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Nome: Grêmio Recreativo Cacique de Ramos

Localização : Rua Uranos nº 1326, Olaria - Rio de Janeiro


Inauguração : Fundado em 20 de janeiro de 1961.
Origem: Bloco de Carnaval
Uso Atual: Bloco de Carnaval e Centro Cultural.

Justificativa

A relevância deste inventario está na possibilidade de identificar os elementos simbólicos do


subúrbio bem como da cultura africana, que formam o conjunto sociocultural, relativos ao
samba, perpassam o imaginário dos indivíduos como algo que os fazem sentir parte do mundo,
ou seja, que norteia a identidade social dos sambistas e da comunidade a qual pertencem,
através dessa identificação. Moro no subúrbio e nasci muito perto da quadra do Cacique de
Ramos, pude vivenciar seu renascimento após um longo período de inatividade e sua
importância para o bairro. O Cacique de Ramos é um símbolo de resistência cultural e de
acolhimento da raça negra e do samba.

Equipe

Para a construção dos dados que foram empregados, utilizei uma equipe de 3 pessoas. Essas
analises foram realizada na quadra do Cacique de Ramos. Os principais aspectos observados
foram: o cenário; as pessoas e suas condutas, as regras do grupo social, as formas de
transgressões, flexibilizações e permanências; as relações entre os sujeitos, entre os sujeitos e
o espaço; a preservação, a importância para o bairro de Ramos.

História

Fundado em 20 de janeiro de 1961, o Cacique de Ramos nasceu sobre a sombra de uma


Tamarineira, não por acaso sua fundação coincide com o aniversário do padroeiro da cidade
do Rio de Janeiro, São Sebastião. No sincretismo religioso do candomblé, São Sebastião
representa Oxóssi. “Tendo como padroeiro São Sebastião, e dai ser fundado em 20 de janeiro
de 1961 por três famílias: família Félix do Nascimento ( Bira, Ubirany e Ubiraci), família Oliveira
(Walter, Chiquita, Sereno, Alomar, Jorginho e Mauro), família Espírito Santo (Aymoré e
Conceição). Pode-se dar destaque também a outras pessoas importantes na fundação e nas
apresentações como a mãe de Bira Presidente, Conceição de Souza Nascimento, filha de santo
de Mãe Menininha do Gantois, que preparava todo o lado espiritual dos componentes do
grupo através de preceitos e patuás, e mestre Dinho do Apito, diretor de bateria. Aliás,
segundo consta, o Cacique floresceu depois que D. Conceição benzeu a tamarineira, árvore
simbolo do bloco. Reza a lenda que quem for lá, se tiver talento, ficará famoso.”
(cantorasueligushi, 2011). Um dos Fundadores, Ubiracy o “Bira presidente” da família Felix do
Nascimento diz em depoimento: “Minha mãe, Conceição, foi uma das primeiras filhas de santo
da Mãe Menininha do Gantois. Ela colocou um preceito aqui dentro da árvore, que quem
viesse com um dote seria identificado e se tornaria uma pessoa famosa”, explica Bira.
(multirio, 2017). Esse sincretismo religioso já é característica, dos primórdios do samba na qual
bênçãos, trabalhos e musicas eram feitos e criados em terreiros de candomblé. Segundo o
pesquisador musical Ricardo Cravo Albin ilustra em seu dicionário que “A própria Mãe
Menininha do Gantois foi quem abençoou e fez um trabalho nos pés da tamarineira (árvore
em torno da qual aconteciam as famosas rodas de sambas da agremiação). O bloco não tem
samba-enredo e temas desenvolvidos pelos compositores. Em 1962, o tema do desfile foi
"Água na boca", samba de autoria de Agildo Mendes, que se tornou o hino do bloco. Outros
temas foram "Arco e flecha" e "Querem me derrubar ", ambos de autoria de Chiquita;
"Coisinha do pai", de Almir Guineto, Luíz Carlos e Jorge Aragão; "Vou festejar", de autoria de
Jorge Aragão, Dida e Neoci Dias; "Chinelo novo", de (João Nogueira e Niltinho Tristeza). Mais
tarde, vários desses sambas foram gravados com sucesso nas vozes de outros intérpretes da
música popular brasileira. Por sua ala de compositores passaram Jorge Aragão, Niltinho
Tristeza, João Nogueira, Dida, Neoci Dias, Almir Guineto, João Nogueira, Sereno, Agildo
Mendes, Chiquita, Marcílio, Bira Presidente, Wastir e Valdir. Sua fantasia é composta das
cores preta, branca e detalhes de cor vermelha, tendo como base a defesa e o resgate da
cultura do índio brasileiro.” (Albin, 2006). Podemos dizer que o Cacique de Ramos, não só
mudou a estética dos blocos de carnaval, mais através dos seus compositores e a roda de
samba da tamarineira, a introdução de 2 instrumentos ( o Banjo por Almir Guineto e o Tantan
por Sereno ) vinha a ser criado o pagode. “Surgia assim o grupo Fundo de Quintal, composto
por alguns desses compositores, Tendo em sua primeira formação Jorge Aragão, Almir
Guineto, Sereno, Neoci Dias (filho de João da Baiana), Bira Presidente, Ubirany e Sombrinha.”
(cantorasueligushi, 2011).

