História do Brasil
República I
2011
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Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Coordenadora do Curso a Distância de Pedagogia
Paulo Cesar Mendes Barbosa Maria Narduce da Silva
Unidade 1
A República no Brasil: do início à consolidação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Unidade 2
O coronelismo e a República Velha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Unidade 3
A transição para o governo Vargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Unidade 4
O governo de Vargas ente 1930 e 1945 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Vídeos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
História - História do Brasil República I
Apresentação
A disciplina História do Brasil República I A compreensão dos processos históri-
é integrante da Matriz Curricular do Curso de cos como imbuídos do caráter de mudança é
História da Universidade Estadual de Montes importante para o historiador, pois é o que o
Claros/UNIMONTES. forma com uma visão de que as “coisas” não
O presente material didático dessa disci- são estáticas. Buscamos construir uma discus-
plina busca apresentar e discutir com você a são que demonstrasse esse princípio ao orga-
nossa História no período Republicano brasi- nizarmos a Unidade III: A transição para o
leiro de 1889 a 1945. O que denominamos em governo Vargas e, para que melhor pudésse-
nossa matriz curricular como sendo o conteú- mos perceber isso, dividimos tal unidade nos
do de Brasil República I, comumente, estuda- seguintes itens:
mos nos livros didáticos como a República Ve- • As Contestações sociais
lha (1880 a 1930) e a Era Vargas (1930 a 45). a. Guerra de Canudos
Vale ressaltar que neste material você b. Guerra do Contestado
encontrará diversas figuras que foram apro- c. o Cangaço
priadas por nós, visando estimular a sua crítica • As revoltas urbanas
imagética. Sendo assim, aconselhamos anali- a. a Revolta da Vacina
sar as imagens pensando sempre em seu con- b. a Revolta da Chibata ou a Revolta dos Ma-
texto de produção e os interesses de quem as rinheiros
produziu e a quem ou a qual grupo social elas • Os movimentos operários no Brasil
eram endereçadas. As figuras a que nos referi- • A década de 20 e o desgaste da República
mos são fotografias, recortes de jornais, char- Velha
ges, entre outras. a. A semana de arte moderna de 1922
A distribuição do conteúdo em quatro b. A fundação do partido comunista
grandes blocos de discussão contou inicial- c. A crise de 1929
mente com o diálogo com o professor Alysson d. A revolução de 1930
Luiz Freitas de Jesus, a quem agradecemos nesse Buscando alcançar os anos 1940, abrimos
instante. Feitas essas considerações, chamamos outra discussão a respeito da chamada Era
a sua atenção para que observe o modo como Vargas e para tal a Unidade IV: O governo de
organizamos esse material. Vejamos: Vargas de 1930 a 1945. Esta está organizada
Com o intuito de apresentar a você o pro- a partir dos seguintes pontos de discussão:
cesso histórico relativo à passagem do Império à • Diálogos do poder: transição Império-Re-
República, organizamos a Unidade I: A República pública.
no Brasil: Do início à consolidação e, para tanto, • Um povo bestializado?
destacamos os seguintes pontos de reflexão: • A formação das almas republicanas.
• Diálogos do poder: transição Império-Re- • A Consolidação da República.
pública. Por fim, vale ressaltar que as unidades
• Um povo bestializado? descritas foram organizadas pensando na di-
• A formação das almas republicanas. versidade da discussão dessa temática entre
• A Consolidação da República. os historiadores e, diante disso, procedemos à
Visando estimular a reflexão sobre o pe- escolha de alguns autores que consideramos
ríodo em questão, no que tange às escolhas fundamentais para a sua leitura.
políticas e a característica socioeconômica da Temos plena consciência de que o as-
nossa República nascente, organizamos a Uni- sunto aqui tratado não se esgotou e que,
dade II: O coronelismo e a República Velha e, como em todas as escolhas, alguns assuntos
para tal discussão, destacamos os itens a seguir: e autores não foram contemplados. Todavia,
• O coronelismo como fenômeno político entendemos o quanto é importante você de-
no Brasil. senvolver a visão de dar continuidade aos seus
• O poder dos coronéis. estudos a partir de uma base sólida. Procuran-
• Economia e sociedade na Primeira República. do contribuir com a sua formação, desejamos
a. A sociedade do café. que este material faça parte dessa base.
b. A sociedade da borracha. Bom estudo!
c. Os ideais de modernidade e a belle époque Profª Dayse Lúcide Silva Santos
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História - História do Brasil República I
Unidade 1
A República no Brasil: do início à
consolidação
Introdução
Esta primeira Unidade da disciplina Brasil República I tem como objetivo precípuo entabular
uma discussão sobre o contexto histórico da “virada” do Império para a República no Brasil.
Você se defrontará com situações comuns, que até os dias de hoje corriqueiramente usamos
em nosso cotidiano: notas e moedas. Entretanto, utilizaremos moedas e notas um pouco mais
antigas e que deram origem à unidade de cruzeiro em priscas eras e, atualmente, desaguou no
atual real que utilizamos em 2011.
Entenderemos, por meio de diversas indagações, os diálogos do poder, a participação po-
pular no momento importante para o Brasil e o modo como a alma republicana foi forjada nesse
país e caminhou para a consolidação ao longo de breve tempo.
Boa Aula!
◄ Figura 1: Imagem
representativa da
Primeira Carta Magna
brasileira do período
da República Velha no
Brasil, publicada em 24
de fevereiro de 1891 no
Diário Oficial da União.
Fonte: http://www.
novomilenio.inf.br/festas/
brasil17.htm acesso em
20/12/2010.
11
UAB/Unimontes - 6º Período
Dicas Analisemos a figura. Ela representa a sala mento dos jornais e partidos abolicionistas e
das Sessões do Congresso Nacional Consti- republicanos.
Vamos conhecer um pouco
tuinte, na cidade do Rio de Janeiro, como es- Essa constituição representava o momen-
mais sobre a primeira Carta
Magna brasileira? paço físico privilegiado. Aos 24 dias do mês do to político liderado pelas elites agrárias no Bra-
Acesse o documento na fevereiro de 1891, a constituição foi promulga- sil quando implantamos o voto universal para
íntegra em: da e iria mudar os rumos do Brasil no sentido os cidadãos. Dizendo assim até que é interes-
http://www.novomilenio. de constituir um país republicano, abandonan- sante, não é mesmo? Entretanto, as ressalvas
inf.br/festas/brasil17.htm
do de modo mais definitivo seus veios políti- existiram, pois as mulheres, os analfabetos e
Ao ler a nossa primeira
Carta Magna republica- cos monarquistas no poder instituído. os militares de baixa patente não votavam. A
na procure perceber no Inicialmente, podemos questionar: de ideia de cidadania veiculada na constituição
texto o papel dos Estados e onde veio o modelo de governo instituído na de 1891 atendeu à cerca de 3% da sociedade
Municípios nessa República Primeira República? Ou melhor, em qual povo/ brasileira.
nascente.
nação a elite brasileira irá se inspirar para defi- O momento histórico que se estende de
Destaque alguns aspectos
que lhe chamaram a nir o seu modelo de governabilidade? O dia 15 1889 a 1893 foi marcado pela atuação de mi-
atenção na constituição e de novembro de 1889, data em que comemo- litares no poder, notadamente o Marechal De-
poste no Fórum criado pelo ramos até os dias de hoje como marco político odoro da Fonseca, que em 1891 renunciou, e o
professor visando socializar importante em nossa história, guarda marcas seu vice, Floriano Peixoto, assumiu o cargo po-
diferentes “impressões”
de processos anteriores de desejo de institui- lítico mais importante no país. O cerco à mo-
sobre esse documento.
ção de um novo regime político? Ou essa foi narquia (regime político anterior: 1822 a 1889)
PARA REFLETIR uma data marcante apenas no sentido de que vai se fechando e a república ganhando cada
A Constituição brasileira naquele ano se iniciava um novo tempo que vez mais espaço.
de 1891 adotou em gran- abandonava o passado monarquista? Já o período de 1894 a 1930 foi caracteri-
des linhas o modelo da Certamente você deve ter se perguntado zado pela presença de civis no poder, notada-
Constituição dos Estados sobre essas questões aqui levantadas. Vamos mente aqueles ligados ao setor agrário-expor-
Unidos.
compreender melhor esse momento político tador cuja atuação foi marcante nos partidos
Sua principal característi-
ca foi o presidencialismo. brasileiro? políticos republicanos brasileiros, especial-
O presidente é eleito com Vejamos que a nossa constituição de 1891 mente o Partido Republicano Mineiro (PRM) e
mandato por quatro anos, tem como abertura as palavras: “Nós, os re- o Partido Republicano Paulista (PRP).
com vice-presidente, não presentantes do povo brasileiro, reunidos em Soma-se ao processo de modificação do
podendo haver reelei-
Congresso Constituinte, para organizar um nosso regime político fatores históricos que se
ção. Também os estados
tinham presidentes, os regime livre e democrático, estabelecemos, processavam desde o século XIX, a saber:
quais eram eleitos em decretamos e promulgamos” a presente Carta - o crescimento econômico do oeste pau-
cada uma de suas unida- (CONSTITUIÇÃO, 1891). Encontramos dizeres lista cuja base era o café e possuía interesses
des federativas. semelhantes na Constituição da República dos por vezes conflitantes com os do Império do
Adotamos, ainda, do mo-
Estados Unidos da América do Norte (EUA). Brasil no período da segunda metade dos oi-
delo norte americano a
divisão entre três poderes: Caso você esteja desconfiado de que a influ- tocentos;
- o Executivo (que executa ência de nossa república tenha vindo dos Esta- - o crescente desenvolvimento urbano
as leis ou encaminha dos Unidos, você acertou! Ainda, é importante no país e as alterações no sistema escravista
projetos de lei para o destacar que tal influência foi notada desde o até culminar com a abolição da escravatura
Congresso);
século XVIII, especialmente no movimento de em 1888;
- o Legislativo (Câmara
dos Deputados e Senado Inconfidência Mineira ocorrido em Minas Ge- - a insatisfação no exército, que deseja-
que fazem as leis); rais, em 1789. va obter prestígio profissional além de ser
- o Judiciário (Julga con- Logo, você já percebeu que outro ques- uma classe que não podia manifestar as suas
flitos entre os cidadãos e tionamento feito acima foi respondido: a no- reclamações;
interpreta as leis, inclusive
ção de República no Brasil remonta ao século - o questionamento do alto custo e do
a Constituição).
Vale destacar algumas XVIII, entretanto, esta não teve força majori- despreparo do Império brasileiro frente às
outras características: tária para se fazer presente no sistema gover- guerras internas e externas, bem como a cons-
- direito de voto para os namental adotado. Sendo assim, assistimos, tatação de que o nosso Império não dava con-
homens maiores de 21 durante o século XIX, o Império como o siste- ta de promover o progresso material almejado
anos alfabetizados, o voto
ma de governo estabelecido até 1889. A nos- por grande parte de nossa elite.
não era secreto e não
existia justiça eleitoral. sa República foi instituída a partir dessa data, Uma análise do historiador marxista Buo-
- decretada a separação mas constituiu-se, paulatinamente, no proces- nicore (2010) aponta para duas estratégias dis-
da Igreja Católica e Esta- so histórico e teve grande impulso ao final dos tintas no processo de substituição da Monar-
do, ou seja, laicização do anos 1860/70, notadamente com o fortaleci- quia pela República, vejamos:
Estado.
- institucionalização do
casamento civil, registro
de óbito e nascimento
pelo Estado.
- definição do Estado
como nitidamente liberal.
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História - História do Brasil República I
Uma defendia que essa mudança deveria se dar dentro da ordem, sem grande
mobilização popular, outra advogava a derrubada revolucionária da monar-
quia.
Essas duas correntes do republicanismo estavam ligadas a distintas bases so-
ciais. A reformista era composta, fundamentalmente, por elementos vincu-
lados à aristocracia agrária. Os radicais às parcelas urbanas, especialmente às
classes médias. O republicanismo moderado – ou conservador – tinha maior
força em São Paulo e o radical no Rio de Janeiro. Embora os reformistas fossem
hegemônicos nos dois estados.
Entre os republicanos mais exaltados se encontravam Silva Jardim e Lopes
Trovão. Acreditavam que a República precisava ‘ser feita nas ruas e em torno
dos palácios do imperante e de seus ministros’ e que não se poderia ‘dispen-
sar um movimento francamente revolucionário’. Por outro lado, ainda em 1881,
o principal líder nacional dos republicanos, Quintino Bocaiúva, condenava os
que ‘procuravam encaminhar a causa republicana para uma solução violenta e
inoportuna’, os que almejavam desviar o movimento ‘do campo da discussão e
da propaganda pacífica, para o campo da revolução armada, fazendo-o aban-
donar as armas da persuasão e da influência moral para substituí-la pelo facho
incendiário da discórdia civil e da guerra fratricida’.
No decorrer da década de 1880 estabeleceu-se uma aliança entre os ‘republi-
canos históricos’ paulistas, os reformistas e positivistas do Rio de Janeiro, que
isolou a ala radical do Partido Republicano Nacional. Silva Jardim, como Lopes
Trovão, acabaram sendo postos à margem do movimento quando ele estava
prestes a tornar-se vitorioso (BUONICORE, 2010, p.1)
Mas, ainda nos falta compreender o papel do povão. Será que o povão assistiu a todo o pro-
cesso da Proclamação da República brasileira bestializado? Ou melhor, alheio ao movimento po-
lítico que acontecia naquele instante? Essas questões incomodaram ao cientista político e histo-
riador José Murilo de Carvalho e, dentre tantas obras desse autor, podemos trabalhar com duas
delas: “Os Bestializados” e a “Formação das Almas”. Em ambas, a República brasileira é a temática
central.
13
UAB/Unimontes - 6º Período
Figura emblemática. Qual é a impressão que você tem ao ver a representação do Império
brasileiro nessa condição? Podemos arriscar inoperância? Falta de agilidade diante das mudanças
processadas no final do século XIX? Desconsideração com as reclamações advindas do povo que
de algum modo apareciam nas páginas dos jornais? Vamos compreender melhor o significado
da crítica contida na figura que abre o nosso item.
Aristides da Silveira Lobo (1838-1896) era um dos jornalistas republicanos indignados com
a situação do país. Como jurista e político abolicionista, em 1889, reuniu esforços para publicar
no Diário Popular uma carta intitulada: “O povo assistiu àquilo bestializado”. Na sua percepção, a
atuação do povão diante da proclamação da República brasileira no Rio de Janeiro, em 1889, foi
assistir sem participar diretamente.
