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ail Bakhtin O HOMEM AO | ESPELHO copyright 9 das autoras e dos autores pate cesta cre pedeserepre qulevacasemcortgosdrekis eal Bakstin (© homem ao espelho. Apontamentos dos anes 1949. ‘S50 Cats: Pedro & Jodo Edtores, 2019. 10p. ISBN 97885-7993 6041 1. Flosoltadalinguegem.2. Apontamentos de Bakhy tin. 3 Singularieade, 4. Autores. Titulo. cpo- 410, ‘capa: Andersen Bianch! com arte de Paulo Guillerme “Tenorio; releitura da obra La reproduction interite, de René Magrtte Edltores: Pedro Amaro de Moura Brito & Jose Rodrige de Moura Brito SUMARIO Apresentagio Augusto Ponzio Em busca de uma possivel imagem amorosa de si e do outro ‘Marisol Barenco de Mello ‘Maria Leticia Miranda APONTAMENTOS DOS ANOS 1940 ‘A violéncia da palavra e da imagem em auséncia “O homem ao espelho” Sobre as questdes de autoconsciéncia e de autoavaliagao... A visio do outro, Palavra e imagem em Mikhail Bakhtin Susan Petvilli Os autores ¢ tradutores 37 51 53 67 105 APRESENTACAO! Augusto Ponzio No Corposcritio, n, 5, 2004, revista dirigida por mim e editada pela Edizione dal Sud (Bari, Italia), publicamos, na traducio itatiana de Francesca Rodolfo, alguns dos “Apontamentos. dos anos Quarenta” de Mikhail M. Bakhtin (1895-1975), extraidos de M, M. Bakhtin, Sobranie socinenij (Obras completas), vol. 5 (Moscou, Rusekie slovari). Trata-se de: jorica, v meru svoej zivosti” ("A a, por ser falsa”] (p. 63-70), assim tulado pelos curadores S. G. Boéarov, V.V. KotZinov (¢f Alii), da edigio russa, recuperando as primeiras palavras com as quais inicia o texto. Nés 0 intitulamos "A. violéncia da palayra e a imagem em auséncia’, 2. “Celok uzerkala” [“Ohomem ao espelho"] (p. 71), escrito no final de 1943 e, também esse, assim intitulado pelos curadores com a repeticao do inicio do texto assim como fizemos nés. “roprosam samosoznanija i samoocenki” [’Autoconsciéncia eautoavaliagio”|(p. 72- 79), escrito na primeira metade dos anos quarenta, também esse com 0 titulo dado etd pelos curadores recuperando o inicio do texto, tal qual fizemos nés. Dos trés textos, assinalamos uma tradugio [italiana] precedente ao primeiro texto, feita por Stefania Sini, ¢ aos outros do Margherita De Michiel em Kam poesia e filosofia, n. 15, 2000, p. 43-51 25. No vol. 21 (ano XXVIII) da co “Athanor. — Semiotica, s Letteratura’, intitulado L lla pitiura [A imagem na ica e na pintura] e ado por Susan Petil, Marisol Bazenco ‘de Mello, publicon, junto a Jader Janer Moreira Lopes, um ensaio com o titulo “TI cronotopo nelle immagini della poverti in Gogol’ e Dostoevskij” [O cronotopo nas imagens da pobreza em Gégel e Dostoiéyski] (p. 167-188), onde fazem referéncia a esses textos de Bakhtin, particularmente ao “Homem 20 espelho” ¢ a “Imagem em auséncia” para comentar, em relagao ao tema da pobreza, O evidenciando nesses as diferencas, sobretu respeito da relacio e de Susan Petrilli, “ rola e immagine in Michail Bachtin ‘outro: palavra e imagem em Mik @. Bakhtin dos anos 1940], em particular na terceira parte de seu texto que tem o titulo “L"immagine in assenza’ nel quella letteraria” [A na visio cognitiva € conoscitiva e anche i “imagem em ausé também na literdi 422-432), Para Bakhtin, a violéncia da palavra estana tendéncia 4 identidade, 2 univocidade, a unilateralidade, & unidirecionalidade. Uma obra, também dos mesmos anos dos "Apontamentos”, € a monografia sobre ada sé em 1965): os anos 1940, anos de continuagio do longo exilio de Bakhtin iniciado em 1929 - 0 mesmo ano da publicagao do seu primeiro livro, a olbra sobre © de sua longa nenhuma_ palavra rressoa), mas no enlar (0 calar fala, escuta e responds, como Bakhtin diz nos “Apontamentos dos anos 1970-71" nesse caso, rico de meditagées, de leituras, um ealar, enriquecida do interrupta ‘mento 6 uma expresséo primeira publicagio. yn A palavra arrogante, que se arroga adesdes, que distingue, absolutiza, identifica, classifica, exclui, que impie um unico sentido, Bakhtin, no Rabelais, exalta a fusdo da ode e da injiria - como faz também nesses apontamentos - fusio propria das formas da cultura popular da Idade Média ¢ do Renascim © que permanece na Jinguagem da praca” exalta a ambivaléncia, 0 duplo sentido, 0 “camavalesco”, © riso que desdramatiza, que tidiculariza 0 sério, que identifica plurivaléncia e plurivocidade onde se desejavam impor significados unicos valores absoluios. Bakhtin coloca em evidéncia que nao s6 na linguagem cognitiva, que procede por conceitos, por abstragdes, © niio sé na linguagem ideologicamente interessada no lusdo, na depreciagao, hi, na tendéncia a reduzir 0 objeto, a perda da singularidade, da irrepetibilidade, da insubstituibilidade. Isso acontece também na linguagem artista, na arte verbal, na eseritura literaria. A imagem literdria forga 0 personagem de que fala a coincidir, deuma ver, por todas, consigo mesmo, a ser definido, determinado, classificado, identificado. Bakhtin contrapde 0 “acabamento” do therdi em Gégol ao inacabamento do he Dostoiévski, E mostra que essa contrapo jé tealizada como projeto por Dostoiévs 0 contraposigao entre Akakij Akakevié, de O Cimpote, de Gogol e Makar Devuskin, de Gente Pobre, de Dostoiévski, contraposigio no expressa pela boca de Dostoiévski, mas pela boca do seu proprio personagem Makar que, ‘em uma de suas cartas a sua dileta Varen’ka, Iamenta 0 modo pelo qual um seu igual, um. empregado como ele, tenha sido tratado no conto de Gogol. Poderia ser possivel di bras de Bakhti «link ja realizado pelo proprio Bakhtin quando, sioiéuski de 1963, deriva histéria do género romance - que, como observam Marisol Barenco de Mello e Jader Janer Moreira Lopes na conclusio do ensaio no volume da coletania “Athanor", organizada tm mais forga quanto oximas estejam das esferas da cultura joram separadas © esquecidas, como morte-vida-tiso © outras que aprendi na pritica na vida” tias formas de compreensio lo hurnano, na arte ena vida. % ats ciande | Ar 4 8 7, pamem of Vibes so carga Referéncias BACHTIN, M. M. Dagli appunti degli anni Quaranta de F. Rodolfo, a cura de A. Ponzio. In: i dal Sud, 2004. ‘Obras completas dos anos 1960. (Org, 5. G. Boaray, V.V. ‘Augusto Ponzio. 1.8. XXVILL, 21) Em busca de uma possivel imagem amorosa de si e do outro Marisol Bareitco de Mello Maria Leticia Miranda Qs Apontamentos dos anos 1940 e sua tradugio TA alguns anos, em uma obra bakhtiniana de autores ingleses, Bakhtin. Na época, obra do Circulo, indagamos sobre o texto e, no. encontrando ves ie nao havia tradugao do mesmo para o portugués. Como tudo aquilo que importa na vida, por caso o texto chegou em nossas miios, em abril de 2017, quando faziamos uma ligio na generosamente nos recebeu, conversar sobre 0 cro Bakhtin, Em sua cas livros tomam as uma referéncia a um trabalho que na sobre as imagens da pobreza iévski, fessor levantou- revista, ‘No trem, no percurso Bari-Lecce, alta o texto em italiano, e imediatamente nos colocamos a tarefa da tradugio, para que todas e todos pudessem partilhar desse alargamento. Com todos os problemas que porta um trabalho de tradugdo, principalmente pela responsabilidade da palavra reportada ¢ seus desafios, demoramos um pouco para tomarmos as decisdes, nés duas ¢ toda uma equipe que foi mobilizada para essa tarefa Inicialmente traduzimos, com a participagao da professora Cecilia Maculan Adum, do LABESTRAD? da UFF, do italiano para o portugués. A medida em que adentravamos 0 exto, com suas aberturas, solicitavamos que a leitura coletiva do texto em italiano ¢ em fosse cotejada leitura do original ,, pela professora Ekaterina Vélkova que generosamente _trabalhou conosco, Sua consultoria - em encontros 1 Tratase da revista cxjo original agora tradluzi Dagti aypunti degli Qu trechos, a abertura de enunciados enigmaticos para nés, que ndo compartilhamos ‘os contextos russos) e principalmente uma leitura ampliada e plural, O texto que tomamos como base para traducéo 6 aquele publicado por Augusto Ponzio no niimero cinco da revista Corposeritto, traduzido por Francesca Rodolfo do original russo contido em M. M. Bakhtin, Sobranie socinenij (Obras completas), vol. 5 (Moscou, Russkie slovari)’. Esse original ve lidos em voz alta por Ekaterina ico, em um trabalho de cotejo e plural das duas versées E essa composigao aberta e plural que trazemos a puiblico nese presente livro Assumimos a problemitica da t riscos, em nome de uma _necesséria publicizagio dessa parte da obra de Bakhtin que nao ha a fidelidade a um sxto original”, mas um trabalho de jenta dos sentidos e de escritura sobre . A leitura e traducao do italiano seguia-se rgunta: “mas 0 que Bakl em e para nds, abria-se a discussie “como O resultado ¢ 0 a outras obres ¢ afinal afigurade, camo 0 texto {que ands faz sentido, Uma traducao possivel. Os Apontamentos dos anos 1940 na obra de Bakhtin ‘Além das questies de elaboracao de uma tradugio, esperamos o ano de 2019 para publicarmos esse texto em portugués, pois comemoramos 100 anos do artigo programatico de Bakhtin, Arte e responsabilidade, publicado no almanaque Den’ iskusstoa (Dia da arte] em Nevel, 1919 (13 de setembro, p.3-4). O artigo fa sido reimpresso em Voprosak Mteratury [Questions of literature] n.6, em 1977 (p.307-308), Como um conjunto ao mesmo tempo aberto € orgénico, a obra de Bakhtin enconisa jé nesse primeiro artigo sua unidade: arte ¢ vida no so a mesma coisa, mas encontramn-se indissocidveis na unidade da minha responsabilidade (BAKHTIN, 2011, p. XXXIV). ¥.o proprio Bakhtin que nos diz, em tantas partes importantes de sia obra, que o sentido de um texto se abre na centelha que se produuz no encontro com outro sentido, outro texto, outro enunciado. Assim entio que palavra nova - jé que nunca antes ¢ acendeu em nés centelhas de estilistico-composicional de um texto escrito em forma de dissertagio, com suas normas gramaticais. Sio apontamentos justamente porque sao escritos de notas, pensamentos vivos de Bakhtin tornados acessiveis a nds pela via da sua escrita, A eles falta acabamento estilfstico-gramatical, mas excede, pela mesma fazo, 0 pensamento acabado de um autor que disse 0 que precisava ser dito e pontuou. Pelo seu carater nao oficial, justamente, formam, enunciados em aberto, pendentes de predicagdo, sem uma terminagio. Pequenos marcos expressivos, colhidos ne momento, nos fazem por um instante estar ao lado de Bakhtin, enquanto pensava e tomava notas para si, para os seus textos, e agora para nds. Come dissemos, esse conjunto de trés textos que foram reunidos sob 0 titulo Aponiantentos os anos quarenta nio compoem um texto sequential, mas foram escritos na mesma época yoximada, que deduzimos ser 0 final de 1943, um deles vem assim datado. Na nota fa do fragmento O home ao espetho, os adores da coletaneat esclarecem que a ita de acordo com as anotagées no mesmo cademo e com 0 depoi cademo, hé um, de um livro pensamertos e sentimentos de J. Swift. Que retagao {eria feito Bakhtin entre a primeira parte, em que fala da palavra violenta proferica as costas do personagem, com a obra de Jonathan Swit, & tema digno de pesquisa. “Apesar de nao comporem uma sequéncia, por estarem no mesmo caderno (e com 0 ‘mesmo lapis!) referem-se a reflexes proximas, relacionadas - aliés como toda a obra de Bakhtin. © primeiro texto foca principalmente no tema da palavra em auséncia, da palavra violenia que 6 proferida & revelia do outro, portanto um texto de apontamentos sobre a relagio entre a palavra do auitor e a imagem da personagem, um texto de apontamentos sobre a alteridade e os processos de mortificagio & eificagao, Os dois seguintes, por sua vez, tanto © homer ao espetho quanto Sobre as questies de autoconsciéncia ¢ de automoaliagio... sie apontamentos sobre as possibilidades das relagdes de alteridade de um tinico consigo mesmo, ou melhor dizendo, sobre a complexidade de uma relago de um autor consigo mesmo. Alteridade essa que nao compreendemos como problema, central na pesquisa de Bakhtin, e que muitas vezes achatamos, tratamos em referéncia a0 ser ou a0 eu, sem adentrar apropriadamente na filoséfica do outra, como dizia Blan aquele outro totalmente fora e sobre como um “Is” onde termina todo © (BLANCHOT, 2015, p. 67). Bakhtin ia a busea 1 foda a sua vida, 18 Todos os tr@s textos, dessa forma, tragam linhas que sio possiveis de serem encontradas em toda a obra bakhtiniana, avizinhando seus textos diversos na problemitica que, juntos, relevam. Porém, se podemos encontrar esses apontamentos jé presentes e distribuidos em toda a obra de Bakhtin, por que seria relevante ‘os tomarmos em conta como textos - dada a iterancia de algumas reflexdes? E justamente como textos outros que esses faze tribuluminescer a centelha do sentido, alargando a leitura da obra de Bakhtin. Pelo efeito dese aparecimento em outro texto, faz ‘como «ue recontar as escrituras de Bakhtin. O que vemos é 0 proprio processo de estudo do autor, sua metodologia de filosofar, sua forma propria de criar. Por isso esses apontamentos so preciosos. Mas também demandam aprofundamentos, demoras, cotejos, pesquisas, © principalmente idas € vindas aos textos j4 traduzidos de Bakhtin para 0 portugués e nossas compreensies do todo da obra, Tudo jogo, quando chegaram essas inca antes lidas por nés. ses apontamentos, como disseo professor realizados em seus anos de exilio® - o prpriamente dito de Baknin no ano de 1936, imagem do outro e da imagem de Hoje, esteé 0 problema nodal de toda a filosofia, Comesar pela anilise da posigio primitiva da ‘A complexidade dese ‘dade aparente). Os mo pista 0 que os jores apontoram, na nota de fim referente a0 texto, relaci com 0 fragmento intitulado em portugués como Esha de antropologia filosdfica (nos Aponiumentos dos anos 1970-71). Assim. Minha imagem de mim mesmo. Qual é a indole da concepgéo de do meu eu em sen todo? Fm que essencialmente A imagem do ew vivenclamento, a sensagio, ser dessa imagem. Qual é a composicie dessa Imagem (.... © que compreenda por eu anos de Intensa prods rmeditagio fara dos centros de preduyio cu cos, de onde ainda esteve excluide, utro-para: imediatamente do outro (BAKIIN, © que em mim € dado {que € dado apenas através 382), Retomando a relagio que esti na base do texto Para uma filsofie do ato resporséoel (2010), 0 problema da consciéncia daquele que enuncia e, dessa forma, cria uma imagem do humano - na vida ou na arte - 0 problema da imagem do ‘outro ou desi mesmo, em suma, Bakhtin aponta 1a ética como o problema central de toda a flosfia. Se pudermos pensar no que seria o desenvolvimento de seu prefacio & coletinea de suas obras, quando diz “um s6 tema em diferentes etapas de seu desenvolvimento dé lade a coletdnea sugerida de meus artigos”, lade dos escorgos © no avizinhamento do queesti distante na cu a alteridade, tomada cenunciado humat a0 humano, Uma imagens do humano 0 em Um golpe e tanto na filosofia mesma, ocupada do Ser, do mesmo, do °, ocupada de ontologias: a problemética nodal ponto de vista do légico, cirigidoe guagem, criando ica lado er) ° organizadores da modelo de anélise desse problema chave. O so as condighes da na leitura dos sénea russa, fornece um um outro, sea a mesmo como iguracao. No primeiro caso, as reflexées de Bakhtin colocam em questao as formas de reportar 0 outro - em todos os campos discursivos da cultura, incluindo a arte - em uma imagem de humano, que se criada a revelia esse, ser expressive, falante & 0, representa uma violéncia da lar sobre um outro & mortificar © Jago de trabalho sobre aos processos de atitocon presentes nos discursos politicos, seja em relacio aos processos de autoavaliacio, presentes de modo tio simplificado no campo educacional, por ja em relacio aos provessos arios e outros - como 0 autorretrato, a autobiografia, ‘Também nos campos das ciéncias humanas em quea relagio do conhecimento assume o lugar autoral © interveniente do observador - —sujeito seente - na realidade observada - urgentemente se tema aparece como base filoséfica nos ros textos e textualmente no Autor ¢ a, na stibsegio personage. © ao espelho ali & problematizado de Jo que chegamos a duvidar da possibilidade da eriacio da imagem de si, de um autorretrato, Bakhtin chega a dizer que s6 em face a um “autor de autoridade para mim’, w ta quee fizesse nosso retrato, ou seja, vim outro, poderiamos ter uma Imagem externa de nés mesmos: “ai temos realmente uma janela para o mundo ‘onde ew nunca vivo, efetivamente, uma visio de mim no mundo do outro, pelos olhos de um outro individuo puro e integral ( (BAK p. 32). O tema do espelho anotagdo, citando Cassirer, na margem da pagina do caderno onde escreve os ap notas de fim da edigao russa: mentos, Rissa citagio foi lida por nds nas Paracelsus diz. que o homem ‘por um lado nao é nada para ele a nao ser reflex da imagem no espetho, formado por quatro elementos e assim como esse do espelho nao pode dar a ninguém nogdo sobre a sua esséncia, sobre o que cle & porque ele esti © Spet. GG. La form: v sul teri Edizione, 2015 invoma dolla parole. Studi & Jumboldt. Campobasso: Diogene jkantisa, oc rede 2 sozinho If como uma imagem morta, assim 0 hhomem existe em si mesmo ¢ nao é possivel ladoa Ko e por isso em concentragao co mundo’ Principalmente nas reformu! iévski, que constam no da poética de Dostoiéosti, en Apontamenttos dos arts 1940 em forma de textos, de fragmentos ¢ de reflexdes desenvolvicas. Da primeira parte, A violéncia da palavra ¢ a imagem em ustncia on seja, da critica As imagens humana e encontramos no capitulo A per enfomue pelo anetor na obra de Dostoi paginas 66 67, a maioria dessas reflexdes, algumas ats literalmente transcritas, como voc’ todinho aqui, em