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FACULDADE DE TECNOLOGIA
APROVADA POR:
_________________________________________
ENNIO MARQUES PALMEIRA, PhD (Universidade de Brasília)
(ORIENTADOR)
________________________________________
PEDRO MURRIETA SANTOS, DSc. (UnB)
(EXAMINADOR INTERNO)
__________________________________________
NEWTON MOREIRA DE SOUZA, DSc. (UnB)
(EXAMINADOR INTERNO)
___________________________________________
RICARDO SILVEIRA BERNANDES, PhD (UnB)
(EXAMINADOR EXTERNO)
____________________________________
MARIA EUGÊNIA GIMENEZ BOSCOV, DSc (USP)
(EXAMINADORA EXTERNA)
ii
FICHA CATALOGRÁFICA
SILVA, ANTONIO RAFAEL LEITE
Estudo do comportamento de sistemas dreno – filtrantes em diferentes escalas em sistema de
drenagem de aterros sanitários
xx, 329 p., 297 mm (ENC/FT/UnB, Doutor, Geotecnia, 2004)
Tese de Doutorado - Universidade de Brasília. Faculdade de Tecnologia.
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental
1. Resíduos Sólidos 2. Percolados
3. Sistemas Dreno-Filtrantes 4. Interação filtro-Contaminante
I. ENC/FT/UnB II. Título (série)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SILVA, A.R.L. da. (2004). Estudo do comportamento de sistemas dreno–filtrantes em
diferentes escalas em sistema de drenagem de aterros sanitários. Tese de Doutorado,
Publicação G.TD-025/2004, Departamento de Engenharia Civil, Universidade de Brasília,
Brasília, DF, 329 p.
CESSÃO DE DIREITOS
NOME DO AUTOR: Antonio Rafael Leite da Silva
TÍTULO DA TESE DE DOUTORADO: Estudo do comportamento de sistemas dreno –
filtrantes em diferentes escalas em sistema de drenagem de aterros sanitários.
GRAU / ANO: Doutor / 2004
_____________________________
Antonio Rafael Leite da Silva
SQN 216, Bloco “K” apto. 310
70875110 – Brasília/DF - Brasil
iii
Dedico este trabalho aos meus filhos Rafaela, Givaldo Neto,
Mariana e Lícia e a minha esposa Gimária
Amo vocês !!!!!
iv
Agradecimentos
Agradecer nominalmente a cada um que contribuiu com criticas e sugestões para este trabalho
é uma tarefa que fatalmente nos levaria a cometer injustiças; bastaria esquecer apenas um
nome, entre tantos. Portanto, preferimos o agradecimento em bloco: nossa gratidão a todos
que colaboraram para que este trabalho continue sendo vencedor. Igualmente injusto, seria
não destacar contribuições muitos especiais:
- Com muito amor, a minha família, simplesmente minha maior fonte de motivação e
apoio em todas as minhas jornadas;
- A minha família, por sempre ter acreditado em minhas convicções;
- Ao professor Ennio Palmeira, por quem tenho profundo respeito e admiração, e que
com bom senso, amizade e principalmente tolerância deu valorosas contribuições para a
Tese.
- A todos os professores e funcionários da Geotecnia, pelo amigável convívio ao longo
de todo projeto, em especial aos professores Jose Henrique Feitosa, Pedro Murieta e
André Pacheco;
- Aos meus segundos pais, Givaldo e Amélia que tanto me apoiaram, direta e
indiretamente, nas diversas fases desse trabalho.
- Ao professor Ricardo Bernardes, por toda colaboração a este trabalho.
- A professora Cristina C. Brandão e aos técnicos do Laboratório de Águas da
Engenharia Civil. Sem a infra-estrutura do laboratório essa pesquisa não seria possível;
- A todos meus amigos, que vêm me acompanhando há vários anos, e com os quais tive
relaxantes e sempre bem humorados encontros semanais. Em especial ao Paulo César,
Junqueira, Wisley, Paulo Sergio, Boy e André.
- Ao amigo Fabrício sempre disponível a qualquer tipo de ajuda e orientação.
- A César e Gimary pelo apoio e incentivo.
- A Terezinha e Gracy pelo apoio em Brasília
- A CAPES, pelo financiamento da presente pesquisa.
v
RESUMO
vi
vii
ÍNDICE
Capítulo Página
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO 1
1.2 OBJETIVOS 2
1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO 3
2.1 INTRODUÇÃO 6
2.2 RESIDUOS SOLIDOS URBANOS 8
2.2.1 CONCEITO 8
2.2.2 CARACTERIZAÇÃO DOS RESIDUOS SÓLIDOS URBANOS 10
2.2.3 CARACTERIZAÇÃO QUÍMICAS 14
2.2.4 CARACTERIZAÇÃO BIOLÓGICAS 14
2.3 CLASSIFICAÇÃO DOS RESIDUOS SOLIDOS URBANOS 14
2.3.1 RESÍDUOS ESPECIAIS 15
2.4 ATERRO SANITARIO DE RESIDUOS SOLIDOS URBANOS 18
2.4.1 CONCEITUAÇÃO GERAL 18
2.4.2 TIPOS DE ATERROS SANITÁRIOS 20
2.4.3 SELEÇÃO DE ÁREAS PARA IMPLANTAÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS 23
2.4.4 TÉCNICAS DE EXECUÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS 28
2.5 ELEMENTOS ESTRUTURAIS BÁSICOS DE ATERROS SANITÁRIOS 32
2.5.1 SISTEMA DE TRATAMENTO DE BASE (IMPERMEABILIZAÇÃO) 36
2.5.2 SISTEMA DE DRENAGEM DE GASES 46
2.5.3 SISTEMA DE COLETA E REMOÇÃO DE LÍQUIDOS PERCOLADOS 48
3.5.3.1 CHORUME E PERCOLADO CONCEITUAÇÃO E GERAÇÃO 49
2.5.3.2 GERAÇÃO DE PERCOLADO 50
2.5.3.3 FATORES QUE INFLUENCIAM A QUANTIDADE DE PERCOLADO 50
2.6 BALANÇO HÍDRICO EM ATERRO SANITÁRIO 62
2.6.1 DETERMINAÇÃO DA TAXA DE PRODUÇÃO DE PERCOLADO 64
2.7 SISTEMA DE COLETA 69
2.7.1 MATERIAIS UTILIZADOS EM SISTEMA DE DRENAGEM E FILTRAÇÃO 75
viii
2.7.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE SISTEMA FILTRO-DRENANTE 76
2.7.2.1 PROPRIEDADES FISICAS DOS GEOSSINTETICOS RELEVANTES
PARA DRENAGEM E FILTRAÇÃO 84
2.7.3 DEFICIÊNCIAS DOS SISTEMAS DE DRENAGEM 89
2.8 COLMATAÇÃO DE FILTROS GEOTÊXTEIS EM ATERROS SANITÁRIOS 93
ix
4.2.14 TEOR DE UMIDADE 142
4.2.15 CONTROLE PLUVIOMETRICO E CARACTERIZAÇÃO DOS PERCOLADOS 142
4.2.15.1 CONTROLE PUVIOMETRICO E DADOS CLIMATOLOGICOS 142
4.2.15.2 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DOS LIQUIDOS PERCOLADOS 143
4..3 ESCALA INTERMEDIÁRIA 153
4.3.1 SISTEMA DE DRENAGEM E RESERVATÓRIO 155
4.3.2 PREENCHIMENTO DAS CAIXAS 159
4.3.3 PARAMETROS ANALISADOS 161
4.3.3.1 TEMPERATURAS 162
4.3.3.2 TAXA DE PRODUÇÃO E QUALIDADE DO PERCOLADO 163
4.3.3.3 COLETA DE VOLUME DE PERCOLADO 163
4.3.4 ASPERSÃO DE ÁGUA 163
x
6.2.2 - POTENCIAL HIDROGENIÔNICO (pH) 238
6.2.3 - DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO – DQO 244
6.2.4 - SÓLIDOS 252
6.2.5 - CONDUTIVIDADE 255
6.2.6 CLORETOS E SULFATOS 256
6.3 - ESCALA REDUZIDA – CAIXAS ARMAZENADORAS 259
6.3.1 - NITRATO, AMÔNIA E pH 261
6.3.2 - DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO 267
6.3.3 - CLORETOS 270
6.3.4 - SÓLIDOS 272
8 CONCLUSÕES 283
8.1 RELEVÂNCIA DOS ESTUDOS 283
8.2 EXPERIMENTOS UTILIZADOS 284
8.3 RESÍDUOS SÓLIDOS 285
8.4 SISTEMA DE IMPERMEABILIZAÇÃO 286
8.5 SISTEMA DE COLETA E REMOÇÃO DE PERCOLADO 287
8.6 CAMADA DE COBERTURA 287
8.7 LIBERAÇÃO DO PERCOLADO 288
8.8 MEDIÇÃO DA TEMPERATURA 292
8.8.1 TEMPERATURA DA MASSA SOLIDA 292
8.8.2 TEMPERATURA NO SISTEMA DE DRENAGEM 292
8.9 RECALQUES NA MASSA DE RESÍDUOS 293
8.10 QUALIDADE DO PERCOLADO 294
8.11 AVALIAÇÃO DOS SISTEMAS DRENANTES ALTERNATIVOS 295
8.12 SUGESTÕES PARA NOVAS PESQUISAS 296
REFERÊNCIAS 298
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela Página
xii
Tabela 5.7 – Produção dos líquidos percolados–valores medidos e faixas observados
e reportados na literatura 182
Tabela 5.8 – Precipitações, valores de percolados e L/PPT para as células em 2002 189
Tabela 5.9 - Simulação da geração de percolado pelo Método Suíço e do Balanço Hídrico
para as Células Experimentais 190
Tabela 5.10 – Resumo dos dados de geração de percolados, medidos e calculados e da
precipitação média 191
Tabela 5.11 – Volumes iniciais de aspersões e percolados das caixas armazenadoras 194
Tabela 5.12 – Variações nas taxas de recalques para as células ao longo da pesquisa. 202
Tabela 5.13 – Valores de recalques medidos nas células ao longo da pesquisa. 210
Tabela 5.14 - Posicionamento dos termopares nas células experimentais. 214
Tabela 5.15 – Comportamento de temperaturas dentro da massa de resíduos nas
células experimentais. 216
Tabela 5.16 – Valores de temperaturas nos termopares instalados junto aos sistemas de
drenagem e impermeabilização das células experimentais. 221
Tabela 5.17 – Temperaturas médias dos termopares posicionados junto aos sistemas de
drenagem e impermeabilização das células, nos períodos de chuva e seca. 222
Tabela 5.18 - Posicionamento dos termopares nas Caixas Armazenadoras 223
Tabela 5.19 – Temperaturas observadas dentro das caixas . 223
Tabela 5.20 – Variação dos teores médios de nitrato e nitrogênio amoniacal durante os
períodos sexos e chuvosos para a s células CMA e CMG 232
Tabela 5.21 – Variação dos teores médios de nitrato e nitrogênio amoniacal durante os
períodos sexos e chuvosos para as células CSX e CPN. 235
Tabela 5.22 - Comparação entre os valores do percolado da célula CMA com faixa de
valores da literatura 236
Tabela 5.23 - Teores de pH dos líquidos percolados das células CMA e CMG 241
Tabela 5.24 – Valores médios da Demanda Química de Oxigênio nas células ao longo
das estações seca e chuvosa abrangidas pela pesquisa. 247
Tabela 5.25 - Teores de sólidos nos percolados das células. 252
Tabela 5.26 - Teores de condutividade nos percolados das células 256
Tabela 5.27 - Teores de Sulfato (SO4) nos percolados das células 259
Tabela 5.28 - Parâmetro do percolado utilizado nas caixas armazenadoras. 260
Tabela 5.29 - Valores iniciais de nitrato e amônia para as caixas C1 e C2 262
Tabela 5.30 - Teores de sólidos nos percolados das caixas 273
xiii
LISTA DE FIGURA
Figura Página
xiv
Figura 2.26 – Variação da espessura do geotêxtil com relação à tensão 86
Figura 2.27 – Influencia da tensão normal sobre os geotêxteis não tecido 87
Figura 2.28 – Mecanismo de colmatação em fluidos geotêxteis 90
Figura 2.29 – Variação da permeabilidade de colunas de solo percolado com meio de
nutrientes inoculados com bactérias 92
Figura 2.30 - Crescimento de biofilme dentro do geotêxtil 96
Figura 2.31 – Crescimento de biofilme na parte superior do geotêxtil 96
Figura 3.1 – Localização do Aterro do Jóquei Clube 99
Figura 3.2 – Detalhe da área do aterro de resíduos do Jóquei Clube 100
Figura 3.3 – Disposição de resíduos industriais e hospitalar na área do aterro 102
Figura 3.4 – Disposição dos resíduos em solo natural 103
Figura 3.5– Medidas mitigadoras no aterro do Jóquei Clube 103
Figura 3.6 – Atividades dos catadores no aterro 104
Figura 3.7 – Localização do Aterro do Jóquei Clube 104
Figura 3.8 - Perfil esquemático do solo na área do aterro 109
Figura 4.1 – Vista aérea do aterro do Jóquei Clube com a localização das células 113
Figura 4.2 – Células experimentais –arranjo geral 114
Figura 4.3 – Células experimentais – Esquema geral comuns 115
Figura 4.4 – Preparação da área e escavações das células 117
Figura 4.5 – Detalhe e vista do tratamento de fundação - 120
Figura 4.6 – Detalhe e vista do tratamento de fundação - impermeabilização 120
Figura 4.7 –Curvas granulométricas das areias utilizadas na célula CMA 122
Figura 4.8 – Instalação das camadas de areia na célula CMA 122
Figura 4.9 – Detalhe da instalação do sistema de coleta e remoção de percolado da
célula CMG 123
Figura 4.10 – Detalhe dos sistemas de coleta de percolado da célula CMA e CMG 124
Figura 4.11 – Detalhe do sistema de coleta e remoção de percolado da célula CSX 125
Figura 4.12 – Aspecto do seixo rolado utilizado na célula CSX 126
Figura 4.13 – Detalhe da vala central do sistema de coleta e remoção de percolado da
célula CPN 127
Figura 4.14 – Sistema de coleta e remoção de percolado da célula CPN 127
Figura 4.15 – Detalhe dos pneus utilizados no sistema de drenagem da célula CPN 128
Figura 4.16 – Esquema dos sistemas de coleta e remoção de percolados CSX e CPN 128
Figura 4.17 – Caixa de captação e amostragem de líquidos percolados 129
xv
Figura 4.18 – Posicionamento dos termopares nas células 132
Figura 4.19 – Procedimentos do controle das placas de recalque 134
Figura 4.20 – Monitoramento do recalque 135
Figura 4.21 – Detalhe do preenchimento das células CMA e CMG 137
Figura 4.22 – Preenchimento das células CSX e CPN 138
Figura 4.23 – Visão geral das células experimentais após implantação da camada de
cobertura 139
Figura 4.24 – Equipamento e reagentes básicos utilizados ao longo da pesquisa nas
medições dos diversos parâmetros monitorados 150
Figura 4.25 – Esquema para determinação dos sólidos 151
Figura 4.26 – Aparelho utilizado para filtração de sólidos 152
Figura 4.27 - Caixas armazenadoras de resíduos 154
Figura 4.28 – Detalhe das janelas de vidro posicionadas na parede lateral das caixas. 154
Figura 4.29 – Caixas prontas para receber o lixo, com detalhe para as lonas laterais 155
Figura 4.30 - Aspecto do entulho de construção 156
Figura 4.31 - Curva granulométrica do entulho de obra utilizado como sistema de
drenagem 157
Figura 4.32 - Camada de pneu picotado e entulho britado como material drenante nas
caixas. 158
Figura 4.33 – Geotêxtil sobreposto à camada drenante funcionando como filtro 158
Figura 4.34 – Detalhes dos pedaços de pneu picotado e triturado utilizados na drenagem
das caixas. 158
Figura 4.35 – Local para disposição dos resíduos. 159
Figura 4.35 – Lixo sendo lançado para o interior das caixas. 161
Figura 4.36 – Caixa C1 já completa com a camada de cobertura. 161
Figura 4.37 – Termopares utilizados nas caixas 162
Figura 5.1- Composição media dos resíduos sólidos urbanos empregados nas caixas 167
Figura 5.2 – Valores acumulados de chorume liberado após compactação dos resíduos. 172
Figura 5.3 - Precipitações e valores de líquidos percolados para a célula CMA 175
Figura 5.4 - Precipitações e valores de líquidos percolados para a célula CMG 176
Figura 5.5 - Precipitações e valores de líquidos percolados para a célula CSX 177
Figura 5.6 - Precipitações e valores de líquidos percolados para a célula CPN 178
Figura 5.7 - Variação de vazão durante período chuvoso em função da interferência do
tipo de dreno, células CMA e CMG (set e out/99). 178
xvi
Figura 5.8 – Variação de vazão durante período chuvoso em função da interferência do
tipo de dreno (Mar e Abr/99). 179
Figura 5.9 - Variação de vazão durante período chuvoso para as células CSX e CPN. 179
Figura 5.10 - Relação entre o líquido percolado e precipitações ocorridas – Célula CMG 181
Figura 5.11 - Relação entre os líquidos percolados e a precipitação ocorrida nos meses
de menor pluviosidade – Célula CMG 181
Figura 5.12 - Relação entre os líquidos percolados e a precipitação ocorrida nas células
nos meses de maior pluviosidade (2002) 181
Figura 5.13 – Variação da relação L/PPT ao longo da pesquisa – célula CMA 182
Figura 5.14 – Volume de percolados das células experimentais (2002) 183
Figura 5.15– Curvas do percolado e precipitação medidos para a célula CMA. 185
Figura 5.16 – Curvas do percolado e da precipitação medidos para a célula CMG 185
Figura 5.17 – Curvas dos percolados e precipitação medidos para as células CSX e CPN. 186
Figura 5.18 – Altura em milímetros das precipitações ocorridas e os líquidos percolados
para a célula CMA 186
Figura 5.19 -Simulação da geração de percolado método Suíço e Balanço Hídrico 188
Figura 5.20 - Líquidos percolados nas células. Valores observados e calculados. 188
Figura 5.21 - Valores acumulados de chorume no primeiro ano de monitoramento. 193
Figura 5.22 – Valores de chorume e aspersões iniciais nas caixas C1 e C2 193
Figura 5.23 – Valores acumulados iniciais de chorume e aspersão nas caixas C1 e C2 194
Figura 5.24 - Valores de líquidos percolados para o primeiro período de seca nas caixas
C1 e C2. 195
Figura 5.25 - Valores dos volumes de líquidos percolados para o primeiro período de
aspersão nas caixas C1 e C2. 196
Figura 5.26 - Relação entre os líquidos percolados e as aspersões nas caixas C1 e C2
no primeiro ano de monitoramento. 197
Figura 5.27 – Compara entre os volumes de líquidos percolados acumulados e a aspersão
para a caixa C2 durante o primeiro ano de monitoramento. 197
Figura 5.28 – Comparação entre os volumes de líquidos percolados acumulados e a
aspersão para a caixa C1 durante o primeiro ano de monitoramento. 198
Figura 5.29 – Recalques ocorridos nas células CMA e CMG – Recalque na superfície 200
Figura 5.30 – Recalques ocorridos nas células CMA e CMG – Recalque no Centro 201
Figura 5.31 – Períodos em que podem ser reconhecidas variações nas taxas de recalque
para as duas células. 202
xvii
Figura 5.32 – Correlação entre taxas de recalque nas células e índices de precipitação 204
Figura 5.33 – Recalques total ocorridos nas células CSX e CPN com o tempo. 207
Figura 5.34 – Recalques ocorridos nas células CSX e CPN com os meses de degradação 208
Figura 5.35 – Relação entre os recalques totais acumulados e a altura inicial dos
resíduos sólidos dispostos nas células CSX e CPN. 209
Figura 5.36 – Recalque total acumulado como o tempo de degradação para as células
experimentais. 209
Figura 5.37- Relação entre os recalques totais ocorridos e a altura máxima de resíduos
em cada célula 211
Figura 5.38 - Termômetro eletrônico-digitais utilizado nas leituras da temperatura. 213
Figura 5.39 – Variação de temperatura dentro da massa de lixo para a célula CMA,
dados a partir do segundo ano de aterramento. 215
Figura 5.40 – Variação de temperaturas dentro da massa de lixo para a célula CMG. 215
Figura 5.41 – Variação de temperaturas dentro da massa de resíduos células CSX e CPN. 216
Figura 5.42 - Variação de temperaturas dentro da massa de resíduos nas células nos
primeiros quatro meses de aterramento. 217
Figura 5.43 – Variação das temperaturas nos sistemas de drenagem e impermeabilização
para a célula CMA. 219
Figura 5.44 - Variação das temperaturas nos sistemas de drenagem e impermeabilização
para a célula CMG 219
Figura 5.45 - Variação das temperaturas nos sistemas de drenagem célula CSX e CPN. 220
Figura 5.46 - Valores de temperaturas nos termopares instalados junto aos sistemas
de drenagem das células experimentais CSX e CPN. 220
Figura 5.47 – Temperaturas medias reinantes nos resíduos dentro da caixa C1 e C2. 223
Figura 5.48 – Temperaturas reinantes nos drenos da caixa C1 e C2. 225
Figura 5.49 – Teores de Nitrato (NO3 -) e nitrogênio amoniacal ( NH4+ + NH3) obtidos
para a célula CMA. 228
- +
Figura 5.50 – Teores de Nitrato (NO3 ) e nitrogênio amoniacal ( NH4 + NH3) obtidos
para a célula CMG. 228
Figura 5.51 – Teores de Nitrato (NO3 -) e nitrogênio amoniacal ( NH4+ + NH3) obtidos
para a célula CSX 229
Figura 5.52 – Teores de Nitrato (NO3 -) para as células experimentais 229
Figura 5.53 – Teores de nitrogênio amoniacal (NH4+ + NH3) obtidos para as células. 230
xviii
Figura 5.54 – Teores de Nitrato (NO3 -) e nitrogênio amoniacal (NH4+ + NH3) obtidos
para a célula CPN 230
Figura 5.55 – Teores de Nitrato (NO3 -) para as células experimentais CSX e CPN. 233
Figura 5.56 – Variação de pH nas células experimentais. 239
Figura 5.57 - Variação do pH para as células CSX e CPN. 242
Figura 5.58 – Valores de Demanda Química de Oxigênio dos percolados coletados a partir
das células experimentais. 244
Figura 5.59 - Valores de Demanda Química de Oxigênio dos percolados coletados a partir
das células experimentais CMA e CMG. 245
Figura 5.60 - Valores de Demanda Química de Oxigênio dos percolados coletados das
células experimentais CSX e CPN. 248
Figura 5.61 – Valores e DQO e pH para a célula experimental CSX 251
Figura 5.62 - Valores e DQO e pH para a célula experimental CPN 251
Figura 5.63 - detalhes na execução dos ensaios para a determinação dos sólidos. 253
Figura 5.64 - Detalhes dos cadinhos e papel filtros utilizados nos ensaios para a
determinação dos sólidos. 254
Figura 5.65 – Evolução dos teores de cloretos ao longo da pesquisa 257
Figura 5.66 – Evolução dos teores de cloretos ao longo da pesquisa células CSX e CPN 258
Figura 5.67 – Teores de nitrato e nitrogênio amoniacal para a caixa C2. 261
Figura 5.68 – Teores de nitrato e nitrogênio amoniacal para a caixa C1. 261
Figura 5.69 – Variação do pH ao longo da pesquisa para as caixas armazenadoras. 265
Figura 5.60 – Variação da Demanda Química de Oxigênio na caixa armazenadora C2. 267
Figura 5.61 – Variação da Demanda Química de Oxigênio na caixa armazenadora C1. 267
Figura 5.62 - Valores de DQO e amônia para os percolados das Caixas 270
Figura 5.63 – Evolução dos teores de cloretos nas caixas armazenadoras. 271
Figura 5.64- Detalhes dos percolados oriundos da Caixa C1 e C2. 273
Figura 7.1. Detalhes de abertura das células experimentais CMA e CMG 276
Figura 7.2 – Detalhes da amostra de geotêxtil – célula experimental CMG 280
Figura 7.3 –Detalhe da amostra de geotêxtil 280
Figura 7.4 – Detalhe do geotêxtil impregnado
Figura 7.5 – Detalhes dos tubos coletores e georrede 281
xix
LISTA DE ABREVIAÇÕES SIMBOLOS E UNIDADES
xx
CAPÍTULO 1
1 – INTRODUÇÃO
1
utilização de alguns tipos de geossintéticos ter se tornado imposição de norma em projeto de
sistemas de coleta e remoção de percolado e impermeabilização de áreas de disposição de
resíduos. As principais vantagens de sua utilização em relação às soluções convencionais em
obras de disposição de resíduos são (Palmeira, 1999):
O geossintético é um material de construção manufaturado e, portanto, submetido a
controle de qualidade que garante a consistência e confiabilidade nas suas propriedades e
características relevantes para este tipo de aplicação;
A instalação de camadas de geossintéticos para drenagem e filtração (geotêxteis e
georredes) é significativamente mais fácil que a de camadas granulares. Em vista disso, a
redução do tempo para a execução da obra pode ser considerável;
Os geossintéticos são camadas de pequena espessura e, por isso, ocupam pouco volume,
em contraste com camadas de argila compacta ou de drenos de areia. O volume economizado
pode ser então ocupado pelo resíduo a ser disposto.
1.2. OBJETIVOS
2
de aterramento de resíduos construídas no aterro do Jóquei Clube de Brasília, e em escala
reduzida por meio de caixas metálicas especialmente preparadas, posicionadas na Estação
Experimental da Universidade de Brasília.
O desempenho de filtros granulares e geotêxteis foram observados nas células pilotos,
bem como sistema drenante sem filtro foi estudado com intuito de se obter parâmetros de
comparação para esses filtros.
Os materiais granulares comumente utilizados em sistema drenantes são as areias e
britas. Entretanto, em alguns regiões ou cidades tais materiais são escassos, o que pode
provocar um significativo aumento de custos em suas utilizações. Nestes casos a utilização de
materiais alternativos que possam substituir os materiais granulares pode trazer economias
substanciais. Neste sentido, o presente trabalho também procurou avaliar o potencial de
utilização de materiais tais como pneu, pneu picotado, entulho britado como elementos
drenantes de baixo custo e elevada permeabilidade, em combinação com filtro geotêxtil.
Dentro deste contexto a pesquisa tem como objetivos específicos:
3
No capítulo 1 é feita a colocação do problema da disposição de resíduos sólidos
urbanos, inserindo-a em um contexto ambiental e geotécnico e justificando a necessidade do
aprofundamento da pesquisa científica para o assunto. Basicamente é apresentada uma visão
sumaria da presente pesquisa.
No capítulo 2 é feita a revisão de trabalhos anteriores, abordando os temas que direta
ou indiretamente auxiliam a compreensão do trabalho. Neste capitulo enfocam-se,
basicamente, os conceitos gerais, tipos e técnicas empregadas na execução de aterros
sanitários, enfatizando os principais elementos estruturais e instrumentação. Abordam-se
também os principais fatores que influenciam a geração dos líquidos percolados e os seus
sistemas de coleta e remoção, obviamente reservando maior destaque e espaço a alguns
assuntos específicos. Neste sentido, são introduzidos alguns conceitos e aspectos relacionados
à geração e caracterização dos líquidos percolados nos aterros sanitários. O capítulo se
complementa com a síntese e discussão dos trabalhos e estudos realizados sobre o sistema de
coleta e remoção de percolados, com destaque para os estudos relacionados à colmatação de
filtros de geotêxteis.
No capítulo 3 é feita uma resumida apresentação da área de estudo, com revisão de
suas características físicas e históricas de atividades desenvolvidas. O mesmo inclui, entre
outros, arranjo do aterro, os serviços realizados, controles executados, a seqüência de
construção, as operações de lançamento, espalhamento e compactação dos resíduos sólidos
urbanos na área ao longo dos anos.
No capítulo 4 apresentam-se os métodos e os equipamentos utilizados na realização
dos diversos ensaios e os motivos que levaram a escolha do Aterra Sanitário como o local de
desenvolvimento desta pesquisa. Neste capítulo, também são mostradas as células
experimentais e caixas armazenadoras construídas para que fosse possível verificar o
comportamento e a interação entre os percolados e sistema diferenciados de coleta e remoção
de percolado para aterros sanitários. Desta forma, o mesmo inclui, entre outros, os conceitos
envolvidos na concepção e arranjo das células experimentais, os serviços realizados, a
seqüência de construção as considerações nas operações de lançamento, espalhamento e
compactação dos resíduos sólidos urbanos e apresentados os materiais e equipamentos
utilizados na pesquisa, suas características relevantes para o presente estudo.
O capítulo 5 apresenta e discute os resultados dos estudos, incluindo as análises
realizadas e monitoramento das células e caixas experimentais. Proposições relacionando os
resíduos com os diversos parâmetros construtivos estudados (sistemas de drenagem, espessura
4
das camadas, temperatura, tipo de compactação, etc), produção de percolado em função da
precipitação são igualmente apresentados.
No capítulo 6 apresentam-se resultados e discussões relativos aos dados de
caracterização físico-química dos percolados nos experimentos com RSU em termos de DQO,
amônia, nitrato, sulfato, cloreto e determinação de sólidos contidos no percolado.
As analises complementares feitas em amostras de filtro (areia e geotêxtil) obtidos das
escavações de duas das quatros células experimentais ensaiadas são apresentadas no capítulo
7.
Finalmente, no capítulo 8, apresentam-se às conclusões e recomendações finais do
trabalho, estas últimas direcionadas às potenciais linhas de pesquisa a serem desenvolvidas,
seguidas das referências bibliográficas pesquisadas e citadas no trabalho e dos apêndices que
subsidiam e auxiliam a compreensão do mesmo.
5
CAPÍTULO 2
2 - REVISÃO BIBLIOGRAFICA
2.1 - INTRODUÇÃO
6
O tratamento da questão dos resíduos requer não somente o envolvimento do aspecto
conceitual mas, também, a discussão dos elementos que incidem no aumento de sua produção,
coleta, destino final, a discussão dos aspectos filosóficos e dos fatores técnico-operacionais.
Esses elementos se encadeiam de forma tão coesa, que dificultam o entendimento de cada um
deles, impedindo a compreensão do problema e demonstrando o porquê das dificuldades
encontradas para se resolver a questão de maneira diferente das ações que vêm sendo
implementadas.
De um modo geral, a visão que norteia as ações destinadas ao gerenciamento dos
resíduos sólidos, aqueles resultantes de atividades domiciliares, comerciais, industriais,
hospitalares, agrícolas, de serviços e da varrição, é, eminentemente, técnica e baseada no
aspecto financeiro.
Este tipo de abordagem pode resultar em conseqüências ambientais graves, pois as
formas de tratamento mais freqüentemente utilizadas são poluentes, contaminando o
ambiente, não só nas áreas onde são tratados, mas, também nas adjacências.
Os aumentos das áreas urbanas brasileiras e de suas populações potencializam os
danos causados pelos resíduos ao meio ambiente. O volume dos resíduos sólidos domésticos,
sua constituição e a destinação inadequada contribuem para a problematização do tema e a
necessidade urgente de soluções mais coerentes com as propostas emergentes de qualidade de
vida-ambiente saudável.
Nos últimos anos tem aumentado o interesse no gerenciamento e nela incluída a
disposição dos resíduos sólidos urbanos. Esforços para minimizar a produção de resíduos,
bem como para reciclar, reusar e dar destino final adequado a alguns materiais são algumas
das políticas de gerenciamento de resíduos sólidos hoje por todo o mundo. Mesmo com
desenvolvimento de novas tecnologias de tratamento, ainda assim, o aterramento continua
sendo o método de disposição mais usado nas diferentes partes do mundo.
