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REVISTA
lio

no

Rio G r a q d e d o Norte
P II N 1) a 1) O E M '2 9 O E M R R Ç O D E 1 9 0
Volume IX -Numero 1 e 2
1911

NATAL
Tvpcgrapbla do Instituto Jiistoricc
1913
Desembargador Vicente S. Herein« de Lemos
Presidente do Instituto.
D I R E C T O R I A DO I N S T I T U T O

ANNO SOCIAL I»1 IQ I 1 A IQI 2

PRESIDENTE

TH'MmhnrgHdnr Vlcfnt«- 8, Ptrelr» de Lento*

VICE P R E S I D E N T E
I- nesemh,.rgiiflor Lull M. !*«rnn ndi* $t>hrinho
'J Cqronfl Pedro äonrv* de xruujo

8ECR UTAH (OS


1 I)r Liii* TIIviu-, s de J,>rn
•j fir N.ntor do* Santo* J,lmn

SrpPLRNTES no 2'- SKCRRTARIO

Drs Thnmn« J.iiiidim e Honorio CHrrllhn d« Foit»o a í Rllvu

ORADOR
Jlr. PrnIU I»eo Pinto de Abreu

ADJUNTO no ORADOR
Or, Sehiintifto Fernandes fir úliveim

THESOL'REIRO
flrtemhnrjinilnr Joflo Piony^io Pilfjnelrn

OOMMISSÃO DB REDACÇÃO DA «REVISTA»


rii sembnrRiiclor Uni» Manuel Fernandes Sobrinho
Or. Antonio Soure« ti!1 Araujo
Ur Henrique Castrieiano de Smntn

COM MISSÃO DE ORÇAMENTO


I)r. Manuel Hemetério Raposo de Mello
Prftitcl*eo (iome* Valle Miranda
Coronel I.uii KmjrtíiHo Pinheiro lia Cornara
ASPECTOS .VIRTE-KIOlíRl.MIlíMS
1'FI.O I oNsccif) DOMINGOS HAKROS. DKI.KÜADO no Itjo CRANUR DO
NOBTK NA EXPOSII.AO NACIONAL OK IQOK
CONPKBBNCIA RBALIZADA A Q I»* DEZEMBRO NO ML SKC CoMMER-
CIAL. DO KLO.COM 1'ERCA OK BISRNTAK FHOJKCRÕBS LCMINOAAS

" M e u s senhores :

A g r a d e c e n d o , acceito corno uma honrosa


m a n i f e s t a ç ã o a o R i o G r a n d e do Norte v o s s o
c o m p a r e c i m e n t o a esta modesta prelecçAo.
E l l a è u m a singela discripção de nossa
terra, e eu a c o n s a g r o de todo c o r a ç ã o , c o m o
humilde tributo de a m o r fraterno, aos repre-
sentantes d a s d i v e r s a s circumscripções da R e -
publica, n<> Certa men Nacional.
Durante estes longos dias de a f a n o s o tra-
balho, a n i m a d o s de u m a justa e necessaria
emulação, e m p e n h a r a m - s e todos pelo brilho
da representação de seu E s t a d o , m a s com
uma perfeita cortezia e u m a solicitude s y m p a -
thica j á m a i s d e i x a r a m de apreciar d e v i d a m e n -
te, de applaudir e a n i m a r os esforços dos
demais.
N ã o houve rivalidades e os afiectos surgi-
ram espontâneos, desenvolveram-se e pros-
peraram g r a ç a s ao trato a m a v e l e gentil.
M a s pelo esforço, a m o r e entluisiasmo
com que cada um se houve no desempenho de
sua missão, acabou insensivelmente aos olhos
de todos, por encarnar e representar e f e c t i -
vamente o proprio listado, e este affecto fra-
terno nòs o sentimos que elevando-se transfor-
m a v a - s e em sentimento superior c mais vasto
que palpitava e subia em nossos corações c o m
irresistivcl impulso e em crescente p r o g r e s s ã o :
— e r a o sentimento de solidariedade nacional,
de união dos diversos elementos do g r a n d e
todo da Patria, deste Brasil formosíssimo e
soberano, terra s a g r a d a de nossos maiores,
berço de nossas mãis, Matria intangível e
augusta.
E è este sentimento nobre e santo que me
anima a vir hoje offerecer-vos esta singela e
verdadeira manifestação de nossa estima e de
nosso amor. Acceitai-a pelo que vale, como ele-
mento meramente intellectual e affectivo, sem
attentardes na insignificância da dadiva, nem
na pobreza da offerta.
Senhores.
Meu desejo seria, distanciando-me dos
detalhes, elevando-me a um ponto de vista su-
perior, dar-vos uma idéa conciza e nitida do
R i o G r a n d e do Norte, uma svnthese de seus
elementos essenciaes e característicos.
M as sei o quanto excede ã minha capaci-
dade um tal p r o g r a m m a , baldo que sou do
preparo systematico para vos falar como ver-
dadeiro sciento, <> vos direi d i terra rio-gran-
dense, c o m o m'o permittir a i n s u f i c i ê n c i a , an-
tes c o m o rude pensador que c o m o sabedor e
artista.
O Rio G r a n d e do Norte, collocado, preci-
s a m e n t e , no angulo oriental e meridional do
continente sul-americano, possue uma situa-
ção g e o g r a p h i c a muito saliente e notável.
l i ' o ponto onde o littoral brasileiro, dei-
x a n d o b r u s c a m e n t e o traço do meridiano c vol-
v e n d o para o O c c a s o , c o m e ç a a correr sobre o
parallelo.
A s costas riograndenses, dilatadas por
este f a c t o , olham a um tempo para o L e v a n t e
e iiara o Norte, recebendo, ou a v a g a atlantica
que lhe m a n d im a s brizas de leste, ou a s on-
d a s que a r r o j a m os ventos boreaes.
E m relação A sua superfície é o R i o G r a n -
d e do Norte o E s t a d o brasileiro que maior
desenvolvimento de costas possue.
l ' m tão largo contacto com o O c e a n o que
banha quasi metade de seu perimetro c uma
circumstancia feliz donde nos a d v é m recursos
inestimáveis e seguros. T e m o s no mar um a-
migo e um bemfeitor, u m a verdadeira provi
dencia em meio de nossas crises dolorosas.
E m primeiro l o g a r , sustenta toda uma
numerosa população de ouzados pescadores,
e s p a l h a d o s , sobretudo, nas e x t e n s a s praias do
Norte.
H a ahi um curioso accidente g e o g r a p h i c o ,
único em seu genero na costa brazileira— o
C a n a l de S . Roque.
E ' um estrangulamento do mar, f o r m a d o
por uma longa sequencia de recifes s u b m e r s o s
correndo parallelamente a l i n h a d o l i t t o r a l a
quatro milhas da costa. A s o n d a s do largo
perdem sua energia e morrem de encontro a
esta barreira formidável e são m a n c a s e sere-
nas que marulham nas praias.
Resulta, pois, um trecho plácido e c a l m o
d o m a r , contíguo ao O c e a n o enraivecido, um
verdadeiro rio bonançoso propicio á n a v e g a -
r ã o e o que mais é, ponto predilecto e preferi-
do de i m m e n s o s c a r d u m e s de peixes. A s pes-
carias do C a n a l são c e l e b r e s p toda a popula-
ção ribeirinha vive dos oroductos do mar.
D e s t a c a - s e , entretanto, por sita originali-
dade, a pesca d o peixe voador, que afflue em
grande abundancia.
P e s c a curiosa e interessante.
Da praia, o pescador a v i s t a a o longe a
manta de v o a d o r e s correndo e v o a n d o em cer-
ta direcção. R á p i d o , apresta a j a n g a d a e lar-
ga. N a s vizinhanças d o c a r d u m e , que intencio-
nalmente deixou em direcção opposta ao ven-
to, e s m a g a e e s f r e g a nos bordos da e m b a r c a -
ç ã o intestinos de peixes anteriormente a p a -
nhados.
K ' o e n w l o e é quanto basta.
Que delicado olfacto e fatal possuem estas
p o b r e s creaturinhas. Mal sentem o cheiro acre
e oleoso d a s e n t r a n h a s e s m a g a d a s , saltam das
a g u a s e, sustidas no ar por suas longas barta-
nas m e m b r a n o s a s , precipitam-se p a r a a jan-
g a d a , c o m o m a r i p o s a s para a lu/.. K c a d a qual
mais p r e s t o e mais rapide que venha em bando
e e m nuvem cahir sobre os f r á g e i s tóros fluetu-
antes enchendo, alastrando, inundando tudo.
Os pescadores limitam-se a a p a n h a l - o s e a en-
cher os cestos e samburás.
Occasiões ha de t a m a n h a abundancia,
que o barco, excedido o limite de fluctuação,
a m e a ç a sossobrar sob a c a r g a incessante que
lhe chove do mar e (curiosa inversão de pape
is) é agora o caçador que a força de remos foge
para a terra perseguido largo espaço pela caça
insolente e pertinaz.
E s t a abundancia e facilidade tornam o
voador o alimento das classes pobres, e o Rio
Cirande do Norte, g r a ç a s a o Canal, è o uniço
fornecedor de todo o Nordeste brasileiro.
M a s nem só a carne de suas a g u a s pro-
fundas e creadoras nos dá o mar. D e v e m o s -
lhe também fructos nutritivos e valiosos.
N o s s a s praias, em sua maioria, s ã o du-
nas m o v e d i ç a s de finas areias que os ventos
trazem em perpetua agitação, elevando hoje
f a n t a s t i c a s construcções, alvas montanhas de
flancos abruptos r e c a m a d a s de e s c a m o s o s la-
vores, para removcl-as a m a n h ã , a p e n a s mude
de rumo. S ã o puras areias estéreis, m a s na vi-
sinhança do mar a pouco e pouco v ã o sendo
fertilizadas e em sitios mais propícios cobrem-
se de vastos coqueiraes, que oscillam pesada-
mente ao sopro do nordeste suas longas pal-
mas pendentes e seus altos troncos inclinados.
Palmeira preciosa e admiravel ! Rústica
e resistente como flora do deserto que é, di-
gere e assimila a areia transformando-a em
ali mento e com ella fabrica a elevada archite-
ctura do caule e da copa, cujo centro de gra-
vidade, no mais instável dos equilíbrios não
dfcsce do terço superior do edifício.
N ã o é planta m a r i n h a , p o r é m a p r a z - l h e
a v i s i n h a n ç a do m a r . S u a s l o n g a s e n u m e r o - a i
raízes a b s o r v e m a h u m i d a d e salina que se in-
filtra pelas a r e i a s e por e s t u p e n d o m e c a n i s m o ,
capilaridade, a s p i r a ç ã o , p r e s s ã o o s m o t i c a ou
q u a l q u e r outro i g n o r a d o , o f a c t o é que, em
altura onde n ã o a l c a n ç a a c o l u m n a b a r o m e t r i
ca, onde a a g u a , no dizer dos c o n t e m p o r â -
neos d e ' G a l i l e o e Torricelli, perde o horror a o
v á c u o , lá c h e g a pura e d o c e e e n c h e de não
sobrar espaço a cavidade carnoza e branca
d a s g r a n d e s d r u p a s p e n d e n t e s dos l o n g o s ca-
chos.
A s nozes c o m p r i m e m - s e a g g l o m e r a d a s
entre os peciolos c o l o s s a e s , e podereis c o n t a r
em c a d a inflorescencia 200 e m a i s fructos e
d u a s e tres vezes a o armo esta c a r g a se repete.
E c o m o em t ã o p a r c a s c o n d i ç õ e s p r o s p e -
ra c fructifica esta p a l m e i r a excellente !
N o s s o sol, rico c o m o o que m a i s o fôr em
r a d i a ç õ e s luminosas e caloríficas, é proprio
p a r a f a z e r viver e m e d r a r esta planta tão pou-
co e x i g e n t e , que em sua zona g e o g r a p h i c a ,
sob os f o g o s do e q u a d o r , pouco mais r e c l a m a
a l é m de h u m i d a d e e areia.
Tudo nos leva, pois, a desenvolver por
nossa extensa costa os bellos coqueiraes que
já possuímos e que, graças á humidade mari-
nha, mesmo em meio das seccas, jiodem vi-
ver e prodúzir.
• E ' a s s i m que o coqueiro p a r a nós vem a
ser um precioso presente do m a r .
11

E quereis ver como nos è solicito e cari-


nhoso o velho mar indomável ?
P a r a a m p a r a r - n o s e soccorrer nos transpõe
o limite d a s praias, toma a fôrma humilde de
rios e a v a n ç a para o interior levando em sua
onda s a l g a d a as riquezas de seu seio.
N o s s a s terras para recebei o avisinham-se
do O c e a n o submissas, baixas e chans e pelo
leito que o u t r o r a e s c a v a r a m a s torrentes impe-
tuosas e e p h e m e r a s do inverno a onda maré
penetra e afunda-se oito e dez léguas sertão a
dentro. E ' um rio verdadeiro, apertado entre
ribanceiras, sinuoso, largo aqui, estrangulado
além, refletindo a verdura das margens, po-
voado de ilhas e recebendo affluentes. S ó o
áspero sabor das a g u a s lhe desvenda a origem
e a singularidade de inverter periodicamente o
curso, ora correndo para o mar, ora fluindo
impetuosamente para as terras.
E s t a s artérias liquidas largas e profun-
das, assim movimentadas pelo fluxo e refluxo
fre juente e regular, s ã o vias de communica-
ção economicas c fáceis.
E ' exacto que as terras marginaes, im-
p r e g n a d a s de salsugem tornam-seestereis para
a cultura e impróprias .para a s plantas terres-
tres, m a s em c o m p e n s a ç ã o e com v a n t a g e m ,
cobrem se de vegetações abundantes que se
nutrem da agua do mar e onde os sáes de só-
dio tomam a f u n e ç ã o dos de potássio, como
intermediário transitorio na t r a n s f o r m a ç ã o díf
matéria mineral inerte em substancia organica
e vital.
E m AJguns desses rios as m a r g e n s s ã o
e s p e s s a s m a t t a s de plantas lacustres c mari-
nhas, sobretudo de m a n g u e s colossaes. O Cu-
nhahú, o mais meridional de nossos rios sal-
g a d o s , é celebre por suas florestas m a r i n h a s .
O s m a n g u e s de suas m a r g e n s e l e v a m troncos
p o d e r o s o s de mais de cinco metros de circum-
ferencia a 1 5 e 20 a c i m a do nivel m é d i o nor-
mal. N ã o e m e r g e m d i r e c t a m e n t e do seio d a s
a g u a s , m a s , á m a n e i r a dos p a n d a n o s , a p o i a m -
se sobre um conjunto de g r o s s a s raizes que,
vindo do a l v e o do rio em v a r i a s direcções,
c o n g r e g a m - s e em um ponto c o m o rústica tri-
p e ç a sustentando a columna e r e c t a e recta
do tronco.
N e s t a s plantas a luta pela existência é a
luta pela luz. A a g u a e o alimento mineral to-
d a s igualmente os p o s s u e m , m e r g u l h a d a s que
se a c h a m no m e s m o seio a b u n d a n t e e inex-
g o t a v e l . M a s c a d a qual que b u s q u e e x p a n d i r -
se e o f f e r e c e r ao raio vivificante do sol o lim-
bo v e r d e d a s folhas, laboratorio d a v i d a onde
a luz é a única energia c a p a z de o p e r a r a s ma-
ravilhosas transmutações e as complicadas
syntheses organicas.
E ' por isso que a s plantas que n a s c e m
unidas no seio d a s a g u a s , unidas c r e s c e m , e m
a s p i r a ç ã o p a r a o alto, á procura de m a i s de-
p r e s s a e x c e d e r e superar os concurrentes e re-
cobrir-lhes com seus r a m o s e a f o g a l - o s e m
sua s o m b r a .
N e s t e p o r f i a d o a f a n , todo o desenvolvi-
mento é dirigido no sentido vertical e os cau-
les por l a r g o t e m p o restam iinos e e s g u i o s ,
m a s rectos e longos.
H é um bello aspecto de floresta esta es-
tacada colossal de linhas n e t a « , parallelas,
perfiladas e a prumo.
S ó depois, quando sobr.e a copa dos ven-
cidos poude a planta expandir os galhos e as-
segurar o domínio de uma superíicie de luz ca-
paz de prover a s suas exjgencias v e g e t a t i v a s ,
sò então, os troncos víío se e s p e s s a n d o fibra
a fibra, accumulando cautelosamente e a r m a -
zenando, sob a f o r m a instável de h y d r a t o de
carbono, quanta energia luminosa prendeu a
chlorofila do raio solar e c o m o mola tensa
comprimiu entre os á t o m o s de carbono e hy-
drogeno.
E vivem assim longos annos estes colos-
saes amphibios, aquaticos pelas r a í z e s e a e r e o s
pela c o m a , a t é que um dia tombem derrubados
e forneçam os madeiros longos de 12 e 15 me-
tros ou a c a b e m na fornalha d a s usinas, des-
prendendo em minutos toda a energia calorí-
fica que silenciosamente a c c u m u l a r a m no seu
lento vegetar.
E i s c o m o o mar providencial, a longín-
q u a s distancias da costa, nos dá florestas ver-
des e valiosas, cuja vida independe d a s esta-
ções e dispensa as a g u a s do céo.
-Outra d a d i v a do Oceano, outro rio ma-
rinho e m a g e s t o s o é o P o t e n g v - o R i o G r a n -
de do Norte, a cuia m a r g e m assenta-se Natal.
Aqui e m b a l d e procura-se o a s p e c t o selvá-
tico do Cunhahú. AN níattas dp outr'ora desa-
p p a r e c e r a m , d e r r i b a d a s sem critério e nunca
replantadas. H o j e é o rio simplesmente no
d e s c a m p a d o , largo, gracioso e azul, de um
a/,ul t ã o intenso c o m o a côr de» nossos c è o s
s e m p r e puros.
V a s t o e profundo, o f f e r e c e um ancora
douro de mais de 18 kilometroí de e x t e n s ã o ,
calmo, sereno, a b r i g a d o de todos os ventos e
f r a n q u e a d o a navios de m a i s de 2 1 -pés de
calado.
E ' um d o s melhores portos d o Norte d a
Republica, removidos que se a c h a m os peque-
nos obstáculos da e n t r a d a . O s maiores n a v i o s
de nossa a r m a d a têm a n c o r a d o e m s u a s a g u a s ,
a s s i m c o m o e m b a r c a ç õ e s e x t r a n g e i r a s ainda
mais p e s a d a s .
E a l t a m e n t e e s t r a t é g i c o c o m o c h a v e da
d e f e s a de F e r n a n d o de N o r o n h a e por sua si-
tuação e x c e p c i o n a l no yertice quasi d<» angulo
d o continente. A nossa M a r i n h a o escolheu
para base de operações da A r m a d a Nacional
e propõe dotal-o de uma e s t a ç ã o de d e s t r o y e r s ,
além d a g r a n d e escola regional d o Norte, já
i n a u g u r a d a e com c a p a c i d a d e p a r a 4 0 0 a-
lumnos.
S u a importancia tem v i n d o c r e s c e n d o ra-
p i d a m e n t e nestes últimos t e m p o s e sen» duvi-
da a l g u m a e s t á d e s t i n a d o a ser um grande
e m p ó r i o c o m m e r c i a l , d e s d e que o g y s t e m a de
v i a ç ã o p r o j e c t a d o e em construcçfto o ligue
a o s interiores d o s E s t a d o ^ d o N o r d e s t e bra-
sileiro.
A l é m d o a n c o r a d o u r o elle prolonga-^e
ainda pelo centro e e m - M a c a h y b a , berço de
A u g u s t o S e v e r o , a sete l é g u a s da foz, a m a r «
f a z oscillar as a g u a i s a l g a d a s cl<> rio e s ua» s
correntes a l t e r n a d a s t r a n s p o r t a m a s e m b a r -
cações.
M a s para além do canal de S . R o q u e ,
ao norte, o mar a m i g o golfa de novo pelas
terras c leva suas a g u a s sadias e riquíssimas
pelo s e r t ã o a dentro,até avistar o s c a r n a h u b a e s
soberbos do A s s ú e a s v á r z e a s férteis e p l a n a s
do A p o d y e do U p a n c m a a 6o kilometros da
costa. * •
li onde élle assim penetra entra t a m b é m
a vida, o movimento e a a b u n d a n c i a .
S e m o mar, nossos g r a n d e s rios sertane-
jos nas p r o x i m i d a d e s da foz seriam o que são
em seu longo curso superior, leitos d e s c a m a -
dos e seccos, espectros de rios onde só a s
areias b r a n c a s , despidas de argilla. os sei-
xos rolados e a c o r r o s ã o d a s m a r g e n s attes*
tam a p a s s a g e m d a s a g u a s .
N o e m t a n t o , eil-os, o tulweg cheio u mo-
vimentado pelo mar. A onda s a l g a d a entra em
m a r c h a regular e constante, t r a n s p o r t a n d o cm
seu dorso a s e m b a r c a ç õ e s que d e m a n d a m o
interior, e horas depois torna para o mar, tra-
zendo em sua correnteza os b a r c o s que bus-
cam o littoral.
M a s aqui n ã o é somente a a n i m a ç ã o , a
via n a v e g a v e l , o ancoradouro, c alimento e a
v e g e t a ç ã o que o mar nos dá.
l i ' sua p i o p r i a e s s e n c i a q u e g e n e r o s a m e n -
te nos cede. P r e s o tão longe de sua m o r a d a
profunda, a n g u s t i a d o entre ribas estreitas e
depois e x p a n d i d o em iinas c a m a d a s sobre os
i m m e n s o s taboleiros ribeirinhos, aquecido pelo
sol equatorial e batido pelos ventos seccos e
ásperos do nordeste, seu elemento liquido pou-
co a pouco se esvai, volatiza-se, sublima-se.
P e r d e com elle a mobilidade dos fluidos c to-
m a n d o f ô r m a s rijas c angulosas reduz-se a
brancos c r y s t a e s scintillantes. K ' sal.
Oh ! g r a n d e e generoso e l e m e n t o ! Quan-
to mais cruel è nosso tormento, quando tudo
nos falta, faltando nos o orvalho daí" nuvens,
è então" que tu mais te a p u r a s e, mais larga-
mente nos soccorres. l i nas m a r g e n s a m b a s
dos g r a n d e s rios, nas planícies niveladas d a s
salinas tudo é sal em lages c o m p a c t a s e intei-
riças de kilometros de e x t e n s ã o e em monta-
nhas brancas e fulgurantes aos raios implacá-
veis do sol.
A natureza reuniu e concertou nestas pa-
r a g e n s os elementos máximos de producção, e
nossas salinas são talvez as mais v a s t a s e im-
portantes do mundo.
M a s de pouco nos valem. A concurréncia
extrangeira, apezar do aperfeiçoamento pro-
gressivo de nossa industria, só nos permitte
utilizar uma f r a c ç ã o da offerta generosa do
mar. O resto lá fica : c a m p o s e planícies bran-
cos como uma p a i z a g e m polar e onde o raio
ardente do sol reflecte-se e refrange-se geran-
do as mais curiosas, as mais deslumbrantes,
as mais esplendentes miragens.
T a l é o tributo do mar entre nós, tributo
de valor inapreciável por subsistir e m e s m o
augmentar com a s secc.as, o f f e r e c e n d o um v a s -
to c a m p o á actividade de toda uma população
flagellada. M a s tudo ainda é m e r a m e n t e es-
pontâneo e mal aproveitado. Necessita ser sys-
17

