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Fuga, manifestação e propósito: A experiência de Elias e a nossa

1Reis 19. 9 – 18

Começo essa reflexão como uma frase de Peter Scazzero (Autor de igreja emocionalmente
saudável) a respeito da fuga: Alguns de nós fogem, enterrando a dor em alguma forma de vício,
evitando a vida ao focar apenas uma pequena parte dela. Muitos cristãos sofrem, mas fogem da
dor ou a anestesiam. Quantos pastores amortecem as dores da vida, viciando-se em edificar a
igreja? Quantas pessoas investem zelosamente sua energia em um ministério da igreja como
forma de evitar certos relacionamentos desagradáveis em casa? Quantas mulheres mergulham
no cuidado dos filhos para não ter de encarar com honestidade outras áreas destruídas da vida?
Quantos homens concentram toda a sua energia em serem bem sucedidos na profissão e falham
miseravelmente em casa?

É interessante essa percepção do Peter Scazerro, porque de fato, podemos fugir sem que
necessariamente nos movamos para algum lugar distante. Fugimos de nós mesmos! Fugimos de
encarar aquilo que nos desestabiliza! Fugimos da resolução de conflitos! Seja qual for os motivos
que nos levam à fuga é preciso que saibamos de uma coisa: Não se pode fugir de Deus! Vimos
no mês passado que por mais que houvesse tentado, Jonas não conseguiu fugir! Jacó não
conseguiu fugir! Moises não conseguiu fugir e como veremos hoje, Elias não conseguiu fugir.

Seja na fuga do próprio Deus, seja na fuga existencial que as circunstâncias da vida nos
impõe, Deus se manifesta para nos fazer perceber a sua vontade de modo que possamos
aprender neste relacionamento com Ele, encontrarmos o propósito da nossa própria existência.

Qual é o propósito da sua vida? Qual é o propósito de nossas vidas? Podemos encontrar
de forma doutrinaria a resposta para esta pergunta no breve catecismo de Westminster que nos
ensina que o fim principal do homem (o propósito de sua vida) é glorificar a Deus e alegra-se nele
para sempre. Mas essa resposta deixa claro o quanto, como seres humanos, fugimos de
diferentes formas de cumprir este propósito. A fuga de Elias, também o impedia de cumprir o
propósito de sua vida, conforme explicitado no breve catecismo. Com Elias aprendemos que:

1) Fugimos quando o medo nos impede de crer no poder de Deus

Tendo plena convicção do seu chamado, sabendo a quem servia, Elias desafiou o Rei Acabe
e os seus profetas que eram adoradores de um deus chamado Baal. No monte Carmelo a prova
dos nove fosse tirada. Ali, Elias queria demonstrar a todos, qual Deus era o Deus verdadeiro e
naquele contexto, o Deus verdadeiro seria aquele que respondesse às orações dos seus profetas
com o fogo que queimaria o holocausto.
Apesar das varias tentativas, baal não respondeu ao clamor de seus profetas, ao passo que
ao clamor do profeta Elias, Deus respondeu e diante dessa resposta os quatrocentos e cinqüenta
profetas de Baal foram exterminados. Elias testemunhou o poder de Deus de maneira poderosa!

Entretanto, apesar disso, após aquele evento, mediante a ameaça de morte por parte da
esposado do Rei Acabe, Elias foi tomado por um medo mortífero e fugiu. Ele fugiu, porque o
medo, o impediu de crer e de perceber o poder de Deus. Parece que ele havia deletado de sua
mente, o que a pouco havia acontecido, o que a pouco Deus havia feito demonstrando o seu
poder.

Conosco não é diferente! Em alguns momentos da nossa jornada espiritual, percebemos com
muita clareza o poder de Deus, parece que adentramos ao terceiro céu. Somos tomados por uma
fé no poder de Deus que nos capacita no enfrentamento dos mais variados problemas da vida,
com a plena convicção de que já temos a vitoria antes do fim. Repetimos com fé, “tudo posso
naquele que me fortalece”.

Em outros momentos, somos tomados pelo medo! Pelo esfriamento espiritual! A dúvida sonda
os nossos corações e chegamos a formular algumas perguntas como: “Onde está Deus, quando
sofremos?” ou “Deus realmente existe”. Este medo que mina a fé nos faz fugir do propósito de
Deus para as nossas vidas, de modo que nos escondemos em tantas coisas e deixamos de
existir como pessoas. Pensemos nisso, meu querido irmão e irmã! Com Elias aprendemos que:

2) Em nosso medo paralisante Deus se manifesta para nos encorajar

Elias ficou extremamente paralisado em seu medo! Acho até que o medo de Elias acabou
desenvolvendo nele certa “depressão”, pois algumas características deste fenômeno se
percebem no seu modo de agir, em sua vontade constante de dormir, de se isolar na caverna e
de desejar para si a morte.

Foi mediante este quadro depressivo que o arrastava para a morte, que Deus se manifestou
de diferentes maneiras para o reerguer, para o animar e para o tirar daquela condição. Por meio
dos anjos, Deus o alimentou, o instruiu para a caminhada e se manifestou no monte, no mesmo
monte onde no passado havia se manifestado à Moises.