vocé nao hd ma no hd mais 0 que dizer a sou respeito”, referindo-se a Makar Dievushkin, personagem de Gente Pobre, também analisada por nés no trabalho I cronotopo nelle immagini della povertd ntramos esses imagens d pobreza em Gégol e Dostoiévski] (PETRILU, 2018, p. todo aqui, ¢ ndo em nenhuma outra parte: se ele est aqui até o fim, esta morto e vocd pode 24 jet para um possivel consumo”, jo-se aos personagens da obra de Gogo Baki encontra, nessas paginas do Problema lugar para © desen} asicamente elogiando a de Dostoiévshi de destruir, atrav outros sobre si, qui s¢, como consta dessas pig lade de dar acaban vive, abordagem como a falsa e mentirosa, humano do home espelho aparecera ao longo de sua obra em muitas partes, mas gostariamos de ressaltar duas, ambas dos iltimos escritos de Bakhtin nos anos 1970, em que se entrelagam os dois textos finais dessa tradugdo. A pi é pardgrafo final da sua Resposta @ redacdo da revista O Novo Mundo, de 1970, para 2011, p. 359-366). Aqui a analogia do espelho surge referindo-se relagao entre a compreenséo das dimensdes das épocas e das culturas e a cultura especifica do leitor, em um Processo. de compreensaoresponsiva, A necessidade da distancia para a comp afizmada em seu car @ é colocada nesse Isso porque © proprio homem no consegue pereeber de verdade e assimilar integralmente ptépria imagem © espelho ou foto © ajudario, Imagem extema pode ser vista @ entendi apenas por outras pessoas, gracas & dist espacial © 20 fato de serem otras (BAKETIN, 2011, p. 365-366), ‘Como vemos, Bakhtin afirma ai quarenta anos, a dificuldade deo es seu admirador a sua imagem externa, A Isidade da imagem de si ao espelho: eit niiv de vista sobre mim mesmo de fora, ma aproximagéio da minke propria 7. Dos meus olhos olhant 05 olftos resente tradugo). intitulado Eshogos de antropotogia se articula a um apontamento de Bakhtin na reformulagdo de Dostoiévski. Na pi do Estética da eringio verbal, nos Apo «ios anos 1970-71, Bakhtin escreve: A composicfo heterogénea ‘minha imagem. ‘que medica € possivel unificar © en @ 0 ‘em uma imager neutra le homem. escrevem, na nota introdutéria do texto 0 homem ao espetho que ao reformular, por volta dos anos 1960-1961 0 livro sobre Dostoigvskl, Bakhtin planej roduvir esse fragmento, 26 Dizem que nas margens do exemplar autoral dos Problemas da obra de Dostoiéeski, no qual realizada a cortegéo para a nova redagio do livro, exatamente na pagina 185 desse livro Bakhtin anotou: “O homem ao espelho. Desenvolver". Refere-se a_umi : “ele priprio olha para ‘seu rosto com olhos alheios, com olhos de um esse olhar alhe pI relagio a0 seu ri afigura justamente a reflexdo do segundo texto juzido aqui por nds, e traz entendimento is aprofundado do fragmento & pagina 324 do subsolo di intersecdo de dues —_conscién complexidade do ato de contemplacao da imagem ao espelho, e a consequente complexificagio de todas as formas escrituristicas de autoenunciagio. © terceiro texto, Sobre as questies de iendios qque pela imagem em auséncia, Reunindo os sentidos originariamente enunciados em Part 2 flosfia do ako responsi como a tinica forga capaz. de aer e erdadle interna do humana, Afirmagao também do riso e da alegria como as forcas que ve seriedade - relagdes que o autor retoma ei asua obra. A imagen em auséncia, essa forca Ga palavrafimagem que fecha 0 objeto eo mortificea 6 narrada por Bakhtin como a autoconsciéncia neutra © a au rio toma em conta o ponto de vista do outro, Toda unidade acabada sempre ¢ em cia; 0 infinito int edo essas esto longe da “ como o professor a que desce de fora”, assinalara antes emt iadas, contra a mentita que s ‘0 humano, fica e desumaniza. surpresa filoséfica”, diz mo se pela primeira vez. ma da autoconsci aparecem tam Apon 1970-71, relacionado & imagem de si: “Questo da autoconsciéncia. O reflexo de mim mesmo no outro emy através do qual preciso passar ps diregdo do eu-para-mim” (2011, p. 3 30 se esta ao mesmo tempo na vida e sobre a tangente da vida, tor que guarda a distancia necessiria 4 atividade do enunciado io, Pornao conhecermos © nosso corpo, desde 0 exterior, esse nosso corpo que se 14 cadver, dependemos existencialmente ‘outro para pensarmos a nés mesmos, em todas as formas qu mar essa imagem de si, Uma bonita imagem trazida por Bakhtin € a do cordio umbi fa sempre ssa visdo até a tangente do mundo, onde impossibilitados de sair ou de entrar, vemos @ nos mesmos sobre eno mundo. A met tor Bakhtin, essas reflexes sobre as condigdes da palavra que nao mortifica 0 humano, aqui tomadas as formas preferen Fssa “palavra retirada da vida palavra da em seu programa de pesquisa no 31 I. Fazendo da ética o problema central de toda a_filosofia especialmente - a busca pi seja ao mesmo tempo ol responsiva, em face do outro, em presenca, parece se configurar como objeto da pesquisa do autor Bakhtin. Nos Apo 13 dos artas palavra do Turédstvo, 0 “louco em Cri todo 0 elogio dos pontos excéntricos, infernais, Dostoiévski, mas também Menipp Menipeia e Maomé. Li Dostotévskt conhecem bern aM desse autor, Bobék, mas a referéncia a Maomé nos foi motivo de curiosidade, até a leitura da nota de rodapé pela proi Vélkova Amético, Bakhtin refere-se 4epilepsia, a esse tema tanto ssora Ekaterina representam uma “saida da vida”, no sentido de uum cronotopo outro - nao ficticio nem nos sonhos cos que dormem -na vida mesma do ser humano. Dostoidvski viveu, ele mesmo, no episddio da comutagao da pena de fuzilamento, aparecem na “Nesse momento’, conforme dissera a Rogéjin uum dia, em Moscou em um de seus encontros, feu como que compreendo a extraordinéria expressio. do apéstolo “Nao haverd mais tempol”. E acresce diiwida era a ese durante 0 qual o profeta epilético visitava as ‘mansbes todas dle ALi em menos tempo do que fo necessério para virar no chdo a agua de um, cintaro” (Dostortvsxt, 2015, p. 202-203). Esse momento, um sonho acordado, instante mais allo clevado de autopercepgio ¢ autoconseifncia, transforma fisicamente todo 0 homem. Esse tempo supraterrestre, que nio se pode suportar,a meno a transformagio, é ‘6 Momento de Maomé. No segundo em que teve a visio, intemamente abriuse a ele outro Maomé, acordado pelo arcanjo vaso de Agua mara o tempo humano em diferenca ao tempo do erescimento inabit auloconsciéncia de Maomé, que visitou paraiso & inferno. Esse momento de retirada da vida & ‘comparado por Dostoiévski a experiéncias que ele proprio teve, em Mentrias ¢ Carts, publicadas em. resso em 1961. O que diz & que, apis essas palavras, apés essas experiéncias, 56 se pode 3 palavras no limiar, palavras escritas é distancia exoidpica da vida, na sua tangente, em cronotopos fora do tempo habitual da vida - a tempo de deter a queda do vaso, Essa é a busca de Bakhtin, por esses cronotopos em que vida e arte tomam unidade na responsabil autor, criando imagens do humano, do outro € de si, nao violentas, nao mottificantes, mas amorosas © humanas por exceléncia. O ser (cologia, um como disse Medviedév, requer lerdrias © escrituristicas que nao 0 reiliquem. A resposta & quest?o é¢ aqui insinuada por Bakhtin: como pensar a posigao da consciéncia na criagdo da le do humano, encarnagao de uma ideolog em visio ol dle vai pousar esse se Bakhtin termina o texto com uma bel reflexao sobre 0 mundo e os modelos de mundo que estao na base de toda imagem ica, trazendo uma importante das. bases cesses los. Afi simbolos que se formaram ao longo dos milénios e que representam um modelo da propria experiencia grande, 9 todo” da humanidade, Bakhtin nos faz ver a acabamento dessa experiéncia, da cultura popular. A ia pequena da cultura oficial, pragmaitica © que porta uma verdade interessada_e funcional compreensio do “grande tempo” que Bakhtin nos proporciona, ao fim desses apontamentos. So essas reflexdes que as palavras de Bakhtin nos permitem entrever, fazendo dessa leitura um alargamento alieritario fundamental, ands que nos transformamos nela, por amor a0 humano e & vida. Na atualidade, essas refleGes de Bakhtin vém ao enconto da necessaria critica as imagens de si e do outro wwe vém na forma de diferentes textos - em que so criadas como representagies e a que estamos aderidos, Buscamos nessas imagens tum encontro humane, conosco mesmos e com que 0 inacabavel, 0 inconsu Ler Bakhtin é atentar para o engano da pose, a farsa dessa imagem no espelho, ¢ sair dessa relagio aprisionada na identidade na direcao de outras formas aclequadas ¢ nao falsas desse encontro, Encontros em que, antes de nos vermos, possuidos por um outro - em pose ¢ farsa - possamas aprender as distdncias necessérias para nos transformarmos, mais do que 1 refletir nos espelhos - literais e textuais ~ cr uma filosofia que reflita sobre o que o espelho ‘permite ver, obliquamente, indiretamente, poeticamente, amorosamente. Fsperamos que os sentidos possam alargar-se nas muitas leituras fa partir desta tradugdo, 100 palavras. Bakhtin escreveu para todas ¢ todos 16s, no grande tempo da humanidade; com reveréncia, o escutamos, Referdneias, BAKHTIN, Mikhail. Dagli appunti degli anni dquaranta, Tr. it, de F Rodolo, a cura de A. Ponzio. 