tematizado e encaminhado para seu destino


mais útil.
Afastemo-nos, entretanto,do mar c já (]ue
f a l a m o s d a s porções tcrminaes <le nossos rios,
completemos rapidamente o esboço h y d r o g r a -
phico do E s t a d o . M a s , como h y d r o g r a p h i a
suppõe orographia, que as m o n t a n h a s são os
limites d a s b a c i a s e a s cristas d a s vertentes,
c o m e c e m o s por ahi.
O macisso granítico e primitivo da B o r -
borema, que vem tracejando o rumo de Nor-
deste pelo centro p a r a h y b a n o , penetra no Rio
G r a n d e e m pleno sertão e bifurca-se e rnmi-
fica-se em todas a s direcções, g e r a n d o um
a g g l o m e r a d o de serras, de montanhas, de ser-
rotes que, irradiando do eixo dorsal da cordi-
lheira, p r o l o n g a m - s e p a r a léste e p a r a o po-
ente em socalcos cada vez mais baixos, menos
abruptos e mais arredondados, até surgirem
ao norte os contrafortes extremos da g r a n d e
serra, nas encostas solitarias e í n g r e m e s do
C a b u g y , atalaia granítica cujo collo alçado a
500 metros das planícies ambientes domina
v a s t o s horizontes.
E s t e espinhaço de serrasse o divortium
eqn/iriiin principal, e os a l g a r e s d a s torrentes
interiores ou s e g u e m rfs declives occidentaes e
t o m b a m na bacia longitudinal do P i r a n h a s ,
ou descem pelos pendores orientaes em multi-
plicados rios e regatos que encontram o O c e a n o
depois de um rápido percurso pelos subsertões
do a g r e s t e e pelas planícies que avisinham
o mar.
R i o s soberbos e torrenciaes nos invernos.
A s chuvas sertanejas s ã o diluviarias e as
a g u a s correm sobre o solo impenetrável, im-
petuosas e corrozivas, abrindo sulcos profun-
d o s nos flancos d a s serras e acarretando de-
tritos dc toda a sorte.
E m baixo, o rio d e m a s i a d o opulento, ex-
cede o leito, transvasa e dilata-se pelas mar-
gens, cobrindo as planicies lateraes e tomando,
ás* vezes, uma legun de largura. E ' a cheia,
um mar toldado e barrento, acarretando de
roldão os troncos arrancados e não raro grnn
des arvores frondosas. E a inundação cobre as
planicies seis e oito dias, e, quando as a g u a s
baixam e se retiram, toda a superfície submersa
fica recoberta.de finos depositos argilosos, em
c a m a d a s , ás vezes, de muitos centímetros de
espessura.
B a s t a enunciar esta f o r m a ç ã o para a v a
liar-se a feracidade extraordinaria dessas var-
zeas c o processo natural que a conserva, liste
limo é, com effeito, de um grande poder fertili-
zante, e provém das rochas superiores poidas
por activas decomposições.
E ' f a c t o normal a d e s a g g r e g a ç ã o das ro-
chas, m e s m o as mais tenazes. A a g u a . o a n h y d r o
earbonico, o oxigeno, o ozona, a electricidade,
a luz, o calor solar c toda*s essas influencias des-
conhecidas, que por seu lento operar e s c a p a m
:i o b s e r v a ç ã o , alteram fundamente até o ma'.-,
rijo granito, destroem-lhe a consistência, pul-
verizam-no, e, depois de assim movei e trans-
portável, o entregam aos fluidos niveladores—
. ao vento e, sobretudo, á agua.
E ' assim que no descorrer d a s idades aea-
b a r ã o precipitados pouco a pouco no fundo dos
oceanos os c u m e s m a i s alterosos, a s cordilhei-
ras mais e l e v a d a s c a superfície livre do P l a -
neta será um sò plano uniforme de terras ni-
veladas.
li' um phenomeno geral. M a s , em nossos
sertões, a d e c o m p o s i ç ã o m a r c h a com maior
evidencia c rapidez. A s r o c h a s têm um ar de
vetustez impressionante, por toda a parte des-
f a z e m - s e , d e g r a d a m - s e . c, na maioria felds
pathiens, revestem-se de laivos brancos, de
r a j a d a s de knolin, a t t e s t a n d o a d e c o m p o s i ç ã o
irremediável e profunda. O u a n d o a s c h u v a s
eahem e lavam estas superfícies c a r c o m i d a s c
desfeitas, d e s c e m s a t u r a d a s de detritos mine-
raes, ricos em potássio e em phosphatos, ele-
mentos consideráveis da v e g e t a l i d a d e que v ã o
entreter o vigor m e s m o em terras submettidas
a uma lavoura e x h a u s t i v a d t muitos annos,
l i ' esta a riqueza agrícola sem par de,
nossas v a r z e a s , e foi a natureza e um conjunto
occasional e feliz de disposições e de d r c u i n s -
tancias f a v o r á v e i s que nos d e r a m este patri-
mónio i iiapreciavel.
N o s s a lavoura, em tacs condições, é fácil.
N ã o fertilizamos a terra—a natureza incumbe-
se disto, e a p e n a s nos p r e o c c u p a m o s de liber-
tar a cultura da concurrencia d a s plantas es-
p o n t â n e a s que a todo o momento, em sólo tão
rico, a m e a ç a m a s s o b c r b a l - a e suíTocal-a.
A única c o n d i ç ã o prccaria è a a g u a , o
que nos o b r i g a a lavrar somente depois d o in-
v e r n o c, em este falhando, todo o nosso cabe-
d a l de nada nos serve.
.Mas, notai os caprichos da natureza. N a s
proximidades do mar, quando o terreno aplai-
na-se e nivela-sç, muitos de nossos rios de lés
te correm por entre valles singulares que a ri-
queza fertilizante das enchentes alliam uma
humidade permanente e abundante, mesmo
no mais acceso do flagello. O Ceará-mirim é
tvpo destes valles frescos, verdadeiros oazis
(le verdura c abundancia, quando por toda a
parte a seeca estendeu seu manto de devasta-
ção e de dor.
Donde provém esta agua salutar e bem-
fazeja ?
Os rios sertanejos,cessado o inverno, min-
guam pouco a pouco, até scccarem de todo, e
é mesmo no mais fundo de seu leito, onde por
mais tempo as areias se conservam húmidas,
(jue o sertanejo industrioso e activo faz suas
culturas de verão— singelos vegetaes, cujo c y -
clo qvolutivo perfaz-se em poucos mezes—o
fe ijão, entre os leguminosos, e a mais vulgar
das euphorbiaceas, a feculenta mandioca.
Agua nenhuma desce mais dos planaltos
superiores.
Entretanto, nos valles húmidos cila não
sò existe estaticamente no sub-sólo, como mes-
mo vem A flôr do terreno e corre em tênues
regatos. T a l v e z a composição particular do
sólo explique o phenome no. Ella é diversa do
que costuma ser nas terras vegetaes.
O c h ã o é, s o b r e t u d o , um paúl p r o f u n d o ,
quasi despido de areia e de argila, um a g g l ° "
merado e s c u r o de detritos vegetaes cm d e c o m -
p o s i ç ã o , frouxo, leve, poroso. C o n s i s t e n t e .
a p e n a s na superfície, onde o limo d a s enchen-
tes cumulou os interstícios da m a s s a esponjo-
sa, consolidando-a e solidificando-a.
E m b a i x o , tudo é instável e molle. S i se
busca sondal-o, u m a v a r a de quatro e cinco
metros enterra-se facilmente e d e s a p p a r e c e .
Pizando, sente-íe que a estabilidade é a p e n a s
a p p a r e n t e : os passos e c h o a m e a um choque
mais forte todo o sólo estremece e repercute.
O valle do Ceará-rhii im com dous a qua-
tro kilometros de largura e em e x t e n s ã o de al-
g u m a s léguas é assim constituído.
Naturalmente nestas condições excepcio-
naes a lavoura é diversa da c o m m u m . E ' mais
simples e mais fácil. A inconsistência do ter-
reno oppõ-se em absoluto á lavra m e c h a n i c a —
impossível a r a r o p a u l — m a s t a m b é m elle a
dispensa por completo. C o m e f e i t o , o que se
busca com a d e s a g r e g a ç ã o e pulverização do
terreno na lavra m e c a n i c a è tornal-o permeá-
vel aos fluidos v i t a e s : o ar o x y d a n t e , elemento
essencial d a s f e r m e n t a ç õ e s aeróbias minerali-
zadoras da matéria organica e a a g u a , o vehi-
culo universal e principal alimento dos vegetaes.
M a s o paul por própria constituição iá c
poroso e permeável em todos os sentidos. Inú-
til lavrai-o.
A c h a r ã o muitos que sua pobreza em ar-
gila seja uma condição de inferioridade c o m o
sôlo vegetal.
Seria, si se tratasse de outro terreno;
aqui não. A funeção da argilla com e f eito nos
sólos a r a v e i s é sobretudo a de um regulador c
fixador da humidade. P r e n d e p h v s i c a m c n t e
ou m e s m o por instáveis combinações interino-
leculares u m a forte p r o p o r ç ã o de humidade e
e n e r g i c a m e n t e a retém. S ó a s raizes das plan-
tas Í l i a tiram a menos que por e x p a n s ã o n ã o
a perca q u a n d o n ã o mais fôr liquida e entrar
em dissolução no ar.
M a s é inútil .buscar no paul um regulador
p a r a a humidade, tal sua abundancia no sub-
solo e t ã o p r o m p t a m e n t e a c c o d e á superfície
pela rêde c o m p l i c a d a dè c a n a e s Capillares que
constituem sua t r a m a esponjosa. A o contra-
rio, o que importa è retirar dessa humidade
tudo o que ultrapassar a s necessidades v e g e -
tativas. E sabe-se porque. A s enérgicas fer-
mentações que d e g r a d a m a s substancias o r g a -
nicas e a s tornam alibeis, reduzindo-as a sim-
ples c o m p o s t o s mineraes, resultam d o f u n c c i o -
n a m e n t o vital de m y r i a d e s sem conta de pe-
queninos seres cuja a c ç ã o , em synthese, pôde
ser difinida c o m o a de verdadeiros condensa-
dores d o o x y g e n o inerte do ar que ao contacto
de sua c h a m m a vital torna-se apto a ateiar a s
invisíveis combustões, mais profundas, entre-
tanto, e mais c o m p l e t a s que si o próprio f o g o
as promovera.
P o i s b e m , o único defeito de nossos p a ú e s
e a o m e s m o t e m p o seu inestimável valor con-
siste nesta humidade constante e em geral ex-
cessiva, m e s m o depois de p r o l o n g a d a s s e c c a s .
M a s basta regularizal-a, d e s c e n d o lhe o nível,
por simples d r e n a g e n s para que nossos valles
f r e s c o s t r a n s f o r m e m - s e em solo agrícola in-
comparável.
A a f f i r m a ç ã o é justa e verdadeira.
"Nenhum outço se apresenta tão comple-
tamente constituído. Poroso e naturalmente
permeável a grande profundeza, o f e r e c e n d o
em todos os sentidos vasto campo ás raízes
para desenvolverem-se apossando-se de uma
larga área alimentar e, depois, rico _ em subs-
tancias nutritivas as mais essenciaes e as mais
úteis ás plantas :—a agua, a um tempo vehicu-
lo e alimento universal e o conjunto das partí-
culas mineraes indispensáveis á elaboração da
nutrição gazoza haurida da atmosphera.
Ate agora não nos foi possível cultivar se-
não um terço do valle; o rèstante é inculto por
excessiva humidade, cuja drenagem excede os
nossos modestos recursos. A fracção cultiva-
da é, entretanto, o centro de nossa industria
assucareira e produz tão facilmente que mui-
tas vezes os canrjaviaes são meros rebentos de
touceiras plantadas ha 12 anno8.1 A s cannas,
apezar disso, são colmos longcs e bem forma-
dos, cheios de suceo s a c h a r i n o e rico.
I m tal transbordamento de humidade
cm meio da seccura geral e o desperdício des-
ta riqueza è o nosso supplicio de Tantalo e a
preoccupaçüo obsedante de quantos se inter-
essam por nossas cousas. Ouando entraremos
na posse deste cabedal que a natureza tão pro-
digamente nos offerece ? Ouem o poderá di-
zer, encerrados que nos achamos dentro do
circulo vicioso de carecermos de haveres para
encetar os melhoramentos e dependermos dos
melhoramentos para conseguir os haveres!
Mas, continuemos. E ' tempo de transpor a
Borborema e completar nosso esforço hydro-
g r a p h i c o com o estudo d a s b a c i a s occidentacs
do E s t a d o .
Antes, p o r é m , fallemos, em parentheses,
de um curioso a s p e c t o rio-grandense, o dos
taboleiros arenosos da zona que vimos de per-
correr, e que sAo intermediários entre a f a i x a
húmida do*littoral e os altos sertões seccos
do Centro.
E s t a s terras d e s c a m p a d a s foram o u t r o r a
ou praias m a r i n h a s ou fundo do O c e a n o , ten-
do sido a l ç a d a s e a f f a s t a d a s do m a r pelo mo-
vimento de conjunto que levanta insensivel-
mente toda a costa oriental da America d o
Sul. O sólo, attestando essa origem, é todo
arenoso. A r e i a s quasi puras na costa, a s que
por ultimo surgiram do m a r e m a i s ferteis c
m a i s ricas á p r o p o r ç ã o que se internam e se
distanciam d o O c e a n o .
E m certos sitios os ventos removem estas
areias e a s v ã o t r a n s p o r t a n d o no sentido de
sua direcção, f o r m a n d o curiosas cordilheiras de
altas dunas que, á m a n e i r a d a floresta de Ma-
cbeth, m a r c h a m m y s t e r i o s a m e n t e para sota-
vento ate que plantas e s p o n t a n e a s . sóbrias e
rústicas, próprias dos d e s e i t o s , ahi p o s s a m vi-
ver e prender na a n a s t o m o s e de suas raízes os
g r ã o s itinerantes, lixando-os definitivamente
N o s taboleiros razos e intermináveis já
esta f i x a ç ã o está f e i t a , e a vista prolonga-se in-
definida pelo i m m e n s o d e s c a m p a d o todo reco-
berto de uma a t o r m e n t a d a e singular vegeta-
ção. E x t r a n h a s plantas que m e d r a m em tão
duro habitat. E s t a s planícies quasi a r e n o s a s
de todo s ã o a s terras mais s e c c a s e desoladas
que possuímos, perpetuamente trabalhadas por
um vento rijo e violento.
Certamente uma longa selecção de resis-
tência e de sobriedade acabou adaptando es-
tas rústicas especies vegetaes, cobrindo assim
o deserto de verdura. Ha gramíneos tão sili-
cosos e tilo duros que os aivmaes recusam tra-
gar, e uma terebinthacea selvagem um caju-
eiro bravo -armazena em suas folhas coria-
ceas tamanha quantidade de siliça que por sua
asperesa são correntemente empregadas como
lixa para polir a madeira e até os metaes.
Entretanto, a rainha dos taboleiròs é r\
mangabèira. E ' a vegetação dominante entre
os arbustos, e em certos lugares os indivíduos
raros e esparsos aggrupam-se em moitas, dan-
do a illusáo de uma minúscula floresta verde-
jante e frondosa.
A mangabèira carrega-se durante alguns
mczes de abundantes e bellos fructos muito
apreciados por seu delicado sabor, que sAo o
amparo das gentes pobres dos arredores. Po-
rém, seu producto mais importante é o látex
branco e viscoso que exhutla de sua epiderme
c que dissolve borracha de boa qualidade.
Para colhel-o golpeiam a arvore muito
• além do necessário, of endendo o líber e atò
cambium e mesmo nas grandes penúrias des-
enterram-lhe as raízes para feril-as e pedir-
lhes o leite precioso. E o vegetal resiste a tudo :
a estas constantes c fundas mutilações, ás
seccas prolongadas e até aos incêndios ire
quentes, e isto em um meio esteril e ingrato.
S e m estas plantas tenazes, v i v e n d o quasí
a vida das parasitas, nossos tabuleiros seriam
um verdadeiro Sahara.
Notai, pois, como a natureza entre PÓS É
providente e boa, collocando por toda a parte
o coirectivo ao lado da irregularidade. N ó s é
que ainda nfío a soubemos comprehender, para
utilizar eficazmente o que com tanta espon-
taneidade nos è offerecido.
M a s encerremos esta digressão e faltemos
dos rios uccidentaes do E s t a d i .
Para além da Borboremá, até entestar
com o Cearei, o território reparte-; e quasi egual-
mente entre as bacias de dous grandes rios
sertanejos : o A p o d v , inteiramente riogranden*
se, cujos limites da zona tributaria para -nl o
jiara o poente síío os proprios limites do E s -
tado com o Ceará e com a Parahyba - e o
A s s ù , que depois de drenar com o nome de
Piranhas as aguas parahybanas em uma am-
pla bacia que abrange a" metade central do
Estado, entra no Rio G r a n d e do Norte pelos
altos sertões do Seridó, e, descendo, traça a
meio Estado quasi o meridiano de norte a sul,
vindo alcançar o Atlântico em Macáu.
N o s bons invernos estes dous rios descem
t/lo pesados-que o leito, apezar de largo e
vasto, nHo lhes basta e derramam-se e esprai-
am-se p e l a s margens, submergindo e alagan-
do a grandes planícies ribeirinhas.
Elles recobrem então c fertilizam as var-
zeas afamadas do Assù e do Apody, regiões
predilectas dos-carnahubaes.
Km extensfio de muitas léguas p e l o curso
do rio só ha uma única vegetação enchendo
toda a v a r z c a de lado a lado c f o r m a n d o uma
floresta d a s mais curiosas c d a s mais bellas.
F l o r e s t a sem galhos, sem troncos tortuo-
sos, sem o e m m a r a n h a d o d a s lianas e dos cipós
e sem a s o m b r a religiosa e espessa d a s rnattas
virgens.
l i ' o império da linha recta. O s troncos
são columnas verticaes tinas, esbeltas e lon-
g a s , elevando nas alturas o globo harmonioso*
e regular d a s palmas.
l i esta columnata profusa, e s p a ç a d a aqui,
a g g l o m e r a d a e reunida além, dá-nos a impres-
são de um templo immenso, cujo conjunto nos
e s c a p a . M a s a s palma? festivas, alegres e sim-
ples em suas puras linhas geométricas, enchem
e a d o r n a m a floresta toda. O chão ó um só ta
pete de tenras, de delicadas palminhas, cujo
caule ainda se não percebe. Outras mais altas
c o n g r e g a m - s e em moitas, a g g r u p a m - s e em re-
dor dos g r a n d e s troncos, enchendo todos os
intervallos. li os olhos só vêem palmas, ver-
des e trementes p a l m a s até no tecto da flores-
ta, onde recortam o azul intenso do c é o com
suas delicadas e finas digitações, li todas tre-
mem e oscillam ao menor sopro, e ha por toda
a parte um ruido f a r f a l h a n t e e continuo, um
ciciar harmonioso c suave que nenhuma outra
selva possue e que ó b e m a palpitação e a vida
da matta sertaneja.
A carnahuba é a planta t y p i c a d o sertão,
exemplo de resistencia e de poder produetivo.
Y ê d e . O s e r t ã o escalda. T u d o é d e v a s t a -
ção e morte. D a s j u r e m a s e d a s e m b u r a n a s
nas c a a t i n g a s só restam os r a m o s scccos e nus,
r: nos p r a d o s o r e s í d u o pulverulento d a s forra-
gens calcinadas, dando A morna pai/agem
uma pungente impressão de abandono e uma
infinita tristeza. E n t r e t a n t o , olhai, ha sdres q u e
v i v e m , qual s a l a m a n d r a da f a b u l a , nesta for-
nalha. li a c a r n a h u b a im mortal eleva no c a m -
po d e s o l a d o , b e m alto, sua a l t e r o s a c o r o a de
f o l h a g e m . E silo verdes, brilhantes f o l h a s es-
palmas voltadas immoveis para a amplidão,
c o m o p r o t e s t o solernm da u b e r d a d e d a t e r r a
contra a inclemencia do céo.
N ã o ha p l a n t a m a i s util e m a i s p r e s t i m o s a .
S ó a c a r n a h u b a f a z toda a c a s a d o ser-
tanejo.
O t r o n c o d á o m a d e i r a m e n t o , os esteios,
rts linhas, a s t e r ç a s , os c a i b r o s , a s r i p a s a os-
satura g e r a l da c o n s t r u e ^ ã o , e a s p a l h a s forne-
c e m a c o b e r t u r a d o tecto e o r e v e s t i m e n t o d a s
p a r e d e « . M a i s a i n d a . T o d o o mobiliário e to-
dos os utensílios s S o d e c a r n a h u b a . A s prate-
leiras, a s m e s a s , os b a n c o s , o a r m á r i o sfto de
t a b o a s d e c a r n a h u b a . F o r q u e esta p a l m e i r a e x -
c e p c i o n a l , a o c o n t r a r i o de t o d a s a s d e m a i s ,
tem um c e n t r o m e d u l a r tão d u r o o t ã o rijo
c o m o a p e r i p h e r i a . e a s s i m f o r n e c e t a b o a s so-
lidas e resistentes.
A p a l h a , f o r t e e lisa, p r e s t a - s e á c o n f e c -
ç ã o de a c c e s s o r i o s o s m a i s v a r i a d o s . T e c e m -
na c m e s t e i r a s , bellas e c x c e l l e n t e s e s t e i r a s , e
isto constitue u m a g r a n d e industria d o s po-
bres, s o b r e t u d o d a s m u l h e r e s c d a s c r e a n ç a s .
Fazem também urupemas, as peneiras únicas
u s a d a s no N o r t e , a v a s s o u r a , o a b a n o c até
saccos solidos c duradouros para o transporte
e acondicionamento dos cereaes.
Mas, dentre todos, são os chapéos os
mais bellos productos da palha.
Ha-os de todos os feitios e de todos os
preços, desde os mais toscos e grosseiros, in-
fimamente baratos, até os de tecidos finíssi-
mos tão artísticos como os de Chile e P a n a m á .
A palha m a c e r a d a e batida reduz-se a fi
bras, e t e r n o s nova série de productos—os ar-
tefactos de fibras : a s cordas, os trançados e
até a s redes o leito predilecto dos nortistas.
A carnahuba fornece uma fécula nutritiva
do m e s m o valor alimentício que a da mandio-
ca. S e u s fructos, abundantes, quando verdes,
constituem boa ração para os gados. S e c c o s ,
fornecem um oleo fino comestível, e torrados
e moídos, dão uma beberagem semelhante
ao café.
A s raízes são medicinaes.
M a s , dentre tantos productos, a cera é o
mais importante e valioso. E ' uma substancia
particular, mistura de etheres solidos de áci-
dos g r a x o s superiores.
E ' dura e quebradiça, de fractura con-
choidal, insípida e inodora, fusível acima de
90 gráos. Bom. isolador *do calor e da electri-
cidade, ardendo com uma c h a m m a brilhante,
rica em carbono.
E x i s t e na superfície das folhas, em tenue
cutícula, como um verniz protector. A mais
bella cêra, a de um amarello claro, é retirada
das folhas mais tenras, antes mesmo que se
tenham expandido em palmas. Mais idosas.
d ã o c è r a mais escura» c e r t a m e n t e p e l a altera-
ç ã o d e a l g u m principio o x y d a v e l a o ar.
K i s c o m o se p r a t i c a p a r a recolher a c è r a :
O o p e r á r i o , a r m a d o d e uma l o n g a v a r a .
f o r m a d a pela a r t i c u l a ç ã o d e tres ou q u a t r o se-
c ç õ e s , e t r a z e n d o na e x t r e m i d a d e u m a peque-
na foice o trinchete - a p r o p r i a d a a o m i s t e r ,
golpeia o peciolo e a c a d a g o l p e d e s c e u m a
palma.
S ã o r e c o l h i d a s e. p o s t a s a s e c c a r . O p e r a -
se a r e t r a c ç ã o d o s t e c i d o s e a c e r a , d e s p r o v i d a
dc elasticidade, n ã o podendo acompanhal-os
eir. seu m o v i m e n t o r e g r e s s i v o , e s t a l a e f r a g -
menta-se em finas e levíssimas escamas. Cum-
pre s e p a r a l - a s d a s p a l h a s . O p e r a ç ã o d e l i c a d a .
O menor sopro occasiona grandes perdas,
pela e x c e s s i v a t e n u i d a d e d a s u b s t a n c i a .
A b r e m , no c e n t r o a b r i g a d o d o c a r n a h u b a l ,
uma clareira, recobrem-na de esteiras, amon-
t o a m a s p a l h a s e, pela c a l m a d a m a d r u g a d a ,
na c u ! m i n d o v e n t o , c o m o d i z e m , b a t e m rija-
m e n t e e s a c o d e m a s p a l h a s . O pò è l o g o reco-
lhido e g u a r d a d o a n t e s d a q u e d a d o n o r d e s t e .
N ã o r e s t a m a i s q u e f u n d i r , p a r a o b t e r os p ã e s .
A f u s ã o o p e r a - s e no seio d a a g u a a f e r v e r p a r a
evitar a alteração por parte do calor directo.
A c è r a , c o m o um o l e o * a m a r e l l o , s o b r e n a d a o
liquido e m ebullição, e a s i m p u r e z a s t e r r o s a s
p r e c i p i t a m - s e no f u n d o d a c a l d e i r a . O o i r o ,
quente, é v a s a d o em moldes e p r o m p t a m e n t e
sol»d'fica-se e m p ã e s .
A c ra d e c a r n a h u b a é muito p r o c u r a d a c
tem b o a c o t a ç ã o n«»* m e r c a d o s a m e r i c a n o s .
Nossos carnahubaes rendem annualmcntc 350
400 mil kilos de cera.
Ora, si considerarmos uma média de 200
g r a m m a s por arvore, pôde avaliar-se a profu-
são e a abundancia cm que existe entre nos a
esbelta e graciosa palmeira, como que inten-
cionalmente espalhada nestas altas regiões,
° n d e não mais alcança o mar bondoso para
prolongar pelo interior a m e s m a b e m f a z e j a
providencia e o m e s m o a m p a r o carinhoso dos
humildes, dos bons, dos valorosos filhos do
sertão.
Ah, o sertão! E ' o c o r a ç ã o d a n o s « a terra,
0
repositorio fecundo de suas energias.
S ã o a s terras altas do interior dilatadas
em immensos c h a p a d õ e s ou accidentadas e re-
voltas em a g g l o m e r a d o s gigantescos de ro
d i a s , Íngremes penedias e agudos serrotes,
revestidas por toda parte de uma profusa ve-
getação arbustal ou recobertas nos descam-
pados de e s p e s s a s e ricas forragens, terras
dispares pelo aspecto, diversas na composição,
extranhas na flora, mas sempre unificadas por
"na m e s m o clima, forte, secco e sadio.
L á respira-se força e saúde. A alma, alh-
vi;
u l a dos atavios ennervantes da civilização,
sente-se mais sua, mais próxima da natureza
0
das fontes eternas da vida. H a na luz, no
ar
. no chão mais energia vital que em outra
parte ; t a m b é m tudo é forte no sertão, o ch-
IT1
a, o h o m e m , a terra.
A s sementes, durante o longo verão, dor-
me
m no sòlo um paciente somno estival. N a o
germinam, m a s n ã o se corrompem. C a h e a
primeira chuva e, em très dias, u m a pellucia
verde-claro, uniforme e d e l i c a d a , c o m o d e l g a -
do sendal, r e c o b r e a superfície a v e r m e l h a d a
d a terra, s u r g e por e n c a n t o nos p í n c a r o s re-
q u e i m a d o s e nos interstícios d a s r o c h a s . M a i s
d u a s c h u v a s i n t e r v a l l a d a s de 1 5 dias, e p a s t a -
g e n s a b u n d a n t e s e s e m par, entre a s g r a m i -
n e a s brasileiras, e s t ã o g a r a n t i d a s por todo o
a n n o e os g a d o s n ã o n a s v e n c e m .
C e r t o , a selecção, f a v o r e c e n d o os m a i s
aptos, creou esta e x t r a o r d i n a r i a rcsistcncia
d a s p l a n t a s s e r t a n e j a s e deu-lhes a p r e s t e z a
v e g e t a t i v a p a r a se a p r o p r i a r e m de p r o m p t ó
d a s c o n d i ç õ e s f a v o r a v e i s q u a n d o se a p r e s e n t a -
r e m . e p r e e n c h e r e m s u m m a r i a m e n t e seu c y c i o
vegetativo.
M a s a e s t a s q u a l i d a d e s a s p l a n t a s forra-
g e i r a s j u n t a m um c o n s i d e r á v e l poder nutritivo,
que e m b a l d e se b u s c a em s u a s e q u i v a l e n t e s de
outras zonas. M e n c i o n o e s p e c i a l m e n t e o pa-
n a s c o , que, m a d u r o e s e m e n t a d o , o s e r t a n e j o ,
em p e s o egual, c o n s i d e r a mais nutritivo que o
milho.
( ) s e r t ã o é, sobretudo, pastoril e p o s s u e
um t y p o p r e p r i o de g a d o , pequeno, robusto c
resistente, a f f e i t o á s i r r e g u l a r i d a d e s do clima.
L o g o depois do inverno, na a b u n d a n c i a
d a s g r a m í n e a s , a vida 0; fácil p a r a os r e b a n h o s
e a e n g o r d a p r o m p t a e d u r a d o u r a . Ii' a é p o c a
feliz, e lia a b u n d â n c i a de tudo, e tudo é sadio,
bom e s a b o r o s o .
P o r toda p a r t e ha v e r d u r a e os a s p e c -
tos da natureza s ã o s o b e r b o s e e n c a n t a d o r e s .
O clima é quente, m a s secco e ameno, e
as noites são de uma exquisita suavidade.
O s luares incomparáveis.
Oh, os luares do Norte, os luares do ser-
tão! A atmosphera secca e pura é mais límpi-
da e diaphana que alhures, e a luz dormente do
astro desce das alturas, serena & doce, em
b r a n c a s retracções, aclarando tranquillamente
toda a immensa p a i z a g e m , e s b a t e n d o e azulan-
do os contornos.
Reina u m a paz. uma quietude e uma
calma em todas a s cousas, que enebria de ven-
tura e torna bons e c o m p a s s i v o s os corações.
Deliciosa e encantadora vida do s e r -
tão. Ella prende de tal maneira o homem ao
sòlo querido, que na mente do sertanejo não
pôde vingar a idéa de que um recanto tão
ditoso possa ser a sede periódica da devasta-
ção e da dôr. A secca é um mero accidente e
todos esperam confiantes a volta dos tempos
bons» dos tempos verdadeiros.
N o emtanto o mister essencial do serta-
nejo é árduo e penoso e reclama uma alma
forte e varonil, alliada a grande destreza e ro-
bustez physica.
Vaqueiro no sertão só o é o sertanejo, por-
que a lide do g a d o é muito diversa da dos cam-
pos do sul.
H a poucos d e s c a m p a d o s . O aspecto geral
è a caatinga, especie de floresta baixa, intrin-
cada e espessa, onde predominam as plantas
espinhosas, a jurema, a favella, o xique-xique,
o mandacaru, etc.
O g a d o a c o s s a d o no d e s c a m p a d o procura
a caatinga como refugio. Impossivel>captural-o
ahi pelos meios usuaes.
O animnl torna-se montez e arisco e é ne-
cessário que o vaqueiro sc f a ç a caçador. C a -
çada perigosa e difficil.
U m a novilha do sertão corre na caatinga
com uma rapidez que desconcerta a quem n a o
é do officio. E ' um impeto d e s e s p e r a d o de ani
mal bravio que joga o corpo c c m o ariete por
sobre os obsta ulos e assim abre caminho no
m a t a g a l cerrado. Abre, porém, por instantes.
O s ramos violentamente a f a s t a d o s tornam sú-
bito â posição primitiva mal cesse a força que
os vergou. A p e n a s a rez passe, a matta se re-
faz, o caminho desapparece. S ó um Cavallo do
sertão, montado por um sertanejo, persegue
uma rez na caatinga. O s dous sflo um só todo
solidário, uma só vontade, dextra, mtelligente
e agil. O cavallo n ã o é guiado, conhece o que
vai fazer e a g e com inteira consciência. C o r r e
encostado á anca da rez e nunca se distancia.
P o r onde esta passar, elle também p a s s a r ã .
Muitas vezes um obstáculo superior, um gros-
so galho a t r a v e s s a d o a m e a ç a o cavalleiro ; en-
tão o cavallo a g a c h a - s e , achata-se, p a s s a ren-
te ao chão, mas sempre veloz e sem a f a s t a r -
se da preza. O cavalleiro revestido de couro
da cabeça aos pés, como de uma a r m a d u r a ,
em posição difhcil e perigosa, corre deitado na
ilharga do animal, estimulando a carreira com
gritos curtos e agudos. Quanto maior é o Ím-
peto, tanto mais f r a n c o c o caminho.
D e longe ouve-se o estrupido do tropel, o
estalar dos galhos e o ècho do vaqueiro em um
m e s m o rumor confuso dc trovoada distante.
E a carreira desabalada, turbilhonante, tre-
menda prosegue-se pela caatinga a dentro. A
rez n ã o pára e o vaqueiro n ã o cede por dever
do officio, por brio e pundonor, m a s também
pelo gosto da aventura, pelo prazer do obstá-
culo vencido á custa do proprio esforço e com
risco da própria vida. E ' sua p a i x ã o dominan-
te e onde melhor se revela toda sua a l m a e n e r -
gica de lutador e de herôe.
M a s surge uma clareira e a rez se preci-
pita. E ' o momento decisivo; o vaqueiro, corri-
gindo a posição, enrola no pulso a cauda do
animal, emquanto o cavallo em poderosos ga-
lões p a s s a e nbre. O vaqueiro dâ a saiáda, E '
um gesto formidável, mistura de força e des-
treza d e s f e c h a d o no momento opportuno. I)e
súbito o terreno foge embaixo dos pés do ani-
mal, que desequilibra-se e, impellido pela velo-
cidade adquirida, rola duas e tres vezes no
chão. Antes que torne a si do a s s o m b r o da
quéda, está subjugado. J á o vaqueiro saltou d a
sella e enredou-lhe uma das mãos entre os chi-
fres. E s t á sem a c ç ã o e á mercê do vencedor.
S ã o episodios quotidianos e vulgares, de
que ninguém se u f a n a ; aliás, o sertanejo é o
typo da mais simples e sincera modéstia. E -
ducado e afieito a uma vida de a s p e r a s lutas e
acostumado a encarar a morte com calma e
sangue frio, n ã o julga dignos de m e n ç ã o fei-
tos que no emtanto s ã o prodígios de destreza
e coragem.
E de uma bravura serena e decidida, de
quem tem consciência de seu valor e a g e na
o c c a s i ã o necessária com a simplicidade de um
acto habitual e comezinho.
N a s seccas,,. sua actividade redobra. E '
necessário p r o v e i diariamente a alimentação
dos rebanhos. A c a b a r a m - s e as p a s t a g e n s e as
arvores estão despidas e núas. E n t r e t a n t o , ha
plantas como a carnahuba, que sabem conser-
v a r em meio do flagello sua f r e s c a verdura. A
oiticica è assim, m a s não tem a resistencia do
joazeiro, morre si lhes cortam a s folhas. E s t e ,
não, è a melhor r a m a do sertão. Abatem-lhe
os galhos terminaes e o g a d o devora as folhas
e até a c a s c a do tronco. E dentro de poucos
dias rebenta-lhe de novo a folhagem. ()nde
vai encontrar esta rústica ereatura condições
de vitalidade, viço e vigor neste sólo requeima-
(lo ((ue ha dous annos não recebe inverno ?
P l a n t a prtciosa, que devera ser systematioa-
mente cultivada para cobrir com t ua s o m b r a
fresca os grandes d e s c a m p a d o s e constituir
uma importante reserva alimentar nas seccas.
E ' , porém, aos c a c t u s d o sertão, tão pro-
fusamente ahi espalhados, que mais se recorre
no flagello para o sustento dos aniraaes. E s t e s
n ã o têm folhas nem d ã o sombra. S ã o talos
atormentados e disformes, a r m a d o s de longos
espinhos acerados. V i v e m protegidos por suas
a r m a s defensivas naturaes, e os animaes os
respeitam. M a s nas seccas s ã o cortados, amon-
toados e tostados pela c h a m m a . S ó os espi-
nhos, única parte secca do vegetal, ardem nes-
tas condições. O resto é poupado e constitue
uma grossa epiderme branca, carnosa e húmi-
da, i m p r e g n a d a de um sueco glutinoso e es-
pesso. E ' u m a . m a r a v i l h a , c o m o em s e m e l h a n -
tes condições a t m o s p h e r i c a s coexiste t a m a n h a
humidade.
A f u m a ç a a z u l a d a e clara d a f o g u e i r a ele-
v a - s e tenue no seio a b r a z a d o d a c a a t i n g a e os
r e b a n h o s que de longe a a v i s t a r a m v ê m cor-
r e n d o e m u g i n d o em busca do alimento de que
é indicio.
P l a n t a s assim . e s p o n t a n e a s e s e l v a g e n s ,
de tão prodigiosa vitalidade, m e r e c e m ser cui-
d a d a s a t t e n t a m e n t e c o m o recurso valioso nas
é p o c a s de s e c c a . S a b e - s e que na A m e r i c a do
N o r t e os c a c t u s têm sido objecto de estudos
i m p o r t a n t e s e por selecção c h e g o u - s e a f i x a r
u m a v a r i e d a d e a b s o l u t a m e n t e sem espinhos e
tão preciosa c o m o a s s e l v a g e n s .
Notai, pois, a i n d a u m a vez, c o m o em todo
o nosso territorio existem recursos n a t u r a e s
e x t r a o r d i n á r i o s e peculiares, c a p a z e s , q u a n d o
bem a p r o v e i t a d o s , de a s s e g u r a r a subsistên-
cia d a s c r e a t u r a s em t o d a s a s é p o c a s , m e s m o
as mais anormaes.
M a s o s e r t a n e j o nem s o m e n t e é criador,
é t a m b é m e c o n c o m i t a n t e m e n t e agricultor es-
f o r ç a d o e activo. O sertão é fertilissimo e pro-
duz todas a s culturas u s u a e s , c o m um viço e
u m vigor e x t r a o r d i n á r i o s , O algodoeiro, espe-
c i a l m e n t e , t o m a ahi um d e s e n v o l v i m e n t o inso-
lito, s o f f r e u m a t r a n s f o r m a ç ã o radical e pro-
f u n d a , p a s s a n d o de planta h e r b a c e a annua ou
biannual a v e r d a d e i r a a r v o r e v i v a z e persis-
tente. D u r a n t e 10, 1 2 e m a i s a n n o s produz s e m
interrupção, a não ser dos curtos m e z e s do in-
verno, de sorte que s e m p r e p ô d e e n c o n t r a r - s e
o fructo cm todos os estádios da evolução
desde o botão floral até á m a ç a n aberta e es-
g a r ç a d a , offerecendo ao vento, p á r a que lh'as
leve e l h a s distribua, as pequenas sementes
negras escondidas nos alvos flocos immacula-
dos, levíssimos e macios, de longas fibras se-
dosas.
N o s s o a l g o d ã o é uma v a r i e d a d e local e
distineta, própria dos sertões seccos e altos.
K ' o mais bello typo nacional no gênero e mui
to apreciado no extrangeiro, onde goza de uma
cotação superior.
A lavoura faz-se nos sertões indistineta-
mente em todos os terrenos, si houver bom in-
verno. M a s sobrevindo a secca fica limitada á s
circumvisinhanças dos açudes nas terras supe-
riores, que v ã o sendo descobertas pelos pro
grossos d a d e s e c c a ç ã o o u a s vasutites e noval-
le inferior a b a r r a g e m de terra, r e f r e s c a d a pela
infiltração, a que c h a m a m a revendo.
E m q u a n t o durar a humidade a producção
é extraordinária. N ã o se pôde imaginar nesta
terra riquíssima e neste sol vivificante o que
vale uma pequena porção de agua bem apro-
veitada.
M a s poucos possuem açudes, só os mais
abastados. O sertanejo pobre, nas s e c c a s vai
procurar as b a i x a d a s e o leito descoberto dos
rios, onde mais tempo se conservam frescos
os terrenos.
Entretanto, a secca pn»seguindo não res-
ta dentro em pouco mais superfície a l g u m a
com vestígios de humidade.
M a s o sertanejo, nitri to a lntar com a ad-
versidade c a enfrentar as diílicuklades com
animo sereno e forte, n;lo d e s a n i m a e e m p r c -
hende uma obra, cujo projecto somente exige
uma alma intrépida e valorosa. R e s o l v e exca-
var o leito do rio até encontrar nas profunde-
zas a humidade fugitiva e ahi preparar seu
c a m p o de cultura.
I m a g i n e - s e o esforço hercúleo do i>obre
homem a dous e trcs metros do solo, a r m a d o
de rudes instrumentos, trabalhando todas as
horaS da noite e só repousando durante o dia
no mais ardente da canicula, p a r a ao cabo co-
lher cs parcos v e g e t a e s que mal lhe podem
suster á familia.
Ah, o sertanejo è um t y p o másculo e va-
ronil, bem filho de seu meio e na altura das
circumstàncias excepcionaes em que vive. E '
de uma sobriedade incrível, de uma resistên-
cia, de uma tenacidade e de uma bravura aci-
ma de todo elogio. E ' simples e bom, c, ' c m
meio de todas a s privações, de uma honesti-
dade perfeita.
T a l é o nosso homem e tal é a nossa ter-
ra t ã o cheia de recursos naturaes, a d e q u a d o s
ã sua situação e c a p a z e s de assegurarem-lhe
vida autonoma m e s m o nas maiores anomalias
climatéricas.
S e u problema n ã o é excepcional, nem par-
ticular, é. a p e n a s uma modalidade local, do
v a s t o problema d a s seccas, (]ue tem para todo
° paiz um vulto considerável pela e x t e n s ã o de
terra brasileira que a b r a n g e , pelo homem que
n povòa e j)ela riqueza que representa.
O G o v e r n o actual e o passado, compene-
M)

trados da importancia do a s s u m p t o , o tem a-


bordado com acerto e decisão, sobretudo no
que respeita ás vias de communicação, que são
a b a s e e a condição fundamental de qualquer
outro melhoramento.
M a s a nosso ver o problema capital ainda
necessita mesmo ser posto convenientemente,
depois de um criterioso estudo dos recursos
naturaes da r e g i ã o e do modo mais efficaz d e ,
coordenal-os e aproveital-os. D a h i d e v e r á v i r a
solução definitiva. l i ' o lado estático da ques-
t ã o que deve ser respeitado, constituindo os
melhoramentos a p e n a s aperfeiçoamentos c a m -
pliações. Aqui, como em toda a parte, o pro-
gresso real é sempre o desenvolvimento da or-
dem existente.
Necessitamos, para levar ao cabo esta
g r a n d e obra nacional e humana, a contribui-
ç ã o s y m p a t h i c a de todos os Brasileiros. A l é m
do beneficio material que ella representa para
a N a ç ã o , permittindo utilizar o esforço inutil-
mente hoje desperdiçado de g r a n d e parte de
seus filhos, ha um objectivo mais alto e mais
patriatico, qual o de salvar de um d e s a p p a r e -
cimento irremediável e fatal este enérgico t y p o
ethnico do sertanejo, tão profundamente bra-
sileiro, t ã o puro e tão distineto, em meio dos
elementos dissolventes.
R a ç a admiravel e tenaz, caracter forma-
do a golpes de infortúnios c: adversidades, ac-
tividade experimentada nos mais ingratos e
variados misteres e c o r a ç ã o honesto de uçia
e n c a n t a d o r a simplicidade <> de uma infinita
bondade
—41—

P e r a n t e a H u m a n i d a d e e perante a Patria
é um crime, já n ã o digo deixar morrer e des-
a p p a r e c e r para sempre, mas simplesmente
permittir que estes obscuros homens de bem,
tão laboriosos e tão nobres, cheguem â humi-
lhação de estender á caridade publica a larga
m ã o honrada.
N ã o , n ã o é a piedade que lhes devemos,
mas o respeito profundo por estas a l m a s singe-
las e energicas, que lutam braço a braço com
° s próprios elementos desconcertados e resu-
mem um tão admiravel conjunto de virtudes
humanas :—a coragem e o valor do heróe, a
firmeza e a tenacidade do m a r t y r e o coração
puro do santo, isento de toda a macula e prom-
to a todo o sacrifício.

M
F r e i Miguelinlío, o insigne rnartyr rio-
g r a n d e n s e do norte, secretario do G ò v e r n o
Provisorio da revolução de 1 8 1 7 em P e r n a m -
buco, lançou ao povo uma p r o c l a m a ç ã o e o fez
em tom pacifico, alheio ás mesquinhas ideias
de v i n g a n ç a :
" P e r n a m b u c a n o s . . . A Providencia, que
dirigiu a obra, a levará a termo. V ó s vereis
consolidar-se a nossa fortuna, vós sereis livres
do peso de enormes tributos que g r a v a m so-
bre nós ; o vosso e nosso P a i z subirá ao ponto
de g r a n d e z a que ha muito o espera e vós co-
lhereis o fructo dos trabalhos e do zelo de nos-
sos c i d a d ã o s .
Ajudai-os com os vossos conselhos, elles
s e r ã o ouvidos ; com os vossos braços, a P a t r i a
e s p e r a por elles ; com a nossa applicação á
agricultura, uma n a ç ã o rica è uma n a ç ã o p o -
derosa".
Revolução de 1817
( C o n t i n u a ç ã o d o v o l . 8 , p a g 14.1)

OFFICIO DIRIGIDO AO GO-


VERNADOR DA CAPITANIA DO
C K A R Á PELA JUNTA GOVERNATI-
VA n o R i o G R A N D E D O N O R T E ,
I N S T I T U Í D A NA FORMA DA OR-
DEM K E O I A D E I2 DE DEZEM-
BRO DE 1 7 7 O (*)

Ulmo. e f í x m o , S r .

C o m o maior valor, fidelidade, intrepidez


•e alegria de todos, hoje, 25 do corrente, deste-
m i d a m e n t e o P o v o desta cidade, e seus su-
hurbios, unidos â sua tropa de linha, que é de
cento e trinta s o l d a d o s com o f f i c i a e s Inferio-
res e superiores, s a c c u d i r a m o p e z a d i s s i m o
j u g o do intitulado g o v e r n o provisorio, aprisio-
nando a o m a i o r monstro, o m a i s cruel, i n g r a -
to. e f a l s a r i o dos v a s s a l l o s do N o s s o S o b e r a n o ,

(*) A' gentileza do Barflo de Studart devemos a offerta deste


"Ocumento
V I C E N T E DE LEMOS.
44

o intitulado André de Albuquerque Maranhão


de Cunhau, que falsamente havia tomado esta
cidade e aprisionado não só o seu Governador,
José Ignacio Borges, com© a todo o povo delia,
sem que mostrasse aquelle monstro a menor
acção dê heróe, finalmente foi gloriosamente
resgatada esta cidade sem que houvesse mor-
te, nem o menor ferimento mais do que o que
se fez nesse bárbaro monstro, de que se julga
perecerá breve, que fica preso na cadeia da
Fortaleza, com maxos aos pés, e logo foi feito
o Governo interino na forma da lei. Vendo nòs
toda a necessidade e de tudo nesta pobríssima
cidade, só nos lembramos de corrermos a alta
protecção de V. Excia. ; portanto lhe vamos
supplicar em nome de S, Magestade Fidelís-
sima e de todo este Povo, que nos soccorra
com o armamento, polvora, balas, e a gente
que puder dispensar, e o mais que em circum-
stancias taes vir ser necessário.
Por esta cidade passa o Pontes, o Ale-
xandrino, sobrinho do Escrivão que foi da Ca-
mara, e parente dos Lages, Mathias de T a l , e
o Piloto Manoel de Sampaio, com indícios cer-
tos de que vão assassinarem a V . Excia., es-
tamos certos de que não deixará de estar pre-
venido da menor acção que intentarem fazer
nos que se acharem empregados no serviço de
S. Magestad^. Fidelíssima : mas sempre va-
mos a previnír a V . Excia. Ficamos certos de
que sendo esta cidade por V. Excia, soccorri-
da, jámais deixaremos de defender até o fim
esta causa, como também de que Nosso Sobe-
rano assim sabendo não deixará de remunerar
45

a V. E x c i a . , c Deus N o s s o Senhor o felicitará


por dilatados annos.
Cidade do Natal, 25 de Abril de 1 8 1 7 .