O Tombamento

O tombamento ocorreu no dia 11 de Dezembro de 2009, em âmbito municipal. A agremiação


ganhou, ainda, a permissão de uso do terreno, que é da prefeitura, por mais 50 anos, e teve a
sede reformada para que passe se a funcionar como Centro Cultural.

“DECRETO Nº 31565 DE 11 DE DEZEMBRO DE 2009

Determina o tombamento do imóvel situado na Rua Uranos nº 1326, em Olaria.

O PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, no uso de suas atribuições legais,

CONSIDERANDO a importância cultural do Grêmio Recreativo Cacique de Ramos,

histórica e tradicional agremiação do carnaval carioca;

CONSIDERANDO que o local ora tombado é sede do Grêmio Recreativo Cacique

de Ramos desde os anos setenta;

CONSIDERANDO que o Grêmio Recreativo Cacique de Ramos foi e continua

sendo um importante reduto de criação musical e exemplo de organização

popular, centro de festas e de afirmação de tradições de diversas ordens;

CONSIDERANDO que, na quadra do Grêmio Recreativo Cacique de Ramos,

tivemos um dos epicentros do que acabou sendo qualificado com o "movimento


de pagode" - reunião de sambistas para fazer samba - com forte presença na

imprensa, na indústria fonográfica e nas rádios, em níveis local, nacional e até

internacional;

CONSIDERANDO que, desde os anos sessenta, o Bloco Cacique de Ramos,

utilizando-se da ideia e da figura do índio, através da confraternização entre

amigos de familiares da população carioca, vêm "catequizando" o carnaval

carioca;

CONSIDERANDO que, pela ala de compositores do Grêmio Recreativo Cacique de

Ramos, passaram diversos baluartes da música brasileira, tais como: Jorge

Aragão, Niltinho Tristeza, João Nogueira, Dida, Neoci Dias, Almir Guineto, João

Nogueira, Sereno, Agildo Mendes, Chiquita, Marcílio, Bira Presidente, Wastir e

Valdir;

CONSIDERANDO que, no início da década de setenta e parte da década de

oitenta, o Pagode da Tamarineira, realizado nas quartas-feiras na quadra do

Bloco, reunia diversos compositores e intérpretes, que mais tarde se tornaram

artistas reconhecidos na MPB: Jorge Aragão, Almir Guineto, Zeca Pagodinho,

Marquinhos Satã, Luiz Carlos da Vila, Arlindo Cruz, Sombrinha, Sombra, Jovelina

Pérola Negra, Pedrinho da Flor, Adilson Victor, Carlos Sapato e, na época, ainda

crianças levadas pelos pais, Andrezinho do Molejo (filho de mestre André), Dudu

Nobre (filho de João e Anita), Waguinho e Anderson do Molejo;

CONSIDERANDO que, graças ao sucesso do Bloco de Cacique de Ramos, a

Cidade do Rio de Janeiro "exportou" os famosos "blocos de índio" para diversas

cidades brasileiras, todos tematizando e atualizando esse índio plural, articulado

com a indústria cultural e com os rituais religiosos.