1H, pletas (em sete volumes). T.5, Obras da década de 1940 inicio dos anos 1960. (Org- 8. G. Boxaroy, V.V. ski, TradugSo: Paulo Bezerra, 5 ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2015. BAKHTIN, Mikhail. Quests {eoria do romance. Traclugao: Aurora Foren Edlitora, 2014. or. O lligta. Trad. José Geraldo Claret, 2018. MEDVIEDEY, Pivel N.O meds om rodugha critica a uma poética socio~ . Trad. Sheila C. Grillo & Ekaterina Volkova sno; Mimesis Edizione, 2018. APONTAMENTOS DOS ANOS 1940 Mikhail Bakhtin A violéncia da palavra e da imagem em auséncia! 12/X-1943 A retdrica, por ser falsa, aspira a despertar justamente medo ou esperanca. Isto pertence A esséncia da palavra retdrica (@ foram tamente esses 0s afetos enfatizados também esses sentimentos. Por vias diversas, libertam deles a tragéiie e também 0 risa. A fusio do louver com a "Rate texto faz parte dos ap 5) dos anos « tubo de 15 foi pubicade ern M. M. Balti So [Obra completa vel. 5, orgarizada por SG. JV. V. Kéjinov et al, Russkie sovar, Moscou 1996, pp. 63-71, O titulo colocado pelos curadores da igsorsea, que mpete os prnwizas palavas do tet & © culto da comunhio entre 0 falecido e a comunidade dos antepassados, descrito em Polibio?. As coordenadas da imagem épica; comunhio com o passado, no qual se encontra o centro de valor. © epos inclui no longinquo plano do passado épico toda a plenitude do valor; do ponto de vista do epos, cada futuro (os aniepassados, 0s contemporaneos) 56 pode ser um empobrecimento (Em nosso tempo havia homens... Herdis, nao vocds...”). No epos tudo de melhor enconira-se no campo da representagao; ja no romance, tudo de melhor faz parte justamente do que esta fora do mundo representado, no futuro; no mundo representado, ha somente necessidade sonhos desse futuro, Cada objeto tem dois nomes - um nome elevado e um nome baixo. O apelido. Dois nomes em Oniégui': Tatiana, os nomes sentimentais das mulheres do campo, de Larina. Os dois nomes do mundo, duas linguas para falar do mesmo mundo. © primeiro capitulo de Oniéguin. Experigneia de analise de yénero (como um anexo ao artigo). Além do segundo nome de uma coisa ou de uma pessoa, & necessario iador e gedgrafo da Grévia Antiga, sue obra mais atitula Histérias Trata-se de um verso de um pooma russe. 4 romance de Piichkin em versos foi publicado no Br com o titulo de Eugéuio Oniéguin, com traducio de Dario Castro Alves, pela lcitora Record. Tatiana Lavina’ 6a personager central adentrar as camadas familiares da pluridiscursividade. O problema do didlogo. © papel do tempo no didlogo. A discussio dos tempos. A tradico e os simbolos (em Dostoiévski) © a sua aplicagio consciente 4 realidade cotidiana. Seria sistema ou casualidade e exagero, semelhante & interpretacdo solar de Napoledo. Em qualquer material, na verdade, 6 possivel encontrar 0 mesmo. Na base - a violagao de tabu (a profanagao) autenticamente romanesca. A sinceridade, 0 auto-desnudamento, a injtitia, Nao 0 curso usual da vida, mas a fé no milagre, na possibilidade de sua violagéo radical. Uma agio se realiza em pontos cronotdpicos, retirados do curso habitual da vida, do espaco da vida habitual, nes pontos excéntricos, infernais, paradisiacos (a iluminagio, a beatitude, a Hosana) e purgatoriais. Qual seria a cena do acontecimento em Dostoiévski. Examinar sua organizagio tradicional. A — organizac3o (topografica) da cena da tragédia antiga, da cena de mistério, da arena do circo, do templo, do palco de teatro de feira. Dostoiévski ndo sabia trabalhar com grandes massas de tempo (seja esse biografico ou histérico); 0 romance biogrAfico nfo deu certo, e dos seus romances nado é possivel obter nem um romance biografico, nem um romance de geragdes e nem mesmo um romance de épocas. Desses pontos excéatricos, criticos e infernais munea ser le fe Ww uma condensagao do fluxo habitual da vida, um condensado do processo temporal da vida, potencializado pelo passar e pelo tempo da vida; em Dostoiévski eles ficam fora do tempo, se constroem nas suas rupturas ou quebraduras. Um homem morre e gera de dentro de si uma pessoa completamente nova, outra, sem nenhuma ligagio de continuidade consigo préprio; a continuagéo do romance seria um, outro romance, sobre um outro heréi, com um outro nome. O sonhe ea sitira do to (uma das. diversas variedades da sétira menipeia). A nio aceitagio passional do seu lugar na vida torna-se o pressuposto da vida. Esse lugar nfo é aceito nem mesmo como ponto de partida para elevagio. O herd nao tem fan nao tem classe soci nada. , ndo esta enraizado Ha aqui o ponto de vista de fora com sua excedéncia e suas fronteiras. O ponto de vista de dentro para si mesmo. Em que eles por principio podem nao coincidir, nem fundir-se. E precisamente nese ponto de nao coincidéncia, e nfo em um tinico espirito (indiferente ao ponio de vista de dentro e de fora) que se realizam os eventos. O eterno litigio no proceso de autoconsciéncia entre 0 “eu” eo “outro”, A responsabilidade e a culpa pelo mundo em Gogol. O grotesco césmico de A terrivel vinganed. Um — aspecto —_confessional- Vi uma novela de Gégol, gue em portugués no Brasil foi publicada conjuntam ‘aria, pela editora Max Limonad, em 1986, 40 autobiografico na obra de Gégol. Um aspecto predicatério nela. O elemento da violéncia no conhecimento e na forma artistica. O elemento da mentira diretamente proporcional_& violéncia. A palavra assusta, promete, gera_esperanga, elogia ou injuria (a fusio do louvor com a injiria neutraliza =a mentira). As autoafirmacdes dos poderosos. O elemento de violéncia no conhecimento objetivo. © seu objetivo é a mortificagdo preliminar do objeto - pressuposto do conhecimento; a submissio do mundo (sua transformacio em um objeto de consumo). Nisso consiste também a forga morttificante da imagem artistica: contornar 0 objeto representado pelo lado do futuro, mostré-Io como esgotado e, desse modo priva- Jo do futuro aberto, da-lo, além disso, em todos as suas fronteiras, sejam externas ou internas, sem nenhuma saida para esse a partir dessa taco, - ele esté todo aqui, e nao em nenhuma outra parte; se ele esta aqui até o fim, esti morto e voce pode consumi-lo, ele é retizado da vida incompleta e se torna abjeto para um possivel consumo; deixa de ser um participante independente do evento da vida, que caminha do lado adiante, ele jd disse sua iiltima palavra, nele nko sobrou o micleo interior aberto, uma_ infi ide interna, O objeto foi privado da liberdade, 0 ato de conhecimento quer circundd-lo de todas as partes, quer isoli-lo de sua incompletude, portanto da liberdade, do futuro provisério ¢ semantico, de sua irresolugdo e da verdade interior. A imagem artistica faz o mesmo, nao © ressuscita e nao o eterniza para ele mesmo (mas para si mesma). Mas esse é s6 um lado do assunto; é prescrito para ele de fora quem ele deve ser, ptivam-no dos direitos de uma autodefinigao livre, definem-no e o bloqueam por meio dessa autodefinigao. Na imagem, essa violéncia se combina de modo orginico com 0 medo e a aterrorizagao. Aquele que fala (cria) esta sério, ele ndo sori. Nessa seriedade, esto contidas, de modo implicito, uma exigéncia, uma ameaca, uma pressdo. Seja aquilo © que vocé deve ser (dever imposto de fora). Aeterna ameaga do dia de hoje em relagdo a tudo isso que quer sair fora dos scus limites: tudo que é inatual, nao necessario, ou ndo corresponde as tarefas... O mais extemporaneo é 0 mais livre, mais verdadeiro, mais desinteressado. Odia de hoje nao pode mentir. Quanto mais nele ha de ferro e de sangue, mais esses dias de I am, nos séculos, pelo peso esmagador da historia, O dia de hoje sempre passa (quando exerce a violéncia) por serva do futuro. Mas esse futuro ~ continuagio futura, continuidade da opressio, ndo uma saicla para a liberdade, nao uma transfermagao. Quem deve falar é a liberdade interior e também o cardter inexaurivel do objeto, Esses conhecem os elementos da necessidade no mundo, isto & aquilo nele em que jé nao ha liberdade e aquilo que pode ser utilizado, consumido, aquilo que 6 puramente instrumental. Essa posicao ¢ justa enquanto ela n&o sai dos seus limites e nao se tora violéncia sobre aquilo que esta vivo. je se 42 Somente 0 amor pode ver e representar a liberdade interna do objeto. Ele ainda ¢ sério, mas tem vontade de sorrir, somente 0 riso e a alegria constantemente vencem a seriedade, suavizam as feigbes da seriedade, atenuam 0 tom ameagador da voz. Somente para o amor se revela a absoluta inconsumibilidade do objeto, 0 amor deixa-o totalmente fora de