantado, eu espero que você pense em me deixar fazer uma entrevista para a
posição.‖

O QUÊ? ―Sam, eu - "

Ele colocou os óculos de volta no rosto e deu um passo em direção à porta. "Tudo bem", disse
ele. "Agora que eu estou completamente envergonhado de mim mesmo, eu vou deixar você
voltar para a sua vida de conto de fadas". Ele fez um elaborado arco e se virou para ir embora.

―Sam, espere!" Eu praticamente tive que correr para alcançá-lo. O salto do meu sapato ficou
preso no tapete, e eu teria caído se ele não tivesse me agarrado.

"Whoa", disse ele, segurando-me pelo cotovelo. "Cuidado".

"Sam?" Eu disse, olhando em seus olhos.

"Lucy?‖ ele disse, olhando diretamente de volta para mim.

Eu tomei uma respiração profunda. "Sam, vamos explodir este conto de fadas."

Ele riu incerto, depois parou quando viu a expressão no meu rosto. "Sério?" ele perguntou.

"Sério,‖ eu disse.

Mas quando nos viramos para ir embora, eu percebi que havia mais uma coisa que eu precisava
fazer. Só porque eu tinha certeza que elas iam começar a me ignorar na segunda-feira não
significa que estava bem sair sem dizer adeus.

"Você poderia me dar um segundo?"

"Claro", disse Sam. "Te encontro perto da porta."

Olhei em volta, finalmente localizando-as na pista de dança. Logo que me viu, Madison
agarrou meu braço. "Hey," ela disse, "Onde você estava? Você não estava no banheiro."

"Você está bem?" perguntou Jessica. "Connor está sendo um burro total". Olhei por trás dela
para onde Kathryn e Connor não estavam dançando tanto quanto eles estavam em um lugar,
abraçados.

"Não, ele não está", eu disse. "Eu acho que ele realmente gosta dela."

"Você está louca?" Jessica pegou minhas duas mãos nas delas. "Ele gosta de você."

"A coisa é, Jessica, ele nem mesmo me conhece." Eu soltei as mãos dela desde que eu sabia a
próxima frase da minha boca provavelmente faria com que ela quisesse soltar a minha. "E de
qualquer maneira, não importa, porque eu realmente não gosto dele."

Os olhos de Jessica ficaram enormes, e Madison apertou suas mãos contra o peito. "Você não
gosta?" Elas perguntaram em uníssono.

"Então, de quem você gosta?" perguntou Jessica.

"Eu gosto ..." Sem o meu consentimento, meus olhos encontraram Sam de pé perto da porta.
Ele acenou para mim.

Jessica viu. "Você gosta de Sam Wolff? De jeito nenhum.''

Eu dei-lhe um sorriso minúsculo. "Gosto", eu disse.

Jessica considerou o que eu disse. "Mas ele não apenas olha para você e não diz nada? Como
você pode saber que gosta dele?"

Eu ri. "Ele não diz nada."

E então, como um personagem de uma história em quadrinhos que de repente recebe uma
lâmpada acesa sobre a cabeça, Jessica gritou: "Oh, eu sei! É porque você dois estão em arte e
coisas." Ela assentiu com a cabeça para enfatizar a exatidão de seu discernimento.

"Totalmente", disse Madison, acenando também. Ela olhou para Sam e estreitou os olhos.
Então ela olhou para mim. "Na verdade, ele é bonitinho", disse ela.

"Obrigado", eu disse. Eu deixei meus olhos descansar em Sam por um segundo antes de voltar
para Madison e Jessica. "Bem, se divirtam nos Hamptons.‖

"Eu queria que você fosse", disse Madison. "Você tem que nos ligar enquanto estivermos lá."

"E você vai vir no domingo à noite", disse Jessica. "Assim, podemos interrogar".
"Sério?" Eu disse, surpresa.

"O que você quer dizer, 'sério'?" Madison parecia confusa.

"Sim", disse Jessica. "Quero dizer, nós não vamos vê-la por todo o fim de semana." Ela e
Madison me abraçaram. Antes de me deixar ir, Jessica me deu um último conselho.

"Se a sua madrasta disser que você não pode vir domingo, apenas amarre-a e tranque-a no
armário."

"Eu não acho que vou chegar a esse ponto", disse. "Vejo vocês no domingo."

E quando eu cruzei o salão, eu senti um tremendo impulso de alegria. Quem iria saber que você
pode dar o fora no seu príncipe e ainda manter sua fiel corte?

Lá fora o vento estava chicoteando poucas pálidas nuvens no céu, que estava brilhante com a
lua quase cheia. Uma fila de carruagens puxadas por cavalos estava alinhada do outro lado da
rua, esperando para levar as pessoas em passeios pelo Central Park.

"Eu não posso acreditar que isso está acontecendo", disse Sam. Ele pegou minha mão e fez um
gesto com ela para os cavalos. "Então, o que você acha? Quer andar no por do sol em um lindo
cavalo ligeiramente anêmico?‖

Peguei a outra mão dele na minha e o virei para me encarar. "Olha, você deveria saber.
Acontece que eu realmente não tenho uma madrasta malvada", eu disse. "Então eu não acredito
mais em contos de fadas."

"Sério?" Ele franziu a testa. "Sem feitiços mágicos?" Eu balancei minha cabeça. "Sem fadas
madrinhas?" Sacudi novamente. "O que aconteceu? Ding-dong a bruxa está morta."

Eu ri. "Ela não está morta." Olhei para a rua, como se a resposta à pergunta de Sam estivesse
escondida em algum lugar no parque. Quando ela não surgiu, eu só encolhi os ombros. "Eu não
sei", eu disse. "É como se tudo tivesse mudado, mas nada mudou, você sabe o que quero
dizer?"

Sam balançou a cabeça. "Sim, eu sei exatamente."

Sam colocou as mãos em ambos os lados do meu rosto. "Bem, de qualquer maneira, estou
feliz", disse ele. "Deve ser realmente chato ter uma madrasta malvada". Ele me beijou
levemente nos lábios. "Mais uma vez, eu não teria me importado em ser seu Príncipe
Encantado."

Passei meus braços sobre os ombros dele e toquei seu cabelo macio e encaracolado. "Oh, sim,
você teria," eu disse.

Sam passou seus braços em volta da minha cintura e encostou sua testa contra a minha. "Bem,
se você ainda quer ser uma princesa, tudo bem por mim."

Eu considerei isso por um segundo. "Você sabe, eu acho que vou passar", eu disse.

"Doce você", disse Sam. E então, quando estávamos a ponto de nos beijar, ele congelou.
"Espere, nós ainda conseguiremos ter o final feliz, certo?"
"Oh, definitivamente", disse eu, inclinando meu rosto até o dele. "Nós definitivamente
conseguiremos ter o final feliz."

FIM!!!!

Créditos
Comunidade Traduções de Livros
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Tradutor:Letícia
[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=3049810646327686758]
Tradutor:Juliana
[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=2713339427589710285]
Tradutor:Carol
[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=8767032667957141107]
Tradutor:Marina
[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=5864430758438116047]
Tradutor:Julya
[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=16776834213471241757]
Tradutor:Bela
[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=2589355548699632123]
Tradutor:Rafa
[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=2821954478852063405]
Revisora: Si Costa
[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=16940845770447372255]

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