DECRETA:

Art. 1º Fica tombado o imóvel situado à Rua Uranos nº 1326, em Olaria.

Art. 2º Quaisquer obras ou intervenções no bem citado no art. 1º deverão ser


previamente analisadas e autorizadas pelo Conselho Municipal de Proteção do

Patrimônio Cultural.

Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 2009 - 445º da Fundação da Cidade.

EDUARDO PAES

D.O.RIO 14.12.2009” (rio, 2009)

O bloco completou 50 anos em janeiro de 2011. O presidente do Cacique de Ramos, ”Bira”


disse que lutava desde o fim da década de 70 para que o bloco fosse tombado como
patrimônio cultural. “No dia 27/09/2010, o prefeito Eduardo Paes, foi à nova sede do
tradicional bloco Cacique de Ramos. A pedido dos moradores, a quadra recebeu uma
cobertura e também passa a contar com um centro cultural, espaço de convivência erguido no
edifício-sede. Com investimento superior a R$ 1 milhão, a reforma, executada pela Riourbe,
também beneficiou os alunos da Escola Municipal Clóvis Beviláqua, vizinha da agremiação, que
passaram utilizar a quadra durante a semana para a prática de esportes.”(rio, 2010). Um
espaço anexo foi projetado em leve estrutura de aço, revestido com chapas pintadas com as
cores do bloco. O local recebe os visitantes e serve como ante-sala para eventos e ensaios da
agremiação, além de abrigar as tradicionais feijoadas de domingo. O espaço também abriga
exposições de fotografias de carnavais antigos. Além disso, a fachada da agremiação voltou a
exibir as características originais da época de sua construção. A entrada do grêmio, bem como
seu entorno e espaço anexo, receberam tratamento paisagístico, novo mobiliário e melhorias
nos acessos.

Conclusão

Hoje Cacique é um símbolo de resistência e divulgação do samba carioca, sendo motivo de


admiração e orgulho para seus frequentadores e vizinhos da quadra. Envolta em misticismo, a
tamarineira torna-se um símbolo de identificação do local, assumindo significado de elemento
quase sagrado, de respeito, benção e sorte. As interações entre frequentadores, vizinhos,
comerciantes e o Cacique de Ramos revelam as mais diversas relações de poder e transmissão
de valores entre esses sujeitos. Dessa forma, concluiu-se que o Cacique de Ramos, por ser um
componente marcante da identidade cultural carioca de difusor de tradições, permite
busquem a melhor compreensão de suas dimensões como elemento e como patrimônio
imaterial.
Bibliografia:

Dados Artísticos. Dicionário MPB, sem data. Disponível em:


<http://dicionariompb.com.br/bloco-carnavalesco-cacique-de-ramos/dados-artisticos>. Acesso
em: 04 out. 2018.

Cacique de Ramos e Cordão do Bola Preta Patrimônios do Carnaval Carioca, Multirio, 2015.
Disponível em: <http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-
artigos/reportagens/1029-cacique-de-ramos-e-cordao-da-bola-preta-patrimonios-do-carnaval-
carioca>. Acesso em: 04 out. 2018.

Cacique de Ramos, Mais de 50 Anos de Samba. Eu Canto Samba, 2011. Disponível em:
<http://cantorasueligushi.blogspot.com/2011/01/cacique-de-ramos-50-anos-de-
historia.html>. Acesso em: 03 out. 2018.

Prefeitura entrega nova sede do Cacique de Ramos. Prefeitura do Rio de Janeiro, 2010.
Disponível em: <http://www.rio.rj.gov.br/web/guest/exibeconteudo?id=1164391>. Acesso
em: 04 out. 2018.

Decreto 281. Prefeitura do Rio de Janeiro, 2009. Disponível em:


<http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4722991/4122115/281DECRETO31565GremioRecrea
tivoCaciquedeRamos.pdf>. Acesso em: 02 out. 2018.

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