Antonio G e r m a n o C a v a l c a n t e , C a p i t ã o
C o m m a n d a n t e da tropa. Antonio Freire de A-
vnorim, Vereador.
E s t á conforme.
N o impedimento do Secretario, o Official
da Secretaria Vicente Ferreira de C a s t r o e
Silva.
SEQUESTRO

dos bt-ns do chefe da rebelhão André de Al-


buquerque Maranhão e de outros
inconfidentes

i>oc N® i
(
Registro dos Editaes que se remetteram as
Villas desta Capitania sobre se ar-
rendarem os engenhos Cunhaú, Tamatan-
duba, Estivas, como abano se vc :

EDITAL

O T e n e n t e Coronel Manoel Ignacio P e -


reira do L a g o , Provedor e Contador da F a -
zenda Real, Juiz Privativo na A r r e c a d a ç ã o e
da A l f a n d e g a M ó r e Direitos R e a e s e d a s Cou-
sas dos H o m e n s do Mar, Y e d ô r G e r a l dn
G e n t e de Guerra nesta cidade de N a t a l da C a -
pitania do Rio G r a n d e do Norte por Sua M a -
g e s t a d e Fidellissima que Deus G u a r d e , etc.
F a ç o saber que por esta Provedoria da
R e a l F a z e n d a se hão de por á lanços por ar-
rendamento annual os engenhos de fazer as-
sucar com as suas f a b r i c a s de escravos, ferra-
mentas e bois, de Cunhaú e de T a m a t a n d u b a ,
pertencentes ao traidor e falsario a R e a l Co-
roa, A n d r é de Albuquerque M a r a n h ã o , coronel
que foi do R e g i m e n t o de Cavallaria Miliciana
da Divisão do Sul desta Capitania ; e os d a s
E s t i v a s do outro A n d r é de Albuquerque M a r a -
47

nhão, C a p i t ã o mór que foi das ordenanças do


m e s m o Districto por seguir o m e s m o partido,
emquanto S u a M a g e s t a d e n ã o disposer delles
o que for servido. Quem os quizer arrendar o
poderá fazer vindo a esta cidade no dia seis
de Junho proximo seguinte, dando fiadores
idoneos, chans e abonados, mostrando-se pri-
meiro habilitados os seus fiadores pela Conta-
doria desta Provedoria em que mostrem nada
deverem a F a z e n d a Real. E para que chegue
a noticia de todos mandei p a s s a r o presente
Edital por mim a s s i g n a d o e sellado com o si-
nete d a s A r m a s R e a e s , que serve nesta P r o -
vedoria, do qual se extrahirão C o p i a s assigna-
das pelo E s c r i v ã o delia, a que se d a r á a mes-
ma fé e credito, para se affixarem onde con-
vier e necessário for e este se affixará no logar
costumado da c a s a desta dita Provedoria.
D a d o e p a s s a d o aos 6 de Maio de 1 8 1 7 . L u i s
J o s é Rodrigues Pinheiro, E s c r i v ã o da R e a l
r a z e n d a o fiz escrever. E s t a v a o signete das
A r m a s Reae«. Manoel Ignacio Pereira do L a g o .
(Do livro de R e g i s t r o d a s Provisões, que
vieram da R e a l F a z e n d a para a Provedoria
do R i o G r a n d e do Norte, p a g . 168 v. ).

DOC. N(> 2

Registro dos Eciitaes que se remetteram


oara-as Villas de S. José e Goy-
aiininha, sobre o que abaixo se contém :
EDITAL

O T e n e n t e Coronel Manoel Ignacio Pe-


48

reira do L a g o , Provedor e Contador da F a -


zenda R e a l , Juiz Privativo na a r r e c a d a ç ã o
delia e da A l f a n d e g a Mor e Direitos R e a e s e
d a s C o u z a s dos H o m e n s do Mar, V e d o r G e -
ral da G e n t e de G u e r r a nesta cidade do N a t a l
da Capitania do Rio G r a n d e do Norte por S u a
M a g e s t a d e Fidelíssima que D e u s G u a r d e , etc.
F a ç o saber que por esta Provedoria da
R e a l F a z e n d a e F i s c o se h ã o de por á lanços
para serem a r r e m a t a d o s por a r r e n d a m e n t o
annual os engenhos B e l é m e S . João, dos in-
confidentes e facciosos denominados Cunhaus,
sitos no Districto da Villa de S . J o s e desta C a -
pitania, com a s suas f a b r i c a s de escravos, car-
ros, bois e animaes cavallares pertencentes a s
m e s m a s fabricas. Quem quizer lançar nos di-
tos E n g e n h o s , poderá vir fazer nesta P r o v e -
doria no dia 7 de Junho próximo seguinte, onde
se a p r e s e n t a r ã o os seus fiadores habilitados
com certidões da contadoria em que mostrem
nada deverem a R e a l F a z e n d a , para serem
admittidos a lançar. E para que o referido,
conste, mandei p a s s a r o presente por mim as-
signado e sellado com o signete d a s A r m a s
R e a e s que serve nesta P r o v e d o r i a . D a d o e pas-
sado aos 8 de Maio de 1 8 1 7 . L u i z J o s é Rodri-
gues Pinheiro, E s c r i v ã o da R e a l F a z e n d a , o
fiz escrever. E s t a v a o signete d a s A r m a s R e -
aes. Manoel Ignacio Pereira do L a g o . (Citado
livro pag. 169).
noc. N9 3

Officio vindo do Juiz Ordinário da Vi Un


Nova dn Princez a, no Sr. Provedor dn
Real Fazenda desta Capitania

Ulmo. Sr. Provedor da Fazenda Real.


Recebi o officio de V . S'>de i ? de Maio,
que, acompanhára o mandado de commissAo
para mandar proceder o sequestro nos bens e
fazenda de André de Albuquerque Maranhão
e de seus parentes, o que im mediatamente dei
execução, como se vê dos ditos sequestros que
os remetto íexados e lacrados. T a m b é m com
» maior brevidade, remetto o officio para o
Juiz Ordinário da Villa do Principe, de que re-
coin mendei o recibo para a minha resalva. Os
gados das ditas fazendas já se acham remetti-
dospara essa cidade, como V. S * . ordena. Deus
Guarde a V . S^. Villa da Princeza.14 de Maio
de 1 8 1 7 . Alexandre Francisco da Costa.

DOC. N" 4

Registro dos Editaes que se atiixaram no-


legares públicos das Villas desta Capi
tania, como abaixo se verá.

Pelo Adjuncto das Rendas Reaes desta


Capitania, se hão de por á lanços para se ar-
rematarem á quem mais dér, os gados de boi-
adas, e os animaes cavallares que não fòrem
fabricas de Engenho e de Fazendas, perten-
50

centes aos facciosos da c a s a de Cunhaú que


se acharem em toda esta Capitania, nos trez
dias que decorrem de vinte e um a vinte e trez
de Junho, futuro. Quem quizer a r r e m a t a r os
referidos gados, c o m p a r e c e r á perante o refe-
rido Adjuncto, em qualquer dos referidos dias,
mostrando-se habilitado, e, seus fiadores, de
nada deverem a R e a l F a z e n d a , com a condi-
ção de p a g a r e m logo que os receberem dos
Administradores ; e, para que chegue a noticia
de todos, se passou o presente E d i t a l p a r a se
a f f i x a r nesta cidade, nos logares mais públi-
cos e do costume, e delle se extrahirão a s co-
pias necessarias para se remetterem a todas a s
Villas desta Capitania, a s s i g n a d a s pelo E s c r i -
vão, por quem este t a m b é m vai assignado.
Contadoria, 24 de Maio de 1 8 7 1 . O E s c r i v ã o
da R e a l F a z e n d a , L u i z J o s é R o d r i g u e s Pi-
nheiro. (Cit. L i v . p a g . 169, v).

t)')C. N. 5

Registro 'lo ofíicio dirigido no Comina n-


d ante de Ponta Negra

L o g o que este receber, entregará ao por-


tador 4 murrões de poita e uma peça de panno
de linho, pertencentes ao faccioso J o ã o da
C o s t a B i z e r r a , que se a c h a m em seu poder, e,
queira vir a s j a n g a d a s do dito, que lá se a c h a m ,
p a r a esta cidade e seja logo. Deus G u a r d e a
V . M c í Cidade do Natal, 6 de J u n h o de 1 8 1 7 .
Manoel I g n a c i o P e r e i r a do L a g o . Senr. C o m -
mandante da Praia de Ponta Negra, Francisco
Xavier de Oliveira. (Cit. liv. pag. 169. v).

I>oc. N° 6

Registro do officio do Serir. Provedor desta


Capitania, ao Administrador fio Enge-
nho lidem, losé Iiarhoza de Goes

Remetto-lhe 16 arroubas de carne secca


para sustentação dos escravos desse engenho,
como também uma barra de ferro para as
duas serras que me pede no seu officio, uma
para esse engenho e outra para o engenho de
S. João. Deus Guarde a V. Ml*. -Cidade do Na-
tal, 27 de Junho de 1 8 1 7 . Manoel Ignacio Pe-
reira do Lago. Senhor Administrador do En-
genho Belém, José Barboza de Goes. (Cit. liv.
pag. 170. v).

DOC. N" 7

Registro de informação que dá o Senr. Pro-


vedor da Real Fazenda, no requerimen-
to do Tenente Coionel José Ignacio de Albu-
querque Maranhão, cujo theor é o
que abaixo se segue

Ulmo. Senr. Governador.


Foi-me entregue o requerimento do sup-
plicante Tenente Coronel José Ignacio de Al-
buquerque Maranhão, com o despacho de V.
S^ de 28 de j u n h o , corrente, p a r a eu i n f o r m a r
sobre o conteúdo do m e s m o requerimento. In-
formo a V . S^ que não mandei p a s s a r man-
d a d o algum para se fazer sequestro em bens
do supplicante e quantos mandei p a s s a r p a r a
Assü, S e r i d ó e mais termos d a s Villas desta
Capitania, foram do theor e forma seguinte :
O T e n e n t e Coronel Manoel I g n a c i o P e -
reira do L a g o , P r o v e d o r e C o n t a d o r da F a -
zenda R e a l , Juiz Privativo na a r r e c a d a ç ã o del-
ias e da A l f a n d e g a Mor e Direitos R e a e s e d a s
c a u s a s ' d o s H o m e n s do M a r , V e d o r G e r a l da
G e n t e de Guerra, nesta cidade do Natal, da
Capitania do R i o G r a n d e do Norte, por S . Ma-
gestade Fidelíssima que Deus G u a r d e , etc.
A o S e n r . Juiz Ordinariode tal termo, ou a quem
seu c a r g o servir. F a ç o saber em c o m o por ser
publica a inconfidência e traição de A n d r é de
Albuquerque M a r a n h ã o , contra a C o r d a com
tal e x c e s s o que seduziu a todos os seus paren-
tes para a rebellião, que f a z em execução em
toda esta C a p i t a n i a e por seguirem os m e s m o s
o referido attentado, estarem sujeitos os bens
de uns e cutros á R e a l F a z e n d a , pelo crime as-
sim commettido, rog<> a V. por serviço de S .
M a g e r t a d e Fidelíssima, mande pelos oííiciae.-
de antes se f a z e r sequestro e apprehenções em
todos os bens do referido traidor e seus paren-
tes, que se a c h a r e m nesse termo, em autos
separados, aos quaes mandará dar deposita
rios idoneos que delles t o m e m conta para a
darem neste J U Í Z O , quando por elle lhe forem
pedidos debaixo das penas de fieis depositá-
rios. E ' si V . M l í assim o cumprir e fizer cum
prir, f a r á serviço de S. M a j e s t a d e Fidelíssima,
a quem Deus G u a r d e e a mim Mercê, e, com
as devidas penhoras, me remetterá este para
se proceder na forma da L e i . D a d o e passado
nesta sobredita Cidade do Natal, etc. L u i z
J o s é R o d r i g u e s Pinheiro, Esçrjivão da Real
F a z e n d a , o fiz escrever. Manoel I g n a c i o Pe-
reira do Lago'. A ' este Juizo ainda n ã o foi re-
niettido o-sequestro d o Tc.ó para se poder sa-
ber si nelle e s t ã o contempladas a s f a z e n d a s
do supplicarrte, que nunca será a do Riacho
dos Porcos por ser da Capitania da P a r a h y b a ,
para. onde ainda se n ã o expediu C a r t a Preca-
tória, rogatoria, para se fazer sequestro em
tal fazenda, e no sequestro do T r a h i r y n ã o
está contemplada f a z e n d a alguma do suppli-
,cante. F ' o que posso informar a Y . S * que
mandará o que for servido. Cidade do Natal,
3 ° de J u n h o de 1 8 1 7 . Manoel I g n a c i o Pereira
do L a g o . ( P a g . 1 7 1 v . )

noc. N° 8

Registro do oflicio de Antonio I*ernãhdes


Pimenta,dirigido aoSenr, Provedor
desta Capitania, e, sobre o seu conteúdo
abaixo se declara

Ulmo. Senr. T e n e n t e Coronel Manoel


Ignacio P e r e i r a do L a g o .
T i v e o s u m m o prazer e contentamento
de me e m p r e g a r com maior fervor no serviço
de S u a Alteza R e a l , fazendo-se-me deposita-
rio e administrador da fazenda do P a c ó , que
foi do C a p i t ã o Mór A n d r é de Albuquerque
M a r a n h ã o , e na mesma o c c a s i ã o fui imcum-
bido de juntar os g a d o s de açougue, que se
a c h a s s e m na referida fazenda, os quaes f a -
zendo-os pegar poucos eram, e como ficaram
faltando ainda alguns, peguei sete meus, para
f a z e r o. numero de quarenta c a b e ç a s , que o s
remetto pelo portador J o ã o F r a n isco de Me-
nezes, e como via que a d e s p e s a era a m e s m a ,
quiz a u g m e n t a r o numero dos bois com estes
meus para depois p a g a r - m e destes que fica-
ram, e si nisto obrei com pouco acerto, p e ç o
que V. S : * haja de desculpar-me, pois foram
boas as minhas intenções.
A junta d e s t e s . g a d o s foi feita com a mi-
nha gente, e, igualmente, õ vaqueiro, e disto
n ã o há despeza a l g u m a e só se deve p a g a r a
viagem do portador com a sua gente, que s ã o
vinte e um mil reis. Incluso, remetto a V . S *
este recibo do vaqueiro da fazenda para V . S a
d a r a s providencias nec.essarias. como t a m -
bém uma carta do m e s m o vaqueiro, em que
faz vêr o extravio que tem havido na fazenda
á v i s t a do que V . S^ m a n d a r á o que for ser-
vido e para tudo o mais que for do serviço d e
V. me a c h a r á prompto. D e u s G u a r d e a Y .
£l
S . Attencioso servo e criado. Sabe-muito 21
de J u n h o de 1 8 1 7 . Antonio F e r n a n d e s P i m e n -
ta. ( P a g . 1 7 1 . v.)
DOC. N° 9

Registro da carta do • vaqueiro da fazenda


do Paco, escripta ao Administrador
da referida fazenda, como ahaixo se vê

Illmo. Senr. C a p m . Antonio Fernandes


•Pimenta.
Dou parte a V. S i l em como desta fazen-
da do P a c ó , se tem pegado nove rezes a sa-
ber : o C a p m . S i m ã o Guilherme, quando pas-
sou de Mossoró para a SerrrTcIo Martins com
a sua companhia, pegou uma vaeca, dizendo
que era para comer no serviço de Sua Alteza,
e na mesma conducção pegaram um cavallo e
o mataram na mesma viagem sem se me d a r
parte de cousa alguma e nem sem vêr a or-
dem por que o faziam, e no regresso para as
suas casas, estiveram uns dias em S. Louren-
ço e ahi mataram mais seis v a c c a s e seis bois
s e n i que estivessem em serviço algum de S u a
Alteza. T a m b é m dou parte a V. Mce. em
como o C a p i t ã o Mór Antonio Ferreira Caval-
cante, mandou buscar seis bois e destes que
foram, tornou a mandar quatro, â vista do que
V. Mce. determinará o que for servido. T a m -
bém remetto a Y. Mce. este recibo do Reve-
rendo Vicario, que consta da despesa que te-
nho feito nesta fazenda; desejo merecer de V.
Mce. o favôr á fazer saber ao Senr. do Adjun-
to da Real F a z e n d a da cidade do Natal, me
mandem embolçar desta quantia; também
dou parte a V. Mce. em como o Com mandam
te S i m ã o Guilherme matou umas rezes alhei-
a s e mandou que os donos viessem cobrar
outras nesta f a z e n d a ; é o que se me offerece á
dizer a V . M c e . , pois fico p a r a mostrar que
com v é r a s sou I)e V. Mce. C o m p a d r e e ami-
go, D o m i n g o s A. C a v a l c a n t e , Pac.ó, 6 de Ju-
nho de J8T7. ( P a g . 1 7 2 . v . )
*

DOC. N° IO

Registro do oftieio ieito no Ser.r. l'ro vedor


desta Capitania, de Thomas, de Ara
ujo Pereira, sobre os sequestros de </ue elle
ê depositário

Illmo. S r . Dr. P r o v ê d o r Manoel I g n a c i o


P e r e i r a do L a g o . >
N o sequestro que pelo Juiz Ordinário des-
ta Villa, se procedeu nos bens que foram per-
tencentes á casa de Cunhaú, eu assignei depo-
sito d a s f a z e n d a s constantes da minuta junta,
e sendo um dos artigos r e e o m m e n d a d o por
V. S^ fazer juntar os g a d o s de açougue e re
mettel-os a e s s a ' c i d a d e , no m e s m o dia, prin-
cipio juntar e com n maior diligencia hoje des-
peço o boiadôr de uma das f a z e n d a s , J o ã o V e
lho Barretto, por ser entre todos o que me
merece o melhor conceito, com 35 bois, e lhe
ordeno que v á f a z e n d o busca pelo caminho : l
ver se completa ao menos, os quarenta de que
m a n d a r á V . S * p a s s a r recibo para t.rinha des-
carga ; os donos destas f a z e n d a s c o s t u m a v a m
puxar o masculino em pequeno p a r a a s do
T r a h i r y e P o t e n g y , onde os refaziam, por isso,
D Í •

e pela secea que a c a b á m o s ' d e experimentar e


sóirrer, nao"'iT?t'bois e poucos gados. O man-
dado de V . S'* foi para se f a z e r sequestro em
todas a s f a z e n d a s do T e r m o dest? Villa, como
se executou, e si lhe for precizo saber os que
no m e s m o termo, pertencem á Capitania da
P a r a h y b a , o portador o dará. A s custas desta
diligencia p a r a o Alcaide e E s c r i v ã o , anda-
ram por 52 : 4 7 0 reis, e tendo estes recebido
por parte de I g n a c i o Leopoldo, j 2:000 reis da
fazenda da L u z , se podiam p a g a r de 4 0 : 4 7 0
reis o que eu n ã o consenti, satisfazendo de
minha algibeira, até que Y . S i l determine de
onde elles devem e m a n a r , bem como as des-
pezas necessarias para reparo d a s m e s m a s fa-
zendas e satisfações de desobriga do Parocho,
dizimo e quarto dos vaqueiros, etc. Nesta con-
dueçáo v ã o quatro pessoas alugada«, uma del-
ias vai p a g a n d o uma divida que anterior de
via á C a s a , a s trez vão justas a dois mil reis
cada um, que m a n d a r á V. S^ satisfazer e, al-
guma despeza que para o sustento, a c c u z a r
ter feito o creadôr, o qual pelo bem de fiel Vas-
sallo nada quer. P a r a d e s e m p e n h a r a s obriga-
ções de bom vassallo e fiel depositário, se me
faz precizo que V . S * me m a n d e em executivo
contra qualquer pessôa que haja de p a g a r em
algum bem pertencente a estas f a z e n d a s , as-
sim como uma i n f o r m a ç ã o solida e, em tudo,
circumstanciada, que acredite á consideração
e respeito com que sou. Deus G u a r d e a V . S 9 .
P r o m p t o soldado e fiel criado. Mulungú, 25
de J u n h o de 1 8 1 7 . T h o m a z de A r a u j o Pereira.
(Pag. 1727V.) ' ' •
HOC. N " I I

Registro do officio feito no Senr. Provedor


desta Capitania, de Felix Gomes
Pequeno, sobre o sequestro de que c depo-
sitário

Illmo. S r . Dr. Provedor.


P o r ordem de V . S í l mandou o Juiz Or-
dinário desta Villa proceder sequestro em to-
dos os bens que foram da casa do Cunhaú, e,
eu assignei deposito da fazenda de S . Antonio
e G r o s s o s que é outra e logo me foi ordenado
fazer juntar o g a d o de açougue e remettel-os á
e s s a cidade, á inspecção de V. S * c que jA n ã o
f a ç o por andarem os criadores d a s m e s m a s
fazendas, em junta dos gados despersos e p o r
isso, espero, e m resposta deste, novas ordens
de V. S^ que Deus G u a r d e . l ) e V . S ' \ P r o m -
pto soldado e fiel criado. Felix ( i o m e s Pe*
queno. ( P a g . 173. v.)

DOC. N, 12

Registro do olhei o leito 00 Senr. Provedor


desta Capitania, de Jol\o Lopes Galvão,
sobre o que abaixo se verá

Illmo. S r . Dr. Provedor.


Por ordem de V. S^ mandou o Juiz Or-
dinário desta Villa proceder sequestro em to-
dos os bens que foram da c a s a de Cunhaú e
como nas minhas terras tenha um m a g o t e d e
g a d o pertencente ao Capitão Mór que foi J o ã o
de Albuquerque M a r a n h ã o , de que eu sou cri-
ador, assignei deposito do referido gado : e
como na ordem que V. S * mandou ao Juiz Or-
dinário, também lhe ordenava de m a n d a r jun-
tar os bois de açougue <• remettel-os. a essa ci-
dade 4 inspecção de V. S * sou a dizer a V . S "
que no magote de que sou criador, n ã o en-
tram bois, pois os c a r r e g a r a m no,auto de se-
questro, a fazenda de S . Antonio proximo as
minhas terras, e por quanto espero em res-
posta deste novas ordens de V. S*\ que Deus
G u a r d e . D e V. S^ Attencioso, Venerador e
criado. C a s c a v e l , 25 de Junho de 1 8 1 7 . J o ã o
L o p e s Galvão. (Pag. 173. v.)

DOC. N ° 13

Registro do offiçio ao Sr. Provedor desta


Capitania, de Francisco Januario
de Vasconcello» Galvão, sobre o que abaixo
se verá

Illmo. Sr. Dr. Provedor.


P o r ordem de V . S^ mandou o Juiz Or-
dinário desta Villa proceder sequestro em to-
dos os bens que foram da c a s a de Cunhaú e
da familia, e eu assignei o deposito 11 que s ã o
os seguintes : Cunhaü, T r a p i â , P é de S e r r a ,
S . Maria, Cirurgião, Conceição de C i m a , Con-
ceição de B a i x o , B ô a vista, Joazeiro, Mulun-
gu e M a x i n a r é , c o m o consta dos autos de se-
questro em que fui a s s i g n a d o ; e logo me foi
ordenado fazer ajuntar os bois de açougue e
remettel-os a essa cidade á inspecção de \ .
S ; i o que já não faço por andarem os criado-
res das mesmas fazendas em juntas dos gados
dispersos que foram retirados por causa da
secca passada e outros estarem em abertura
de cacimba, e por isso espero em respostas
destas, novas ordens de V . S : i para prompta-
mente executal-as, á quem Deus Guarde. De
V . S ÍJ . Prompto Venerador e fiel criado. Joa-
zeirodeC-ima, 25 de Junho de 1817. Eran-.
cisco Januario de Yasconccllos Galvão, (Pag.
173'. v.)

DOC. N° 14

Registro cm resposta do o ih cio supra

E m offiçio de 25 de Junho proximo pns


sado me participa V . Mcê. haver assignado
deposito de 1 1 fazendas de gado pertencentes
a pessoas da casa de Cunhaú, e ser-lhe orde-
nado ajuntar os bois de açougue e os remetter
para esta cidade A minha inspecção, o que não
se executou logo por andarem os vaqueiros
em junta dos gados dispersos retirados por
causa da secca. Ordeno a V. Mcê. não
faça por agora junta de bois de açougue que a
seu tempo se lhe ha de determinar, e as fazen-
das que pertenceram ao traidor inconfidente
André de Albuquerque Maranhão, coronel que
foi, e os de seus parentes moradores nesta Ca-
pitania, fará V , Mce. ferrar todo os gados
G1

delias com o f e r r o R e a l e os que p e r t e n c e r e m


a outras de d i f f é r e n t e s C a p i t a n i a s , fiquem
c o m o e s t ã c atè s e g u n d a o r d e m , m a s o seques-
tro s e m p r e em seu vigor. D e u s G u a r d e a V .
M c ê . C i d a d e de N a t a l , 7 de J u l h o de 1 8 1 7 .
M a n o e l I g n a c i o P e r e i r a do L a g o . S n r . F r a n -
cisco J a n u a r i o de V a s c o n c e l l o s G a l v ã o , Depo-
sitário do F i s c o R e a l . ( P a g . 1 7 3 . v . )

Doe. N<? 15

Registro do o/íieio em resposta As do Capitão


l^elix Comes Pequeno, Depositário
do Fisco Real

R e c e b i um officio de Y . M c ê . sem d a t a ,
no qual me participa ter a s s i g n a d o o d e p o s i t o
d o s s e q u e s t r o s feitos nas f a z e n d a s de S . A n -
tonio e G r o s s o s p e r t e n c e n t e s a c a s a de C u -
nhaú, o r d e n a n d o selhe f a z e r a j u s t a r o g a d o de
a ç o u g u e e r e m e t t e r p a r a esta c i d a d e á minha
i n s p e c ç ã o , o que já não pòdia f a z e r por a n d a -
r e m os c r i a d o r e s d a s m e s m a s f a z e n d a s em jun-
t a s dos g a d o s d e s p e r s a d o s , ficando e s p e r a n d o
a m i n h a d e t e r m i n a ç ã o , sou a dizer-lhe que e s s a
o r d e m fique s u s t a d a até s e g u n d a , e s e n d o a s
r e f e r i d a s f a z e n d a s dos p a r e n t e s d a c a s a C u n -
haú, m o r a d o r e s em difíerentes C a p i t a n i a s , na-
d a d e m o r e V . M c ê . nellas, e m q u a n t o n ã o se
lhe o r d e n a r o que d e v e seguir, entretanto, seja
sempre o sequestro vigoroso. Deus G u a r d e a
V . M c ê . C i d a d e de N a t a l , 7 de J u l h o de 1 8 1 7 .
M a n o e l I g n a c i o P e r e i r a do L a g o . S e n r . C a p i -
t ã o F e l i x G o m e s Pequeno, Depositário do
F i s c o R e a l . (Pag.' 174. v . )

DOC. \,<? ió

Registro do Officio em resposta ao de João


Lopes Galvão Depositário do
Fisco Real

Recebi o seu officio com data de 25 d e


(unho proximo passado, em que me participa
ser V . Mcê. depositário de um magote de g a d o
que tem nas suas terras, e é creador, perten-
cente ao traidor inconfidente J o ã o de Albu-
querque M a r a n h ã o . C a p i t ã o Mór, que foi, e
como determinasse eu ao Juiz Ordinário do
competente termo mandar juntar os bois d e
açougue e remettel-os p a r a esta cidade, á mi-
nha i n s p e c ç ã o era a dizer-me que no referido
m a g o t e de g a d o s n ã o e n t r a r ã o bois por serem
remettidos no sequestro da fazenda de S . An-
tonio, próxima a s èuas terras, sobre o que es-
p e r a v a decisão minha. Sou a dizer-lhe que a
respeito do g a d o do referido traidor não de-
more V. Mcê. cousa alguma sem segunda or-
dem, ficando porém, o sequestro em seu vigor.
Deus G u a r d e a V . Mcê. C i d a d e de Natal, 7
de Julho de 1 8 1 7 . Manoel Ignacio Pereira do
L a g o . S e n r . J o ã o L o p e s G a l v ã o , Depositário
do F i s c o R e a l . ( P a g . 174. v . )
03

DOC. N. I 7

Registro do otiicio em resposta a Thomaz


de Araujo Pereira, Depositário do
Fisco Real

R e c e b i o officio de, V . Meê. de 25 de Ju-


nho proximo p a s s a d o pelo vaqueiro da f a z e n d a
da L u z , J o ã o Velho Barretto, que conduziu
com 3 tSngedores 34 c a b e ç a s de g a d o de
açougue que aqui c h e g a r a m aos quaes paguei
déz mil reis, seis aos tangedores e quatro para
o vaqueiro entregar a V . Mcê. que lá lhe deu
para as d e s p e z a s do caminho ; as custas da
deligencia dos officiaes do sequestro que Y .
Mcê. pagou, ha de ser satisfeita pelo rendi-
mento dos bens que se hão de a r r e m a t a r dos
traidores inconfidentes, logo que se fizer a re-
ferida a r r e m a t a ç ã o , e por elles m e s m o s se hão
de fazer as d e s p e z a s necessárias das f a z e n d a s
e satisfazer a desobriga do R e v e r e n d o Parocho.
Quanto a s pessoas que p e g a r e m alguns bens
do sequestro p á r a o que me pede M a n d a d o
executivo, f a ç a Y . Mcê: assento delias para
eu saber quaes são e compellil-os a satisfação.
A s f a z e n d a s que pertencerem aos7 inconfiden-
tes moradores nesta Capitania, m a n d a r á V .
Mcê. pôr todos os g a d o s debaixo do ferro
R e a l e o contrario praticará com os morado-
res de différentes C a p i t a n i a s sobre o que a seu
tempo se lhe ha de determinar ;,os sequestros
de uns e outros devem ficar sempre vigorosos ;
não mande Y. M c ê . ajuntar mais g a d o de
açougue até segunda o r d e m ; louvo a V . Mcê.
o g r a n d e zelo com que serve ao N o s s o Augus-
tissimo Soberano. D e u s G u a r d e a V . Mcê.
C i d a d e de Natal, 1 7 de Julho de 1 8 1 7 . Manoel
Ignacio P e r e i r a do L a g o . S n r . T h o m a z de
A r a u j o Pereira, Depositário do F i s c o R e a l .
( P a g . 174. v . )
* • ,

DOC I8

Registro do officio do Senr Provedor Reftl


desta Capitania ao Depositário da
fazenda do Paco, Antonio
Fernandes Pimenta

R e c e b i o seu officio de 21 de J u n h o pro-


ximo p a s s a d o em que me partecipa ter a s s i g -
nado deposito da fazenda do P a c ó que foi do
inconfidente André de Albuquerque, d a s Esti-
vas, e que fazendo logo junta de boiada, me
remettia quarenta bois, sendo, sete seus para
enteirar esta conta, para depois se p a g a r com
outras d a s f a z e n d a s e que os eonduetores vi-
nham g a n h a n d o vinte e um mil reis, remetten-
do-me incluso um recibo do V i g a r i 1 d a s Y a r -
zeas do A p o d y , p a s s a d o ao vaqueiro, e uma
c a r t a deste. Sou a dizer a Y . Mcê. que só se
receberam trinta e sete bois dos quaes foram
os eonduetores p a g o s do frete a r a z ã o de
quinhentos reis por c a b e ç a que emportou na
quantia de dezoito mil e quinhentos reis ; quan-
to ao recibo faz-se reparavel estar o Vigário
por p a g a r de seis annos de desobriga sem as
procurar daquelle inconfidente, e assim que
passou a f a z e n d a para S u a M a g e s t a d c , logo
acha-se logar de cobrar ; a respeito do con-
teúdo da carta do vaqueiro, darei as provi-
dencias necessarias, e por a g o r a nada demore
V . M. sem segunda ordem minha, e o va-
queiro que ponha todo o g a d o dessa fazenda
d e b a i x o do ferro Real e tome o recibo. D e u s
G u a r d e a V . M. C i d a d e de N a t a l , 9 de J u l h o
de 1 8 1 7 . Manoel I g n a c i o Pereira do L a g o .
S n r . Antonio F e r n a n d e s P i m e n t a , Depositário
da fazenda do P a c ó . ( P a g . 175. v . )

doc. N" 19

Registro do oflicio do Juiz Or-


dinário da Villa de Port'Alegre,aò Senr.
Provedor da Fazenda Real, sobre o seques-
tro que se fizeram nas fazendas dos in-
confidentes André de Albuquerque Ma
ranhão e dos seus pa entes

Illmo. Senr. Provedor Manoel I g n a c i o


Pereira do L a g o .
Foi-me entregue o oflicio de V . S a datado
de 30 de Abril do corrente anno, remettido
pelo E s c r i v ã o Geral desta Villa, e nelle incluso
o M a n d a d o para sc proceder o sequestro cm
todos os bens que se a c h a s s e m neste termo
pertencentes ao fallecido A n d r é de Albuquer-
que M a r a n h ã o , e seus parentes, em virtude
do qual mandei proceder os dois que, incluso
remetto, feitos na f a z e n d a do P a c ó e M i l h ã ã
que são a s que existem neste termo, c o m o tam-
bem verá V. S^1 que se procedeu nos bens do
S a r g e n t o Mór J o s é F r a n c i s c o Vieira B a r r o s ,
em virtude do officio que me derigiu o C a p i t ã o
Mór Antonio Ferreira C a v a l c a n t e , que ao mes-
mo sequestro vai junto. Os administradores c
depositários daquellas duas f a z e u d a s aprehcn-
didas ficam entendidos de que devem remetter
para essa cidade todo o g a d o de açougue que
houver, sendo que V . S í l não determine o con-
trario. Deus G u a r d e a V . S : i por minhas or-
dens K e a e s . Villa P o r t Alegre, 14 de [unho de
1 8 1 7 . D e V . S i l Affectuoso Venerador, Silvério
Alexandre de Oliveira. ( P a g . 1 7 5 . v . )

ooc. k " 20

Registro da conta dus custas feitas


nos sequestros dos inconfidentes André
deAIbuquerque Maranhào.foAo de Albuquer-
que Maranhão e 110s bens do Sargento
Mór 1 osé Francisco Vieira Barros

Conta d a s custas dos sequestros feitos por


parte da R e a l F a z e n d a , nas f a z e n d a s do P a c ó
e M i l h ã ã que foram de A n d r é de Albuquerque
Maranhão, J o ã o de Albuquerque M a r a n h ã o e
nos bens do S a r g e n t o Mór J o s é F r a n c i s c o V i -
eira de B a r r o s .
Sequestro quatorze mil e quatrocentos reis.
Traslado dos mesmos dois mil duzentos e
quarenta reis, importa dezeseis mil seiscentos
e quarenta reis.
67

Recebidos oito mil reis, oito mil seiscentos


e quarenta reis. (8.640). ( P a g . 1 7 5 . v.)