Vamos ler essa carta para formarmos a nossa opinião?
Eu quisera poder dar a esta data a denominação seguinte: 15 de Novembro, primeiro ano de Re-
pública; mas não posso infelizmente fazê-lo. O que se fez é um degrau, talvez nem tanto, para o
advento da grande era.
Em todo o caso, o que está feito, pode ser muito, se os homens que vão to-
mar a responsabilidade do poder tiverem juízo, patriotismo e sincero amor à liberdade.
Como trabalho de saneamento, a obra é edificante. Por ora, a cor do Governo é puramente mi-
litar, e deverá ser assim. O fato foi deles, deles só, porque a colaboração do elemento civil foi
quase nula.
O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava.
Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada.
Era um fenômeno digno de ver-se.
O entusiasmo veio depois, veio mesmo lentamente, quebrando o enleio dos espíritos.
Pude ver a sangue-frio tudo aquilo.
Mas voltemos ao fato da ação ou do papel governamental. Estamos em presença de um es-
boço, rude, incompleto, completamente amorfo.
Bom, não posso ir além; estou fatigadíssimo, e só lhe posso dizer estas quatro palavras, que
já são históricas.
Acaba de me dizer o Glycério que esta carta foi escrita, na palestra com ele e com outro cor-
religionário, o Benjamim de Vallonga.
E no meio desse verdadeiro turbilhão que me arrebata, há uma dor que punge e exige o seu
lugar - a necessidade de deixar temporariamente, eu o espero, o Diário Popular.
Mas o que fazer? O Diário que me perdoe; não fui eu; foram os acontecimentos violentos
que nos separaram de momento.
(*) Cartas do Rio era o título da coluna que o jornalista mantinha no Diário Popular.
Fonte: http://www.franklinmartins.com.br/estacao_historia_artigo.php?titulo=o-povo-assistiu-aquilo-bestializado-
-artigo-de-aristides-lobo-1889 Acesso em 22/12/2010.
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História - História do Brasil República I
▲
Possivelmente, a figura não nos remete à situação de tensão, mas de demonstração de força Figura 3: Óleo sobre
e poder, o poder republicano! É importante assinalar que, como apontou a pintura de Calixto, a tela de Benedito
proclamação da República tem mais a ver com a atuação do Exército, das classes urbanas médias Calixto (1853-1927),
e dos fazendeiros do Oeste Paulista, bem como com o desprestígio da Monarquia, do que com Proclamação da
República, 1893.
uma atuação de populares.
Fonte: http://2.
Buscando compreender melhor o uso do termo “povo bestializado”, o José Murilo de Carva- bp.blogspot.com/_AxCu-
lho nos forneceu uma leitura importante sobre o evento. Ele apresenta uma narrativa histórica, BauiBF0/SSAAnUdC4eI/AA-
contextualiza o momento social vivido na virada do século XIX para o XX, por diferentes sujeitos AAAAAAA-s/E9q8bGp7X-
-w/s1600/proclama%C3%A
que viram importantes mudanças se processarem no seu tempo. 7%C3%A3o+da+republica.
Nesse contexto, a proibição do voto dos analfabetos já demonstrava que a nossa República jpg acesso 22/12/2010.
distinguiria claramente a população entre sociedade civil e sociedade política. Contradição mar-
cante, pois, desde o Império, poucos eram os que sabiam ler e escrever no Brasil. O projeto de
Atividades
República nasce marcado pela exclusão que facilitava a manutenção de uma classe dominante
no poder. Ao ler o texto de Aris-
José Murilo de Carvalho ainda nos lembra de que a escolha do modelo federalista de 1891, tides Lobo e analisar a
figura sobre a procla-
em nossa primeira Constituição, favoreceu e fortaleceu as oligarquias locais que acabaram por se mação da República
perpetuar no poder (CARVALHO, 2005) e que ainda vemos resquícios disso até os dias atuais. (figura 3), discuta no
Ideologicamente, o nosso estado republicano nascente foi marcado pela dificuldade em ambiente virtual da
ampliar a cidadania, gerando a sensação de descrença, descrédito, conduzindo a uma situação disciplina as represen-
propícia ao desenvolvimento do anarquismo junto às classes operárias. José Murilo de Carvalho tações contidas em
ambos documentos
chama a nossa atenção para o fato embaraçoso em que nossas elites se encontravam: por um históricos.
lado, era preciso implantar a democracia visando à consolidação do poder de nossas elites, en-
tretanto, por outro lado, essa democracia não deveria ser estendida à população menos favoreci-
da da sociedade. Tal situação gerou insatisfação (CARVALHO, 2005).
Poderíamos entender a expressão “povo bestializado” como sendo “massa de manobra”,
simplesmente? José Murilo de Carvalho nos orienta a abandonar esse tipo de interpretação sim-
plista e cômoda para o historiador. Não podemos ser ingênuos em acreditar em total falta de
movimentação da população. Muitas das poucas pessoas que podiam votar, não votavam. Mui-
tas pessoas de diferentes segmentos sociais se envolveram ativamente nos movimentos sociais
populares de rebelião na primeira República. Enfim, muitas pessoas preferiram manter distância
de um sistema no qual não se sentiam incluídos. Nos dizeres de Martha Abreu, a recusa de parti-
cipação que os populares cariocas apresentavam significava que estes percebiam que a promes-
sa de cidadania feita pela República era, na realidade, uma farsa (ABREU, 2009).
15
UAB/Unimontes - 6º Período
16
História - História do Brasil República I
O cartão postal visto na figura é emblemático para a nossa análise. Essa é uma publicação Glossário
oficial e foi comemorativa de um evento político, por isso é condutor de intencionalidades, como Justiça Eleitoral :
todo documento histórico. Em sua composição observamos nitidamente que o cartão é consti- Em 1916, o Presidente
tuído por três partes importantes, as quais constituem a mensagem a ser divulgada pelo Estado Wenceslau Brás, preo-
Republicano, visando explicitar a alma da República: cupado com a serie-
a. À esquerda a “Propaganda”: “a sombra da bandeira da liberdade sem que o sangue de dade do processo elei-
toral, sancionou a Lei
irmãos fosse derramado - a ideia da Republicana evoluiu e se tornou o anseio maior do nº 3.139, que entregou
Exército Brasileiro”. Podemos observar que, como pano de fundo, existe uma crítica e uma ao Poder Judiciário o
mensagem de “paz”. Diferentemente do que o fez o Império, a República quer criticar as preparo do alistamento
baixas brasileiras durante a Guerra do Paraguai (1864-1870). A mensagem de paz pode ser eleitoral. Por confiar ao
percebida no sentido de que o agora se quer outro país, mais evoluído – porque republi- Judiciário o papel de
principal executor das
cano – e que goza de liberdade. leis eleitorais, muitos
b. Compondo essa alma republicana, vemos ao centro do cartão postal o responsável pela percebem nessa atitu-
proclamação da República Brasileira, o mito, o herói nascendo e sendo divulgado. Nos di- de o ponto de partida
zeres do cartão: “A figura maior: herói e condutor a cuja voz o Império ruiu”. Vemos a edifi- para a criação da Justi-
cação de um herói nacional. ça Eleitoral, que só viria
a acontecer em 1932.
c. À direita, o feito, a proclamação. Nos dizeres do cartão postal: “Sob o emblema da terra
libertada num exemplo magnificente dado ao mundo – a República se tornou uma reali- Fonte: http://cri-
dade palpitante e caminhou vitoriosa pelas armas engalanadas.” As armas eram como en- xasgoias.blogspot.
feites, por isso não houve derramamento de sangue. O exemplo que se quer demonstrar com/2010/09/justica-
ao mundo é o de mudança sem grande alarde, sem derramamento de sangue, pacífica. -eleitoral-passando-
-pelo.html Acesso em
23/12/2010.
Vejamos o encadeamento das mensagens contidas no cartão: à sombra da bandeira da li-
berdade (propaganda) a ação de um homem (Deodoro da Fonseca), de um herói, realizou-se um
grande feito político (a proclamação). Observem que essa é uma construção ideológica impor-
tante para firmar a imagem de uma República nascente, fortificada pelos ideais de liberdade. Afi-
nal, há pouco tempo o país tinha se libertado da escravidão (1888), embora tenha criado tantas
outras mazelas sociais.
◄ Figura 5: A Marianne,
símbolo da República
Francesa, representada
por Eugène Delacroix
em “A liberdade
Guiando o Povo”.
A moça “surgiu”
durante a Revolução
francesa, em 1789,mas
somente em meados
do século XIX se
tornou imagem
oficial da França e
dos movimentos
republicanos. Países
como o Brasil e Portugal
são bons exemplos do
uso dessa simbologia
além da França.
Fonte: http://1.
bp.blogspot.com/_
WMYV8-sprKw/Sso2u-
J0UImI/AAAAAAAABe0/
zx4fCtIf1zc/s400/
+Liberdade+Guiando+o+
Povo+-+Delacroix.JPG
Acesso em 23/12/2010.
17
UAB/Unimontes - 6º Período
Como nos dizeres do Jornal carioca “Gazeta da Tarde”, em 15 de novembro de 1889, deseja-
va-se criar a sensação de novo tempo, de uma nova fase na vida dos brasileiros, mesmo não sen-
do essa a realidade mais próxima da maioria das pessoas: “a partir de hoje o Brasil entra em nova
fase, pois pode se considerar finda a Monarquia, passando a regime francamente democrático
com todas as conseqüências da liberdade.”
Podemos dizer que foram nesses “novos-velhos tempos” que se iniciou a consolidação do
sistema republicano. Expurgar imediatamente a família real era condição importante para impe-
dir tentativas de retomada do poder de forças imperiais. As nossas elites agrárias alojam-se no
poder paulatinamente a partir de então.
O papel moeda também foi usado como veículo para a construção da “alma republicana”
via a criação de símbolos carregados de significados consonantes com o regime republicano.
Analisaremos a criação de outros símbolos que foram veiculados em papel moeda e procu-
raremos perceber a ambiguidade existente nessas construções. As primeiras cédulas brasileiras
que foram impressas sob o nome de República dos Estados Unidos do Brasil datam de 1890, ten-
do os valores de 1, 2, 5, 10, 20 e 100 mil réis.
Figura 6: Cédula de 20 ►
Mil Réis - Data emissão
1890 (R111). Estampa
do lado direito
“Colheita de Café”;
lado esquerdo cupido
ladeado por duas
mulheres. Fonte:
http://4.bp.blogspot.
com/__NaEPDaj4OM/TNl-
vTQsAniI/AAAAAAAACsk/
bm-faZJifvM/s1600/xxxx.
JPG
18
História - História do Brasil República I
◄ Figura 7: Cédula de 1
real.
http://3.bp.blogspot.
com/_vLdzkHj6DFM/
S9Yfh8uzCVI/AAAAAAAA-
ACk/VmHFy7a9X1E/s1600/
nota+d+1real.jpg
Acesso em 06/01/2011.
◄ Figura 8: Cédula de
100 reais. Segundo o
Banco Central, trata-
se de uma ‘’efígie
simbólica da república,
interpretada sob a
forma de escultura’’.
Repare que, além da
coroa de louros, ela usa
uma touca: é o barrete
frígio (da Frígia, na
atual Turquia), outro
ícone republicano.
O barrete frígio e
a coroa de louros,
No modo de ver de José Murilo de Carvalho pode-se afirmar que o imaginário da República respectivamente,
não apresenta espaço para os populares, considerando que há ausência de sentido, pouco ou representam uma
quase nada de significação, de representatividade desses símbolos. Nesse sentido, o autor esclarece herança romana, a
liberdade e a vitória
militar.
Por que o fracasso da representação positiva da República como mulher? A
busca de explicação poderá ir em várias direções. Mas o centro da questão Fonte: http://www.baixaki.
com.br/
talvez esteja na observação já referida de Baczko de que o imaginário, apesar imagens/materias/
de manipulável, necessita, para criar raízes, de uma comunidade imaginação, ock_000005671305
de uma comunidade de sentido. Símbolos, alegorias, mitos, só criaram raízes Medium_baixaki.jpg
quando há terreno social e cultural no qual se alimentarem. Na ausência de tal Acesso em 06/01/2011.
base, a tentativa de criá-los, de manipulá-los, de utilizá-los como elementos de
legitimação, cai no vazio, quando não no ridículo. Parece-me que na França havia
tal comunidade de imaginação. No Brasil, não havia (CARVALHO, 1990, p. 89).
19
UAB/Unimontes - 6º Período
Como você pode ter observado, a noção de liberdade não corria por uma única visão, um
único veio! Ao contrário, percebemos que essas noções embalavam diferentes posicionamentos
políticos no Brasil de antanho, todavia “descolados” da realidade, assim:
Vale lembrar aqui que outros símbolos foram construídos e representados como pertencen-
tes à nova República Brasileira. O hino e a bandeira, símbolos formais de um Estado-nação (os
atuais hino e bandeira de inspiração positivista) foram criados e associaram tradição e mudança.
Mas nesse instante houve a criação de um mito, já dito a vocês em diversas outras disci-
plinas do Curso de História da Unimontes, muito famoso até os dias atuais:Tiradentes. Talvez o
melhor termo a ser utilizado não seja o de criação de um mito, mas de reinvenção. A figura de
Tiradentes foi bem aceita pelos monarquistas que queriam usar a sua figura contra a dominação
portuguesa e os republicanos que exploraram a face de um “cristo” martirizado, de um soldado
que morreu por sua pátria. Talvez por isso, Tiradentes foi muito mais aceito como herói nacional
do que republicano. Mas qual figura de Tiradentes a República quis enaltecer?
20
História - História do Brasil República I
21
UAB/Unimontes - 6º Período
22
História - História do Brasil República I
Um terceiro momento propício à divisão nacional ocorreu por ocasião da su- ATIVIDADES
cessão de Epitácio Pessoa à Presidência da República. Opuseram-se duas can-
didaturas. A de situação, sustentada pelos Estados de Minas e São Paulo, en- Acesse o texto:
cabeçada por Artur Bernardes; e a de Nilo Peçanha, sustentada por gaúchos,
fluminenses e baianos. VISCARDI, Cláudia
É natural que os mineiros apoiassem maciçamente a candidatura de seu Maria Ribeiro. Elites
conterrâneo. O levantamento realizado comprova que apenas 15,78% da elite políticas mineiras na
mineira sustentou a candidatura oposicionista de Nilo Peçanha. (Ver quadro Primeira República
Número 7). O que nos chamou mais a atenção foi o fato de que o menor apoio Brasileira: um
a Bernardes partiu exatamente da região sul-mineira e o maior apoio partiu da levantamento prosopo-
Mata, região de origem do candidato. gráfico.
