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Passos para Fazer Discípulos: Visão e Seleção


O primeiro artigo desta série, Primeiros Passos na Formação de Discípulos, contou com:
1. Definições - de um discípulo e um discipulador. Isso é fundamental.
2. Múltiplos modelos, não caindo na tirania de pensar que existe um modelo certo.
3. Seleção e química
Este artigo destaca duas áreas adicionais: 1) a visão básica, filosofia, teologia ou pressupostos de
uma visão de fazer discípulos e 2) os processos de seleção. Sem o primeiro, não podemos emitir
um chamado claro de trombeta para fazer discípulos (1Co 14:8). Sem o segundo, podemos
investir profundamente com poucos resultados. A seleção, seja para a Copa do Mundo, o
casamento, uma equipe ou a formação de discípulos, é crucial!
Os artigos futuros, desta série de passos práticos para fazer discípulos, apresentarão:
1. Microgrupos
2. “Podar” sua vida, se preparando para uma frutificação maior
3. Passos para encontrar um mentor / discipulador
4. Discipulado prático – dicas para o dia a dia
Vamos começar examinando com mais cuidado nossos fundamentos - nossa visão ou
pressupostos básicos.

Visão Básica e a Teologia de Fazer Discípulos


Para desenvolver a identidade e o chamado de um discípulo e um discipulador, ajuda ter uma
imagem maior de como a vida inteira se encaixa. Isso pode ser retratado em cinco círculos
concêntricos que expressam a conexão entre o compromisso com Cristo, formação de
discípulos, igrejas saudáveis e o Reino de Deus1:
1. Estar centrado em Cristo (Jo 14:6; Ef 1:18-22; Cl 1:15-20; Hb 1; Ap 1)
2. Ser discípulo de Jesus (Mt 16.24-28; Mc 1:15, 17; 3.13-15; Lc 9:57-62)
3. Ser um discipulador (Mt 28:16-20; Jo 17:4, 6, 18-19)
4. Ser uma igreja saudável. Uma comunidade de discípulos e fazedores de discípulos
resulta naturalmente em igrejas saudáveis (At 2:42-47; Ef 4:11-16) que
demonstram o Reino de Deus.
5. O Reino de Deus (Mt 6:33; Mt 13; Mc 1:15, 17).

Centrado em Cristo. Conectado com Cristo; ajudando os outros a fazer o mesmo. Nada
pode substituir isso. E começa com o nosso tempo devocional. Precisamos nos concentrar em
nos conectar com o coração de Deus e abrir o nosso, tendo um encontro divino. O salmista
nos mostra o caminho. Precisamos evitar cair no erro de ler ou até mesmo estudar as
Escrituras ou um bom livro devocional, sem nos encontrarmos com Jesus (Jo 5:39-40). À
medida que avançamos em nosso dia, continuamos a andar com Deus. Nas famosas palavras
do irmão Lawrence, praticando a presença de Deus. Nesta mesma linha, Bill Gothard fez
duas perguntas clássicas: 2) O que Deus está fazendo na vida da outra pessoa? E 3) Como
posso fazer parceria com Ele?

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Esta é uma visão abrangente útil. Existem outras boas opções. Qualquer visão desse tipo pode ser adaptada,
modificada ou articulada de maneira diferente em cada contexto. Essa visão tem o poder de explicar
simplesmente a conexão entre Cristo, ser um discípulo, ser um fazedor de discípulos, ser uma igreja saudável e
impactar a sociedade. Já que a Aliança Evangélica Mundial (WEA) e suas 130 alianças evangélicas desejam
promover a Década da Formação de Discípulos: 2020-2030, essas conexões precisam ser feitas.