DOC. X ° 21

Registro cio oflicio do Juiz Ordinário da Mi-


la de Port'Alegre no Sr. Provedor
desta Capitania, sobre os mesmos se<jues-[
tros que aponta e de outros
Inconfidentes •»

Ulmo. Sr. l)r. Provedor Manoel Ignacio


Pereira do L a g o .
Depois de haver escripto o officio junto
lembra-me igualmente participar a V . S^ que
aquelles vaqueiros d a s f a z e n d a s do P a c ó e Mi-
l L ã a , requerem suas partilhas por se a c h a r e m
por fazer a trez annos, e ser o presente tempo
proprio para isso por se andar em juntas, e
vaqueijando, e alguma parte já em cercados
c o m o também o Dizimeiro do t r i e n n i o p a s s a d o
que se a c h a em cobrança e a r r e c a d a ç ã o para
ser p a g o do seu dizimo que lhe couber em re-
feridas f a z e n d a s , ainda que isto p a r e c e n ã o
c o m p r e h e n d e r apprehenção feita com tudo n ã o
quiz deliberar sem determinação de V< S í l .
Outro sim, partecipo a Y . S^ ter p a g o a J o ã o
B a p t i s t a , a quantia de 8.000 reis, producto de
um boi daquella fazenda P a c ó que havia m o r -
to, cuja quantia já fica applicada nas custas
que se procederam como se mostra da conta
junta, e o restante delia : e s p e r a m os officiacs
que Y . S y os m a n d e indemnisar dos dinheiros
68

que cá há dos Direitos R e a e s . Deus G u a r d e ,


por minhas ordens R e a e s . Villa de P o r t a l e -
gre. 14 de J u n h o de 1 8 1 7 . Silvério Alves de
Oliveira. ( P a g . 176. v . )

DOC. N • 22

Registro da carta de Antonio ferreira Ca-


valcante, escripta ao Sr. Provedor da
Fazenda Real, sobre clle ter assignado em
sequestro da fazenda Milha a per
tencente ao t raidor inconfidente João de Al-
buquerque Muranhão

I Illmo.' S r . Tenente Coronel Manoel Igna-


cio Pereira do L a g o .
O ]tjiz.Ordinário desta Villa de P o r t a l e -
gre me pediu que eu houvesse de assignar o
Depositário da f a z e n d a Milhãa que foi do trai-
dor J o ã o de Albuquerque, por que só eu podia
evitar os excessos dos comedores de g a d o s
alheios, o que me sujeitei por fazer nisto ser-
viço ao N o s s o Soberano. D o m e s m o sequestro
verá V. a pequena quantidade de bois de
açougue que há na fazenda e estes n ã o muito
bons dos quaes V. S : l me determine o que for
servido, assim como d a q u e l l e s rjue deverem
a l g u m a s reses a f a s e n d a cu m a t a r e m o que
devo com elles uzar e o preço porque o devo
cobrar. Apeteço-lhe muitas venturas e que me
dê muitas occasiões de o a g r a d a r e mostrar
que sou D e V. S í l . S e r r a do Martins 24 de
Junho de 1 8 1 7 . Attencióso fiel e o b r i g a d i s s i m o
69-

criado Antonio Ferreira Cavalcante. (Pag.


<76).

DOC. N ° 23

Registro do officio do Juiz Ordinário da Vil-


lade Por C Alegre em resposta dos que
elle escreveu ao Snr. Provedor da
Fazenda Real desta Capitania

R e c e b i os ofíicios de Y . S'-1 datados de 14


de J u n h o proximo p a s s a d o e com elles os trez
sequestros, um da fazenda tio P a c ó de A n d r é
de Albuquerque d a s E s t i v a s , outro de J o s é de
Albuquerque da P a r a h y b a , e outro de J o s é
F r a n c i s c o Vieira B a r r o s , inconfidentes, o des-
te feito pelo o officio do C a p i t ã o Mór Antonio
F e r r e i r a C a v a l c a n t e a elle junto. Sou a dizer a
V. M. q U e por hora não se remettam mais ga-
dos sem segunda ordem, e nas f a z e n d a s de
J o ã o de Albuquerque e J o s é F r a n c i s c o nada
demos e emquanto n ã o for determinado por
este Juizo e a s custas h ã o de ser satisfeitas
pelo rendimento dos bens que se arrematarem
dos inconfidentes. Deus Guarde a Y . M. Ci-
dade do Natal, . 2 de Julho de 1 8 1 7 . Manoel
I g n a c i o Pereira do L a g o . S r . Juiz Ordinário
da Villa de P o r t A l e g r e , Silvério Miguel de
Oliveira. ( P a g . 176. v.)
DOC N" 24

Registro do ofíicio ao Ca-


pitão Mór Antonio Ferreira Caval-
cante, escripto em resposta de outro qtíe f>
mesmo fez ao Sr. Provedor da Fazenda Re-
al desta Capitania sobre elle ter assignádo
o sequestro da Fazenda Milhãã que foi do in-
confidente João de Albuquerque
Maranhão, da Parahyba.

Illmo. Sr. C a p i t ã o Mór Antonio F e r r e i r a


Cavalcante.
Recebi a de V . S ! l com data de 24 de Ju-
nho proximo passado, em que participa ter
a s s i g n a d o o sequestro da fazenda Milhãa que
foi de J o ã o de Albuquerque da P a r a h y b a , e
extravios que tem havido dos gados, sou a di-
zer a V . S 9 que sobre essa fazenda não d e m o r e
nada emquanto lhe não for determinado por
este J U Í Z O dos F e i t o s e E x e c u ç õ e s da R e a l
F a z e n d a . D e u s G u a r d e a V. S ' \ C i d a d e d o
Natal, 12 de Julho de 1 8 1 7 . D e V . S^ a m i g o
fiel e obrigadissimo criado Manoel Ignacio P e -
reira do L a g o . ( P a g . 176. v.)
DOÇ. N9 25

Registro da curta precatória, executória,que


vai deste Juizo das Feitos e Execuções
da Real Fazenda para o Juiso do
Fisco Real da Capitania do Ce-
ara Grande, passada ex-
officio de Justiça

A o Ulmo. e Meretissimq S r . D r . do F i s c o
R e a l d a Villà d a F o r t a l e z a d a C a p i t a n i a do
C e a r á G r a n d e , ou a quem seu muito nobre e
a u c t o r i s a d o c a r g o servir e perante q u e m esta
minha p r e z e n t e carta precatória, executória e
•rogatória em f o r m a vir e for a p r e s e n t a d a e o
v e r d a d e i r o c o n h e c i m e n t o dolla com direito e
direitamente d e v a e h a j a de pertencer, e o seu
devido effeito e inteiro c u m p r i m e n t o de justi-
Va e e x e c u ç ã o se pedir e requerer. O T e n e n t e
C o r o n e l M a n o e l I g n a c i o P e r e i r a do L a g o ,
F r o v e d o r e C o n t a d o r da F a z e n d a R e a l , Juiz
Privativo da a r r e c a d a ç ã o delia, e da A l f a n d e g a
M o r , e D i r e i t o s R e a e s e d a s C a u z a s dos Ho-
mens do M a r , V e d o r G e r a l da gente de guerra
ne
s t a C i d a d e do N a t a l , C a p i t a n i a do R i o
G r a n d e do N o i t e , por S u a M a g e s t a d e Fidel-
í s s i m a que D e u s G u a r d e , etc.
F a ç o s a b e r a V . S ^ em c o m o sendo com-
Prehendido no crime de inconfidente e traidor
J ° s è I g n a c i o de A l b u q u e r q u e M a r a n h ã o , mo-
rador no E n g e n h o de C u n h a ü , desta C a p i t a
nia
> e haver noticia neste Juizo, possuía o mes-
nessa C o m a r c a a l g u m a s f a z e n d a s de g a d o s
vacoum é c a v a l l a r , a s q u a e s em r a z ã o do dito
72

crime ficaram pertencendo a . S u a M a g e s t a d e ,


pelo que requeiro a V . S ! l mande pelos ofíiciaes
que poder tenham fazer sequestro e apprehen-
ção em refiridas f a z e n d a s com d e c l a r a ç ã o n a s
terras, suas quantidades, g a d o s v a c e u m s e c.a-
vallares, cabrum e lanígero, ferros e signaes
delles, f a b r i c a s de escravos, e mais pertences
a ellas, tudo com individuação e clareza d e
c a d a uma in solJâum, e todos os bens que se-
questrados forem, d a r ã o Depositários idoneos,
aos quaes e n c a r r e g a r ã o os tenhão em seu po-
der e guarde p a r a delles dar conta, quando por
este J U Í Z O lhes forem pedidos, debaixo d a s pe-
nas por Direito impostas aos depositários, o
que tudo assim feito executado f a r á Y . S^
com este remetter a este meu Juizo, para nelle
se continuarem os termos da execução.
K ' de V . S : l assim o cumprir e f a z e r cum-
prir, f a r á por bem do seu muito nobre e aucto-
rizado cargo, serviço a S u a M a g e s t a d e Fidel-
lissíma que Deus G u a r d e , e a mim mercê ao
que eu t a m b é m me offereço para executar,
quando da parte de Y . S : l me forem depreca-
das, requeridas e a p r e s e n t a d a s outras seme-
lhantes. D a d a e p a s s a d a nesta sobredita Ci-
dade do Natal, da Capitania do Rio Grande-
do Norte, sob meu signal e sello deste Juizo
que ante mim serve ou valha sem sello ex-causa
aos 1 7 dias do mez de Julho do anno do Nasci-
mento de N o s s o Senhor J e s u s Christo de 1 8 1 7 .
Alexandre de Mello Pinto, Official Escriptu-
rario no empedimento do E s c r i v ã o a escrevi.
Manoel Ignacio Pereira do L a g o . Ao sellc. 60
f* o
í vi-

reis. V . Síl Sello ex-causa. Pereira. (Pag.


178. v.)

D O C . N. 26

Registro (los Editaes, Cir-


culares.que se rcnietterani aos Escrivães
das Comarcas desta Capitania, sobre a ar-
rematação de todos os gados das fazendas
do inconfidente André de Albuquerque Ma-
ranhão, primeiro chefe da Rebellião, do
atino passado para traz

Pelo A d j u n c t o d a s R e n d a s R e a e s d e s t a
C a p i t a n i a do R i o G r a n d e do Norte se h ã o de
Pôr á lanços para se a r r e m a t a r a quem maior
o f f e r e c e r no dia 26 de A g o s t o proximo luturo
todos os g a d o s v a c c u m s , c a p a d o s do a n n o p a s -
s a d o ' p a r a traz p e r t e n c e n t e s ao C h e f e de R e -
bellião A n d r é de Albuquerque M a r a n h ã o , que
existirem a s s i m nas f a z e n d a s C a i s s a r a , Pol-
drinho, S i p ò , C a s t e l l o e T i m b a ú b a . situadas
na Ribeira de P i r a n h a s da C a p i t a n i a da P a r a r
11
vba, t o m o a s d a s situadas nesta, a s a b e r :
C i r u r g i ã o , Mulungu, T r a p i á , S a c c o , - C a c i m b a
d a s ' C a b r a s no C a i r o ; T r a h i r v , B o m J e s u s e
M ã e d ' A g u a , na R i b e i r a do T r a h i r v ; S a n t a
R o s a e M a l h a d a do Rio, no P o t e n g y . ram-
vem se hão de a r r e m a t a r no referido dia todos
()
s g a d o s do m e n c i o n a d o R é o , e por e i l e s c o b r a -
dos do D i z i m o que a r r e m a t o u nesta P r o v e d o r i a
Pertencentes a o triennio que findou no ultimo
de
d e z e m b r o de 1 8 1 3 , e que a i n d a existem sol-
tos em terras suas. Quem em uns e outros g a -
dos quizer lançar se deverá apresentar no indi-
cado dia nas c a s a s da Provedoria da R e a l F a -
zenda desta C a p i t a n i a , habilitado por si e seus
fiadores para o fazerem d e b a i x o d a s seguintes
condições : Os a r r e m a t a n t e s verificarão a
sua a r r e m a t a ç ã o até o fim de J a n e i r o proximo
futuro. F i c a r ã o constituídos devedores da
importância d a s c a b e ç a s de g a d o que recebe-
rem, logo que c h e g a r a Provedoria o recibo
que p a s s a r ao Administrador ou Depositário
que lhe entregar o gado. 3^ Pista importancia
será recolhida ao cofre dentro de trinta dias
depois de apresentado aquelle recibo. 4^ O ar-
rematante ou o seu fiador deve ser moradôr
dentro desta Capitania afim de acautelar o
procedimento de precatórias no c a s o de fallen-
eia de p a g a m e n t o . F p a r a que chegue a noticia
de todos fiz p a s s a r o presente E d i t a l por mim
assignado, que será a f f i x a d o na c a s a desta
dita Provedoria, e expedir copias por mim
também a s s i g n a d a s para os mais logares de
costume. C i d a d e do Natal, 18 de Julho de
1 8 1 7 . E s c r i v ã o da Real F a z e n d a , L u i z J o s é
R o d r i g u e s Pinheiro. ( P a g . 178. v . )

DOE. N9 27
Registro do ofíicio do Sr. Provedor ao Com-
ina nda 111 e de Max a ra ngua pe, Fr a ncisco
Fernandes de Carvalho, sobre a
lanciln de Sua Magestade
P o d e r á V . M. e n t r e g a r a lancha Concei"
çSo, que se acha nessa barra de M a x a r a n g u a p e ,
e foi confiscada como bem do inconfidente ' o
fallecido André de Albuquerque M a r a n h ã o , ao
T e n e n t e J o s é G o m e s da Costa, arrematante
delia neste Juizo dn.s E x e c u ç õ e s da R e a l F a -
zenda, e logo que fizer a referida entrega da
m e s m a lancha e todos os seus pertences, des-
peça o Mestre e vapor que lá se a c h a m , dizen-
do-lhe que desde logo não receberão mais
p a g a a l g u m a , a e x c e p ç ã o dos vencimentos atra-
zados. D e u s G u a r d e a V . M. Cidade do Natal,
26 de Julho de 1 8 1 6 . Manoel I g n a c i o Pereira
do L a g o — S n r . C o m m a n d a n t e de M a x a r a n -
guape, F r a n c i s c o F e r n a n d e s de Carvalho,
( P a g . 179. v. )

DOC. N ° 28

Registro de um ofíicio no Sr. Provedor do


Juiz Ordwario de Villa Flor sobre en-
tregïT' 7)T !)è'i"S""dÕmX^:ipitTio Jose
Ignacio Marinho

Ulmo. S r . P r o v e d o r Manoel I g n a c i o P e -
reira do L a g o .
Recebi o officio de Y . S * datado de 21 do
corrente, ordenando-me nelle fizesse entrar na
posse de seus bens o C a p i t ã o J o s é I g n a c i o
Marinho G o m e s , os quaes estavam sequestra-
dos por m a n d a d o de Y . S . a qual ordem já
fica cumprida. N a m e s m a o c c a s i ã o partecipo
a Y. que no sequestro que fiz ao falsario
A n d r é de Albuquerque M a r a n h ã o , ficara fóra
7<>

uma canôa e uma rede de pescar, a qual mio


fora comprehendida por eu n ã o saber delia, e
porque fui sabedor, dou parte a V . S a p a r a a s
providencias necessarias. Deus G u a r d e a V .
Villa Flor, 26 de Julho de 1 8 1 7 . A l e x a n d r e
mm
1
J o s é de Mattos. ( P a g . 17Q. v . ) —
nmiiiiiirr-"'

DOC. N 9 2 9

Registro de um oflicio d erigido ao Adminis-


trador das Ribeiras do Seridó, Antonio
José (le Araujo, para entregar o
gadovaccum e ca vali ar aos seus
a rrem a ta ntes compètent es

Assim que este receber fará Y . M c ê . jun-


tar os* g a d o s d é ' b o i a d a s d a s f a z e n d a s da R i -
beira do Seridó da sua administração, que per-
tencerem ao primeiro chefe da Rebellião o fal-
lecido A n d r é de Albuquerque M a r a n h ã o , capa-
dos do anno p a s s a d o para traz, e serão por Y .
M c ê . entregues ao arrematante delles Manoel
de B a s t o s e Silva, ou a sua ordem, dividindo
os que forem proprios d a s fazendas, dos do di-
zimo que arrematou aquellc. traidor, cujo nu-
mero de uns e outros será d e c l a r a d o no recibo
que lhe p a s s a r o recebedor delles que será re-
mettido por V. M c ê . sem demora alguma a
mim. A o arrematante do cavallo, J o ã o J o s é da
C.unha P entregará os poltros e cavallos que n ã o
forem de fabrica das f a z e n d a s e engenhos, fa-
zendo a m e s m a d e c l a r a ç ã o quantos são pró-
prios d a s ditas f a z e n d a s , e quantos do referido
Dizimo, e igualmente remetter-me-há o com-
petente recibo. Deus Guarde a V . Mcô. Cida-
de do Natal, 27 de Agosto de 1 8 1 7 . Manoel
Ignacio Pereira do L a g o . Snr Antonio José
de Araujo, Administrador das fazendas da Ri-
beira do Seridò. ( P a g . 180. v.)

uoi. 30

Registro de ti 111 ofíicio ex-


pedido ao Dezembargador c Corregedor da
Comarca André Alves Pereira Ribeiro e Cir-
ne, sobre o mondado depreendo que foi d este
/ uizo dos Feitos para o ao dito Ouvidor fazer
o sei/uestro n»s fazendas do fnllecido André
de.AlbuquerqueMaranhão, sitns na Capita-
nia da Pnrahybü do Morte

Illmo. Sr. Dr. Dezembargador e Corre


fíedor da Comarca.
P o r este fuizo d o s F e i t o s e E x e c u ç õ e s
da R e a l F a z e n d a , se expediu um P r e c a t o r i o
para o juizo de V . S a r e q u e r e n d o sequestro
»as fazendas de gado Caissara, Poldrinhos, S i -
Pó, Castello e Timbaúba situadas nessa Capi-
tania da P a r a h v b a que foram do primeiro chefe
cl
a RebelliAo o fallecido André de Albuquerque
Maranhão Capitão Mor que foi nesta do R10
Grande do Norte, e cômo até o presente não
se
tem remettido a este Juizo deprecante o re-
grido sequestro, e já estejAo arrematados os
gados de açougue das ditas fazendas, se faz
Preciso para a entrega destes ao arrematante,
78

que venha o sobredito sequestro, por isso sou


a rogar-lhe se sirva de m a n d a r fazer a remes -
sa delle para evitar qualquer prejuízo que pos-
sa já ter a Real F a z e n d a na mora do m e s m o
sequestro. Deus G u a r d e a Y . S a Cidade do
Natal, 28 de A g o s t o de 1 8 1 7 . Manoel I g n a c i o
Pereira do L a g o . Ulmo. Sr. Dr, D e z e m b a r -
gador e C o r r e g e d o r da C o m a r c a , André Alves
Pereira Ribeiro e Cirne. ( P a g . 180. v . )

i>oc. n" 31

Registro (In informa* fio que deu o Provedor


dn Real fazenda no Ulmo Sr, Gover-
nador desta Capitania sobre o re-
querimento de Pedro de Albu-
querque e Gaspar de Albu
qaerque

filmo. S r . Governador.
T e n d o sido os Albuquerques da C a s a
Cunhaü desta Capitania implicados no crime
de alta traição contra a Real Soberania e h a -
vendo noticia de também terem sido outros da
mesma familia, moradores nas C a p i t a n i a s da
Parahyba e na de Pernambuco, se procedeu
sequestros em todos os seus bens que nesta
Capitania se a c h a v a m afim de evitar qualquer
lesão a R e a l F a z e n d a e por esta r a z ã o entra-
ram nos referidos sequestros os bens dos sup-
plicantes que agora os requerem por haverem
sido exemptos do referido crime ; é c que pos-
so informar a Y. S a . C i d a d e do Natal, 18 de
D e z e m b r o de 1 8 1 7 . Ulmo. Sr. Coronel G o v e r
nador J o s é I g n a c i o B o r g e s . Manoel I g n a c i o
Pereira do L a g o . ( P a g . 184. v . )

noc. N. 32

Registro da relação r/t/e se remei teu ao l>e-


zenibargador da Comarca André Alva-
res Pereira Ribeiro e Cirne, dos pa-
lieis achados, aos inconfidentes
abaixo declarados.

Dois M a ç o s de papeis lacrados, aprehen-


didos a J o s é I g n a c i o de Albuquerque Mara-
nhão, na o c c a s i ã o de sua prisão, remettidos a
este Juizo pelo G o v e r n a d o r desta Capitania.
l"m maço de papeis lacrados, aprehen-
didos a Antonio da R o c h a B e z e r r a , na occa-
sião de sua prisão, entregue neste Juizo pelo
C a p i t ã o J o a q u i m T o r q u a t o G o m e s da C a m a -
ra que o prendeu.
U m flandre de papel lacrado, aprehendido
ao mesmo J o ã o Rabello, no m e s m o dia de sua
prisfio, na occazião em que se lhe fez seques-
tro em seus bens por este Juizo.
U m a mala e papeis lacrados, aprehendi-
dos ao P a d r e Feliciano J o s é Dnrnellas.no mes-
mo dia de sua prisão, entregues neste Juizo
pelo S a r g e n t o Mor Antonio M a r q u e s G a r c i a
do Valle que o prendeu.
Ao P r o v e d o r da R e a l F a z e n d a Juiz dos
Feitos da mesma, Manoel Ignacio Pereira
do L a g o . ( P a g . 104. v.)
80

DOC. N ° 33

Otiicio derigido ao Desembargador da Co-


marca sobre os feitos de diversos e os
urgentes r/ne estão por sequestrar.

J.llmo. S r . l)r. D e z e m b a r g a d o r Ouvidor


G e r a l e C o r r e g e d o r da C o m a r c a e Juiz do
F i s c o -Nos papeis do fallecido inconfidente
A n d r é de Albuquerque de M a r a n h à o , se a c h a m
claros os dos sitios constantes da relação
junta a s s i g n a d a pelo E s c r i v ã o deste Juizo,
que
n ã o estarem ainda, porque até o presente igno-
r a v a m e segundo a i n d a g a ç ã o que tenho feito
ultimamente pertenceram aos
mencionados na mesma relação o que f a ç o
ver a V . S " para deliberar a este respeito o
que for servido. Deus G u a r d e a V. S^. Cidade
do Natal, i de Julho de iSiH. Manoel I g n a c i o
Pereira do L a g o . ( P a g . U05. v . )

i>oc. \ " 34

Registro da Informação do officio acima.

Relação dos sítios que.pelos papeis


do falso Andre de Albuquerque Alaranlião
consta estarem em sequestro :

" F a l l e c i d o A n d r é de Albuquerque Mara-


nhão :
N o S e r i d ó do termo desta Capitania, o
sitio R a m o F e c h a d o :
No termo de Villa F l o r parte do sitio
Rasso :
Ignoro o outro logar perto do sitio T a p i s -
surema :
idem referido no Curimataü perto do sitio
Salgado :
N a C a p i t a n i a da P a r a h y b a o engenho do
Gros.'o:
N o P a n e m a do termo do Assú o sitio
P a t o s , certa p o r ç ã o de terras c o m p r a d a a
F r a n c i s c o X a v i e r de P a i v a , que ignoro onde
seja, cujo vendedor morava na Villa de S . J o s é .
S e s a b e disto por uma carta escripta ao falle-
cido André por J o ã o Moreira Cordeiro.
Quanto a J o s é I g n a c i o de Albuquerque
Maranhão :
N a Capitania da P a r a h y b a , no Pombal,
a f a z e n d a Belém.
Quanto a A n d r é de Elstivas :
N o P o t e n g y do termo desta Capitania,
parte do sitio de S . Pedro.
Quanto a J o ä o d e Albuquerque M a r a n h ã o :
N o T r a h i r y do termo da Villa de S . J o s é
•desta Capitania, os sitios J a c a r é e S a l g a d o .
N o C a r i r y de fóra, os sitios J a t o b á e Im-
buzeiro.
I g n o r a m a quem pertence no termo da
Capitania da P a r a h y b a , o sitio Quintoreré.
O E s c r i v ã o dos feitos. Augusto L e i t ã o de
Almeida.
•82—

DOC. N 9 35

Registro do ofiicio do Ulmo. Sr.


Governador desta Capitania que acom-
panhou as copias dos otíicios do Ulmo.
e Exmo. Snr. Governador de Pernambuco e
do Dezemhargador e Presidente da Alçada,
Bernardo Teixeira Coutinho e Alexandre de
Carvalho, se arreinat tirem os gados vaccums
e cavallares das fazendas confiscadas nesta
Cajjit ania pelo crime de mcon fiden t e

Gom esta a c h a r á V. Mcê. por copias as-


s i g n a d a s pelo Secretario deste G o v e r n o , o offi
cio que me dirigiu o Illmo. e E x m o . S r . G o -
vernador de P e r n a m b u c o , a c o m p a n h a d o de ou-
tro que lhe tinha dirigido o D e z e m b a r g a d o r
do P n ç o e Presidente da A l ç a d a , B e r n a r d o T e i -
xeira Coutinho A l e x a n d r e de C a r v a l h o .
E m observancia de a m b o s m a n d a r á V.
Mcê. a f f i x a r E d i t a e s para a r r e m a t a r os g a d o s
v a c c u m e c a v a l l a r existentes nas F a z e n d a s
c o n f i s c a d a s nesta Capitania aos R é o s indica-
dos do crime de inconfidência, e alta traição,
g u a r d a n d o nesta deligencia a f o r m a e cautellas
que r e c o m m e n d a o officio do referido Presi- •
dente da A l ç a d a . D e u s G u a r d e a V. M. Ci-
dade do Natal, 6 de A g o s t o de 1 8 1 8 . J o s é
I g n a c i o B o r g e s . ( P a g . 2OQ. v . )
DOC. s9 36

Registro de um officio
que respondeu o Sr. Provedor da
Fazenda Real do III nu.. Sr. Governador desta
Capitania de umas copias que a eile vieram
inclusas,sendo uma do Ulmo. Sr. Governador
de Pernambuco e outra de outro officio do I)r.
Dezemhargador do Paço e Presidente da Al-
çada, Bernardo Teixeira Coutinho
Alexandre de Carvalho.

Ulmo. S r . ( i o v e r n a d o r J osé Ignacio B o r g e s .


Recebi o officio de \ . - S ' 1 com a data de
hoje, com a s duas copias que a eile vieram in-
d u z a s , sendo uma de um officio do Ulmo. e
Exrrio, S r . G o v e r n a d o r de P e r n a m b u c o , diri-
gido a V. Sfc em data de 1 9 de Maio ultimo, e
outra de outro officio do D e z e m b a r g a d o r do
P a ç o e Presidente da A l ç a d a , B e r n a r d o T e i -
xeira Coutinho A l v a r e s de Carvalho, dirigido
ao Ulmo. e K x m o . S r . G o v e r n a d o r em d a t a d o
referido mez, determinando-me V . S^ que em
consequência de a m b o s mande eu affixar E d i -
taes para se a r r e m a t a r os gados vaccum e ca-
vallar existentes nas f a z e n d a s confiscadas nes-
ta Capitania aos réos indiciados do crime de
inconfidência e alta traição, guardando nesta
dita deligencia a forma e cautellas que recom-
menda o officio do referido Presidente da Al-
çada. E m execução do dito officio de V. S r i e
d a s referidas copias, mandei afixar E d i t a e s
nesta Cidade, e em todas as Yillas desta Capi-
tania, com o termo de trinta dias em diante
para se a r r e m a t a r e m os referidos g a d o s aquém
maior lanço ofiferecer, e em tudo o mais exe-
cutarei na forma determinada no referido offfeio
de V . S * editaes e copias. Deus G u a r d e a V .
S * . C i d a d e do Natal, 6 de A g o s t o de 1 8 1 8 .
Manoel I g n a c i o Pereira do L a g o . ( P a g . 209. v . )

DOE 37

Registro de uma copia do Ulmo. r Exmo.


vSv. General, que respondeu o Ulmo. Sr.
Governador desta Capitania

Copia—Illmo. e E x m o . Senhor : Tenho


presente o ofhcio de V. E x c i a . datado de hoje
em que diz que por informações repetidas lhes
consta que urna d a s cauzas da falta que aqui
há de carnes verdes é a grande quantidade de
g a d o s que estão nas f a z e n d a s confiscadas e que
destas se remettiam para esta C i d a d e e Villa,
accrescentando que se eu julgar á bem, q u t
estes g a d o s sejam vendidos e depositados os
seus preços nos C o f r e s R e a e s com a permis-
são minha,officiará aos G o v e r n a d o r e s respec-
tivos para darem as providencias necessarias ;
o que eu posso dizer sobre isto è a carta R e g i a
de 6 de A g o s t o proximo p a s s a d o não m a n d a
vender os bens de raiz, e sim os m a n d a pôr
em administração. A s f a z e n d a s de criação fa-
zem um todo com o g a d o que as povôa e f a z
a sua c r e a ç ã o , m a s os gados que ellas produ-
zem não são precizos para a sua povoação, f a -
zem os seus fruetos. e estes podem e devem
—35—

se vender, assim como os fructos das outras


f a z e n d a s que nSo sSo de c r e a ç ã o de g a d o s ; e
portanto, eu julgo que os g a d o s da producçSío
d e s s a s f a z e n d a s sequestradas se devem ven-
der, deixando o da criação e o necessário para
supprir as faltas que houver, o que se costuma
f a z e r pelo modo dc uzo da terra de vender so-
mente o g a d o de certo numero de annos. P o -
rem como todas as vendas do que por algum
modo pertence a F a z e n d a R e a l , somente se
podem fazer em A s t a publica e por a r r e m a t a -
ção, desse modo somente è que este m e s m o
g a d o da producção se deve vender, tendo toda
a cautella necessaria para que senão tire uma
c a b e ç a d a s necessarias para povoação e crea-
ção, em consequência disto, não só permitto
m a s quero que os Administradores e Deposi-
tários das f a z e n d a s de g a d o f a ç a m vender em
A s t a Publica por a r r e m a t a ç ã o os g a d o s de
sua producção que fazem os seus fructos pe-
rante os Ministros que fizeram os sequestros
respectivos e os nomearão a elles Adminis-
tradores e Depositários os quaes f a r ã o metter
nos cofres R e a e s todo o dinheiro que produzi-
rem as a r r e m a t a ç õ e s , assim como todo o que
estiver .nas mãos dos Depositários por estarem
mais seguros nos ditos cofres R e a e s . E p a r a
que assim se execute peço a V . E x c i a . ,
assim c o m o no seu officio se offereceu aos Go-
vernadores d a s C a p i t a n i a s visinhas li irritantes.
Deus G u a r d e a V . E x c i a , muitos annos. Reci-
fe, 6 de Maio de 1 8 1 8 .

Illmo. e E x m o . S r . Luiz do R e g o Barre-


86

tto. B e r n a r d o Teixeira Coutinho A l v e s de C a r -


valho. E s t á conforme. O P a d r e Manoel Pinto
de Castro, que serviu de Secretario. P a g . 2 1 3 . V . )
e © B R H N < » n
1)E

DEZ IMOS EM 1812


s
QCE INTERESSA AOS LIMITES DO RIO GRANDE
DO NORTE COM A PARAlIVBA

Informações dadas pela


Provedoria Real da Capita-
nia do Rio Grande do Norte,
no requerimento do Coronel
.4 ndréde AIbuquerque Mara
nhào sobre a cobrança de de
/imos no sitio Tapessurema.

" S n r . — K m c u m p r i m e n t o do D e s p a c h o
dc V . A . R . , d a t a d o em 20 de M a i o , em que
m a n d a A este A d j u n c t o i n f o r m a r o requeri-
m e n t o do C o r o n e l A n d r é de A l b u q u e r q u e M a -
ranhão, A r r e m a t a n t e dos D i z i m o s R e a e s d a s
sete r i b e i r a s desta C a p i t a n i a s o b r e J o ã o B a r -
bosa V i a n na, c o m p r a d o r de hum r a m o de Di
zimo d a C a p i t a n i a d a P a r a h y b a na parte e m
que confina a dita C a p i t a n i a com a ribeira d o
sul desta, h u m a d a s a r r e m a t a ç õ e s do supph-
cante, i n n o v a n d o que os sitios de T a p e s s u r e -
111a, M a r c o s do meio, M a r c o s de b a i x o , A l m a s ,
I n g á , P i r a i i , e v i z i n h a n ç a s delles ali p a g a -
rem os D i z i m o s de suas culturas e m a i s co-
lheitas, s e n d o que por uzo e c o s t u m e invete-
r a d o s e m p r e p a g a v a m os ditos D i z i m o s a o Di-
ziraeiro da R i b e i r a do Sul desta C a p i t a n i a ,
»8

passou este Adjuncto a fazer a s averiguações


necessarias sobre o dito objecto para com
toda a exactidão informar a V . A. R . e achou
por informações de pessoas que têm cobrado
Dizimos na dita ribeira do Sul, que os mora-
dores dos referidos logares sempre lhes p a g a -
ram os Dizimos de suas colheitas, e pela de-
m a r c a ç ã o da divisão desta Capitania com a
da P a r a h y b a , feita a consenso das C a m a r a s
de huma e outra no anno de 1678, que do
M a r c o que se acha abordo do rio denominado
dos M a r c o s com o Lettreiro da parte do Sul
P a r a h y b a , e da parte do Norte R i o G r a n d e
até o rio Corimataú, e que dos sitios que se
acharem da parte do Sul pertencião os D i z i m o s
a Capitania da P a r a h y b a e dos da parte d o
Norte a do R i o G r a n d e , e do dito rio Corima-
taú para acima os que estivessem da parte do
Poente pertencião os seus Dizimos a dita C a -
pitania da P a r a h y b a , e os da parte do N a s -
cente a esta do Rio G r a n d e . He o que pode-
mos i n f o r m a r a V. A. R . que difirirá ao S u p -
plicante o que for servido. C i d a d e do Natal em
Adjunto de 6 de J u n h o de 1 8 1 2 — S e b a s t i ã o
F r a n c i s c o de Mello e P o v o a s , Manoel I g n a c i o
Pereira do L a g o , L u i z J o s é Roiz Pinheiro.
Antonio Miz P r a ç a .

(Do L i v r o do Registro das Provisões que


vieram da R e a l F a z e n d a para a Provedoria
do Rio G r a n d e do Norte, pag. 16).
89"—

Régis ti o do Officio, fcito


pela Camara da Villa Flor
ao Adjuncto sobre a Divisão
desta Capitania com a da
Parahyba,

«Ulmos. Senres. do Adjuncto da R e a l F a -


zenda desta Capitania. P a r a se cumprir e x a -
tamente o que deixou provido o Senr. D e z e m -
b a r g a d o r e Corregedor desta C o m a r c a , a res-
peito da Divisão do destricto desta Villa com
a da villa da Bahia de S . Miguel, cujos limites
he os das Capitanias desta com a da P a r a h y -
ba, he preciso que V . S . mande-nos hum tres-
lado autentico de huma divisão das ditas C a -
pitanias que se acha nessa Provedoria julgado
pela J u n t a de P e r n a m b u c o , o que assim lhe
requeremos por parte de S . A. R . o Príncipe
R e a l N o s s o Senhor, remettendo V. S . com a
maior brevidade possível, porque se deve tra-
tar deste negocio antes que o dito Corregedor
se recolha a C a b e ç a da C o m a r c a para julgar
ou decidir qualquer duvida que occorra. D o
zello com que V . S . costuma e m p r e g a r em
semelhantes deligencias, e s p e r a m o s o cumpri-
mento desta na forma que he encarregado.
Deus G u a r d e a V . S . Villa F l o r em C a m a r a de
16 de N o v e m b r o de 1 8 1 3 . L a z a r o L o p e s G a l -
v ã o . Manoel X a v i e r das C h a g a s , Antonio"TTáy-
mundo da Cunha, Manoel da Costa Gadelha».