Novamente, as duas regiões encontravam-se em pólos opostos. Desta vez,
pode ter atuado como elemento mobilizador da candidatura fluminense de Em: http://www.fee.
Nilo Peçanha no Sul de Minas Gerais as mudanças empreendidas por Bernar- tche.br/sitefee/down-
des no PRM quando esteve à frente do governo de Minas (1918-1922). Na oca- load/jornadas/1/s11a2.
sião, Bernardes provocou mudanças partidárias importantes que confluíram no pdf
afastamento de antigos coronéis (em sua maioria sul-mineiros) do controle da
comissão executiva do partido. Tal comportamento angariou oposições que Leia atentamente a
iriam se manifestar por ocasião de sua candidatura presidencial, poucos anos discussão que a autora
mais tarde (VISCARDI, 2001, p.6). faz em relação às elites
mineiras e discuta com
o professor e os demais
Visando compreender melhor o processo mineiro quanto à política na Primeira República, colegas no fórum da
faremos um estudo sobre tal processo a partir de um artigo dessa autora disponível na internet. disciplina:
Veja o Box ao lado.
Como a autora trata os
Chegamos ao final dessa primeira unidade e você deve ter observado que utilizamos larga- momentos políticos da
mente os termos “República Velha”, do mesmo modo que observará o tal termo aparecerá em Proclamação da Repú-
outros momentos desse material didático. Ressaltamos que denominar a Primeira República de blica (1889), da disputa
“velha” é recorrente em diversos livros didáticos com que você irá se deparar ao longo de sua tra- eleitoral entre Hermes
jetória como professores de História. Entretanto, cabe ressalvar a historicidade desse termo em da Fonseca e Rui
Barbosa (1910), da
uso, considerando que a atual opção dos Historiadores pelo termo “Primeira República” esvai-se disputa eleitoral entre
da sobrecarga de juízo de valor comumente associado à República “Velha”. Nilo Peçanha e Rui
O termo República Velha recebeu a designação de “velha” segundo a visão dos políticos e Barbosa (1922) e a
intelectuais de pós-1930, especialmente “aqueles vinculados à proposta autoritária estadonovis- Revolução de 1930?
ta com a nítida intenção de acentuar a sua força transformadora, sua força revolucionária” (GO-
MES, 2009, p.22). Ao operar uma periodização de nossa história, os ideólogos do Estado Novo
quiseram imputar a visão de que eles se constituíam como um bloco coeso e a Primeira Repú-
blica, chamada de “velha”, seria um período de equívocos e fracassos políticos. Nesse sentido,
Ângela de Castro Gomes afirmou que a
Referências
ABREU, Martha & MARZANO, Andrea. Entre palcos e músicas: caminhos de cidadania no início da
República. In: CARVALHO, José Murilo de & NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das(orgs). Repen-
sando o Brasil do Oitocentos: cidadania, política e liberdade. Rio de Janeiro: Civilização Brasilei-
ra, 2009. p.123-49.
CARDOSO, Fernando Henrique. Dos governos militares a Prudente-Campos Sales. In: FAUSTO,
Boris (dir). O Brasil Republicano. Estrutura de Poder e Economia (1889-1930). 8 ed. Rio de
Janeiro: Bertrant Brasil, 2004, p.15 a 50. (História Geral da Civilização Brasileira, t.3, v.1).
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas. O imaginário da República no Brasil. São
Paulo: Companhia das Letras, 1990.
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi. 3.ed.
São Paulo: Cia das Letras, 2005.
FAUSTO, Boris (dir). O Brasil Republicano. Estrutura de Poder e Economia (1889-1930). 8. ed.
Rio de Janeiro: Bertrant Brasil, 2004. (História Geral da Civilização Brasileira, t.3, v.1).
VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro. Elites políticas mineiras na Primeira República Brasileira:
um levantamento prosopográfico. História. Rio Grande do Sul: São Leopoldo, v. 5, n. 4, p. 243-
260, 2001. Disponível em http://www.fee.tche.br/sitefee/download/jornadas/1/s11a2.pdf
Acesso em 15/07/2011.
24
História - História do Brasil República I
Unidade 2
O coronelismo e a República Velha
Introdução
Esta segunda Unidade da disciplina História do Brasil República I tem como objetivo maior
o estudo e a discussão do Coronelismo no Brasil. Esta é uma unidade que exigirá de você a com-
preensão e aplicação de conceitos, bem como compreender que os mesmos são datados, pois
que não podemos “sair por aí” dizendo que em tal e tal lugar existe o sistema coronelista. Mesmo
assim, essa afirmação é corriqueira.
Para tanto, a compreensão do conceito, de sua longevidade, de outros conceitos que se re-
lacionam como o coronelismo será de grande valia para o nosso estudo. Figura 13: Neste cartoon
Você se defrontará com um texto simples e objetivo, além disso, tal material pretende es- da revista paulistana
timular que você busque além das páginas escritas aqui um diálogo com o seu professor e seus A Lua, de março de
1910, a personagem
colegas no sentido de irem além. Zé Pagante protesta:
Desejamos boa aula! “Sucedem-se os
quatriênios, mas o meu
minguante não muda.”
25
UAB/Unimontes - 6º Período
tam, caracterizam e até se confundem com ele. Referimo-nos aos conceitos de Mandonismo e
Clientelismo. Para tal, utilizaremos os estudos de José Murilo de Carvalho (1970) e de Maria Izaura
Pereira de Queiroz (2004).
Buscando responder de onde/quando vem a noção de coronel, apoiamos no texto de Ma-
ria Izaura P. Queiroz para confirmar que desde 1832, no Império Brasileiro, os coronéis existiam
como título doado a pessoas que garantiriam a ordem imperial e defenderiam a Constituição de
1824. Ainda, auxiliariam na manutenção da ordem prevenindo revoltas e promoveriam o poli-
ciamento regional e local. Eram coronéis os chefes locais que ocupavam, na Guarda Nacional, os
postos mais elevados. Apesar da Guarda Nacional ter sido extinta logo após a Proclamação da
República, o termo coronel continuou a ser usado para denominar as pessoas que dominavam
grande parte de poder político e econômico (QUEIROZ, 2004, p.155-6).
A Guarda Nacional foi uma instituição patrimonial responsável pela interligação dos proprietá-
rios rurais com o governo. Os oficiais da Guarda Nacional compravam suas patentes e fardavam as
tropas com recursos próprios. José Murilo de Carvalho é esclarecedor quanto ao assunto, vejamos:
26
História - História do Brasil República I
novo ator político com amplos poderes, o governador de estado. O antigo presidente de
CANO
Província, durante o Império, era um homem de confiança do Ministério, não tinha poder
próprio, podia a qualquer momento ser removido, não tinha condições de construir suas
bases de poder na Província à qual era, muitas vezes, alheio. No máximo, podia preparar
sua própria eleição para deputado ou para senador.
Era eleito pelas máquinas dos partidos únicos estaduais, era o chefe da política estadual.
DOR REPUB-
GOVERNA-
principais representantes. Seu poder consolidou-se após a política dos estados implan-
tada por Campos Sales em 1898, quando este decidiu apoiar os candidatos eleitos “pela
política dominante no respectivo estado”. Segundo Sales, era dos estados que se gover-
nava a República: “A política dos estados [...] é a política nacional” (Sales, 1908:252).
seus dependentes e rivais. A manutenção desse poder passava, então, a exigir a presença
DEIROS
do Estado, que expandia sua influência na proporção em que diminuía a dos donos de
terra. O coronelismo era fruto de alteração na relação de forças entre os proprietários
rurais e o governo e significava o fortalecimento do poder do Estado antes que o predo-
mínio do coronel.
do coronel sobre seus dependentes e seus rivais, sobretudo cedendo-lhe o controle dos
cargos públicos, desde o delegado de polícia até a professora primária. O coronel hipote-
ca seu apoio ao governo, sobretudo na forma de votos. Para cima, os governadores dão
SISTEMA
Fonte: Adaptado de CARVALHO, José Murilo de. Mandonismo, Coronelismo, Clientelismo: Uma Discussão Conceitual.
Dados [online]. 1997, vol. 40, n.2 ISSN 0011-5258. doi: 10.1590/S0011-52581997000200003. Disponível em http://www.
scielo.br/scielo.php?pid=S0011-52581997000200003&script=sci_arttext Acesso em 10/06/2010.
Feito esse esclarecimento sobre coronelismo, pensemos a respeito de dois outros conceitos
que por vezes se confundem com o coronelismo: mandonismo e clientelismo.
Falar em mandonismo é o mesmo que pensar nos mandões, nos potentados, nos chefes, no
coronel, nesses indivíduos que detinham algum controle de recursos estratégicos. Quase sem-
pre esses recursos estavam ligados à posse da terra. Diversos filmes e principalmente novelas de
emissoras de TVs brasileiras colocam esse tipo de característica comum à nossa história em suas
tramas, exprimindo muito bem essa característica de nossa política. Sendo assim, o mandonismo
não é um sistema, mas apenas uma característica de nosso modo de fazer política. Identificamos
o mandonismo em toda a nossa história e não podemos dizer que coronelismo seja igual a man-
donismo. Embora o coronel possa ser um “mandão”, distinguimos o coronelismo como um siste-
ma. Além disso, o coronel não era apenas o latifundiário, isolado em sua fazenda, mas também o
médico, o comerciante, o padre , etc.
Já o clientelismo pode ser entendido como sendo as relações estabelecidas entre os atores
políticos na concessão de benefícios públicos (voto, emprego, apoio político). Assim conceituado, o
clientelismo é característica do coronelismo, assim como o mandonismo, o clientelismo se apresenta
como característica do período histórico da Primeira República, não podendo ser entendidos como
sinônimos. Para o estabelecimento das relações clientelares nem sempre teremos o coronel, mas po-
líticos e instituições que têm algo a barganhar, podendo ocorrer na cidade ou no campo. Atualmente
ainda assistimos a críticas em TVs, jornais, revistas e internet referentes a essas relações clientelares
estabelecidas entre governo, políticos e população pobre. Vejamos um exemplo:
27
-se de um caso exacerbado de clientelismo político exercido num meio predo-
minantemente urbano. Não se tratava de coronelismo (CARVALHO, 2004, p.4).
UAB/Unimontes - 6º Período
Segundo José Murilo de Carvalho, autor em que baseamos essas análises, o coronelismo
existiu como fenômeno no Brasil no período da República Velha e não fora desse período, como
já apontava Leal em seu estudo anterior. O clientelismo existiu durante toda a nossa história, mas
ganhou ênfase pós anos 1930, com o término do coronelismo. Já o mandonismo foi bem carac-
terístico do Brasil Colonial, Imperial e República Velha, perdendo força com o avançar das noções
de cidadania.
“O Brasil vem sendo sacudido por uma sucessão interminável de denúncias e de práticas
comprovadas de corrupção, que criam um desalento e um pessimismo tão profundo na população
a ponto de esta considerar [que] os políticos e os governantes em geral não passam de corjas de la-
drões. Não é para menos: a corrupção inscreveu-se na normalidade da vida publica brasileira...
O que confere normalidade à corrupção no Brasil é a sua extensão, o seu caráter histórico-
-cultural e a sua impunidade. Recapitulem-se as principais denúncias dos últimos tempos: com-
pra de voto na reeleição, jogo de cartas marcadas nas privatizações das teles, corrupção e nepo-
tismo no judiciário...
Diariamente, surgem denúncias por todo o país envolvendo vereadores, prefeitos, gover-
nadores, deputados, secretários, ministros, funcionários públicos, fiscais, chefes administrativos,
juízes, policiais, e assim por diante. Ladeando-a e fundindo-se com a corrupção temos o neopa-
trimonialismo, que, em síntese, pode ser definido como o uso do cargo público para constituir
privilégios privados.
O apossamento ou utilização do cargo publico de forma privada para auferir privilégios,
bens materiais, recursos pecuniários, prebendas, recompensas disfarçadas em direitos, etc, é
uma prática entranhada em nossa história e em nossa cultura. Embora sobreviva na Repúbli-
ca até os nossos dias, trata-se de uma prática anti-republicana: ela rompe com os princípios da
equidade, da justiça e da igualdade perante a lei e ignora a essência mesma da República como
coisa pública comum ao apropriar privadamente os bens públicos.
Trata-se de um enorme engano supor que as práticas patrimonialistas tenham desaparecido
em nossos dias. Elas se revestem de inúmeras faces, umas ilegais outras legais.”
Como você pode perceber a partir da leitura do texto do Deputado José Genoíno, publica-
do em jornal de circulação nacional, em 2000, ainda percebemos resquícios de processos históri-
cos muito longos em nossa história.
O contexto narrado pelo autor nos faz lembrar práticas clientelares das quais já falamos e
que muito se confundem com práticas coronelistas. Ao passo que a noção de cidadania vai ganhan-
do força, o mandonismo vai perdendo espaço. Pensemos que durante a República Velha houve a
construção de um Estado que permitiu a “utilização de cargos públicos para auferir privilégios”, ou
seja, um Estado patrimonial. Para José Genoíno, essa prática não é Republicana, pois não entende
o Estado como de todos, como direito de todos. Todavia, tal prática fez-se presente no processo de
constituição do Estado Republicano brasileiro e dela ainda temos notícias nos dias atuais.
No segundo parágrafo do texto de Genoíno, notadamente a parte referente à compra de
voto nas eleições, esse contexto, sim, nos remete ao momento histórico corriqueiro na República
Velha. Partindo desse tipo de leitura, procuraremos compreender nesse item como os diferentes
atores sociais estabeleciam relações no período em que o coronelismo existiu como um sistema
político. Iniciemos analisando a figura.