Como elemento de motivação do trabalho e alvo das preocupações da pesquisa
apresenta-se a seguir uma revisão dos principais conceitos, propriedades e estudos
relacionados aos resíduos sólidos urbanos e às unidades de disposição representadas pelos
aterros sanitários. Inicialmente, faz-se necessário apresentar alguns conceitos, definições e
classificações básicas sobre os temas resíduos sólidos e aterros sanitários. Em relação aos
aterros de resíduos sólidos apresentam-se os conceitos gerais, tipos e técnicas de execução, os
cuidados a serem observados na escolha de locais para a sua implantação, bem como os
elementos básicos de sua estrutura, restringindo a mesma aos tópicos de correspondência
direta com o tema do presente trabalho.
7
2.2 - RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS (LIXO)
2.2.1 - CONCEITO
Os resíduos sólidos urbanos, também denominados lixo, são os restos das atividades
humanas considerados pelos geradores como inaproveitáveis, inúteis, indesejáveis ou
descartáveis. São conseqüências de atividades domiciliares, comerciais e de serviço,
hospitalares, industriais, agrícolas, de limpeza viária e áreas verdes, abandono de animais
mortos etc. Na mitologia greco-romana, Lixo refere-se um dos filhos do Egito que foi
assassinado por Cleodora, sua esposa, em sua noite de núpcias. A raiz da palavra lixo remota
do latim e deriva de lix que significa cinza ou lixívia. Alguns estudiosos, entretanto, entendem
que essa palavra provém do latim medieval já decadente onde o verbo lixare indica o ato de
polir, desbastar (Rocha, 1995).
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), através de sua norma NBR
10.004/87 (“Resíduos Sólidos – Classificação”), define resíduo sólido como: “resíduos no
estado sólido e semi-sólido, que resultam de atividades da comunidade, de origem: industrial,
doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviço de varrição, etc. Ficam incluídos os
lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e
instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos, cujas particularidades
tornam inviáveis o seu lançamento na rede de esgoto ou em corpos d’água, ou exijam para
isso soluções técnicas economicamente viáveis, face a melhor tecnologia disponível”.
O Código de Regulamentos Federais (CFR) dos Estados Unidos –“Proteção do Meio
Ambiente”, (40 CFR 257, 1992), apresenta, por sua vez, as seguintes definições de interesse:
- resíduos sólidos (“solid waste”): “any garbage, refuse, sludge, and other discarded
material, including solid, liquid, semisolid, or contained gaseous material resulting from
industrial, commercial, mining, and agricultural operations. This does not include solid or
dissolved materials in domestic sewage, in irrigation return flows or industrial discharges
that are point sources”.
Os termos lixo, resíduos e reciclagem diferem quanto à definição e conceituação
conforme a situação em que são aplicados. Na linguagem corrente, o termo resíduo é tido
praticamente como sinônimo de lixo. Lixo é tudo aquilo que se joga fora, é objeto ou a
substância que se considera inútil ou cuja existência em dado meio é tida como nociva. Já o
resíduo é adotado muitas vezes para significar sobra do processo produtivo, geralmente
industrial e usada como equivalente a refugo ou rejeito (Sabetai, 1997).
8
Já Rocha (1993) salienta que a partir dos anos 60, um novo termo técnico foi adotado
pelos profissionais da área de saneamento, que passaram a utilizar a designação “resíduos
sólidos”. Resíduo, do latin, residuu, significa aquilo que resta de qualquer substância, e sólido
para diferenciar dos restos líquidos, como esgoto, e das emissões gasosas.
Dentre as inúmeras definições para resíduos sólidos, Lima (1991) cita que os resíduos
são conceituados como resultado das atividades diárias do homem na sociedade, compondo-se
basicamente de sobras de alimentos, papeis, papelões, plásticos, trapos, couros, madeira, latas,
vidros, lamas, gases, vapores, poeiras, sabões, detergentes e outras substâncias descartadas
pelo homem no meio ambiente.
Para a Organização Mundial de Saúde –OMS, o lixo é aquilo que seu proprietário não
deseja mais, em um certo lugar e em um certo momento e que não tem valor comercial
corrente. Vários autores entendem que é todo material sólido ao qual seu proprietário ou
possuidor não atribua mais valor ou possuam valores irrisórios e dele deseja descartar-se,
atribuindo ao poder público a responsabilidade pela sua coleta, tratamento e destinação final.
Existe também uma variação na conceituação de resíduos sólidos de país para país, e
essas variações definem claramente o nível de atenção para o problema. Sabetai (1997),
enfatiza que a legislação brasileira estabelece que o lixo doméstico é propriedade da
prefeitura, cumprindo-lhe a missão de assegurar sua coleta e disposição final, e que na
maioria das prefeituras, através de Lei Municipal, estabelece que as mesmas são responsáveis
pela coleta e transporte para o local adequado até o volume de 100 litros por estabelecimento,
pode-se concluir que sobre o ponto de vista institucional, lixo é aquilo que a prefeitura ou a
legislação entende como tal. O chamado "bagulho" (fogões, geladeira, moveis, etc), por
exemplo, nem sempre é considerado lixo pelas prefeituras. O autor enfatiza ainda que sob o
ponto de vista econômico, resíduos ou lixo é todo material que uma dada sociedade ou
agrupamento humano desperdiça, devido à indisponibilidade de informação ou de meios para
realizar o aproveitamento do produto descartado, inclusive falta de desenvolvimento de um
mercado para produtos recicláveis.
A definição operacional diz que o lixo é um resíduo que não é tecnicamente e
economicamente nem reutilizável nem reciclável. No ponto de vista da abordagem econômica
existem dois tipos de resíduos: um devido à produção de bens e outro devido ao consumo. Os
resíduos são objetos que já perderam todo o valor comercial, e cujo proprietário quer se livrar
ao menor custo, muitas vezes com prejuízo ao meio ambiente e é função do nível de
desenvolvimento ou bem estar da sociedade que o produz (Gandola, 1995).
9
Na abordagem cultural o resíduo é um espelho da sociedade que o produz, é
conseqüência do modo de vida, dos valores sociais e da cultura desta sociedade e evoluir com
a mesma. Mas, a definição de resíduos ou de lixo é também subjetiva, e depende da
concepção de que cada indivíduo tem por objeto em questão e do grau de sua dependência. Na
sociedade de consumo, o objeto vira resíduo a partir do momento em que deixa de ser útil ou
não agrada mais ao seu proprietário, independente talvez o seu estado de funcionamento ou de
suas potencialidades, como fonte de energia ou de matéria-prima.
Quanto às classificações, diversas propostas têm sido apresentadas para representar e
cobrir a elevada variabilidade de resíduos que convergem às unidades de disposição final. A
NBR 10.004/87 (“Resíduos Sólidos – Classificação”) da ABNT, por exemplo, em conjunto
com as normas NBR 10.005/87, 10.006/87 e 10.007/87, enquadra os resíduos em 3 classes:
O conhecimento das características básicas dos resíduos sólidos urbanos gerados por
uma comunidade é fundamental para definição de técnicas de manejo, acondicionamento,
transporte, tratamento e disposição final destes resíduos. Entretanto não é tarefa fácil
10
caracterizar os resíduos sólidos urbanos, pois sua origem, composição e quantificação variam
e dependem de inúmeros fatores como modo e nível de vida da comunidade; tipo de
economia; condições climáticas, hábitos e costumes, variações sazonais, tipo de coleta
efetuada etc. Sobras de alimentos, papéis, papelões, latas, plásticos e vidros são os principais
componentes dos resíduos sólidos urbanos.
Os resíduos sólidos urbanos, assim como os solos naturais, são meios multifásicos,
constituídos pelas fases sólidas, liquida e gasosa. Num primeiro momento tem-se
predominância da parte sólida (os resíduos propriamente dito), após algum tempo, devido aos
processos de digestão e infiltrações de águas de chuva , surgem as fases liquidas (chorume e
percolados) e gasosa (gás metano e outros). Estas duas últimas fases estão relacionadas aos
processos de decomposição e infiltrações ao longo do tempo, os quais estão diretamente
associados ao teor de umidade na massa dos resíduos e tempo para efetivação da coleta.
Vale ressaltar que um dos mais importantes fatores é o componente econômico.
Quando ocorrem variações na economia de um sistema, seus reflexos são imediatamente
percebidos nos locais de disposição e tratamento de resíduos; se, no entanto, o sistema entra
em desaquecimento e as fábricas e o comércio reduzem suas atividades, certamente haverá
menores quantidade de resíduos. O inverso também é verdadeiro, apesar de, nesses casos,
haver uma tendência para a estabilização depois de determinado período de tempo, quando se
atinge certo nível de consumo.
As migrações periódicas (férias, shows, micare, festas populares, etc), também são
responsáveis pelas variações na quantidade e qualidade dos resíduos. Nas cidades
potencialmente turísticas, nestes períodos, com a paralisação das atividades escolares,
ocorrem consideráveis mudanças na rotina dos estabelecimentos comerciais e industriais, o
que influencia substancialmente na quantificação e qualificação do lixo.
A composição quantitativa e qualitativa dos resíduos é um dos dados básicos para a
definição do acondicionamento, coleta, tratamento e disposição final do mesmo. Por exemplo,
o teor de umidade e uma característica importante na definição do condicionamento e
transporte, assim como os inertes (vidros, plásticos, metais, etc) e matéria orgânica é um dado
fundamental tanto para condicionamento, coleta como para planos de reciclagem,
compostagem e aterramento dos resíduos.
O teor de umidade, que representa a quantidade de água contida na massa de lixo,
depende diretamente das condições climáticas, variando sensivelmente de um lugar para
outro. É uma característica decisiva principalmente nos processos de tratamento e destinação
11
final, bem como para avaliar o poder calorífico. Lima (1989), cita que o valor médio do teor
de umidade do lixo domiciliar no Brasil é da ordem de 60%.
A massa específica, que representa a relação entre a massa e o volume (kg/m3),
também é importante na escolha de sistema de coleta e tratamento, pois sendo o lixo uma
substância compressível, o conhecimento da massa específica determina a capacidade
volumétrica dos equipamentos de coleta e a capacidade das células de destinos final. Sua
quantificação depende do sistema de coleta e do tipo de veiculo utilizado para coleta. No
Brasil, a massa específica natural de resíduos sólidos urbanos varia de 180 kg/m3 a 300 kg/m3.
O teor de matéria orgânica que representa, a quantidade, em peso seco, de matéria
orgânica contida na massa dos resíduos. Em países em desenvolvimento, o teor de matéria
orgânica costuma representar a maior fração em peso, variando de 50 a 60 %. As
características da matéria orgânica variam com o tempo e alguns fatores são responsáveis por
essas variações, tais como a densidade de microorganismos, a demanda bioquímica de
oxigênio (DBO), que pode ser definida como a quantidade de oxigênio requerida durante a
estabilização de matéria orgânica decomponível e a matéria oxidável pela ação biológica
aeróbia; a relação carbono:nitrogêneo (C:N), que indica a capacidade dos resíduos em
decomposição de se constituírem em compostos orgânicos bio-estabilizados e mais resistentes
às espécies consumidoras.
Geração per capita que relaciona a quantidade de lixo gerado diariamente por um
número de habitantes de determinada região. Quanto a quantidade produzidas, no Canadá por
exemplo, a media de lixo per capta/dia é de 2,7 kg, enquanto no Brasil é de 0,75 kg. A
composição dos resíduos sólidos de países ou regiões desenvolvidos apresenta maior
percentual de material de vida longa, como plásticos, metais e vidros, passíveis de serem
aproveitados ou retornados ao ciclo produtivo. Em países em desenvolvimento, em grandes, a
matéria orgânica ainda se apresenta como principal elemento dos resíduos sólidos urbanos, o
que também não impede o seu aproveitamento como matéria-prima do composto orgânico,
conforme mostrado na Tabela 1.
Neste contexto, a fase sólida dos resíduos sólidos é constituída por uma quantidade
variável de plástico, papel, tecidos, borracha, madeira vidro, metais, resíduos alimentares e de
feiras, entulho e outros. A composição do RSU varia bastante de uma região para outra e,
geralmente, está relacionada com os níveis de desenvolvimento econômico e cultural dessas
regiões. Em geral, em locais menos desenvolvidos socio-economicamente, apresenta-se com
maior porcentagem de matéria orgânica quando comparado com locais mais desenvolvidos.
Entretanto é comum observar no Brasil que em locais menos desenvolvidos, principalmente
12
no interior das regiões norte e nordeste, a presença da matéria orgânica, vidros e ossos é muito
restrita devido a pouca disponibilidade de recursos da população.
Compressibilidade, que indica a redução de volume que a massa do lixo pode sofrer,
quando submetida a determinada pressão. Estes dados são utilizados para dimensionamento
dos equipamentos compactadores e nos projetos de aterros sanitários.
Numa visão geotecnica a fase sólida apresenta diversos constituintes, e podem ser
divididas, em função de sua compressibilidade, em três grandes categorias quais sejam:
materiais inertes, materiais muito deformáveis e materiais orgânicos biodegradáveis. A
categoria dos inertes (vidro, metais, cerâmica, solos, cinzas, entulho) apresenta
comportamento mecânico semelhante aos solos granulares, os quais desenvolvem forças de
atrito entre as partículas. A segunda categoria incluem plásticos, papeis têxteis e borracha, os
quais apresentam alta deformabilidade e possibilidade de absorver ou incorporar fluidos no
interior de sua estrutura e quando submetidos a um carregamento esses materiais sofrem
grande deformações iniciais com mudança de sua forma original. A categoria dos
biodegradáveis é constituída por resíduos de poda e alimentos passam por significantes
transformações físico-químicas acompanhadas pela produção de gases e líquidos.
13
2.2.3 - CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS
Teores de cinzas totais e solúveis, pH, matéria orgânica, carbono, nitrogênio, potássio,
cálcio, fósforo, e gorduras são dados importantes para se definir os processos de tratamento
aplicáveis ao lixo. Relação carbono/nitrogênio (C/N), que indica o grau de degradação da
matéria orgânica, é um dos parâmetros básicos para avaliar a compostagem. Poder calorífico
que indica a capacidade potencial de um material despender determinada quantidade de calor
submetida à queima.
- lixo domiciliar: aquele oriundo da vida diária das residências, constituídos por restos
de alimentos, produtos deteriorados, jornais revistas, garrafas embalagens em geral, papel
higiênico, fraldas descartáveis, produtos tóxicos (tais como, pilhas, lâmpadas etc) e uma
grande diversidade de outros itens;
- lixo comercial: aquele oriundo dos diversos estabelecimentos comerciais e de
serviço.
- O lixo público: aquele originado dos serviços de limpeza pública urbana, incluindo
todos os serviços de varrição das vias públicas, limpeza de praias, de galerias, de córregos,
resto de poda de árvore, feiras livres.
14
- O lixo de serviço de saúde e hospitalares: São os originários das diferentes áreas dos
hospitais: refeitórios, centros cirúrgicos, administração, limpeza etc. Fazem parte desta
classificação os resíduos provenientes de clínicas, laboratórios, farmácias, clínicas
veterinárias, postos de saúde etc.
- lixo industrial é todo aquele originário nas atividades dos diversos ramos da
industria, tais como, metalúrgicos, químicos, petroquímicos, papeleiros, alimentícios etc.
- lixo de portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários - constituem os
resíduos sépticos.
A NBR 10004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas classifica os resíduos em
resíduos perigosos; não-inertes e inertes. Os resíduos perigosos (Classe I), de acordo com a
norma são aqueles que em função de suas propriedades físicas químicas ou infecto-
contagiosas podem apresentar riscos à saúde pública. Os não-inertes (Classe II) são aqueles
que não se enquadram na classe I ou III. Eles podem ter propriedades com combustibilidade,
biodegradabilidade ou solubilidade em água. Os inertes (Classe III) são aqueles que não tem
nenhum de seus componentes solubilidade pela água.
Os resíduos especiais são aqueles que, por suas propriedades extrínsecas, exigem
tratamentos diferenciados. Dentre os resíduos especiais, podemos destacar os resíduos de
agrotóxicos e suas embalagens, as pilhas, lâmpadas e assemelhados, pneus e óleos
lubrificantes, entre outros.
A eliminação de pneus de borracha, praticamente indestrutíveis, tornou-se uma
preocupação mundial. Sua reutilização depende em geral de aplicações de baixa tecnologias.
A reciclagem é a forma mais promissora de eliminar os restos de pneus do fluxo de dejetos. O
uso da borracha foi impulsionado pela presente popularidade da bicicleta, no século XIX,
como meio de transporte e depois pelos veículos motorizados, no século XX. O limitado
acesso às fontes naturais de borracha durante a Primeira Guerra Mundial levou ao
desenvolvimento de borrachas sintéticas manufaturadas de hidrocarboneto. Essas borrachas
sintéticas evoluíram, foram aperfeiçoadas e agora significam 63% da manufatura global de
borracha. O seu consumo está fortemente relacionado ao desenvolvimento econômico e,
como tal, o problema da sua remoção é predominante nas economias do Primeiro Mundo,
representando, porém, um problema potencial para os paises em desenvolvimento.
15
O despejo de pneumático de borracha é um problema particular e difícil para as
comunidades e para o meio ambiente, especialmente por tratar-se produto projetado para
operar por um longo período de tempo exposto aos extremos do tempo e absorvendo impactos
constantes.
A sucata de pneus tem sido um problema crescente, agravado pelos seguintes fatores:
a) nos depósitos, os pneus não de deterioram por centenas de anos, ocupando muito espaço
relativamente ao seu peso; b) em depósitos cheios, eles também põem criar um terreno
esponjoso que poderá se tornar movediço e conseqüentemente imprestável para o uso
posterior; c) em pilhas são um refugio propício a proliferação de parasitas e insetos
representando uma serie ameaça a saúde.; d) em grandes volumes representam um risco
substancial de fogo, liberando rolos de fumaça negra e nociva e um óleo que pode contaminar
os lençóis d’ água.
Diferentemente de muitos plásticos, que podem ser moldados com a aplicação do calor
e pressão, o tratamento ou processo de vulcanização da borracha não é muito revertido. O
processo de desvulcanização é altamente custoso e produz emissões altamente nocivas e
inaceitáveis para o meio ambiente. Excluindo a recauchutagem outra opção ambientalmente
aceita para pneus velhos incluem a pirólise – processo pelo qual a borracha é desintegrada em
seus componentes: óleo, gás e carbono negro; fragmentação – processo que não tenta alterar o
estado da borracha, mas reduz o pneu a granulados e pó de borracha tratada para ser
reutilizada e recuperação de energia.
Com avanço tecnológico, surgiram novas aplicações, como a mistura com asfalto, em
concentrações de 15% a 25%, apontada hoje nos EUA como uma das melhores soluções para
o fim dos cemitérios de pneus. A queima de pneus para aquecer caldeiras é regulamentada por
lei e os principais usuários são as industriais de papel, celulose e as fabricas de cal e cimento,
que usam a carcaça inteiras e aproveitam alguns óxidos contidos nos metais dos pneus radiais.
De uma forma geral, grande parte das carcaças de pneus são abandonadas ao acaso e
acabam parando as margens das rodovias, córregos, lagos ou servindo de barreira física
prejudicando os sistemas de drenagem das grandes cidades. Mesmo não apresentando risco de
contaminação por dissolução química nestes ambientes, segundo Collins et al (1995), citados
por Paranhos (2002) devem ter destinos adequados.
Nos últimos anos tem aumentado o interesse no gerenciamento e na disposição dos
resíduos sólidos urbanos (RSU). Esforços para minimizar a produção de resíduos, bem como
para reciclar e reusar alguns materiais são algumas das políticas de gerenciamento adotadas
hoje por todo o mundo. Mesmo com o desenvolvimento de novas tecnologias de tratamento,
16
ainda assim, o aterramento continua sendo o método de disposição mais usado nas diferentes
partes do mundo. No Brasil, segundo O Manual de Gerenciamento Integrado do Lixo
Municipal (Cempre, 1995), cerca de 76% das 242.000 toneladas diárias de resíduos sólidos
urbanos produzidos são dispostas a céu aberto (lixões) e, apenas 24% restantes, recebem uma
disposição mais adequada. Destas, 13% vão para os aterros controlados, 10% para aterros
sanitários, 0,9% para as usinas de compostagem e 0,1% para as usinas de incineração.
E desde os primórdios da humanidade os homens procuram um meio para tratamento
desses resíduos, uma vez que estes surgiram com o início da civilização. O problema dos
resíduos sólidos surgiu basicamente quando o homem começou a abandonar a vida nômade
para se tornar sedentário. Entretanto, mesmo depois de formados aglomerados, vilas e
cidades, os resíduos produzidos não representavam ameaça significativa, tendo em vista sua
própria composição, quantidade e enorme disponibilidade de terras para sua disposição.
Atualmente, a arqueologia descobre a origem e formas de vida dos nossos
antepassados, pesquisando através dos seus restos e vestígios. Já na História Antiga, povos da
Mesopotâmia (2.500 a.C.), os Nabateus, enterravam seus resíduos domésticos e agrícolas em
trincheiras escavadas no solo (Lima, 1991). Segundo Moraes & Marra (1995), nesta mesma
época, os habitantes de Atenas eram obrigados a transportar os resíduos para um dos
primeiros aterros municipais registrados, fora da cidade. Esta necessidade pode ser
comprovada também pelo povo romano, no ano de 150, onde a população se viu ameaçada
por inúmeros vetores que apareciam onde os resíduos eram dispostos aleatoriamente. Porém o
fator de maior impulso para melhoria das técnicas confiáveis para a disposição de rejeito
surgiu a partir da Idade média, quando 43 milhões de europeus morreram em conseqüência da
peste bubônica, obrigando pesquisadores da época, ligados à saúde, buscarem alternativas
mais adequadas para o armazenamento de lixo (Lima, 1991).
Com o contínuo progresso tecnológico, surge um novo quadro principalmente com o
advento da revolução industrial. Os resíduos começaram a ser produzidos em volume cada
vez mais intensos e muito mais perigosos, obrigando o desenvolvimento de técnicas
apropriadas para coleta, tratamento e disposição. Porém segundo Haverty, citado por Merbach
(1989), somente no início da década de 30, do século XX, é que o método de aterro foi
desenvolvido como alternativa ao destino final a céu aberto. A partir de então, como o
aprimoramento da técnica, surgiu o que se denomina por aterro sanitário.
17
2.4 - ATERROS SANITÁRIOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS
18
culminaram no chamado Aterro Sanitário (Schalch e Moraes, 1988). O aterro sanitário é uma
forma de disposição de resíduos segura, tanto do ponto de vista sanitário, quanto ambiental,
desde que siga os critérios de engenharia e normas operacionais adequadas. É considerada,
também, uma forma de tratamento dos resíduos sólidos, tendo em vista que nele ocorrem
transformações físicas, químicas e biológicas (Rocca et al. , 1983)
Segundo a resolução do CONAMA N° 001/1986, modernamente o aterro sanitário é
uma forma de disposição final de resíduos sólidos no solo, que usa as técnicas da engenharia
para confinar o lixo na menor área possível e utiliza uma metodologia que preserva o meio
ambiente e protege a saúde pública. É um aprimoramento de uma técnica mais antiga utilizada
pelo homem para descarte de seus resíduos, que é o aterramento.
A NBR 8419/1992 – “Apresentação de Projetos de Aterro Sanitário de Resíduos
Sólidos Urbanos”- define aterro sanitário como a técnica de disposição de resíduos sólidos no
solo, sem causar danos à saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais,
métodos este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor
área possível e reduzi-los ao menor volume possível, cobrindo-os com uma camada de terra
na conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos menores, se necessário.
O projeto de Norma 1:63.01-0001, de outubro de 1987, da ABNT, que trata sobre
degradação do solo – Terminologia, define aterro sanitário como- “forma de disposição final
de resíduos urbanos no solo, através de confinamento em camadas coberta com material
inerte, geralmente solo, segundo normas operacionais especificas, de modo a evitar danos ou
riscos à saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais”.
Leite (1995), comenta que o aterro sanitário é o método de disposição mais difundido
em todo o mundo visto que é a solução mais econômica quando comparada com os processos
de compostagem e de incineração. É o principal sistema de destino final dos resíduos sólidos
domésticos hoje no Brasil e pode ser também definido como um reator heterogêneo, em que
resíduos sólidos e água constituem as principais entradas e o gás de aterro e o lixiviado ou
chorume como as principais saídas. O gás de aterro e o líquido percolado são produtos
indesejáveis formados num aterro sanitário, e se não houver um tratamento para ambos,
poderá ocorrer entre outros problemas, à contaminação do ar pelo gás de aterro e do lençol
freático e do solo pelo líquido percolado que infiltra no solo.
19
2.4.2 - TIPOS DE ATERROS SANITÁRIOS
20
atenuador de poluição, para determinados tipos de resíduos, uma parcela do percolado pode
atingir o lençol freático. A primeira alternativa é a mais utilizada e recomendada, porém a
adoção da segunda pode ser viável, desde que os resíduos não tenham características tóxicas,
seja devidamente caracterizado e a utilização justificada através de uma análise de impacto
ambiental.
Considerando as características físicas e bioquímicas dos resíduos sólidos, Griesinger
(1978) classifica os aterros em três classes:
a) classe 1 – aterros que podem receber todos os tipos de sólidos inertes, cujos líquidos
percolados não podem agredir o lençol freático. A principal precaução é a emissão de
partículas sólidas.
b) classe II – aterros que podem receber materiais cujos líquidos percolados tenham
influência sobre o lençol freático, pelo conteúdo da matéria orgânica e outras
substancias não tóxicas (resíduos sólidos inertes misturados com matéria orgânica,
etc).
c) classe III – são locais de disposição que recebem resíduos industriais, cujos líquidos
percolados são tóxicos, merecendo cuidados especiais. Os materiais mais comuns são:
resíduos sólidos e pastosos industriais.
21
b) Quanto às formas construtivas e operacionais adotadas na disposição.
b) superfície
c) depressão
Figura 2.2 - Forma de disposição em aterros sanitários (modificado Figueiredo e Bozza,
1993)
22
Um aterro em trincheira deve ser usado para comunidades que geram baixa quantidade
de resíduos ou em casos onde a composição química ou biológica do resíduo for duvidosa e
trouxer riscos à saúde pública ou ao meio ambiente. Para esse tipo de aterro, o lençol freático
não deve estar próximo da superfície e as dimensões da trincheira são função da quantidade
de resíduos a ser aterrada e da vida útil requerida. Os resíduos são dispostos em células ou
trincheiras escavadas no solo com taludes variados, despontam como mais usuais os de 1,5:1;
2:1, (H:V), compactados e recobertos, diariamente, por uma camada de material inerte (solo).
O fundo da escavação deve ser impermeabilizado com membrana sintética e/ou solo
compactado.
O aterro de superfície é usado em locais de topografia plana impróprios para a
execução de trincheiras e células (onde escavações aproximariam o fundo das células do nível
do lençol freático), onde os desníveis para disposição dos resíduos são obtidos com um dique
de terra ou do próprio resíduo. Esse método é bastante oneroso, pois requer cuidados
especiais, como por exemplo construção de diques, etc. Por último, os aterros de depressão
são empregados em regiões de topografias acidentadas, como grotas, fundos de vale, pedreiras
extintas e encostas. As técnicas de disposição e compactação do resíduo, nesse tipo de aterro,
variam com a geometria, com a hidrologia e geologia do local e com a disponibilidade de
material para cobertura (Tchobanoglous et al., 1993).
23
Com relação às denominadas “condições gerais”, a legislação é bastante específica e
disciplina o projeto de forma a que o mesmo seja constituído de: memorial descritivo
(contendo informações cadastrais, informações sobre os resíduos, informações sobre o local,
concepção/ justificativa, descrição e especificação dos elementos, operação, e uso futuro da
área); memorial técnico (cálculo dos elementos, vida útil do aterro, sistemas de drenagem,
sistema de tratamento, e cálculos de estabilidade); estimativas de custo e cronograma;
apresentação de pranchas; e eventuais anexos.
Aspectos técnicos relacionam-se principalmente às condições exigidas para as áreas
destinadas a tal finalidade, medidas de proteção ambiental, condições construtivas e condições
de operação de aterros sanitários.
As medidas de proteção ambiental referem-se principalmente à proteção de meios
fornecedores de água, englobando possíveis nascentes presentes na área e o lençol freático.
Quanto à proteção de nascentes, o cuidado usual é evitar áreas com presença das mesmas ou,
caso isso não seja possível, efetuar obras de drenagem para proteção das mesmas.
Para a proteção do lençol freático os procedimentos normalmente utilizados são:
impermeabilização da base do aterro (com obediência a uma altura mínima entre a base do
aterro e o lençol); drenagem e tratamento do líquido percolado; desvio de águas pluviais;
cobertura dos resíduos e isolamento da área.
Com relação à escolha da área, as preocupações recaem prioritariamente sobre o custo de
desapropriação e presença de aglomerados de pessoas próximos, com uma visão relacionada
aos impactos negativos que a presença de um aterro podem criar para a qualidade ambiental
(odores, fumaça, presença de animais, e possibilidade de concentração de vetores).
Aspectos como a legislação do parcelamento do uso do solo (infelizmente nem sempre
presentes em todo município brasileiro e nem sempre efetuada com base em critérios
técnicos), e critérios técnicos de construção e execução de aterros sanitários, tais como
presença de material adequado ao recobrimento e condições de infiltração de líquidos no
terreno, são relegados a segundo plano, encarecendo o projeto final ou implantação do mesmo
(Lollo & Gebara, 1997). Estes autores enfatizam ainda que os aspectos relacionados à escolha
da área podem ser grosseiramente divididos em aspectos de “caráter geral” e “condições
específicas” da área. Dentre os aspectos de caráter geral, deve-se considerar os seguintes
requisitos: zoneamento ambiental; zoneamento urbano; acessos; vizinhança; economia de
transporte; titulação da área; economia operacional do aterro; infra-estrutura urbana; e
condições hidrográficas da área.
24
As condições específicas da área englobam: características topográficas; características
geológico-geotécnicas (não só do futuro subsolo do aterro, mas também dos possíveis
materiais de recobrimento); condições climáticas; condições de uso da água e do solo; e
adequação do projeto às condições naturais da área.
Quanto às condições de operação existem alguns aspectos (relacionados ao projeto do
aterro) que são fundamentais na definição das condições de operação tais como: técnica de
disposição (trincheira, rampa, e área); procedimentos de tratamento do chorume (anaeróbia,
aeróbia, ou outro tipo de tratamento biológico); sistemática de recobrimento; projeto de
tratamento dos gases; e projeto de recuperação e destinação da área após sua desativação.
Dentre os aspectos relacionados à condições construtivas merecem destaque:
impermeabilização da base do aterro; obras de drenagem (de águas pluviais, de nascentes, de
gases, e do chorume); execução de filtros; análise de estabilidade de taludes de terra e dos
resíduos dispostos; sistema de coleta de líquido percolado; e fechamento final do aterro.
Outro aspecto a ser analisado para seleção preliminar de áreas destinadas a implantação
de aterro sanitário é à distância do aterro a área urbana. Nesse caso são considerados os
vetores de crescimento na área urbana, de forma a minimizar os efeitos negativos para a
população sem, no entanto, encarecer o custo do transporte do resíduo.
Quanto à questão de nascentes e mananciais superficiais, mesmo sabendo-se que
existem tecnologias disponíveis para o aproveitamento de áreas que apresentem nascentes e
áreas alagadiças, as mesmas são evitadas em função do custo que a implantação destas
soluções tecnológicas podem representar e evitando-se grandes prejuízos ambientais.
Com relação à distância a cursos d’água, a legislação preconiza que a área esteja no
mínimo 200m desde que as mesmas apresentem condições topográficas, geológicas e
geotécnicas favoráveis às operações de tratamento do líquido percolado.