(Cit. liv. pag. 59).


Registro (la resposta do
Otíicio supra. (*)

S e n d o presente ao Adjuncto de R e n d a s
R e a e s desta Capitania o officio de V . Mces.
de 16 do corrente em que pedem ao m e s m o
Adjuncto lhes remetta com a maior b r e v i d a d e
possível hum treslado da divisão que a J u n t a
da R e a l F a z e n d a de P e r n a m b u c o deo sobre os
limites desta Capitania, o m e s m o Adjunto me
determina a participar a V . M c e s . que neste
Adjuncto hâ hum Ministro dos Feitos ao qual
V . M c e s . d e v e r ã o requerer este treslado. D e u s
G u a r d e a V . M c e s . Provedoria R e a l F a z e n d a
da C i d a d e do Natal, 18 de N o v e m b r o de 1 8 1 3 .
O E s c r i v ã o interino Agostinho L e i t ã o d ' A l m e i -
da. S n r s . Officiaes da C a m a r a da villa de Villa
Flor.

(Cit. liv. pag. 59 v . )

( # ) O Instituto Historico possue a divisÜo e demarcação de


Villa Flor de que trata esse officic.
A IMPRENSA PERIÓDICA
NO

RIO G R A N D E DO NORTE
PARTE II

CATALOGO DOS JORNAES PUBLICADOS


NO RIO GRANDE DO NORTE

1832-1908
(CONTINUANDO DO VOI. VIII, HAO. ,14o)

86-,1 REPUBLICA 1389-1908.


1890

N ° 5 9 — 1 9 de Julho—Commémora «A
Republica» a data de seu primeiro anniversario
com o seguinte artigo, encimado por um
barrete phrygio :

"NOSSO ANNIVERSARIO
F a z hoje um anno que este periodico, atra-
vez de innumeras difficuldades e provações,
estreou neste E s t a d o a p r o p a g a n d a republi-
cana.
U m anno de existência, de labor inces-
sante.
F o i no dia i " de Julho do anno p a s s a d o
que A Republica appareceu na imprensa, mo-
vimentando o espirito democrático, que desa-
pontava em nosso horisonte como o suave d i -
luculo do glorioso dia 1 5 de N o v e m b r o .
E n t ã o eram bem poucos os crentes da
ideia nova, e a orthodoxia monarchica i m p u -
nha aos seus adeptos e j anis aros os mais ri-
gorosos preceitos.
O Visconde de Ouro P r e t o assumira a alta
a d m i n i s t r a ç ã o do E s t a d o assignando com os
representantes da rronarchia o solemne c o m -
promisso de exterminar os republicanos e a -
mordaçar por esse modo a p r o p a g a n d a d e m o -
crática.
A esta capital já haviam c h e g a d o o c e l e -
bre presidente F a u s t o B a r r e t o e o seu fidus
Achates, dr. A m a r o B e z e r r a , com uma legião
de sobrinhos e fdhotes congeneres...
Vinham inaugurar o dominio despotico,
de que os investira o orgulhoso estadista que
organizára o gabinete 7 de Junho, O dr. A -
maro Bezerra allegava posse velha de 40 ân-
uos como titulo á sua dominação : os s o b r i -
nhos entravam no dominio desta terra, cujos
primeiros balbucios de liberdade g o v e r n a m e n -
tal c o m e ç a v a m a ser ouvidos, simplesmente
par droit de naissance...
A sêcca attingia o seu a p o g ê o e levava a
desolação a todos os pontos do listado ; ensa-
i a v a - s e , a r m a d o o governo dos soccorros p ú -
blicos, de que abusou criminosa e impudente
mente, o trai alho eleitoral,
P a r a logo os arautos do despotismo, s i -
mulando os b n n d o a do antigo governo a b s o -
luto, fizeram sentir, de localidade cm localida-
de, que os republicanos não teriam quartel,
constituíam um partido fóra de toda p r o t e c ç ã o
legal...
A violência começou, e dentro de pouco
tempo recrudescia de maneira espantosa...
F o i em tal conjunctura, affrontando a s iras
do poder arrogante, corrompido e corruptor,
a r c a n d o valentemente com difficuldades de
toda sorte, que o nosso digno chefe, dr. Pe-
dro Velho de Albuquerque Maranhão, fundou
este periódico, que redigiu até o dia 1 5 de
N o v e m b r o , a p e n a s ajudado por seu irmão, o
nosso talentoso collega Augusto M a r a n h ã o .
F u n d a n d o A Republica, o nosso digno
chefe iniciou, com invejável bizarria, á luz me-
ridiana, sem rebuço de qualquer especie, com
c o r a g e m estóica e fé inconcussa, a p r o p a g a n -
da dos princípios republicanos, que ainda sus
tenta nas columnas desta folha, com brilhan-
tismo consoante com seu talento e incontestá-
vel illustração.
N a quadra de soffrimentos em que A Re-
publica appareceu na imprensa, o nosso ta-
lentoso e honrado chefe não se limitou á ex-
p l a n a ç ã o d a s doutrinas republicanas, pisou
com firmeza o estádio da polemica, pondo
s e ao lado dos co-religíonarios perseguidos e
fazendo morder o chão das derrotas a aucfe-
r i d a d e arbitraria e violenta.
E i s c o m o n a s c e u e j o r n a d e o u .1 R e p u b l i -
c a n e s s e s t e m p o s de p r o v a n ç a ; eis c o m o lu-
ctou, nobilitou se e nobilitou a causa pela
qual a i n d a hoje se b a t e o nosso h o n r a d o che-
fe e c o l l e g a dr. P e d r o V e l h o de A l b u q u e r q u e
Maranhão.
C o m o p a r t i d o republicano, com a patria,
com o R i o G r a n d e do Norte nos c o n g r a t u l a
mos hoje pelo a n n i v e r s a r i o glorioso d ' . l Re-
publica e a o seu illustre f u n d a d o r e r e d a c t ' r
c h e f e e n v i a m o s , com toda a a b u n d a n c i a de
n o s s a s a l m a s , no a l v o r o ç o do maior jubilo, os
n o s s o s c u m p r i m e n t o s e f e l i c i t a ç õ e s ' , (74)

1891
" A R e p u b l i c a ' ' c o n t i n u a v a a publicar o
e x p e d i e n t e do g o v e r n o .
M a s na e d i ç ã o de 3 de M a r ç o encontra
se a seguinte d e c l a r a ç ã o :
" E m vista d a attitude que t e m o s o d e v e r
de a s s u m i r e m frente da nova d i r e c ç ã o poli-
tica do E s t a d o , já r e q u e r e m o s a r e s c i s ã o d o
c o n t r a c t o que c e l e b r a m o s c o m o g o v e r n o p a r a
a publicação dos actos officiaes".

(74) Meu estado dr saúde me n3o permitiu levar avaute "


edição desta trabalho com o plano que tracei lhe to começar sua
publicação na Revista. Daqui em diante limitar-me ti a reeditar
o que já foi publicado, com as pequenas correcções au addio>»
que porventura possam occorrer me ao tirai as provas para a ini
prensa
Pedindo aos leitores desculpa desta falta involuntária, espeffl
que outro, de m.iis saúde compi tencia, venha de futuro dar ao
meu modesto trabdhoo desenvolvimento que nAo pude d i r lhe
Effectiva mente, no n" seguinte - 105, de
21 de Março restabelecendo seu primitivo
lemuia de orgtun do punido republicano,
jA não publica os actos officiaes. Declarar se
publicação vemanai e ter mudado seu escrip-
torio e tvpographia para a rua " S e n a d o r José
Bonifacio". n u
Passaram então ? figurar como redacto-
res ostensivos d'.l Republica, sob a direc-
ção do dr. Pedro Velho, Nascimento Castro,
Chave« Filho, Braz de Andrade Mello e Au-
gusto Maranhão.

1 * 1 >2

Fleito depois governador do Estado o dr.


P<-dro Velho e já tendo <»ido anteriormen-
te nomeado chefe de policia o dr. Braz de A n -
drade Mello, .4 Republica de 5 de M a r ç o - nQ
J
55 faz a seguinte declaração :
" O nosso iIlustre chefe, dr. Pedro Velho,
0
o nosso talentoso collega dr. Braz de A.
Mello, achando-se no effectivo exercício de
importantes funeções administrativas do E s -
tado, de caracter permanente, deixam por
e
rnquanto a redacção deste jornal".
E m o n" 1 6 3 , de 3 0 de Abril, lê-se o se-
guinte :
"Retirou-se da redacção d . 1 Republica
0
dr. Nascimento Castro.
E m seu logar ontrou o dr. Antonio de
^°uza, distincto filho do Rio Cirande do Nor-
t(;
e de quem muito tem a esperar a sua terra".
O n° 1 7 3 , de 9 de Julho, traz ainda uma
carta do dr. J.. F . Chaves Filho eliminando
se da redacção d l Republica, por ter sido
nomeado desembargador do Superior T r i b u -
nal de Justiça do Estado.
C) togar do dr. Chaves è, porém, preenchi-
do pelo dr. B r a z de Mello, que volta a seu
antigo posto de combate, como se vê do n 9
i 9 5 . d e 10 de Dezembro.

1893 18M-

E s s e s annos passaram-se sem nenhuma


alteração na vida intima d M Republica, a não
ser a mudança de seu escriptorio e typogra-
phia, no ultimo delles, para a rua "Correia
Telles" (hoje " D r . Barata"), n" 5.

1895

E m Março a morte do dr. Braz de Mello


veio enluctar a redacção d ' . l Repui>Hea, que
em sua edicção de 1 6 r.9 310—noticia com
phrases repassadas de saudades esse tristissi
mo acontecimento.
Mas logo em Abril, retirando se da reda-
c ç ã o o dr. Antonio de Souza, por ter sido no-
meado Procurador Seccional da Republica,
neste E s t a d o , entraram para ella, preenchen-
do assim os dous logares vagos, os drs. Au-
gusto T a v a r e s de L y r a e Eloy de Souza.
Junctamente com os dous novos r e d a c t o
res entrou também para a casa, figurando
seu nome no cabeçalho do jornal, como g e
rente e director tcc.hnico das officinas, o hon-
rado e habillissimo artista Augusto Leite.

1896

Nada occorreu na vida particular dVI Re-


publica,

1897

Importantíssima alteração na existencia


do qrgam republicano. No r> de Fevereiro, de
simples hebdomadaria. que era, passou a ser
Publicação diaria ; supprimiu do cabeçalho
(
»s nomes de seus redactores e gerente e logo
abaixo do sub- titulo de orgam do partido
republicano federal, que trazia desde 1895,
escreveu : "Director Politico Doutor Pedro
Velho".
Desde a data de sua fundação, publicou
•1 Republica 422 números e assignava-se a
5*000 por anno ; começando agora nova nu-
frieraçflo, que passou a ser annual, fixou o
Preço de sua asslgnatura em 121000 por egual
tempo.
Annunciando esta reforma, disse ella em
10
de Janeiro, quanto ao seu expediente, re-
dacção e collaboraçAo :
"Além da parte official, amplamente des-
envolvida com a publicação dos actos do
governo da União, a chronica dos tribunaes
0 (
> movimento das repartições publicas, A
publica publicará constantemente um ser-
V|
Ço telegraphico dos diversos Estados, arti-
gos de r e d a c ç ã o e de interesse geral, parte
noticiosa e commercial e, sempre, um folhe-
tim caprichosamente escolhido.
A redacção d'A Republico, sob a chefia
e direcção politica de seu illustre fundador,
dr. P e d r o Velho, está confiada aos drs. Al-
berto M a r a n h ã o , Hloy de Souza e Manuel
Dantas.
Além dos redactores, terá o novo diário
a collaboração constante dos drs. A u g u s t o
L y r a , J o s é Carlos Junqueira A y r e s , A m a r o
Cavalcanti, Pinto de Abreu, Antonio de Sou-
za, Hemeterio Filho, Meira e S á , Luiz Fer-
nandes, H o m e m de Siqueira e S e g u n d o W a n -
derley, d. Auta de N>uza, majores P e d r o
Avelino e J o a q u i m Guilherme, Rodrigues de
C a r v a l h o , Henrique Cas'triciano e F r a n c i s c o
Palma.'

1 8 OS

K m principio de Agosto insere /I Repu-


blica no a l t o - d a i1'1 columna de sua pagi-
na os seguintes dizeres :

"ORGAM DIÁRIO MATUTINO

Dr. P e d r o Velho— F u n d a d o r .
Alberto M a r a n h ã o , Manuel D a n t a s , P e d r o
Avelino, J u v e n a l Lamartine-Redactores".
M a s logo no fim desse mez é supprimi
do o nome do ultimo, por ter seguido para a
c o m a r c a do A c a r y , da qual fôra n o m e a d o
juiz de direito ; e em seguida aos nomes dos
redactores a c c r e s c e n t a - s e o de Augusto Lei-
te, como administrador,

1899

A 16 de Junho voltou a figurar entre os


redactores d'.4 Republica o dr. Antonio de
Souza, " o talentoso moço e já laureado es-
criptor norte-rio grandense que, ha muito, diz
ella antes e depois de nossa vida diaria, pres-
tava nos sua valiosa e assidua collaboraçao".
K logo apparece P o l y c a r p o Feitosa sub
screvendo magistraes artigos seus sobre a edu-
c a ç ã o da mulher, em palemica com um sr.
Bias, que escrevia no Diário do Natal.
Nesse anno elevou A Republica o preço
de sua assignatura para 1 5 1 0 0 0 por anno,
i :50o por mez.

1900

A 24 de Março escrevia :
" P o r ter de assumir o governo do Esta-
do, nosso presado chefe da redacção, dr. A l -
berto Maranhão, deixou hontem o posto que
com superior competencia e inexcedivel dedica-
ç ã o exerceu, durante muitos annos, nesta folha.
Substituirá o dr. Alberto M a r a n h ã o na
chefia da redacção d'. 1 Republica nosso col-
lega Manuel D a n t a s . "

1901

Mudando-se para a rua " 1 3 de Maio",


100

n ç 38, emquanto fazia a mudança e realizava


outros melhoramentos em seu material, sus-
pendeu A Republica sua publicação de 1 7
de F e v e r e i r o a 24 de Março, quando reappa-
receu no novo prédio, folha diaria da ma-
nhã, fundada pelo <lr. Pedro Velho, seu di-
rector politico, com a mesma redacção e o
m e s m o administrador das officinas.
A 24 de Julho, depois de uma pequena in-
terrupção de tres dias, passou A Republica a
ser folha diaria da tarde.
No dia 24 de S e t e m b r o despediu se P e
dro Avelino da redacção d A Republica, diri-
gindo ao seu director político uma carto, em
que allegava ter de ir assumir seu novo pos-
to de trabalho na redacção da " G a z e t a do
C o m m e r e i o , " fundada nesta cidade e cuja di-
r e c ç ã o lhe havia sido confiada ; carta que foi
publicada na edição do dia immediato.
A P e d r o Avelino acompanhou Augusto
Leite, que foi substituído na administração
technica d a s officinas por J o s é Mariano Pinto.

1902
R e g i s t r a A Republica, com expressões do
mais profundo pezar, a morte de seu antigo
redactor A u g u s t o S e v e r o de Albuquerque Ma*
ranhão, o notável brazileiro e destemido ae-
ronauta fallecido em Paris, no dia 12 de Maio,
em consequência do horrivel desastre de seu
famoso balão Pax
1903
Estabeleceu prêmios aos a s s i g n a n t e s que
101-- —

pagassem adiantadamente o preço de suas


assignaturas; e, tendo feito acquisição de novo
material typographico, e-m quanto procedia a
sua distribuição e limpeza das machinas, sus-
pendeu, em Abril, «a publicação por sete dias.
Desde então declara-se no fróntispcio d'.l
Republica que seu-escriptorio e1 olliei na > es-
tavam collocados á " P ; a ç a da Republica",

1904 1906

N a d a occorreu digno de especial menção


na vida intima dVI Republica.

1907

Eleito governador do E s t a d o e tendo as


sumido a respectiva administração a 25 de Fe-
vereiro, retira-se da actividade da imprensa o
dr. Antonio de Souza, passando a substitu»l-o
na redacção d 'A Republica o dr. Sergio Bar-
retto, seu antigo collaborador, já vantajosa-
mente conhecido na vida jornalística.
No dia 1 " de Julho, para commemorar a
data da fundação d!A Republica, em 1889, a
redacção augmentou lhe o formato- o mesmo
que tem actualmente, isto é, Ó2cenís. de com-
primento sobre 42 de largura, em 4 paginas—,
melhorou consideravelmente todo o serviço
material e de expediente e realizou modesta,
mas expressiva festa nas officinas, inauguran-
do por essa occasião em seu salão de honra o
retrato de seu fundador e director politico.
Assim termina o editorial desse dia :
" F a z e n d o esta c o m m e m o r a ç ã o , hoje, (]ue
a s s u m i m o s n o v a s r e s p o n s a b i l i d a d e s perante o
publico, não p o d e m o s deixar de p r e s t a r u m a
justa e m e r e c i d a h o m e n a g e m a o s e n a d o r P e -
d r o V e l h o , o c h e f e querido que nos tem sem ,
pre guiado, mestre i n c o m p a r á v e l , que tem
s a b i d o preparar, u m a g e r a ç ã o que se orgulha
de seus e n s i n a m e n t o s ; a m i g o d e d i c a d o , a n t e
o qual sente-se o a m p a r o de um g r a n d e cora-
ção",
M a s esse a n n o findou com um v e r d a d e i
ro d e s a s t r e p a r a -1 Republica : no dia 9 d e
D e z e m b r o falleceu na c i d a d e do Recife, de via
g e m p a r a o R i o , em b u s c a de m e l h o r a s p a r a
sua saúde, p r o f u n d a e r e p e n t i n a m e n t e altera-
da, o s e n a d o r P e d r o V e l h o , d e s a p p a r e c e n d o
assim para s e m p r e e s s e q u e r i d o c h e f e e pro
tector i n c a n s a v e l do velho o' g a m republicano.
E s t e , c o m o o p a r t i d o que dirigia e todo o
E s t a d o , cobriu-se de p e s a d o lueto ; e é c ê d o
ainda para bem a v a l i a r a g r a n d e z a do v á c u o
que ahi deixou aquelle espirito superior e vi
dente.

1 í)08

J á n ã o figura a b a i x o do sub-titulo d<>


jornal o n o m e do dr. P e d r o V e l h o , c o m o seu
director politico, m a s a s seguintes p a l a v r a s :
Direcção politica da Comtnissão executiva'
N a e d i ç ã o de 1 0 de F e v e r e i r o encontra
se a respeito d o r e d a c t o r c h e f e d 'A Republica
e x t e n s a local, d o n d e e x t r a h i m o s os clous se-
guintes periodos :
" D e i x o u hoje a redacção desta folha, para
assumir o exercício «lo elevado c a r g o de Pro-
curador G e r a l do E s t a d o , com que o vem de
distinguir o benemerito governador, dr. Anto-
nio de S o u z a , nosso talentoso companheiro
de trabalho dr» Manuel D a n t a s , a cuja chefia,
nesta redacção, d e v e m o s nós e o partido que
representamos serviços valiosos e inesque
eiveis.
Intelligencia culta e vivaz, com uma ca
pacidade para o trabalho verdadeiramente
excepcional, o illustre advogado occupa em
nossas liteiras logar de merecida distineção,
ganho em uma assídua operosidade de muitos
annos, em beneficio do Estado e ao serviço
da política dominante, â qual s. exa. tem
dado o melhoi de sua invejável actividade.
E assim ficou a cargo exclusivo do dr.
Sergio Barretto a redacção d'.4 Republica,
Rue é de esperar continue a ter como lemma
de combate, como o queria e ensinava seu
inesquecível fundador e guia, o brado de alerta:
Tudo pela Patria !
Tudo pela Republica !

« 7 — W INSPIRA ÇAO— 1«89-90.

Orgam -popular, publicava-se quinzenal-


mente e, embora diga-se simplesmente no ca-
beçalho— Redactores diversos, sabe-se que era
Principalmente redigido por Manuel Coelho de
^ c u z a e Oliveira e j o s é Antonio de Viveiros,
imprimia se na typugraphia da " G a z e t a do
Natal".
104

88— NO R TE-RIO- GRANDENSE -


1889-90
R e d a c t o r principal—dr. Luiz Antonio
Ferreira Souto.
E s c r i p t o r i o da r e d a c ç ã o e t y p o g r a p h i a - -
rua " 1 3 de M a i o " , n ° 49.
J o r n a l politico, publicou seu 1 ° numero no
dia 1 ° de D e z e m b r o de 1 8 8 9 com o seguinte
programma :
" O Norte-Rio- Grandense, surgindo hoje
â luz da publicidade, a p r e s e n t a se d e s p i d o d e s
se cortejo p r o g r a m m a t i c o de que tanto se pre-
o c c u p a m os jornalistas, q u a n d o pela primei-
ra vez a p p a r e c e m na a r e n a d a i m p r e n s a .
D e m o c r a t a sem j a ç a e f r a n c a m e n t e repu-
blicano, o Norte-Rio-Grandense emerge á
tona do s c e n a r i o politico com toda a i s e n ç ã o
de a n i m o na a p r e c i a ç ã o dos a c t o s d o s p o d e r e s
públicos, q u a e s - q u e r que s e j a m a sua nova
o r g a n i z a ç ã o e hierarchia, p u g n a n d o pela re-
c o n s t r u c ç ã o social do novo E s t a d o do R i o
G r a n d e do Norte, pelo seu m e l h o r a m e n t o , pelo
seu p r o g r e s s o , pela sua g r a n d e z a e pela c o n -
f r a t e r n i z a ç ã o de seus filhos.
T u d o e n v i d a r á em d e f e z a da i n t e g r i d a d e
do B r a z ' l e d a autonomia, d a i n d e p e n d e n c i a
e d a liberdade d a patria rio g r a n d e n s e .
A b r a ç a r á t o d a s a s r e f o r m a s que consul-
tem os v e r d a d e i r o s interesses da nova era que
d e s p o n t a p a r a o R i o G r a n d e do N o r t e , f a r t o
de tolerar i m p o s i ç õ e s e indébitas i n t e r v e n ç õ e s
dos velhos p a r t i d o s do extincto r e g i m e n ná
e s c o l h a de sua r e p r e s e n t a ç ã o e na n o m e a ç ã o
de seu f u n c c i o n a l i s m o .
P r o p u g n a r á pela r e s t a u r a ç ã o d a s finan-
ç a s do novo E s t a d o , pelo e n g r a n d e c i m e n t o
de sua industria e de seu c o m m e r c i o , pelo des-
envolvimento da instrucçAo publica e sobre
tudo pela moralidade da a d m i n i s t r a ç ã o p u b l i -
ca err todos os seus múltiplos e variados r a m o s .
E i s em s y n t h e s e os nossos intuitos, que
e s p e r a m o s s e j a m secundados pela d e d i c a ç ã o ,
pela a b n e g a ç ã o e patriotismo de todos os
bons cidadãos que constituem o novo E s t a d o
do R i o G r a n d e do Norte.
Neste posto o Norte-Rio- Grandense, de
clava em punho, n ã o cederá um p a l m o no
terreno da honra, da justiça, do direito e da
lealdade que deve g u a r d a r em todas as rela
ções da vida social".
Além da p r o c l a m a ç ã o do g o v e r n o provi-
zorio da R e p u b l i c a , traz esse numero a acta
da p r o c l a m a ç ã o da republica no R i o G r a n d e
do Norte, contendo duzentas e muitas assi-
gnaturas.
O " N o r t e - R i o - G r a n d e n s e " era i m p r e s s o
em t v p o g r a p h i a própria,

8 9 - 0 POR 17R—1889— 90

E r a um pequeno jornal de r a p a z e s , que,


soó a redacção de diversos, dizia se orgam c?i-
cyclopcdico. P u b l i c a d o a principio na t v p o g r a -
phia d 'A Republica e tres vezes por mez, pas-
sou depois a ser i m p r e s s o na do " R i o Cirande
do N o r t e , " i n d e t e r m i n a d a m e n t e .
N ã o vi o i"? numero deste periodico; m a s
p r e s u m o que sahiu t a m b é m em fins de 1S89,
depois do Norte-Rio Grandense ; porque em
seu 2 ° numero, publicado a 1 0 de J a n e i r o
de 1890, a n n o 2 ? de seu apparecimento, a g r a -
dece a este jornal a s p a l a v r a s lisongeiras com
que o recebera.
T r a z producçdes poéticas de H o n o r i o
Carrilho e Kzequiel W a n d e r l e y .

90— 0 VIGIA—r\ 890.

N ã o pude obter o i ° numero deste perió-


dico ; mas é de suppôr tenha vindo á luz num
dos primeiros dias do anno, pois " O Porvir",
em seu a 9 numero, publicado a 10 de Janeiro,
assim noticia o seu apparecimento :
" R e c e b e m o s " O V i g i a " , que encetou sua
publicação nesta cidade e que promette divir-
tir os leitores com a critica e a pilhéria".

91-A SEN TIN ELLA -1890.

J o r n a l e c o de 1 5 cents. de c o m p r i m e n -
to sobre 1 0 de largura, era impresso na typ.
da " G a z e t a do N a t a l ' e publicava-se aos
domingos, dizendo-se orçam critico.
Distribuiu seu numero a 23 de Feverei"
ro com o seguinte artigo de fundo :
" N u n c a é de mais, no c o m p o do j o r n a l -
ismo, um novo batalhador".
A n i m a d o s por esta verdade, proferida por
um alguém, encetamos hoje a publicação d
" A Sentinella , J , o r g a m essencialmente critico,
que será, em todos os tempos, um baluarte
contra a immoralidade e o pedantismo de uns
e os abusos e odiosas maquinações de outros
(Subentenda se typos).
A nossa empresa é melindrosa, mas al-
tamente nobilitante ; e jamais recuaremos di-
ante de qualquer obstáculo material que por
ventura se nos apresente.
E s t a m o s bem armados para a lucta, e es-
peramos corresponder brilhantemente (mo-
déstia A parte) ao apoio incontestável que me-
recemos do respeitável publico natalense, e
especialmente do illustrado club Pedro- Crú.
Inabalaveis em nosso honroso proposito,
não pouparemos nem as sirigaitas sem pudor,
nem os dandys (pretençSo) fátuos e im moraes.
Pis, em obscuros traços, o trilho que será
rigorosamente seguido pela modesta, porém
im piacavel Scntinclla.
Alerta 1"

92 DIÁRIO PO NA TAL-1890.

Redigido por L u i z Antonio Ferreira Sou-


to Filho e impresso na typ. do " N o r t e - R i o
Grandense".
Isto de diário é um modo de dizer ; por
que o jornalzinho do Catnnda, que nAo sei si
sahia mesmo todos os dias, viveu pouco mais
de uma quinzena e sua existencia ephemera
como que só teve um intuito : despertar en-
tre nos a idéa da fundação da imprensa diaria.
Parece ter v i n d o á luz no dia 28 de F e -
vereiro ; porque A Sentinella, dando noticia
de seu apparecimento, diz a 2 de Março, em
sua secção humorística Dizem os que não fa-
— IOM

Iam " q u e a p p a r e c c u m a i s um n o v o b a t a l h a d o r
no c a m p o do j o r n a l i s m o , d e n o m i n a d o Piaria
do Natal; que e s s e D i á r i o sahc todos os dias ;"
e publica o seguinte t e l e g r a m m a , e x p e d i d o
da R i b e i r a naquelle dia, á s 7 hs. e 5 0 m. da
noite :
" A p p a r e c e u Diário do Natal. O p o v o de
lirante fez m a n i f e s t a ç õ e s honrosissimas á im-
p r e n s a , indo com 8 bandas de musica felicitar
redacção."

93- EVOLUÇÃO -1890.

O r g a m do C l u b E s c h o l a s t i c o N o r t e - R i o
G r a n d e n s e . f u n d a d o nesta c i d a d e no dia 9 de
F e v e r e i r o , foi r e d i g i d o por u m a c o m m i s s ã o de
socios do m e s m o club, c o m p o s t a de A b d e n a
go Alves, Ezequiel Wanderley. Moura Soares,
R a p o s o d a C a m a r a e O v i d i o F e r n a n d e s , até
23 de M a r ç o , q u a n d o dissolveu-se o club e os
n o m e s d e s t e s f o r a m substituídos p e l a s pala-
v r a s Redactores diversos, i m p r e s s a s no fron-
tispício do jornal, que p a s s o u a ser orgam re-
creativo,
T i n h a seu escriptorio d e r e d a c ç ã o á rua
«Coronel B o n i f a c i o » , n ° 5, i m p r i m i a - s e na typ-
d 'A Republica e p u b l i c a v a se d u a s vezes, por
mez, distribuindo seu 1 " n u m e r o 110 dia 4 de
M a r ç o com o seguinte a r t i g o inicial :
" Q u e é a evolução ?
E ' tão v a s t a a c o m p r e h e n s ã o d e s t e vo-
cábulo, t ã o e x t e n s a a sua e s p h e r a significati-
v a , tão c o m p l e x o s os seus b r i l h a n t e s resulta
100 —

dos, que é impossível submettel-a aos moldes


de uma definição.
A evolução é o trabalho pelo engrande-
cimento, é o esforço pela conquista, é a lucta
pelo progresso, é o estimulo pela felicidade,
é a a s p i r a ç ã o pela gloria.
T e m sua origem na necessidade do bem
, "estar, na conveniência em adquerir a maior
s o m m a possível de elementos de vida.
O homem tende p a r a o a p e r f e i ç o a m e n t o
do m e s m o modo que a agulha p a r a o pólo,
A verdade e seu centro de attracçAo.
A evolução personifica-se em C o l o m b o
descobrindo o N o v o - M u n d o , em Montgolfier
devastando o domínio dos ares, em G u t t e m -
berg universalizando os conhecimentos huma-
nos, em A l e x a n d r e e m p r e h e n d e n d o a con-
quista do mundo, em M a h o m e t r e f o r m a n d o
a
religião, em D a r w i m defendendo o transfor-
iTnsino, em Galilêo sustentando o movimento
terrestre, em S p e n c e r orientando a educação,
e,
vt Conte reconstruindo a s b a s e s da philoso-
phia, em Christo, finalmente, resgatando o
• Kenero humano com o mais sublime dos sa-
crifícios.
A evolução é mais do que um desenvolvi -
mento, d>> que u m a revolução, è uma irradi-
ação do espirito ávido de innovaçôes sublimes
(
le horisontes mais luminosos, é mais que
u,
n a tendencia, é uma lei, um phenomeno fa-
ta
' , c o m o a r o t a ç ã o da terra, c o m o a germi-
n
a ç a o d a s plantas.
, A evolução é a a l m a d e s séculos. S u p -
primil a seria mais que um crime, mais que
— 110

uma d e g r a d a ç ã o , seria uma verdadeira atro-


phia social, a r v o r a r o domínio da inércia, fe-
cunda de trevas e pródiga de erros.
Evoluamos.
Deixar de evoluir é deixar de viver".

N e s s e rnesmo numero encontra-se a se-


guinte poesia de S e g u n d o W a n d e r l e y , recita- •
da na sef>são litteraria do dia i 9 de Março, an-
niversario do Atheneu N o r t e - R i o - G r a n d e n s e :

SURGE ET AMIUJL. I !

Eu venho aqui admirar somente


Este conceito juvenil, feliz;
Eu venho aqui f>ara sentir de perto
Da mocidade as expansões febris ;
Nào me deslumbram principescas festas,
São fogos fátuos de letaes paúes ;
Eu amo ouvir um farfalhar de ideas,
Apraz me ver a progressão da Lu

Julgo o trabalho obrigação sublime,


Julgo a sciencia divinal dever :
Precisa o malho f ra vencer a pedra,
O pensamento para o cahos vencer ;
/:' nesta lueta gigantesca e santa,
Que a tantas glorias immortaes conduz,
Mesquinho o braço que fugir da arena,
Maldito o peito que fugir da Enz.

Ao livro, pois, oh mocidade augusta,


Ao livro lodos com sincero afau,
O livro ê gemi en de fecundas glorias,
Que a noite muda em divinal manhã ;
Vibre-se o gladio da razão fulgente,
Deixai que a crença se derrame a flux,
Antes morrer-se combatendo o erro
Po que viver-se 11 um paizsem Luz.

Segui a trilha do condor dos scc los,


Segui o exemplo dos herôes de Além ;
/:' semeiando do talento as pérolas
Que se recolhe o verdadeiro bem ;
Baldada a ley que condemnou 1 esale
Odio improfícuo o que matou fezus ;
Porque o futuro é um sacrario enorme
Que tem por hóstia da verdade a Luz.

Hoje que a patria já não tem senhores,


Hoje que a patria já não tem ma is rei,
Que a liberdade corregio o t/trono,
E a égua Ida de reformou a ley ;
Cumpre expeli ir dos corações briosos
ignorancia o deleterio pús /
Fazer ent) ar cm borbotões no craneo
Do amor a seiva, do progresso a Luz.

Novo horisonte se desdobra ao longe,


( m ar mais puro se respira aqui,
O que foi sombra ficou sendo aurora,
Cahio Saul para se erguer David;
Moços, é tempo de expandir as azas,
Scindir da gloria as regiões azues ;
Quem mais estuda, mais lauréis conquista,
Mais se approxima do paiz da Luz.
Ouvi... nm grito de eloquência heróica
He gruta em gruta reboando vai,
E' Camarão a vos dizer—avante,
E Miguelinho a repetir—luctai ;
O cedro cede ao vendaval bravio,
A onda quebra tios penhascos nús,
A/as nada pode aniquilar um povo
Que tem por base um pedestal de Luz

Eu vos saúdo, legião sagrada,


Raios fecundos de futuros sóes,
/Heinde hoje de gentis mancebos,
A/as amanhã constellaçao de heroes ;
Eu vos saúdo repetindo sempre
Esta verdade, q a razão seduz :
Para a grandeza assignalar d'um sec'lo
E' necessário—Liberdade e Luz.