28
História - História do Brasil República I
Glossário
A conhecida expressão “voto de cabresto” existe até os dias de hoje. No passado, indicou Parentela: Entende-
mos por parentela
a caracterização do processo eleitoral em que o eleitor não possuía autonomia de escolha para
brasileira um grupo de
dar seu voto. Existia ainda uma “teia” que acabava por envolvê-lo na manutenção de uma dada parentesco de sangue
situação que resultava na continuidade do poder do coronel, cujo domínio local e regional tinha formado por várias
a capacidade de submeter pessoas e famílias inteiras. famílias nucleares e al-
Para se ter uma ideia do que estamos dizendo, convém lembrar o que disse Queiroz. A auto- gumas famílias grandes
(isto é, que ultrapassam
ra afirma que, se alguém perguntasse quem era um “tal fulano” na República Velha, esse respon-
o grupo pai, mãe e
deria que: “sou gente de tal coronel” (grifo nosso, QUEIROZ, 2004). Desse modo, já saberíamos a filhos), vivendo cada
qual lugar socioeconômico aquela pessoa pertenceria, bem como a sua posição política. Interes- qual em sua moradia,
sante observar que o termo “gente” indicava que não eram pessoas do mesmo nível social. Esse regra geral economica-
termo indica que a pessoa é de nível inferior, podendo ser até parente do coronel, mas “aque- mente independente;
as famílias podem se
le” parente pobre. No geral, observamos que numa simples resposta, a pessoa logo apresentava
encontrar dispersas
a sua posição quanto à política local, se contrário ou favorável aos diversos coronéis existentes a grandes distâncias
numa dada região. Essas pessoas são clientes, são apaniguados dos coronéis, constituem a sua umas das outras; o
clientela. Logo, também herdam os inimigos dos coronéis que apoiam. afastamento geo-
Diante disso vale ressaltar a vocês que o poder político do coronel é medido pelo seu poder gráfico não quebra a
vitalidade dos laços ou
de voto, ou seja, a quantidade de votos que o mesmo conseguia angariar. A estrutura é a seguinte:
das obrigações recípro-
cas. Sua característica
1º Coronel principal é a estrutura
interna complexa que
2º Cabo Eleitoral tanto pode ser do tipo
igualitário, quanto do
tipo estratificado.
3º Eleitores
Fonte: QUEIROZ, Maria
O cabo eleitoral tem a função de organizar a massa, mantendo-a em forma para o período Izaura Pereira de. O coro-
nelismo numa interpre-
eleitoral. Ele é o elemento fundamental para o coronel, pois mantém a ligação entre ambos. Disse- tação sociológica. 2004,
mos anteriormente que o mandonismo é também uma característica do coronelismo, lembra-se? p. 165. In: FAUSTO, Boris
Então, vamos compreender que existem também, além do sistema bem estruturado de “ca- (dir). O Brasil Republicano.
Estrutura de Poder e Eco-
bos eleitorais”, outras formas de mando bem sutis. Observamos que existiam hierarquias entre nomia (1889-1930). 8 ed.
os mandões regionais, certo? Assim, Rio de Janeiro: Bertrant
Brasil,2004, p. 165.
29
UAB/Unimontes - 6º Período
GLOSSÁRIO existiram no Brasil coronéis de vários graus, desde o pequeno coronel não do-
minando senão uns 20 eleitores, até o grande coronel, o mandão nacional com
Oligarquia: segundo outros níveis de coronéis abaixo dele. [...] A multiplicidade dos coronéis é, as-
Platão, é o sistema de sim, o aspecto essencial, a originalidade da estrutura política do Brasil, na Pri-
governo no qual uma meira República, traço que se prende diretamente à estrutura socioeconômica
determinada elite eco- tradicional do país, fundamentada em grupos de parentela que são ao mesmo
nômica exerce o poder tempo grupos de parentesco de sangue com suas alianças, e grupos de asso-
político exclusivamente ciados econômico-políticos (QUEIROZ, 2004, p.159).
segundo os próprios
interesses, sem se
pautar nos anseios da Para além da coação física e do poder econômico dos coronéis para conseguirem o voto,
maioria. também há que se considerar o poder de barganhar. Os políticos precisavam de seus eleitores e
deviam servi-los (benesses e favores) em troca do voto.
No Brasil, durante a Ainda no período imperial votavam apenas aqueles que comprovassem renda mínima de
chamada república oli-
200$000 (alta quantia para a época), e o voto dessas pessoas constituía um bem valorizado e por
gárquica (1894-1930), a
elite cafeicultora, prin- isso algo que lhe dava poder de barganha. Com a República, esse critério financeiro caiu, preva-
cipalmente a paulista, lecendo a negativa do voto para analfabeto e para as mulheres. Ainda assim, houve a ampliação
dominava o cenário do colégio eleitoral, mas a prática da barganha continuou.
político nacional, im- Para Queiroz , é preciso rever a lógica da expressão “voto de cabresto”, pois a exigência de
pondo seus candidatos
um coronel para que os seus eleitores em potencial votassem no candidato por ele indicado (ou
mediante o clientelis-
mo e o coronelismo. imposto) exigia em contrapartida o dever moral desse coronel, o qual acaba por assumir a defesa
Foi nessa conjuntura e o auxilio de seu eleitor, sempre que fosse necessário. Sendo assim,
que Rodrigues Alves
(1848-1919), cafeicultor ... votar num candidato indicado por um coronel não é aceitar passivamente a
paulista, foi eleito pre- vontade deste; é dar conscientemente um voto a um chefe poderoso, de quem
sidente da República já se obteve algo, ou se almeja obter algo. O voto é, pois, consciente, mas orien-
entre 1902-1906, perí- tado de maneira diversa do que o voto de um cidadão de sociedade diferencia-
odo no qual eclodiu a da e complexa; no primeiro caso, o voto é um bem de troca; no segundo caso,
Revolta da Vacina. o voto é a afirmação pessoal de uma opiniã. (QUEIROZ, 2004, p.163).
Dentre as atitudes da
elite cafeicultora em
Isto se deve ao fato de que a nossa sociedade foi fundamentada no “dom” dentro de uma
defesa de seus próprios
interesses, destacaram- parentela ou mesmo na relação de diferentes camadas sociais. Esse modelo acabou por se es-
-se práticas como tender ao setor político de modo que uma dada causa de um coronel é também a causa de seus
a socialização das apaniguados. Entretanto, não podemos deixar de enfatizar outro lado dessa relação. Também foi
perdas, que desvalo- recorrente o fato de uma pessoa ou um grupo não votarem num dado indivíduo indicado pelo
riza a moeda nacional
coronel, nesses casos tais indivíduos sofriam processos violentos e as eleições, certamente, ocor-
para manter lucro dos
fazendeiros na hora de reriam de modo fraudulento.
converter suas libras, e Com relação à fortuna do coronel é importante lembrar que no imaginário brasileiro este
o Convênio de Taubaté, aparece como sendo aquele grande proprietário de terras. Isso é verdade, mas não pode ser en-
em que se decidiu tendido como sendo apenas esse tipo de pessoa com essa condição social. Sabemos que mé-
que o governo federal
dicos, empresários, comerciantes e outros também foram considerados coronéis no tempo em que
compraria o excedente
de café produzido para viveram. Visando exemplificar tal postulado, vamos aqui destacar um tipo de coronel bem diferente,
evitar que o excesso denominado Delmiro Gouveia, pioneiro na industrialização do nordeste brasileiro. Vejamos:
de oferta reduzisse o
preço do produto no Delmiro Augusto da Cruz Gouveia era filho ilegítimo de um fazendeiro e negociante de
mercado internacional.
gado, Delmiro Porfírio de Farias, que morrera na Guerra do Paraguai, e de Leonilda Flora da Cruz
Fonte: BICHARA, Conrado
Gouveia. De origem pobre, teve que trabalhar cedo para se manter e ajudar a mãe e aos 19 anos,
Ferranti. Resistência na mudou-se com ela para a cidade de Goiana, em Pernambuco e depois para o Recife. Foi bilhetei-
veia. Revista Desvendando ro da estação Olinda do trem urbano chamado maxambomba, trabalhando também na estação
a História. São Paulo, ano
3, nº15, 2007, p.37.
de Apipucos, bairro do Recife, e trabalhou ainda como despachante de barcaças. Interessado na
compra e venda de couro e peles de cabras e ovelhas vai para o interior de Pernambuco, onde
casou-se (1883) com Anunciada Cândida de Melo Falcão, na cidade de Pesqueira.
Trabalhou inicialmente como intermediário entre os produtores de peles de cabra, carneiro
e couros de boi espalhados por todo o sertão nordestino e os comerciantes estrangeiros sedia-
dos no Recife. Trabalhou depois para a Keen Sutterly & Co., da Filadélfia, e tornou-se gerente de
sua filial (1892). No ano seguinte, quando a matriz faliu, ele comprou seus escritórios no Recife
e fundou a Casa Delmiro Gouveia & Cia (1896). Ligou-se à firma L. H. Rossbch, Brothers de Nova
York e, com seu apoio financeiro e com postos de compra espalhados por todo o Nordeste, enri-
queceu e tornou-se conhecido como o Rei das peles.
Partiu para outros empreendimentos e pela urbanizou o bairro do Derby, no Recife, onde só
havia manguezais, abrindo ruas, construindo casas e um grande mercado modelo sem similar no
Brasil, o Mercado Coelho Cintra (1899), incendiado (1900), reformado (1924) e hoje sede do quar-
tel general da Polícia Militar de Pernambuco, e construiu uma refinaria de açúcar que chegou a
30
História - História do Brasil República I
31
UAB/Unimontes - 6º Período
a) A sociedade do café
32
História - História do Brasil República I
33
UAB/Unimontes - 6º Período
b) A sociedade da borracha
34
História - História do Brasil República I
▲
Além de Manaus, o Rio de Janeiro será o grande baluarte dos ideais de modernidade no Figura 17: Avenida
Brasil. A preocupação foi modernizar o Rio de Janeiro com vistas às reformas feitas em Paris, ci- Eduardo Ribeiro. Fonte:
dade modelo para tal concepção a partir das reformas de Haussmann de 1853 a 1870. No Brasil, Anuário 1910, Museu
ser moderno era viver no Rio de Janeiro, a nossa capital federal que apresentava maior núcleo de Amazônico.
ferrovias, maior mercado consumidor e com capacidade de empregar significativa mão-de-obra Fonte: http://www.seer.
ufu.br/index.php/cdhis/
nas indústrias. A meta de nossas elites republicanas era a de conjugar modernização, progres- article/viewFile/1208/1075
so e industrialização, apresentados no espaço urbano, o que terá lugar no Rio de Janeiro, por Acesso em 16/02/2011.
exemplo. A Avenida Central foi remodelada completamente, como já dissemos, inspirada em Pa-
ris. Desapareceram os becos e apareceram ruas largas mais apropriadas ao footing, mais aprazível
aos olhos das elites, segundo moldes europeus.
A respeito das reformas urbanas, vejamos a contribuição de Needell (1993), citado por Patto (1999):
35
UAB/Unimontes - 6º Período
Todavia, vale destacar que a belle epoque no Brasil tomou contornos diversos, podendo também
ser chamada de “caipira”, pois significou:
A Belle Époque caipira era constituída especialmente pela ação de uma elite de-
sejosa de modernizar-se. Desobrigados de qualquer ética, derribavam as ma-
tas, levando destruição, morte e grilagem às terras férteis do sertão. Tal qual
verdadeiros flibusteiros, adentravam a hinterlândia e agiam com violência, am-
parados na legitimidade de um discurso constituído a partir da significação so-
cial positiva atribuída ao moderno. Assim, o café seguia impávido, ladrilhando
as localidades outrora semeadas e levando os trilhos e silvos das locomotivas
em seu rastro. Rápido, então, lugarejos cresciam e tomavam forma de cidades,
tornando-se, assim, centros bafejados pela força da grana que construía e des-
truía coisas belas, um verdadeiro admirável mundo, que mesclava sem possi-
bilidades de separação o arcaico e o novo. Era nesse contexto que as ambiva-
lências da própria modernidade se somavam às contradições de um país e de
um povo forjado sob o sopro da bricolagem e da imposição do poder público
(DOIN et. al., 2007, p. 95).
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38
História - História do Brasil República I
Unidade 3
A transição para o governo Vargas
Introdução
Nesta terceira Unidade da disciplina História do Brasil República I analisaremos processos de
mudança, de desejos de alteração de uma dada ordem instituída, de resistência.
Com o objetivo de compreender melhor o processo histórico que culminou com o governo
Vargas, estudaremos de modo mais detido “o processo” em si, as contestações sociais regionais,
seus postulados, seus desfechos e suas tragédias, tais como Canudos, Cangaço, Contestado, Chi-
bata e Vacina.
Pululavam no Brasil desejos de mudança e, em especial na década de 1920, assistiremos à
conformação desses desejos expressos em movimentos sociais, na semana de arte moderna, na
fundação de partidos políticos, na luta para participar mais efetivamente dos rumos de um país:
do nosso país.
Você se defrontará com um Brasil que quer ser grande, mesmo sabendo de suas mazelas so-
ciais, com sujeitos sociais que não se deixaram intimidar na tessitura política de seu tempo, com
gente que saiu à rua para protestar e com gente que também preferiu se calar. Não podemos
esquecer dos silêncios e dos “quase gritos” de nosso povo emaranhado nas redes de poder.
Desejamos bom estudo e férteis discussões!
39
UAB/Unimontes - 6º Período
No Brasil da Primeira República podemos dizer que o nosso país teve importantes movi-
mentos rurais e messiânicos, os quais “sacudiram” o ambiente rural brasileiro. A figura em desta-
que refere-se à Guerra de Canudos, ocorrida no Brasil entre 1893 a 1897, no governo de Prudente
de Morais. Além desta, outras ocorreram no mesmo período, a saber: Guerra do Contestado e o
Cangaço.
Você já se perguntou sobre as razões que levaram as pessoas - em comunidades inteiras - a
se rebelarem contra a República nascente no Brasil? Vamos conhecer essas razões e os desfechos
desses processos para que possamos compreender melhor esse importante período da nossa
história.
a) A Guerra de Canudos
Acreditamos que a Guerra de Canudos não pode ser classificada como uma simples guerra
de fanáticos ou de meros seguidores de Antônio Vicente Mendes Maciel – O Antônio Conselhei-
Figura 21: Figura do ro. Esta guerra ocorrida no sertão da Bahia apontou muito mais para uma importante insatisfa-
lugarejo de Canudos. ção social à ordem vigente na Primeira República. Nesse momento, a ordem vigente na Bahia era
Fonte: http://www. de sujeição aos coronéis republicanos, cujas forças locais eram imensas, bem como a miserabili-
umbuzada.com/Historia/
Historia%20de%20Ca-
dade e a seca que afligia os sertanejos dessas terras brasileiras.
nudos/Foto%20-%20Ca- Antônio Conselho, líder de Canudos, nasceu em Quixeramobim/Ceará, em 1828. Ele se esta-
nudos%2008.jpg Acesso beleceu no arraial de Canudos em 1893, às margens do Rio Vaza-Barris, no sertão nordestino. O
18/02/2011.
lugarejo foi se desenvolvendo e atingindo aproximadamente 25 mil habitantes. A figura mostra
▼
uma imagem panorâmica de Canudos.