si, perto de si (ou atrés). © amor acaricia e afaga as fronteiras, que assumem um novo significado. © amor nao fala do objeto na sua auséncia, mas fala dele com ele mesmo. A palavra-violéncia pressupde um objeto ausente e mudo, que no escuta e nao respond, ndo se dirige a ele, nem exige o seu consenso, uma palavra em auséncia. © conteddo da palavra sobre © objeto munca coincide com o seu contetido para si mesmo. O conteiido the da uma definicgo com a qual ele nunca pode concordar, por principio, palavra-violéncia (e mentira) conflui criador, com milhares de motivos peso. turvam a sua pureza - sede de sucesso, de influéncia e reconhecimento (ndio da palavra, mas do criador), aspirando a se tornar uma forga opressora e consumidora. A palavra quer exerver influéncia de fora e determinar de fora. Nessa conviegio ha um clemento de pressao externa, © mundo se cozinha no préprio caldos; é necessdrio um fluxo continuo de fora e de outros mundos. o caldo 6 uma expees referindo-se Até eno, a palavra humana dita é excepcionalmente ingénua e aqueles que falam — criangas — sio orgulhosos, autoconfiantes, esperancosos. A palavra nao sabe a servigo de quem opera, ela chega da obscuridade ¢ nao conhece as suas raizes. Sua seriedadeesté ligada ao medo e a violéncia. O homem verdadeiramente bom, desinteressado e que ama, ainda nao falou, ele se realizou nas esferas da vida cotidiana, ele nao tocou na palavra estruturada, contagiada pela violéncia e pela mentira. Ele no se tormou um escritor, a bondade e 0 amor, como caracteristicas do escritor, conferem & palavra um sentido itdnico, uma falta de seguranga, timidez (vergonha da lade). A palavra era mais forte do que o homem, encontrando-se sob poder da palavra, cle nao poderia ser responsavel; sentia-se mensageiro da verdade alheia, sob 0 dominio superior da qual ele se enconteava. Fle niio percebia a sua filiacio e nem esse poder da verdade. © elemento de frieza e alienagio na verdade. $6 por meio de contrabando penetravam nela 05 elementos da bondade, do amor, do carinho e da alegria, Nao havia ainda a verdade que aquece, mas somente a mentira que aquece. O processo criativo era sempre um proceso de violéncia realizado pela verdade sobre a alma, A verdade ainda nao era ainda préxima ao homem e nao vinha a ele de dentro ‘nem de fora; ela era sempre uma obsessao. Ela era revelagao, mas no era sincera; ela calava sempre alguma coisa, circundando-se de mistério ¢, portanto, de violéncia. Fla vencia eee atin homem, ela era violéncia, ndo havia filiagao. Quem é culpado nisso, a verdade ou 0 homem. © homem se choca contra a verdade sobre si, como uma forca mortificante. A graga sempre descia de fora O proprio objeto nao participa na formagio da propria imagem. A imagem, em relagao 20 proprio objeto, ou é um golpe de fora ou um dom de fora, mas um dom injustificado, falso e lisonjeador. A imagem elogiadora se funde com a mentira do objeto sobre si mesmo: ele, a0 mesmo tempo, escondese e exagerase. O cardter dle auséncia, por prinefpio, da imagem A imagem encobre o objeto e, portanto, ignora a possibilidade da sua mudanga, dele se tornar um outro, Na imagem nao se encontram e néo se unem as vozes do objeto ¢ daquele que fala sobre ele, O objeto quer seltar fora de si mesmo e vive na fé no milagre de sua transformagao repentina. A imagem 0 coage acoit mesmo e o afunda no desespero do acabado e pronto. A imagem utiliza até o final todos os privilégios da sua posi¢io exotdpica, Em primeiro plano esto anuca, as orelhas, as costas do objeto. Essas so suas fronteizas, Na imagem ainda esté vivo © seu estagio magico. Os resquicios da violéncia na imagem. O problema da transformacio do sentido. Dematerializagio através do senticio e do amor Uma __ orientacao em diregao a indestrutibilidade do objeto, mas nao para sua destrutibilidade-aniquilamento. Ou 0 puro autoenunciado ou a pura soliddo em si mesmo © ponto de vista de fora, uma s6 voz, uma consigo se 45 presenga solitéria, ou um apelo de oragdo. A ‘voz univoca do puro autoenunciado ¢ imagem em auséncia nunca se encontram (nao ha uma superficie para esse encontro), ou se fundem de maneira ingénua (a autocontemplagao no espelho). A interna infinitude valorativa do hhomem, ea insignificanciae fechamento da sua imagem exterior em auséncia no outro; a mediana entre eles - pequena <> imagem de si mesmo. E preciso fazer caber a si mesmo na imagem em auséncia e sufocar, naquela, a tude do proprio autoconhecimento vo, morrer nesse e tornar-se objeto de ingestdo e consumo. A fé em um amor adequado a essa interna infinitude. A ciéncia positiva constréi a imagem do mundo em auséncia (mortificante) ¢ quer fechar nessa a vida e 0 sentido em devir. Na imagem em auséncia do mundo nao hd a voz do préprio mundo, nao é sequer 0 seu rosto que fala, mas somente a sua nuca e a suas costas. As buscas da nova superficie para o encontro entre mim e © outro, uma nova superficie de construgio da imagem do homem. Nao é preciso ignorar a historia e a historicidade da imagem. A fé em um reflexo adequado de si no outro superior, Deus esta simultaneamente em mim e fora de mim, a minha infinitude interna © incompletude esto inteiramente refletidas na minha imagem, e a sua posicao exotdpica também é completamente realizada nela. © que em mim pode ser avaliado e compreendido apenas do ponto de vista do outro (@ aparéncia em sentido amplo, o aspecto 46 exterior, 0 habitus da alma, a totalidade da vida, acessivel apenas a uma meméria alheia sobre mim). O amor por si mesmo, a pena de si mesmo, a auloadmiragio, so complexos especificos devido a sua composicao. Todos os elementos espirituais do amor a si e da autoavaliacdo (com excegio da autopreservagdo e etc.) so uma usurpagdo do lugar do outro, de pento de vista do outro. Nao sou eu que avalio positivamente a mim mesmo do exterior, mas exijo isso do outro, eu tomo seu ponto de Eu sempre estou sentado em duas cadeiras, Construo minha imagem (lomo conseiéneia de mim) ao mesmo tempo de dentro de mim e do ponto de vista do outro. © ponto de vista da exotopia e a sua excedéncia. O uso privilegiado de tudo aquilo que o outro, por principio, nao pode saber de si mesmo, néo pode, em si, observar e ver. $80 todos esses elementos a desenvolyer por exceléncia uma fungio de acabamento. Uma possibilidade de auto-consciéncia que seja objetivamente neutra e de autoavaliagao que ndo depende do ponto de vista do eu ou do outro. FE precisamente essa a morlificanie imagem ent auséucia. A imagem & privada de dialogicidade e de inacabamento. A unidade scabada & sempre em auséncia. Por isso 6 Impossivel ver o todo acabado desde o interior, mas apenas de fora. A exolopia que a acabamento. A imagem da alma humana, Somente 05 elementos expressivos que esto nessa podem se tornara palavra, isto é, a sua orientagao para fora, apenas a aparéncia externa da alma. O homem como objeto da afiguragao artis afiguragdo artistica do homem, as suas formas, as suas fronteiras. Oentorno eo horizonte. Um grau superlative. Um elemento temporal (“primério”) e um qualitativo (“melhor”) nele. Cronotopicidade da cena. Anilise dessa cranotopicidade. © homem no paleo (na tela, o henti da obra verbal); momento da individuagio. Ele esté no ponto de encontro entre o horizonte e o entorno; ele esta fora de si e entra na esfera da expressio, Esse & um ponto complexo do encontro e de interagio das zonas, de pontos de vista e de front A imagem do homem como a imagem central de toda a literatura artistica. As orientacSes na criagio dessa imagem, a ética da literatura. Q problema da heroizacgio. O problema da idealizagio nao heroizante. O problema da tipificagio. O problema da correlagao entre autor ¢ herdi. A imagem em auséneia ¢ a indagagio do heréi. Blementos ¢ tipos de acabamento. O grau da reificagto (resp. em auséncia) da imagem do herdi. O grau de liberdade (de inacabamento de principio) na imagem do herdi, Fxotopia do herdi Elementos de ingénua exotopia (do ponto de ‘vista do outro) na narragdo do “eu” que fala. A imagem neutralizada do “eu” (narragao sobre si, como um outro). Em Gogol, havia uma responsabilidade ética extraordinariamente desenvolvida no que concerne ao herdi, apesar do grau extremo da auséncia de suas imagens. Foi precisamente ‘esse extremo cardter de imagens em auséncia, que é quase uma mortificagdo dos homens na agem, a agucar para ele a questo da sua salvagio e da sua transformacéo enquanto pessoas. A afinidade dos métodos do acabamento em auséncia das imagens com a injitia, A perda do polo positive de renascimento na injitria. ‘A mentira - forma contemporanea mais atual do mal. Fenomenologia da mentira. Extraordinaria multiplicidade e refinamento das suas formas. As causas da sua atualizac3o excepcional. Filosofia da mentira, A mentira retorica. A mentira na imagem artistica. A