0 4 — R I O GRANDE DO NORTE—
1890—9«.

jornal politico, dizia-seorgam republicano,


tinha seu escriptorio e t v p o g r a p h i a á r u a " T a r -
quinio de S o u z a — a c t u a l d o "Commercio'•—,
n " 30, e p u b l i c a v a - s e nos d i a s 2, 8, 1 4 , 20 e
26 de c a d a mez. distribuindo seu 1 9 n u m e r o
a 2 1 d e Abril de 1890, com o seguinte pro-
gramma :
«No grande momento d e s t e século para
o B r a z i l , onde operou-se pacificamente oreno-
v a m e n t o total d a s c e n a publica,' q u a n d o o paiz
a t t i n g e o periodo m a i s a c t i v o de desenvolvi-
m e n t o em sua m a r c h a evolutiva, a i m p r e n s a ,
que d e v e e s p e l h a r s e m p r e a o p i n i ã o , haurindo
—113—

n'clla a sua força principal, reveste um cara-


cter g r a n d i o s o — r e a l ç a d o ainda pelo inicio d a s
g r a n d e s instituições, cujo brilho irradiou nos
horisontès da patria.
N ã o se trata de discutir o gráu de legiti-
midade d a s revoluções em geral, nem p a r t i -
cularmente da que operou-se no paiz a 15 de
N o v e m b r o , desde que, pacifica, incruenta,
patriótica, como foi, ella tornou-se nacional.
A republica é o único regimen possível no
Krazil.
Depois de um diluvio de erros, o gabine-
te deposto n a q u e l l a d a t a immorredoira foi a
ultima e s t a ç ã o dolorosa do m a r t y r i o da li-
berdade.
O o r g ã o politico e social indispensável,
o governo, constituindo-se provisoriamente,
lançou a s b a s e s do g r a n d e e novo edifício po-
litico da patria brazileira.
A consolidação do novo regimen constitue
o g r a n d e desideratum da nação.
P a r a que a imprensa se colloque nc nivel
das m o m e n t o s a s questões que surgem á tona
da discussão cumpre que, isenta de paixões,
vise antes de tudc o respeito de si proprja, a
mascula confiança em si, a e m u l a ç ã o e o v i -
gor, com que somente poderá preencher, di-
gna e utilmente, n elevada missão que é des-
tinada a d e s e m p e n h a r .
A s luctas estereis, inspiradas em s e n t i -
mentos estreitos, diremos desde logo, n ã o en-
tram em nossos designios.
O Rio Grande do Norte p r o p u g n a r á sem-
pre pela causa nacional, visando cimentar, da
maneira mais solida, o engrandecimento deste
E s t a d o e por egual a unidade da patria.
C o o p e r a r na g r a n d e obra da consolidação
da republica, prestando-lhe um concurso acti-
vo e sincero, zelar a legitima autonomia d'es-
te E s t a d o , no dominio de sua competencia
especial, velar incessantemente pelo seu bem
estar, pugnar pelo desenvolvimento egricola
e industrial, defender e acautelar os mais legí-
timos interesses na esphera da instrucção p o -
pular, da educação publica, que é um g r a n d e
interesse nacional, concorrer para que se im-
prima ornais energico impulso aos trabalhos
de interesse geral, favorecendo-se o d e s e n v o l -
vimento da riqueza publica ; em uma p a l a v r a ,
promover incessante e e f f i c a z m e n t e a maior
som ma de prosperidades d e s t e E s t a d o sob o
ponto de vista geral, economico e politico, eis
o labaro que hasteia o Rio Grande do Norte,
entrando na liça jornalística, onde finca bem
alto a sua flammula, a s p i r a n d o a considera-
ção publica.
P o n d o a p e n a s em relevo o nosso pro-
g r a m m a , perferimos accentual o em factos,
consoante a pureza de intenções, que elles
traduzirão.
A s s i m que, v i s a m o s evitar o dominio d o
«verbalismo», esse vicio verberado ainda ha
pouco por um g r a n d e espirito, —talvez uma d a s
maiotes energias m e n t a e s do nosso paiz.
C o o p e r a r p a r a a c o n s t r u c ç ã o do edifício
politico sobre f u n d a m e n t o s seguros, tal é, em
resumo, o escudo com que entramos no cam-
po de batalha.
O interesse supremo ante o qual devem
obscurecer-se todos os outros é, de certo, a
manutenção e firmeza da união patria.
D e feito, a constante preoccupação de
quantos sentem vibrar n a l m a a fibra n a c i o -
nal deve consistir em mostrar aos olhos do
mundo civilizado o que a liberdade fez de
nós, a s s e g u r a n d o o seu porvir, preservando-
nos, como tem sido preservada a g r a n d e de-
mocracia dos E s t a d o s Unidos da A m e r i c a do
Norte, da dislocação e da anarchia.
A verdade e a justiça s e r ã o o traço dis-
tinetivo da nossa norma de c o n d u c t a , — m o s -
trando sempre como a dignidade da lingua-
gem pôde s a l v a g u a r d a r bem a nobreza d a s
idéas e dos sentimentos.
Quaesquer que sejam os sacrifícios que
por ventura nos imponha a nossa m i s s ã o no
jornalismo, a firmeza de uma orientação se-
gura dar-nos-ha, cremos, força?, sempre no-
v a s para proseguir na difficil, m a s nobre
jornada.
N a g r a n d e tela politica que atrahe geral
attenção n ã o só do paiz, senão do mundo, de-
s e n h a s e nitidamente a face m a g e s t o s a do
grande edifício da republica brazileira.
F r a n c a m e n t e republicano, guarda fiél dos
direitos e da liberdade do povo de todo este
E s t a d o , o Rio Grande do Norte aspira a pura
gloria de enaltecer o titulo que adoptou, o
que constitue o seu g r a n d e objecto, o seu
supremo d e v e r " .

V e e m - s e ainda nas columnas editoriaes


o " R i o G r a n d e do Norte"~quatro bonitos ar-
tigos c o n s a g r a d o s a Tira-dentes, cujo m a r -
tyrio glorioso relembra a data de seu appare-^-
cimento na arena jornalística.
A principio esteve de accôrdo com " A
R e p u b l i c a " na defesa da politica do antigo
chefe republicano e governador provisorio, dr.
P e d r o Velho ; mas, por o c c a s i ã o do golpe de
estado com que o marechal D e o d o r o da Fon-
seca dissolveu o C o n g r e s s o Nacional, mudan-
do completamente a s i t u a ç ã o politica do paiz,
declarou-se partidario desse acto e constituiu
se no E s t a d o orgam da politica do dr. Miguel
J o a q u i m de Almeida Castro, governador elei-
to em seguida.
P a s s o u e n t ã o a publicar o expediente do
governo e actos officiaes, atò o dia 28 de De-
zembro 189 r, quando, em virtude do contra-
golpe ou r e a c ç ã o que fez o marechal Deodo-
ro resignar o poder e entragai o ao v i c e - p r e -
zidente, marechal Floriano Peixoto, foi depos-
to o g o v e r n a d o r Miguel C a s t r o e substituído
por uma juncta governativa, voltando o dr.
Pedro Velho, como chefe genuíno do partido
republicano 110 E s t a d o , a assumir a respon
sabilidade de sua direcção.
O " R i o G r a n d e do Norte", que havia m u -
dado, em Maio, seu escriptorio e t y p o g r a -
phia para a rua " V i s c o n d e do U r u g u a v " , con-
tinuou, perém, na opposição até 1896, q u a n -
do desappareceu, figurando c o m o seus r e d a c -
tores ostensivos, desde F e v e r e i r o de 1892, . o s
drs. A . de Amorim G a r c i a , A m y n t a s B a r r o s
e J o s é Gervásio.
K r a impresso cm t y p o g r a p h i a própria e
em seus últimos tempos publicava-se nos
dias 1 , 7 , 14, 19 e 25 de cada mez.

9 5 — TRIBUNA JUl 'RN/L 1890.

Periódico scientifico e litterario, era re-


digido por moços estudantes do Atheneu Nor-
te R i o - G r a n d e n s e , entre outros, J o s é L u c a s
R a p o s o da C a m a r a e Honorio Carrilho ; t i -
nha por lemma as p a l a v r a s Uberdade e Luz
e publicava-se quinzenalmente.
Distribuiu seu 1 9 numero no dia n de
A g o s t o , dando os motivos de seu a p pareci-
mento no seguinte artigo inicial :
«Atirando hoje ao mundo pomposo d a s
lettras, á vosta arena do jornalismo a nossa
modesta «Tribuna Juvenil,» cumpre nos a nós,
seus humildes redactores, explicar o motivo de
seu apparecimento.
O b s e r v a - s e e t e m - s e observado, apoz a s
c f f e ; v e c e n t e s evoluções, que assignalam para a
sociedade luminosas balisas de p r o g r e s s o e en-
grandecimento, uma sombria, e á s vezes luc-
tulenta, apathia, que, encerrando o ideial no
estreito circulo d a s abstrações, o faz p a r a r em
sua rotina evolutiva.
E ' , porém, no jornalismo, sempre gran-
dioso em sua essencia, que encontramos o
verdadeiro antídoto para tão pernicioso ma-
rasmo, pois, é " a imprensa o primeiro sig-
na! de vida de um povo e onde esta vida bate
mais forte, mais intensa e mais cheia de fé».
Á r d u a , extraordinariamente a r d u a é nos-
sa missão, que não s a b e m o s se c o n s e g u i r e -
mos levar avante.
M a s o fim ? O fim é radiante !
D ahi essp coragem que, intumecendo-nos
a alma, nos impelle a emprehender t ã o diffi-
cil tarefa.
S ó a mocidade pôde instruir o povo, e
«só um povo instruído pôde conservar-se li-
vre»—dizia Madisson.
Cicero p e n s a v a que nenhum serviço maior
poder se-hia prestar â repubica do que o d e
educar e instruir a mocidade.
A nossa resolução, portanto, de dar hoje
á luz da publicidade um periódico scientifico
e litterario, é filha tão somente do desejo
que temos de nos instruir, e n ã o da vaidade
fatua da mocidade.
A s s i m , pois, explicados os moveis que
nos induziram a escrever o nosso humilde
periódico, e bem assim o seu titulo, termina-
r e m o s dizendo queserá elle exclusivamente
c o n s a g r a d o â sciencia e á litteratura, a que,
n a a p r e c i a ç ã o dos princípios scientificos, j a m a i s
chegaremos".

E m sua secção C O N H E C I M E N T O S Ú T E I S
encontram-se dous interessantes documentos
historicos, descobertos no archivo da Inten-
dência Municipal desta cidade : — U m edital
de d. J o s é , rei de Portugal e dos A l g a r v e s ,
m a n d a d o publicar e correr com força de lei,
ordenando que «todos os livros que se refe-
rem á s suppostas prophecias dos sapateiros
S i m ã o G o m e s e G o n ç a l o A n n i s B a n d a r r a fos-
sem, com a «Carta Apologética» do p a d r e
Antonio Vieira, condem nados A pena do fogo
e que a nenhum vassallo do reino fosse per-
mittido possuir e fazer-se echo desses livros,
verdadeiro attentado contra a coroa em pro-
veito dos jezuitas» ;—e sentença que em
i2 de J a n e i r o de 1 7 5 9 proferiu a juncta da
inconfidência para castigo dos réos que ten-
taram contra a vida de S . M . EL -Rei D .
J o s é I.
«Nesta t e r r a — d i z A Republica, entre ou-
tras phrases lisonjeiras com que recebera a
Tribuna Juvenil— ha o velho vicio dos jor-
nalecos apasquinados, zumbindo e mordendo,
como si a imprensa fosse uma esterqueira; lon-
ge disso, a " T r i b u n a " afigura-se uma peque-
nina flor no c a m p o do jornalismo».
T i n h a seu escriptorio de r e d a c ç ã o á rua
" C o r o n e l B o n i f a c i o " , n " 7, e era impressa na
typ. do " R i o G r a n d e do Norte".

06—A PATRIA-1890.

Orgam do partido catholico, sahiu A luz


da publicidade no dia 29 de A g o s t o , com o s e -
guinte p r o g r a m m a :
" G r a n d e , esplendida realidade, fa to in-
contestável é o partido catholico do R i o G r a n -
de do Norte.
N o dia 17 de A g o s t o do corrente, na he-
róica e catholica cidade de S . J o s é de M i p i -
bú, no meio de enormes e estrondosas m a n i -
festações populares, foi levantada a gloriosa
bandeira, o estandarte da Cruz e da L i b e r d a -
de, a cuja s o m b r a se a b r i g a m hoje os ho-
mens de boa fè, os corações bem f o r m a d o s e
verdadeiramente patriotas.
Consequência deste acontecimento, r e -
p e r c u s s ã o deste phenomeno, moralmente ine-
vitável - s e m duvida bello e d e s l u m b r a n t e —
a p p a r e c e , surge a g o r a A PATRIA, o r g a m do
novo partido, defensora do bem e da fé ca
tholica.
Idolatras do direito e da justiça, a m a n -
tes d a democracia e do p r o g r e s s o social,
como fugiríamos da luz e da opinião publica,
em nome de que principio ou conveniência
h a v í a m o s de trabalhar na treva e no silencio ?
Impossível.
C r e a d o o partido catholico, estabelecidas
suas b a s e s e a s p i r a ç õ e s — s u a primeira lei, o
mais poderoso elemento de vida desta va-
lente a g r e m i a ç ã o é e será s e m p r e a publici-
dade.
N ã o temos pactos nem allianças, n ã o
t e m o s p r o m e s s a s ou compromissos occultos.
A s p i r a m o s um nobre hm : — a v i c t o r i a d a
liberdade ; p u g n a m o s em nome de D E U S e d a
consciência pelo respeito á crença nacional,
contra o dominio, e i m p l a n t a ç ã o d o atheismo
no lar domestico c nas instituições publicas.
E s t a a m i s s ã o do partido catholico, este
o p r o g r a m m a de nosso independente jornal.
Destinada a realizar t ã o puros e santos
princípios A P A T R I A espera por isto m e s m o
conquistar o appluso de todos os c i d a d ã o s , o
auxilio, o apoio franco e generoso de todos os
espíritos,' de todas a s a l m a s e g r a n d e s cora-
ções sedentos de liberdade e justiça, enamo-
rados pelos fulgores da democracia e pelas
grandezas do catholicismo.
Onde estiver o direito e a verdade, onde
tremular o labaro invicto das aspirações da de-
mocracia e das doutrinas sublimes do E v a n -
gelho, ahi estará A P A T R I A , a penna e o pensa-
mento dos redactores de nossa modesta folha.
A ' i n j u s t i ç a e ao crime d a r e m o s eterno, i n -
cessante combate. A ' v i r t u d e e ao mérito, aos
heróes da patria e da r e l i g i ã o - os nossos h y m -
nos de victoria, as nossas p a l m a s de triunv
pho, as nossas a m p l a s e sinceras ovações".

C o m o veem os leitores, A Patria appare-


cia como orgam de um partido politico, que se
fundára no dia 17 na cidade de S . J o s é de Mi-
pibú e cujo directorio, de que era presidente o
dr. H o r á c i o C a n d i d o de S a l e s e Silva, v i c e -
presidente-conego G r e g o r i o F e r r e i r a L u s t o s a ,
1 ° c 2 " secretarios-padres J o s é Paulino de An-
drade e Antonio X a v i e r de P a i v a , em sua p r i -
meira reunião, que tivera logar a 22, o r g a n i -
zára a seguinte chapa de senadores e deputa-
dos ao C o n g r e s s o F e d e r a l :
P a r a senadores : Drs. Tarquinio Bráulio
de S o u z a A m a r a n t h o e Olyntho J o s é Meira.
P a r a deputados : Drs. José Calistrato
Carrilho de V a s c o n c e l l o s e H o r á c i o C a n d i d o
de S a l e s e Silva e c i d a d ã o Antonio S o a r e s de
Macedo.
M a s o partido catholico, quecombatia aber
ta mente os princípios de liberdade religiosa
c o n s a g r a d o s na Constituição F e d e r a l , já pu
— 122

blicada, muito l o n g e e s t e v e de c o n s e g u i r a elei-


ç ã o de seus c a n d i d a t o s ; d e s a p p a r e c e u e m
p o u c o t e m p o e com elle o o r g a m de s u a s i d é a s ,
que viveu a p e n a s dous m e z e s e dias, d e s a p p a -
r e c e n d o a o publicar seu 3 " numero, em 1 2 d e
Novembro.
«A P a t r i a » i m p r i m i a - s e na t y p . d a " G a -
zeta do N a t a l " e tinha seu escriptorio de re-
d a c ç ã o á rua " C o r o n e l B o n i f a c i o " , n? 24.

97—po T fG U A R A N I A — 1 8 9 0 .

Dizia-se orgâo dos interesses modernos,


e s c r e v e n d o logo em s e g u i d a , c o m o l e m m a , a s
seguintes p a l a v r a s : " T u d o é relativo : eis o
único principio absoluto".
A d o p t a n d o r i g o r o s a o r t h o g r a p h i a phone
tica, publicou seu 1 ° numero no dia 24 de S e -
t e m b r o com o seguinte a r t i g o de a p r e s e n t a ç ã o :
« S e n p r e que un periódico ven á lus d a pu-
blissidade, a c o r d a un p e n s a m e n t o novo, u m a
idéa s a n i justa, u m a o r i e n t a s s ã o de espirito,
u m a r e n a s s e n s a i un t r a b a l h o , enhn.
C a d a p e n s a m e n t o é u m a n o v a conquista,
c a d a idéa novo rebento, c a d a o r i e n t a s s ã o n o -
v a lus, c a d a l e n á s s e n s a nova pátria i ç a d a tra
b a l h o novo deslunbre.
A m i s s ã o d a i n p r e n s a è a m a i s inportan-
te na vida s o s s i a l — a m i s s ã o do p e n s a m e n t o
en publico—, i n ela nad^ m a i s que a v e r d a d e ,
n a d a m e n o s que o d e v e r i o patriotizmo.
P u g n a r pelo c o n p l e m e n t o g r a n d i l o c o -
L u s i P á t r i a — é a v o n t a d e indómita de nossa
Potiguarania ; i á éla, que busca estos p r i n s i -
pios do ben, nada mais justo que o bon acolhi-
mento dos corassões ben criados.
Nilo temos programa, i, si o tivéssemos,
reuniríamos á ele este vocábulo eloquente i da
mais espressiva significassão : - R i o G r a n d e
do Norte !
Si, poren, un dia formos interpelados so-
bre o nosso intuito na inprensa, respondere-
mos :
— N a pátria livre queremos livremente
pensar en publico».
A " P o t i g u a r a n i a " era impressa na typ.
d 'A Republica e apparecia em dias indetermi-
nados.

98—MO CIDADE-1890.

Orgam littcrario c noticioso, publicou seu


nu nero no dia i de Novembro, apresentan-
d o - s e ao publico nos seguintes termos :
«Apresentando hoje ao publico nosso h u -
milde periodico—Mocidade —começamos por
manifestar os nossos sentimentos, bem como
a árdua missão que emprehendemos.
Diante as mais deslumbrantes d e s c o b e r -
tas que heroicos gladiadores teem feito para
engrandecimento da instrucção, sempre a im-
prensa, esta motora da civilização moderna, é
a mais bella, a mais importante. E ' justamente
por e-ta razão que nós, que só buscamos o pro-
gresso, procuramol-a, para assim apresentar
aos nossos leitores uma idéa sã e que buscará
sempre defender a causa do adiantamento mo-
ral, sem interver se n'um sò passo da crítica,
que traz s o m e n t e o b s c u r i d a d e s e o b s t á c u l o s
p a r a a n o s s a vida social. A i n d a que difficil,
c o m o r e c o n h e c e m o s , s e j a a t a r e f a de que de hoje
e m diante nos o c c u p a m o s , t r a b a l h a r e m o s sem-
p r e p a r a opulentar com o thesouro d a s lettras
a n o s s a intenção, e m b o r a poucos s e j a m o s
nossos conhecimentos.
C o n f i a d o s , pois, nos nossos leitores, um
b r a d o d e e n t h u s i a s m o em prol da c a u s a f u l -
g e n t e que a b r a ç a m o s será s e m p r e o que se ha
de ouvir de nós, seus r e d a c t o r e s " .
Q u a n t o á r e d a c ç ã o , a p e n a s dizia-se r.o
c a b e ç a l h o : Redactores diversos. S a b e - s e , p o -
r é m , que a Mocidade e r a redigida por j o v e n s
e s t u d a n t e s do A t h e n e u e em sua s e c ç ã o " L v r a
P o é t i c a " d e s t a c a m - s e , entre outras, a l g u m a s
p o e s i a s de J o ã o C h a v e s , H o n o r i o C a r r i l h o ,
J o s é C a n d i d o B a r b o s a , B e n v e n u t o de Oliveira
e Ezequiel Wanderley.
I m p r i m i a - s e na typ. do " R i o G r a n d e d o
N o r t e " e sahia d u a s vezes por mez.
. E r a o s e g u n d o j o r n a l q u e se p u b l i c a v a
nesta c i d a d e com t s t e n o m e ; o primeiro ap-
p a r e c e u em 1 8 8 2 . Y i d . n-' 63, no vol. V I da
Revista, pag. 1 1 7 .

9 9 — 0 UINZE DE NO í TEMBR 0 -
1890.

Edição especial p a r a c o m m e m o r a r a d a -
ta do primeiro a n n i v e r s a r i o da p r o c l a m a ç ã o da
Republica.
A p r i m e i r a p a g i n a é o c c u p a d a pelo retra-
to do Generalíssimo Manuel Deodoro da Fon-
seca, no centro, com a seguinte saudação, for-
mando um largo'semicírculo na parte superior:
N o A N N I V E R S A R I O DA PROCLAMAÇÃO DA R E P U -
BLICA,' A P A T R I A AGRADECIDA SAÚDA O GRANDE E
DIGNO B R A S I L E I R O , C H E F E DO PRIMEIRO GOVER-
NO LIVRE DO B R A Z I L ; e m a i s a s p a l a v r a s Pa-
tria e Liberdade, na parte inferior, abaixo do
nome do general,
A proposito desta publicação diz ,-/ Repu-
blica de 23 :
" E s t e periódica fundiu-se com o «Rio
Grande do Norte" para dar uma edição especi-
al, c o n s a g r a d a á memoria do grande feito, tra-
zendo na pagina de honra o retrato do vulto
heroico. e immortal do invicto generalíssimo
Deodoro da F o n s e c a e nas seguintes artigos
âllusivos ao grandioso acontecimento e aos
seus protogonistas".
Abre a serie desses artigos, subscriptos
Pelos redactores dos dous jornaes. entre os
l u a e s se notam B r a z de Andrade Mello, J o a -
quim Ferreira C h a v e s Filho, J o s é G e r v á s i o de
Amorim G a r c i a e Diógenes da Nóbrega, o se-
guinte, do dr. J o ã o G o m e s Ribeiro, governa-
dor do E s t a d o :
" F a z um anno que o a n j o tutelar do B r a -
sil, servindo-se da espada gloriosa do mais va-
' e nte de seus soldados, rasgou novos h o r i s o n -
tes á ventura de nossa patria, que vio, tomada
indisiveis alegrias, surgir a esplendorosa au-
rora da verdadeira democracia, alumiada pelos
r;
úos fecundos do bemdito sol da liberdade.
O pavoroso estrondo do ruimento da mo-
ft
archia foi a b a f a d o pelas festivas manifesta-
ções dc jubilo que irromperam sadias e espon-
tâneas dos seios do patriotismo em todos os
ângulos de paiz.
F a z um a n n o que teve logar o santo acon-
tecimento e jâ é outra a f a c e da n a ç ã o brazil-
eira ! Sente-se bater livre seu c o r a ç ã o , ali-
mentado pelo s a n g u e tonificado pelos benéfi-
cos princípios da g r a n d e trilogia social liber-
dade, egualdade e fraternidade.
O E s t a d o do R i o G r a n d e do N o r t e r e j u -
bila-se com a patria pela felicidade de todos
e, rendendo votos da mais pura e sincera gra-
tidão a sua bôa sorte, dirige as mais a r d e n t e s
e f e r v o r o s a s saudações ao illustre e beneme-
rito c i d a d ã o , ao invicto e valoroso soldado, ao
preclaro e insigne a l a g o a n o Manuel Deodoro
da F o n s e c a , generalíssimo do generoso e v a -
lente exercito brazileiro, D i g n í s s i m o Presiden-
te d a Republica dos E s t a d o s U n i d o s d o B r a z i l .
V i v a a Republica Brazileira !
V i v a o inclyto generalíssimo Manuel Deo-
doro da F o n s e c a !
V i v a o E s t a d o d o R i o G r a n d e d o Norte !"

100 0 SANTELMO- 1891-93.

E m sua curta cxistencia teve O Santehuo


dous períodos inteiramente distinetos.
Publicarão bi-semanal e dizendo-se orgot'1
dos interesses hodiernos, veio pela primeira vez
á luz d a publicidade no dia 14 de J u l h o de
1 8 9 1 , com este simples artigo de apresen-
tação :
« B e m d i t a s auras que beijam a s sorridentes
*

plagas onde vem ;'t luz um o r g a m da Impren-


sa, um espelho d a s reílecções de quem quer
pensar em publico, bem c o m o os échos vibran-
tes no e s p a ç o repercutem a voz,
* *
B e m d i t o o c o r a ç ã o que applaude o braço
que n ã o c a n ç a na lueta pelo progresso, a alma
(
iue aninha desejos de luz e busca os princípios
do bem, o p e n s a m e n t o que supplica e x p a n s ã o :
Mocidade que procura a I m p r e n s a .
* *
A luz a l m e j a d a dos povos, o p r o g r e s s o tri-
Umphal da humanidade, o cultivo do espirito
da M o c i d a d e respiram de longe e s p e r a n ç o s o s
ftquelles (pie hoje c o m e ç a m a ensaiar se nas
c
° l u m n a s d O Santelmo,
#
* *
N a d a de arrefecimentos !
A g i r ! A g i r !...
O século è quem quer .
S e m redactores ostensivos, m a s com col
foàorafâo /rança ao bello sexo, continuou ' O
Sa
ntelmo" sua publicação até 31 de Outubro,
(
1 ua ndo a p pa r ec era m a s s u m i n d o os t e n si v a me n •
tf
- a responsabilidade da r e d a c ç ã o S e a b r a de
Aiello, F e r r e i r a V e i g a e J o s é de N iveiros, e
C(,
mo editor Augusto C . W a n d e r l e y .
E assim terminou o a 9 trimestre e an
de sua existência, cm 3 0 de N o v e m b r o , pu-
blicando 12 números. M a s logo suspendeu a
Publicação até 5 de A g o s t o de 1892, q u a n d o
' e a p p a r e c e u sob a r e d a c ç ã o de S e a b r a de Mel-
!< G a l d i n o S a m p a i o , J o s é de Viveiros c C«ar-
l ,a
- Netto, publicando o seguinte artigo inicial:
" D e p o i s de longos mezes de interrupção,
a p p a r e c e hoje, em todo o vigor da p r i m e i r a
edade, c modesto Santelmo, fructo sazonado
de nossas vigílias e lucubrações.
A confiança que, com justiça, deposita-
m o s nos bons e generosos habitantes desta ci-
d a d e è o único incentivo que nos anima e en-
coraja na continuação de t ã o ardua e m p r e z a .
P a r a vencer é preciso luctar ; assim t a m -
bém, para aperfeiçoar o espirito ò preciso es-
tudar, e estudar muito. N ó s , espíritos estereis,
p r e c i s a m o s de cultivar a intelligencia, alimen-
tando-a com os livros, que s ã o o seu pão quo-
tidiano. O resultado do nosso estudo, nossos
artigos (si assim se pode c h a m a r a u m a s p h r a -
ses banaes, singelas e mal alinhavadas) trare-
mos para esta tribuna e a p r e s e n t a r e m o s a o s
nossos leitores, não c o m o obra prima, m a s sim-
ples ensaios de um calouro.
N ã o tememos a critica, e até a deseja-
mos ; m a s a critica instructiva. A o s zoilos, que
por infelicidade ainda abundam na nossa soci-
edade, seremos prodigos antecipando-lhes o
nosso despreso".

F a z i a e n t ã o - e x p r e s s a d e c l a r a ç ã o de que
" h ã o a c c e i t a v a collaboração de espeoie a l -
g u m a " , dizia-se orgam litterario e publicava se
nos dias 5, 15 e 25 de cada mez.
A 25 do predicto mez de A g o s t o G a r c i a
Netto já não f a z i a parte da r e d a c ç ã o , da qual
retirou-se também G a l d i n o S a m p a i o em 25 de
Outubro, ficando ella exclusivamente a c a r -
go de- S e a b r a de Mello josé A l e x a n d r e — e
J o s é de Viveiros, que escreviam sob os p s e u -
donvmos de Eugênio de M. e Jordão do Valle.
A p c z a r da d e c l a r a ç ã o a que acima me
referi, yejo que collaboravam n 0 Santelmo
U r b a n o Hermillo, B e n v e n u t o de Oliveira e ou-
tros, e sobre a morte de Silva J a r d i m , o deno-
dado propagandista da Republica, encontro
no n? 7 o seguinte soneto de S e g u n d o W a n -
derley :

"CATASTKOPUE

A MEMORIA DO INVICTO PATRIOTA

SILVA JARDIM

Evocado, talvez, por torça estranha,


Assombrada de ver tanta victoria,
Elie se arroja aos cimos da montanha
Como a (tingira ao vértice da gloria .'

Era grande de mais a sua empresa.


Ia além da razão o seu intento :
Mas não teme afrontar a natureza
Quem consegue vencer o sentimento !

E, quando assim sublime elle se erguia


J't a arrancar ao vulcão a lava ardente
h fulminar com e/la a mmarchia...

Hasta ! lhe brada a voz da Magestade ;


E a/li tombou, legando ao mundo inteiro
Silvas de luz, jardins de Liberdade ! »
O Santelmo era e f e c t i v a m e n t e , c o m o se
dizia, um jornal litterario ; m a s tinha f r a n c a
s y m p a t h i a pela politica r e p u b l i c a n a do dr. P e -
d r o Velho, cujo o r g a m , noticiando o recebi-
m e n t o do n v de 1 5 d e A g o s t o de 1 8 9 2 , a s s i m
se e x p r i m e a seu respeito :

«6» SANTELMO

T e m o s A vista o ultimo numero do perio


dico assim intitulado e, c o m o se s a b e , redigido
por u m a pleiade de m o ç o s que n ã o se d e i x a m
l e v a r pela a p a t h i a intellectual que d o m i n a o
n o s s o meio.
C o m o o de 5 deste mez, p r i m e i r o d e p o i s
de sua r e a p p a r i ç ã o no m u n d o d a s l e t t r a s po-
t y g u a r e s , O Santelmo de 1 5 d o c o r r e n t e tem o
que se leia e d e m o n s t r a muito bem que os seus
r e d a c t o r e s , com t r a b a l h o e p e r s e v e r a n ç a , po-
d e r ã o em b r e v e conquistar um bonito l o g a r no
j o r n a l i s m o do E s t a d o , que tanto p r e c i s a de pe-
riódicos que, c o m o O Santelmo, s a i b a m f a l a r
em outras c o u s a s que n ã o s e j a m e x c l u s i v a -
m e n t e a politica.
A v a n t e , pois, e n a d a de d e s a n i m o !»

O Santelmo, p o r é m , publicou a p e n a s 30
n u m e r e s , s a h i n d o o ultimo a 1 2 de F e v e r e i r o
de 1 8 9 3 .
Imprimia-se na Tyftografhia Central e
tinha seu escriptorio de r e d a c ç ã o á rua «21 de
Março»,, n " 24.
1 0 1 — 0 ARTISTA—1891 92.

Orgam democrático o redigido pelo dr. S e -


gundo W a n d e r l e y , surgiu á luz da publicidade
no dia J8 de D e z e m b r o 1 8 9 1 , expondo bri -
lhantemente o seu p r o g r a m m a no seguinte ar-
tigo inicial :
«Neste período momentoso edifficil de evo-
luções inexperadas, de sorprezas imprevistas,
de tansições accidentaes é mister que todas a s
torças convirjam para o m e s m o centro, todas
as actividades tendam para o m e s m o fim, todas
;>s intelligencias mirem o m e s m o ponto de vista,
todas a s vontades procurem o m e s m o o b j e c t i -
vo, todas a s consciências aspirem o m e s m o
ideal, todos os espirito.;, e m f i m , se preoccupem
com um só resultado, se compenetrem de um
só d e v e r — a s a l v a ç ã o da patria.
Pujante pelo seu numero, horoica pela sua
dedicação, nobre pelos seus sentimentos, po-
derosa pela sua utilidade, elevada pela sua a u -
tonomia, a classe artística não pôde nem deve
permanecer na retaguarda, q u a n d o se trata de
desenvolver o progresso, aperfeiçoar a civiliza-
ç ã o e g a r a n t i : a felicidade universal.
E m todos os tempos o artista tem occu-
pado um logar saliente na galeria luminosa d a s
celebridades h u m a n a s .
P h y d i a s immortalizando a G r e ia com os
prodígios de seu buril, Miguel A n g e l o a s s o m -
brando a Italia com os milagres de seu pincel.
W a g n e r electrizando a A l l e m a n h a com a s ma-
ravilhas de suas melodias s ã o outros tantos
gênios que se impõem á a d m i r a ç ã o dos séculos
pelo prestigio de s u a s o b r a s , pela g r a n d e z a d e
seus m o n u m e n t o s .
K Guttemberg ? Guttemberg é mais do
que um g ê n i o — é a i n c a r n a ç ã o v i v a d a civiliza-
ç ã o moderna, é a perpetuidade do pensamen-
to, a e t e r n i d a d e d a gloria, a i m m o r t a l i d a d e
d a luz.
O artista è o o p e r á r i o do b e m .
Q u e m diz a r t i s t a — d i z t r a b a l h o ; q u e m diz
t r a b a l h o — d i z lucta; q u e m diz l u c t a — d i z Victo-
ria ; q u e m diz victoria —diz luz, e quem diz
l u z — d i z felicidade, diz s u p r e m o b e m .
M a s n ã o é só a lucta pela vida que deve
p r e o c c u p a r o espirito d e s s e s sublimes archite-
ctos da c i v i l i z a ç ã o ; é t a m b é m a lucta pela li-
b e r d a d e que d e v e estimular os seus brios e di-
vinizar a sua missão.
O artista n ã o d e v e ser s i m p l e s m e n t e um
o p e r á r i o v u l g a r , d e v e attingir a altura de um
b e n e m e r i t o , e p a r a i s s o é n e c e s s á r i o q u e se
eleve n a s a z a s d e s s e c o n d o r sublime q u e con-
duziu T i r a d e n t e s a o infinito e M i g u e l m h o á
posteridade.
N ã o é s ó m e n t e com o b r a ç o que o artista
d e v e t r a b a l h a r , é com o espirito, é c o m a in-
telligencia.
A p a t r i a e x i g e o c o n c u r s o s i m u l t â n e o de
t o d a s a s c l a s s e s p a r a sua c o n s o l i d a ç ã o e o es1-
c o p r o do artista v a l e t a n t o c o m o a p e n n a do
e s c r i p t o r ou a e s p a d a do guerreiro.
A c l a s s e artística é a a r c a r a n t a de todas
a s virtudes c í v i c a s , é a g r a n d e a r t é r i a por onde
circula a seiva v i v i f i c a n t e d a d e m o c r a c i a pura-
O o p e r á r i o tem sido s e m p r e o elemento
predominante em todas a s revoluções que tem
agitado o o r g a n i s m o s o c i a l ; tem sido s e m p r e
0
primeiro a dar o seu sangue, m a s infeliz-
mente o ultimo a receber a luz.
Q u a n d o se trata dos perigos d a s luetas
é lembrado c o m o um heróe ; quando se
trata dos louros da victoria é esquecido c o m o
um cobarde.
Os benefícios colhidos n ã o correspondem
a
° s sacrifícios feitos ; o resultado obtido não
(>s
tá na r a z ã o directa do esforço e m p r e g a d o .
sempre um saldo no seu patriotismo e um
deficit nos seus interesses.
K ' por isso que a classe artística deve,
< ompenetrando-se de sua importancia, d e s f r a l -
( ar
' ás brisas f a g u e i r a s de suas consciências a
bandeira i m m a c u l a d a de s u a s opiniões, deffen-
der com o heroísmo dos e s p a r c i a t a s a legiti
'nidade de seus direitos, m a r c h a r d e s a s s o m -
brada c o m o os peregrinos da e d a d e media á
r
° n q u i s t a da terra santa da liberdade ; oppor,
(
<>mo os ( i r a c c h o s da historia a n t i g a , a o s a s
:,
° m o s do despotismo estulto a c o r a g e m subli-
'ne (l a resistência nobre ; solicitar na e o m m u -
jjnSo dos povos adiantados o l o g a r d e honra que
| t: r unpete e reclamar, finalmente, o seu qui-
11
mo de gloria na jornada sublime para o tem-
Plo do futuro.
Artistas, a postos !
Publicação quinzenal e editado na Tyfio-
^•pf/ia Centra! p o r Augusto C . W a n d e r l e y .
' ^"tista era regularmente i m p r e s s o e escri-
h ? e n i ' ' " « u a g e n i correcta e elegante, c o m o
ern
deixa ver < artigo a c i m a transcripto.
S e g u n d o W a n d e r l e y , o a p a i x o n a d o cultor
d a s m u s a s , e s q u e c e n d o - a s por m o m e n t o s , dei-
xou-se d o m i n a r pela politica e, e m q u a n t o d e -
fendia em seus editoriaes, com calor e brilhan-
tismo, a s i d é a s p r e g a d a s a o p o v o pelo c h e f e
d a d e m o c r a c i a p o t v g u a r , dr. P e d r o Velho, en-
t r e g a v a a Columna lyrica d e seu quinzenário
aos cuidados dos jovens poetas Henrique C a s -
triciano e F r a n c i s c o P a l m a , que ahi d e i x a r a m
p r o d u c ç õ c s p o é t i c a s de incontestável m e r e c i -
mento.
P e n a que O Artista t i v e s s e vivido t ã o
pouco.
F m 5 de A g o s t o de 1 8 9 2 , O Santelmo, n °
1 3 , publicou a s e g u i n t e d e c l a r a ç ã o d o editor :
« P o r m o t i v o s superiores e muitojustos so-
m o s o b r i g a d o s a s u s p e n d e r por a l g u m t e m p o a
p u b l i c a ç ã o d'O Artista".
E s t e , p o r é m , não sahiu m a i s e 1 »areco m>
que seu intuito na v i d a jornalística foi substi-
tuir aquelle periodico em seu i n t e r r e g n o de
f i n s de 1891 a A g o s t o de 1 8 9 2 . . i Republica de
9 de J a n e i r o d e s s e anno, n " 147, a í i i r m a que
a e s s e t e m p o O Santelmo e s t a v a brilhante
m e n t e t r a n s f o r m a d o n ' O Artista ; e o " R i o
G r a n d e do N o r t e " diz que aquelle " r e a p p a r e -
ceu p r o c u r a n d o r e t o m a r o l o g a r que occupou
na i m p r e n s a do E s t a d o . "

102- O CA1XEJRíM 892^-94.'.