40
História - História do Brasil República I
O arraial de canudos foi próspero, sempre a ele eram acrescidas pessoas advindas do sertão
que logo se “ajeitavam” em casa de taipa, produziam para o seu sustento. Desejavam construir
uma comunidade autônoma e igualitária baseada na posse coletiva dos bens e produtos e não
na propriedade privada da terra. É bem possível que a miserabilidade estivesse distante daquele
lugar onde a terra, a água e o trabalho humano geraram um breve período de fartura para aque-
la população.
Uma sociedade com essa natureza naturalmente não agradaria à sociedade brasileira repu-
blicana nascente. O povo de canudos não podia prosperar como modelo de sociedade, pois se
chocava com o modo de pensar do novo regime. Desse modo, foram organizadas quatro gran-
des expedições militares para destruir Canudos, sendo duas estaduais e duas federais, a saber:
41
UAB/Unimontes - 6º Período
42
História - História do Brasil República I
muitos foram desalojados de suas terras, uma Lucena Boaventura). José Maria chega à região
vez que tal lugar era considerado terra devolu- em 1912 e pratica o curandeirismo e realiza
ta, sendo que a madeira até então explorada por milagres. Aproveitando de sua enorme popu-
eles passou a ser explorada para os Estados Uni- laridade, o monge se envolverá nas questões
dos da América pela empresa de Farquar. político-econômicas da região, posicionando-
Esse contexto foi fundamental para a -se ao lado dos mais fracos. Além disso, pre-
eclosão da Guerra do Contestado. Como po- nunciava que a República terminaria e que
demos observar, a população local empobre- dias melhores estariam por vir.
ceu, ficou desempregada, sem terras e os que Toda essa situação não ocorreu sem con-
ainda possuíam alguma terra não conseguiam frontos entre: fazendeiros, posseiros, tropas
competir com a empresa Lumber, de Farquar, do governo e os seguidores do monge. Assim,
na venda de madeira. Todavia, outro fator im- o monge liderou os camponeses expulsos de
portante pode ser vislumbrado nesse contexto: suas terras e os ex-trabalhadores da Brasil Rai-
diversos monges frequentavam a região reali- lway e os fazendeiros que não conseguiam
zando trabalhos sociais e espirituais e, até mes- competir com a empresa Lumber. Certamente,
mo, envolviam-se em questões políticas locais. essa liderança era motivada por um discurso
Dois monges destacaram-se nesse lugar: messiânico estimulador, capaz de dar forças a
João Maria (1844-1870) e José Maria de Santo essas pessoas, inclusive para declarar a região
Agostinho (cujo nome verdadeiro era Miguel como um governo independente do Brasil.
Dicas
Observe a área de
atuação do Cangaço no
nordeste brasileiro:
Homens do exército brasileiro associados aos homens das forças militares dos governos do
Estado do Paraná e de Santa Catarina combateram fortemente essa comunidade a partir de 1912,
obtendo sucesso apenas a partir de 1914. Os combates duraram cerca de 5 anos, quando a po-
pulação foi massacrada, e cerca de 20 mil pessoas morreram nesse conflito. Toda a tecnologia
disponível na época foi usada, como os aviões que observamos na figura. Em 1916, o então pre-
sidente do Brasil Venceslau Brás decidiu dividir o território de modo mais igual possível entre os
dois Estados da Federação.
Citado por GOMES, Carolina et al. Lampião, Virgulino e o Mito. Agenda Eclética, julho a Dezembro de
2007, p. 18.
Todavia, sabemos que o bando de Lampião e de seus cangaceiros firmaram alianças vanta-
josas com os mais poderosos coronéis da época:
Esse tipo de rebelião ancora-se em situações anteriores quando, por exemplo, em 1901, os
coronéis usaram alguns bandos sertanistas para impor uma dada ordem social. Antes de lampião
outros cangaceiros se destacaram, a saber: Inocência Vermelho, João Calangro, Jenuíno Brilhante
e Antônio Silviano. Todos esses cangaceiros conheciam bem a caatinga e o território do nordes-
te brasileiro como a palma de suas mãos. Andavam sempre preparados para qualquer situação
de embate com a polícia. Na figura demonstramos a preocupação em extirpar esses cangaceiros
por parte do poder Republicano baiano. Vejamos.
44
História - História do Brasil República I
Sabemos que de 1870 (Jenuíno Brilhante) a 1940 (Corisco – Cristino Gomes da Silva Cleto)
o cangaceiro mais famoso foi aquele que atuou no período de 1920 a 1938, o já citado Virgulino
(o Lampião), visto pela população com valores de valentia e honra e, pelas autoridades, como
bandido brutal a ser eliminado da sociedade. Foi no período de Getúlio Vargas que os bandos de
cangaceiros foram desarticulados, presos e mortos pelo poder instituído. Mas realizar tal tarefa
não era fácil, como observamos a necessidade de divulgar cartaz à procura de Lampião.
Marcos Edilson de Araújo Clemente, ao estudar as fotografias e imagens do Cangaço, desta-
cou a figura abaixo com o intuito de analisar a quebra do poder adquirido por Lampião. Vejamos
a figura.
O autor analisou a imagem “das cabeças cortadas” de modo a inverter o poder do Cangaço.
Fecharemos esse item lendo a sua análise:
45
pelas cidades do sertão em direção a Maceió e finalmente para Salvador onde
ficaram expostas até 1969.
UAB/Unimontes - 6º Período
46
História - História do Brasil República I
a) A Revolta da Vacina
Iniciaremos nosso estudo sobre a Revolta da Vacina a partir de um texto introdutório de Cel-
so Miranda. Ele dá início a sua narrativa dizendo que havia alguma coisa diferente no ar naquela
manhã abafada e úmida de novembro de 1904:
... nos últimos dias, boatos haviam tomado os bares, as conversas em família
depois que estudantes e operários saíram em passeata pelo centro do Rio de
Janeiro, gritando palavras de ordem e protestando contra o governo do presi-
dente Rodrigues Alves (MIRANDA, 2004, p.46).
Figura 29: Imagens
Continua dizendo que havia a impossibilidade de prever o que aconteceria dada a imprevi- criticando o contexto
sibilidade dos acontecimentos naquele ano. Assim, da Revolta da Vacina
publicados na Revista
... de repente, sem que parecesse haver qualquer organização, os grupos de da Semana, de 1904.
pessoas começaram a chegar ao centro. Tomaram as ruas do Ouvidor, da Qui- Fonte:
tanda, da Assembléia e, quando chegaram à praça Tiradentes, já eram milha- http://200.198.28.154/
res. ‘Abaixo a Vacina’, gritavam. O comércio baixou as portas e polícia chegou. sistema_crv/banco_obje-
A multidão respondeu em coro: ‘Morra a polícia’. Houve tiros. Correria. O cen- tos_crv/%7BCBB82D45-
tro virou campo de batalha. No meio de cacetadas, tiros e pernadas, talvez D3D1-4184-820F-
307DBC81DE4A%7D_ima-
ninguém – do lado dos manifestantes ou dos homens da lei – se lembrasse de
gem9.jpg Acesso em
como aquilo havia começado (MIRANDA, 2004, p. 47). 15/02/2011.
▼
O que ocorria no Rio de Janeiro, capital
do Brasil, naquele momento? Como contex-
tualizar o ocorrido? Você já viu acontecer
uma revolta onde as pessoas não combinam
as coisas, tais como o modo do protesto, fai-
xas, etc., e saem às ruas quebrando o que
encontram pela frente? Vamos entender me-
lhor o que foi a revolta da Vacina, em 1904,
na cidade do Rio de Janeiro.
Essa revolta está relacionada com a ideia
de transformação da cidade do Rio de Janeiro
em um grande cartão de visita do país, livre de
focos de doenças. Nesse período, o então pre-
feito do Rio era Pereira Passos e este ordenou
a derrubada das áreas de cortiço da cidade
visando ao remodelamento da mesma, mas
deixando muitas pessoas sem ter onde morar.
Segundo orientações do médico sanitarista
Oswaldo Cruz buscou-se sanear e higienizar a
cidade, objetivando acabar com focos de va-
ríola e febre amarela. A vacinação obrigatória
da população por brigadas sanitárias (quase
sempre usando violência para realizar a tarefa)
foi um dos fatores que motivou a rebelião da
população e, ainda, as elites no poder não pos-
suíam a mínima preocupação em esclarecer a so-
ciedade em relação aos procedimentos adotados.
A rebelião ocorreu nos bairros, onde a população
ergueu barricadas e com paus e pedras enfren-
tou a polícia. Após intensa repressão e a prisão
de várias pessoas, a vacinação foi completada,
eliminando-se a varíola da cidade.
A representação em charge dessa situação
tomou conta dos semanários da época. Vejamos.
47
UAB/Unimontes - 6º Período
Segundo a Antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, em o Espetáculo das Raças, observamos que,
nas cidades grandes, o ideal científico era percebido a partir da adoção de programas de higieni-
zação e saneamento, pois
Outra revolta muito importante ocorrida no Brasil foi a da Chibata, em novembro de 1910.
Passemos a página da história.
48
História - História do Brasil República I
49
UAB/Unimontes - 6º Período
A figura em destaque nesse item é a greve geral ocorrida em São Paulo no ano de 1917. As
greves que os operários fizeram nas duas primeiras décadas do século XX foram de grande im-
pacto no Brasil, e ocorreram em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e nos estados do Sul e do
Nordeste.
A classe trabalhadora urbana está presente no Brasil desde o final do século XIX, desenvol-
vendo uma conscientização classista. Os trabalhadores que se manifestaram de diferentes ma-
neiras eram ex-escravos e imigrantes.
Observa-se que a luta para a criação de sindicatos e consequentemente a melhoria nas con-
dições de trabalho era uma constante em todos os lugares no Brasil em que se estabeleceram as
fábricas. Via de regra, as greves foram o instrumento mais comum utilizado para fazer frente ao
modelo de gestão implementado no Brasil. Considerando que as leis trabalhistas ainda não exis-
tiam, os nossos trabalhadores lutavam para ter direito a férias remuneradas, à folga semanal, ao
salário mínimo e a ter direitos previdenciários.
Os trabalhadores criaram sindicatos, mas esses não eram reconhecidos pelo governo. Inicial-
mente, criaram associações mutualistas que evoluíam para o sindicato.
Além de formar uma caixinha, elas fundaram escolas para as crianças e abriram
cursos noturnos para adultos. O analfabetismo era grande e muitos trabalha-
dores estrangeiros não falavam o português. Também os jornais operários ti-
veram grande importância na educação e organização da classe. No período
entre 1870 e 1920 foram fundados 343 jornais em todo o país. Desse total, 55
eram em italiano, quatro em espanhol e um em alemão. Os jornais acompa-
nharam o crescimento das ligas de resistência e dos sindicatos. As Sociedades
de Socorro e Auxílio Mútuo foram o ponto de partida para os sindicatos. Entre
1897 e 1915, nasceram mais de 200 ligas em todo o país. Elas eram ilegais e per-
seguidas pela polícia. [...] Em 1903, o governo baixou uma lei reconhecendo os
sindicatos dos trabalhadores do campo e, em 1907, outra lei reconheceu os sin-
dicatos dos trabalhadores das cidades. Os próprios trabalhadores mantinham
os sindicatos e o governo não metia o bico (CARNEIRO, 1997, p. 92-3).
50
História - História do Brasil República I
Iniciamos esse item com uma figura sobre a greve geral de 1917, ocorrida em São Paulo. E é
dela que falaremos com maior afinco nesse instante.
No bairro Mooca, em São Paulo, ocorreu uma grande greve em 12 de junho de 1917, no co-
tonifício Crespi, onde os operários rotineiramente protestavam contra os salários e quase sempre
paravam o serviço. Diante dessa greve a fábrica fechou por tempo indeterminado, uma vez que
alegava não ter como atender à reivindicação salarial dos trabalhadores na ordem de 20%. A gre-
ve foi tomando proporções maiores e estendeu-se para aproximadamente mais 12 cidades pau-
listas. Em 9 de julho um operário foi morto e seu enterro foi acompanhado por 10 mil operários.
Barricadas foram feitas e os confrontos com os policiais eram intensos. Já no dia 15, um acordo
foi feito: nenhum empregado seria despedido por causa da greve e os empregados que foram
presos por órgãos policiais em função desse movimento foram soltos para que pudessem voltar
ao trabalho.
51
UAB/Unimontes - 6º Período
Dicas O programa de reivindicação era maior que os 20% já ditos. Tratava-se de questões traba-
lhistas e sociais mais profundas, tais como: proibição de trabalho para menores de 14 anos, proi-
Ao contrário dos países
industrializados onde a bição de trabalho noturno para mulheres e para os jovens com idade inferior a 18 anos, jornada
concentração operária de trabalho de 8 horas e congelamento de preços de primeira necessidade.
já era significativa, o Vale destacar que jornadas de trabalho de 10, 14 e até 17 horas eram comuns. Enquanto o
proletariado brasileiro salário continuava baixo (congelado), o custo de vida aumentava exorbitantemente. Foi contra
estava distribuído em essa situação que os paulistas lutaram. Entretanto, esse contexto era semelhante em outras par-
grande quantidade de
pequenas fábricas. tes do país, as quais também fizeram greves em 1917 e 1918 em busca de solução, tais como:
Em 1906 foi criada a Bahia, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Rio de Janeiro, entre outros.
COB , Confederação Para concluirmos esse item, vale destacar que o texto de Everardo Dias (1977), publicado
Operária Brasileira, que por Milton Lopes em http://marquesdacosta.wordpress.com/milton_lopes_anarquismo_e_1_
em 1912 já possuía 50 de_maio/ é leitura importantíssima para você. Veja aqui um fragmento do texto e em seguida
mil associados.