mentira nas formas da seriedade (uni medo, & ameaca, a violéncia). Ainda nao hé as formas da forga (autoridade, poder) sem 0 ingrediente necessario da mentira. A cegueira em relagdo a existéncia seméntica ideal (independente co fato se alguém a conheca ou nao), em relacdo ao sentido em si. Aquele que éenganado ¢ transformado em coisa. Esse - um dos métodos da violéncia e da reificagao do homem, A lenda do Grande Inquisidor” sob nova luz, O significado internacional dos romances de Dostoidvski. Histéria do tipo desse romance, Como se formaram esas formas especificas de representagio da jas a0 n €uma novela dontro da novela, que a abra de Dostoiévski Os 1 ida pela Eclitora 34, com traciuygio de Paulo realidade e do homem interior, O tipo estrutural e composicional do romance. O enredo © suas particularidades (0 desafio, a prova, a indagacfo). A imagem do hers A anilise da expressao da seriedade e do polo dessa expressio (0 medo, a ameaca, a piedade, a compaixio, a dor, etc) © ateismo do século XIX - ivo e superficial -ndo obrigava a religido a nada, era possivel acreditar “& moda antiga”. A nova’e imediata superacio da ingenuidade, Esta determina todas as bases e os pressupostes do nosso. pensamento e da nossa cu necessiria uma nova surpresa files relagéo a tudo. Tudo poderia ser outro. Necessirio recordar-se do mundo, como se recorda a pr pede amar algo ingénuo (uma crianca, uma mulher, 0 passacio). 50, “O homem ao espelho”! A falsidade e a mentira que inevitavelmente tansparecem na inter-relacio consigo mesmo. Imagem externa do pensamento, do sentimento, imagem externa da alma, Nao sow eu que olho © mundo de derstre com os meus proprios olhos, mas sou eu que olho a mim mesmo com os olhos do mundo, com olhos alheios; eu sou possuido por um outro. Nao ha aqui uma integridade ingénua do exterior e do interior. Espreitar a sua imagem em auséncia. A ingenuidade da confluéneia de si mesmo e do outro, na imagem do espelho. Excedéncia do outro, Eu néo tenho um ponto de vista sobre mim mesmo de fora, mao tenho uma aproximagio da minha prépria imagem Dos meus olhos olham os olhos alheios. "Tage texto de Mikhail Bal ¢ esté publicado em M. M, Bakhtin, Sobranie socinen finea cas obras), cit. p. 71. O titulo do fragmento Sobre as questées de autoconsciéncia e de autoavaliagcao...1 Sobre as questées de autoconsciéncia e de autoavaliagéo no plano teérico e histérico (autobiografia, confissao, imagem do homem na literatura, etc). A importancia desse problema para as questées mais essenciais da literatura. O mundo esté povoado por imagens criadas das outras pessoas (este 60 mundo dos outros e eu vim para esse mundo); entre elas ainda ha imagens do eu nas imagens das outras pessoas. A posigao da consciéneia na criagao da imagem do outro e da imagem de si mesmo. Hoje este é 0 problema nodal de toda a filosofia. Comecar pela analise da posi¢ao primitiva da autoconsciéncia (mas nao no plano histdérico). O homem ao espelho. A complexidade desse fenédmeno (diante da simplicidade aparente). Os seus elementos. A formula simples é: eu olho a mim mesmo com os olhos de um outro, me avalio do ponto de vista de um outro. No entanto, por tras dessa simplicidade, énecessario revelar a complexidade extraordinaria das inter-relagSes dos participantes (eles serao muitos) desse acontecimento. Exotopia 1 Esse texto de Mikhail Bakhtin foi es metade dos anos quarenta e esta publicado em M. M. Bakhtin, Sobrante socinenij (Coletanea das obras), cit. p. 72- 79. O titulo dado pelos curadores a edigdo russa repete as ras do texto: "K voprosam samosoznanija i (Problemas de autoconsciéncia ede 53 lada vejo a mim mesmo fora de mim). Como! a minha aparéncia para mim mesmo, Fragmentos do meu corpo dados para mim de formaimediata (Gem espelho}. Como eu me imagino quando penso em mim mesmo, Eu me coloco em uma cena, mas no deixo de me perceber em mim. mesmo, A_imposst de percet mesmo por inteiro fora de si, inteiramente no mundo exterior, e no na farigente a esse mundo exterior, © condo umbilical dirige-se a esa tangente. Relagfo com uma incredulidade especifica em sua morte (palavras de Pascal). nao conhego aquele mew corpo. inteiramente extemo equese encontra todo no mundo exterior, que se tomars cadaver; ele pode ser objeto de mas nao uma experiéncia viva, Eu estou naquele ponto da tangente que munca poderé estar inteiramente no mundo, ser r conseguinte, ida pensamento ¢ a experiéncia vive, entre o mundo do pensamento no qual cu estou dentzo, € 0 ‘mundo fora de mim na tangente a qual eu me encontro. Hé aqui um conflito, mas nfo hé contiadicdo. A dependéncia do outro homem diante angente do mundo, ex me vejo inteiramente dentro do mundo, assim como eu sou apenas para os outros. © que em mim pode ser concebido ¢ avaliado. apenas para os outros. O meu corpo, 0 meu rosto; 54 quais sentimentos e avaliagdes de mim mesmo posse apenas usurpar dos outros. A orientacdo para 0 seu inteito, o lamento sobre si mesmo, a heroizagao, estar na sua imagem para os outros, adentrar nela desde a tangente, O mundo esta todo diante de mim e embora esteja também atris de mim, eu sempre me desloco pata a sua borda, sobre a tangente a ele. Essa dependéncia do outro (no proceso de autocansciéncia ede aulojustifieagéo) & um dos principais temas de Dostoiévski, que determina também as particularidades formais da. su homem. O outro esté horizonte, para o outro ele éentorno. De um ponto d hhomem, a person entre o eu e 0 outro é relative: todos ¢ cada um sou eu; todos e cada um sio outro. Analogia com a distingio irracional entre a luva direita e 2 esquerda, entre o objeto ¢ 0 seu reflexo no Todavia, 0 eu se sente uma excegao, 0 inico eu no mundo (0 tesiante so todos ) € vive dessa contraposicao. Com isso ctia-se a esfera ética da diferenca absoluta entre outro, a eterna e absoluta excegao do eu (uma excegao justificada). Quais sio os fendmenos da vida e <> da eriagdo que em precisamente nessa esfera ¢ sé0 por leis especificas dessa excegdo? Tudo pode ser relacionado a essa ‘a mentira, o conhecimento, aignorancia 3 ilusties sobre si A construcio. da propria imagem no outro e para os outros. sssamos para 0 interior do mundo, mas preservamos a relagdo com a tangente. A especificidade da combinagio do ponto de vista de fora e de dentro, O ponto de s jioria das pessoas vive nao da sua excepcionelidade, mas da sta outridade. A excepcionalidade se materializa ¢ torna-se parasita (0 egofsmo, a ambicao e assim por diante). A concepgio e a imagem do homem. © conhecimento ea representagio da pessoa. desenvolvem no wvski leva para fora do mundo, da casa, do quarto, Entrar no s de coisas, de pessoas, deseu mundo, do sen quarto e nao - Dostoiévsid conhece s6 um movimento, para © \io na fre icagao da prépria consci ida; nfo hd com que circundar-se lo mundo, pelo seu quarto, pelo seu apartamento, pela natureza, pela paisagem: vive no interior do mundo e, nesse, age; em 56 omo a ele hi massas densas ¢ quentes do mundo; cle esté dentro do mundo exterior endo nas suas fronteiras. © conhecimento e a representacio da objetividade, das coisas, da jo univoca, da necessidade, onde opera © conhecimento reificante, entramos no reino da liberdade, do. nao predeterminado, do inesperado. ¢ da novidade absoluta, das consigo mesmo. Mas as fronteiras dese reine da liberdade, na medida em que o conhecimento ocorre, se deslocam cada vez. icado e necessario (onde eu nfo estou até ofim, onde eu aquilo que parecia 0 tltimo micleo livre se revela um novo invélucro da carne a (mesmo que seja mais suti). F ‘Jeo inacabavel que mesmo, Uma certa sou et representagao artistica reificadlora. ‘A organizaco do espago em Dostoidvsk. Nao 0 espaco artistico terreno comum no qual Inferno®, Nao 60 espago da vida, mas da safda da vida, 0 espago estreito do limiar, da fronteira, onde & impossivel estabelecer-se, acalmar-se, enraizar-se, mas que se pode somente atravessar ou superar. A histiria deste espaco. original Scliellendialoge'. As formas c os aspectos do limiare das fronteiras na arquitetura, Toda aacao desde o inicio até o fim se desenvelve e se conclui no ponto da crise, no ponto da quebra. A organizagio do tempo e do espaco. A inteira acdo se realiza no momento de Maomé. © momento de crise. Tudo, desde 0 inicio, & conhecido e pressentido. O tempo nao mortifica endo gera nada, no melhor dos casos serve apenas para esclarecer. A vida toda em um tinico momento. A histéria da concepgio do tempo literatura. O tempo na satira menipeia. A imagem da cidade ea sua espe artistica. © tipo de romance de Dostoiévski e a mento idade oyuia® ~ uma dessas raizes. Moralia’ e suas variagdes, A Menippea* ocupa um lugar ‘aindo quando o arcanjo Gabsie 2, de Dostoigvski, 2015, ‘ou ator consigo mesmo, em vaz-a xno original. Colegio eelética de 78 nsctitos di 7 Palavra