• N ã o vi o i 0 numero d e s t e periódico, heb-


domadário republicano, r e d i g i d o exclusivamert"
te por P e d r o A v e l i n o e i m p r e s s o na t y p . d - /
Rcpublha. I n f o r m a - m e , p o r é m , O Santelmo
que e s s e n u m e r o foi distribuído a 1 0 de A g o s -
to de 1892 e que e m um d o s períodos de seu
e l e v a d o p r o g r a m m a lé-se :
«O Caixeiro n ã o é o o r g a m d o s caixeiros,
nem m e s m o o o r g a m do c o m m e r c i o . A s p i r a
m a i s d i l a t a d o s horisontes na a r e n a jornalís -
tica. ..»
E f f e c t i v ã m e n t e . não foi n a d a disto, e tal-
vez justifique o n o m e c o m q u e se baptizou a
r a z ã o imiça de ser seu r e d a c t o r e m p r e g a d o do
c o m m e r c i o . F o i politico e politico valente e m
d e f e s a do p a r t i d o situacionista do E s t a d o , c u j o
o r g a m recebeu -o com e s t a s p h r a s e s de a n i m a -
dora s y m p a t h i a :

* O'CAIXEIRO

V i v e r e m o s ? P e r g u n t a a si m e s m o e a o
publico o novo e s y m p a t h i c o periodico. ( ) nos-
s o sincero d e s e j o é que o c o l l e g a tenha u m a
existência l o n g a , v e n t u r o s a : m a s é p r e c i s o
lü tar.
C o m b i n a - s e f a c i l m e n t e o p l a n o de um jor-
nal, n u m a p a l e s t r a de s o b r e m e s a , na sala de
Urft c a f é : m a s sustental-o, com t o d o s os a b o r -
recimentos de r e d a c ç ã o e de f i n a n ç a s , e x i g e
muito g o s t o e c o n s i d e r á v e l t e n a c i d a d e .
S e b r e t u d o , n a o d e i x e o collega a r r e f e c e r
0
e n t h u s i a s m o , a robusta e l o u v á v e l c o n f i a n ç a
'jue e m si m e s m o d e p o s i t a .
Le sor/ t n est jeté.
A w a y ! foi a sua s e n h a d e a p r e s e n t a ç ã o .
A v a n t e , pois.
O Caixeiro é pequeno e nasceu hqntern,
m a s j á tem ares de h o m e m : é serio sem t r i s -
teza, altivo sem insolência.
P a r e c e que traz a p t i d ã o para doutrinar o
discutir, sem descurar a s lettras a m e n a s .
«A Republica», logo á primeira visita»
c o n f e s s a q u e f s y m p a t h Í 3 0 u muito com o colle-
ga, e envia—lhe os seus affectuosos cumpri-
mentos de bôa vinda.
O mar da imprensa é revolto e prenhe de
t e m p e s t a d e s ; mas, ao que parece, o pequeno
b a r c o tem uma briosa tripulação, bom cala -
feto e v e l a m e novo. N a v e g a r á com segurança.
Q u a n t o ao rumo, não ha douu : é a R e -
publica".
A o pequeno barco, porém, foi pouco a
pouco enfraquecendo a maruja, e s t r a g a n d o s e
o velame, e a 1 3 de M a r ç o de 1894, publican-
do seu ultimo numero, sossobrou completa-
mente.
O Caixeiro tinha seu escriptorio de re-
d a c ç ã o á rua do « C o m m e r c i o " , n? 85.

1 0 . ' ! — O POTYGUAR- 18)92-<>3.

Dizia-se o r g a m do club " R e c r e i o fuvemT"


e publicou seu 1 " numero a 15 de N o v e m b r o
de 1892, com o seguinte p r o g r a m m a :
«No intuito de b e b e r m o s a s s a n t a s e s u b l i -
mes doutrinas da instrucçãp, esta estrella bri-
lhante que guia para um futuro radiante uma
mocidade que a m a a liberdade e que deseja o
progresso p a r a esta g r a n d e P a t r i a , — e i s - n o s
atirados ao v a s t o c a m p o do jornalismo. •
N ã o p o d e m o s ficar silenciosos deante dos
feitos gloriosos que se tom o p e r a d o neste im-
m o r t a l século, e m que a m o c i d a d é , esta pe-
quena p h a l a n g e , odiada e p e r s e g u i d a por to-
dos e por tudo, procura subir a o s mais altos
c u m e s do a d i a n t a m e n t o e em que a sciencia,
p e n e t r a n d o os m a i s recônditos s e g r e d o s da na-
tureza, r e v e l a - n o s m a r a v i l h o s a s i n v e n ç õ e s .
A mocidade, captiva e amordaçada, vai
pouco a p o u c o d e s c o b r i n d o no bello horisónte
de n o s s a patria um raio luminoso, e mais hoje
ou m a i s a m a n h a ella verá cahir por terra
aquelles que d e s e j a m f a z e r d e l i a um objecto
de v i n g a n ç a .
Nós, que t a m b é m f a z e m o s parte desta mo-
cidade, não q u e r e m o s p r o c u r a r d e s d e j á e n t r a r
em q u e s t õ e s ; q u e r e m o s s i m p l e s m e n t e instruir
nos e por isto a t i r a m o s p a r a o s e n s a t o publico
R i o - G r a n d e n s e este m o d e s t o 1'otygnar, que
p r e t e n d e trilhar s e m p r e o c a m i n h o da v e r d a -
de, d a justiça e do direito. Klle não será um
o r g a m politico, um c a m p e ã o de i d é a s peque-
ninas, que mais d a s v e z e s atiram os h o m e n s
que se l a n ç a m , sem p e n s a r , nas g r a n d e s luc-
tas da i m p r e n s a , no a b y s m o do d e s p r e z o e d o
descrédito. Klle, t r a b a l h a n d o pelo p r o g r e s s o de
todas a s c l a s s e s e e s p e c i a l m e n t e da í n s t r u c ç ã o ,
e s p e r a ter unr a c o l h i m e n t o d i g n o de um p o v o
que d e s e j a t a m b é m o p r o g r e s s o p a r a a p o b r e
mocidade deste E s t a d o " .

V i n d o á luz d a p u b l i c i d a d e no dia 1 5 d e
N o v e m b r o , seu í 9 n u m e r o é quasi que exclusi-
vamente consagrado á c o m m e m o r a ç ã o desta
g r a n d e d a t a , publicando, a l é m de e x p r e s s i v a
s a u d a ç ã o na p a g i n a de h o n r a , a l g u n s a r t i g o s
n a s seguintes, entre os q u a e s um s u b s c r i p t o
por J . L a m a r t i n e .
0 Potyguar era redigido por u m a c o m -
m i s s ã o de socios do referido club, a p r i n c i p i o
c o m p o s t a de A l b e r t o G a r c i a , J o s é B e r n a r d o
Filho e Francisco Palma.
E s t e , p o r é m , a l l e g a n d o que o jornal l o g o
no p r i m e i r o n u m e r o a p r e s e n t á r a i d é a s politi
ticas, c o n t r a r i a n d o a s s i m a s c o n d i ç õ e s que fo-
ram e s t a b e l e c i d a s , p o z - s e i m m e d i a t a m e n t e f ó r a
da r e s p e c t i v a r e d a c ç ã o , ä q u a l d e r a por c a r t a
os motivos de seu p r o c e d i m e n t o , de m o d o
q u e , e m seu logar, já figura no 29 n u m e r o o
n o m e de S i l v e s t r e N e r y .
O Potygtiar s u r p r e h e n d e u - s e com o pro-
c e d i m e n t o de F r a n c i s c o P a l m a e n e g a ter s e
e n v o l v i d o em politica ; m a s o que é certo é que
no 4 ? numero, p u b l i c a d o a 9 de J a n e i r o d e
1 8 9 3 , a p r o p o s i t o de um a t t e n t a d o d*- que fòra
victima o d r . N a s c i m e n t o C a s t r o , da p a r t e de
um tenente de policia, no dia i " d o m e s m o
mez, f a z a o g o v e r n o a s m a i s v i o l e n t a s a c c u s a -
ções e termina dizendo ;
«Pretendíamos não tomar p a r t e n a s q u e s -
tões politicas d o E s t a d o ; p o r é m , diante dos
f a c t o s i m m o r a e s q u e dia a dia v ã o s e d e s d o -
b r a n d o em nossa f r e n t e ; diante d a brutal af-
f r o n t a de que foi v i c t i m a o p o v o p o t y g u a r ; di-
a n t e de tanta c o b a r d i a e de tanta miséria, n ã o
p o d e m o s d e i x a r d e vir, c o m o p e q u e n a parte
d a i m p r e n s a d o E s t a d o , p r o t e s t a r contra <>
a t t e n t a d o d o dia 1 do c o r r e n t e e pedir p r o v i -
9
139 —

dencias ao heroico povo do Rio G r a n d e do


Norte".
E , tendo começado sua publicação na
" L i b r o - T y p o g r a p h i a Natalense", desde o se-
gundo numero passou O Po tyguar a ser im-
presso na typ. do «Rio G r a n d e do Norte», or-
gam da opposição.
Publicava-se duas vezes por mez.

1 0 4 — Q COLIBRI 1892.

F o i incluído no catalogo do dr. Alfredo de


Carvalho, n 9 93 ; e é a única noticia que te-
nho deste periodico.

105 O NORTISTA 1893 95.

C o m e ç o u a ser publicado na cidade de S .


José de Mipibú, onde residia seu proprietário
0
redactor chefe, professor Elias Antonio
Ferreira Souto.
Mudando-se para esta capital, aqui c o n -
tinuou o professor E l i a s Souto a publicação de
•^u jornal com o n° 56, distribuído a 1 5 de
Março de 1893, apresentando se ao publico
natalense nos seguintes termos :
« N M O podemos vencer em tempo as diffi
c i d a d e . ; d a transferencia que fizemos d a s nos-
S;is
ofik inas de S . J o s é para esta capital, que
Podássemos d a r O Nortista no dia 11 deste
ni
ez, conforme promettemos no ultimo n u m e -
r
°- que naquella cidade foi publicado no dia 24
(
le Fevereiro p a s s a d o , e somente hoje pode
^ o s fazer a nossa a p p a r í ç ã o nesta cidade, onde
1 .|;o~-

e s p e r a m o s encontrar benigno acolhimento do-


publico natalense, que j á nos dispensava a sua
honrosa confiança antes de para aqui p a s s a r - *
mos a nossa residencia.
N ã o é entre uma sociedade desconhecida,
para nós, que (7Nortista vem proseguir na sua
ardua e diffieil tarefa na imprensa, n ã o ; vie-
mos viver no aeío de um publico a m i g o e que
conhecemos ha longos annos, devendo lhe a s -..,
maiores attenções, - a g r a t i d ã o m e s m o de nos-
sa a l m a reconhecida".
E l i a s Souto era professor primário da ci-
d a d e de S . J o s é de Mipibú. P o r oceasião de
ser reorganizada a instrucção publica do E s -
'tado, tendo sido n o m e a d o para reger a cadei-
ra da villa de P a u - d o s - E e r r o s , n ã o acceitou a
n o m e a ç ã o ; e nesse m e s m o artigo Censura
a c r e m e n t e o governo que o nomeou e, em phra-
ses violentas, declara que aqui, c o m o já o fazia
em S . J o s é , continuará, no cumprimento d e
seu dever civieo, a combater a politica do dr.
Pedro Velho e auxiliar aquelles que t r a b a l h a m
pela integridade da patria.
O Nortista era eptão publicação semanal,
sob a gerencia de B e n j a m i m K e b o u ç a s , e ti-
nha seu escriptorio de r e d a c ç ã o e typograpIiM
á rua dos " V o l u n t á r i o s da Patria (antigo
" B e c c o - Novo"), n 21, e assignava-se a
5 #000 annuaes.
E m F e v e r e i r o de 1895, conforme decla-
rações insertas n o s 4 n ° s 1 5 0 c 1 5 1 , o professor
E l i a s Souto mudou sua residencia e o es-
criptorio da r e d a c ç ã o d ' O Nortista para a pra-
ça "André- de A l b u q u e r q u e " (antiga. ' K u a
G r a n d e " ) n 9 14, e a officlna t y p o g r a p h i c a p a r a
a rua da " C o n c e i ç ã o " , n 9 43 (75).
No dia I o de M a r ç o desse m e s m o anno,
ao publicar o n 9 1 5 2 , passou O Nortista a ser
folha diaria, reduzindo o f o r m a t o para 3 r cents.
de comprimento sobre 21 de largura e fixan-
do em i 2$000 o preço da assignatura annual.
Continuava com a m e s m a r e d a c ç ã o e geren
cia e publicou então o seguinte artigo, em que
dá os motivos de sua resolução e estabelece o
p r o g r a m m a a seguir em sua nova p h a s e :
" O movimento progressivo desta capital
reclama a publicação diaria dos o r g a m s da
imprensa.
Os periódicos s e m a n a e s não satisfazem
exigencias do serviço de publicidade, nem
anciedade publica na avidez e procura d a s
noticias que s u r g e m dia a dia.
Dahi a publicação constante dos boletins
e avulsos que e s t ã o sempre a surgir nesta
cidade.
V i s a n d o satisfazer de nossa parte esta
grande necessidade publica, O Nortista a ven-
e r o u - s e a sahir diariamente, procurando a s -
s,
m proporcionar mais um ensejo para que
melhor se d e s e n v o l v a m a liberdade do pensa-
mento, o movimento commercial, a actividade
Publica e individual.

(75) Essa« duas rasas j á não existem : o loc.il da primeira far


jj ' n " do I, i reuo cercada peto muro do palácio do Governe no
a<>
jj. Ruftd& foi construi.la a casa em que funecionu o Instituto
1
'arico e Gengruphico
142;

S a b e m o s das grandes, enormes diffieul-


d a d e s que teremos de vencer, tomando a bra-
ços uma e m p r e s a similhante ; e é confiando
no auxilio efficaz dos bons rio-grandenses que
contamos superar esses e m b a r a ç o s com que
teremos de luetar.
R e d u z i m o s o formato de nosso jornal,,
como uma garantia para sua manutenção.
L o g o que nos seja possível, augmentare-
mos o f o r m a t o e o r g a n i z a r e m o s um serviço
telegraphico em melhores condições.
S e m p r e independente como periódico- •
O'Nortista, como diário, ainda mais accen-
tuará sua orientação até hoje mantida na im-
prensa potyguar.
P a s s a n d o a diário, O Nortista espera que,
por esta razão, n ã o perderá um só de seus as-
signantes, e antes acredita que será mais uniii
r a z ã o para que e n g r o s s e mais o numero de
seus leitores e assignantes.
K m suas columnas todos e n c o n t r a r ã o be-
névola a c c e i t a ç â o nc c a m p o v a s t o da discus-
s ã o séria e moralizada.
N e s t a nova phase conta O Nortista com
o valioso apoio do c o m m e r c i o desta Capital c
do Kstado, cujos interesses sempre advogou
com m á x i m o esforço e desinteresse.
Confiante no patriotismo dos bons norte
rio-grandenses, O Nortista atira-se aos ven-
tos da publicação diaria.
K m fins de Abril deixou de figurar corno
gerente da t y p o g r a p h i a o sr. B e n j a m i m K e "
bouças ; e a .6 de Julho faz O No) /is/a n o nu-
mero 257 a seguinte d e c l a r a ç ã o :
« T e n d o o r e d a c t o r - c h e f e deste jornal, pro-
fessor E l i a s Souto, feito acquisição da « E m -
preza L i b r o - T y p o g r a p h i c a Natalense», em
que era impresso o " D i á r i o do N a t a l " e tendo
de preparai-a e reformal-a para nella publicar
" O Nortista" em maior formato, precisa, para
isto, suspender por poucos dias a sahida desta
folha, atè que possa fazer os preparativos ne-
cessários.
O empenho em que estamos de dar um
diário melhor levou-nos a emprehender a ac-
quisição daquella importante e m p r e s a , a mais
providade material t y p o g r a p n i c o nesta capital,
para nella continuar " O N o r t i s t a " a sua jor-
nada.
F a r e m o s esforços para melhorar ainda
' mais a e m p r e s a , afim de desenvolver outros
misteres a que se presta e p a r a o que tem o
preciso machinismo.
E m f a c e do exposto, é justo que os nos-
• s °s a s s i g n a n t e s e leitores desculpem essa li-
geira interrupção, que em pouquinhos dias
voltaremos mais bem municiados para a s lides
(
'a imprensa".

E f f e c t i v a m e n t e , dez dias depois, com fei-


ao nova e maior f o r m a t o —43 cents. de com-
primento sobre 31 de largura publicou a " E m -
Preza Nortista" o n° 258 de seu periódico,
e ° m o m e s m o nome e o sub-titulo de DIÁRIO
1
QTYGUAR, no qual, a proposito da r e f o r m a
Por que a c a b a v a de p a s s a r , diz o seguinte :
144-—

«JVOFA FIIA SE

N o v o s horisontes d i l a t a m - s e hoje dian-


te d a m a r c h a t r i u m p h a n t e d ' " O N o r t i s t a " .
P e r i ó d i c o s e m a n a l até 28 de F e v e r e i r o
p a s s a d o , m a n t i d o a custa de g r a n d e s sacrifí-
cios e p e l a p e r s e v e r a n ç a d e seu proprietário, o
p r o f e s s o r E l i a s S o u t o , p a s s o u a diário no dia
í ? de M a r ç o do corrente a n n o , em pequeno
f o r m a t o , e a s s i m a t r a v e s s o u m a i s de q u a t r o
m e z e s , a t é que hoje r e s u r g e e m c o n d i ç õ e s
m a i s v a n t a j o s a s , de melhor servir a o publico,
cuja c a u s a s e m p r e procurou a d v o g a r c o m m á -
ximo esforço e dedicação.
N a d e f e z a dos s a g r a d o s i n t e r e s s e s d a pá-
tria p o t y g u a r , " O N o r t i s t a " teve de entrar, é
v e r d a d e , em p h a s e s m a i s a b r a z a d a s , n a s pu-
g n a s da i m p r e n s a ; m a s o a r d o r de seu ideal
foi s e m p r e pela s u s t e n t a ç ã o dos brios e d a di-
g n i d a d e da terra n o r t e - r i o - g r a n d e n s e , pela res-
t a u r a ç ã o d a s l i b e r d a d e s publicas, do direito e
da justiça, por c u j a v e r d a d e n ã o c e s s a r á de
e m p e n h a r todos os seus e s f o r ç o s .
S e m p r e i m p a r c i a l , d e s p r e n d i d o inteira-
m e n t e de a g g r e m i a ç õ e s p a r t i d a r i a s , c o m o or-
g a m d a o p i n i ã o publica e r e p r e s e n t a n t e dos
interesses d a s c l a s s e s s o c i a e s , " O N o r t i s t a "
tem p r o c u r a d o c o r r e s p o n d e r á c o n f i a n ç a dos
q u e o h o n r a m com a sua vali o r a c o a d j u v a ç ã o ,
p r o c u r a n d o d e s e m p e n h a r - s e c o m altivez de
sua difficil m i s s ã o na i m p r e n s a .
D i s p o n d o hoje de u m a i m p o r t a n t e e m p r e -
za t y p o g r a p h i c a , " O N o r t i s t a " e n t r a em uma
n o v a p h a s e m a i s p r o s p e r a , v i s a n d o horisontes
mais largos, no firme proposito de manter-se
sempre DIÁRIO, para que o R i o G r a n d e do Nor-
te também possa dar quotidianamente o pão
espiritual aos que desejam alimentar-se com
os progressos da grande obra de Gutemberg.
Publicando hoje " O Nortista" em forma-
to duplo, com superior material typographico,
impressão nítida, è justo e razoável o augmen-
to das assignaturas, o que f a z e m o s o menos
possível, na razão de uln terço para mais.
Com t ã o pequena differença, em f a c e da
t r a n s f o r m a ç ã o por que passa o nosso diário,
confiamos que os nossos assignantes continua-
rão a prestar-nos o seu valioso concurso, não
leva ndo a mal o diminuto acréscimo que fomos
obrigados a fazer, em face das grandes d i f i c u l -
dades com que luetam em seu começo empre-
gas desta ordem p a r a manter-se.
N a s nossas columnas todos, sem distinc-
ção de classe ou politica, encontrarão franco
accesso para sua defesa,, de seus direitos e in-
teresses, desde que em linguagem digna redi-
girem os seus escriptos.
" O Nortista" é f r a n c a m e n t e imparcial, pu-
ramente O R O A M IK>S I N T K R K S S K S S O C I Á K S " .
O professor Klias Souto continuava como
redactor -chefe do jornal, cujo escriptorio de
' e d a c ç ã o mudára para a rua da " C o n c e i ç f l o " ,
n
° 33 (76) ; m a s a " K m p r e z a Nortista," mon-
*

(
I Tt>) Essa cam. q w correspondia á da praç.) " Andrí de Al-
^'«lUerime», também já nfto existe e ti local em t)ue era construída
,'/•
J CRUtilMeVite parte >1 terreno . nipreliendida pelo muro dt-
'áCÍ0
146;

t a d a á rua " V i s c o n d e d o R i o B r a n c o " ( a n t i g a


" R u a N o v a " ) n? 28, p a s s o u a ser p r o p r i e d a d e
de Elias Souto & Comp.
A s a s s i g n a t u r a s à'O Nortista f i c a r a m a s -
sim d e t e r m i n a d a s :
P a r a esta capital : por um m e z — 1 $ 5 0 0 ;
por 3 m e z e s — 4 $ 0 0 0 .
P a r a os d e m a i s l o g a r e s : por 3 m e z e s —
4 $ o o o ; por 6 m e z e s — 8 $ o o o ; por 1 a n n o
Í5$OOO.
A 5 de S e t e m b r o , p u b l i c a n d o o n 9 2 9 1 ,
f a z a seguinte d e c l a r a ç ã o :

" R e s o l v e n d o a u g m e n t a r o f o r m a t o de
n o s s o diário, i n t e r r o m p e m o s tão s o m e n t e a
s a b i d a deste no dia de a m a n h ã , p a r a s a h i r a o
depois, 7 d o corrente, e m c o n d i ç õ e s m a i s a m -
plas e de melhor servir a o publico, a q u e m ,
sobre tudo, d e s e j a m o s ser util e a g r a d a v e l . "

S a h i u , e f í e c t i v a m e n t e , nesse dia, publi-


c a n d o o n " 292 ; m a s de n o m e m u d a d o : havia
se t r a n s f o r m a d o 110 «Diário do N a t a l » , do qual
terei de o c c u p a r - m e m a i s a d i a n t e .
Nortista t a m b é m c h a m o u - s e o 4'-) jornal
que se publicou nesta c i d a d e , e m 1849-
a s s i m c h a m a d o por ter-se a p r e s e n t a d o c o m P
o r g a m , na província, d o p a r t i d o de e g u a l no-
me que militava e n t ã o na politica do paiz
vid. n° 4, pag. 27 do Vol. VI da Revista. ^
d o p r o f e s s o r E l i a s S o u t o , p o r é m , v i n d o á luz
d a publicidade quasi meio século depois, tirava
seu nome, a o que p a r e c e , do s i m p l e s f a c t o de
ser filho d o norte do B r a z i l .
1 0 6 — O PA TRAO—1893—04.

Scmanario democrata e redigido por uma


associação, como declara, publicou seu i 9 nu-
mero a 1 6 de Abril de 1893, com o seguinte
Programma :
«Vagaroso este século caminha para o
termino de seu longo e maravilhoso percurso.
Parece que se annuncia um formidável
es
trepito, infinitamente g r a n d e , na queda
monstruosa desse gigante dos tempos que se
avizinha das bordas do tumulo universal.
A ampulheta do tempo vaza os últimos
gr.-i os de argilla do século que morre ; e a ce-
r
° b r a ç ã o humana, diante desse acontecimento
'issomhroso, como que efccalda-sè e uma ton
t<Mra geral e electrizante assoberba todos os
c-spiritos, domina todas as consciências, trans-
torna todos os miolos —e povos e nações, go
V(
rnos c governados precipitam-se nos abys-
m
° s dos desacertos, da perdição e das revol-
tas
. da ganancia e das aventuras, buscando
|°dos a terra da promissão, a Chanaan das li-
n d a d o s modernas, o anjo louro d o s poetas.
'. a r c a santa dos dominadores do dia a bar-
'iga o o estomago !...
N e s t e hm de século d e s p e d a ç a m - s e o.;
s
° t u m e s honestos, a pureza d e c a r a c t e r , o
l > H t n o t i s m o a b n e g a d o (pie nos e n s i n a r a m os
n Ssos
? m a i o r e s ; e, a o influxo d e u m a civiliza
b a s t a r d a , de um modem is mo calculado, de
•m p r o g r e s s o m i s t i f i c a d o , g e r m i n a u m a n o v a
' 1 8 0 social, que é a n e g a ç ã o c o m p l e t a d o
1
P e r f e i ç o a m e n t o q u e prediziam a s g e r a ç õ e s
p a s s a d a s , confiantes no valor moral e scientí-
fico de nossos coevos em busca da perfectibi
lidade humana.

l'or entre os estertores desse d e s a b a r es-


p a l h a f a t o s o que a m e a ç a o século moribundo;
b a f e j a d o pelas brizas serenas que nestas ma
n h ã s de Abril descem f a g u e i r a s pela f a c e liza
d a s a g u a s de nosso soberbo Potcngy ; enleva-
do por essa bclla alegria cjue paira nas altas
regiões de quem tudo pode, m a n d a , quer e
f a z ; tendo por pedestal o sorriso e o a g r a d o do
p o v o potyguar, surge hoje á luz da publici-
d a d e o i numero d O Pa h tio, novo jornal que
v e m assistir a e s s a s c o m e d i a s c ô m i c o -burles-
cas que se p a s s a m antes do a p p a r e c i m e n t o do
novo século, que a m e a ç a surgir na penumbra
dos vastos horisontes do futuro.
O p r o g r a m m a d 7 ) Patrão será sempre
dictado pela conducta do caixeiro ;, isto é lógi-
co e natural e outro n ã o pode ser o seu pro-
cedimento. ,
N o emtaitto, «O P a t r ã o » t a m b é m se cs
forçará pela patria, pela liberdade, pela repu
blica, pelo Rio G r a n d e do Norte, pelo municí-
pio de N a t a l , pelo commercio, pela lavoura«
pelo povo, pela moral publica, pelos o p p n m l "
dos e pelos fracos, pela instrucçáo e pela luz.
pela v e r d a d e e pela justiça, pela restauração
da lei e d o direito.
Isto posto, () Patrão saúda o respeitável pu-
blico e a imprensa e pede p e r m i s s ã o para
c u p a r um logarzinho na brilhante galeria do
jornalismo brazileiro".
N o 2" numero a p p a r c c e S e b a s t i ã o Rodri-
gues como gerente, titulo a que addiciona de-
pois o de edictor ; e do n v 29 em diante substi-
tuem-se a s p a l a v r a s relativas A r e d a c ç ã o pelas
seguintes : O JORNAI. MAIS u n o NO K S T A D O .
Sei, entretanto, por d e c l a r a ç ã o inserta no
n 9 2 i , de 3 de S e t e m b r o de 1893, que M a n u -
el J o s é N u n e s C a v a l c a n t e foi um de seus reda-
ctores até o dia I o de J u l h o desse anno.
Politicc e f a z e n d o ao g o v e r n o do D r . P e -
dro Velho a mais decidida opposição, dizia ter
por m i s s ã o especial no jornalismo do E s t a d o
enfrentar «O Caixeiro» e dar-lhe caça. P o r
isto, d e s a p p a r e c e n d o este, julgou O Patrão
cumprida sua m i s s ã o e a 20 de Maio de 1894
publicou seu ultimo n u m e r o — 5 0 e, retirando
•se da arena, enviou um saudosíssimo adeus
aos seus numerosíssimos leitores.
E r a impresso na typ. d V ) Xcr/ista.

107- O P, IS TO A'- 1 S 0 3 .

Periódica evange/ico e noticioso, logo a b a i -


xo d o nome de seu principal r e d a c t o r - p r o f e s s o r
Joaquim L o u r i v a l S o a r e s da C a m a r a , trazia
como l e m m a a s seguintes p a l a v r a s de S . J o ã o ;
" E x a m i n a i a s E s c r i p t u r a s . . . E l i a s m e s m a s são
ns
que d ã o testemunho de mim — Y . 3 0 " .
E r a impresso na Typ. Central, publicava
Se
tres v e z e s por mez e distribuiu seu 1 9 nu-
mero no dia 1 (? de Maio, com o seguinte pro-
g r a m ma :
" V e r d a d e i r a m e n t e apostolos de uma cren-
W que traduz p e r f e i t a m e n t e a linguagem pura
do christianismo, cujas doutrinas foram pre-
g a d a s p a r a a f a s t a r do povo inerte o p h a n t a s -
m a hediondo da superstição, robustecida pelas
t r e v a s da ignorancia, nos propomos com os
nossos minguados conhecimentos banil a do
espirito da humanidade, educando-a na obra
sumptuosa da R e d è m p ç ã o ,
E ' assim que d a m o s hoje á luz da publici-
d a d e — " O P a s t o r , " que, d e s p r e s a n d o a s dis-
cussões politicas e diálogos pessoaes, só tem
em vistas evangelizar o povo norte-rio-gran-
dense, mostrando-lhe a s v e r d a d e s eternas
por meio d a s S a g r a d a s L e t t r a s .
E ' v e r d a d e que o nome que escolhemos
p a r a o nosso periodico exige conhecimentos
mais elevados do que realmente temos ; m a s
a idéa que espontaneamente se manifestou em
nosso espirito n ã o admittia outro que expri-
misse positivamente o fim grandioso que a isso
nos demoveu.
P r e p a r a m o s simplesmente o terreno para
nelle ser plantada a boa semente, porque as-
sim o pastor espiritual não custará a edificai"
em N a t a l uma E g r e j a puramente E v a n g é l i c a .
C o n t a n d o com a benevolencia de nossos
leitores, e s p e r a m o s a sua c o a d j u v a ç ã o na ar
dua, porém gloriosa tarefa que ora encetamos,
porque sem o seu valioso auxilio n ã o podere-
mos continuar a nossa publicação, o que será
de todo contristador p a r a esta terra, onde o
p r o g r e s s o educacional e civilizador caminha a
p a s s o s largos.
N ã o recuaremos á s discussões religiosas-
que se nos apresentem e nem sahiremos ja-
mais do plano traçado pela rectidão de nossos
sentimentos.
0 desanimo não entorpecerá as nossas
forças.
A lucta è grande e sublime ! E as,dificul-
dades não nos farão esmorecer, porque temos
fé na possibilidade de v e n c e l - a s " .
Do decimo numero em diante, além da-
quellas palavras que servem de lemma, veem
se
mais as seguintes, de um e outro lado do
titulo do jornal: " E u sou o Caminho e a Ver-
dade e a V i d a : ninguém vem ao PAE senão por
Mim" J o ã o , 14 ; 6 ; " O que crê em mim tem
a
vida eterna- J o ã o 6 ; 47. O que vem a mim
nr,
° no lançarei f ó r a — J . 6; 37".
, O Pastor publicou apenas 18 números, sa-
'undo o ultimo no dia 31 de Outubro.

1 0 8 - DIÁRIO DO FATAL—1893.

A 6 de Maio de 1892 installou-se nesta


c
apital uma sociedade anonyraa com a deno-
minação de " C o m p a n h i a L i b r o - T y p o g r a p h i c a
•^atalense".
1 m de seus intuitos, talvez o principal,
c
p i a fundação nesta cidade de uma folha dia-
1,1
em condições de viabilidade e de poder me-
U)r
do (]ue os periodicos existentes satisfazer
' t s exigências do publico, cada dia mais accen-
ll:i
das ; c assim, montadas as officinas, das
c
luaes ficava fazendo parte o prelo da ex-
a c t a Gazeta do Natal, e providas de abun-
, ' ^ t e material tvpographico, no dia i c) de
1111,10
de 1893 sahiu á luz da publicidade
-152

o numero do Diário do Natal, propri-


e d a d e d a m e s m a c o m p a n h i a , publicando em
sua c o l u m n a de h o n r a o seguinte b e m ela-
b o r a d o p r o g r a m m a , que, e m b o r a um pouco
e x t e n s a , c o m o h o m e n a g e m a nossa primeira
folha diaria e de a c c ô r d o com o plano que
adoptei nesta e d i ç ã o , peço licença aos leitores
para transcrever integralmente :

-LABOREMOS

T u d o pelo trabalho, cm suas v a r i a d a s e


múltiplas m a n i f e s t a ç õ e s , condição por excel-
lencia do h o m e m na lucta pela existencia.
Le monde marche, f hi/manitr s avance, eis
a f ó r m u l a da vida hodierna, que, pelo traba-/
lho, exclue a possibilidade de estacionar.
^ T u d o q u a n t o é h u m a n a , diz um g r a n d e
p e n s a d o r da actualidade, si não progride, re-
trocede.
Q u a n d o s o b r e v e m os obstáculos, cumpt' e
c a m i n h a r a t r a v é z delles, p r o c u r a n d o venfcel-os ,
em busca de a l c a n ç a r o bem c o m m u m , que é
o ideal da felicidade d o s p o v o s .