Em 1907, houve uma baixe-o da internet. Vejamos:
greve em São Paulo,
mas a classe ainda O exíguo grupo capitalista, aglutinado em oligarquia patronal, que se havia
estava muito desorga- abalançado à criação de fábricas geralmente de tecelagem e metalurgia, es-
nizada. tabelecera seus cálculos sobre uma base salarial baixíssima, salário de escra-
O movimento operário vo, exploração bruta do braço humilde que se encontrava com abundância
no Brasil foi influencia- no país, gente de pé descalço e alimentação parca (um punhado de farinha
do pelo anarquismo. de mandioca, feijão, arroz, carne seca) artigos alimentares baratos e abun-
No Brasil foram edita- dantes no mercado; café adoçado com mascavo, e um pouco de farinha, pois
dos periódicos como pão era artigo de luxo, bem como o leite, a carne, os condimentos, os legumes
La Battaglia, O Livre (esses últimos desconhecidos na casa do trabalhador). E quanto à moradia, es-
Pensador, A Plebe, A tava confinada em barracões de fundo de quintal, em porões insalubres, em
Guerra Social, Sparta- casebres geminados (cortiços), próximos às fábricas e pelos quais pagava de
cus, a Lanterna, entre aluguel mensal 15, 20, 30 mil réis. Esse proletariado fabril, em grande parte fe-
outros. minino e constituído de mocinhas, era o preferido para a indústria têxtil, traba-
Adaptado de lhando das 6 da manhã às 7 e 8 horas da noite. […] Na indústria metalúrgica ou
mecânica o número de menores também era predominante, sendo que aqui o
MOCELLIN, R. Histó- sexo aceito era o masculino. […] Todos, ou quase todos, analfabetos, supersti-
ria. São Paulo: Ibep, ciosos, tímidos, humilhados por palavrões e insultos depreciativos. Ignorância
2004, p. 411. total. Ser dispensado do serviço significava mais fome, mais miséria em casa.
Encarava-se o desemprego com arrepios de terror. Já os patrões julgavam ‘es-
tar prestando um grande favor, praticando um ato de benemerência em dar
trabalho para proteger essa pobre gente esfomeada… Os gerentes e diretores
assumiam, por isso, ares altaneiros e superiores de grão-senhores, aos quais só
se podia falar de chapéu sobre o peito, fazendo vênia de beija-mão, numa hu-
mildade de escravo (DIAS, 1977, p. 45-6).
52
História - História do Brasil República I
◄ Figura 34: Os 18 do
forte : episódio que
eterniza o idealismo do
movimento tenentista.
Fonte: http://www.portal-
saofrancisco.com.br/alfa/
coluna-prestes/coluna-
-prestes-3.php Acesso em
31/03/2011.
53
UAB/Unimontes - 6º Período
Iniciemos nossa conversa sobre a Semana de Arte Moderna de 1922, ocorrida em São Paulo,
a partir de um texto publicado no editorial do Jornal Folha de São Paulo em maio de 1978, o qual
veiculou a ideia por nós compartilhada: a semana estimulou um novo olhar para o Brasil e repre-
sentou um marco histórico importante em nossa História. Vamos ler fragmentos desse texto:
54
História - História do Brasil República I
c) A Crise de 1929
No caso da crise de 1929, vale destacar que tal crise iniciada nos Estados Unidos logo se
expandiu para todo o mundo. Foi uma crise, como sabemos, de superprodução, gerando uma
grande depressão econômica. Fato semelhante ocorreu no Brasil: tínhamos café, mas não quem
o comprasse.
A produção cafeeira no Brasil estava em alta, pois o excedente era comprado pelo governo,
como vimos no Convênio de Taubaté. Logo, os cafeicultores sabiam que deveriam ampliar a pro-
dução para obterem mais lucros. Endividaram-se para financiar esse crescimento de produção.
No momento em que o mundo entrou em depressão o consumo de café (principal produto
de exportação brasileiro) não ocorreu como o esperado pelos brasileiros no mercado interna-
cional e o preço do café despencou. Logo, o governo brasileiro não tinha como comprar todo
café anteriormente exportado. Os efeitos da crise chegaram aqui: muito produto sem ter quem
o consumisse. Os cafeicultores estavam insatisfeitos, pois achavam que o governo tinha que con-
tinuar “segurando” a situação, mas os estoques do governo eram imensos e não havia a possibi-
lidade de venda/exportação desse produto a médio prazo. A decisão de queimar o café ocorreu
no Brasil visando então manter o seu preço no mercado internacional.
Tudo isso ocorreu diante de uma crise política de grandes proporções no Brasil: as eleições
de 1929/1930. Nesse momento as oligarquias brasileiras estavam divididas.
d) A Revolução de 1930
Por um lado, existia a ANL (Aliança Nacional Libertadora) que representava Minas Gerais, Rio
Grande do Sul e Paraíba, sendo apoiada por grupos industriais emergentes, pela classe média e
por alguns setores da burocracia militar e civil. Esse grupo apoiou a candidatura do governador
do Rio Grande do Sul à presidência, Getúlio Vargas.
Por outro lado, existia a oligarquia cafeeira do PRP (Partido Republicano Paulista) e o poder
central brasileiro, na figura do atual presidente Washington Luís, que apoiava o candidato paulis-
ta à presidência, Júlio Prestes. Na eleição venceu o candidato paulista com 57,7% dos votos.
Ocorre que uma situação latente de insatisfação ganhou força, pois acusavam a eleição de
ter sido fraudulenta (apesar de ter ocorrido fraude de ambos os lados) e o assassinato de João
Pessoa (governador da Paraíba) criou um clima de Revolução e de tomada de decisão. A Revolu-
ção de 30 foi feita nesse clima, nesse contexto histórico. Vejamos:
Contra o Rio, sede do governo federal, partiram duas colunas: uma saiu da Pa-
raíba, chefiada pelo major Juarez Távora, e outra do Rio Grande do Sul, coman-
dada pelo general Miguel Costa e pelo tenente-coronel Góis-Monteiro. Getú-
lio Vargas era o comandante geral da revolução. O movimento mobilizou 300
mil soldados. Cerca de 70 mil homens deslocaram-se por dois mil quilômetros,
durante vinte dias, até Itararé, onde se esperava a confrontação final entre os
rebeldes e as tropas do governo. Mas a batalha de Itararé foi a batalha que não
houve: os principais comandos militares legalistas aderiram ao movimento re-
volucionário. No começo de novembro, três mil gaúchos de lenços vermelhos,
chapelão e bombacha apearam no Rio de Janeiro. Muitos amarraram seus ca-
valos no obelisco da Avenida Rio Branco, sob aplauso da população (POMAR,
1999, p.9).
Encerraremos esse item evidenciando o recorte espacial da Revolução de 1930 feita pelos
estudos do Centro de Pesquisa e Documentação (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas. Esse cen-
tro, a partir dos estudos referentes à nossa história política, lembra que em Minas Gerais a
56
História - História do Brasil República I
Revolução teve início no mesmo dia que em Porto Alegre. O movimento teve
o apoio do presidente do estado, Olegário Maciel, que no próprio dia 3 de ou-
tubro fez publicar em O Minas Gerais - órgão oficial do governo mineiro - um
manifesto conclamando o povo a apoiar os revolucionários. O comandante
militar da revolução em Minas era o tenente-coronel Aristarco Pessoa, irmão
de João Pessoa, em cujo estado-maior se incluíam Leopoldo Néri da Fonseca
e Cordeiro de Farias. As unidades militares sediadas em Belo Horizonte quase
não ofereceram resistência ao movimento, com exceção do 12º Regimento de
Infantaria, que resistiu por cinco dias. Em resposta ao chamado dos líderes re-
volucionários, logo foram formados batalhões de voluntários na capital. No in-
terior do estado os obstáculos à vitória da insurreição foram maiores, ao menos
em algumas cidades. Na luta travada em Três Corações morreu Djalma Dutra,
veterano dos levantes tenentistas da década anterior e elemento destacado da
Coluna Prestes. Em Ouro Preto a resistência foi facilmente vencida, mas em São
João Del Rei houve combates até o dia 15 de outubro, e em Juiz de Fora até o
dia 23. De Minas Gerais partiu ainda uma coluna revolucionária que ocupou Vi-
tória, a capital do Espírito Santo, no dia 19 de outubro.
(CPDOC/FGV, A era Vargas dos anos 20 a 45. Disponível em http://cpdoc.fgv.br/produ-
cao/dossies/AEraVargas1/anos20/Revolucao30/RupturaContinuidade acesso 19/03/2011)
Uma junta militar depôs Washington Luís e entregou provisoriamente a presidência a Getú-
lio Vargas. Teremos o início de um longo período político sob liderança Varguista. Vejamos essa
trajetória na próxima unidade.
Referências
CARNEIRO, Paulo. Um panorama das conquistas sindicais. In: KUPSTAS, Márcia (org). Trabalho
em Debate. São Paulo: Editora Moderna, 1997.
DE DECCA, Edgar S. 1930: o silêncio dos vencidos. São Paulo: Brasiliense, 1981.
DIAS, Everardo. História das Lutas Sociais no Brasil. 2 ed., São Paulo: Alfa-Ômega, 1977.
DULCI, Otávio Soares. Política e recuperação econômica em Minas Gerais. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 1999.
FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. 2.ed. São Paulo: Edusp, 2006.
KOSHIBA, Luís e PEREIRA, Denise M. F. História do Brasil. São Paulo: Editora Atual, 1996.
MIRANDA, Celso. Rio: Cidade Doente. Revista Aventuras na História. São Paulo, nº 15,
novembro/2004, p.46-51.
POMAR, Wladimir. A era Vargas: a modernização conservadora. São Paulo: Ática, 1999.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças. Cientistas, Instituições e Questão Racial no
Brasil de 1870-1930. São Paulo: Cia das Letras, 1993.
SEVCENKO, Nicolau. A Revolta da Vacina: Mentes Insanas em Corpos Rebeldes. São Paulo:
Brasiliense, 1994.
57
História - História do Brasil República I
Unidade 4
O governo de Vargas ente 1930 e
1945
Introdução
Nesta quarta Unidade da disciplina História do Brasil República I, propomos a você melhor
compreensão do período de Vargas, especialmente em seu primeiro governo.
Nosso objetivo é compreender melhor o contexto histórico em que Vargas levou a cabo um
estilo de governar, de lidar com diferentes forças políticas no Brasil, de mostrar a “cara” de um
Brasil para o exterior, de participar da Segunda Guerra Mundial e de dar início ao processo indus-
trial no Brasil.
Você se defrontará com um Brasil “quente”, com sujeitos sociais diversos em sua atuação po-
lítico-social e com um Brasil plural.
Desejamos bom estudo e férteis discussões!
59
UAB/Unimontes - 6º Período
Dicas O apoio ao presidente Vargas não se de interventores nomeados pelo governo re-
Em geral dividimos o restringia aos militares, especialmente aos volucionário. Logo, dissolveu as Assembleias
período varguista em: tenentes. Você observa essa ideia na ima- Legislativas Estaduais e as Câmaras Municipais
Governo provisório: gem que destacamos para esse item. Pense- de todo o país.
1930 a 1934. mos sobre ela. Mas, em 1932, houve uma revolução a
Governo Constitucio- Destacamos na figura o aporte militar partir de São Paulo, levantando a bandeira da
nal: 1934 a 1937.
Governo ditatorial: ao governo Vargas. Além disso, observamos a necessidade de tornar o país Constitucional.
1937 a 1945 presença de civis. Em novembro de 1930, mês Os paulistas desejavam, obviamente, retomar
em que Vargas recebeu a chefia de seu país, o poder político perdido em 30. Essa Revolu-
ele tem consigo parte representante ainda ção Constitucionalista visou combater o ca-
das oligarquias rurais alijadas do poder. Ainda, ráter mais centralista e a preocupação com o
havia o apoio dos militares legalistas que não social que o governo vinha apresentando e in-
concordavam com o movimento dos tenen- comodando principalmente a oligarquia pau-
tes mais radicais. Com essa base, administrar lista que gozava anteriormente de privilégios.
o país não seria fácil. O que fez o nosso presi- Em São Paulo, os constitucionalistas exi-
dente nessa época? giram que fosse indicado um interventor pau-
Diria que “andar na corda bamba”! lista e civil para o Estado paulista, além de
Melhor dizendo, entre 1930 e 32, Vargas exigir novas eleições e a convocação de uma
Figura 38: Imagem
do MMDC em Cartão tomou para si e para sua base aliada uma polí- Assembleia Constituinte. Em 1932, estudan-
Postal, 1932 – São tica ambígua, possibilitando a ele equilibrar-se tes morreram em confronto com a polícia ao
Paulo. CPDOC/Roberto sobre tendências diversas em seu governo. Os manifestarem sua insatisfação com o governo
Costa. (MMDC: Martins, lugares de atuação política para sua base alia- Vargas. Formou-se uma sigla MMDC a partir
Miragaia, Dráusio e da foram os ministérios e os cargos de inter- das iniciais dos nomes dos estudantes e logo o
Camargo)
ventores - cargo recém criado - nos Estados e símbolo do movimento constitucionalista. Tal
Fonte: http://cpdoc.fgv.br/
producao/dossies/AEraVar- Câmaras Municipais em todo o país. Essa foi a movimento mobilizou cerca de 30 mil homens
gas1/anos30-37/RevConsti- primeira ação varguista no governo provisório: de São Paulo para lutar contra o governo fede-
tucionalista32 ter apoio nos estados e municípios por meio ral. Veja a figura que marcou esse conflito.
▼
60
História - História do Brasil República I
Os constitucionalistas paulistas produzi- tubro”, fundado pelos tenentes em 1931, trans- Glossário
ram armas, bombas, máscaras de gás, lança- formou-se em um grêmio de debates apenas.
Estado de Guerra:
-chamas e capacetes por meio de suas indús- Para aprofundar os seus conhecimentos, pes- Situação política na
trias. Receberiam apoio de outras elites do quise sobre o referido Clube e discuta com os qual o Estado assume
país, mas apenas o Mato Grosso apresentou seus colegas de turma o que vocês encontra- poderes excepcionais,
ajuda e envolvimento direto no conflito. Fo- ram durante a pesquisa. em vista do perigo de
ram três meses de guerra, culminando com o A Assembleia Nacional Constituinte pro- conflagração interna
ou externa. Todos os
desfecho desfavorável aos paulistas. Estes per- mulgou, em julho de 1934, uma constituição direitos e garantias
deram a batalha, mas o governo federal resol- para o Brasil, realizando a eleição para pre- individuais são sus-
veu abrir eleições para a Assembleia Nacional sidência do Brasil, elegendo Vargas. Deu-se pensos, a polícia pode
Constituinte em 1932, a única reivindicação início à construção de um Estado forte, cen- prender e manter presa
oficial do movimento. tralizador, nacionalista e autoritário. As resis- qualquer pessoa, sem
acusação formal ou
O governo teve, nesse sentido, que nego- tências o aborreciam, assim como a própria processo.
ciar com as elites que ele depôs em 1930 (no constituição, o Congresso e os movimentos (POMAR, 1999, p.18)
caso, a elite paulista), os tenentes mais revolu- sociais, na realidade, para ele eram um es-
cionários perderam poder e o “Clube 3 de Ou- torvo. Pelegos:
Pelego é a manta que
se usa ente o cavaleiro
e o cavalo. Ela amorte-
61
UAB/Unimontes - 6º Período
A respeito desse evento, a Intentona comunista, podemos ler em Pomar uma contextualiza-
ção importante. Vejamos:
O partido comunista, principal base de apoio da ANL, tinha como filiados vá-
rios militares oriundos do movimento tenentista, a exemplo de Prestes, Agil-
do Barata e Cilo Meireles. Sob a influência desses tenentes, passou a conspi-
rar para realizar um levante militar. Este seria a base e o estopim da revolução
aliancista. Esses planos conspiratórios foram feitos à revelia da direção da ANL.