em ensaios ediscurscs gregodoséculoT dC *#Palavsa em latim no original tem seu nome devido ao grego M particular. A prova da verdade (da velha, nova verdade) no homem. A imagem de Didgenes. A imagem de Menippo. O homem ngo é um carter, nem um tipo, mas a encamagao de uma certa verdade e o seu representante, enredo porta um cardter experimentador, provocador (e, portanto, fantéstico). Uma interpretagio particular do tempo e do espago. O ismo. A ideia & levada (por meio de ado) até as suas iiltimas conclusdes ¢ consequéncias praticas. Quais cram os caminhos reais da vida e da transmissdo dessa tradigio (tanto livrescas, quanto nfo livrescas). O romance de aventuras da tradi¢%o barroca. A literatura eclesiéstica a). A tentagao do pe marionetes. Gégol e a especifi das suas formas. O drama Grande Inquisidor). A. pro transmite os pontos de vista que se formaram a0 longo dos séculos (0 especifico carater n3o agradavel das camadas da por Dostoigvs didlogos de Lucas (conversa através dos milénios entre o Inqui (0). Voltaire e a sdtira menipeia (Candido, Micrbmegas, etc). No enredo, se introduz todo o mundo, toda a aC, Tratada per Bakhtin em diferentes obras, caracteriza-se pela saida do fluxe normal da vida, humanidade, Deus e etc. As viagens ao além {sua tradigao em Gégol). A vida é um inferno que em um momento pode ser transformado Fausto russo; a génese hi que compdem esse tema. Os esbocos iniciais de ski do todo das cenas e dos didlogos ue revelam a filogénese ¢ as suas formas (a ). Os motivos da loucura e do -a menipeia). A relacdo da satira da sua posigio social, a sua propria di a autoadmiragio, aautopresuncao (M outros). Nova pig a na hil (Na publicagdes de Dostoigvski: Gente Pobre — 15/1- 1846 © © Duplo - 1/l1-1846). O amor ou a piedace. © homem livre ou 0 servo feliz, O ‘do mendigo alienado. m da obra de Destoidvski Os Iifos 60 homem ¢ uma coisa, um animal doente e fraco, uma crianga inocente, © homem esté todo ¢ inteiramente acabado e pronto, esté todo aqui em todas as suas possibilidades ¢ dele nao se pode esperar mais nada. exigéncias em Aguele que Aquele que /induz) Aupledad humilha 0 homem, ignora a sua liberdade, 0 faz acabado e até mesmo o reifica, Ni contrapor a piedade ao amor, ela deve ser parte insepardvel do amor. A questo no esti na teoria abstrata do humanismo e nem na pregagao do amor pelo homem, mas nos imeios imagem do homem. Aeespecificidade da imagem do homem na jeratura russa. A responsabilidade, pelo seu ; nesse, o homem, de ofend a dignidade humana e acabé-lo até 0 homem onde até agora nic (O chefe da estacao"). A original sentimentalismo russo (¢ em pat sternismo), Dai a tragédia do acabamento do herdi em Gogol. A nao aceitagio do acabamento total, da finalizagao iremedivel 61 dos seus herdis (Ichitchicoy, Pliiichkin)”: cles ainda nio disseram a sua ultima palavra e podem ainda transfigurarse, O tema do desmascaramento das ilusées humanas (em particular das ilus6es sobre si mesmo) como tema paralelo da literatura ocidental (Stendhal, Balzac, Flaubert). As diferentes interpretacdes da inclinagao a sonhar e do sonhador (Dostoiévski e Flaubert). O humanismo de George Sand. 1843. Dostoiévski traduz Eugéuie Grandet** e propoe ao irmao Mikhail a traducéo de Mathilde de Sue. Em 1844 (primeira metade do ano), traduz La derniére Aidini de George Sand e recomenda ao irmao a traducao de todo Schiller. A leitura do manuscrito Os tocadores de realejo petersburguenses de Grigordvitch (outono de 1844). Inicio do inverno de 1845 Dostoiévski 1¢ 0 romance de Frédéric Soulié Mémoires du diable, Em outubro de 1845, 18 Teverino, de George Sand, e fica admirado por cla (publicado nos Olechesiwennyye zupiski® {Anais da Pétrial, 1845, X). Gogol apenas levou até o limite a especificidade da imagem prosaica do homem, imagem-apelido, levou-a aié as fronteiras. No entanto, no limite deveria suzgir 0 problema da imagem. herdi) o nome que ele havia perdido. O modelo necessirio restituir ao homem (a0 © Personagens de Almas romance de Pichkin, Publicado no Brasil pela Editora Nova Cultura, Com tradugio de Tatiana Belinky. 4 Romance de Balzac. '» Titulo transliterado do periddico russo.em que escrevi Dostoigvsk do iltimo todo, o modelo de mundo que esta na base de toda imagem artistica. Este modelo de ‘mundo se reestrutura <> ao longo dos séculos {e de modo mais radical, ao longo dos milénios). As representagées espaco-temporais que estio na base desse modelo e as suas dimensdes © gradacdes sejam semanticas & valorativas. O aconchego intelectual de um mundo que se torou habitavel pelo pensamento milenar. O sistema dos simbolos foldéricos que se formaram ao longo dos milénios e que representam o modelo do titimo todo. Neles ha a grande experiéncia da humanidade. Nos simbolos da cultura oficial, est apenas uma pequena experiéncia da parté especifica da humanidade (¢, além do mais, de um determinado momento, interessado na sua estabilidade). Para esses modelos pequenos, ctiados sobre a base da experiéncia pequena e parcial, 6 caracterfstico um pragmatismo especifico, 0 caréter ulilitario, Eles servem de esquema para uma aco do homem interessada de modo pratico, e, de fato, neles, a prittica determina 0 conhecimento, Portanto, neles, hd um ocultamento intencional, a mentira, as ilusdes salvadoras de todo tipo, a simplicidade ea mecanicidade de um esquema, uma avaliacdo unissemantica e unilateral, um plano nico e uma légica (uma légica retilinea). Menos que tudo, eles estao interessados na verdade do loco que abraca tudo (essa verdade do todo nao & pratica, & desinteressada, ¢ indiferente aos destinos temporais do particular). A grande encia esta interessada nas mutagbes das grandes Gpocas (em um devir grande) e na imobilidade temidade; j& a pequena experidncia esti interessada nas mudangas nos. limites de uma época (em um devir pequeno) e em uma estabilidade temporal, nio coincide com ele mesmo (0: ©, niio é fechaclo, nem acabado, Ne meméria que néo tem front que desce e penetra nas. prof humanas da matéria e da vi experiéncia da vida dos mundos ¢ d Para essa meméria, a historia do homem singular comeca bem antes do despertar da sua consciéncia (do seu en consciente). Fim quais formas e esferas da cultura est encammada essa experiéncia, essa meméria grande, nao pela prética, uma meméi ‘A tragédia e Shakespeare ~ no Plano da cultura oficial - esto enraizados nos simbolos nio oficials da grande experiéneia popitlar. A lingua, as esferas da vida di ‘nao publicadas, os simbolos da cultura do A base do mito ainda nao reelaborada nem racionalizada pela consciéncia oficial. E saber perecber a verdad do todo da existénca, da ex que a humana, no de u parte particular; a voz do todo endo de um dos seus participantes, A meméria do corpo extraindividual. Essa ‘memria da existéncia contraditéria nao pode Ser expressa por conceilos univocos ¢ por o4 cléssicas imagens monotonais. As palavras correspondents de Goethe (parece que a propésito de Paria), Uma critica estendida de ‘como os folcloristas estuciam essa experiéncia (a tradugio da légica do todo para a lingua da Logica do particular, ete). Essa grande meméria no & a memé passado (no sentido temporal abstrato); nela o tempo ¢ elativo, Aquilo que retorna mesmo tempo, ngo po tomo. Aqui o tempo néo ¢ linha, ‘mas uma forma complexa da rotagie do corpo. © momento do retorno foi capturado por Nietzsche, mas interpretado de modo abstratoe mecanico. Ao mesmo tempo aberturae incompletude, a meméria daquilo que no coincide —consigo mesmo. A pequena jéncio, pensada de maneira a grande experiéncia tendea reanimar tudo (ver em tudo a incompletude ea liberdade, o milagre ©-a revelago), Na pequena experiéncia, hé um que comhece (todo 0 resto € objeto de fechado (todo o resto é morto e fechado), ‘imico sujeito que fala (todo o rest resposta). Na grande experiéncia, tudo & tudo fala, essa experiéneia ¢ profunda e essencialmente dialégica. Se Oe kanes ee re RR populares, foi apresentado como experiéncia pessoal e nao como interpretagdo compenetrada da experiéncia milenar da humanidade, encarnada nos sistemas de simbolos nao oficiais. O pensamento grego (filosdfico e cientifico) nao conhecia termos (com raizes alheias e que nao participam do mesmo significado na lingua comum), palavras com étimo alheio e nao consciente. Esse fato possui conclusées de importancia relevante. No termo, mesmo que nao estrangeiro, realiza-se uma estabilizagao dos significados, um enfraquecimento da forga metaférica, e se perdem a polissemia e 0 jogo dos sentidos. Monotonalidade extrema do termo. O papel do esquecimento intencional na organizagao da imagem. Uma luta com a memoria. A memoria grande compreende e avalia a morte de maneira especifica. Essa meméria permite contornar a mim mesmo (e a minha época) no tempo. E a mesma que permite a