David Kornfield, 2. Passos para Fazer Discípulos – visão e seleção, 25/6/2020


Estar centrado em Cristo leva, naturalmente, a ser um discípulo de Jesus. Isso se expressa
holisticamente, tanto, verticalmente com Jesus, quanto, horizontalmente com os outros.
Buscamos crescer intencionalmente, tornando-nos mais parecidos com Jesus. Isso passa,
naturalmente, de estar com Ele (Mc 3:14), para ser enviado por Ele (Mc 3:14). O ser flui para o
fazer, que flui de novo ao ser. Fora uma conexão direta com Jesus, muito pouco nos ajudará a
crescer tanto quanto ter um discipulador ou mentor humano comprometido em nos ajudar a ver
nosso potencial e nossas fraquezas mais profundamente do que poderíamos. Também nos ajuda a
discernir o que Deus está fazendo em nós, através de nós e ao nosso redor.

Ser um discípulo de Jesus leva, naturalmente, a se tornar um discipulador. Ninguém pode


fazer discípulos se não for um discípulo. Professores fazem alunos. Pastores naturalmente
cuidam dos membros da igreja. Mas um professor ou pastor que não é um discípulo
normalmente não fará discípulos. Peter Wagner costumava dizer que todos podemos escolher
se queremos ou não ser discípulos. É uma questão de livre arbítrio e decisão consciente. Ele
então acrescentava: "Mas uma vez que você decidiu ser um discípulo, não tem mais a opção
de não se tornar um discipulador". Você segue Jesus e obedece à sua autoridade suprema ao
convidá-lo a fazer discípulos (Mt 28: 18-20). Você investe de propósito em ajudar
intencionalmente um pequeno grupo de pessoas a se tornarem mais parecidas com Cristo e,
por sua vez, a se tornarem discipuladores.

Ser um discípulo e fazedor de discípulos leva naturalmente a fazer parte de uma cultura de
fazer discípulos, uma igreja saudável. A palavra igreja aparece em apenas dois versículos
nos Evangelhos (Mt 16:18; 18:17). A palavra discípulo ou discípulos aparece 240 vezes. O
foco de Jesus estava claramente na formação de discípulos. Ele sabia que discípulos genuínos
e discipuladores resultariam em igrejas saudáveis tão naturalmente quanto os recém-casados
resultam em famílias. Sem nenhum curso de eclesiologia ou treinamento formal no
seminário, a igreja primitiva nasceu com o perfil de uma igreja tremendamente saudável
(Atos 2:42-47).

Uma igreja saudável expressa e estende o Reino de Deus, onde Jesus Cristo é o Senhor e Rei.
Expressamos o Reino de Deus na simples alegria de ser seu povo (Rm 14:17; 1Pe 2:9).
Estendemos o Reino em nossas vidas, em nossos relacionamentos e na medida que somos sal
e luz no mundo, trazendo outros a Jesus e alimentando discípulos que se reproduzem. A
igreja local deve ser a expressão mais completa do Reino de Deus na terra. Ao mesmo tempo,
o Reino de Deus é maior que a igreja e atinge todas as esferas da sociedade.

Na próxima seção, examinaremos com mais atenção um elemento crítico para discípulos e
discipuladores - como discernimos aqueles em quem Deus nos chamou para investir, por
meio de relacionamentos íntimos e comprometidos.

Processo de Seleção e Critérios a serem Adotados


Muito do sucesso na formação de discípulos ou mentoria destes depende de quão bem
selecionamos aqueles em quem investir nossas vidas. Embora isso se aplique especialmente
ao discipulado no relacionamento com líderes e seguidores, também se aplica ao discipulado
colegiado ou mútuo (descrito no primeiro artigo). Ao pensar em quem convidar para um
relacionamento de discipulado, faríamos bem em aprender com Jesus. Ele levou dezoito
meses para conhecer bem seu povo antes de passar a noite em oração e selecionar doze para
investir mais profundamente. Olhando para o processo de seleção de Jesus, podemos
discernir e aplicar cinco chaves.