Além disso, o movimento amplo por mudanças, com forte apoio das camadas
populares, promovido pela ANL não defendia o confronto armado com o go-
verno. A conspiração do Partido Comunista tinha, assim, um caráter golpista
desvinculado das condições reais do movimento.
O governo, de seu lado, teve informações sobre a conspiração. Desse modo,
tomou medida não só para provocá-la, mas para aproveitá-la e retomar o con-
trole de toda a situação política. Entre 23 e 26 de novembro de 1935, quando os
revoltosos começaram o levante em quartéis de Natal e Recife, a polícia desen-
cadeou uma grande repressão contra os aliancistas de todo o país. Os levan-
tes que ocorreram a seguir nas guarnições da praia vermelha e do campo dos
afonsos, no Rio de Janeiro, também eram esperados pelo governo e foram ra-
pidamente esmagados. Com isso, Getúlio chamou a si o comando da luta inter-
na conta o comunismo, conquistou o apoio das elites a seu governo e decretou
estado de guerra em março de 1936. Daí em diante, passou a conspirar para
implantar um regime de ditadura, o Estado Novo (POMAR, 1999, p.17).
a) A Constituição de 1934
Neste item entenderemos melhor as ideias e os princípios que nortearam a constituição de 1934.
No que diz respeito aos Direitos Trabalhistas, a constituição regulamentou, a partir da luta
das classes trabalhadoras:
• O salário mínimo.
• A jornada de trabalho não superior a 8 horas.
• A proibição de trabalho para menor de 14 anos.
• As férias anuais remuneradas.
• Indenizações nas demissões sem justa causa.
No que diz respeito ao voto, podemos destacar que:
• O voto secreto era para os candidatos aos poderes Executivo e Legislativo.
• As mulheres adquiriram o direito de voto, fato que representou o coroamento da luta leva-
da a cabo pelas mulheres em todo o Brasil.
• Permaneciam sem direito ao voto os militares até o posto de sargento, analfabetos e mendigos.
• Criação de uma justiça eleitoral independente para cuidar do bom andamento das eleições.
Os direitos trabalhistas fundamentais estavam ali resguardados, bem como algumas con-
quistas de determinados setores da sociedade. Ainda, vale destacar que nesse documento op-
tou-se pelo nacionalismo, ou seja, pelo viés de proteção das riquezas naturais do país. Outro
aspecto importante de frisar é que a indissolubilidade do casamento foi mantida, não cedendo
à pressão de segmentos sociais que desejavam a institucionalização do divórcio (só consegui-
remos isso em 1977). Por fim, e não menos importante, ficou estabelecido que o primeiro presi-
dente da República após essa constituição seria eleito pelo voto indireto, ou seja, pelos membros
da Assembleia Constituinte. Como já sabemos, Vargas saiu vitorioso com 175 votos contra 59 vo-
tos obtidos pelo seu concorrente Borges de Medeiros.
Vale ressaltar a relação entre a Ação Integralista Brasileira (AIB), liderada por Plínio Salgado,
com o governo. As forças direitistas no Brasil “levantaram a bandeira” de um estado autoritário, de
combate ao liberalismo, ao socialismo e às sociedades secretas ligadas à maçonaria e ao judaísmo.
Nesse contexto, a nossa constituição recém promulgada previa a nova eleição presidencial
para o ano de 1938. Em fins de 1936 diversos candidatos demonstravam interesse em participar
da disputa eleitoral. Vejamos o desencadeamento político dessas diferentes vontades.
62
História - História do Brasil República I
Vargas procurou, ao longo de 1937, eliminar os seus opositores por meio do sistema de in-
terventores nos Estados. Ao final desse ano o sistema secreto brasileiro anunciou a existência de
um plano comunista para tomada do poder e acabar com o regime democrático brasileiro. Em
seguida o estado de sítio, para a região sul do país foi decretado.
O Plano foi denominado como Plano Cohen, mas, na realidade, era uma farsa com ajuda dos
integralistas para se livrarem dos adversários do governo. Segundo Cotrim, no dia 10 de novem-
bro de 1937, Vargas ordenou: o cerco militar ao Congresso Nacional e o fechamento do Legislati-
vo. Ainda, outorgou uma nova Constituição para o país, substituindo a Constituição de 1934.
E como comunicar isso à nação? Isso é um golpe!
O rádio seria o veículo privilegiado para alcançar a todos no Brasil. O rádio havia chegado na
maioria dos lares brasileiros e funcionava como um forte veículo de comunicação. O jornal também
estampou esse momento. Vejamos um recorte do Jornal do Brasil de 11 de novembro de 1937:
A Constituição que o então presidente comunica à nação pelas ondas do rádio, em 1937,
possuía aspectos fascistas e ficou conhecida como a constituição “polaca”. Esse termo advém do
fato de ela ser inspirada na constituição da Polônia, que é fascista. Esta Constituição foi escrita
por Francisco Campos e aprovada anteriormente pelo ministro Guerra, o General Eurico Gaspar
Dutra e pelo próprio Getúlio Vargas.
Vejamos as características dessa nova Constituição:
• Os partidos políticos foram extintos e as eleições foram suspensas.
• Ao presidente cabia a autoridade suprema do Estado.
• O mandato de presidente seria de 6 (seis) anos.
• O restabelecimento da pena de morte, a qual tinha sido abolida na constituição de 1891.
• A instauração da censura por meio da criação do Departamento de Imprensa e Propaganda
(DIP).
• Os estados brasileiros perderam sua autonomia política.
• As greves e o direito de manifestação contra o governo foram proibidos.
63
UAB/Unimontes - 6º Período
PARA REFLETIR Vale destacar que dificilmente um presidente se manteria no poder por tanto tempo sem
A classe operária no
que tivesse, de algum modo, aprovação popular. Vargas será deposto somente em 29 de outu-
Brasil começa a se bro de 1945. Longo tempo de regime ditatorial no país, o qual estudaremos no próximo item.
desenvolver no final do
século 19, resultado das
transformações econô-
micas, sociais e políti-
cas da época. O mode-
lo agrário-exportador,
4.3 O Estado Novo Varguista (1937-
baseado na produção
de café, ganhou nova
força ao se deslocar do
1945)
Vale do Paraíba para o
Oeste Paulista, criando
as condições para a
a. aspectos políticos
constituição do capital O período histórico conhecido como Es- comunistas e simpatizantes dessa ideologia
industrial e do trabalho tado Novo estende-se de 1937 a 1945, sob li- foram os mais perseguidos pelo sistema ins-
assalariado no Brasil. derança de Getúlio Vargas. Como já dissemos, taurado por Vargas. Mas que sistema é que foi
A mão-de-obra escrava o suposto plano Cohen dos comunistas para montado? Vamos entendê-lo melhor?
foi sendo substituída
pela européia, atraída
tomarem o poder acelerou as condições para Visando controlar a imprensa e a propa-
para trabalhar nas fa- o estabelecimento de um governo ditatorial. ganda foi criado o DIP (Departamento de
zendas e nas indústrias Em 1937, o então capitão integralista Imprensa Propaganda) que tinha como obje-
que se desenvolviam Mourão Filho entrega ao General Góis Montei- tivo realizar a propaganda do governo, bem
nas cidades. Os primei- ro um falso plano comunista para tomada do como vigiar revistas e jornais. Desse modo,
ros núcleos operários
surgiram principalmen-
poder. Diante dessa ameaça e a previsão de instaurada está a censura no governo Var-
te no Rio de Janeiro e eleição no Brasil (marcada pela Constituição gas: sem controle interno e sem instrumen-
em São Paulo, forma- de 1934) para o ano de 1938, Vargas, com tos populares de denúncia.
dos em sua maioria apoio das forças armadas, fechou o congres- O tripé no qual o governo estadonovista
por imigrantes vindos so e instaurou o Estado Novo, não havendo se apoiava era constituído pelo DIP, por uma
da Itália, Espanha e
Portugal.
qualquer contestação. Política Sindical e pela Repressão. Efetivare-
As condições de vida O poder de instituição de interventores, mos uma pesquisa para promover um de-
e de trabalho eram ex- através de decreto, modificou a cena política bate no ambiente virtual a respeito da atu-
tremamente difíceis. Os de então. O poder estatal agora ganhou ten- ação governamental no que tange a esse
salários eram baixos e táculos em todos os Estados e municípios. Os “tripé”
a jornadas de trabalho
eram de 12 a 15 horas
por dia, sem direito ao b. Sindicatos, leis e direito dos trabalhadores
descanso nos finais de Outra questão fundamental a ser discutida 8 horas diárias, instituiu o salário mínimo (em
semana e feriados. Sem nesse item é a mensagem que podemos perce- 1940) e regulamentou as férias anuais dos tra-
contratos de trabalho, ber na charge em destaque. A sua intencionali- balhadores. Segundo Pomar (1999), o governo
as demissões aconte-
ciam verbalmente e a
dade é a de criticar a noção de sindicato corpora- estendeu o direito de férias aos empregados
qualquer momento. tivista. Vamos pensar melhor sobre essa questão. na indústria e nos portos, criou os Institutos
Os patrões não se Antes mesmo de Vargas chegar ao po- de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários,
responsabilizavam por der vimos que havia grande pressão para que Bancários e Industriários. Ainda, assegurou es-
doenças ou aciden- fossem urdidas leis trabalhistas justas no Bra- tabilidade de emprego para os operários que
tes de trabalho. Nas
fábricas, os operários
sil. A grande intenção e ação do governo foi completassem dez anos de serviço na mesma
recebiam ameaças, cas- exatamente se antecipar aos movimentos e empresa. A carteira de trabalho passa a ser
tigos e multas. Quando protestos do povo. Nessa medida foi criado o obrigatória. Assim, em 1943, de modo defini-
alguém ficava doente Ministério do Trabalho, em 1930, que logo re- tivo, as leis são consolidadas na chamada CLT
era socorrido por meio gulamentou que o horário de trabalho seria de (Consolidação das Leis Trabalhistas).
de listas. Os aluguéis
eram caros e vivia-se
em cortiços sem água,
luz e esgoto, geralmen-
te perto das fábricas.
Fonte: http://www.
agendasindical.com.br/
index.php?option=com_
content&view=
article&id=34:does
-the-pdf-icon-render-
pictures-and-special-
characters&catid=35:
artigos&Itemid=55
Acesso em 15/03/2011.
64
História - História do Brasil República I
Sempre que o assunto é Getúlio Vargas e o seu governo, uma polêmica se coloca: ele foi
o pai dos pobres ou teve que ceder às exigências dos trabalhadores? Em outras palavras: o go-
verno varguista concedeu como um grande pai os direitos da classe trabalhadora ou esta clas-
se conquistou, paulatinamente, os direitos adquiridos durante esse governo? Os trabalhadores e
sindicatos não passavam de marionetes? Vejamos:
Não há como negar os diversos instrumentos utilizados pelo governo visando conquistar as
mentes e corações dos cidadãos daquele tempo. O fato de falar no rádio iniciando com o termo
“trabalhadores do Brasil...”, o uso de imagens em tamanhos enormes, as faixas que muitos traba-
lhadores expunham em desfiles oficiais, a atuação do DIP , etc, isso não pode invalidar a luta dos
trabalhadores e colocá-los numa situação completamente subalterna à ação estatal. Certamente
o Estado tentou (e em alguns casos até mesmo conseguiu) cooptar os trabalhadores, que afinal
lutavam por condições dignas de trabalho. A luta da classe trabalhadora ou o trabalhismo, a nos-
so ver, não pode ser subjugado a um simples teatro de marionetes.
Visto desse modo, vale destacar para vocês que o medo - por parte do governo - relativo ao
crescimento de adeptos ao ideal comunista era grande, dado que o temor era de o Partido Co-
munista tornar-se majoritário entre os trabalhadores. Houve sim pressão dos trabalhadores que,
na visão do governo, deveriam se comportar como “filhos” obedientes. De todo modo, e feita a
nossa consideração, chamamos a atenção para o fato de que muitos trabalhadores reconheciam
esses esforços do governo e se sentiram satisfeitos com os avanços alcançados até o momento.
Chamamos a sua atenção para a questão de não minimizarmos a atuação dos sindicatos como
meros pelegos da ação estatal.
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UAB/Unimontes - 6º Período
Todavia, como na passeata que observamos nessa figura, o “trabalhador também tem o seu
lugar no Estado Novo” aponta para um Estado centralista e ditatorial. A ideia de um sindicalis-
mo corporativista advém da influência da Carta Del Lavoro italiana, que organizava as categorias
profissionais em sindicatos classistas, sendo proibida a livre iniciativa e outros sindicatos que não
aqueles reconhecidos pelo Estado.
Como nos informa Pomar, os sindicatos de uma mesma categoria eram representados por
uma federação no nível do Estado. Em nível nacional, essas federações reuniam-se em confede-
rações. Os trabalhadores deixaram, nesse período, de se sustentarem por meio de mensalidades
pagas por seus associados. O próprio governo sistematizou tal situação ao cobrar o imposto sin-
dical “descontada em folha de pagamento dos trabalhadores, sindicalizados ou não”. Todavia,
os sindicatos não tinham autonomia, pois, além de dependentes financeiramente do Estado, ti-
nham que endereçar suas reivindicações ao Ministério do Trabalho. As negociações coletivas só
poderiam ocorrer entre patrão e empregado uma vez ao ano (data-base) e cabia ao Ministério
do Trabalho arbitrar os conflitos, podendo decidir em favor de uma ou de outra parte, usando o
instrumento chamado de dissídio coletivo (POMAR, 1999, p.43-4).
Nesse panorama o nosso sindicalismo foi ganhando força e, ao mesmo tempo, uma política
industrial foi sendo delineada. Vejamos no item seguinte.