Como todo projeto geotécnico, as pesquisas iniciais devem ser feitas a partir do exame
de fotografias aéreas, mapas geológicos e plantas topográficas existentes. As alternativas
finais serão, então, objeto de inspeções de campo detalhadas. Outro aspecto de grande
importância é a característica topográfica da área, fator que pode encarecer sobremaneira
tanto o projeto como a implantação do aterro e facilitar o processo de percolação aumentando
os riscos de contaminação de corpos d’água. Neste caso, a avaliação das áreas é feita com a
produção e análise de cartas de declividade, dando-se preferência à aquelas áreas nas quais
predominem classes de declividade entre 5 e 10%. Este intervalo de declividade não só
favorece os serviços de escavação como proporciona boas condições de estabilidade de
25
taludes naturais além de retardar a infiltração de fluidos no terreno, tornando o processo de
tratamento do percolado mais eficiente.
A escolha do local para implementação do aterro sanitário, tal como a determinação
antecipada do uso que se dará ao terreno, após a execução dos serviços, deve ser feita
atendendo-se ao planejamento do desenvolvimento econômico e social da região, as diretrizes
fixadas quanto ao desenvolvimento urbano (PDOT), à proteção de recursos hídricos e a defesa
do meio ambiente.Sítios potenciais incluem terrenos localizados em áreas rurais, áreas
deterioradas pela atividade industrial, áreas que tenham sofrido recalque ocasionado por
trabalhos subterrâneo, e terrenos com condições topográficas desfavorável e que podem ser
recuperados por meio de aterros. A localização deve ser tal que sejam minimizados os custos
de desapropriações e de operação do sistema de coleta e de transporte, respeitadas os demais
fatores.
Como já salientado a seleção do local para instalação envolve não só fatores
ambientais, mas também, técnicos, econômicos, legais e sociais. São considerados
fundamentais e decisivos os aspectos hidro-geológicos envolvidos, tendo em vista,
especialmente, riscos de contaminação de recursos hídricos pelo líquido percolado. Devem ser
também investigados os condicionantes topográficos, geotécnicos da área, distância de
transporte dos centros geradores RSU, capacidade de disposição, condições de acesso e
trafegabilidade, susceptibilidade de contaminação e disponibilidade de solos para
recobrimento, dentre outros fatores.
Informações climatológicas como precipitação pluviométrica, evaporação, direções
dos ventos predominantes e regime de chuvas devem ser consideradas na escolha do local de
implantação de um aterro sanitário, pois esses dados influenciam no dimensionamento de
vários elementos do projeto, principalmente na cobertura final, sistema de coleta/remoção de
percolado, tratamento dos efluentes, bem como no planejamento e na operação do sistema.
A geologia, hidrogeologia e geotecnia são fatores importantes na análise ambiental da
área, pois a partir desses dados estabelecem-se as medidas de projeto e monitoramento do
aterro. Os dados geológicos e geotécnicos referem-se aos parâmetros de condutividade
hidráulica, resistência e deformabilidade dos terrenos de fundação e, os de higrogeologia,
refere-se ao comportamento das águas subterrâneas, dentre outros. A estimativa da capacidade
de disposição do local na avaliação do custo-benefício do projeto é determinante na seleção
da área.
O Manual de Gerenciamento Integrado do Lixo Municipal (Cempre, 1995) recomenda
a utilização dos critérios apresentados na Tabela 2.2 para avaliação de possíveis áreas para
26
instalação de aterros sanitários. Já Tiveron et al. (1995), a escolha de áreas para a implantação
de aterros sanitários, quase sempre, recai sobre regiões encaixadas, em que as redes de águas
superficiais e subterrâneas convergem para um único ponto, o qual pode ser perfeitamente
monitorado e tratado, podendo com isso ser evitado a eventual contaminação do lençol
freático.
Mello & Val (1994) comentam a existência de três linhas na concepção das áreas de
disposição, que são: a) áreas impermeabilizadas ou totalmente drenadas de forma a evitar
qualquer contato dos líquidos percolados com as águas subterrâneas. b) áreas em que se
admite certa infiltração do percolado, impondo fatores limitantes como a profundidade do
lençol freático e as características hidráulicas dos solos de fundação. c) áreas em que se impõe
o contato entre o percolado e o lençol freático, condicionando que o lençol freático não atinja
cotas inferiores a um determinado valor. Os autores argumentam ainda, que a escolha da área
de disposição a utilizar, em cada caso, deve ser baseada no tipo do resíduo a dispor e sua
inter-relação com o meio físico.
Tabela 2.2. Critérios para avaliação das áreas para instalação de aterro sanitário.
Classificação das Áreas
Dados Necessários Recomendada Recomendada com Não -Recomendada
Restrições
Vida útil > 10 anos (10 anos, a critério do órgão ambiental)
27
2.4.4 - TÉCNICA DE EXECUÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS
28
pesquisadores os painéis de geotêxteis podem ser usados aproximadamente 5 vezes no
inverno e mais de 15 vezes em dias ensolarados. Já as lonas impermeáveis apresentam um
tempo de vida maior que os geotêxteis.
drenagem de
águas pluviais
drenos horizontis
de chorume
recobrimento
diário
recobrimento final resíduos
berma
2
1
camada de impermeabilização
detalhe dreno
de gás
0,30
1%
0,40
0,40
29
geotêxteis ou georrede. Segundo Van Impe (1998b), a camada de drenagem é opcional, sendo
necessária somente em locais onde existir um grande fluxo de água ou altas forças de
percolação através da camada de proteção. A camada de impermeabilização (liner superior) é
composta de camadas de solo compactado com baixa permeabilidade, geomembrana,
geossínteticos ou combinações desses materiais (Sensson et al. 1994; Van Impe 1998b,
Daniel,1998), sendo que a espessura da barreira depende do material utilizado e da concepção
do projeto, principalmente quanto à futura destinação que será dada a área. Parte dessa
camada tem a função de minimizar a infiltração de água e saída de gases da camada de RSU.
A camada de coleta de gases permite conduzir os gases para pontos de coleta e
remoção e, em geral, é constituída por materiais como areia, geotêxteis e georrede. A Figura
2.5 apresenta os diferentes tipos de sistemas de cobertura final mínimo propostos segundo
recomendações e regulamentações de alguns países (Manassero et al. 1996 e Manassero et al.
1998).
Em virtude a crescente escassez de áreas apropriadas para disposição de resíduos
sólidos, vem conquistando cada vez maior interesse a utilização de técnicas e processos que
reduzam previamente o volume de resíduos a serem lançados nos aterros, aumentando assim a
vida útil dos mesmos, e/ou de metodologias executivas que conduzam à melhoria das
propriedades mecânicas dos resíduos, possibilitando assim, por outro lado, viabilizar
ampliações dos maciços, dentro de níveis de segurança adequados. No primeiro caso, podem
ser citadas as técnicas de trituração e de enfardamento dos resíduos, enquanto que para o
segundo, além da compactação convencional, os processos de compactação intensiva,
compactação dinâmica e pré-carregamento do maciço.
30
Figura 2.5 - Esquemas típicos para recobrimentos finais.
31
A compactação dinâmica do RSU é um fator importante no processo de operação dos
aterros, pois além de reduzir volume, melhora as características mecânicas dessas estruturas
no que se refere ao aumento de densidade e redução de recalques (Van Impe & Bouazza,
1996).
32
Dentre os materiais, comumente empregados em tratamento de base de aterros,
destacam-se as argilas compactadas e as membranas sintéticas. As camadas
impermeabilizantes devem ser executadas com controle tecnológico e devem atender
características tecnológicas de baixa permeabilidade, mínimas espessuras, representando
barreiras à migração de poluentes.
- Sistema de Operação: O sistema de operação deve levar em consideração, os
aspectos relacionados à otimização dos recursos humanos, materiais e financeiros, bem como
a forma de gerenciamento. O processo de aterramento do lixo ou a formação das células de
resíduos, segundo a classificação de aterros, conforme a técnica de operação de preparar os
aterros de superfície, geralmente é executado sob três formas tradicionalmente empregadas:
método da trincheira, método da rampa e método da área. A escolha ou definição de um
método depende das características físicas e geográficas da área.
Os efluentes líquidos e gasosos, provenientes da geração dos resíduos dispostos no
aterro, causados pela degradação dos mesmos, devem ser coletados e submetidos a processos
de tratamento adequados às condições locais e à concepção do projeto de aterro sanitário.
Cabe salientar que os métodos operacionais citados descrevem apenas o processo de
formação geométrica das células de resíduos e não definem qualquer forma de tratamento
para o resíduo a ser disposto.
- Sistema de Drenagem - sob o sistema de tratamento de base do aterro sanitário é
conveniente projetar-se um sistema de drenagem de fundação para a coleta de águas naturais
do subsolo. Este sistema deve ser acessado pelo sistema de monitoramento ambiental do
aterro, de maneira a atestar as boas condições de desempenho do sistema de tratamento de
base, durante a vida útil desse aterro e após o seu fechamento.
- Sistema de Cobertura - O sistema de cobertura tem a função de proteger a superfície
das células de resíduos, minimiza impactos ao meio ambiente, visando à eliminação da
proliferação de vetores, à diminuição da taxa de formação de percolados, à redução da
exalação de odores, impedir a catação, permitir o tráfego de veículos coletores sobre o aterro,
à eliminação da queima dos resíduos e à saída descontrolada dos gases. Além destas
características, o sistema de cobertura deve ser resistente a processos erosivos e, adequado à
futura utilização da área.
O uso de proteção vegetal é recomendado, procurando-se integrar a massa final ao
meio ambiente local. Os materiais componentes do sistema de cobertura final deverão ser
especificados de maneira a atender os requisitos técnicos anteriores, da mesma forma que o
33
sistema de impermeabilização de base. A garantia de bom desempenho depende de controle
tecnológico durante a execução.
- Sistema de Drenagem de Águas Pluviais - este sistema tem a finalidade de
interceptar e desviar o escoamento superficial das águas pluviais, durante e após, a vida útil
do aterro, evitando sua infiltração na massa de resíduos. O dimensionamento da rede de
drenagem é dependente, principalmente, da vazão a ser drenada. Os métodos de
dimensionamentos seguem a prática usual de drenagem urbana, em se tratando de bacias de
pequena área de contribuição.
Nos aterros, em geral, o sistema de drenagem de águas pluviais é constituído por
estruturas drenantes de meias calhas de concreto (canaletas) associadas a escadas d'água e
tubos de concreto.
- Sistema de Captação e Drenagem de Líquidos Percolados: O sistema de drenagem
de líquidos percolados deve coletar e conduzir o líquido percolado, que atravessa a massa do
aterro, através de drenos internos, reduzindo as pressões atuantes dos líquidos na massa de
resíduo e minimizando o potencial de migração do mesmo no subsolo.
Este sistema poderá ser projetado através de drenos de material inerte com ou sem
tubo perfurado, direcionando os percolados até o local de acumulação, de onde serão enviados
a um tratamento adequado. Para o dimensionamento desse sistema de drenagem é
fundamental o conhecimento da vazão a ser drenada e das condicionantes geométricas da
massa de resíduos. A sua concepção depende da alternativa de tratamento adotado para o
aterro sanitário, podendo inclusive estar associada ao sistema de drenagem de gases.
- Sistema de Drenagem de Gases - O sistema de drenagem de gases tem a função de
drenar os gases provenientes da decomposição da matéria orgânica resultante do processo de
digestão, evitando sua migração através dos meios porosos que constituem o subsolo. A
migração dos gases deve ser controlada através da execução de rede de drenagem adequada,
constituída por drenos verticais colocados em pontos estratégicos nas células. Estes drenos
atravessam toda a célula no sentido vertical, desde a camada de impermeabilização até as
camadas superiores. Associados aos drenos verticais projetam-se drenos horizontais e
subverticais que facilitam a drenagem mais eficiente da massa de resíduos. Estes drenos
podem ser interligados ao sistema de drenagem de percolados, dependendo da alternativa de
solução de tratamento adotada para o aterro sanitário.
- Análise da Estabilidade dos Maciços dos Resíduos Sólidos Dispostos- A
estabilidade dos maciços de terra, da fundação e da massa de resíduos sólidos dispostos nas
células do aterro deve ser analisada a partir de parâmetros e métodos de análise adequados ao
34
local. O objetivo da análise de estabilidade é a definição de geometria estável do aterro e seus
entorno, com critérios de segurança adequados para obras civis.
- Sistema de Tratamento dos Líquidos Percolados - uma das formas de
minimização do impacto ambiental causado pelo aterramento de resíduos sólidos é a coleta,
remoção e tratamento dos líquidos percolados. A coleta deverá ser realizada através de drenos
com materiais inertes com/sem tubos que compõem o sistema de drenagem de percolado, os
quais conduzirão os líquidos percolados coletados até tanques, caixas ou lagoas de
acumulação de onde serão enviados a um tratamento adequado.
Sistema de Tratamento dos Gases - apesar das incertezas, muitos projetos visando à
exploração do gás metano de aterros sanitário vêm sendo estabelecidos nas últimas décadas,
em todo o mundo. No entanto, estes processos devem ser estudados com maior profundidade,
para que as incertezas possam, em um futuro próximo, serem minimizadas.
Os principais problemas com esses métodos estão relacionados à real capacidade de
produção e recuperação, à impossibilidade de um perfeito controle de determinados
parâmetros com umidade, pH, potencial "redox", temperatura, teor de sólidos voláteis e à
presença de substâncias inibidoras do processo biológico na massa de lixo, além de outros de
mesma importância
O processo de tratamento mais usual tem sido a queima dos gases provenientes do
aterro nos próprios drenos coletores de gases.
Sistema de Monitoramento - o sistema de monitoramento tem a função de conhecer
e avaliar o impacto causado pelo empreendimento através de monitoramento contínuo e
sistemático, sendo composto por monitoramento geotécnico e ambiental. O sistema de
monitoramento geotécnico consistirá basicamente em:
- controle de deslocamentos horizontais e verticais;
- controle do nível de percolado e pressões de gases no corpo do aterro;
- controle da descarga de percolado através de drenos;
- programação de inspeções periódicas no local.
O sistema de monitoramento ambiental basicamente consiste em:
- controle da qualidade das águas subterrâneas;
- controle da qualidade das águas superficiais;
- controle da qualidade do ar;
- controle da poluição do solo;
- controle dos vetores propagadores de doenças.
35
O monitoramento deverá ser efetuado através da ativação dos poços de
monitoramento, instalação de piezômetros, medidores de deslocamentos verticais, medidores
de vazão, análises físico-químicas e biológicas.
Fechamento Final do Aterro - a concepção de um plano de encerramento do aterro
sanitário, prevendo-se a recuperação da área utilizada e sua ocupação final. O
dimensionamento do sistema de fechamento do aterro sanitário é função do tratamento dos
resíduos, adotado durante a vida útil do mesmo.
As drenagens que circundam a área aterrada, as vias de acesso e os sistemas de
monitoramento deverão ser mantidos em funcionamento após o encerramento do aterro. Os
sistemas de drenagem e tratamento dos líquidos percolados e dos gases deverão ser mantidos
em operação durante todo o tempo que os líquidos e gases apresentarem potencial poluidor.
A cobertura final de terra deverá ser executada de maneira a evitar o surgimento de
vetores de doenças e a percolação indevida de líquidos e gases. Salientamos ainda que o
monitorarnento deverá ser mantido e as leituras realizadas periodicamente, até a estabilização
da massa de resíduos.
36
A drenagem de nascentes é feita a partir da execução de drenos constituídos por valas
preenchidas por areia e brita envolta ou não em manta geotêxtil, complementada, em alguns
casos, por tubos perfurados de concreto armado. Em geral, esses drenos são iniciados junto às
nascentes e instalados em valas escavadas ao longo das linhas de drenagem natural, conforme
Figura 2.7, Tiveron et al (1 995).
A CETESB (1993), levando em consideração as particularidades do local previsto
para implantação de aterro sanitário, apresenta algumas condições mínimas a serem
observadas para áreas de disposição de resíduos classe II, na qual enquadra o resíduo sólido
urbano, (Figuras 2.8 e 2.9).
Figura 2.8 - Esquema de aterros classe II- Condições climáticas e hidrogeológicas favoráveis.
37
Figura 2.9 - Esquema de aterros de resíduos classe II – Condições climáticas insatisfatória e
hidrogeológicas favoráveis.
Para terrenos de fundação que apresentam permeabilidade inferior a 10-5 cm/s e nível
de água a uma profundidade igual ou superior a 3,0m, não há necessidade de
impermeabilização da superfície do terreno natural. Por outro lado, para subsolos mais
permeáveis, com k > 10-4 cm/s e posição do nível de água igual ou menor a 1,5m do fundo
das células de aterramento, há a necessidade de impermeabilização da fundação do aterro. A
ABNT (Projeto de norma PN 1:603.06 - 006) exige que o liner de base das células, apresente
permeabilidade inferior a 10-7 cm/s e espessura mínima igual a 1,0m.
Os liners são considerados barreiras artificiais, geotécnicas ou tapetes de
estanqueidades que podem estar dispostas nas formas horizontais ou inclinadas. Assim,
devem apresentar estanqueidade, durabilidade, resistência mecânica, resistência a intempéries
e compatibilidade com os resíduos a serem aterrados. As soluções mais freqüentes são aquelas
formadas por camadas relativamente espessas, em geral em torno de 1 metro, compostas por
solos naturais selecionados como argilas e siltes argilosos e pela mistura de solo-bentonita e
finalmente por camada delgada de geomembranas ou a utilização de barreiras de GCL.
Basicamente, os liners têm a função de impedir a migração dos contaminantes para as águas
de subsuperfície e para o solo natural. Devem possuir permeabilidade menor que 10-7 a 10-8
cm/s, serem estáveis, de baixa permeabilidade e apresentar alta capacidade de sorção. Esses
solos das barreiras fornecem a base protetora quase ideal para algumas situações, onde a
argila pode atenuar alguns contaminantes, por processos de sorção e precipitação (Leite,
1995).
Vários estudos em termos de plano e técnicas têm sido desenvolvidos com a função
efetiva de se verificar a confiabilidade de um liner após a sua construção. Como exemplo
38
tem-se o trabalho desenvolvido por Daniel & Benson (1990), que estuda a permeabilidade
baseada no critério umidade x peso específico para assegurar a qualidade da construção de um
liner.
O sistema de liner da fundação de aterros sanitários no Brasil, em geral, é executado
após a drenagem das nascentes, sendo utilizado para tal fim uma camada de solo argiloso
compactado, com 0,60m de espessura mínima. A compactação desta camada é controlada por
ensaios específicos, visando obter um grau de compactação mínimo de 95% e teor de umidade
dentro da faixa de 0 ± 2% da umidade ótima do Proctor normal. Acima da camada de solo
argiloso, emprega-se uma geomembrana de polietileno (HDPE) com espessura de 2mm e
sobre esta, é executada uma outra camada de solo argiloso com objetivo de recobrir e proteger
a manta. Essa camada de proteção possui espessura mínima de 0,60m, sendo compactada
levemente pelo próprio trânsito dos equipamentos. A Figura 2.10 apresenta um esquema geral
da impermeabilização da fundação, drenagem de nascentes, bem como a drenagem interna
adotada para o Aterro Sanitário Bandeirantes, localizado na cidade de São Paulo.
Existem vários tipos de liners, conforme já descriminados, dentre eles destacam-se os
naturais, os de argila compactada e as geomembranas (polietileno, PVC, asfáltica). A escolha
de um ou de outro tipo é influenciada pelo uso a que se destina, pelo ambiente físico, pela
química do percolado e pela taxa de infiltração.
39
Os liners simples de argila compactada podem apresentar condutividade hidráulica
adequada, quando executados empregando boa prática de engenharia geotécnica e bom
controle de qualidade. Esses liners são considerados resistentes a longo prazo com respeito às
influências químicas dos percolados e podem apresentar alto potencial de retenção do
contaminante. Por outro lado, a contração das camadas de argila pode resultar em trincas de
contração que pode diminuir a eficiência da barreira.
Vale salientar que a baixa condutividade hidráulica de laboratório, é condição
necessária para o bom funcionamento da barreira, mas não é a condição suficiente, visto que
as condições de campo, em geral, não são as mesmas que as determinadas em laboratório.
Outros fatores que deverão ser considerados referem-se à compatibilidade química entre o
percolado e a camada de argila e o transporte por difusão molecular (Manassero et al. 1998).
Diversos pesquisadores como Jessberger (1995) e Gray (1995) têm-se preocupado em
estudar os mecanismos de transporte em barreiras hidráulicas. Em casos de barreiras com
condutividade hidráulica muito baixa (menor que 10-9 cm/s), o processo de transporte
dominante é por difusão molecular. Já a processo de advecção torna-se dominante para
condutividade hidráulica maior que 10-6 cm/s e para condutividade entre 10-6 – 10-9 cm/s
atuam tanto a difusão como a advecção.
Segundo a CETESB (1993) o solo argiloso usado para a confecção de liner deve
apresentar as seguintes características:
classificação CL, CH, SC ou OH
condutividade hidráulica menor que 10-7 cm/s
porcentagem de material fino, passando na peneira #200 maior que 30%
Wp > 30% e IP > 15%
pH > 7
40
possuem espessura variando tipicamente entre 0,13 a 5,10 mm e são comercializadas em rolos
cuja largura varia de 0,9 a 5,2m. Valores típicos para a permeabilidade de geomembranas
poliméricas são medidos pelos ensaios de transmissão de vapor d'água e se encontram entre
0,5x10-10 a 0,5x10-13 cm/s a (Koerner, 1994). As geomembranas são aplicadas nas mais
diversas obras, como canais, túneis, barragens, ensecadeiras e células de resíduos,
principalmente com a função de impermeabilização. Em obras de disposição de resíduos, a
preferência geral é pela utilização das geomembranas de polietileno, que possuem alta
resistência à maioria das substâncias químicas (Palmeira, 1993). No entanto, algumas
desvantagens são apontadas, como: é um material de difícil trabalhabilidade, tem pouca
aderência aos solos, tem elevado coeficiente de expansão térmica e é sensível a trincamentos
por tensão. Nos aterros sanitários, as geomembranas são tipicamente utilizadas na base ou na
cobertura das células, ou juntamente com o solo para reduzir a permeabilidade do liner.
Zornberg & Christopher (1999) apresentam critérios para a escolha do tipo de geomembrana
para aplicação em aterros sanitários, como pode ser visto na Tabela 2.3.
A utilização de camadas de argila compactadas como liners em aterros foi muito
utilizada até poucos anos atrás. O fato é que devido às limitações no uso da argila como
material impermeabilizante, as geomembranas vêm ocupando um lugar cada vez maior no
mercado de produtos geossintéticos. As camadas de argila ocupam considerável volume, que
poderia ser aproveitado para o acondicionamento de maior volume de resíduos; a exposição
solar ou os recalques diferenciais quase sempre provocam trincamentos na camada de argila,
facilitando a passagem de poluentes e ainda existe a possibilidade de ocorrência de "piping"
em camadas de argila submetidas a altas concentrações de percolados. No caso das
geomembranas, a maior desvantagem encontrada quanto à sua utilização são possibilidade de
ocorrência de rasgos ou furos durante sua instalação ou enchimento das primeiras camadas do
aterro. A Figura 2.11 mostra uma comparação entre a utilização de barreiras naturais e as
sintéticas.
De uma forma cada vez mais constante, tem-se empregado os liners compostos (solo/
geomembrana) para impermeabilização das bases dos aterros sanitários. Esses liners são
constituídos por geomembrana intercalada nas camadas de argila compactada formando
estruturas compostas, onde cada camada tem uma finalidade (drenagem, proteção,
impermeabilização).
Os sistemas de impermeabilização de células de aterros dependem fundamentalmente
das recomendações e regulamentações de cada país. Alguns sistemas de liners de base para
aterros de resíduos sólidos urbanos propostos para diferentes países são apresentados na
41
Figura 2.12 (Manassero 1997; Manassero et al. 1998). Nesta figura pode ser observado que os
diversos países adotam diferentes sistemas de liners de fundo para aterros sanitários e pode-se
observar também uma clara tendência de emprego de liners compostos (argila
compactada/geomembrana).
RESÍDUOS
AREIA
TUBO DRENO
GEOTÊXTIL
BRITA e1
e2
GEOREDE
SUBSOLO
RESÍDUOS GEOTÊXTIL
RESÍDUOS
BRITA GEOREDE
1
H
SOLO ARGILOSO 1
COMPACTADO AREIA H1 GEOMEMBRANA
OU REVESTINEBTO DE GCL
c) - COMPARACAO JUNTO AOS TALUDES
42
A idéia de combinar os revestimentos, leva em conta, além dos aspectos construtivos e
operacionais, os relacionados com a alteração das características das camadas de solo devido
à infiltração do líquido percolado e as altas temperaturas no interior do aterro, bem como as
exigências dos órgãos ambientais. As geomembranas por sua vez, estão sujeitas a danos (furos
e rasgos) durante a instalação e início da operação do aterro. Além disso, certos tipos de
mantas estão sujeitas ao ataque dos líquidos percolados, como as de PVC e as asfálticas. Já as
de polietileno apresentam maior resistência à degradação química, à hidrólise, à degradação
biológica e baixa resistência à termo-oxidação (Vidal et al. 1994; Abramento, 1995 e
Simpson, 1995).
Europ a
A ustr ia B élg ica (ETC B ) F rança
> 0,6
> 1m K < 10 -9m / s
>5 -6
K < 10 m / s
K < 10 -9m /s
> 0 ,6m
> 1m
> 0,75 > 1m
K < 10 -9m / s
K < 5 x 10 -10
m/s K < 1 0 -9m /s
Figura 2.12 - Sistema de liners de base para aterros de resíduos sólidos urbanos segundo
recomendações de alguns países (Modificado Manassero et al. 1998)
43
De acordo com Peggs (1992), as geomembranas de PVC têm se mostrados eficientes
em aterros de resíduos sólidos municipais e perigosos, sendo capazes de conterem o lixiviado
sem sinais de degradação. O autor argumenta ainda que, enquanto as geomembranas de
HDPE possuem resistência ao puncionamento maior que as de PVC, esta última é muito mais
maleável, podendo moldar-se às superfícies não uniformes. Mello & Val (1994) enfocam a
necessidade de conhecer o comportamento dos materiais sintéticos a longo prazo, enfatizando
a compatibilidade química dos materiais e o transporte por difusão molecular.
44
Ressalta-se, também, que as superfícies de contato entre os geossintéticos e outros
materiais, na maioria das vezes, constituem uma superfície potencial de deslizamento.
Diversos pesquisadores como Palmeira (1994), Pasqualini et al (1993), Masada et al. (1994);
Biener et al. (1 995) e Manassero et al. (1 996) têm procurado levantar os parâmetros de
resistência das interfaces de diversos materiais com os geossintéticos, onde geralmente são
usados os ensaios de cisalhamento direto e de plano inclinado. A Figura 2.13 mostra alguns
sistemas de impermeabilização utilizados no Brasil.
45
2.5.2 - SISTEMA DE DRENAGEM DOS GASES
46
Face a elevada deformabilidade dos aterros sanitários algumas soluções alternativas
são adotadas em aterros sanitários brasileiro, buscando garantir a integridade e continuidade
destes elementos ao longo do aterro. Estas soluções contemplam drenos de concreto com
1,20m de diâmetro e os denominados drenos tipo 'Ranzini" (Figura 2.14).
Os drenos de 1,20m de diâmetro são executados com tubos perfurados de concreto
armado, sendo os mesmos envolvidos por uma camada de rachão com espessura mínima de
20cm para sua proteção. Já os drenes tipos 'Ranzini' apresentam diâmetro externo de 2,0m,
compostos por um tubo de concreto armado perfurado de 0,60m, envolto por uma camada
anelar de rachão de 0,70m de espessura, a qual é confinada por uma tela metálica. Em muitos
locais na extremidade superior desses drenos e após a conclusão do aterro ou parte dele, são
instalados queimadores de gases, que se situam a urna altura mínima de 3,0 m acima da
superfície do terreno.
Associados aos drenos verticais devem ser adotados os drenos horizontais os quais
facilitam a drenagem da massa do resíduo. Estes drenos deverão ser implantados junto ao topo
da camada de solo da célula subjacente a partir da escavação de valas que as interligam aos
drenes verticais. As valas devem ser preenchidas com rachão até uma altura de 1,2 m , sendo
o trecho restante recomposto com RSU compactado
47
2.5.3 - SISTEMA DE COLETA E REMOÇÃO DOS LÍQUIDOS PERCOLADOS
48
A água percolada é um elemento indispensável na formação do percolado, porém,
mesmo que não haja percolação pelos resíduos, um pequeno volume de líquidos
contaminados (chorume) é sempre esperado por processos de reação química e biológica. A
quantidade de percolado aumenta com um volume maior de água percolante, porém esse
maior volume também dilui os contaminantes do chorume.
Vale salientar que é comum equívoco em relação aos termos percolados (lixiviado) e
chorume (ou Sumeiro), sendo os mesmos usados indiscriminadamente. Segundo Gandola
(1995), o lixiviado é o licor produzido em seguida à passagem das águas pluviais através dos
resíduos. Essa água se enriquece progressivamente de poluentes cedidos pelos resíduos com
os quais ele entra em contato. Neste trabalho, é feita referência exclusiva ao termo percolado
(ou lixiviado), por entender-se que, somente em condições totalmente controlada, tais como
em laboratório, é que o chorume pode ser estudado, isoladamente.
O lixiviado contém poluentes tanto orgânicos quanto inorgânicos e certos lixiviados
são oriundos diretamente dos resíduos, sem outra transformação, enquanto outros se tornam
disponíveis pela destruição progressiva da matéria orgânica pelas bactérias presentes dentro
do aterro.
A composição do lixiviado varia, pois, com o decorrer do tempo: no início, as
substâncias inorgânicas mais solúveis predominam, com os ácidos orgânicos produzidos pela
fase ácida da deterioração biológica. Neste momento, o pH do líquido é ácido, o que favorece,
entre outros, a solubilização dos metais. Em seguida, durante a fase metanogênica estável, a
concentração dos poluentes diminui sensivelmente e o pH se estabiliza acima de 7 (levemente
básico). Finalmente, durante a fase de esgotamento, o conteúdo em matéria orgânica tende a
zero, enquanto que a lixiviação, de certos compostos inorgânicos, dura muito mais tempo.
Os principais componentes do chorume podem ser convenientemente agrupados em
quatro classes (Batstone, 1989):
a) Íons e elementos maiores tais como Ca, Mg, Fe, Na, amônia, carbonatos, sulfatos e
cloretos.
b) Metais traços tais como Mn, Cr, Ni, Pb e Cd.
c) Uma grande variedade de compostos orgânicos usualmente medidos como Carbono
Orgânico Total (COT) ou Demanda Química de Oxigênio (DQO). Algumas espécies
orgânicas individuais também podem ser consideradas como os fenóis.
d) Componentes microbiológicos.
49
2.5.3.2 – GERAÇÃO DO PERCOLADO
Compressão
e
compactação
Decomposição
Infiltração
de água
A seguir, faz-se uma pequena revisão bibliográfica sobre os fatores que influenciam a
formação e quantificação dos percolados em aterros sanitários.
O acúmulo de resíduos sólidos urbanos nos aterros municipais, juntamente com a água
da chuva que percola através da massa de resíduos, produz um líquido residual que contem
uma grande quantidade de substâncias orgânicas e inorgânicas. Este líquido residual
50
denominado percolado e muitas vezes “chorume”, provem de três fontes principais, a saber: a)
umidade natural dos resíduos; b) água de constituição de vários materiais liberados durante a
decomposição; e c) líquido proveniente da solubilização da matéria orgânica pela população
microbiana naturalmente presente na massa de resíduos.
Assim, o percolado é um líquido originado da decomposição biológica dos resíduos e
da percolação de água na massa de resíduos e contem uma mistura complexa de substâncias
orgânicas e inorgânicas, dissolvidas ou em estado coloidal, além de numerosas espécies de
microrganismos.