Naquele monte, Deus o surpreendeu, pois não se manifestou das formas esperadas por ele.
Não se manifestou no vento, nem no terremoto, nem tão pouco no fogo, formas habituais da
manifestação divina que nós chamamos de “teofania”, mas no sussurro calmo e suave. É de
forma calma, suave e imprevisível que Deus se manifestou e ouviu as queixas de Elias.
Em nosso contexto, muitas coisas podem nos causar este medo paralisante. Estamos
enfrentando uma pandemia, tomamos conhecimento de que pessoas estão morrendo, familiares
estão sofrendo e em decorrência disso a economia não vai bem. Pessoas passam fome! Outras
encontram-se exauridas devido a rotina de trabalho. Poderíamos falar por muito tempo sobre o
nosso contexto e o medo que ele é capaz de proporcionar a todos nós.

Entretanto, é preciso que estejamos atentos, pois nossos temores podem nos conduzir a um
estado de letargia, a uma condição depressiva que mina a nossa vontade de viver. Os nossos
temores podem nos impedir de perceber onde, quando e como Deus se manifesta para ouvir as
nossas queixas.

Talvez desejássemos que Deus de forma potente (como o fogo), de forma barulhenta (como o
vento e o terremoto) se manifestasse e nos livrasse desta situação, mas o Deus que é livre em
suas maneiras de se manifestar pode estar querendo te falar nesta noite por meio de um sussurro
calmo e suave, da mesma forma que falou com Elias. Com Elias aprendemos que:

3) Quando confiamos em Deus resgatamos uma visão equilibrada da realidade

Nos dois momentos em que Elias se queixou, quando perguntado por Deus sobre o motivo de
estar ali naquele monte, podemos perceber que ele tinha devido ao seu medo, uma visão
deturpada da realidade, uma visão que o aprisionou e quase fez com que ele desistisse da vida.
Ele repetia insistentemente que diante de tanta gente ruim ele estava sozinho.

Mas foi mediante aquela conversa com Deus, foi mediante aquela manifestação que
transforma o ser, manifestação que restaura a vida, que Elias pode novamente ouvir a ordem de
Deus e obedecê-la.

Havia um propósito para a vida de Elias e por certo ele não morreria até que aquele propósito
se cumprisse. Assim, obediente a Deus ele retornou e viveu os propósitos de Deus para a sua
vida e percebeu no desenvolvimento deste propósito que ele não estava só, pois além de Hazael
e Jeú, reis que seriam o juízo de Deus sobre a nação, Elizeu e mais sete mil pessoas não haviam
se dobrado aos deuses e em especial ao deus Baal. Em obediência a Deus, Elias pode resgatar
uma visão equilibrada da realidade e viver os propósitos de Deus para a sua vida.

Não permitamos irmãos e irmãs, que o medo nos domine de tal modo que não consigamos
mais enxergarmos a vida sob um prisma positivo. Antes, com todas as implicações que uma
circunstância de crise provoca, sejamos obedientes a Deus, não nos cansemos de fazer o bem,
na certeza de que no momento certo a colheita virá.

Não nos cansemos de viver os propósitos de Deus para as nossas vidas. E que na obediência
a voz de Deus, possamos recuperar uma visão equilibrada da vida de modo que percebamos,
ainda na tragédia, o Deus que caminha conosco, o Deus que nos ajuda a enxergar que não
estamos sós e que junto a nós existem outras pessoas que foram tocadas por Ele, para viver os
seus propósitos.

Conclusão

Muitas pessoas fogem de outras pessoas! Muitas pessoas fogem de situações


desconfortáveis! Muitas pessoas fogem de si mesmas, pois na profundidade do seu ser, existem
assuntos que precisam ser trazidos a tona e resolvidos.

Existem fugas perceptíveis, fugas que são tão visíveis aos olhos dos outros que determinadas
pessoas no afã de nos ajudar se achegam e dizem: “para de fugir!”. Existem fugas não tão
perceptíveis, são aquelas fugas subjetivas, são aquelas fugas de algo que incomoda o nosso ser
interior e de algo que apenas nós e Deus sabemos. Neste caso, é o próprio Deus que se achega
a nós e diz: “pare de fugir”.

Em ultima instância, irmãos e irmãs, se o propósito da vida está em Deus, seja qual for a
nossa fuga, fugimos de Deus e da sua vontade para as nossas vidas. Portanto, quero terminar
essa reflexão e esta serie de mensagens com um poema de Francis Thompson.

O cão de caça do céu

Dele fugi, noites e dias adentro;


Dele fugi, pelos arcos dos anos;
Dele fugi, pelos caminhos dos labirintos de minha própria mente;
E no meio de lágrimas, Dele me ocultei, e sob riso incessante.
Por sobre esperanças panorâmicas corri;
E lancei-me, precipitado, para baixo de titânicas trevas de temores abissais,
Para longe daqueles fortes Pés que seguiam, Seguiam após mim.
Mas com desapressada perseguição, E com inabalável ritmo,
Deliberada velocidade, majestosa urgência,
Eles marcavam os passos - e uma Voz insistia Mais urgente que os Pés -"Tudo no mundo te
atraiçoa quando tu me trais!...
Tudo foge de ti quando foges de Mim...
Ah, pobre cego e insensato! Aquela treva que parecia envolver a tua vida, nada mais era que a
sombra de minhas mãos, Estendidas para abraçar-te!

Que em nossas fugas, Deus nos alcance e que mediante o seu abraço, o seu afago,
aprendamos a viver para honra e gloria do seu Nome. Que Ele, assim nos ajude e nos abençoe,
amém!

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