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História - História do Brasil República I
Segundo Flávio Versiani e Wilson Suzigan (s.d), foi devido à crise do setor agrícola e exporta-
dor ainda na década de 1920 que o processo de industrialização ganhou força. Em suas palavras:
67
UAB/Unimontes - 6º Período
68
História - História do Brasil República I
69
UAB/Unimontes - 6º Período
Atividades irmão Benjamim Vargas (Bejo) como chefe de no conservador que podia contar com o apoio
Leia atentamente o
Polícia, deixando insatisfeitos os militares, pois até mesmo da UDN.
item 4.5: A crise do o Bejo vivia em jogatinas, boates e cassinos, Podemos destacar para esse momento de
modelo autoritário: envergonhando, desse modo, as forças arma- nossa história a construção de uma constitui-
o fim da Era Vargas e das. Esse fato foi o pretexto usado pelos mili- ção que praticamente não teve influência dire-
busque debater com os tares para tirar Getúlio do poder em 29 de ou- ta do Executivo. A constituição de 1946 tinha
seus colegas no fórum
da disciplina:
tubro de 1945. Desse modo, podemos afirmar os seguintes dispositivos:
- Em nome de quais que o Estado Novo chegava ao fim. Soma-se a • Necessidade de garantir os direitos indivi-
interesses o presidente tudo isso o fato de Vargas ter lançado uma lei duais.
Roosevelt veio visitar o que visava a proteger a economia nacional da • Estabelecer autonomia, de modo amplo,
Brasil? ação dos monopólios (Lei Antitruste). dos diversos municípios do país.
- Qual e como foi a atu-
ação dos militares no
Os trabalhos na Constituinte e no Proces- • Estabelecimento do direito de greve e da
desfecho da Era Vargas so de Eleição foram encaminhados e, segundo legislação trabalhista Varguista.
em 1945? FARIA (2009), candidataram-se Eurico Gaspar • Estabelecer que os trabalhadores pode-
Dutra (apoiado pelo PTB e pelo PSD) vitorio- riam participar do lucro das empresas (FA-
so com 55% dos votos, o Brigadeiro Eduardo RIA, 2009, p.283).
Gomes (apoiado pela UDN) que chegou à Após o mandato de Dutra, Vargas voltou
disputa com 35% dos votos e, por fim, Iedo ao poder eleito pelo povo, cumprindo um
Fiuza (apoiado pelo PCB) que obteve 10% mandato de 1951 a 1954. O mandato que seria
dos votos. de 5 anos foi interrompido pelo próprio Var-
Desse modo, as luzes do Estado Novo fo- gas, quando ele suicidou-se em 24 de agosto
ram apagadas. Eurico Gaspar Dutra inicia novo de 1954. Café Filho, seu vice, terminou o man-
governo de 1946 a 1951. Constituiu um gover- dato até 1955.
▲ Esse assunto será tratado diretamente em outra disciplina, qual seja, História do Brasil Repú-
Figura 45: blica II. Apenas desejamos comentar brevemente que João Goulart, o Ministro do Trabalho de
Fonte: http://www. Vargas, aprovou um aumento salarial de 100% aos trabalhadores, decisão mantida por Vargas,
opopularns.com.br/ mas a demissão de Goulart foi inadiável. Ainda, há que se ressaltar o contexto ligado à tentativa de
upload/noticias/getulio_ assassinado de Carlos Lacerda (jornalista e político ligado à UDN). Lacerda sobreviveu, mas um major
vargas.jpg Acesso em
13/04/2011. da Aeronáutica (Rubens Vaz) que o acompanhou faleceu. O chefe da segurança de Getúlio foi acusa-
do e indiretamente o presidente. De diversos setores da sociedade vinham pressão para que Vargas
renunciasse ao poder. Ele não renunciou, mas matou-se em 24 de agosto de 1954.
70
História - História do Brasil República I
Referências
ALDÉ, Lorenzo. 120 anos de República: por onde ela anda? Revista de História da Biblioteca
Nacional. Rio de Janeiro, ano 5, nº 50, novembro/2009, p.16-23.
DULCI, Otávio Soares. Política e Recuperação Econômica em Minas Gerais. Belo Horizonte:
Editora da UFMG, 1999.
FARIA, Ricardo de Moura; MIRANDA, Mônica Liz e CAMPOS, Helena Guimarães. Estudos de Histó-
ria. Vol. 3. São Paulo: FTD, 2009.
MARINS, Paulo César Garcez. Habitação e vizinhança: limites da privacidade no surgimento das
Metrópoles brasileiras. In: SEVCENKO, Nicolau (org). História da vida privada no Brasil. Repú-
blica: da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Cia das Letras, 1998.
RODRIGUES, Leôncio Martins. O PCB: Os dirigentes e a organização. In: In: FAUSTO, Boris (dir). His-
tória Geral da Civilização Brasileira, III. O Brasil Republicano: Sociedade e Política (1930-1964).
3. ed. Rio de Janeiro: Bertrant Brasil, 2004, p.363-443.
SAES, Décio A. M. Classe Média e Política no Brasil. In: FAUSTO, Boris (dir). História Geral da Civi-
lização Brasileira, III. O Brasil Republicano: Sociedade e Política (1930-1964). 3 ed. Rio de Janei-
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VERSIANI, Flávio & SUZIGAN, Wilson. O processo brasileiro de industrialização: uma visão ge-
ral.
71
UAB/Unimontes - 6º Período
Vídeos
Veja abaixo indicação de filmes relacionados ao conteúdo dessa disciplina. Como sabemos,
o filme é uma criação livre e difere-se da história, todavia, contribui para que possamos entender
melhor o que as pessoas pensam e querem “rememorar” sobre o passado de nossa sociedade.
Aproveitem os filmes! Bom cinema!
◄Figura 46:
Fonte: http://www.
adorocinema.com/filmes/
guerra-de-canudos/
Sinopse: Em 1893, Antônio Conselheiro (um monarquista assumido) e seus seguidores co-
meçam a tornar um simples movimento em algo grande demais para a República, que acaba-
ra de ser proclamada e decidira por enviar vários destacamentos militares para destruí-los. Os
seguidores de Antônio Conselheiro apenas defendiam seus lares, mas a nova ordem não podia
aceitar que humildes moradores do sertão da Bahia desafiassem a República. Assim, em 1897,
esforços são reunidos para destruir os sertanejos. Estes fatos são vistos pela ótica de uma família,
que tem opiniões conflitantes sobre Conselheiro.
72
História - História do Brasil República I
Figura 49
Fonte: http://www.adoro-
cinema.com/filmes/olga/
trailers-e-imagens/#35189
Sinopse: Olga Benário (Camila Morgado) é uma militante comunista desde jovem. Persegui-
da pela polícia, foge para Moscou, onde faz treinamento militar. Lá ela é encarregada de acom-
panhar Luís Carlos Prestes (Caco Ciocler) ao Brasil para liderar a Intentona Comunista de 1935,
apaixonando-se por ele na viagem. Com o fracasso da revolução, Olga é presa com Prestes. Grá-
vida de 7 meses, é deportada pelo governo Vargas para a Alemanha nazista e tem sua filha Anita
Leocádia na prisão. Afastada da filha, Olga é então enviada para o campo de concentração de
Ravensbrück.
73
UAB/Unimontes - 6º Período
Além de sugerirmos os filmes A Guerra de Canudos e Olga, desejamos que você explore a
internet e, em especial, o site “domínio público” e baixe os filmes documentários disponibiliza-
dos pelo Ministério da Educação do Brasil .
O link é: http://www.dominiopublico.gov.br.
Após abrir o site faça a busca selecionando pelo menos os campos no menu lateral esquerdo:
Tipo de mídia: ''selecione vídeo"
Categoria: ''TV Escola -História''
Sugerimos para você alguns deles que você poderá baixar gratuitamente do referido site.
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História - História do Brasil República I
Resumo
Chegamos ao final de nossa disciplina. Nossa tarefa foi a de montar um quebra-cabeça a
partir de nosso objetivo maior. Eu diria que, em vez de resumo da disciplina, chamaríamos esse
item de “A cara do nosso quebra-cabeça”.
Certamente você observou que o nosso sentes em seu tempo são apreendidos pelo
objetivo foi entabular um diálogo a respeito historiador e socializados nas pesquisas, nos
da conformação de nossa história no período grupos de estudos, nas rodas de conversas,
que se estende de 1889 a 1945. Nessa cons- nas salas de aulas presencial e virtual, enfim,
trução e, até mesmo desconstrução, fomos para parafrasear Milton Nascimento, nos “bai-
observando “as cores” de nosso passado, além les da vida”. Buscando apreender essa dança
de observar que, ao construir a história, “peças de nossa história no período de 1889 a 1945 é
ainda ficam espalhadas pelo chão”. que esse material didático tem sentido de ser.
Penso que as peças do chão representam o A tessitura do encaixe das peças, do
nosso papel de buscar encaixá-las e compreen- próprio material de tais peças de nosso que-
dê-las num processo histórico de nosso viver. bra-cabeças e o modo como o compreen-
Você estudou diversas peças que se en- demos e o interpretamos é tarefa que você,
caixaram no quebra-cabeças que os historiado- estudante de História da UAB/ Unimontes,
res vivem montando ao longo do tempo. Você poderá ocupar/construir ao discutir futura-
viu como a peça do coronelismo, os movimentos mente com os seus alunos.
sociais, o autoritarismo, as revoltas no campo, a Para tanto, durante o período de estudo
cultura política e tantas outras, foram se encai- dessa disciplina, você discutiu na primeira uni-
xando no fazer de nossa história. Sabemos que dade “A República no Brasil: do início à conso-
ainda existem peças a serem encaixadas. lidação” como os diferentes diálogos do poder
Podemos afirmar que o modo pelo qual ocorreram no Brasil, analisou o questionamen-
os diferentes sujeitos sociais se fizeram pre- to acerca do povo e de sua atuação na arena
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UAB/Unimontes - 6º Período
política, bem como a discussão sobre a formação fundamental, quando operaram mudanças no
e a consolidação da Primeira República brasileira. país capazes de marcarem a nossa História.
A segunda unidade desse caderno didá- Na quarta unidade intitulada “O Gover-
tico trouxe importantes discussões para a sua no de Vargas entre 1930 e 1945”, estudamos
formação, no que tange ao “O coronelismo e a ascensão de Vargas ao poder enfatizando o
a República Velha”, dando vazão a diferentes governo constitucional e alguns aspectos do
questões sobre a atuação dos coronéis, sobre Estado Novo. Falamos ainda sobre a política
a sociedade que se formou no Brasil na época industrial brasileira e a crise do modelo auto-
de grande produção do café e da borracha, ritário levado a cabo no período em questão.
bem como os ideais modernos veiculados no Todos esses capítulos certamente foram
Brasil na belle époque. associados a uma rotina de estudo na qual
Durante a terceira unidade estudamos “A você não pode deixar de participar dos fóruns,
transição para o Governo Vargas”, debruçamos de visitar sites das universidades e assistir aos
sobre as contestações sociais desse período, filmes sugeridos. Essas ações ampliarão o seu
as revoltas urbanas, os movimentos operários olhar crítico, tão importante ao professor de
e destacamos a década de 20, com o período História/historiador. Bom estudo!
76
História - História do Brasil República I
Referências
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UAB/Unimontes - 6º Período
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VILLA, Marco Antonio. Canudos - o povo da terra. São Paulo: Ática, 1995.
80
História - História do Brasil República I
Atividades de
Aprendizagem - AA
1) Analise a figura.
Com base na figura e no material didático que discute o contexto histórico da Primeira Repúbli-
ca, assinale a alternativa CORRETA.
a. ( ) Esta figura possui uma representação pouco valorizada em nossa história, pois repete
a ideia de que a realidade social brasileira permanece monarquista.
b. ( ) Esta figura demonstra a participação popular no evento da Proclamação da Repúbli-
ca, reforçando exatamente esse ideal.
c. ( ) Esta é uma figura que demonstra o olhar dos Republicanos sobre o evento da Procla-
mação, buscando valorizar a participação das forças armadas nesse evento político.
d. ( ) Esta figura aponta para a ideologia neomarxista apresentada na República Velha, no-
tadamente com Deodoro da Fonseca.
a. ( ) Nos primeiros tempos podemos observar que a população civil logo se rebelou ao
poder republicano, criando uma situação insustentável no país, como é o caso da Revolu-
ção de 30.
b. ( ) Nos primeiros tempos predominaram os militares, como é o caso de Deodoro e Floria-
no, mas, a partir de Prudente de Morais, instituiu-se uma República civil.
c. ( ) Houve uma descentralização dos poderes, das atribuições e dos direitos dos Estados,
que ganharam autonomia.
d. ( ) A Constituição Republicana de 1891 adotou o modelo da República Federativa, isto é,
o Brasil foi dividido em vários Estados, reunidos numa Federação.
81
UAB/Unimontes - 6º Período
3) Leia o texto:
Esse trecho é parte constituinte de literatura de Cordel comum em Pernambuco, Paraíba e Ceará.
Sobre o conteúdo e o contexto histórico retratado no cordel, é INCORRETO afirmar que
a. ( ) Lampião era temido e suas façanhas eram contadas e recontadas pelo sertão.
b. ( ) Lampião foi o único cangaceiro de que podemos comprovar a sua existência histórica.
c. ( ) Lampião teve as suas façanhas refletidas pelo medo e pela admiração da mentalidade
popular.
d. ( ) Lampião e seu bando conheciam muito bem a caatinga.
4) Analise a figura.
A figura representa Marianne, símbolo da República Francesa, representada por Eugène Dela-
croix em “A liberdade Guiando o Povo”. A respeito dessa figura e o uso de sua representação no
Brasil podemos afirmar que
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História - História do Brasil República I
5) Analise a figura.
8) Analise a figura.
9) Analise a figura.
84
História - História do Brasil República I
A respeito da figura, bem como os seus dizeres e representações, é INCORRETO afirmar que
Fonte: http://1.
bp.blogspot.
com/_ePjIFGip98A/
R5ldzyGmPxI/
AAAAAAAAK8M/
cZjAibGl6w8/S150/
portinari.JPG Acesso
em 30/04/2011.
No início do século XX, a situação dos indivíduos que viviam no campo não era nada boa e
quase sempre migravam, como demonstra a pintura. A esse respeito é INCORRETO afirmar que
a. ( ) as regiões brasileiras, do norte ao sul, receberam igualmente as benesses do progres-
so e da ordem, os quais chegaram até as populações rurais.
b. ( ) algumas regiões progrediam muito, mas amplas extensões no campo eram extrema-
mente pobres com populações que ficaram à margem do progresso.
c. ( ) quase todos os estados do Nordeste eram paupérrimos na área do campo e a popula-
ção, em sua grande maioria, servia de mão-de-obra a grandes proprietários.
d. ( ) a região nordestina pode observar o processo de migração e empobrecimento de sua
população rural durante a República Velha.
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