Vários fatores podem influenciar na caracterização dos percolados, entre estes temos:
a taxa de fluxo volumétrico e a composição. A taxa de fluxo que está relacionada com as
condições pluviométricas varia de local para local e sazonalmente dentro de um mesmo local.
Esta é determinada principalmente pelo projeto do aterro a ser adotado, pelo clima, que afeta a
entrada de águas de chuva e perdas por evaporação, e pela natureza dos próprios resíduos.
A composição do líquido percolado está intimamente relacionada à quantidade
produzida e varia de aterro para aterro e sazonalmente, sendo que esta composição é
determinada fundamentalmente pelos processos de reação bioquímica que se dá no interior da
célula do aterro sanitário e pelas condições ambientais.
A água carrega espontaneamente substâncias solúveis e substâncias que se tornam
solúveis na água através de processos de reações bioquímicas, não sendo possível separar a
água dos processos de reações bioquímicas e de lixiviação. Toda mudança de estrutura e
composição do líquido percolado tem efeito sobre as correntes e acumulações, de tal modo
que a água e os processos no aterro se influem reciprocamente.
Boyle & Ham (1974) e Johansen & Carlson (1976), comentam que são diversos os
fatores que afetam a sua composição, assim como sua geração e migração. Dentre estes,
temos: 1) tamanho das partículas, grau de compactação e composição dos resíduos sólidos; 2)
clima; 3) operação do aterro; 4) condições hidrogeológicas do local; 5) condições do aterro,
tais como atividades biológica e química, umidade, temperatura, pH e idade do aterro, que
reflete o grau de estabilização dos resíduos depositados no aterro.
Os fatores mencionados variam consideravelmente de um aterro para outro. Assim, é
comumente constatada sensível variação.
Os principais fatores que influenciam quanti-qualitativamente na formação do
percolado, segundo diversos autores, são:
51
a) Composição dos resíduos
52
Grisolia et al (1995), a fase sólida dos RSU pode ser dividida em três categorias quais sejam:
material inerte, materiais muito deformáveis e materiais orgânicos biodegradáveis.
A categoria dos inertes (vidro, metais, cerâmicos, solos, cinzas, resto de demolição)
apresenta comportamento mecânico semelhante aos solos granulares, os quais desenvolvem
forças de atrito entre as partículas. A segunda categoria inclui os plásticos, papéis, têxteis e
borracha, os quais apresentam alta deformabilidade e possibilidade de absorver ou incorporar
fluidos no interior de sua estrutura. Finalmente, a categoria dos materiais orgânicos
biodegradáveis constituídos por resíduos de poda e alimentares passa por significantes
transformações físico-químicas acompanhadas pela produção de líquidos e gases.
Neste contexto, a fase sólida dos RSU é constituída por uma quantidade variável de
papel, plástico papelão, tecidos borracha, madeira, vidro, metais, resíduos alimentares e de
feiras, entulhos e outros. A composição do RSU varia bastante de uma região para outra e,
geralmente, está relacionada com os níveis de desenvolvimento econômico, tecnológico,
sanitário, cultural dessas regiões, o que influência substancialmente o percolado.
Nos aterros sanitários os parâmetros do lixiviado são definidos por sua fonte, de
natureza principalmente orgânica. Todavia, poluentes inorgânicos também estão presentes,
visto que eles estão contidos em certos resíduos de origem urbana (poeira, objetos metálicos,
medicamentos, tintas, produtos de limpeza e agrotóxicos, etc). Segundo Nunes e Lima (1995)
os metais pesados são tóxicos à digestão anaeróbia, mesmo em baixas concentrações. É por
isso que a eficiência da coleta seletiva e dos resíduos perigosos, em geral, tem uma influência
notável sobre as concentrações desses poluentes.
b) Idade do aterro
O potencial poluidor do percolado varia com a idade do aterro, sendo que a capacidade
poluidora ocorre alguns anos depois da disposição dos resíduos. Entretanto, nem o pico
máximo nem a curva de variação da concentração versus o tempo são idênticas para cada
composto poluidor. Com o passar dos anos, ocorre um declínio natural nas concentrações de
todos os compostos.
A evolução dos processos biológicos que se desenrolam no interior do aterro, assim
como sua idade, e, portanto, a duração da lixiviação à qual submetido os resíduos, influencia
notavelmente as características do lixiviado.
O grau de contaminação do percolado não pode ser plotado perfeitamente em função
do tempo, apesar de algumas zonas distintas de altas e baixas tendências de contaminação
53
poderem ser notadas. Os contaminantes não atingem valores de pico ao mesmo tempo e os
valores de concentração em função do tempo plotados para todos os contaminantes em um
mesmo aterro também podem não apresentar uma similaridade em forma (Junqueira, 2000).
A idade do aterro é decisiva na determinação da fração orgânica do efluente. A
explicação mais simples para isto está no fato de que nos aterros antigos, grande parte da
matéria orgânica já sofreu fermentação, de modo que a matéria orgânica que está sendo
lixiviada provem do resíduo novo, e, a medida que o aterro cresce, se constitui numa fração
progressivamente menor do todo (Hamada, 1999).
Na Tabela 2.4 são apresentados parâmetros representativos das características do
percolado, tanto para aterros novos como para mais antigos (maturados), segundo avaliações
de Tchobanoglous et al. (1993). A evolução qualitativa dos líquidos percolados com o tempo
e a reprodutibilidade de resultados e tendências de comportamento foi igualmente verificada
por Schalch (1992) com base na execução e monitoração de dois aterros experimentais.
Gonzalez (1995) comenta que a composição química dos lixiviados pode variar
amplamente em função da idade do aterro sanitário ou em função de resíduos que tenham tido
sofrido o processo de decomposição antes de sua disposição. As amostras de lixiviados
tomadas durante a fase de decomposição ácida, onde o valor do pH é baixo e as concentrações
de DBO, DQO, COT, nutrientes e metais pesados são altos. Em amostras de lixiviados
tomadas durante a fase de fermentação metanogênica, o pH varia de 6,5 a 7,5 e as
concentrações de DBO, DQO, COT e nutrientes tendem a valores significativamente baixos.
O autor comenta ainda que as concentrações de metais pesados também serão baixas em
valores de pH neutro, enfatizando que o valor d pH não depende somente da concentração de
ácidos, também depende da pressão parcial do CO2 presente no biogás que está em contato
com o lixiviado.
A biodegradabilidade do lixiviado varia com o tempo e os valores podem ser
confirmados mediante a relação DBO/DQO. Considera-se que a matéria orgânica contida no
lixiviado é facilmente biodegradável quando a relação varia entre 0,4 e 0,6 . Em aterros
jovens a relação pode alcançar um valor maior que 0,5. Geralmente em aterros antigos a
relação se encontra entre 0,05 a 0,2, a proporção diminui em virtude dos lixiviados dos aterros
antigos possuírem substancias que são facilmente biodegradáveis como acido húmico e
fúlvico.
54
Tabela 2.4 - Dados típicos da composição do chorume para aterros novos e antigos
Valores (mg/l)
Características Novos aterros (menos de 2 anos) Aterros antigos
Faixa de variação Típico (mais de 10 anos)
DBO5 2.000-30.000 10.000 100-200
COT (carbono orgânico total) 1.500-20.000 6.000 80-160
DQO 3.000-60.000 18.000 100-500
SST 200-2.000 500 100-400
Nitrogênio orgânico 10-800 200 80-120
Nitrogênio amoniacal 10-800 200 20-40
Nitratos 5-40 25 5-10
Fósforo total (P) 4-100 30 5-10
Alcalinidade 3 1.000-10.000 3.000 200-1.000
PH 4,5-7,5 6 6,6-7,5
Ca 200-300 1000 100-400
Mg 50-1500 250 50-200
K 200-1000 300 50-400
Sulfatos 50-1000 300 20-50
Fe (total) 50-1200 60 20-200
Cloretos 200-3000 500 100-400
Fonte: Tchobanoglous et al. (1993)
c) Clima
55
lixo e tornar-se percolado. Estudos efetuados por Fenn et al. (1975), Blight et al. (1997)
evidenciaram que, aterros sanitários instalados em regiões onde predomina um balanço
hídrico deficitário, pouco ou nenhum percolado aparecerá em sua base.
Capelo (1999) em estudos realizados nos percolados do Aterro Sanitário Oeste, em
Caucaia-CE, cita que o regime deficitário hídrico presente na região contribui para a pouca
geração de percolado. Gandola (1995) salienta que, globalmente, para alguns aterros
estudados, a produção média de lixiviado corresponde a aproximadamente 25% de
precipitação sobre o depósito.
Marques (2000) citando Kruempelbeck & Ehrig (1999), comenta que baseados na
monitoração de aterros na Alemanha, os autores constataram produções de líquidos
percolados, como porcentagem das precipitações, nas faixas de 25 a 60%, 15 a 40% e 10 a
40%, respectivamente, para aterros com coberturas de solo inferiores a 1,0 m, superiores a 1,0
m e para cobertura com selos minerais. A Tabelas 2.5 mostra os valores observados pelos
autores.
56
úmidos é alta, tornando-se relevante o emprego de geomembranas na camada de cobertura
final. É igualmente oportuno salientar que a duração da lixiviação à qual estão submetidos os
resíduos influência notavelmente as característica do percolado.
Baseado no monitoramento de aterro experimental, Marques (2000) constatou que ao
longo de um período de 22 meses, as vazões de percolado apresentaram relações com os
valores da precipitação observada, variando entre 1,5 e 22% , sendo os valores mais elevados
obtidos para períodos onde o aterro não apresentava cobertura.
O autor salienta ainda, que valores médios da ordem de 8,5 % para a relação foram
obtidos não considerando os períodos sem cobertura do aterro experimental, valores estes
bastante reduzidos se comparados com experiências reportadas na literatura. As vazões
percoladas pelo aterro experimental, estimadas pelo método do balanço hídrico e pelo
programa HELP (USEPA), indicaram para distintas simulações, valores sistematicamente
inferiores aos valores registrados no experimento.
d) Oxigênio disponível
e) Topografia:
O tipo de solo está relacionado com a quantidade de água que entra pela cobertura e
com que sai pelo fundo e pelas laterais das trincheiras, nos aterros, se geomembranas não
forem utilizadas. À medida que a permeabilidade do solo usado como cobertura final
aumenta, cresce também a produção de percolado, bem como afeta sua qualidade.
57
Estudos realizados por Campbeel (apud Canziani & Cossu, 1989) em células
experimentais, mostraram que a produção de líquidos percolados é muito mais sensível às
declividades das camadas de cobertura do que as densidades dos resíduos compactados.
Santos (2003) desenvolveu um intenso trabalho de pesquisa em células experimentais,
onde foram observadas diferenças significativas na quantidade/qualidade dos percolados
gerados em células com diferentes camadas de cobertura.
Estudos efetuados por Sophocleous M. (1996), mostram que a presença de cobertura
reduz a produção de percolação em aproximadamente 23 %, caso essa cobertura esteja
associada a um sistema de coleta de águas pluviais e a um sistema de liner com solo
compactado, a redução pode chegar a 56 %
g) Cobertura vegetal
h) Procedimentos operacionais:
Como procedimentos operacionais, pode-se entender a forma com que as células são
trabalhadas, desde o processo de escavação até o recobrimento final. Um dos procedimentos
mais importante é a correta impermeabilização das células, no fundo, nas laterais e na
cobertura final. O recobrimento diário, com material relativamente impermeável, pode formar
dentro da trincheira acúmulos ou empoçamento de percolado. Tal acúmulo tem resultado
freqüentemente no movimento lateral do percolado através das paredes e alcançando muitas
vezes, as águas superficiais.
Efeito de distintas técnicas operacionais na qualidade dos líquidos percolados foi
estudado por EHRIG (1989). Técnicas como recirculação, adição de nutrientes (lodos de
estações de tratamento) e cal, compactação e alteração de espessura das camadas de resíduos
são discutidas pelo autor. No caso das técnicas construtivas, a utilização de camadas pouco
espessas e com maior densificação dos resíduos resultaram na antecipação da fase
58
metanogênica e na conseqüente obtenção de baixos valores para os parâmetros orgânicos
(DBO e DQO).
O processo de compactação nas células acaba atuando e contribuindo para os
resultados obtidos de duas formas distintas, quais sejam: (i) na expulsão dos líquidos
presentes nos resíduos durante a operação de compactação; e (ii) na redução dos vazios e
conseqüente diminuição da permeabilidade do maciço.
Alterações na camada de cobertura, seja pelo aumento da sua espessura, seja pela
utilização de materiais menos permeáveis, são responsáveis pelas maiores reduções dos
volumes percolados no aterro.
Santos (2004) monitorando células experimentais com diferentes procedimentos
operacionais, entre eles recirculação de chorume, injeção de água, camada de cobertura
permeável, observou que a evolução qualitativa dos líquidos percolados com o tempo foi
bastante diferenciada.
i) Condição do Aterro
59
com valores dos parâmetros que possam caracterizar percolados de diferentes idades, em
diferentes locais. A Tabela 2.6 mostra a variação da composição química de lixiviados
gerados em diferentes aterros, incluindo dados obtidos com o chorume coletado no Aterro de
Gramacho/RJ e Brasília .
Comparando-se os dados de caracterização de diferentes lixiviados reportados na
literatura, pode-se ressaltar que: (a) com poucas exceções, o pH varia de 5,5 a 8,0; (b) grande
parte dos sólidos suspensos (SS) são voláteis; (c) grande parte do Nitrogênio Kjeldahl Total
(NKT) está na forma de nitrogênio amoniacal; (d) os níveis de fosfato geralmente são baixos;
e (e) existem elevadas concentrações de Mn e Zn (este último provavelmente advindo de
cosméticos).
A variação na composição do percolado em um mesmo aterro pode ser atribuída às
diferentes condições ambientais na época da amostragem, tais como diluição pela água da
chuva ou água subterrânea, da degradação parcial dos componentes orgânicos por exposição
ao ar ou da reação com o solo, uma vez que a interação físico-química entre os percolados e o
solo modifica a composição dos mesmos. Este fato pode explicar as diferenças da composição
encontradas nas amostras de percolado do mesmo aterro.
A idade do aterro é decisiva na determinação da fração orgânica do efluente. A
explicação mais simples para isto está no fato de nos aterros antigos, grande parte da matéria
orgânica já sofreu fermentação, de modo que a matéria orgânica que está sendo lixiviada
provem do resíduo novo, e a medida que o aterro cresce, se constitui numa fração
progressivamente menor do todo.
(Lema et al., 1988), comenta que uma análise química da fração orgânica dos
chorumes mostra que os ácidos graxos voláteis representam uma grande percentagem da
DQO total na faixa de 34 a 84%. Outras importantes frações consistem de proteínas,
carboidratos e aromáticos hidroxilados (10-26%). A proporção relativa destas frações depende
da idade do aterro já que a contribuição dos ácidos voláteis para a DQO total diminui
gradualmente enquanto que, a de proteínas e outras substâncias resistentes à degradação
aumenta com a idade do aterro. A Tabela 2.7, mostra faixas de valores de líquidos percolados
com diferenças entre as fases acetogênicas e metanogênicas .
60
Tabela 2.6. Variação da Composição Química do lixiviado.
Parâmetros 1 2 3 4 5
Sólidos Solúv. 5-100
SDT 584-5500 725-5500 2680-5580 5710-6720 -
Condutividade 480-7250 960-1630 8500-12000 9580-11670 -
DBO 19500 5-75 - - 20-5000
DQO 6,6-9900 50-9000 489-1670 - 100-20000
COT 4000 50-9000 - - -
pH 3,7-8,9 3,5-8,5 7,2 - 8,0 7,45-7,7 3,5-9
Alcalinidade 1505 0,1-20350 - -
Dureza 0,1-2250 0,1-3600 - - 30-13100
Cloreto 2,0-1137 30-5000 464-1337 - 100-12400
Cálcio 3,0 - 2500 - - 41,11 – 80,4
Sódio 12 - 6010 20 - 7600 484 - 1190 -
Ferro 4000 200 -5500 1,14 – 3,25 4,903 – 9,89 2-2100
Potássio 3200 35 – 2300 270 – 632 -
Magnésio 4,0 - 780 3 –15600 35 – 63 17,54 – 36,22
Amônia 1200 0,1 - 2000 594 – 1610 955
Sulfato 1850 25 - 500 - - 18-2000
Sulfeto - - - - 0-35
Alumínio 85 - - 0,265 – 0,779
Zinco 731 0,6 – 220 0,24 – 2,55 0,064 – 0,168 0-25
Manganês 400 0,6 – 41 0,05 – 0,24 0,058 – 0,129 0-5
Fósforo Total 234 0,1 – 150 2,72 – 14,10 1,304 – 3,336 0,1-31
Bário 12.5 - - 0,058 – 0,267
Níquel 7,5 0,2 – 79 0,07 – 0,18 0,153 – 0,247 0-5
Nitrato 250 0,1 – 45 0,06 – 0,31 120 0,1-250
Chumbo 14,2 0,001 –1,44 0,03 – 0,12 - 0-2
Cromo 5,6 0,02 - 18 0,03 – 0,15 0,040 – 0,050 0-300/0-100
Cobre 9,0 0,1 – 9,0 <0,05 0,014 – 0,036 0-8
Arsênio 70,2 - - - 0-200
Molibdênio 0,01 – 1,43 - - 0,077 – 0,036
Nitrito 1,46 - - - 0,1-40
Selênio 1,85 - - -
Cádmio 0,4 0 – 0,375 <0,01 0,026 – 0,039 0-2
Prata 1,96 - - -
Berílio 0,36 - - 0,002
Obs.: Todos os parâmetros são apresentados em mg.L-1, exceto pH e condutividade
(mmho.cm-1). Fontes: 1) Bagchi (1990); 2) EPA (1987); 3) Chu et al. (1994); 4)
Aterro de Gramacho/RJ – Barbosa (1994); 5) Santos, 1996, Lisk, 1991.
61
Tabela 2.7. Caracterização dos Líquidos Percolados – parâmetros
com diferenças entre as fases acetogênica e metanogênica (Ehrig, 1983)
Parâmetro Valor Médio Faixa de Valores
Fase Acetogênica
PH 6,1 4,5 -75
DBO 13.000 4.000-40.000
DQO 22.000 6.000-60.000
DBO/DQO 0,58 -
SO4 500 70-1750
Ca 1200 10-2500
Mg 470 50-1150
Fe 780 20-2100
Mn 25 0,3-65
Zn 5 0,1-120
Sr 7 0,5-120
Fase Metanogênica
PH 8 7,5-9
DBO 180 20-550
DQO 3000 500-4500
DBO/DQO 0,06 -
SO4 80 10-420
Ca 60 20-600
Mg 180 40-350
Fe 15 3-280
Mn 0,7 0,03-45
Zn 0,6 0,03-4
Sr 1 0,3-7
Supondo-se que não haja infiltração representativa de percolado pelas paredes laterais
nem pelo fundo das células, pode-se expressar esta relação matematicamente, da seguinte
forma (Blight et al., 1997):
P UW E G L R U W U S (01)
onde:
P = precipitação
Uw = água vinda com o lixo (este item contribui apenas uma vez no balanço)
62
E = Evaporação
G = Vapor d’água que sai com os gases
L = água que sai como percolado
R = escoamento superficial
Uw = água absorvida e retida pelo lixo.
Us = água absorvida e retida pela camada de cobertura
Tendo em vista que a parcela da água que sai como vapor d’ água com os gases (G) e
muito pequena quando comparada com as demais parcelas, a mesma poderá ser desprezada.
Portanto para um aterro sanitário já estabelecido, e rearranjo a Equação 2 em função da
produção de percolado, o balanço hídrico anual pode ser simplificado desta forma:
L P E R UW U S S (2)
63
Blight et al. (1997), estudando os parâmetros climáticos nos aterros de Witwaters e
Cape Town na África do sul, os quais possuem balanços hídricos deficitários, -805 mm/ano e
–600 mm/ano, respectivamente, concluíram que, mesmo quando tais aterros atingem sua
capacidade de campo, o percolado gerado será dispersado nas camadas não saturadas das
bases dos mesmos, nada sobrando para o sistema de coleta e tratamento.
64
(Orth, 1981) salienta que devido às diferentes condições de operação e localização de
cada aterro, as taxas esperadas podem variar de aterro para aterro e devem ser calculadas para
cada caso em particular.
Para efeito de projeto, diante das dificuldades em se precisar o volume de percolado
produzido no aterro sanitário, são comumente utilizados para o seu cálculo coeficientes
empíricos que correlacionam os fatores de precipitação na área do aterro, escoamento
superficial e/ou infiltração subterrânea, umidade natural dos resíduos, grau de compactação e
capacidade do solo de reter umidade.
Em regiões semi-áridos como as do Nordeste do Brasil, estas distorções são ainda
mais gritantes, visto que os modelos atualmente aceitos e largamente utilizados nos projetos
de sistema de drenagem e conseqüentemente nos de tratamento, foram desenvolvidos em
áreas com balanço hídrico bem diferente.
O potencial de produção de líquidos percolados em um aterro sanitário pode ser
avaliada a partir do seu balanço hídrico, ou seja, da diferença entre a quantidade de água
externa que se infiltra no aterro, somada àquela relativa a umidade dos resíduos,e das parcelas
consumidas em reações químicas e biológicas e/ou transformada em vapor d`água. O balanço
hídrico de um aterro sanitário, portanto, pode ser realizado computando as principais fontes de
água envolvidas e considerando o maciço e os recobrimentos intermediários e final como
meios porosos com capacidade de armazenamento de água. Alguns proposições e modelos de
cálculo para quantificação dos líquidos percolados, neste sentido, tem sido apresentados,
sendo a seguir sumarizados dois dos mais conhecidos e utilizados método de previsão no
Brasil.
a) Método Suíço
1
Q P AK (03 )
t
onde:
Q=vazão media (L/s)
65
P = precipitação média anual (mm)
A = área do aterro (m2)
t = numero de segundos em um ano = 31.536.000s
k = coeficiente que depende do grau de compactação dos resíduos aterrados, cujos
valores são apresentados na Tabela 2.8
66
Tabela 2.9. Parâmetros meteorológico e outros dados utilizados no método do Balanço
Hídrico
Parâmetro Como Obter
Precipitação (P) Devem ser utilizados valores médios mensais, para o maior
número de anos possíveis – Boletins Pluviométricos
Evapotranspiração potencial Os valores mensais utilizados podem ser obtidos através de
(EP) Boletins Hidrometeorológico (Tanque Classe A)
Escoamento Superficial (ES) ES = C’. P – os valores médios mensais do escoamento
superficial são obtidos aplicando-se o coeficiente de
escoamento (C') às medias mensais de precipitação. Os
valores de (C') são apresentados na tabela 2.10.
67
Tabela 2.12. Armazenamento de água no solo (AS) em função da evapotanspiração potencial
acumulada (neg (I-EP)). Solo argiloso com 60 cm de espessura (Asc = 250 mm x 0,6 = 150
mm)
68
2.7 - SISTEMA DE COLETA DE PERCOLADOS
69
geossintéticos. Geotêxteis são freqüentemente utilizados como filtros entre os resíduos e a
camada de drenagem, cuja função é de proteger esta camada, especialmente quando qualquer
material de drenagem granular (por exemplo pedregulho) ou georredes são utilizadas.
Manassero & Spanna (1998) citam que um sistema típico de coleta e remoção de
percolado recomendado por agências ambientais consiste basicamente de (Figura 2.17):
Figura 2.17. Sistema típico de coleta de percolado (modificado Manassero & Spanna, 1998)
Rowe et al. (1995) e Gourc (1995) comentam que dependendo de normas e exigências
locais, às vezes dois sistemas de coleta e remoção de percolados são requeridos, como
mostrado nas Figuras 2.18 e 2.19. O primeiro fica diretamente situado abaixo dos resíduos e
sobre o sistema de impermeabilização primário e normalmente é chamado a sistema primário
de coleta e remoção de percolado. O segundo fica situado entre a camada de
impermeabilização (liner) primária e secundária e normalmente é chamado de sistema
70
secundário de coleta e de remoção de percolado. O propósito principal deste sistema é
determinar o grau de vazamento pelo liner primário, sendo, às vezes, chamado sistema de
detecção de vazamento. Embora possa coletar pouca quantidade de percolado, deve ser
projetado para a situação mais desfavorável possível. Gourc (1995) comenta ainda que os
projetos mais modernos exigem os dois sistemas (primário e um secundário).
Estratégias no projeto destes sistemas são necessárias para prover drenagem adequada,
prevenir fracasso estrutural e minimizar a colmatação. Destes, o maior desafio é minimizar a
colmatação e, com isso, prolongar a vida útil do sistema de coleta e remoção de percolado.
Geomembrana Geomembrana
Filtro Geotêxtil secundária
Primária
Resíduos
vazamento
Drenagem de
percolado
Camada de detecção
solo de baixa permeabilidade
de vazamento
71
De acordo com a NBR 13896/1997, o sistema de drenagem dos líquidos percolados
deve obedecer às seguintes prescrições:
Koerner (1993) comenta que imediatamente depois que uma célula do aterro sanitário
é construída, o sistema primário de coleta e remoção de percolado serve como um sistema de
retirada de água. Depois que os resíduos começam a ser dispostos, a atenuação da
precipitação acontece e a taxa fluxo sofre diminuições significativas. O autor também cita
que, segundo a EPA (1985), são as seguintes as orientações tecnológicas mínimas (MTG) das
propriedades do sistema primário de coleta e remoção de percolado em aterros sanitários:
72
É comentado ainda que, a partir de observações de alguns aterros sanitários, foram
encontrados problemas de deslizamento, sempre quando eram utilizados areias e pedregulhos
em declives, particularmente ao usar geomembranas de baixo ângulo de atrito como liner
primário, sugerindo as seguintes opções:
Koerner (1993) salienta ainda que, destas opções, geomembranas enrugadas e/ou
técnicas de estabilidade freqüentemente estão as sendo mais freqüentemente utilizadas.
O EPC (1995) faz exigências quanto ao sistema de coleta de chorume. Quando a
camada drenante for de material granular (areia ou brita) exige-se que tenha espessura não
inferior a 0,3m e condutividade hidráulica superior a 1x10-2 cm/s e que materiais sintéticos,
como georredes, são alternativas aceitáveis desde que apresentem condutividade hidráulica
equivalente. O EPC (19995) faz exigências também quanto a garantia de eficiência do sistema
de coleta de chorume. A camada drenante deve ser projetada de modo que a carga hidráulica
sobre o liner não ultrapasse 30 cm.
Daniel (1993) sugere a seguinte equação para a definição da lâmina de chorume no
sistema drenante:
s c tg2 tg
h0 tg2 c (04)
2 c c
onde:
73
c = q/k,
q = intensidade de infiltração, em cm/s;
k = coeficiente de permeabilidade.
fluxo
filtro (geotextil ou
camada de drenagem
areia)
(brita) h max
argila compactada
geomembrana
S = espaçamento entre tubos
74
Figura 2.21 – Configurações típicas de sistema de coletas e remoção de percolados.
75
estudo, abordando-se os tipos de materiais mais utilizados, suas características peculiares e os
critérios de projetos adotados.
manter uma capacidade drenante, que promova uma dissipação de carga hidráulica
dentro do solo ou estrutura e, conseqüentemente, que as forças de percolação
desenvolvidas dentro dele sejam relativamente baixas:
impedir o carreamento significativo de partículas do solo pelo fluido percolante.
76
atender as necessidades mencionadas e deve apresentar, em princípio, um coeficiente de
permeabilidade relativamente elevado, de forma a garantir a capacidade drenante necessária e
uma distribuição de tamanhos de poros que seja capaz de reter partículas do solo. O filtro tem
como objetivo principal reter as partículas e deve obedecer, também, ao requisito de manter a
capacidade drenante satisfatória. Algumas aplicações destes sistemas em aterros são
mostradas na Figura 2.22.
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
Figura 2.22 – Exemplos de obras de filtração e drenagem: (a), (b) e (c) drenagem
subsuperficiais de aterros sanitários. (d) drenagem superficial, (e) drenagem superficial e (f)
Canais de revestimento.
77
De uma forma geral a ausência de drenos ou o seu mau dimensionamento pode
provocar os seguintes problemas:
Sistemas de drenagem utilizando materiais naturais são constituídos com solos com
alta permeabilidade. Esta permeabilidade deve ser mantida durante todo o tempo de vida útil
da obra e resistir à obstrução ou colmatação. A condutividade hidráulica dos materiais
drenantes depende primeiramente do tamanho dos grãos das partículas finas presentes no solo.
Uma equação que é utilizada para a estimativa da condutividade hidráulica de materiais
granulares é a fórmula de Hazen, conforme apresentado por Daniel & Koerner (1995):
78
Os materiais filtrantes são os primeiros a receberem o fluxo dos líquidos a serem
drenados. Sua função principal é de permitir apenas a entrada do liquido no interior do dreno,
retendo qualquer material sólido particulado que, eventualmente, tenha propensão de ser
carreado pelos líquidos. Os principais materiais de filtro são: areia, mantas geotêxtil, telas
plásticas, pedrisco e pedra britada.
O material constituinte de um filtro granular é o solo, normalmente com granulometria
arenosa e/ou pedegulhosa. O filtro pode ser constituído de uma só camada ou por zonas de
granulometrias diferentes, visando atender melhor a sua função de filtração.
Diversos critérios têm sido propostos para o dimensionamento de filtros, baseando-se
na relação entre granulometria do solo protegido e do filtro, de forma a atender aos requisitos
já mencionados. Basicamente, são determinados limites das relações entre os diâmetros
característicos das partículas do solo protegido e do filtro, isto é, os filtro naturais são
projetados usando a relação entre dois diâmetros, o diâmetro da partícula do filtro D e
diâmetro da partícula do solo protegido. Na Tabela 2.13. são apresentados alguns desses
critérios, citados por Fisher et al. (1990). É também recomendado (USBR 1974), que o filtro
não deve conter mais de 5% de partículas menor que 75 m e que o maior diâmetro das
partículas seja menor ou igual a 75 mm.
Tabela 2.13. Critérios de filtro para solos não coesivos (Fisher et al., 1990)
Critério Tipo de Solo Referência
(1) (2)
todos Terzaghi (1922)
D15/d85 ≤ 4 a 5 Taylor (1948)
79
Koerner (1993) comenta que, de acordo com as normas estabelecidas pelo MTC, é
exigida uma camada de solo natural como elemento de filtro sobre a camada drenante de
chorume e que a mesma deve ser constituída de, pelo menos, 15 cm de solo. Este solo deve
ser apropriadamente selecionado considerando os resíduos sobrejacentes e solo de drenagem
subjacente. Neste caso, o projeto de filtro de solo natural deve atender a
d 85 ( filtro)
1,2 (07)
l arg ura da ranhura
d 85 ( filtro)
1,0 (08)
diâmetro do furo
a) Filtros Sintéticos
80
macromoléculas compostas por unidades menores denominadas manômeros, que são
estruturadas num processo denominado de polimerização. Os polímeros mais comumente
utilizados na fabricação de geossintéticos são:
81
As propriedades do geotêxtil dependem, além do polímero utilizado, da forma com
que as fibras são combinadas, ou seja, da estrutura do material. Por sua vez, a estrutura do
material é determinada pelo método de fabricação, que pode dar origem a três tipos: tecido,
não-tecido e tricotado.
Os geotêxteis tecidos são constituídos por arranjos ordenados de fitas, fios ou
filamentos. Dependendo do uso final, vários polímeros podem ser usados na fabricação da
manta. As mantas tecidas são permeáveis à água e podem ou não reter o solo, dependendo da
dimensão da malha em combinação com a distribuição de tamanhos de grãos do solo. São
fabricados pelo processo de tecelagem, onde conjuntos de fios são entrelaçados, em ângulo de
90o. Existem diversos tipos de entrelaçamentos, sendo o mais simples, aquele que produz
uma malha com uma certa abertura entre as fibras e com um único tipo de fio. O geotêxtil
tecido mais utilizado é composto por laminetes ou fitas. A Figura 2.23 mostra dois tipos de
geotêxteis tercidos.