David Kornfield, 2. Passos para Fazer Discípulos – visão e seleção, 25/6/2020


A. Encontros divinos: reuniões pessoais em que a vida de uma pessoa é transformada ao
receber sabedoria, direção ou poder de Deus através de outra pessoa. Encontros divinos
repetidos são um sinal de que Deus pode estar unindo pessoas.
B. Padrões divinos: quando a visão, compromisso e ritmo de vida (disponibilidade) de outra
pessoa coincidem com a sua. Quando as pessoas tomam a iniciativa de caminhar com
você, Deus pode estar juntando você a essas pessoas.
C. Altos padrões. Jesus nunca rejeitou ninguém. Ele simplesmente deixou claro os critérios
para segui-lo e, de tempos em tempos, elevava esses padrões. Embora ele realmente
selecionasse os Doze e até os Setenta, também havia um elemento significativo de auto
seleção quando as pessoas se retiravam ou sentiam-se atraídas quando Jesus esclareceu os
critérios para segui-lo. Não tenha medo de altos padrões. É muito melhor ter algumas
pessoas altamente comprometidas andando com você do que um grande grupo morno.
D. Discernir quem responde à nossa voz. Essa pessoa é receptiva, não resistente. Ela faz o
que pedimos e ainda mais. Existe uma conexão espiritual, uma ressonância. Ela leva
nossa perspectiva mais a sério do que as muitas outras vozes ao seu redor. Ver João 10:3-
5, 8; Hebreus 13:17.
E. Oração: direção e confirmação do Pai. Lembre-se da busca de Samuel por um sucessor
de Saul (1 Sm 16)? Deus quer nos dar pessoas como Davi. Se não orarmos e não
ouvirmos de Deus, muitas vezes acabaremos tendo pessoas como Eliabe.

Estes mesmos princípios podem ser adaptados ao outro lado da moeda: a perspectiva de quem
procura um discipulador ou mentor.

Além de usar os processos de seleção de Jesus, você lucrará listando os principais critérios do que
está procurando nesses discípulos. Três critérios clássicos são: ser fiel, disponível e ensinável. Se
você está procurando líderes que se multipliquem, pode incluir outros critérios como 1) liderança
- tem seguidores; 2) servo - facilita o crescimento e a participação de outras pessoas; 3) saúde
emocional. Se você tem um grupo de bom tamanho do qual deseja escolher, avalie-os com base
nesses critérios. Em algum momento, você pode pedir que eles se avaliem e usar isso como parte
do processo de discernimento de quem Deus está lhe dando.

Perguntas para discussão/aplicação individual ou pequenos grupos: Mudanças significativas


raramente ocorrem sem suporte. Você se beneficiará ao discutir essas questões em um
pequeno grupo.
1. O que chamou sua atenção? (Deus está dizendo alguma coisa para você?)2
2. Que outras perguntas ou ideias vêm à sua mente?3
3. O que você fará esta semana com base no que está aprendendo?4

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Essa é uma das perguntas mais poderosas que você pode fazer ao estudar as Escrituras ou qualquer outra coisa.
Ela se concentra no que o Espírito está chamando à atenção das pessoas. Permite um fluxo real de ideias cheias
do Espírito. Outras perguntas mais específicas podem se afastar do que o Espírito pode estar dizendo a uma
determinada pessoa, empurrando-as em uma direção específica. Um discipulador ou líder de pequeno grupo
faria bem em fazer disso sua principal pergunta.
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Essa também é uma pergunta extraordinariamente poderosa. Os verdadeiros discípulos fazem perguntas. Os
verdadeiros discipuladores fazem o mesmo. Isso continua estimulando as pessoas a aprender, crescer, expandir
seus pensamentos e perspectivas.
4
Três é um excelente número de perguntas. Com mais perguntas, as pessoas podem se perder facilmente e
podem não chegar à última pergunta que normalmente deveria ser a aplicação. Se não dedicarmos um tempo
substancial à questão da aplicação, podemos haver perdido nosso tempo (Tg 1:22). Como alguém disse uma vez,
impressão sem expressão leva à depressão. Se não a depressão, pelo menos a mornidão e a decepção de pensar
que estamos crescendo, apesar de estarmos apenas estudando, em vez de crescer.

David Kornfield, 2. Passos para Fazer Discípulos – visão e seleção, 25/6/2020

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