autocombustao e a universalizagao do seu proprio eu. Tudo o que 6 irrepetivelmente original, revelador, ousado na imagem, nasce justamente gracgas a essa memoria. A meméria nao empobrece a imagem: ela vive uma nova vida no tempo, ocorre um incessante enriquecimento e renovagao do seu sentido no contexto do mundo que continua a se desenvolver, A visao do outro. Palavra e imagem em Mikhail Bakhtin? Susan Petvilli Se procuramos interpretar a nossa vida mas simplesmente especial esponsebilidace pessoal. politica), caso contr ato, mas uma agdo t ‘a. (BAKHTIN, 1920-1924. BAKHITIN, 2014, p, 125-131)" A imagem de si em relagao ao outro Os percursos e as modalidades segundo os quais se realizam a autoconsciénci autoavaliagdo esto em uma relagao de estreita ea que antecedie este pasficio, 68 ferdependéncia com a viséo do outro. Mas cada um nao pode nunca conhecer diretamente essa visio do outro, mesmo que esteja na presenca do outro: também quando estou diante do olhar do outro, o outro & sempre o outro-para-mim, Nem os estudos de ordem psicolégica ou psicanalitica, © tampouco aqueles da reflexio loséfica isoladamente e autonomamente orientada podem contribuir para uma semidtica da imagem de si, esta que se constréi ferpretando os signos da visio do outro. E, Hbretudo, a escritura literéria que pode ser de da nesse sentido. © filésofo russo Mikhail Bakhtin (1895-1975), muitas vezes erroneamente interpretado como critico literério, jusiamente isso, se vale da escritura da arte verbal, para a construgéo de uma semidtica ¢ de iagem que, dialogicamente orientadas, estejam a altura de analisar os signos de que ¢ feita a prépria imagem para cada um, na tessitura entre eu-para-mim, ew-para-o-outro, outro-para-si. A leitura recomente da obra do filésofo russo Mikhail Bakhtin no explica por completo 0 seu aporte no mbito da filosofia, especificamente da filosofia da linguagem e da tica, disciplinas que, como ohservou aera Ree ats estreitamente ligadas entre si & ponto de publicar um livro intitulado Semiética igem, em 1984). De fato, Bakhtin pretado, como colocemos anteriormente, sobret um critico da literatura. io cle declarou um de uma 60 filésofo", disse cu com Viktor Duvakin (BAKHITIN, 2008, p. 120), uma afirmagio que encontra plena c ja no ensaio programatico do inicio dos anos 20, K filosofii postupka (‘Para uma filosofia do ato responsivel”, BAKHTIN, 1920-24a); © se se ocupou por toda a vida da literatura, da escritura ratia, & porque havia elegido a linguagem da ratura como perspectiva para. as suas reflexdes filosoficas, Recentemente, de Bakhi emi russo, em sete volume obras, Sobranie Sch (0996-2010) organizada por 8. G. Bocharov et ali, ¢ dessas foram traduvidas, em varias linguas, partes que ndo foram incluidas nas publicagSes precedentes das suas obras (a referé apenas as monografias_ sobre coletdneas de 1975 e de 1979 de se Particularmente apo sntos reunidos, na edicao it o titulo “Dagli appunti degli a quaran’ (Dos Apontamentos dos anos Quarenta) (BAKHTIN, 2004), Desses apontamentos faz parte um texto sobre © qual aqui, nos debrugaremos, ¢ que se intitula, na traducio italiana, “La violenza della parolae l'immagine inassenza” (A violéncia da palavra e em auséncia) (BAKHTIN, 2004, p.1 datado de 1943. “A imagem em au: dizer a imagem sem didlogo, sem sem compreensao respondente. O pelos organizadores da edigdo russ repete as primeiras palavras do texto de Bakhtin, & Ritorika, v meru svoej lzvosti (A Retérica, em razio de sua falsidade), Como dissemos, Bakhtin da particular importincia & escritura literéria, quer se trate do romance, em particular o assim chamado romance polifnico inaugurado por Dostoiévski, quer se trate da poesi um texto do inicio dos anos 20, ele dedica particular atengéo ao car sgico da palavra e ao encontro dos pontos de vista, analisando a poesia de Alexsandr 8. Pichkin, intitulada pelos organizadores, Razluka, “Separagio", de 1830) alteridade, condigao da capacidade estética que 0 caracteriza e da sua particular visio de mundo. No ensaio do inicio dos anos 20, Autor ade estética), Bakhtin sustenta que “a objetivagao ética e estética necessita de um. , fora de si, em uma mente interessada no signo verbal ‘a, na medida em que essa parte da compreender o que é efetivamente a palavra, a enunciagio, e como funciona a relagio entre a imagem de si para o eu e a imagem de si para 0 outro (af compreencdido 0 outro pelo eu). Para Bakhtin, 0 deslocamento de perspectiva do eu para o outro, da identidade para a alteridade significava liberar-se da orientagao teorética que dominava a ia e as ciéncias humanas na época (ver BAKHTIN 1974; ver ainda 0 livro de seu irmao Nicolaj Bakhtin, 1994). O deslocamento do centro de valor do eu para o outro caracteriza a arquitettinica do pensamento de Bakhtin, operando foi significativamente descrito como uma verdadeira *Revolucio Bakhtiniana”, por (1997a; ver ainda PETRILLI a tevolugio operada por Bakhtin e seus colaboradores (0 dito Circulo de Bakhtin, ver PONZIO, org, 2014; e PONZIO, 2013) pode ser descrita como uma “revolugao copemicana”, na medida em que se trata de uma revolugéo que pos de cabeca para baixo 0 modo dominante de conceber a relagao entre o cue 0 outro. ar a relacio com © outro, Bakhtin move a prépria atengao da identidade entendida como “identidade fechada”, com a wequente forca centripeta (quer se trate da identidade do individuo, como, por exemplo, da consciéncia de si, quer se trate da 72 identidade coletiva, a comunidade estendida, a lingua, o sistema cultural), para a alteridade, e, portanto, para sua forga centrifuga. Bakhtin o faz analogamente a outro grande sofo do século XX, Emmanuel Levin: jituana, que viveu primeiro na Russia e a maior parte da sua vida, na Franca), ‘a notdvel e imprescindivel contribuigio & da identidade (ver PONZIO 20080, 2008), entende-se, aqui, a , miope e egocintrica, identidade monolégica, realizada sobre a base Go sacrificio do outro A linguagem di uma visio & capacidade humana de exotopia (que tem imos, em italiano, “extralocalita” lade] e “extralocalizzazione” localizagao}) e as suas condigdes de possibilidade em relagdo a uma visio de mundo presa na légica da identidade, ou melhor ‘como diz Ponzio (1997b, PETRILLI, org, 2004). A capacidade de exotopia requer um tipo de légica diferente, a ldgica da alteridade, justamente. Essa visio de mundo nos termos tematizados por Bakhtin e posta em cena pela linguagem da literatura inaugura a possibilidade itica da razdo dialégica”, onde a 6 um outro como si que alude a capacidade de 70 somente se orientada no sentido dialégico (nda como razio dinlética, mas, como razio dialégica). Somente sobre a base da critica orientada no sentido da razio dialdgica 6 possivel recuperar a multiplicidade de vozes em, compreendida, ‘vozes que ressoam no interior de uma s6 voz, aquilo que Bakhtin chama, com referéncia a0 romance de Dostoiévski, de Concebida nesses termos, a propria “ct, A propria palavra & polif6nica ¢, é uma palavra internamente dialogizada. Bakhtin desenvolve a sua critica da razio dialégica sobre a base da tematiza da alteridade, onde o didlogo nao ¢ 0 res da iniciativa por parte do sujeito, do eu. Na deserigio de Bakhtin, o didlogo nao consegue, a 1 da deciséio por parte do sujeito, abrir-se 1ra 0 outro. Totalmente ao contrario, o didloge le ao fato de que se fechar para 0 outro, gar 0 outro de uma vez por todas impossivel, a0 fato de que 0 outro nao pode ser ignorado, de que o envolvimento com o outro nio pode ser evitado de modo algum. Nao obstante as tentativas, por parte do eu, de se de se fechar, de construir murosedefesas, So com o outro é inevitivel. O ew é ldgico corttra a sia vontade, isto é nfo como squéncia de uma espécie de concessao feita ao outro, mas come seu envolvimento passivo na palavra do outro, como 7 Interpretado nesses termos, 0 didlogo nao 6 uma prezrogotiva do sujlto individual, mas, a0 ,, é um limite do seu horizonte, um a0 sewacabpamento, & dade de recomposicio do idéntico. crito, 0 didlogo nao pode ser reduzido & trea formal de turnos de falas entre interlocutores, menos ainda pode set considerado uma qualidade da personalidade, E mais: todas as tentativas de fechamento e separagao - que habitada pela palavra do outro, pola intengi tutro, pelo sentido de outros. A palaora é sempre ra, como diz. Bakshtin, é sempre aberta a coutras palavras, a palavra fala sempre de outras palavras e com outras palavras. ‘Além disso, a palavra nasce na relagio entre corpos, entre 0 meu corpo e 0 corpo dos propria consciénci ose ao que cle descreve emt termos de cia no mundo (na existencia) & surgimento da vida biolGgica (€ possivel que nie s6 os 5 como também as drvores € a relva festemunhem ¢ julguem), © mundo (@ A peda solar, mas 0

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