Os geotêxteis não tecidos são estruturas têxteis obtidos pela deposição de fibras
(monofilamentos contínuos ou cortados), as quais sofrem um determinado processo de
ligação. A estrutura têxtil resultante se caracteriza espacialmente por uma distribuição
aleatória das fibras, fios ou filamentos. As fibras não tecidas são usualmente solidarizadas
entre si por processos mecânicos (agulhamento), químicos ou térmicos.
O mecânico – conhecido como agulhagem, consiste numa ação repetida de penetração,
em toda a profundidade do material, de agulhas com pontas curvas. Tipicamente, a manta
resultante apresenta uma espessura maior que a do geotêxtil tecido.
82
O processo Térmico – promove a fusão dos filamentos nos seus pontos de contato. O
material resultante tende a ser relativamente mais fino do que o geotêxtil oriundo do processo
de agulhagem.
O processo Químico – processo de ligação entre as fibras através da aplicação de
resina acrílica (ligante mais comum), feito por meio de imersão, aspersão ou molhagem. Esse
tratamento é menos utilizado.
Visando desempenhar um papel semelhante a de um filtro granular, o geotêxtil deve
ser provido de aberturas pequenas o suficiente reter as partículas do solo de base e, ao mesmo
tempo, garantir que sua permeabilidade se apresente mais alta do que a daquele solo, de forma
a cumprir a função drenante. O fluxo de líquido num sistema filtro-drenante induz um
rearranjo de partículas, onde se verificam dois mecanismos descritos as seguir: a auto-
filtracão e a formação de uma rede de arco.
A auto-filtração ocorre quando o processo de filtração não se limita ao geotêxtil e
envolve o solo adjacente, que atua como um filtro natural. Forma-se nessa condição, uma
zona com estrutura de filtro graduado no interior do solo, nas proximidades do geotêxtil
(Figura 2.24).
Uma rede de arcos pode se desenvolver em função das dimensões das aberturas do
geotêxtil e do tipo de solo, conforme mostra a Figura 2.25. Esse arranjo permite que na região
do solo anterior à rede de arcos se tenha a retenção de partículas com diâmetros menores do
que a abertura de filtração do geotêxtil.
Figura 2.24. Filtro graduado desenvolvido dentro do solo adjacente ao geotêxtil (John, 1987,
citado por Spada 1991)
83
Figura 2.25. Arcos de solo sobre os poros do geotêxtil (John, 1987, citado por Spada, 1991)
Vv
n (09)
V
a percentagem de área aberta (PAA) de um geotêxtil tecido é definida por :
84
A abertura de filtração (“filtration opening size ’’, FOS) de um geotêxtil é a grandeza
utilizada para se avaliar o seu potencial de filtração. Existem diferentes metodologias de
ensaios para a obtenção da abertura de filtração. As mais usuais são:
h
Q kiA k A (11)
t GT
onde:
Q = volume de fluxo por unidade de tempo;
k = coeficiente de permeabilidade do geotêxtil;
tGT = espessura do geotêxtil;
A = área transversal total atravessada pelo fluxo.
kn
(12)
t GT
85
onde:
é a permissividade do gessintético;
tGT = espessura do geotêxtil.
Nos geotêxteis não tecidos a permeabilidade ainda varia com a tensão normal atuante
sobre o mesmo, devido à sua compressibilidade. A Figura 2.26 exemplifica a dependência da
espessura de um geotêxtil não tecido, de gramatura igual a 200 g/m2, em relação à tensão
normal (Faure et al.,1990).
Do ponto de vista drenante, uma importante definição é a da transmissividade do
geossintéticos, dada por:
k t t GT (13)
onde:
transmissividade do geotêxtil
kt = permeabilidade do geossintético ao longo do seu plano.
Figura 2.26 - Variação da espessura com relação a tensão (modificado-Faure et al., 1990)
86
lado, relativamente ao seu valor inicial, a porosidade varia menos do que a espessura sob
tensões de compressão.
Figura 2.27 - Influência da tensão normal sobre os geotêxteis não tecido: (a) curva
típica da espessura; (b) valores típicos de porosidade (modificado Giroud, 1996).
87
geocompostos para drenagem, a cobertura de geotêxtil não tecido pode penetrar nos vazios da
georrede, ou geoespaçador, interno diminuindo a capacidade drenante do geocomposto.
Corbet (1992) ressalta as principais propriedades e características dos geotêxteis como
elemento de filtração, segundo o processo de fabricação, conforme exposto na Tabela 2.15.
88
2.7.3 DEFICIÊNCIAS DOS SISTEMAS DRENANTES
a) O piping
89
partículas podem ser elementos da própria estrutura do solo protegido, resultante ou não de
sua desintegração, ou partículas em suspensão no fluido percolante.
Em filtros de geotêxteis existem três formas distintas de colmatação, conforme
exposto abaixo (Spada, 1991, Gardoni, 1995 e Palmeira e Gardoni, 2000):
Segundo Giroud (1987), citado por Gardoni (1995), o contato intimo do filtro de
geotêxtil com o solo não permite o desenvolvimento de “cake” se desenvolver na superfície
90
do geotêxtil. Assim, Giroud afirma que os geotêxteis com superfície não plana, como os não-
tecido agulhados, não favorecem o desenvolvimento de um “cake” de partículas de solo. Em
contrapartida, o geotêxtil tecido que possui superfície plana, pode favorecer o
desenvolvimento do “cake”.
Segundo Spada (1991), pode-se ter até 75% dos poros do geotêxtil colmatados sem
comprometimento do sistema de drenagem.
Como causas para a colmatação química de um meio poroso pode-se citar as reações
entre elementos dissolvidos no fluido percolante, que resultam da formação de precipitados,
diminuindo o espaço disponível para a passagem do fluido percolante. Mendonça (2000),
citando Mlynark e Rolin (1987), afirma que o processo de colmatação resultante da deposição
de sais como carbonato e sulfatos pode ocorrer quando o fluido percolante contém esses
elementos em estado dissolvido e, após a evaporação da água, formam-se cristais de sais que
ocupam os vazios do meio poroso. O autor cita ainda que, segundo Halse et al. (1987),
observou-se a ocorrência de colmatação devido à precipitação de Ca(OH)2 e de CaCO3, em
ensaios realizados utilizando fluidos percolantes com valores de pH iguais a 7, 10 e 12.
As causas microbiológicas da colmatação são aquelas resultantes da colonização
bacteriana do solo. Baveye et al. (1998) constataram uma aceleração do processo de
colmatação com o aumento da atividade microbiana no meio, provocada por uma maior
quantidade de microrganismos e/ou maior carga de nutrientes para os mesmos.
Mendonça (2000), citando Baveye et al. (1998), apresenta as diferentes formas sob as
quais microrganismos podem provocar a colmatação:
91
Figura 2.29 – Variação da permeabilidade de colunas de solo percolado com meio de
nutrientes inoculado com bactéria, sendo que cada curva corresponde uma espécie diferente
de microrganismo. (Vandevivere e Baveye, 1992)
92
efetivo como agente causador da colmatação quando está combinado com resíduos orgânicos,
microrganismo e óleo, apresentando uma consistência gelatinosa.
Atividade de ferrobactérias – A colmatação provocada pela precipitação de compostos
de ferro é resultante do processo de oxidação de íons ferroso dissolvidos no fluido percolante
em função de condições termodinâmicas do meio favoráveis ao processo. Esse processo é
intensificado e acelerado pelas atividades metabólicas de determinados microrganismos que
recebem o nome de ferrobactérias.
93
encerramento do mesmo, onde podem ser incluídos procedimentos de recirculação de
chorume. Assim, uma pergunta deve ser levantada sobre potencial de colmatação do filtro
pela precipitação do chorume, através de micro-organismos biológicos, ou por uma
combinação de ambos. Considerando as características do chorume do aterro sanitário de lixo
doméstico a tendência a tal entupimento é certamente possível.
Em um recente estudo, Koerner e Koerner (1990), verificaram a tendência de obstruir
filtros de geotêxteis e solo naturais com a utilização de seis percolados provenientes de aterros
sanitários. Usando noventa seis colunas teste com 100 mm de diâmetro, os efeitos de
condições aeróbia e anaeróbia, quatro diferente geotêxteis, com solo (areia) e sem solo, foram
avaliados. Testes de fluxo com carga variada foram conduzidos em seis meses, e foram
observadas as tendências mostradas na Tabela 2.16
Mlynarek & Rolin (1995) citam que as propriedades hidráulicas da camada de filtro
podem ser alteradas pelos seguintes processos gerados durante a filtração do chorume:
94
óxido férrico que não é solúvel em água. Com o tempo, o ocre férreo adere às fibras de
geotêxtil que diminuem o volume disponível para percolação da água.
d) precipitação de cloreto de sódio – a deposição de cloretos de sódio como carbonatos e
sulfatos; este fenômeno é favorecido quando a água contendo estes elementos dissolvidos é
filtrada por um geotêxtil. À medida que a água evapora sobre condições atmosféricas, cristais
de cloreto de sódio aderem às fibras de geotêxtil. Estes cristais bloquearão parcialmente a
estrutura do filtro se o período secante for bastante longo.
Desses processos, dois são de maior importância ao projetar o sistema de coleta de
percolado em aterros sanitários: crescimento bacteriano e retenção de partículas sólidas.
Ambos os processos podem acontecer simultaneamente, iniciando a colmatação biológica do
filtro.
Koerner & Koerner (1992) comentam que no sistema de coleta de chorume a camada
de filtro é exposta ao chorume, o qual é altamente carregado em microorganismos,
substâncias orgânicas e inorgânicas e sedimentos sólidos. Indicam ainda que
microorganismos no chorume dos resíduos doméstico podem resultar em BOD5 de até
45.000 mg/litro (chorume ácido), nas regiões relativamente novas de disposição de lixo.
Mlynarek & Rollin (1995) citam que bactérias com um excesso de nutrientes
produzem polissacarídeos extracelulares ou lodo. Microorganismos são geralmente
conhecidos por aderirem às superfícies sólidas pelo polysachcaride extracelular. A fixação
bacteriana também é conhecida por ser proporcional à área de superfície sólida que se conecta
com a fase líquida. A grande área de superfície das fibras de geotêxti fornece então um
ambiente potencialmente favorável para desenvolvimento de biofilme. Citam ainda que as
bactérias formam o biofilme e então crescem em pequenas microcomunidades que utilizam
nutrientes incorporados para metabolismo celular, reprodução e secreção de ECPS adicional.
Um material considerado como potencialmente efetivo na camada de coleta e remoção
de percolado (LCF) é um geotêxtil e a tendência atual de projeto de sistemas de coleção de
percolado é o uso de filtros de geotêxtil. Koerner & Koerner (1993) identificaram várias
razões para o sucesso de filtros de geotêxteis, entre elas disponibilidade, qualidade controlada
e facilidade de transporte e instalação. Eles também economizam espaço devido à pequena
espessura quando comparados a camadas granulares.
Mlynarek & Rollin (1995) comentam que podem ser distinguidos dois tipos de
desenvolvimento de biofilme, como mostrado nas Figuras 2.32 e 2.33: crescimento de
biofilme dentro do geotêxtil e crescimento de um tapete de biofilme na superfície do geotêxtil.
95
Podem ser observados ambos os tipos para condições anaeróbia ou aeróbia. Citam ainda que o
crescimento de biofilme dentro do geotêxtil é associado, em geral, com a porosidade e
aberturas dos geotêxteis. Quanto a estes aspectos, podem ser observados os seguintes
fenômenos:
- retenção de bactérias dentro de aglomerações de fibras (Figura 2.30); esta observação
indica claramente que a distância entre fibras é um fator importante para o desenvolvimento
de biofilmes;
- adesão de bactérias ao redor de quase toda a fibra; e
- pontual adesão de uma bactéria com a fibra.
96
A incrustação na interface é considerada muito mais perigosa para a capacidade
hidráulica global do LCS, e deve ser reduzida. A retenção de bactérias e sólidos na interface
diminui a capacidade hidráulica do filtro rapidamente. Ao término deste processo o sistema
pode estar completamente bloqueado.
Existe um consenso que em sistema onde são filtrados chorume associados à retenção
de sólidos pelos filtros são importantes os seguintes aspectos:
- propriedades do líquido percolado
natureza do chorume
composição do chorume
configuração do filtro
pre-compostagem do lixo
temperatura.
97
que para minimizar o risco de desenvolvimento de biofilme dentro ou junto à interface de um
filtro o material selecionado como o filtro deve ter porosidade alta e distância grande entre
fibras. A distância grande entre fibras provê um volume suficiente de vazios que reduz o
potencial para colmatação do sistema de coleta de chorume. Para sistemas de coleta de
aterros sanitários, onde a carga microbiológica pode ser muito mais alta que a para esgotos
doméstico, os projetos devem selecionar geotêxteis com tamanho de aberturas maiores. Para
controlar incrustação do filtro, o geotêxtil não deve ser comprimido. Esta exigência é
presentemente difícil de cumprir tendo em vista que a maioria dos filtros de geotêxtil
disponíveis é compressível.
Incrustações podem reduzidas produzindo-se condições desfavoráveis para
crescimento de bactérias nas superfícies das fibras. Tratamentos de superfície podem
favorecer grupos polares que eliminarão ou reduzirão a velocidade de aderência de bactéria, o
que evita formação de biofilmes.
98
CAPÍTULO 3
99
O aterro do Jóquei Clube é um exemplo de como os problemas ambientais nem
sempre recebem um tratamento adequado, possibilitando, assim, a contaminação do solo, do
ar e dos recursos hídricos. O aterro, em operação desde a década de 60, recebe resíduos
sólidos de origem doméstica do Distrito Federal e de suas cidades satélites vizinhas, além de
resíduos finais de usinas de reciclagem, compostagem, incinerador e deposito final de
carcaças de animais sacrificados. Sua área é constituída basicamente por 3 (três) grandes
setores operacionais, denominados, em virtude da época de disposição dos resíduos na área,
em recente, intermediaria e antiga área de aterramento, as quais ocupam uma superfície de
cerca de 196 hectares e alturas máximas da ordem de 8m. (Figura 3.2)
Figura 3.2 – Detalhe da área do Aterro de resíduos do Jóquei Clube (Modificado Araújo,
1996)
100
O aterro foi posto em operação sem a preocupação com sistema de operação e controle
que visasse a minimização do impacto sobre a qualidade das águas superficiais e subterrâneas,
solos, sistema de controle e tratamento do percolado, assim como a impermeabilização do
local. A forma de disposição durante sua vida útil variou consideravelmente, desde abertura
de valas com disposição dos resíduos e cobertura superficial dos resíduos, passando por
períodos de disposição direta dos resíduos a céu aberto. O aterro do Jóquei Clube pode ser
enquadrado como um aterro controlado, entretanto, algumas porções devem ser consideradas
como lixões.
Apesar da sua privatização, há cerca de 5 anos, nem mesmo assim o recobrimento tem
sido feito com a regularidade recomendada, contribuindo para a emanação de odores,
proliferação de vetores e contaminação dos recursos naturais. Como parte da gestão dos
resíduos sólidos na área, a partir de 1999 parte dos resíduos dispostos voltou a receber
cobertura, mas esta atividade teve como objetivo principal disponibilizar a área coberta para
novas disposições. Entretanto, esses procedimentos são isolados e inconstantes, com
freqüentes períodos de disposição desordenada e sem cobertura dos resíduos.
No caso particular da contaminação por percolados existe a agravante da elevação da
carga de chorume na base do aterro, em virtude da maior disposição de resíduos, levando-se
em consideração a localização do aterro, circundado por rios, chácaras e área de proteção
ambiental. Além do exposto acima, existem ainda cargas provenientes de despejos de esgotos,
resíduos do serviço de saúde e industriais na área, conforme Figura 3.3.
Existe, entretanto, uma grande diferença entre as cargas poluidoras lançadas por
atividades industriais, que são cargas pontuais no aterro, passíveis de tratamento de acordo
com as tecnologias disponíveis, e as cargas poluidoras provenientes de disposições
inadequada de lixo doméstico no aterro. Essas últimas são de difícil controle, principalmente
pela falta de sistema de controle, e seus efeitos hão de persistir por longos anos, mesmo após a
desativação de parte da área podendo, em conseqüência, comprometer ou encarecer
sobremaneira um programa futuro de despoluição das áreas adjacentes.
Durante todas as fases operacionais do aterro do Jóquei a impermeabilização de base,
quando ocorreu, foi feita apenas, em algumas pequenas células, sem controle da compactação
do solo de fundação, sem qualquer tipo de especificações ou mesmo sem o uso de
equipamentos adequados.
Nenhum tipo de sistema de drenagem foi implantado, salvo a partir de 1999, quando
foram instalados alguns sistemas perimetrais (dreno pé de talude) alternativos de drenagem de
chorume nas células e implantação de sistema provisórios de captação e queima de gases nos
101
topos das mesmas, mas somente abrangendo os resíduos depositados a partir dessa época.
Toda a área continua sem qualquer tipo de impermeabilização e tratamento de percolados.
102
Figura 3.4 -. Disposição dos resíduos em solo natural.
Figura 3.5 - Medidas mitigadoras no aterro do jóquei Clube. Cobertura dos resíduos e lagoa
de acúmulo de chorume
Figura 3.6 - Medidas mitigadoras na área do aterro - sistema de coleta perimetral de chorume
103
Com relação à questão social, o aterro sempre apresentou a presença de catadores ao
longo de sua história. Estes catadores, entre eles muitas mulheres grávidas, trabalham de
maneira desorganizada e sem qualquer preocupação com as condições de saúde. O número de
pessoas que sobrevivem da catação na área é muito variado e de acordo com o período
observado, sendo que atualmente estão cadastradas cerca de 500 pessoas junto à empresa
responsável pela administração do aterro. A Figura 3.7 mostra a atividade dos catadores no
aterro.
3.3.1 CLIMA
104
Tabela 3.1 - Valores médios mensais de Precipitação, Evaporação e Temperatura.
O lixão do jóquei encontra-se margeado por dois rios; do lado oeste o córrego
Cabeceira do Valo e do lado Leste o córrego do Acampamento. O primeiro, afluente do
córrego Vicente Pires, pertencente a sub-bacia do Riacho Fundo, atravessa uma série de
chácaras, sendo utilizado pelos moradores para lazer e irrigação. Além das chácaras, os
habitantes de uma antiga invasão existente no local utilizam com freqüência a água para todas
as finalidades, incluindo consumo. O córrego do Acampamento nasce no interior do Parque
Nacional de Brasília e junta-se ao Ribeirão Bananal ainda no interior do Parque, próximo a
sua foz dentro do Lago Paranoá. Estudos feitos por Pereira et al. (1997) e Araújo (1996)
indicam que as águas do córrego Cabeceira do Valo encontram-se com princípio de
contaminação, via escoamento superficial desde o lixão ou mesmo por influência do lençol
freático. Nos córregos Vicente Pires e Acampamento, no entanto, ainda não foram
verificados indícios de contaminação. Contudo, estudos feitos por Franco (1996), utilizando
técnicas de geofísica (sondagens elétricas verticais e perfilagem eletromagnética), indicam a
presença de uma pluma de contaminação a partir da região mais antiga do lixão em direção ao
Parque Nacional, podendo atingir a nascente do córrego do Acampamento.
A existência de um manto de intemperismo em toda região do Distrito Federal com
espessura média de 20 m, condiciona o surgimento de aqüíferos superficiais, os quais são
abastecidos pela infiltração direta da água através do solo permeável.
105
No local do aterro a situação é a mesma, de modo que a falta de impermeabilização de
fundo permite que os contaminantes oriundos dos resíduos também percolem através do solo.
Estudos realizados por Pereira et al. (1997) mostram que, principalmente na região central do
aterro, o aqüífero encontra-se bastante comprometido, com presença de metais pesados,
coliformes e compostos orgânicos, ocorrendo uma suavização nas regiões periféricas.
Os aqüíferos profundos são muito mais importantes, ao nível de vazão, do que os
porosos superficiais descritos anteriormente. São originados pela ação de fenômenos
tectônicos sobre rochas originalmente pouco permeáveis, normalmente quartzitos, o que
provoca o aparecimento de extensos sistemas de fraturas que servem como reservatórios de
água. Análises feitas pelo SLU em um poço tubular profundo localizado dentro da área do
aterro ainda não indicaram a presença de contaminação. No entanto, o monitoramento
constante de suas águas é recomendado.
3.3.3 GEOLOGIA
- Unidade S – com espessuras que podem atingir 500m, é formada por um conjunto de
metasiltitos com intercalações arenosas compondo metarritimitos ou lentes de
calcários ou dolomitos. O topo do conjunto geralmente é representado por
metarritimito pelítico e arenoso, com intercalações de quartzitos e metassiltitos;
106
- Unidade A – principal face ocorrente na área de estudo, apresenta contato transicional
a partir da unidade anterior, sendo constituído por ardósias homogêneas, contendo
lentes de quartzitos e metarritimitos. Sua espessura é de difícil precisão, em virtude do
intenso dobramento, atingindo aproximadamente 70 m;
- Unidade R3 – corresponde a um metarritimito arenoso caracterizado por intercalações
de bancos de arenitos e materiais pelíticos. Sua espessura total pode alcançar 90 m;
- Unidade R4 – metarritimito argiloso marcado por intercalações de materiais siltico e
argiloso, além de delgados estratos de quartizo fino. Sua espessura varia de 100 a 150
metros;
- Unidade PC – unidade pelítica com ardósia e metassiltitos argilosos, associados a
lentes de mármores finos. São comuns ainda as presenças de quartizitos médios a
grossos, e até mesmo conglomerados. A espessura dessa unidade pode atingir 150 m.
3.3.4 SOLOS
107
Solo residual laterítico e solo coluvionar laterítico: São os que predominam no local,
constituem-se em um latossolo vermelho escuro com textura pelítica - psamítica, com
espessuras variáveis entre 10 a 15 m para o solo laterítico e 15 a 25 m para o solo
coluvionar. A permeabilidade varia entre 10–4 cm/s e 10–6 cm/s, dependendo da
profundidade e da posição espacial;
Cascalho laterítico: camada composta por cascalho laterítico marrom escuro com
espessura média de 2,0 m. Encontra-se quase sempre no topo dos solos saprolíticos dentro
da zona de oscilação do nível d’água;
Solo saprolítico de ardósia e quartzito: solos saprolíticos derivados das ardósias e
quartzitos predominantes do contexto geológico local. A permeabilidade para os solos
derivados de ardósia é em torno de 10-6 cm/s, enquanto para os solos derivados de
quartzitos os valores estão entre 10-3 e 10-4 cm/s.
A principal característica da camada de latossolo que recobre a área do lixão é sua alta
porosidade (atingindo valores superiores a 60%), associada ao intenso processo de
intemperismo químico predominante em toda a região.
Cardoso et al. (1995) correlaciona a alta porosidade dos solos ao fato destes serem
formados por agregados de matriz argilosa interligados entre si e a grãos de areia por pontes
de argila, o que faz com que, apesar da textura argilosa, o solo tenha um comportamento
estrutural semelhante ao de areias. A Figura 3.8 ilustra um perfil esquemático do solo na
região central do aterro do Jóquei, com detalhe para os falhamentos que podem constituir-se
em caminhos preferenciais de percolação para o chorume.
Estudos realizados por Farias et al. (1999) em um perfil de 0 a 3,5 m de profundidade
mostram que a nível mineralógico, o solo é bastante homogêneo, com predomínio de
caolinita, hematita e gibsita, minerais de Fe e Al que demonstram claramente o forte processo
de intemperismo químico imposto ao solo, que remove grande parte dos elementos solúveis
(Na, K, Mg, Ca). Observa-se a acumulação de Fe e Al na forma de óxidos e hidróxidos,
formando um horizonte composto principalmente por minerais secundários e alguns minerais
primários não alteráveis (Cardoso et al., 1996).
O pH do solo é bastante ácido em superfície, com valores em torno de 4,2, Com o
aumento da profundidade o pH sobe, atingindo valores próximos a 6,5 a 3,5 m de
profundidade. Quanto ao teor de matéria orgânica, Farias et al. (1999) apontam um
decréscimo dos teores com o aumento da profundidade.
108
4
Resíduos 3
Solo Residual
4
2
Lateritico 3
3 7
3 7
3
4 3 Saprolito (Quarzito) 20
3 Argila Porosa 2
4
17
3
5
9
7
5
Cascalho lateritico 6
11
6
7 5
12 NA 3 10
19
16 20
43 Cascalho Lateritico 10 30/4
55
9
53
10
11
11
10
Saprolíto 15
15 Saprolito
13
23
43
Figura 3.8 - Perfil esquemático do solo na área do aterro. (modificado Pereira et al, 1999)
109
CAPÍTULO 4
4 - ETAPAS E METODOLOGIA
4.1 - INTRODUÇÃO
110
quantificação dos volumes e composição dos percolados gerados em função dos diferentes
sistemas de drenagem, bem como dar continuidade aos trabalhos desenvolvidos por Junqueira
(2000).
A premissas básicas de suas concepção e execução foram, portanto, a de obter maciços
protótipos para realização de estudos e pesquisas relacionadas à disposição, tratamento de
resíduos sólidos urbanos e estudos quanti-qualitativos dos percolados gerados de acordo com
seus sistemas de coleta e remoção de percolados.
O estudo das células de resíduos sólidos urbanos envolveu, em termos de trabalhos de
campo, a realização de ensaios e controles in situ para definição de alguns parâmetros do
material compactado, assim como o monitoramento da temperatura e dos recalques ocorridos
na massa de resíduos. Escavações em duas das quatros células foram realizadas a fim de
verificar as condições dos componentes do sistema de drenagem in situ e inspeções dos
filtros foram realizadas por meio de ensaios complementares objetivando a verificação de
alterações em algumas propriedades hidráulicas dos materiais. Neste sentido foram realizados
análises microscópicas e ensaio de permeabilidade com o geotêxtil impregnado exumado das
células.
A pesquisa envolveu ainda, em escala reduzida, a utilização de caixas armazenadoras
de resíduos com aplicações de materiais drenantes alternativos com a utilização de filtros de
geotêxteis a fim de entender melhor o comportamento destes sujeitos ao fluxo de percolado.
Duas caixas armazenadoras (2,5 m x 3,0 m x 1,0 m) foram desenvolvidas e utilizadas para
realização dos ensaios. A camada drenante/filtro foi instalada na base das caixas e resíduos
sólidos foram dispostos sobre as mesmas. Um sistema de injeção de água permitiu aumentar a
umidade dos resíduos e observar periodicamente a sua influência na descarga dos líquidos
percolados.
O presente estudo foi desenvolvido em quatro células de resíduos sólidos urbanos, que
constituem as células experimentais, as quais foram construídas e monitoradas a fim avaliar o
comportamento dos seus sistemas de coleta e remoção de percolados, atividades estas que
demandaram o envolvimento de empresas e pessoas por um razoável período de tempo. Todo
este esforço foi possível face à sensibilização por parte da universidade e de órgãos
intervenientes (Poder Público e instituições de pesquisa) para a importância da busca de
soluções para a problemática atual de disposição de resíduos sólidos.
111
Como em todo projeto de pesquisa, é interessante relatar as etapas enfrentadas durante
a implantação, construção e operação das células experimentais, bem como as dificuldades e
as suas conseqüências no andamento desta parte da pesquisa. A seguir apresenta-se de forma
sucinta a implementação das células na área do Aterro de Resíduos Sólidos do Jóquei Clube
de Brasília. Entretanto, salienta-se que as exposições que se seguem descrevem as quatro
células monitoradas durante o desenvolvimento deste trabalho, dando-se maior ênfase à
exposição das duas células construídas neste período e com menor destaque e detalhes às
outras duas células construídas e monitoradas por Junqueira (2000), durante o período de
agosto/1998 a agosto/2000.
O primeiro obstáculo enfrentado foi o local escolhido para a implantação das células.
No início do trabalho foram selecionadas duas áreas para construção das células
experimentais: uma próxima a lagoa de acúmulo de líquidos percolados do aterro e outra
localizada sobre terreno natural e próximo às células pilotos existentes na área do aterro
intermediário. A necessidade de utilização, a posteriori, desta primeira área, aliada à forte
presença de catadores e proximidades das áreas de disposição de resíduos do aterro,
conduziram ao descarte da mesma, tendo assim sido selecionada e ajustada à área já destinada
à universidade para pesquisa e próxima às células pilotos que deram origem às teses de
doutorado de Junqueira (2000) e Santos (2004). A Figura 4.1 apresenta uma vista do referido
aterro com a indicação da área escolhida para as células experimentais.
A área selecionada teve que respeitar e atender alguns fatores, tais como: (i) possuir as
dimensões mínimas requeridas pelo projeto para simulação das técnicas construtivas; (ii) não
interferir nas células experimentais pré-existentes (Junqueira, 2000) e a serem construídas por
Santos (2004); (iii) permitir acesso à chegada dos carregamentos de resíduos (veículos
coletores) e dos equipamentos de apoio e construção (caminhões, compactadores, etc); (iv)
proporcionar pouca interferência na operação diária do aterro; e (v) possuir mínima
interferência com as presenças de catadores do aterro.
A construção de células piloto foi de suprema importância para se cumprir alguns
objetivos propostos pela pesquisa, visando:
minimizar a perda de representatividade em todos os processos atuantes na massa de
resíduos e na própria composição dos mesmos (risco bastante comum quando em escala de
laboratório);
112
acompanhar a evolução de parâmetros ligados ao comportamento dos resíduos e sistema
de coleta e remoção de percolados, desde o momento em que ocorreu o aterramento.
permitir a obtenção de parâmetros e materiais para ensaios complementares.
complementar os resultados obtidos por Junqueira (2000), ou mesmo adicionar outras
variáveis compatíveis com o contexto abordado.
Figura 4.1 - Vista da área do Aterro do Jóquei Clube de Brasília com a localização das
Células Experimentais.
113
A denominação dada a cada célula está diretamente associada ao seu sistema de drenagem.
Assim, a sigla CMA é uma abreviação de “Célula Membrana Areia”, cujo sistema de coleta e
remoção de percolado é composto por uma camada de areia como elemento de filtro. A sigla
CMG deriva de “Célula Membrana Geocomposto”, possuindo um sistema de coleta e
remoção de percolado com a utilização de geocomposto para drenagem. A sigla CPN é uma
abreviação da célula experimental cujo sistema de coleta de percolado é formado por uma
base de “Pneus” e a célula CSX por uma base de “seixo rolado”. Essa nomenclatura é
utilizada ao longo de todo trabalho na distinção entre as células e maiores detalhes dos
sistemas de drenagem podem ser observados no item 4.2.5 A Figura 4.2 apresenta um
desenho esquemático da distribuição das células na área.
1 1
1-poço (chorume)
2- dreno (coleta de chorume)
CMG CMA
3 2 3 3-placa de recalque
4-piezômetro (PZ)
_ placa de recalque
3 3
CPN C SX
4 4
CL
1 1
0.5
SP3
resíd
R esiduouo
s s
1
2.0
g eocomposto p/ 2 1.0
drenagem
geo membrana
Solo Fundação
A maior parte da área de trabalho foi reservada para o lançamento e compactação dos
resíduos, incluindo uma região destinada exclusivamente ao acesso às áreas e manobra dos
equipamentos. Cada célula experimental envolveu um volume especifico total de resíduos
lançados tendo como média 67 m3, distribuídos em uma área de aproximadamente 75 m2 e
114
com alturas máximas variando de 2 a 2,8 m. Esta última dimensão corresponde à altura de
uma célula típica de resíduos no aterro do Jóquei Clube de Brasília. Os taludes laterais das
células foram definidos com uma inclinação igual a 1,0V: 2,0H.
As células possuem dimensões regulares iguais a 5,0m x 15,0m, enquanto que a
profundidade media é de 2,4 metros.