A f u n d a ç ã o do uma imprensa diaria nesta


capital era ha muito t e m p o o d e s e j o ardente,
a a s p i r a ç ã o nobilitante e g e n e r o s a de alguns
espíritos e m p r e h e n d e d o r e s , que nunca recua-
r a m d e a n t e de difficuldade a l g u m a , certos dc
n ã o f a l t a r e m meios onde a e n e r g i a da vontade,
alliada á diligencia d o esforço, muito contribui
p a r a a f u n e ç ã o a c t i v a c civilizadora d o século-
Encontraremos caminho, ou fal-o-hemos,
diziam ellcs, como (outros já haviam dito, lem-
í ) r a n d o - s e dc que os obstáculos, uma vez con-
quistados, c o m p e n s a m os sacrifícios, servindo
ao m e s m o tempo de e x e m p l o e de estimulo.
Nesta disposição natural para o bem, nes-
ta idealização optimista, própria da imagina-
ção penetrante e sonhadora dos que se d e l i c i -
am com o antegôso de um prazer indefinível,
que sabe vencer todas as resistências natu-
raes, oppostas a um emprehendimento desta
natureza, mourejaram e mourejaram sempre,
até que tornaram uma realidade a idéa perse-
verante que os dominava, na qual nunca dei-
x a i a m de crer, a despeito do pessimismo e des-
animo dos partidários da descrença, fundados
na apathia e indifferença de nosso meio social.
Muito entrave, muito embuste, m u i t a
guerra á surdina tiveram que vencer, sem des-
canço e sem trégua.
O p e r á r i o s do progresso, infatigáveis mo-
tores da concepção grandiosa, que convicta e
incessantemente impulsionavam com a fé dos
crentes e a convicção inabalavel dos homens
do trabalho, elles c o n f i a v a m no successo pro-
videncial dos seus esforços, certos cie que n ã o
haviam de n a u f r a g a r ; e, quando assim aconte-
cesse. os mal logros seriam as cotumnas do bom
êxito, segundo o provérbio do paiz de G a l l e s .
Devido • a esta tenacidade inquebrantá-
vel, surge hoje á luz da publicidade o J)iario
do Xatal. que até ha pouco n ã o p a s s a v a da
forma fabulosa de uma chimera, que se impu-
nha ? o s incrédulos c o m o problema insolúvel,
e
n i tudo similhante ao ovo de Colombo.
P u e m leu o prospecto, que ha tempos s e
fez publicar, desta folha deve ter visto que n ã o
vem filiada a partido algum, para ter a preci-
za isenção de espirito e independencia na dis-
c u s s ã o d a s questões de que se houver de oc-
cupar.
Dir-se-ha um p r o g r a m m a ?
N ã o a f f i r m a m o s nem n e g a m o s esta inter-
rogativa, porque, a falar a verdade, o Diário
tio Natal tem e não tem p r o g r a m m a .
N ã o <'• de hoje que somos infensos a tudo
o que se pareça com isso, a pezar de conhe-
cermos muitas vezes sua utilidade e conveni-
ência.
M a s ò que quasi sempre o p r o g r a m m a se
desvia do plano traçado, d a n d o completamen-
te em falso na directriz preestabelecida, res-
valando no terreno e s c a b r o s o d a s conveniênci-
a s pessoaes, que não permittem a e l e v a ç ã o de
vistas nem de idéas, impossibilitando, por-
tanto, o effeito desejado. '
N a politica, por exemplo, ha muito qile.os
partidos perderam a consciência de suas aspira
fões e os seus programmas sito meras formali-
dades.
C o m o bem se exprimiu um vidente do a c -
tual predomínio da d e m o c r a c i a no paiz, elles
não p a s s a m de c o m p a n h i a s de seguro, onde
cada qual alista-se menos por convicção do que'
pela e s p e r a n ç a de garantir seus interesses pes-
soaes.

C o m o quer que seja, si por p r o g r a m m a


deve entender o desígnio, resoluto e sincero,
de contribuir efficazmente para o adiantamen-
to material e moral de um povo, fazendo-se o
possível pela p r o p a g a ç ã o dos bons princípios e
idéas, não hesitamos em declarar, desde já,
que o nosso jornal tem p r o g r a m m a , claramen-
te e x p r e s s a d o no referido pros pecto, de tra-
tar de todo assumpto que mediata ou imniediata-
Hicntc interessar possa ao bem estar do estado e á
sorte da republica.
Si, porém, em vez disto, p r o g r a m m a quer
dizer- c o m p r o m i s s o irretractavel.defeza opiniá-
tica de princípios e n o n e o s ou f a l s o s que se
pretendam a todo <> custo sustentar e defen-
der, n ã o temos duvida t a m b é m em declarar,
com a m e s m a c o r r e c ç ã o e iram ueza, que o
Diário do Natal não tem p r o g r a m m a .
O direito, a lei, a politica, o commercio, a"
industri a, as artes, tudo, omfim, que se deriva
das f a c u l d a d e s i m a g i n a t i v a s e c r e a d o r a s do bo-
lhem não é mais do que o produeto cultural da
humanidade na e l a b o r a ç ã o prolífica de séculos
de estudo e de investigações scientificas.
F o r m a n d o esse harmonioso conjuncto a
reunião, por assim dizer, de p a r t e s molecula-
res, vinculadas, pela força de cohesão, ao pre-
mente e ao futuro dos povos, n ã o podem dei-
t a r de figurar c o m o outras tantas a g g r e g a ç õ e s
s
° c i a e s , sujeitas a modificações e aperfeiçoa-
mentos ulteriores, que, em todo caso, d e v e m
s
er operados de a c c ò r d o com a e v o l u ç ã o do
f s
' pirito humano, com a força das circumstan-
eias o sob a influencia lenta e imperiosa do
tempo.
S ã o ellas que constituem a s d i f i c u l d a d e s
I
-150

d o p r o b l e m a d a vida publica, rtquellas que,


no dizer de publicista c o n t e m p o r â n e o , assime-
l h a m - s e peia maior parte á s moléstias inter-
nas, sobre cuja n a t u r e z a os m é d i c o s discutem
d u r a n t e todo o t e m p o e m q u e o p a c i e n t e está
em t r a t a m e n t o .
Disto resulta que, c o n f o r m e a o b s e r v a ç ã o
do publicista citado, a v e r d a d e s ó se d e s c o b r e
depois de feita a autopsia.

N o s s o p r o g r a m m a , portanto, está subor-


d i n a d o á q u e s t ã o de princípios, e s t u d a d o s luz
d a o p p o r t u n i d a d e e da technica em todos o*
pontos que o c i r c u m s c r e v e m .
O Piaria do Natal, c o m o folha quotidi-
a n a , politica, m a s n ã o p a r t i d a r i a , c o n s a g r a d a
e s p e c i a l m e n t e a o s interesses do c o m m e r c i o e
da industria, v e m , sem c o n t e s t a ç ã o , preenchei'
u m a g r a n d e e i m p o r t a n t e lacuna na imprensa
do E s t a d o , que, em v e r d a d e , n ã o s e n d o da*
m a i s a t r a z a d a s , d e i x a c o m t u d o muito a desejai''
C o n t a , é certo, n ã o m e n o s de seis jor-
naes, v a l e n t e s c a m p e õ e s , distinetos n o e m p r e *
g o da dialéctica e d o e s t y l o , m a s todos incoiri'
pletos c o m o f a c t o r e s da o p i n i ã o ; e, portanto-
i n s u f i c i e n t e s p a r a p r e e n c h e r e m os fins da im."
prensa diária, visto que n ã o p a s s a m de pub' 1 *
c,a ções pe ri od ica s.
Todos, a l é m disso, c o m o j o r n a e s de p<'1(.
tido, s ã o muitas v e z e s s u s p e i t o s ; suas op 1 '
niões, t r a z e n d o de o r d i n á r i o um c u n h o sectá-
rio e todo p e s s o a l , nem s e m p r e inspiram a n e '
c e s s a r i a c o n f i a n ç a a o publico, á f a l t a de ' l T r
p a r c i a l i d a d e que a s s e g u r e a todo t e m p o o de*"
prendimento moral, c conseguintemente a jus-
teza de seus conceitos.
Falando, como é natural, mais ás paixões
do que á razão, a imprensa partidaria está su-
jeita a sacrificar muitas vezes os princípios
milludiveis da verdade e da justiça ao interesse
de melhor servir á causa que defende.
N a excitação que a domina, no ardor com
(
pie discute, produzindo, em r e g r a , a vchc-
merçcia de seus ataques, está a causa do apai
x
° n a m e n t o de sua linguagem e da intransi-
gência de suas idéas, cujo valor varia, entre-
tanto, conforme a qualidade dos diversos m a -
tizes, seguros ou desmaiantes, que constitu-
< ni
i entre nós, as divergências politicas actu-
coloridas ao gosto e ao p e n s a m e n t o de
cada Chefe numa g r a d a ç ã o quasi imperccpti-
Vc
' de idéas, e r m a s de princípios, numa de-
s
5 ' s t e m a t i z a ç ã o completa e absoluta.
Tudo isto, porque nota-se ha muito tem-
a ausência absoluta de partidos organizá-
° s > a f a l t a de e d u c a ç ã o politica no B r a z i l ,
antas vezes reveladas por f a c t o s extraordina-
1l0s
, que dènunciam o empirismo dos //ossos es-
lf
d'sias, oií antes a sua /a/ta de orientação na
'•crnicia dos negocias do paiz.
. E m c o m p e n s a ç ã o , porém, temos rivalida-
c s
( ' e odios, que dia a dia mais se accentuam
•Se acendem de uma maneira desconsoladora,
av
' i n d o funda a scisão que a m e a ç a dissolver
1 s
° e i e d á d e brazileira !

, exposto resulta a conveniência de uma


' ) ( iincação em os n'ossos hábitos, a necessi--
d a d c dc .uma r e f o r m a , cujos cffeitos perdurem
e s a l u t a r m e n t e se e s t e n d a m a l é m de um bene-
ficio m o m e n t â n e o e fugitivo.
P a r a isso é p r e c i s o que l a b o r e m o s , t o -
m a n d o c o m o divisa este moto, que s i g n i f i c a —
p u g n a r pela o r d e m , pelo trabalho, pela justiça
e pela liberdade a b e m dos g r a n d e s interesses
d a republica no lirazil e e s p e c i a l m e n t e da
p r o s p e r i d a d e do R i o G r a n d e do N o r t e " .

O /Vario do Natal era b e m escripto, dc


f e i ç ã o m o d e r n a e i m p r e s s ã o nítida; m a s resen-
tia-se de u m a g r a n d e f a l t a : a p e z a r de d e c l a r a r
o art. 39 dos E s t a t u t o s da C o m p a n h i a que a re-
d a c ç ã o do J o r n a l seria c o m p o s t a de um reda-
c t o r - c h e f e , a q u e m c o m p e t i a a sua d i r e c ç ã o
mental e politica, pela qual seria o único res-
p o n s á v e l , e de tres r e d a c t o r e s a j u d a n t e s ; ape-
z a r de s a b e r - s e que a s f n n e ç õ e s daquelle fica
v a m e s p e c i a l m e n t e a c a r g o d o dr. Manuel
P o r p h i r i o de Oliveira S a n t o s , e n t ã o juiz s e c -
cional do E s t a d o ; o Diário a p r e s e n t a v a - s e ao
publico a n o n y m a m e n t e , isto é, ninguém as-
s u m i a perante ellc a s r e s p o n s a b i l i d a d e s dc
sua r e d a c ç ã o .
A Republica, a o noticiar seu appareci-
mento, fel-o f r i a m e n t e , n o t a n d o d e s d e logo
e s s a f a l t a , e e m b r e v e teve de enfrental-o, de-
f e n d e n d o o g o v e r n o d o E s t a d o de a c e u s a ç õ e s
que elle f a z i a - l h e .
T o d a v i a , a m p a r a d o por u m a s o c i e d a d e
f u n d a d a com t ã o bons auspícios,, era do e s p e -
rar t i v e s s e u m a existencia l o n g a e cheia d«
benefícios á terra de seu berço. Infélizmente,
porém, a " L i b r o - T y p o g r a p h i c a " cedo entrou
em liquidação e, retirando-se o dr. Oliveira
S a n t o s da direcção do Diário no dia 3 de S e -
tembro, conforme declarou no n° 53, d e s s a
data, foi esse o ultimo numero que publicou ;
de sorte que o esperançoso o r g a m da im-
prensa natalense viveu apenas dous mezes e
dous dias.
E m todo caso, n ã o se lhe pode n e g a r a
gloria de ter sido a primeira folha diaria deste
Estado.
T i n h a seu escriptorio e r e d a c ç ã o ;i rua
" E r e i Miguelinho" (hoje " C o r o n e l P e d r o Soa-
res") n 9

100—O GARO TO -1893.

N ã o vi o I o numero deste periódico. Sei,


entretanto, por informações de outros jornaes,
que sahiu á luz da publicidade no dia 31 de
Julho e que era critico, noticioso, humorístico
c
caricato, apresentando e s t a m p a s a b e r t a s em
madeira.

1 10-_<9 A THLETA—1803.

Dizia-se orgam do Grémio Littcrario Na-


''dctisc, f u n d a d o nesta cidade em dias do mez
c
'e A g o s t o (77) e publicou seu 1 ° numero no

(77) Esse grémio compunha-sa de estudantes do Atheneu e


s
„. '. * "i« directoria : Juvenal Iiftmartine—presidente. José Ber-
_,ç Filho -vice presidente, José Hibeiro e Luiz P e l i n c a — I o e
ecre
0r ? ' a r i o s , Aftoiiso Macedo e José Rodiigues—orador e vice-
n i J 1 s antos Machado thesouroiro, e Sebastião Rodrigues—
100;

dia 7 dc S e t e m b r o , c o m o seguinte p r o -
gramma :
" O a p p a r e c i m e n t o de um jornal, hoje, é
um f a c t o naturalíssimo na v i d a d a s s o c i e d a d e s
modernas.
S u r g e elle, á s vezes, á tona d a publici
d a d e , o r a p a r a se pôr a s e r v i ç o de u m a c a u s a
j u s t a , h ü m a n i t a r i a ou altruistica, patriótica ou
nacional, ora p a r a s a t i s f a z e r a s a s p i r a ç õ e s ele-
v a d a s , a r t í s t i c a s ou litterarias de u m a c l a s s e
social. E m qualquer d a s h v p o t h e s e s o seu a p -
p a r e c i m e n t o é s e m p r e d' t e r m i n a d o pela força
i m p e r i o s a de u m a n e c e s s i d a d e h u m a n a ; a sua
e x i s t e n c i a é j u s t i f i c a d a pela l e g i t i m i d a d e do
ideal que o anima ; a sua m i s s ã o é s e m p r e
g r a n d i o s a e util.
E foi a a c ç ã o e f f i c a z d e s s a lei sociologica,
r e g u l a d o r a e e x p l i c a t i v a d a vida do j o r n a l i s m o
em n o s s a era, que presidiu a c r e a ç ã o d ' 0 ,'j
ATIILETA.
I n q u e s t i o n a v e l m e n t e , a m o c i d a d e estudio-
za n o r t e - r i o - g r a n d e n s e p r e c i s a v a de -um o r g a m
d c p u b l i c i d a d e , e m que p o d e s s e d a r livre
e x p a n s ã o a o s seus p e n s a m e n t o s , á s s u a s emo-
ções, e c o n c o r r e r a o m e s m o t e m p o c o m os seus
debeis e s f o r ç o s de principiantes p a r a accen- ;
tuar a n e c e s s i d a d e da f o r m a ç ã o de u m a litte-
r a t u r a nesta c i r c u m s c r i p ç ã o politica d a p á -
tria brazileira,' e, c o n v i c t a d a f o r ç a d o ^rnn*
d e principio d a a s s o c i a ç ã o , a m o c i d a d e r i o -
g r a n d e n s e f o r m o u o GRÊMIO LTTTERARK» NA-
TALEXSE c d e c i d i u a c r e a ç ã o d ' 0 ATIH.ETA.
• c o m o o m e i o e f f i c a z d e d a r a l e n t o á s s u a s as- ,
pirações.
M a s n/lo foi somente esta causa a* actu-
ante em nosso espirito p a r a a publicação d ' 0
ATHLETA, m a s esta outra poderosíssima : a
verdadeira intuição que nós, os /jovens rio-
grandenses, j á t e m e s dos destinos do h o m e m
no plano da vida social.
E x p l i q u e m o s o nosso pensamento.
C o n s c i o s de que a f u n e ç ã o c o m p l e x a do
homem na vida social se concretiza nos seus
deveres p a r â comsigo, p a r a com a familia e
para com a patria, e certos de que nós, que es-
ta-nos ainda em pleno alvorecer da vida, só
podemos n e s desobrigar desse c o m p r o m i s s o
v
ital educando o espirito e cultivando a in-
telligencia, deliberámos o a p p a r e c i m e n t o d ' 0
ATHLETA, c o m o um meio de instrucção, c o m o
uma eschola de habilitação para a entrada no
Proscênio da lueta pela vida.
E i s , pois, explicada a causa do appareci-
mento d ' ( ) ATHLETA e o fim de sua existencia.
M a s , O ATHLETA s a e á luz d a p u b l i c i d a d e
a sete de S e t e m b r o , esta data s o l e m n e q u e as-
s
' g n a l a a independencia politica de nossa pa-
tri
a . T e r á sido um f a c t o casual ? N ã o . O
ATHLETA, d e s p o n t a n d o nos horisontes da im-
prensa p o t y g u a r a o clarão matutino de .7 de
Setembro, vem altivo e resoluto, em nome da
mocidade estudiosa do R i o G r a n d e septentrio-
nal
< saudar a — f e d e r a l patria brazileira, por
mais um a n n i v e r s a i i o de sua e m a n c i p a ç ã o
Politica".

O Athleta publicava-se duas vezes por


mez
e a principio era redigido por J o s é Bcr-
162;

n a r d o Filho, R o d r i g u e s L e i t e e R i b e i r o P a i v a
e d e c l a r a v a que não a c c e i t a v a c o l l a b o r a ç ã o
de e s p e c i e a l g u m a .
P o r fim, supprimiu do frontispício os no-
m e s de seus r e d a c t o r e s e d e c l a r a v a que só ac-
c e i t a v a c o l l a b o r a ç ã o d o s socios do g r é m i o .
E r a i m p r e s s o na t y p o g r a p h i a do " R i o
G r a n d e d o N o r t e " e teve seu escriptorio á rua
" S . T h o m é " , n ° 3, e " 7 de S e t e m b r o " , n(,) 1 8 .

111—O ESTADO—1894—95.

Periodico politico c noticioso, p u b l i c a v a - s e


u m a v e z por s e m a n a e distribuiu seu 1 9 nume-
r o no dia 7 d e O u t u b r o de 1894, com o se
guinte a r t i g o de a p r e s e n t a ç ã o :
" O a p p a r e c i m e n t o de um jornal nunca é
um f a c t o de s o m e n o s i m p o r t a n c i a . S e m p r e se
s u p p õ e e m qualquer novo o r g a m d a i m p r e n s a
o d e f e n s o r de u m a idéa, o p o r t a - v o z de uma
c o r p o r a ç ã o , o c o m b a t e n t e que v e m a p a r e l h a -
d o p a r a a lucta, que traz a c o n f i a n ç a na justiça
d a c a u s a que a d v o g a , a c c r a g e m d a s idcas
que p r o p a g a , a c o n v i c ç ã o d a s q u e s t õ e s que
defende.
A g i t a d o r ou polemista, o r g a m de partido
ou folha livre, q u e r tenha em vista a g i t a r , re-
volver, evolucionar a s o c i e d a d e c o m a doutri-
n a ç ã o de i d é a s n o v a s , q u e r a d v o g u e o conser-
v a t o r i s m o , o j o r n a l p r e c i s a , p a r a se impor 4
c o n f i a n ç a e a c c e i t a ç ã o publicas, p a r a ter cota-
ç ã o no m e r c a d o da§ f o r ç a s s o c i a e s , mostrar
d e s d e logo, o critério d o s seus conceitos, n<''°
fugir ao meio em que vive, nem recuar nas
questões em que se achar envolvido.
Obedecemdo a essa corrente de idèas,
mfluenciado por esses princípios, surge hc;e
® 0 E s t a d o » , que não traz a pretençAo de sa-
lientar-se na imprensa local, porém é um pos-
to de combate, justificado pelo momento histo-
rico que atravessamos.
Neste período de anarchia mental, de in-
stabilidade institucional em que se debate a so-
ciedade brazileira, vae-se formando uma cor
'"ente de opinião que não crê muito na efficacia
do q u e existe, porém tem fé e esperança no
futuro.
Visionários, utopistas, os crentes desta
If
Jéa sò teem presentemente um ponto de a~
l>oio;— a m a m a Republica e veem que a idéa
as
ylou-se, fructifica no coração da mocida-
de brazileira e no pensamento dos que con-
s
tituem a cerebração nacional.
A f f i r m a m o s um facto que não pode ser
c
°ntestado.
Ora, neste periodo de f o r m a ç ã o , portanto,
(le
mutabilidade, de transformação, n;lo se
Pode confiar cegamente no que existe, não se
cl
eve alimentar o culto do passado, desde que
udo, leis, homens, instituições, idéas, s ã o ex-
periências que acertam ou desacertam, que
nr
'o se podem acceitar como indestructiveis
Sc
m a sancção do tempo.
O periodo revolucionário que a t r a v e s s á -
que alguém já chamou o baptismo de san-
sUe da republica e illustre publicista qualificou
°m acerto como a lucta fatal, necessaria, ine-
-104

vitavel entre a s v e l h a s e a s n o v a s instituições,


entre a m o n a r c h i a e a i e p u b l i c a , deixou patente
u m a cousa, salientou bem um principio, que'
pode j á p a s s a r c o m o um a x i o m a político-so-
c i a l : — a vitalidade e c o h e s ã o d a nacionalida-
de brazileira, o seu a m o r á R e p u b l i c a .
«O E s t a d o » n ã o v e m m a i s a o t e m p o da
revolta, q u e teria e n t ã o c o n d e m n a d o , não vem
f a z e r r e c r i m i n a ç õ e s a p à r t i d a r i o s , sem duvida
convictos, nem c o n d e m n a , a n t e s a c c e i t a , o c o n -
graçamento.que apagará antigas divergências;
p o r é m e s p o s a a s i d é a s que delia decorreram
e a d v o g a a s c o n s e q u ê n c i a s politicas q u e dima-
nam d o s a c t o s de e n e r g i a , de c o r a g e m , de
a b n e g a ç ã o , de patriotismo, que e l e v a r a m o
V i c e - P r e s i d e n t e da R e p u b l i c a á culminância
dos g r a n d e s e s t a d i s t a s a m e r i c a n o s .
C o m elle, c o m o illustre e benemerit^
M a r e c h a l F l o r i a n o P e i x o t o , " O E s t a d o " quer
c o l l a b o r a r na c o n s o l i d a ç ã o d a s instituições re-
p u b l i c a n a s , p o r q u e e s t a m o s certos d e que, mes-
m o p a s s a d o o m o m e n t o p r o x i m o em que o
Vice-Presidente da Republica vae entregar "
g o v e r n o d a n a ç ã o a o seu substituto, a sua a c -
ç ã o b e n e f i c a , o prestigio de sua individualida-'
de, o seu n o m e p e r d u r a r ã o e t e r n a m e n t e c.om(>
a p e r s o n i f i c a ç ã o da R e p u b l i c a B r a z i l e i r a .
A s g r a n d e s idéas, a s g r a n d e s conquistas»
os g r a n d e s feitos d a h u m a n i d a d e , a v i d a das
n a ç õ e s , teem d e s e n v o l v i m e n t o proprio, teerfl
c a u s a s n a t u r a e s que os d e t e r m i n a m , porém
persr>nificam-se s e m p r e n u m a individup lidade.
W a s h i n g t o n p e r s o n i f i c a a g r a n d e republi^ 3
n o r t e - a m e r i c a n a , é á s o m b r a d o seu nome.
p r e s t a n d o culto á sua individualidade, que os
presidentes daquella g r a n d e n a ç ã o a s s u m e m
a r e s p o n s a b i l i d a d e do g o v e r n o .
N ã o é por m e r a c o r t e z a n i a , o b e d e c e a
um f a c t o historico, que o M a r e c h a l F l o r i a n o
foi s a g r a d o o W a s h i n g t o n brazileiro.
F o i elle q u e m implantou na instituição re-
publicana a a f f i r m a ç ã o de u m a lei, que perdu-
rará e f r u c t i f i c a r á : — a f o r ç a c o m o a c ç ã o bene-
fica na d e f e z a d o s princípios b á s i c o s d e q u a l -
quer instituição, de qualquer s o c i e d a d e .
" O E s t a d o " é um p a r t i d a r i o d a f o r ç a ,
desde c,ue a c c e i t a o principio d a lucta, c o n h e c e
° estado de a n a r c h i a - p o l i t i c o - m e n t a l que a t r a -
v e s s a m o s , s a b e que a f o r ç a é o motor de t o -
das a s c o n q u i s t a s , d e s d e a c o n q u i s t a d a liber-
dade até a a f f i r m a ç ã o de um direito.
Quer isto dizer que " O E s t a d o " con-
d e m n a a mentira, r e v o l t a - s e contra a - h y p o -
erisia, quer a v e r d a d e e m tudo : n a s instituí-
r e s , na politica, nos c o s t u m e s .
E ' por isto que " O E s t a d o " , e m r e l a ç ã o
a
° s f a c t o s e politica locaes, não p ô d e d e i x a r
de revelar se f r a n c a e s i n c e r a m e n t e hostil a o
actual g o v e r n o que dirige o E s t a d o .
S e m d e s c e r a a p r e c i a ç õ e s , por ora m-
eabidas, " ( ) E s t a d o " hostiliza o g o v e r n o local
] el
j a sua falta de s i n c e r i d a d e n a s relações m-
dls
P e n s a v e i s c o m o G o v e r n o d a U n i ã o , pela
mentira eleitoral q u e tem p o s t o em p r a t i c a ,
Pelo d e s a s o c o m q u e tem dirigido o E s t a d o ,
l
mpulsionando-o p a r a a ruina, pelo a b a s t a r d a -
mento d a s instituições r e p u b l i c a n a s .
N ã o lhe d a r e m o s t r e g o a s , si o nfio v i r -
mos mudar dc rumo. M a s o nosso ataque es-
tará s e m p r e na altura em que nos h a v e m o s d e
manter e isto quer dizer que, s e j a m q u a e s fo-
rem a? luctas em que nos e m p e n h a r m o s , a nos-
sa linguagem, o nosso modo de tratar o ad-
versário será s e m p r e o do respeito, da decen-
cia de linguagem e de idéas.
F i q u e isto a s s e n t a d o e fiquem a s idéas
que e x t e r n a m o s conhecidas c o m o a b a s e de
nossa orientação na vida jornalística que va-
mos encetar.
C u m p r i m e n t a m o s a imprensa local com
o a c a t a m e n t o e o respeito que merecem os
illustres confrades que a r e p r e s e n t a m . "

O Estado imprimia-se na t y p . da "Libro-


T y p o g r a p h i c a N a t a l e n s e " e era bem escripto;
m a s resentia-se da m e s m a falta do Diário do
Natal : n ã o tinha redactores ostensivos, si
bem que particularmente assumisse a respon-
sabilidade da r e d a c ç ã o o dr. Manuel Dantas.
N o n" 26, de 3 1 de M a r ç o de i$95- encon-
tra-se a seguinte l o c a l :

" T e r m i n a hoje o contracto que fizemos


com á Companhia Libro* Typographica p ; U ' : l
a publicação de nosso periodico, e c u m p r e - n o s
salientar a bòa vontade que s e m p r e encontra-
mos oa parte da directoria d a Libro em todo^
os negocios concernentes á publicação d
Estado.
O f a v o r publico que incrementou dc rn°d 0
satisfatório o nosso periodico p e r m i t t e - m ^
dar-lhe maior desenvolvimento, servindo m e '
lhor o publico, que nos acolheu com sua aus-
piciosa generosidade.
E ' assim que resolvemos a u g m e n t a r o
formato de nosso jornal e amiudar sua publi-
c a ç ã o , que p a s s a r á a ser feita nas officinas d a
" E m p r e z a Graphica".
T a l v e z t e n h a m o s de ter uma pequena i n -
terrupção, si não c h e g a r e m logo u m a s p e ç a s
que faltam ao prelo da " E m p r e z a G r a p h i c a " ,
que vieram q u e b r a d a s e cuja substituição j á foi
pedida p~ra L o n d r e s .
E s p e r a m o s continuar a merecer do pu-
blico norte-rio-grandense e da imprensa do
paiz o m e s m o acolhimento lisonjeiro que até
agora".
O Estado, porém, suspendeu de uma vez
a publicação e foi esse seu ultimo numero.

1 1 2 — O/l S/S—1«04- 1004.

N o dia o d e S e t e m b r o de 1894, por i n i -


ciativa de B e n v e n u t o de Oliveira, fundou-se
nesta cidade um grêmio litterario sob o suges-
tivo nome de LK MONDE MARCHE, a conheci-
da phrase de E m i l i o Peletan.
Installado o grêmio, composto d e e s t u -
dantes do Atheneu, logo cogitou seu fundador
da creação de um periodico que r e p r e s e n t a s s e
suas idéas e defendesse seus interesses pe-
rante o publico.; e dahi o a p p a r e c i m e n t o do
O Asis, que, dizendo-se periodico litterario e
n°ticioso e orgam do L E M O N D E M A R C H E , en-
c
«tou sua p u b l i c a ç ã o no dia 15 de N o v e m b r o
c
°rn o seguinte p r o g r a m m a :
" N a vida d c todos os p o v o s , nos f a s t ó s
de t o d a s a s historias, no p e r c u r s o de todos os
séculos, na continua s u c c e s s ã o d e t o d a s a s
e p o c h a s tem sido s e m p r e nobre e altiva a mis-
s ã o d a i m p r e n s a . I n t r é p i d a p e r c u r s o r a de to-
dos os terr.pos, a i m p r e n s a foi s e m p r e o m a -
nancial p e r e n n e d o n d e d i m a n a a v e r d a d e i r a
luz d a i n s t r u c ç ã o .
Quer c i n g i n d o a coroa do m a r t y r i o , quer
a r r a s t a n d o os p e s a d o s grilhões de mal entendi-
d a p r e p o t e n c i a , ella c a m i n h a s e m p r e altiva e
s o b r a n c e i r a , c ô n s c i a de sua nunca d e s m e n t i d a
viotoria.
C o m p e n e t r a d o s , pois, d a i n e s t i m á v e l uti-
lidade da i m p r e n s a , m a x i m e p a r a nós, s e m p r e
á v i d o s de luz e d e s a b e r , s o l t a m o s hoje á s
a u r a s d a publicidade o Oasis, q u e n a d a mais
s i g n i f i c a d o que o p r o d u c t o de n o s s o a c u r a d o
e s f o r ç o , de n o s s o a m o r ingente pela s a g r a d a
causa da instrucção.
O Oasis, pois, q u e n a d a m a i s é d o que
u m a diminuta parcella, u m a insignificante
f a ú l h a d e s s e g r a n d e m e c h a n i s m o jornalístico
do pâlZ, pà ra nós, v e r d a d e i r a c a r a v a n a a di-
v a g a r em á r i d o s d e s e r t o s , s e r á o aprazível
l o g a r que nos c o n f o r t a e orienta p a r a c h e g a r -
m o s a o t e r m i n o de n o s s a j o r n a d a .
L i t t e r a r i o e noticioso, o Oasis s e r á com*
p l e t a m e n t e alheio á s q u e s t õ e s politicas, sendo
seu o b j e c t i v o principal a instrucção.
T e n d o a v e r d a d e por n o r m a e a instru-
c ç ã o por b ú s s o l a , p a u t a n d o sua l i n g u a g e m
crisol da m a i s r i g o r o s a s i m p l i c i d a d e e mode-
r a ç ã o , não t r a r á o Oasis n e n h u m a innovaç«' 1 0
a nossa litteratura, e, pelo contrario, déauté
da exiguidade de nossos recursos intellectu-
aes, n ã o será elle um mestre, m a s sim um
discípulo ; n ã o a p r e g o a r á idéas novas, m a s
esforçar-se-á pela observancia restricta dos
sãos princípios cia moral, da justiça e da ver-
dade, sem j a m a i s enveredar pela sinuosa e s -
trada d a s paixões ; procurará s e m p r e o c a m i -
nho largo da r a z ã o e do direito e, com os olhos
s
e m p r e fitos no vivificante sol da instrucção,
envidará todos os meios afim de não m a n c h a r
candidas vestes da pudica filha do velho
Guttenberg.
E s p i n h o s i s s i m a é a m i s s ã o que hoje to-
mamos aos hombros ; mas, firmes, como es-
tamos, no fiel cumprimento de nosso pro-
Rramma, e s p e r a m o s sahir victoriosos da lucta
ern que neste momento nos e m p e n h a m o s .
E i s em limitados traços o nosso program*
ina."

E s t e p r o g r a m m a cumpriu-o rigorosamen-
te o Oásis até o fim, o q u e valeu-lhe, vencendo
c
° m a d m i r a v e l intrepidez o indífferentismo de
nosso meio, viver dez annos, durante os quaes
Publicou com a maior pontualidade huas edi
Ções,
Publicava-se quinzenalmente e, durante
esse longo periodo, teve o s y m p a t h i e o jorr.al-
z
mho d i v e r s a s c o m m i s s õ e s redactoras, d a s
(
]tiaes, bem como dos serviços que p r e s t a r a m .
Passarei a dar, por anno, succinta idea :
1 s\U
C o m p o z - s e a c o m m i s s ã o redactora de
B e n v e n u t o de Oliveira, J o s é P r o s p e r o e C a r l o s
L ' E r a i s t r e , a qual publicou, além do numero
inicial, correspondente á ultima quinzena de
N o v e m b r o , os dous correspondentes ao mez de
Dezembro.
1895
T e v e as seguintes com missões r e d a c t o r a s :
i ^ B e n v e n u t o de O l i v e i r a , J o s é P r o s p e r o e Car-
l o s L'Eraistre ; B e n v e n u t o de Oliveira, R o -
drigues L e i t e e C a r l o s L ' E r a i s t r e ; 3 ^ — B e n -
venuto de Oliveira, R o d r i g u e s L e i t e e J o s é
Prospero.
E s s a s com missões publicaram todas a s
edições do anno, até o numero 27, além de
u m a e d i ç ã o especial, a 9 de S e t e m b r o , p a r a
com m e m o r a r a data do primeiro anniversario
do L E MONDE MARCHE.
B e n v e n u t o de Oliveira seguira no dia 8
de A g o s t o p a r a a capital do P a r á , em cuja al-
f a n d e g a exercia as funeções de escripturario ;
e, tendo por este motivo solicitado sua exone-
r a ç ã o da c o m m i s s ã o de r e d a c ç ã o , o G r é m i o ,
em h o m e n a g e m a seu fundador, não só não lhe
concedeu a e x o n e r a ç ã o solicitada, c o m o em
s e s s ã o de 4 approvou a seguinte indicação,
a p r e s e n t a d a por um dos soeios : " O G r é m i o
T.itterario LE MONDE MARCHE, lamentan-
do a incalculável lacuna que a c a b a de abrir
t e m p o r a r i a m e n t e no seu seio