Os procedimentos construtivos na praça de trabalho foram efetuados por um trator de
esteiras tipo Bulldozer D6. A opção por estes equipamentos decorreu da necessidade de
empregar equipamento usualmente utilizado na execução de aterros sanitários brasileiros
(tratores de esteira tipo D6), na densificação dos materiais e principalmente pela facilidade de
disponibilidade desse equipamento pela empresa responsável pelo gerenciamento do aterro.
Quanto ao número de passadas do equipamento para a densificação dos resíduos, foram
efetuados os mesmos procedimentos que são rotineiramente utilizados na disposição dos
resíduos no Aterro do Jóquei, isto é de 4 a 5 passadas.
b
Poço de Corte a-a
Cobertura final
captaçao
Resíduos
Solo local
Poço de
captação 5,0 m
12 ou 15 m
4m
Geomembrana
Solo local
4m sistema drenantes
5m 12 ou 15 m
115
construtivas envolveram, nesta ordem, os seguintes serviços: (i) limpeza da área destinada às
células; (ii) escavação e serviço de terraplanagem para regularização das plataformas de
operação e das bases para instalação dos sistemas de impermeabilização e drenagem dos
líquidos percolados; (iii) impermeabilização de fundo com a utilização de membrana sintética
(geomembrana); (iv) lançamento dos resíduos segundo a espessura projetada para as camadas;
(v) compactação dos resíduos com o procedimento operacional adotado para o aterro do
Jóquei (equipamento) previamente especificado; e (vi) camada de cobertura com 0,5 m de
espessura; (vii) realização de ensaios e controles in situ.
As células experimentais foram definidas tendo por base os seguintes critérios:
116
lado a lado, com alinhamento Leste– Oeste, formato trapezoidal, com dimensões de 15 m x 4
m x 5 m x 2,8 m (comprimento topo x comprimento base x largura x profundidade máxima).
O solo das escavações das células apresentaram predominância de latossolo vermelho
escuro. As células foram executadas respeitando-se as seguintes premissas básicas: (i)
escavações até a cota preestabelecida (ii) limpeza geral da área (retirada de galhos raízes, etc);
(iii) compactação da base das células; (iv) escavação das valas de coleta e remoção de
percolados e poços de captação com as valas apresentando declividades mínimas da ordem de
2 %, de maneira que fossem garantidos o escoamento e o controle dos percolados; (v)
instalações das camadas de impermeabilização (vi) instalações dos sistemas de coleta e
remoção de percolados propriamente ditos; (vi) instalações dos componentes de
monitoramento; (vii) lançamento das camadas de resíduos para compactação; e (viii)
cobertura da massa de resíduos. A Figura 4.4 mostra detalhes iniciais das escavações das
células.
117
4.2.5 TRATAMENTO DE BASE E IMPERMEABILIZAÇÃO DA FUNDAÇÃO
118
Graduação em Geotecnia da UnB. A Figura 4.5 apresenta a disposição dos distintos
tratamentos nas células experimentais.
Tendo em vista que a utilização da geomembrana limitou-se somente a base das
células e visando não deixar os taludes verticais laterais expostos ao contato direto com os
resíduos, o que certamente provocaria o aparecimento de caminhos preferências de
contaminação a partir das paredes laterais, foram instaladas, em todas as células, camada
tripla de lona plástica sobre os taludes verticais laterais. As lonas recobriram toda a extensão
dos taludes laterais, sendo que suas partes superiores foram ancoradas nas cristas dos taludes
verticais, enquanto as partes inferiores das lonas foram ajustadas às trincheiras laterais, do
mesmo modo que foi feito para as geomembranas. A Figura 4.6 apresenta uma vista das
células, após a instalação da geomembrana e das lonas laterais.
A camada de lona instalada nos taludes laterais também recobriu totalmente as paredes
de madeira reforçada que separam as células de seus respectivos reservatórios de acúmulo de
percolado, garantindo o isolamento entre ambos. Além dos procedimentos acima descritos, as
células CPN e CSX tiveram suas lonas recobertas por uma camada de geotêxtil OP-60 a fim
de protegê-las contra rasgos durante a operação das células.
Com o ajustamento de lonas e geomembranas às trincheiras laterais, estas foram
preenchidas com uma camada de 20 cm de solo compactado, visando selar a ligação entre os
taludes laterais e o fundo das células. De modo a garantir que não haveriam vazamentos
nestes pontos, foi instalada uma camada de cerca de 5 cm de bentonita sobre o solo
compactado em toda a extensão das trincheiras laterais nas células. O preenchimento das
trincheiras laterais, além de funcionar como camada de vedação entre as geomembranas e as
lonas, também garantiu o mesmo efeito na base das paredes de madeira que separam células
de reservatórios, de modo a evitar vazamentos a partir dessa interface.
O posicionamento das geomembranas foi efetuado cuidadosamente, e junto às valas
escavadas para conformação dos drenos (sistema de drenagem dos líquidos percolados) foram
deixadas “folgas” de material para evitar o tracionamento excessivo das peças, quando em
carga, visto esta região ser passível de elevada concentração de tensões.
A limpeza e retirada de materiais pontiagudos (galhos, pedras, etc) das plataformas de
instalação foram igualmente realizadas para garantir a integridade das geomembranas e lonas
plásticas.
119
(a) Célula Pneu (b) Células CMA e CMG
Figura 4.5. Detalhe e vista do tratamento da fundação –impermeabilização das células
120
A concepção do sistema de drenagem das células experimentais baseou-se na
execução de drenos horizontais de percolado. O sistema de coleta dos efluentes líquidos na
célula foi formado somente por drenos principais que captam e conduzem os líquidos
produzidos dentro do corpo da célula até um poço de coleta localizada fora da mesma.
Este sistema foi implantado junto à fundação, sendo composto por valeta principal no
meio da base de cada célula e preenchido com material especifico a cada uma. Conforme
mencionado, estes sistemas convergem para poços de captação, onde é possível obter
amostras e proceder à medição dos volumes de líquidos percolados. O traçado, profundidade e
largura das valas foram ajustados no campo, nos casos específicos em que as peculiaridades
locais assim o exigiram. As valas escavadas foram de 30 x 30 cm.
Uma vez concluída a escavação, foram instaladas as geomembranas e, com isso,
configurado os drenos propriamente ditos. Na seqüência, foram instaladas e rejuntadas as
tubulações de PVC em berço de brita, seixo ou pneu picotado convenientemente preparado,
nas bases das valas. Após o posicionamento dos tubos, a vala foi preenchida com os materiais
citados no parágrafo anterior, compactados de forma a não provocar danos na tubulação já
instalada.
Estes sistemas foram constituídos em duas partes: canal principal de drenagem e
drenagem completa de fundo das células. O canal principal de drenagem teve a mesma
configuração para todas as células, conforme ilustra o esquema mostrado na Figura 4.3, sendo
instalado dentro das trincheiras centrais previamente escavadas um tubo coletor em PVC de
100 mm perfurado. Ao atingir o talude lateral, o tubo coletor atravessa por baixo da parede
protetora de madeira e se estende até os reservatórios de chorume posicionados ao lado das
células. O espaço por onde o tubo atravessa a parede lateral de madeira foi devidamente
recoberto por uma espessa camada de bentonita, que impediu vazamentos.
Para a drenagem completa de fundo das células foram utilizados sistemas
diferenciados, com a utilização de matérias naturais e sintéticos. Conforme Junqueira (2000),
na célula denominada CMA, o sistema de drenagem de fundo foi composto pela implantação
de uma camada de 20 cm de espessura de areia, cujas características granulométricas
encontram-se apresentadas na Figura 4.7. A camada de areia um pouco mais grossa sobre o
dreno central se deveu ao fato da concentração maior de fluxo ser direcionada exatamente
para esse local, de modo que o material um pouco mais grosso poderia aumentar a eficiência
da drenagem nesse ponto, além de dificultar potenciais processos de colmatação.
121
Granulometria Granulometria
(com defloculante) (com defloculante)
100,0 100,0
80,0 80,0
% passa
% passa
60,0 60,0
40,0 40,0
20,0 20,0
0,0 0,0
0,0010 0,0100 0,1000 1,0000 10,0000 100,0000 0,0010 0,0100 0,1000 1,0000 10,0000 100,0000
Diâmetro das partículas (mm) Diâmetro das partículas (mm)
(a) (b)
Figura 4.7- Curvas granulométricas das areias utilizadas na célula CMA.
122
taludes frontais, sendo o ajuste da espessura da camada, bem como o espalhamento da areia
por toda célula feitos manualmente.
Ao final, a camada de areia atingiu uma densidade de 1,49 g/cm3 (areia mais grossa) e
1,59 g/cm3 (areia média), e permeabilidade de 1,3 x 10-3 cm/s e 2,4 x 10-3 cm/s para as areias,
mais grossa e média respectivamente. Em nenhum momento houve o tráfego de veículos
pesados sobre a camada de geomembrana, contribuindo para preservar sua integridade física
e garantir a eficiência do sistema de impermeabilização.
Na célula denominada CMG o sistema de drenagem completo de fundo, utilizado
sobre a geomembrana de 2 mm, constituiu-se em um processo manual de instalação de um
geocomposto formado por uma camada de geotêxtil sobreposta a uma camada de georrede,
como ilustram as Figuras 4.10 e 4.11. Maiores detalhes dos sistemas de drenagem das células
CMA e CMG podem ser vistos em Junqueira (2000).
Figura 4.10
Geotêxtil: Bidim OP30, não tecido, de poliéster, agulhado, com filamentos contínuos.
Georrede: Nortene GN 1500, material de polietileno com gramatura de 1500 g/m2, 5
mm de espessura, e aberturas em formato losangular com dimensões de 1,0 e 1,2 cm para
os eixos do losango, perfazendo uma área de 0,6 cm2 para cada abertura.
123
Cobertura final Detalhe 01 e 02
h=2m
Resíduos
1
2
Detalhe 04
Detalhe 02 Detalhe 03
Detalhe 01 Geotêxtil
Areia - 0,2 m
Resíduos Resíduos Georrede
Geotextil Geotêxtil
HPDE - 2mm
0,3
Areia HDPE 1mm
Geogrelha
0,3
Cascalho
Solo local HDPE Cascalho
Solo local Solo local
HDPE -2mm Solo local
0,3 Tubo perfurado 100 mm
0,3 tubo perfurado -100 mm
Figura 4.10 - Detalhes dos sistemas de coleta de percolados nas células CMG (detalhe 01 e
03) e CMA (detalhe 02 e 04).
124
Figura 4.11 -. Detalhes do sistema de coleta e remoção de percolados da célula CSX
125
Figura 4.12. Aspecto do seixo rolado utilizado na Célula CSX.
126
Figura 4.13- Detalhe da vala central do sistema de coleta e remoção de percolado da
célula CPN
127
Figura 4.15 - Detalhe do pneu utilizado no sistema de drenagem da célula CPN
Detalhe 01 e 02
Cobertura final
Resíduos
1 Resíduos 2,5
2
5,0
6
sistema drenantes
(detalhes 03 e 4)
16
Detalhe 03
Detalhe 04
Detalhe 01 Detalhe 02
0,2
Geotêxtil
Seixo Seixo rolado
0,3
Figura 4.16 - Esquemas dos Sistemas de coleta e drenagem de líquidos percolados nas células
CSX (detalhes 1 e 3) e CPN (detalhe 2 e 4).
128
Tabela 4.1 - Resumo das características dos pneus picotados utilizados na célula CPN.
Características Unidade Pneu Picotado
Formato do material - Laminar
D90 mm 45
CU - 1,5
Massa Especifica kg/m3 367,00
Permeabilidade cm/s 15,0
Índice de vazios - 2,19
Cc - 0,79
129
Quando o nível de líquidos percolados se aproximava do nível da tubulação de
descarga do sistema de coleta e remoção dos percolados das células (tubos PVC), era
chamado um caminhão do tipo ‘limpa fossa’ para promover o esvaziamento dos mesmos ou
se utilizava uma bomba hidráulica, e até mesmo baldes, para promover o rebaixamento do
nível do líquido do poço, enquanto era providenciado sua retirada por aqueles caminhões.
Este procedimento se repetiu inúmeras vezes ao longo da pesquisa, principalmente nos
períodos mais chuvosos.
Com relação ao controle e captação dos gases gerados, foram instalados, em cada
célula, dreno vertical devidamente conectado e associado à rede de drenagem de líquidos
percolados executada junto à fundação. Este sistema apresenta diâmetro interno de 0,40m e
foi executados com tubos de PVC perfurados envoltos geotêxtil OP-20 e com material
granular grosseiro, tipo rachão, e tela metálica em sua base. A drenagem dos gases foi feita
conectando o sistema de drenagem de líquidos percolados ao dreno de gás existente. Foram
posicionados próximo as paredes laterais das células e perto da saída dos percolados. As
hastes foram perfuradas para também servirem como medidores do nível interno de líquidos
percolados no maciço, após a conclusão do mesmo.
130
elevadas temperaturas podem acelerar atividades biológicas, proporcionando o crescimento de
microrganismos que podem causar problemas relacionados à colmatação biológica. O
controle das temperaturas junto às interfaces solo – geossintéticos – sistema de coleta e
remoção de percolados - resíduos deve ser considerado no sentido de conhecer as condições a
que esses elementos estão submetidos. Na literatura especializada existem vários trabalhos
que reportam as temperaturas dentro na massa de resíduos, entretanto muitos poucos relatam
as temperaturas desenvolvidas no sistema de coleta e remoção de percolado, bem como entre
as interfaces entre resíduos e sistema de impermeabilização.
Para o acompanhamento das temperaturas em vários pontos das células foram
utilizados termopares tipo “J” (especiais para imersão em líquidos corrosivos), com 5 metros
de extensão e faixa de medição entre 0 e 100 oC. As disposições dos termopares foram
efetuadas durante o processo de instalação e enchimento das células, posicionados na região
central, observando a seguinte disposição: (i) entre o fundo da célula e a geomembrana; (ii) no
dreno principal; (iii) posicionado entre a sistema de filtro e os resíduos; (iv) dentro da massa
de resíduos; (v) abaixo da camada de cobertura; e (vi) no contato geossintético-resíduos. A
Tabela 4.2 e a Figura 4.18 ilustram o posicionamento dos termopares nas células.
131
C ob ertura fina l
T P -1 3
T P -5
R e síd uo s
T P -6
T P -8 T P-15
T P-1
So lo lo ca l
(a )
CM G T P-6
CM A
R esíd u o s
T P -xx G eo têxtil T P -15
A reia - 0 ,2 m T P-8
T P-1
G e o rred e
H D P E 1m m H P D E - 2m m
0,3
0,3
(b) (c)
C PN CSX
0,3
P ne u
H DPE 1m m H D P E 1m m
0,3
0,3
Seixo ro lad o
P ne u pico tad o
Solo loc al Solo local
(d) (e)
132
4.2.9.2 RECALQUES
133
instaladas apenas uma placa de recalque em cada célula sendo a mesma posicionas no centro
das massas de resíduos. As placas de recalque foram compostas por uma haste metálica de 2,5
cm de diâmetro, e altura variável, soldada a uma base quadrada com 30 cm de lado. As placas
superficiais tiveram uma haste com 1,0 metro de altura, enquanto as placas no interior dos
montes foram acopladas a hastes com 2,5 metros de altura, permanecendo com uma parte
exposta de 1,3 m de altura na superfície.
Regua graduada
Residuos
Solo local compactado
Solo local
Devido a fragilidade das peças, as placas foram instaladas somente após o enchimento
das células. Esse procedimento foi necessário, uma vez que durante o processo de
compactação das camadas de resíduos quando do enchimento das células, a passagem do
trator poderia danificar as placas de recalque que seriam instaladas no centro da massa,
principalmente considerando a instabilidade natural das placas devido à altura das hastes.
Dessa maneira, após o enchimento das células, foi escavada uma vala na região central das
mesmas, com 1,2 m de profundidade para as células CMA e CMG e de 0,80 m para as células
CPN e CSX, onde foram instaladas as placas de recalque, ficando as bases das mesmas
localizadas cerca de 1,30m e 2,20m acima da cota de instalação das geomembranas. Após a
escavação, o fundo da cava foi compactado manualmente (apiloado), seguido pelo
posicionamento e nivelamento inicial da placa. Envolvendo as hastes metálicas das placas
posicionadas no interior dos resíduos, foi instalado um tubo com 5 cm de diâmetro, apoiado
na base das placas. Esse procedimento foi feito com o intuito de evitar que o atrito entre as
hastes e os resíduos pudesse atrapalhar o movimento das placas e prejudicar os resultados
134
obtidos. Assim, as hastes metálicas ficaram livres do contato direto com os resíduos, isoladas
pelo tubo, sem qualquer tipo de atrito durante o processo de recalque.
As medidas dos recalques foram feitas utilizando-se equipamento de topografia (Fig.
4.20), tomando-se como base o topo das hastes metálicas nas placas de recalque e um ponto
fixo de referência onde era posicionada a mira a cada leitura. Desta forma, a cada nova leitura,
o nível atual dos topos das hastes era comparado com seus níveis iniciais, sendo que a
diferença entre suas cotas correspondia aos recalques ocorridos. Após a conclusão do
experimento, as leituras e controles tiveram prosseguimento com certa periodicidade. Para
efeito deste estudo foram utilizadas as leituras realizadas até 17/04/2003, totalizando um
período de cerca de 2 anos de observação.
135
prática usual, no Brasil o uso destes equipamentos restringe-se a poucos aterros sanitários,
fato este condicionado principalmente pelo porte de investimentos envolvidos na aquisição do
equipamento.
O trator possui um peso total com lâmina e proteções de 14.720 kg. Tal equipamento
possui duas esteiras com largura de 0,51m e comprimento de 2,66m, o que resulta em uma
área total de contato com o resíduo de 2,72m2.
O rolo compactador pé de carneiro, de fabricação Caterpillar, foi empregado na
execução da camada de fundo das células CMA e CMG. A retroescavadeira foi utilizada nas
escavações para permitir a ligação entre os reservatórios de percolados e as células, nas
escavações para instalação das manilhas e nas escavações necessárias para as observações dos
sistemas de drenagem.
136
Para o enchimento das células CMA e CMG foram utilizados resíduos provenientes
das cidades satélites do Gama e Sobradinho, que se deu entre os dias 7 e 10 do mês de
agosto/1998. Nestas células os resíduos foram despejados diretamente dos caminhões para
dentro das células, sendo que entre as várias etapas de enchimento, os resíduos foram
compactados pela passagem constante de um trator de esteira de 6 toneladas, atingindo-se a
massa específica média de 0,7 t/m3 e uma espessura final de aproximadamente 2,0 m de
resíduos na célula CMA e 1,9 m na célula CMG. Os volumes de resíduos compactados nestas
células podem ser considerados muito próximos. Conforme relatos de Junqueira (2000), a
célula CMA recebeu 3800 kg de resíduos a mais do que a célula CMG, sendo que a célula
CMA recebeu um total de 47.880 kg e a célula CMG 44.080 kg.
137
(a)
(b)
Figura 4.22 - Preenchimentos das células experimentais: (a) célula CPN e (b) célula CSX
Após a conclusão dos trabalhos de disposição de resíduos nas células, uma camada
final de recobrimento de argila compactada de 50 cm de espessura foi executada pela
138
passagem de trator de esteira. O solo utilizado foi proveniente das escavações das células,
apresentava umidade natural de 22% e ensaios de infiltração realizados sobre a camada de
cobertura indicaram valores médios de 8,5 x 10-3 cm/s.
O solo foi propositadamente compactado em sua umidade natural, em detrimento da
compactação correta na umidade ótima (28%), devido ao fato de que na maioria dos lixões do
Brasil, e mesmo em aterros controlados, a cobertura final não é feita com controle de
compactação. Deste modo, procurou-se utilizar os mesmos procedimentos usualmente
empregados na compactação dos resíduos e na instalação da camada de cobertura, tornando os
resultados obtidos mais fiéis à realidade de campo no que se refere à infiltração de água da
chuva através das camadas de cobertura. A Figura 4.23 mostra uma visão geral das células
após a instalação da camada de cobertura final.
Figura 4.23 – Visão geral das células experimentais após a implantação da camada de
cobertura final de solo.
139
4.2.13 COMPOSIÇÃO GRAVIMÉTRICA
A composição dos resíduos sólidos urbanos apresenta-se como um dos fatores que
podem afetar o processo de degradação dos resíduos e conseqüentemente todos os dados
relacionados a sua degradação (recalque, qualidade do percolado, etc). Visando minimizar
elevadas variações na composição dos resíduos, executaram-se as células experimentais com
resíduos oriundos de setores de coleta com semelhantes características (fontes geradoras e
padrões urbanos) no Distrito Federal.
O fluxo mássico de resíduos sólidos aterrados nas células CMA e CMG foi de 47,88 e
44,08 toneladas, respectivamente. A célula CMA recebeu 74,12% dos resíduos provenientes
da coleta diária da cidade de Sobradinho e o restante da cidade do Gama. Já a célula CMG foi
preenchida com 25,87% dos resíduos proveniente da cidade do Gama e o restante da cidade
de Sobradinho. A Tabela 4.3 mostra a composição gravimétrica dos resíduos nas duas
localidades. A disposição dos resíduos nestas células experimentais se deu entre os dias 7 e 10
de agosto de 1998 e o lixo foi despejado diretamente dos caminhões para dentro das células,
sendo que entre as varias etapas de enchimento o lixo sofreu processo de compactação
constante pelo do trator de esteira.
O enchimento das células CSX e CPN se deu entre nos primeiros dias do mês de
agosto do ano de 2001 e cada uma das células recebeu aproximadamente 51.660 e 47.570
toneladas de resíduos sólidos, respectivamente. Para a disposição dos resíduos nestas células
experimentais não houve escolha das localidades de coleta dos resíduos, apenas procurou-se
mesclar áreas de coleta residenciais e comerciais, a fim de os resíduos aterrados mostrassem o
140
mais fiel possível ás condições reais de cada localidade. Deve-se ressaltar que apesar do
esforço em tentar que as duas células recebessem a mesma composição de resíduos, o grande
volume de resíduos, aliado à disponibilidade de máquinas para aterramento dos resíduos e
área disponível para as manobras, fez com que os resíduos provenientes do Núcleo
Bandeirante somente fossem aterrados na célula experimental CPN. A Tabela 4.4 mostra o
fluxo de resíduos durante o preenchimento das células.
Tabela 4.4 – Fluxo mássico de resíduos aterrados nas células experimentais CSX e CPN.
Origem % Origem %
Sobradinho 25 Sobradinho 40
Gama 10 Gama 30
Lago Sul 25 Lago Sul 35
Núcleo Bandeirante 40 Núcleo Bandeirante -
Total (kg) 51.660 Total 47.570
Tabela 4.5 – Composição gravimétrica dos resíduos aterrados nas células experimentais CMA
e CMG (Junqueira, 1996)
Tipo Gama % Lago Sul Núcleo Bandeirante Sobradinho. %
Papel 12,4 10,12 16,79 9,9
Papelão 12,8 5,47 6,28 10,1
Plástico fino 10,9 4,94 9,93 13,5
Plástico duro 6,7 10,51 7,59 7,8
Matéria Orgânica 47,5 61,03 49,33 46,6
Latas 4,14 0,73 0,88 3,1
Outros 5,6 7,11 9,2 9,0
141
2.2.14 TEOR DE UMIDADE
A determinação do teor de umidade do resíduo foi realizada para cada células em três
períodos distintos, quais sejam: durante a instalação das placas de recalque, em um período de
seca e em outro de grande pluviosidade. Para cada ensaio foram coletadas 3 (três) amostras, as
quais eram acondicionadas em recipiente próprio, pesadas imediatamente após a coleta,
colocadas em estufa com temperatura controlada em 60ºC, para evitar a queima do material
volátil, e novamente pesada, após a secagem do material. Tais ensaios e determinações foram
realizados no Laboratório de Geotecnia Ambiental da UnB.
O valor do teor de umidade foi obtido em termos do peso seco do material, ou seja,
baseada na relação entre o peso da água contida nos resíduos e o peso dos sólidos (peso do
resíduo após secagem em estufa).
142
2.2.15.2 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DOS LÍQUIDOS PERCOLADOS
Após este período inicial (2 meses), as amostragens e ensaios foram realizados com
freqüência mensal até 03/10/03, exceto para as determinações dos sólidos, condutividade e
143
salinidade que seu deu trimestralmente. Após aquela data, uma última amostragem e série de
ensaios foram realizadas em 02/11/03, somente para as amostras das células CSX e CPN,
respeitando, neste caso, uma periodicidade mensal para estas células. A Tabela 4.6 apresenta
os ensaios realizados durante o experimento. Cabe salientar que neste período houve uma
falha de registros no mês de abril/03 com relação aos controles dos sólidos contidos nos
líquidos percolados, salinidade e condutividade .
Tabela 4.6 - Programa de ensaios com os líquidos percolados provenientes das células.
Parâmetro Tipo de ensaio Laboratório
pH Medida direta por eletrodo de pH LAA/UnB
Condutividade elétrica Medida direta por eletrodo de condutividade Geotecnia/UnB
Amônia Método Nessler. N0 8038 LAA/UnB
Nitrato Método de redução por Cadminun N0 8039 LAA/UnB
Sulfato Método ALPHA LAA/UnB
DQO Digestão de refluxo fechado (Dicromato) LAA/UnB
Cloreto Método do Tiocianeto de Mercúrio. N0 8113 LAA/UnB
Sólidos Método de ASTM (1985) Geotecnia/UnB
144
diminuir o pH medido. Alguns sistemas biológicos também são extremamente sensíveis às
alterações do pH, geralmente tolerados na estreita faixa de variação de 6,5 a 8,5. Em aterros
novos o valor do pH varia de 4,5 a 7,5 e em aterros antigos de 6,6 a 7,5 (Tchobanoglus et al.
,1993). Na fase acetogênica este parâmetro apresenta uma faixa de valores entre 4,5 a 7,5,
com valor médio de 6,1, e na fase metanogênica na faixa de 7,5 a 9, com valor médio de 8.
(Ehrig, 1983).
O principio básico do funcionamento do aparelho medidor de pH é a determinação da
atividade dos íons H+ por meio da diferença do potencial de um eletrodo padrão de
hidrogênio e um eletrodo de referência. As principais fontes de erros nas medições estão
relacionadas ao operador e são: a) calibração do aparelho: b) lavar o eletrodo a cada medida,
secando-o em seguida com o lenço de papel; e c) após cada medida e ao final do ensaio, o
eletrodo deve ser imerso em água destilada, evitando o ressecamento da película do
equipamento.
145
A primeira grande finalidade do acompanhamento desses compostos é o fato de que a
relação entre ambos indica as variações nas condições de aerobiose ou anaerobiose dentro da
massa de lixo, por processos de oxidação e redução.
A amônia liberada pela ação bacteriológica pode ser utilizada diretamente pelas
plantas em seu processo de crescimento, fato comumente exemplificado quando do
crescimento de várias plantas sobre a camada de solo que normalmente recobre o lixo
aterrado. Porém, a maior parte da amônia liberada é oxidada por bactérias do grupo
Nitrosomonas, que convertem amônia em nitritos sob condições aeróbias, liberando energia
durante o processo de oxidação:
bactéria
2NH3 + 3O2 2NO2- + 2H+ + 2H2O (4.2)
Esse processo de conversão é apenas um dentre vários, que libera água e calor,
contribuindo para o aumento das temperaturas no monte e para a maior quantidade de líquidos
em seu interior, liberado posteriormente na forma de chorume. O nitrito é oxidado pelo grupo
Nitrobactéria, também chamados de formadores de nitratos:
2NO2- + O2 bactéria
2NO3- ( 4.3)
O nitrato formado também pode servir como fertilizante para as plantas sobre a
camada de solo de cobertura, mas a maior parte é carreada pela água percolada dentro da
massa de lixo, não raramente atingindo o lençol freático devido à baixa capacidade do solo
em reter nitratos.
Em condições anaeróbias, nitratos e nitritos são reduzidos por um processo
denominado Denitrificação. Primeiramente, os nitratos são reduzidos a nitritos, que
posteriormente são reduzidos a nitrogênio gasoso em sua maior parte, o qual escapa para a
atmosfera. Desta maneira, uma evolução crescente dos níveis de nitrato, com redução dos
níveis de amônia, indicam que ainda existem atividades aeróbias dentro da massa de lixo. Por
outro lado, o decréscimo dos níveis de nitrato aponta para o início de predomínio de
condições anaeróbias no interior da massa.
Outra forte razão que levou ao acompanhamento dos níveis de Amônia e Nitrato está
relacionada à sua grande importância com relação ao aspecto ambiental. Deve ser lembrado
novamente a delicada posição em que se encontra o aterro do Jóquei Clube, muito próximo as
146
nascentes de alguns rios, além do uso constante das águas superficiais e subterrâneas pela
população que vive ao redor.
Primeiramente, a entrada de fluidos com altos teores de amônia ou nitrato dentro de
corpos d’água pode proporcionar o crescimento de algas e outras plantas aquáticas devido a
presença fertilizante do Nitrogênio, as quais, em grande escala, começam a consumir o
oxigênio dissolvido, competindo com a fauna aquática. Também a conversão autotrófica de
amônia para nitrito e nitrato demanda oxigênio, como exprimem as reações descritas
anteriormente e, portanto, a descarga de elevados teores de Amônia com sua subseqüente
oxidação pode comprometer seriamente os níveis de oxigênio dissolvido nos rios. Isto é
particularmente relevante para rios com pouco volume de água, como é o caso dos córregos
do Acampamento e Cabeceira do Valo, que possuem suas nascentes muito próximas a área do
aterro e certamente recebem contribuição do lençol freático e de águas superficiais para
compor seu balanço hídrico.
A toxidade da Amônia está relacionada ao estado em que esta se encontra. É sabido
que a Amônia livre (não iônica), resultante da reação abaixo, é tóxica, ao contrário do íon
Amônia, sendo a relação entre ambos dependente do pH e da concentração.
+
NH3 + H+ NH4 (4.4)
Pesquisas mostraram que Amônia livre em quantidades acima de 0,2 mg/l pode ser
fatal para várias espécies de peixes. Considerando a usual margem de segurança, a Academia
Americana de Ciências recomenda que a quantidade máxima de amônia livre lançada em rios
seja de 0,02 mg/l (Sawyer et al., 1994), valor também adotado pelo Conselho Nacional de
Meio Ambiente (CONAMA, 1986). A toxidade da amônia não se constitui em problema em
concentrações menores que 1 mg/l e pH abaixo de 8.
Apesar dos níveis máximos de amônia toleráveis para o ser humano ainda não serem
bem definidos, as quantidades de amônia medidas nas células experimentais foram muito
elevados, não raramente excedendo 2000 mg/l. Nesse sentido, e sempre considerando o
contexto local, o acompanhamento desses níveis passa a ser de grande importância.
O consumo de água contendo elevados teores de nitrato pode causar uma doença
sanguínea chamada metahemoglobinemia, atingindo principalmente as crianças. A Agência
Americana de Proteção Ambiental (USEPA) estabeleceu que o máximo de nitrato tolerado em
águas para consumo são 10mg/l (EPA, 1991). Como nitratos geralmente não são atenuados
pelo solo, existe grande possibilidade de alcançarem o lençol freático.
147
Para determinação do nitrogênio amoniacal utilizou-se o método calorimétrico 8038,
utilizando-se aparelho e reagentes produzidos pela HACH Company. O método da
nesslerizacão direta consiste na adição de um estabilizador mineral para complexação da
dureza presente na amostra, que é uma das fontes de interferência no resultado. Acrescenta-se
um agente (álcool de polivinil) para realçar a cor indicativa da reação entre o reagente nessler
e a amônia. A cor amarelada que surge é proporcional à quantidade de amônia presente e pode
ser determinada pela medida no espectofotômetro. Alem da dureza, outras interferências
podem mascarar ou alterar a medida de amônia por esse método. Ferro e sulfato, se presentes
na amostra, interferem causando turbidez na presença do reagente nessler.
O método é limitado pelo teor máximo de 2,6 mg/L de N-NH3 em solução. Como no
percolado utilizado esse valor era ultrapassado em até 500 vezes, foi necessário efetuar-se a
diluição das amostras. A diluição é outro fator de erro introduzido nas leituras, pois
multiplicam na mesma proporção eventuais erros e aproximações do método. Por outro lado,
esta diluição diminui a interferência causada pela turbidez na presença do reagente nessler.
Para determinação do nitrogênio – nitrato (NO3) utilizou-se o método 8039 do
aparelho HACH. Esse método baseia-se na redução por cádmio para determinação de nitrato
na faixa de 0 a 5 mg N-NO3/L. Como no percolado utilizado esse valor era ultrapassado, foi
necessário também se efetuar a diluição das amostras
d) Cloretos
148
Pelo monitoramento dos níveis de cloreto a partir da fonte principal (chorume
produzido nos lixões), é possível estabelecer uma relação de distância da pluma de
contaminação, uma vez que quanto mais afastado da fonte, menores serão os valores de
cloretos, afetados pela diluição ocorrida durante a mistura de águas com elevados teores com
outras com teores bem menores.
A entrada de cloretos em águas superficiais e subterrâneas não produz efeitos danosos
à saúde pública. O recomendável é um valor máximo de 250 mg/l para águas de consumo.
Contudo, há casos de consumo de águas contendo valores superiores a 2000 mg/l sem gerar
problemas. Obviamente é necessário que o corpo esteja adaptado a receber água com tais
níveis de cloretos. Na literatura especializada são reportados valores de 200 a 3000 mg/L para
percolados oriundos de aterros sanitários novos, com valores médios de 500 mg/L, e faixa de
valores entre 100 e 400 mg/L para aterros antigos. Para determinação do Cloreto (NO3)
utilizou-se o método 8113 do aparelho HACH. Esse método baseia-se na redução por cádmio
para determinação de nitrato na faixa de 0 a 5 mg N-NO3/L. Como no percolado utilizado
esse valor era ultrapassado, foi necessário se efetuar a diluição das amostras.
e) Sulfato
Sulfato é a forma pela qual os vegetais absorvem a maioria do enxofre dos solos.
Desde que este íon é muito solúvel, seria de pronto lixiviado do solo. É maximo em regiões
úmidas, caso não seja adsorvido pelos colóides do solo. O sulfato é atraído pelas cargas
positivas que caracterizam os solos ácidos que contêm argilas silicatadas. A maioria dos solos
retém algum sulfato, embora a quantidade retida seja, em geral, pequena quando comparado
ao do fosfato, por exemplo.
Para a determinação do Sulfato (SO4) utilizou-se o método do aparelho HACH.
Como no percolado utilizado esse valor era ultrapassado, foi também necessário se efetuar a
diluição das amostras. A turbidez tem influencia significativa na execução deste ensaio,
havendo necessidade de filtração ou centrifugação das amostras.
149
Methods (1985), é usada para medida do oxigênio equivalente no conteúdo de matéria
orgânica da amostra que é susceptível a oxidação por oxidantes químicos fortes.
Esse teste mede a quantidade de oxigênio requerida para a oxidação química da
matéria orgânica existente, em uma amostra, em dióxido de carbono e água. O ensaio de DQO
é empregado para medidas do conteúdo orgânico de águas naturais, águas residuárias
municipais e resíduos industriais. Na prática, o oxigênio equivalente da matéria orgânica é
medido usando um agente oxidante forte, o dicromato de potássio em meio ácido. O ensaio é
efetuado em temperaturas elevadas, necessitando de um catalisador, geralmente o sulfato de
prata, para ajudar na oxidação de certos compostos orgânicos resistentes, particularmente
alguns ácidos de baixo peso molecular. Apresenta a vantagem de ser de rápida determinação,
quando comparado com o ensaio de DBO. No entanto, duas grandes limitações são citadas
por Sawyer (1994). A primeira, é a impossibilidade de diferenciação entre mataria orgânica
biodegradável e aquela inerente ao tratamento biológico; a segunda é relativa à não indicação
da taxa de remoção, com a qual os processos naturais poderiam degradar a matéria orgânica.
As determinações foram realizadas segundo metodologia do Standart Methodos e a
DQO determinada no aparelho HACH DR 2010. A Figura 4.23. Apresenta o conjunto
utilizado na determinação da DQO.
Figura 4.24 – Equipamento e reagentes básicos utilizados ao longo da pesquisa nas medidas
dos diversos parâmetros monitorados.
150
22.000 mg/L para percolados oriundos de fase Acetogênica e faixa de valores de 6.000 a
60000 mg/L. Na fase Metanogêrnica são reportados faixas de valores de 500 a 4.500 mg/L.
o
Sólidos Cone Imhoff Amostra de 105 C Sólidos totais
sedimentáveis percolado (ST)
retido filtrado
FILTRO 1,2 m
o o
105 C 180 C
Sólidos em Sólidototais
suspensãao (SS) dissolvidos (STD)
A matéria sólida total (sólidos totais) pode ser definida como a matéria que permanece
como resíduo após evaporação a 103 a 105 0C. A matéria sólida em suspensão (sólidos em
151
suspensão ) compõe a parte que é retida, quando um volume da amostra é filtrado através de
uma membrana filtrante apropriada, normalmente um filtro de fibra de vidro com tamanho do
poro igual a 1,2 m; a fração que passa pelo filtro compõe a matéria sólida dissolvida (sólidos
dissolvidos).
A medição de vazões dos líquidos percolados foi realizada junto ao poço de recepção
com pelo menos duas leituras semanais. Durante os primeiros meses de monitoramento de
cada célula procurou-se realizar mais de 3 determinações ao longo da semana, normalmente
pela manhã, logo ao início dos trabalhos. Nos períodos chuvosos, e na medida do possível,
medições complementares foram realizadas para melhor integração e determinação dos
volumes gerados nas células experimentais.
Tal controle foi iniciado em 07/08/2001, após os serviços de compactação das células
CMA e CMA, sendo realizado de forma quase ininterrupta até o mês de setembro de 2003
(algumas falhas foram registradas no período de controle, especificamente nos meses de
Jan/2002 e Fev/2003). O controle das células experimental CPN e CSX teve inicio logo após
a implantação da camada de cobertura destas células no inicio de agosto/2001, sendo também
realizada de forma ininterrupta e perfazendo pouca mais de 2 anos de monitoramento.
152
As medidas, via correlação com a geometria do poço de captação, foram realizadas a
partir da observação da lâmina, a qual foi registrada com o auxílio de régua graduada
instalada junto ao mesmo. As vazões dos líquidos percolados, nos períodos de menores
índices pluviométricos, foram igualmente avaliadas com auxílio de recipientes graduados
posicionados imediatamente na saída dos tubos coletores das células. Recipientes plásticos
com capacidade para armazenamento de cerca de 5.000 ml e cronômetros para registro do
tempo foram utilizados neste caso. Tal procedimento permitiu assim, que a partir do registro
dos tempos e volumes de acumulação dos líquidos percolados, fossem obtidas as vazões
geradas. As vazões geradas, no instante da leitura, foram determinadas como o valor médio de
3 (três) medições sucessivas de volume e tempo.
Este método de controle complementar se fez necessário, uma vez que para pequenas
vazões e conseqüentemente pequenas lâminas sobre o poço de captação, imprecisões eram
geradas, tanto nos coeficientes da correlação entre lâmina e vazão, como na medição da altura
da lâmina vertente, invalidando as medições acima descritas. A vazão diária foi obtida a partir
da integração das leituras realizadas ao longo de um período de 24 horas.
153
altura final de 2,0 m. As caixas foram posicionadas lado a lado, próximas a estação
meteorológica da Estação Experimental da Universidade de Brasília. A Figura 4.27 e 4.28
mostram alguns detalhes das caixas.
Na parede lateral de cada caixas existe uma janela de vidro com 0,5 m de largura, que
se estende desde a base do sistema de drenagem até o topo da caixa. A utilização de materiais
transparentes na caixa era importante não só para se obter informações sob a dinâmica do
ensaio, como também facilitar a identificação de problemas de funcionamento do sistema,
posto que se tratava de ensaio de longa duração. Essa face de vidro também teve a função de
permitir a observação direta de todos os elementos contidos na caixa tais como: materiais dos
drenos, lixo e solo de cobertura (Figura 4.28).
Figura 4.28 – Detalhe das janelas de vidro posicionadas na parede lateral das caixas.
154
Nas caixas de resíduos foram instaladas camadas de material isolante (isopor com 20
mm de espessura) sobre toda parte externa das paredes laterais e do fundo das duas caixas.
Esse isolamento se fez necessário devido ao fato das caixas serem feitas de metal, com grande
potencial de troca de calor com o ambiente externo, o que poderia influenciar os valores das
temperaturas dentro da massa de lixo. Também foi colocada uma camada de lona grossa
envolvendo toda parte lateral das caixas, com o intuito de evitar o desprendimento das placas
de isopor e a entrada de luz solar através das janelas de vidro, o que certamente afetaria a
atividade microbiológica dentro das caixas. As Figuras 4.29 e 4.31 mostram o isopor e a lona
externa instaladas, respectivamente.
A parte interior das caixas foi recoberta com uma camada de lona plástica, para evitar
o contato direto dos líquidos percolados com o fundo, uma vez que este foi coberto por uma
camada de tinta antiferrugem. Assim, poderia haver algum tipo de reação entre o chorume e
os elementos da tinta, provocando alterações artificiais na qualidade do chorume produzido.
Figura 4.29 – Caixas prontas para receber o lixo, com detalhe para as lonas laterais..
155
diferentes técnicas e metodologias de produção e cujo controle da qualidade do processo
produtivo é recente, características como composição e quantidade produzida dependem
diretamente do estagio de desenvolvimento da indústria de construção local. Geralmente, este
entulho se apresenta na forma sólida, com características físicas variáveis, que dependem do
seu processo gerador, podendo apresentar-se tanto em dimensões e geometrias já conhecidas
dos materiais de construção (como areia e brita), como em formato e dimensões irregulares.
Zordam (20002) apresenta as principais características e aplicações do entulho como material
de construção.
A utilização do entulho na Caixa C1 do presente trabalho procurou verificar a
utilização destes resíduos de obras com a finalidade de sistema drenante em aterros de
resíduos sólidos, entretanto, tendo-se em mente que tais resíduos contém materiais com poder
aglutinantes que podem ser facilmente dissolvidos por elementos químicos contidos nos
percolados, característica esta ruim para os drenos.
O processo de seleção do entulho pode ser manual ou industrial, em usinas de
reciclagem. As amostras de entulho britado, utilizado na pesquisa, foram fornecidas pela
empresa Enterpa Ambiental e seu aspecto pode ser observado na Figura 4.30.
A sua caracterização foi realizada através de uma seleção manual para a determinação
dos materiais componentes; ao mesmo tempo, todo o material da amostragem foi passado por
uma série de peneiras para a detecção das faixas granulométricas em que os componentes
comparecem. O material apresentou umidade higroscópica de 5,51 %, com massa especifica
156
dos grãos de 2,69 e sua curva granulométrica pode ser observada na Figura 4.31. Ensaios de
permeabilidade realizados demonstraram que este material apresenta coeficiente de
permeabilidade da ordem de 10 cm/s (Tabela 4.7).
Figura 4.31 - Curva granulométrica do entulho de obra utilizado como sistema de drenagem
Assim, primeiramente, a vala na caixa C1 foi preenchida com entulho britado, cujas
características já foram apresentadas na Figura 4.32, sendo implantada sobre este uma camada
de geotêxtil (Bidim OP-20, 200 g / m2) sobre a parte superior da vala.
Para a caixa denominada C2, a vala foi preenchida por pedaços de pneu picotado e
triturado (método que consiste na redução do pneu por meio mecânico usando uma variedade
de técnicas de trituração), tendo esta camada sido estendida por toda a base da caixa com uma
espessura de aproximadamente 10 cm, recobrindo de pedaços de pneu todo o fundo da caixa.
Sobreposta a camada de pneu instalou-se uma manta de geotêxtil (Bidim OP-20, 200 g/m2)
como camada filtrante. As Figuras 4.32 e 4.34 ilustram alguns detalhes dos materiais e
sistemas de drenagem das duas caixas.
Para armazenar o percolado produzido, foram utilizadas duas caixas d’água com
capacidade para 500 litros cada. As caixas foram posicionadas a cerca de 0,5 m à frente da
saída da vala drenante, em poços escavados para receberem os reservatórios. A ligação entre
os drenos e os reservatórios foi feita por meio de tubos plásticos (mangotes) com 50 mm de
diâmetro, em uma conexão bastante simples.
157
Figura 4.32 - Camada de pneu picotado e entulho britado como material drenante nas caixas.
Figura 4.34 – Detalhes dos pedaços de pneu picotado e triturado utilizados na drenagem das
caixas.
158
4.3.2 PREENCHIMENTO DAS CAIXAS
Para a identificação da composição dos resíduos sólidos utilizados, pouco antes dos
resíduos serem depositado nas caixas, procedeu-se uma separação gravimétrica, obtendo-se os
resultados expostos na Tabela 4.7. Deve-se ressaltar que apesar do esforço para a
representação realista da composição dos resíduos do trecho da superquadra, em virtude da
retirada de resíduos de grandes volumes e alguns resíduos de difícil degradação (exemplo
coco), aliados a falta de tempo disponível para este estudo, faz com os dados que serão
expostos sejam analisados apenas ao nível das caixas. Assim, um estudo mais detalhado da
composição dos resíduos da superquadra é recomendado, podendo-se ter como base os
trabalhos apresentados por Junqueira (1999).
159
Tabela 4.7 – Composição do lixo aterrado nas caixas
160
principal objetivo de sua instalação foi evitar a presença de moscas e mau cheiro, o que
certamente traria vários inconvenientes para o trabalho, uma vez que as caixas são
posicionadas a 2 m do escritório da estação meteorológica. As Figuras 4.35 e 4.36 mostram o
processo de enchimento das caixas.
161
acompanhadas as evoluções das temperaturas em pontos estratégicos, as taxas de produção de
percolado e a qualidade do chorume, pelo acompanhamento de alguns contaminantes
específicos.
4.3.3.1 TEMPERATURAS.
Caixa C1
- TP – 01 - Posicionados dentro da massa de resíduos, na região central separado de 0,5 m
da base;
- TP 02 – Posicionado dentro do dreno;
- TP 03 - Posicionado no contato geotêxtil / Lixo.
Caixa C2
- TP 04 - Posicionado dentro do monte de lixo,na região central, separado de 0,5 m da
base;
- TP 05 - Posicionado dentro do dreno;
- TP 06 - Posicionado abaixo do geotêxtil.
162
4.3.3.2 – TAXA DE PRODUÇÃO E QUALIDADE DO CHORUME.
A aspersão de água nas caixas teve iniciou após 60 dias do enchimento das mesmas.
Essa aspersão foi realizada semanalmente durante 2 anos, sempre em duas etapas, no início da
manhã e início da tarde. Pela manhã, entre oito e nove horas, e normalmente nos sábados,
eram injetados 5 litros. O valor do volume total de água por caixa foi estimado considerando-
se a quantidade de chorume produzida por um aterro convencional de seis metros de altura de
resíduos, após dois meses de funcionamento. Essa é uma altura média de disposição de lixo,
encontrada nos aterros sanitários brasileiros. Pretendia-se também fornecer água necessária
aos resíduos dispostos nas caixas a fim de que os mesmos permanecem com uma umidade
que não fossem inferior a 45%, com isso acelerando a sua decomposição.
163
CAPÍTULO 5
5.1 INTRODUÇÃO
A composição dos resíduos sólidos urbanos apresenta-se como um dos fatores que
podem afetar o processo de degradação dos resíduos e, por conseqüência, todos os dados
relacionados à sua degradação (recalque, qualidade do percolado etc). Visando minimizar
elevadas variações na composição dos resíduos, executaram-se as células experimentais com
resíduos oriundos de setores de coleta com características semelhantes (fontes geradoras e
padrões urbanos) no Distrito Federal. Entretanto, os resíduos sólidos urbanos utilizados
apresentaram elevadas variações dos componentes, principalmente por ter sido constituído por
resíduos provenientes da coleta de diferentes Cidades Administrativas do Distrito Federal,
confirmando a grande heterogeneidade destes materiais, mesmo para setores de coleta com
164
idênticos padrões urbanos e características de geração. O fluxo mássico de resíduos sólidos
aterrados nas células CMA e CMG foi de 47,88 e 44,08 toneladas respectivamente. A célula
CMA recebeu 74,12% dos resíduos provenientes da coleta diária da cidade de Sobradinho e o
restante da cidade do Gama. Já a célula CMG foi preenchida com 25,87% dos resíduos
proveniente da cidade do Gama e o restante da cidade de Sobradinho. A disposição dos
resíduos, nestas células experimentais, ocorreu no mês de agosto/1998.
O enchimento das células CSX e CPN foi feito nos primeiros dias do mês de
agosto/2001 e cada uma das células recebeu aproximadamente 51,6 e 47,6 toneladas de
resíduos sólidos respectivamente. Para a disposição dos resíduos nestas células experimentais
não houve escolha das localidades de coleta dos resíduos, apenas procurou-se mesclar áreas
de coleta residenciais/comerciais, a fim de os resíduos aterrados se mostrassem o mais fiel
possível às condições reais de cada localidade. Essas células experimentais foram executadas
com resíduo sólido domiciliar bruto, proveniente predominantemente das Administrações
Regionais das cidades do Gama, Sobradinho, Lago Sul e Samambaia, todos transportados por
veículos coletores, evitando assim a utilização de material trazido por caminhões tipo carreta
de outras origens ou de unidades de transbordo. A distribuição média dos componentes
aterrados nas células está sintetizada na Tabela 5.1.
Tabela 5.1 – Composição gravimétrica dos resíduos aterrados nas células experimentais.
Núcleo
Tipo Gama % Lago Sul Sobradinho. %
Bandeirante
Papel 12,4 10,12 16,79 9,9
Papelão 12,8 5,47 6,28 10,1
Plástico fino 10,9 4,94 9,93 13,5
Plástico duro 6,7 10,51 7,59 7,8
Matéria Orgânica 47,5 61,03 49,33 46,6
Latas 4,14 0,73 0,88 3,1
Outros 5,6 7,11 9,2 9,0
Alguns pontos de interesse podem ser destacados a partir da disposição dos resíduos
sólidos nas células experimentais: (i) os resíduos sólidos aterrados foram provenientes da
coleta efetuada por caminhões basculantes, evitando as carretas de grande porte e com isso
resíduos provenientes de áreas de transbordo, em virtude da possibilidade de aterrar resíduos
165
que apresentavam algum índice de degradação. (ii) visando minimizar elevadas variações na
composição dos resíduos, executaram-se as células experimentais com resíduos oriundos de
setores de coleta com semelhantes características (fontes geradoras e padrões urbanos) no
Distrito Federal. (iii) Face às dimensões das células, foram evitados resíduos volumosos. (iv)
As células experimentais CPN e CSX receberam resíduos provenientes de regiões
administrativas onde o percentual médio de matéria orgânica é, em geral, maior que o
dispostos nas células CMA e CMG, o que pode acarretar um maior potencial de
armazenamento de líquidos percolados ou capacidade de campo desses. (v) A célula CMA
recebeu 3,8 toneladas de resíduos a mais que a célula CMG, enquanto a célula experimental
CSX recebeu cerca de 4 toneladas a mais que a célula CPN.
166
Deve-se ressaltar que, apesar do esforço para a representação realista da composição
dos resíduos do trecho da superquadra, a retirada de resíduos de grandes volumes e de alguns
resíduos de difícil degradação (exemplo, coco) e manuseio, aliados à falta de tempo
disponível para este estudo, faz com os dados que serão expostos sejam analisados apenas ao
nível das caixas, de forma que um estudo mais detalhado da composição dos resíduos da
superquadra é recomendado. A distribuição média dos componentes, considerando todo o
conjunto de resultados esta ilustrada na Figura 5.1, podendo ser sintetizado como: papel
(16,34%), papelão (9,86%), plástico fino (10,40%), plástico duro (5,64%), matéria orgânica
(43,8%) , latas (3,08 %), madeira (2,38%), alumínio (1,04%), PET (0,24%) e rejeito (7,22%).
Alguns pontos de interesse podem ser destacados a partir dos resultados: (i) a
percentagem de matéria orgânica (restos de alimentos, podas, vegetação, etc) constitui o
componente principal dos resíduos utilizados no experimento. Entretanto, este percentual
ficou abaixo do patamar de 50% em virtude da retirada de alguns elementos de difícil
degradação e manuseio (resto de animais); (ii) a presença de materiais como pilhas,
lâmpadas, remédios, seringas, etc foi insignificante, tendo sido as pequenas quantidades
reportadas como material de rejeito; (iii) materiais como entulho foram desprezados para
efeito da definição da composição do material; (iv) os resíduos compostos por
louças/cerâmicas, etc foram reportados como rejeito; (v) a percentagem de papeis na
composição dos resíduos se mostrou bastante elevada, quando comparada a dados já
reportados sobre os resíduos do DF.
Matéria Orgânica
43,80%
Plástico duro
5,64%
Plástico fino
10,40%
Latas
3,08%
Papelão Madeira
9,86 Alumínio 2,38%
Papel PET 1,04%
16,34% Rejeito
0,24%
7,22%
Figura 5.1 Composição media dos resíduos sólidos urbanos empregados nas caixas
O teor de umidade dos resíduos varia com a composição inicial dos mesmos, com as
condições climáticas locais, com as operações de lançamento e disposição e com a capacidade
e desempenho dos sistemas de drenagem interna dos líquidos percolados, sendo um
167
importante parâmetro para a estimativa das velocidades de modificações biológicas e para
previsão do potencial de geração de líquidos percolados e gases. Em geral, o seu valor
aumenta com o acréscimo da quantidade de matéria orgânica presente na massa.
O teor de umidade dos resíduos, nas caixas armazenadoras, foi determinado pela
média aritmética obtida em três amostras com aproximadamente dois quilos de resíduos cada,
coletadas aleatoriamente na massa de resíduos preparada para o enchimento das caixas. O teor
de umidade médio, obtido em estufa do Laboratório de Geotecnia Ambiental, foi de 58%
(secagem a 60 0C).
168
Para minimizar a falta de controle dos processos de escoamento superficial e permitir
a comparação entre a produção de percolado e os níveis de precipitação ocorridos ao longo da
pesquisa, a produção de líquidos percolados é apresentada na forma de valores totais
acumulados ao final de cada mês, além do volume produzido individualmente em cada mês,
comparados com as precipitações mensais. As vazões também serão apresentadas em medidas
semanais, sempre tomando os valores de precipitação do período como referência.
Com base nos valores mensais de precipitação e liberação de percolado, é feita uma
avaliação do percentual de água precipitada sobre as células que foram convertidas em
percolado e liberado a partir dos sistemas de drenagem. Outra medida efetuada no sentido de
monitorar a duração e intensidade das chuvas foi a instalação de um pluviógrafo dentro da
área do aterro do Jóquei Clube. Dessa forma pôde-se acompanhar a distribuição das chuvas
em cada mês.
Os dados de vazão semanal são convenientemente separados, e apresentados de acordo
com a estação do ano, com valores durante as estações secas e chuvosas. Essa divisão foi feita
considerando que os processos que governam a produção de percolado durante períodos
chuvosos e secos são diferenciados.
Como descrito no capítulo anterior, os sistemas de coleta e remoção de percolado das
células experimentais foram compostos por materiais distintos, naturais (camada de brita
como elemento drenante e camada de areia como filtrante, utilizada na célula experimental
CMA), materiais sintéticos (georrede e geotêxtil, empregados na célula CMG), material
natural (camada de seixo rolado como material drenante e sem filtro para a célula
experimental CSX) e combinação de materiais (pneu como material drenante e geotêxtil OP
15 como filtro para a célula CPN). Nesta parte da pesquisa, procurou-se avaliar o efeito dos
diferentes tipos de sistema de coleta e remoção de percolados na liberação dos líquidos
percolados. A análise também se baseou em comparações dos valores liberados pelas células
e comparação dos valores observados com obtidos teoricamente por modelos existentes para
este fim. Para comparação com valores teóricos foram utilizados o método Suíço e o Método
do Balanço Hídrico, ambos descritos em maiores detalhe no Capitulo 2.
As vazões dos líquidos percolados nas células experimentais foram registradas
periodicamente ao longo de 60 meses para as células CMA e CMG (entre ago/98 a jul/03) e
de 24 meses para as células CSX e CPN (período de ago/01 e jul/03). Inicialmente, foram
verificados os estágios significativos na liberação de percolado. Primeiro, pela compressão e
compactação dos resíduos sólidos; depois, pela produção decomposição da matéria orgânica
acrescida pela infiltração de água através das camadas superficiais das células experimentais.
169
Em relação à liberação das cargas de chorume nas células experimentais e avaliação
do comportamento dos sistemas de impermeabilização e drenagem utilizados, primeiramente,
algumas premissas foram estabelecidas:
a) as células CMA e CMG foram consideradas homogêneas em relação a dimensões e
procedimentos de disposição e compactação dos resíduos aterrados, salvo a maior quantidade
de resíduos dispostos na célula CMA, de 3.800 kg ou 8,6% a mais de resíduos depositados em
comparação com a células CMG, conforme relatado por Junqueira (2002).
b) as células CSX e CPN também foram consideradas homogêneas em relação às dimensões,
procedimentos de disposição e compactação, entretanto tendo claro a quantidade diferenciada
de resíduos disposto em cada uma em virtude dos seus sistemas de drenagem.
c) em todas as células considerou-se que não houve falha no sistema de impermeabilização,
de modo que todo chorume ou percolado produzido foi coletado pelos canais principais de
drenagem e direcionado aos reservatórios ao lado de cada célula.
d) as disposições dos resíduos nas células foram efetuadas no mês de agosto, apesar das
células CMA e CMG terem seu preenchimento realizado dois anos antes das células CSX e
CPN.
A partir dessas premissas, análises relacionadas à produção e liberação de percolados
nas células podem ser feitas indicando que os sistemas de impermeabilização não sofreram
danos graves que possam ter comprometido sua função de proteger as camadas inferiores de
solo.
De acordo com a NBR 13896/1997, o sistema de drenagem dos líquidos percolados
deve obedecer à prescrição de que no seu dimensionamento deve ser evitada a formação de
uma lâmina de líquido percolado superior a 30 cm sobre a camada de impermeabilização. No
caso da presente investigação, piezômetros foram instalados nas células CSX e CPN a fim de
servir como ponto de observação do nível do percolado nas células e ponto de amostras de
chorume para ensaios de laboratório. Para isto, os mesmos sofreram pequenas modificações
em relação aos piezômetros convencionalmente utilizados em Geotecnia, em particular no que
diz respeito ao diâmetro do tubo de PVC, normalmente de 1/2”. Na presente campanha, o
diâmetro do tubo de PVC utilizado foi de 3/4”, tendo este diâmetro sido definido em função
da maior resistência em relação ao aterramento e compactação dos resíduos e da necessidade
de se introduzir pelo tubo um equipamento de coleta de amostras de líquidos percolados. No
restante, o piezômetro segue os padrões convencionais, estando sua seção tipo apresentada em
anexo.
170
Os piezômetros foram instalados junto à saída dos sistemas de drenagem das células
experimentais CPN e CSX e, como já exposto, tiveram a função exclusiva de reconhecimento
do nível de chorume acumulado nos sistemas de drenagem.
Cuidados adicionais foram tomados na instalação de piezômetros nas células, de modo
a se evitar ao máximo qualquer possibilidade de infiltração de águas provenientes das
precipitações. Estas medidas foram basicamente as seguintes: a) colocação de lama
bentonítica ao redor do tubo na sua parte superior a fim de impedir qualquer penetração de
água ou chorume; b) reaterro da camada de cobertura com a mistura solo e bentonita para
evitar o acúmulo de água na mesma.
Com relação à liberação de chorume pela compressão dos resíduos nos sistemas de
coleta e remoção de percolados, as células apresentaram comportamentos diferenciados. As
células CMG, CPN e CSX, cujos sistemas de filtro foram compostos por uma camada de
material sintético geotêxtil OP- 20, OP-15 e sem filtro, respectivamente, os sistemas de
drenagem apresentaram elevados índice de vazios e permitiram rápida liberação dos
percolados produzidos. Desta forma, ao final da compactação dos resíduos e de um mês de
aterramento dos resíduos nas células, cerca de 85 litros de chorume haviam sido liberados da
a célula CMG, 45 litros da célula CPN e 29 litros da célula experimental CSX. Neste período
a precipitação, e conseqüente infiltração, foram nulas, indicando a boa condutividade
hidráulica dos materiais utilizados que permitem o fluxo eficiente dos líquidos efluentes da
massa de resíduos. Contudo, para a célula CMA a liberação de chorume se prolongou por
alguns meses, tendo a primeira carga sido liberada decorridos três meses de degradação ou
aterramento. A Figura 5.2 ilustra comparativamente os volumes de chorume liberados nesta
fase.
A pouca quantidade de chorume coletado na célula experimental CPN, logo após o
aterramento e quando comparada a Célula CMG, pode estar relacionada ao acúmulo de
líquidos no interior dos pneus, apesar dos mesmos possuírem rasgos laterais (conforme
descrito no capitulo anterior) que permitem o fluxo dos líquidos.
A retenção prolongada dos líquidos produzidos pela camada de filtro na célula CMA
certamente se relaciona com a capacidade de campo que apresenta a camada de areia nesta
célula. A liberação do percolado só ocorre quando a capacidade de campo da massa de
171
resíduos e camada de areia é excedida; uma vez atingido este ponto, a liberação de percolado
é imediata.
90
80
Litros de Chorume
70
60
50
40
30
20
10
0
Figura 5.2 – Valores acumulados de chorume liberados após compactação dos resíduos.
172
Tabela 5.2 – Volumes iniciais de percolados oriundos das células experimentais.
CSX CPN CMA CMG
Dia PPT (mm/dia) PPT (mm/dia)
L (L/dia) L (L/dia) L (L/dia) L (L/mês)
1 0,00 19,65 28,8
2 0,00 2,50 1,90
3 0,00 2,5 1,5
4 0,00 1,6 1,6
5 0,00
1,9 0,9
6 0,00
7 0,00 0,6 0,8
8 0,00 0,5 0,6
9 0,00 0,5 0,5
10 0,00 0,4 0,7
11 0,00 0,5 0,5
12 0,00 0,6 0,6
13 0,00 0,4 0,7
14 0,00 0,6 0,6
15 0,00 0,5 0,5
16 0,00 0,00 0,00 85,00
0,7 0,7
17 0,00
18 0,00
19 0,00 1,2 1,2
20 0,00
21 0,00
22 0,00 0,6 0,6
23 0,00
24 0,00
0,6 0,6
25 0,00
26 0,30
27 1,40
0,8 0,8
28 1,30
29 0,00
30 22,50
0,6 0,8
31 9,50
Total 35,00 29,4 45,2 0,00 0,0 85,00
media - 0,95 1,45 2,74
173
área de contribuição individual das células CMA e CMG foi S = 65m2 e para as células
experimentais CPN e CSX de S = 75m2.
As Tabelas 5.2 a 5.4 apresentam a síntese dos resultados obtidos, enquanto que as
Figuras 5.3. a 5.6 ilustram, em termos gráficos, as distribuições das precipitações, dos
líquidos percolados e da relação L/PPT, ao longo do período de monitoramento.
Conforme pode ser observado nessas figuras e tabelas, o bom funcionamento dos
sistemas de drenagem é comprovado principalmente durante os períodos de menor índice de
precipitações, Maio a Setembro, quando apesar de quase não ter ocorrido chuva, com
conseqüente infiltração de água e aumento na produção do percolado, em nenhum momento a
produção de chorume cessou nas células experimentais, apesar da taxa de produção diária ter
atingido índices muito baixos nesses períodos (menores que 01 litro/dia). Esse fato indica que
os sistemas de coleta e remoção de percolados vêm cumprindo satisfatoriamente sua função
de dar vazão ao líquido gerado, mesmo quando o volume gerado é muito pequeno, evitando o
acúmulo de líquidos sobre o fundo das células.
Observou-se também que a relação entre o volume de liquido percolado e as
precipitações ocorridas (L/PPT) apresentou valores diferenciados para as células, onde esta
relação resultante apresenta valores entre 0,7% e 44,2%, ressaltando que os valores máximo
observados (31,7% e 44,2%) foram registrados no mês de maio, período de baixa
precipitações. Salienta-se ainda, que os meses de junho e julho ainda apresentaram valores
elevados de vazões de líquidos percolados quando comparados com as suas respectivas
precipitações ou ausência dessas.
Uma outra característica diferencial entre os sistemas de coleta e remoção de
percolados diz respeito à variação de vazão antes, durante e após períodos de precipitações
muito fortes e extensas. Normalmente a vazão de percolado na célula CMA é sempre maior
do que nas demais células experimentais. Entretanto, durante os períodos chuvosos, quando as
taxas de infiltração aumentam significativamente, os picos de vazão máxima que ocorrem na
célula CSX, CPN e CMG são maiores do que os existentes para a célula CMA.
O material drenante sintético e os pneus não retém os líquidos infiltrados, provocando
uma grande saída de percolado para o reservatório durante as chuvas mais extensas. Com o
cessar das infiltrações, no entanto, a vazão diminui rapidamente, retornando a seus níveis
normais.
174
Tabela 5.3 - Precipitações e valores de líquidos percolados para a célula experimental - CMA
Célula Experimental -CMA
1998 1999 2000
MÊS PPT L L/PPT PPT L L/PPT PPT L L/PPT
(m3) (m3) (%) (m3) (m3) (%) (m3) (m3) (%)
JAN - - - 0,600 0,175 29,2 13,440 1,918 14,3
FEV - - - 3,798 0,070 1,8 11,100 1,189 10,7
MAR - - - 9,960 0,500 5,0 13,260 2,058 15,5
ABR - - - 1,740 0,140 8,0 6,300 0,314 5,0
MAI - - - 0,120 0,053 44,2 0,000 0,155 -
JUN - - - 0,120 0,041 34,1 0,000 0,126 -
JUL - - - 0,000 0,035 - 0,000 0,092 -
AGO 0,0 0,000 - 0,000 0,023 - 2,262 0,036 1,6
SET 0,660 0,000 - 3,426 0,042 1,2 4,134 0,071 1,7
OUT 4,704 0,000 - 8,196 0,092 1,1 9,774 0,166 1,7
NOV 10,584 0,588 5,6 23,340 2,509 10,8 15,660 1,798 11,5
DEZ 2,520 0,242 9,6 15,360 2,635 17,2 12,768 2,214 17,3
Célula Experimental -CMA
2001 2002 2003
MÊS PPT L L/PPT PPT L L/PPT PPT L L/PPT
(m3) (m3) (%) (m3) (m3) (%) (m3) (m3) (%)
JAN 14,274 1,714 12,0 12,960 2,263 17,5 15,582 3,142 20,2
FEV 9,948 1,245 12,5 13,356 2,586 19,4 7,764 2,082 26,8
MAR 13,800 2,194 15,9 10,620 2,032 19,1 10,656 2,056 19,3
ABR 4,968 0,326 6,6 6,012 0,378 6,3 3,372 0,326 9,7
MAI 1,788 0,127 7,1 0,876 0,092 10,5 0,522 0,080 15,2
JUN 0,000 0,119 - 0,000 0,042 - 0,000 0,065 -
JUL 0,324 0,064 19,7 0,504 0,025 4,9 0,000 0,025 -
AGO 2,076 0,047 2,3 0,648 0,027 4,2
SET 2,388 0,065 2,7 3,504 0,057 1,6 - - -
OUT 8,628 0,215 2,5 2,796 0,093 3,3 - - -
NOV 13,632 1,830 13,4 14,376 2,334 16,2 - - -
DEZ 13,704 2,434 17,8 16,728 2,798 16,7 - - -
400 45
LP(mm) 40
350
Precipitação (mm)
PPT (mm)
300 35
Relação L/PPT
30
L/PPT (%)
250
25
200
20
150
15
100 10
50 5
0 0
ago/98
ago/00
ago/01
ago/02
ago/03
Abr/99
Ago/99
abr/00
abr/01
abr/02
abr/03
dez/98
dez/00
dez/01
dez/02
Dez/99
Figura 5.3. Precipitações e valores de líquidos percolados para a célula experimental - CMA
175
Tabela 5.4 – Precipitações e valores de percolados para a célula – CMG (1998 -2003)
Célula Experimental -CMG
1998 1999 2000
MÊS PPT L L/PPT PPT L L/PPT PPT L L/PPT
(m3) (m3) (%) (m3) (m3) (%) (m3) (m3) (%)
JAN - - - 0,600 0,070 11,7 13,440 1,446 10,8
FEV - - - 3,798 0,040 1,1 11,100 0,817 7,4
MAR - - - 9,960 0,447 4,5 13,260 2,097 15,8
ABR - - - 1,740 0,093 5,3 6,300 0,338 5,4
MAI - - - 0,120 0,038 31,7 0,000 0,173 -
JUN - - - 0,120 0,019 15,7 0,000 0,079 -
JUL - - - 0,000 0,029 - 0,000 0,061 -
AGO 0,000 0,085 - 0,000 0,021 - 2,262 0,030 1,3
SET 0,660 0,060 9,1 3,426 0,024 0,7 4,134 0,087 2,1
OUT 4,704 0,067 1,4 8,196 0,129 1,6 9,774 0,154 1,6
NOV 10,584 0,573 5,4 23,340 2,242 9,6 15,660 1,738 11,1
DEZ 2,520 0,270 10,7 15,360 2,367 15,4 12,768 2,387 18,7
Célula Experimental -CMG
2001 2002 2003
MÊS PPT L L/PPT PPT L L/PPT PPT L L/PPT
(m3) (m3) (%) (m3) (m3) (%) (m3) (m3) (%)
JAN 14,274 1,725 12,1 12,960 1,893 14,6 15,582 2,792 17,9
FEV 9,948 0,925 9,3 13,356 2,218 16,6 7,764 1,735 22,3
MAR 13,800 2,123 15,4 10,620 2,032 19,1 10,656 1,956 18,4
ABR 4,968 0,328 6,6 6,012 0,386 6,4 3,372 0,268 7,9
MAI 1,788 0,078 4,4 0,876 0,076 8,7 0,522 0,035 6,7
JUN 0,000 0,054 - 0,000 0,034 - 0,000 0,026 -
JUL 0,324 0,016 4,9 0,504 0,016 3,2 0,000 0,015 -
AGO 2,076 0,032 1,5 0,648 0,024 3,7
SET 2,388 0,032 1,3 3,504 0,041 1,2 - - -
OUT 8,628 0,197 2,3 2,796 0,087 3,1 - - -
NOV 13,632 1,846 13,5 14,376 2,372 16,5 - - -
DEZ 13,704 2,439 17,8 16,728 2,478 14,8 - - -
400 35,00
350 L(mm)
30,00
Precipitação (mm)
PPT (mm)
300 25,00
Relação L/PPT
L/PPT (%)
250
20,00
200
15,00
150
100 10,00
50 5,00
0 0,00
ago/98
ago/00
ago/01
ago/02
ago/03
dez/98
dez/01
Abr/99
Ago/99
abr/00
dez/00
abr/01
abr/02
dez/02
abr/03
Dez/99
Figura 5.4. Precipitações e valores de líquidos percolados para a célula experimental - CMG
176
Tabela 5.5 – Precipitações e valores de percolados para a célula – CSX (2001 -2003)
2001 2002 2003
MÊS PPT L L/PPT PPT L L/PPT PPT L L/PPT
(m3) (m3) (%) (m3) (m3) (%) (m3) (m3) (%)
JAN 12,960 2,131 13,2 15,58 2,131 13,1
FEV 13,356 2,467 14,8 7,76 2,467 22,7
MAR 10,620 1,997 15,0 10,65 1,997 15,0
ABR 6,012 0,396 5,3 3,37 0,396 9,6
MAI 0,876 0,096 8,8 0,52 0,096 15,9
JUN 0,000 0,053 - 0,00 0,053 -
JUL 0,504 0,027 4,3 0,00 0,027 -
AGO 2,076 0,029 1,1 0,648 0,031 3,8 - - -
SET 2,388 0,026 0,9 3,504 0,061 1,4 - - -
OUT 8,628 0,186 1,7 2,796 0,147 4,2 - - -
NOV 13,632 1,356 8,0 14,376 1,903 10,6 - - -
DEZ 13,704 2,282 13,3 16,728 2,534 12,1 - - -
400 35
350 L(mm) 30
PPT (mm)
Precipitação (mm)
300
Relação L/PPT 25
L/PPT (%)
250
20
200
15
150
10
100
50 5
0 0
m-02
m-02
m-03
m-03
a-01
s-01
o-01
d-01
f-02
a-02
a-02
s-02
o-02
d-02
f-03
a-03
n-01
j-02
j-02
j-02
n-02
j-03
j-03
j-03
Figura 5.5. Precipitações e valores de líquidos percolados para a célula experimental – CSX
Tabela 5.6 – Precipitações e valores de percolados para a célula – CPN (2001 -2003)
2001 2002 2003
MÊS PPT L L/PPT PPT L L/PPT PPT L L/PPT
(m3) (m3) (%) (m3) (m3) (%) (m3) (m3) (%)
JAN 12,960 2,144 16,5 15,58 2,878 18,5
FEV 13,356 2,484 18,6 7,76 1,977 25,5
MAR 10,620 1,926 18,1 10,65 2,087 19,6
ABR 6,012 0,485 8,1 3,37 0,356 10,6
MAI 0,876 0,083 9,5 0,52 0,097 18,5
JUN 0,000 0,033 - 0,00 0,053 -
JUL 0,504 0,018 3,5 0,00 0,023 -
AGO 2,076 0,045 2,1 0,648 0,021 3,3 - - -
SET 2,388 0,024 1,0 3,504 0,059 1,7 - - -
OUT 8,628 0,146 1,7 2,796 0,155 5,5 - - -
NOV 13,632 1,385 10,2 14,376 1,787 12,4 - - -
DEZ 13,704 2,288 16,7 16,728 2,534 12,1 - - -
177
400 35
350 L(mm) 30
Precipitação (mm)
PPT (mm)
300
Relação L/PPT 25
L/PPT (%)
250
20
200
15
150
10
100
50 5
0 0
m-02
m-02
m-03
m-03
a-01
s-01
o-01
d-01
f-02
a-02
a-02
s-02
o-02
d-02
f-03
a-03
j-02
j-02
j-02
j-03
j-03
j-03
n-01
n-02
Figura 5.6. Precipitações e valores de líquidos percolados para a célula experimental - CPN
60 60
Precipitações (mm)
50 50
Litros de chorume
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
12 a 14 de set 27 a 04 out 4 a 11out
Figura 5.7 - Variação de vazão durante período chuvoso em função do tipo de dreno, células
CMA e CMG (set e out/99).
178
evaporação e, principalmente, o escoamento superficial. Comparando-se, porém, os índices de
infiltração entre períodos relativamente longos, mensais, por exemplo, normalmente o período
com maior ocorrência de chuvas também apresenta as maiores taxas de infiltração.
1000 70
60
Precipitação (mm)
Litros de chorume
50
100
40
30
10
20
10
1 0
/ 99 / 99 99 / 99 99
ar ar ar
/
ar r/
Ab
1M 7M 4M 1M 7
a1 a1 a2 a3 a0
03 11 17 24 01
SEMANA
Figura 5.8 – Variação de vazão durante período chuvoso em função da interferência do tipo
de dreno (Mar e Abr/99).
18
3 17
16
Líquidos Percolados (m3)
2,5
15
PPT(m3)
2 14
1,5 13
12
1
11
0,5 10
0
NOV/01 DEZ/01 JAN/02 FEV/02 MAR/02
Data
Figura 5.9 - Variação de vazão durante período chuvoso para as células CSX e CPN..
179
Durante a pesquisa ficou evidenciado que os sistemas de drenagem com elevados
volumes de vazios permitem um rápido incremento de vazão nestas células, principalmente
durante os períodos chuvosos, quando ocorrem as maiores taxas de infiltração de água. Para a
célula CMA, durante o mesmo período, a camada de areia atenua o incremento na vazão. As
figuras e tabelas mostram também que após o término ou diminuição das chuvas, estas células
(CMG, CPN e CSX) liberam o percolado acumulado com maior rapidez, proporcionando uma
queda nas vazões, com variações mais elevadas entre os picos mínimos e máximos de vazão.
A camada de areia da célula CMA atenua os picos de vazão, não obstante um incremento de
seus valores também seja observado.
Para que o fluxo de percolado se torne mais regular na célula CMA, é possível que
ocorra uma maior elevação da coluna de líquidos sobre o fundo da célula, quando comparado
com as demais células experimentais. Tal fato facilita a precipitação de partículas sólidas em
suspensão e o crescimento de microrganismos sobre a parte superior da camada de areia, o
que pode comprometer sua eficiência e capacidade de drenagem pelos processos de
colmatação física, química e biológica.
Um outro fato bastante importante observado durante o monitoramento das células
experimentais relaciona-se ao aumento gradativo da relação entre a vazão de líquidos
percolados e as precipitações ocorridas com o tempo. O valor da relação entre os líquidos
percolados e a precipitação (L/PPT) é objeto de trabalhos de diversos investigadores, sendo,
entretanto, bastante aceita as citações e levantamentos efetuados por EHRIG (1983), onde
variações entre 25 e 50% para resíduos mal compactados e entre 15 e 25 % para resíduos bem
compactados foram observadas.
Todas as células experimentais apresentaram variações gradativas da relação L/PPT ao
longo do monitoramento da pesquisa. As Figuras 5.10 a 5.13 mostram alguns detalhes dessas
variações. Conforme pode ser observado, a relação L/PPT para períodos mensais apresenta
valores entre 0,7 e 44,2%, resultando que os valores máximos observados (44,2% e 34,3%),
foram registrados no mês de maio e junho/99 para a célula CMA. Os máximos valores
observados para as células CMG, CSX e CPN foram 31,7%, 15,6% e 25,5%, respectivamente.
Observa-se ainda, um valor médio anual para a relação L/PPT entre 8,3 e 15,5%.
Estes valores quando comparados a dados reportados na literatura (Tabela 5.7) levam
a crer que os resíduos das células experimentais foram bem compactados.
180
25
RELAÇÃO P/PPT 1998
20
1999
15 2000
2001
10 2002
2003
5
NOV
DEZ
JAN
FEV
Figura 5.10 - Relação entre o liquido percolado e as precipitações ocorridas – Célula CMG
10
9
8
RELAÇÃO P/PPT
7 1998
6 1999
2000
5
2001
4 Inicio do 2002
aterramento
3
2
1
0
AGO SET
Figura 5.11 - Relação entre os líquidos percolados e a precipitação ocorrida nos meses de
menor pluviosidade – Célula CMG
25
RELAÇÃO P/PPT
20
15
10
5
0
CMG
CMA
CSX
CPN
Figura 5.12 - Relação entre os líquidos percolados e a precipitação ocorrida nas células nos
meses de maior pluviosidade (2002).
181
Tabela 5.7 – Produção dos líquidos percolados – valores medidos e faixas observados e
reportados na literatura
DADOS DA LITERATURA DADOS OBSERVADOS
100 25,0
90
80 20,0
70
% (L/PPT)
60 15,0
m3
50
40 10,0
30
20 5,0
10
0 0,0
1999 2000 2001 2002 2003 2004
182
O aumento gradativo da relação entre a vazão de líquidos percolados e as
precipitações ocorridas com o tempo podem estar relacionados a uma diminuição significativa
na capacidade de campo das células, em virtude da degradação da matéria orgânica e/ou uma
maior infiltração das precipitações ocorridas, devido a um menor escoamento superficial em
decorrência dos recalques ocorridos na célula. Conseqüentemente as respostas de liberação
dos líquidos percolados em relação às infiltrações ficam mais evidenciadas. Tomando-se
como referencia as células CMG e CPN e ainda os meses de fevereiro nos anos de 1998 a
2003, pode-se verificar que houve um aumento significativo desta relação, onde inicialmente
apresentava uma relação de 1,1 % para a célula CMG e 14,7% para a célula CPN e ao final
deste período uma relação de 22,3% e 22,7% para estas células, respectivamente.
Nos meses de maiores precipitações a célula CSX foi a que apresentou a menor
relação entre o percolado gerado e as precipitações ocorridas.
A Figura 5.14 mostra o volume de líquidos percolados para as células experimentais
nos meses tendo como base o ano de 2002. Cabe salientar que nesta época as células CMA e
CMG já possuíam quatro anos de aterramento e degradação, enquanto as células CSX e CPN
um ano.
3
Volume de percolado (m3)
183
longo do tempo, contudo, esse processo certamente criará uma camada cada vez maior,
composta por partículas precipitadas a partir do percolado e partículas orgânicas.
Durante chuvas muito intensas, o elevado volume infiltrado propiciou a lavagem da
camada de areia e do geotêxtil, dissolvendo as partículas sedimentadas e carreando-as para
fora das células. Esse processo é benéfico, por impedir o acúmulo de partículas sobre e no
interior dos drenos, causando a colmatação que prejudica sua função como material drenante.
Deve-se ressaltar, porém, que o problema da colmatação parece ser muito mais grave
para a camada de areia e seixo, dada a maior área disponível para a sedimentação e o
desenvolvimento de microrganismos, e ao maior tempo de contato entre o percolado e a
camada de areia. Outro ponto muito importante diz respeito aos efeitos negativos causados
pela infiltração da água para o interior das massas de resíduos. A entrada excessiva de água
para o interior do lixo provoca alterações no ambiente interno das massas, que afetam
diretamente o desenvolvimento das bactérias anaeróbias, diminuindo a velocidade de
degradação e as taxas de recalques. Além disso, a entrada exagerada das águas das chuvas
origina uma grande quantidade de percolado, podendo vir a sobrecarregar os sistema de
drenagem e tratamento do aterro. Deve ser acentuado que, devido ao potencial contaminador
do chorume, todos os esforços em um aterro devem ser voltados para que a sua produção seja
mantida nos menores níveis possíveis.
Durante as atividades de pesquisa ficou evidenciado um incremento significativo na
produção de percolado durante as estações chuvosas, principalmente entre Novembro e
Fevereiro, seguido por um período de baixa produção durante as épocas secas. Ao longo dos
primeiros 24 meses de observações, o volume total de percolado produzido para a célula
CMA foi de 12.997 litros, enquanto para a célula CMG foram produzidos 11.583 litros. Neste
mesmo intervalo de tempo, o volume total de percolado produzido para a célula CPN foi de
23.082 litros, enquanto para a célula CSX foram produzidos 22.889 litros. As variações nas
taxas de produção de percolado durante as estações seca e chuvosa, ficam ainda mais claras
quando é feita uma comparação da produção mensal para as células.
As Figuras 5.15 a 5.17 mostram as curvas de geração de percolados e da precipitação
medidas nas células, durante o monitoramento da pesquisa, entre agosto/98 a jun/03 para as
células CMA e CMG e entre Ago/01 a jun/03 para as células CSX e CPN. As alturas totais de
chuva, medidas em milímetros, durante este período, foram 802,72 para célula CMA, 737,65
para a célula CMG, 307,45 para a célula CSX. As curvas apresentam uma relação próxima,
evidenciando uma estreita relação entre a produção de percolado e a estação do ano, havendo
uma coincidência entre os picos mensais de produção com os picos mensais de precipitação.
184
Observa-se, entretanto, que os picos da precipitação, para a célula CSX, não se refletem na
curva de geração do percolado, a qual se apresenta bem mais suave que as outras células.
80
Altura (mm)
60
L(mm) CMA
40 PPT (mmx5)
20
0
ago/98
mar/99
Out/99
mai/00
dez/00
jul/01
fev/02
set/02
abr/03
Data
Figura 5.15– Alturas de percolado e precipitação medidas para a célula experimental CMA.
90
80
70 L(mm)
Altura (mm)
60 PPT (mmx5)
50
40
30
20
10
0
ago/98
jan/99
Jun/99
Nov/99
abr/00
set/00
fev/01
jul/01
dez/01
mai/02
out/02
mar/03
Data
Figura 5.16 – Alturas de percolado e precipitação medidos para a célula experimental CMG.
Este amortecimento pode ter como causa a retenção temporária, na massa dos
resíduos, da água infiltrada e/ou a infiltração não proporcional durante os picos de
precipitação.
185
90
80
70 L (mm)CSX
Altura (mm)
60 L(mm) CPN
50 PPT (mmx5)
40
30
20
10
0
ou 1
de 1
/0
fe 1
t/0
02
0
o
ju 2
z/
ag 2
ag
r/ 0
ou 2
v/
de 2
0
fe 2
n/
t/0
ab 3
o/
ab
ju 3
0
03
z/
r/ 0
v/
n/
Figura 5.17 – Alturas de percolados e precipitação medidos para as células CSX e CPN.
As Figuras 5.15 e 5.16 mostram com clareza que a estação chuvosa de 1998/1999
registrou índices de precipitação bem menores do que o mesmo período de 1999/2000.
Enquanto foram registrados 459 mm de chuvas entre Outubro de 1998 e Março de 1999, para
o mesmo período entre 1999 e 2000 foram medidos 1414,6 mm. Essa diferença resultou em
uma maior quantidade de água infiltrada e proporcionou uma grande variação no volume de
percolado produzido. Salienta-se mais uma vez que a relação LP/PPT apresentou valores
crescentes com os anos de aterramento. A Figura 5.18 mostra um exemplo claro desta
situação.
400
350
LP(mm) PPT (mm)
300
Altura (mm)
250
200
150
100
50
0
Dez/99
ago/98
dez/98
Ago/99
ago/00
dez/00
ago/01
dez/01
ago/02
dez/02
ago/03
Abr/99
abr/00
abr/01
abr/02
abr/03
Figura 5.18 – Altura em milímetros das precipitações ocorridas e os líquidos percolados para
a célula CMA
186
desempenho satisfatório quanto à liberação dos líquidos percolados, evidenciando que não
houve uma maior elevação da coluna de líquidos sobre o fundo da célula. Salienta-se ainda
que tais verificações não puderam ser efetuadas nas células CMA e CMG, em virtude das
mesmas não possuírem estes dispositivos.
Foram simuladas, através do método Suíço e do método do Balanço Hídrico (Tabela
5.9), as gerações de líquidos percolados nas células. Para tais simulações foram adotados
dados climatológicos médios mensais para o Distrito Federal fornecidos pelo INMET e
CAESB, conforme planilhas em anexos.
O método suíço é um método bastante simples que utiliza coeficientes empíricos.
Através deste método, pode-se estimar a vazão do líquido percolado nas células experimentais
por meio da expressão fornecida por Orth (1981). Para a aplicação do método, adotou-se o
valor de 0,25 para o coeficiente k. Esse coeficiente depende do grau de compactação dos
resíduos aterrados, e apresenta valores de 0,15 a 0,25 para aterros fortemente compactados
(peso específico dos resíduos em torno de 0,7 t/m) e entre 0,25 a 0,50 para aterros fracamente
compactados.
O método do balanço hídrico de aterros sanitários é mais elaborado que o anterior. Tal
método pode ser empregado quando se dispõe dos dados necessários e quando o tamanho do
aterro justificar (grandes aterros em centros urbanos). Os parâmetros meteorológicos
utilizados devem ser as médias aritméticas mensais do maior numero de anos possíveis. Tais
parâmetros e outros dados usados neste método são apresentados nas Tabela 2.9 a 2.12,
capitulo 2 deste trabalho e Tabela 5.9. Para a quantidade de água que pode ser retida no solo e
que influencia no fluxo de percolado utilizou-se como coeficiente de escoamento superficial
(C’), para solos argilosos com declividade entre 0 e 2%, os valores de 0,13 e 0,17 para a
estação seca e estação úmida, respectivamente.
As Figuras 5.19 e 5.20 apresentam os resultados obtidos para as distintas simulações
descritas. Nos gráficos são comparados os valores calculados com os valores observados.
Indicam-se ainda os valores de precipitações e evaporação para o período de monitoramento.
Os resultados obtidos nas células experimentais foram menores que os calculados pelo
método Suíço, o qual é geralmente utilizado em projetos de drenagem e tratamento de
percolado. Mesmo levando em consideração que a evapotranspiração utilizada na simulação
do período em estudo foi obtida da média para o DF, podendo ser menor que a que se
apresenta na área do aterro, e admitindo uma margem de erro entre a quantidade de percolado
medido e gerado estão longe de representar a realidade do volume de percolado coletado
neste período.
187
90
80
altura (mm) 70
60 M. Balanço Hídrico
50 M. Suiço
40
30
20
10
0
JAN FEV
MAR ABR
MAI JUN
JUL AGO
SET OUT
NOV DEZ
Figura 5.19 -Simulação da geração de percolado método Suíço e Balanço Hídrico – mês a
mês
250
225
200
175
150
(mm)
125
100
75
50
25
0
JAN MAR MAI JUL SET NOV
Meses
A Figura 5.19 mostra os resultados da Tabelas 5.9. Observa-se que a altura total
calculada, durante 1 ano, pelo Método do Balanço Hídrico, é de 219,37 mm, enquanto que
pelo método suíço é de 335,2 mm. Verificou-se que o volume calculado pelo método suíço é
uma vez e meia do calculado pelo método do Balanço Hídrico.
Outro fato de relevância é que, pelo Método Suíço, a geração de percolado é distribuída
mais uniformemente ao longo do ano, enquanto que pelo Método do Balanço Hídrico ela se
concentra nos meses de maior precipitações, novembro a março.
A Tabela 5.8 apresenta um resumo dos dados medidos e calculados, para o período
estudado (agosto/99 a agosto/2002). A precipitação medida na área do aterro do Jóquei variou
de 72,2% a 96,1% da precipitação média dos últimos vinte anos, por conta do período
irregular das chuvas. A geração de percolado, por sua vez, foi cerca de 88,7% menor que a
188
calculada pelo método do balanço Hídrico e 57,97% vezes menor que a calculada pelo
Método Suíço, o que vem sendo utilizado no projeto de drenos do aterro do Jóquei Clube.
A análise da Figura 5.20 permite verificar que os volumes de líquidos percolados,
calculados pelo método Suíço são superiores aos valores observados em praticamente todos
os meses e que os volumes de percolados calculado pelo método do Balanço Hídrico, são
superiores aos valores observados nos meses de maiores precipitações. Apesar do caráter
geral dos métodos e das hipóteses simplificadoras assumidas, principalmente da utilização do
método do balanço hídrico para pequenas áreas, os resultados acabam sendo um importante
indicativo da geração dos líquidos percolados.
Tabela 5.8 – Precipitações, valores de percolados e L/PPT para as células no ano de 2002
CMA CMG CSX CPN
PPT
MÊS
(mm) L L/PPT L L/PPT L L/PPT L L/PPT
(mm) (%) (mm) (%) (mm) (%) (mm) (%)
JAN 216 37,72 17,5 31,56 14,6 28,41 13,2 35,73 16,5
FEV 223 43,10 19,4 36,97 16,6 32,89 14,8 41,41 18,6
MAR 177 33,87 19,1 33,87 19,1 26,62 15,0 32,10 18,1
ABR 100 6,30 6,3 6,43 6,4 5,28 5,3 8,09 8,1
MAI 15 1,54 10,5 1,27 8,7 1,28 8,8 1,39 9,5
JUN 0 0,69 - 0,57 - 0,70 - 0,56 -
JUL 8 0,41 4,9 0,27 3,2 0,36 4,3 0,30 3,5
AGO 11 0,46 4,2 0,40 3,7 0,41 3,8 0,36 3,3
SET 58 0,94 1,6 0,68 1,2 0,82 1,4 0,98 1,7
OUT 47 1,55 3,3 1,45 3,1 1,97 4,2 2,58 5,5
NOV 240 38,90 16,2 39,53 16,5 25,37 10,6 29,79 12,4
DEZ 279 46,64 16,7 41,30 14,8 33,79 12,1 37,79 13,6
Total 1374 212,12 - 194,3 - 157,9 - 191,08 -
189
Tabela 5.9 - Simulação da geração de percolado pelo Método Suíço e do Balanço Hídrico para as Células Experimentais.
Parâmetro MESES
(mm) JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
EP 124,4 105,40 116,80 106,00 103,60 100,70 11,90 135,4 141,6 149,6 127,60 111,0
P 204,0 225,3 156,1 109,1 29,20 7,90 17,10 12,1 44,5 101,7 201,6 232,2
C´ 0,17 0,17 0,17 0,17 0,13 0,13 0,13 0,13 0,13 0,17 0,17 0,17
ES 35,09 38,75 26,85 18,77 3,85 1,04 2,26 1,60 5,87 17,49 34,68 39,94
I 168,9 186,6 129,2 90,33 25,35 6,86 14,84 10,50 38,63 17,49 34,68 39,94
I-EP 44,51 81,15 12,45 -15,67 -78,25 -93,84 -97,06 -124,90 -103,27 -65,39 39,32 81,26
AS 150,0 150,0 150,0 134,33 56,08 0 0 0 0 0 39,32 120,58
ER 124,40 105,40 116,80 106,33 103,60 56,08 0 0 0 0 127,60 111,00
PER 44,51 81,15 12,45 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 81,26
Taxa per. (l/s.m2)
1,72E-05 3,13E-05 4,80E-06 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 3,14E-05
Célula 65 m2
1,1E-03 2,03E-03 3,12E-04 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 2,04E-03
Método Suíço (L/s)
Célula 65m2
1,05E-04 1,16E-04 8,04E-05 5,62E-05 1,50E-05 4,07E-06 8,81E-06 6,23E-06 2,29E-05 5,24E-05 1,04E-04 1,20E-04
190
Tabela 5.10 – Resumo dos dados de geração de percolados, medidos e calculados e da
precipitação média.
Percolado (mm) Precipitação (mm)
Célula Medido Balanço Hídrico Método Suíço Medida Média- 20 anos
CMA 212,12
CMG 194,3
219,37 335,2 1374 1481,4
CSX 157,9
CPN 191,08
191
Nesta parte do estudo procurou-se avaliar a utilização destes materiais alternativos
como elementos de sistema de drenagem de percolados. As avaliações basearam-se em
observações visuais, estudo quanti-qualitativo dos líquidos gerados e temperaturas
desenvolvidas na massa de resíduos e drenos.
As caixas foram preenchidas em meados do mês de Dezembro de 2000, em plena
estação chuvosa, onde predominavam baixas temperaturas ambientais e baixos índices de
evaporações. As aspersões de água no sistema tiveram início 75 dias após o enchimento das
caixas. Essa aspersão foi realizada semanalmente durante 2 anos, sempre em duas etapas, no
início da manhã e início da tarde totalizando 10 litros semanais para os períodos de maior
índice pluviométrico (estação chuvosa) e de 2,5 semanais para a estação de seca. As taxas de
produção de percolado foram medidas pela observação direta nos reservatórios de acumulo
de chorume, associando-se às informações aos volumes de água por aspersão. Os percolados
gerados nas caixas foram coletados e medidos semanalmente e antes do início do processo de
aspersão procedeu-se a introdução de quatro litros de percolados provenientes do Aterro do
Jóquei Clube em cada uma das caixas. Este procedimento procurou introduzir no sistema
bactérias necessárias para induzir a partida da degradação dos resíduos.
Iniciado o processo de aspersão, setenta e cinco dias após o enchimento das caixas,
amostras de percolados foram coletadas para análises químicas, sendo que as amostragens
eram realizadas antes das aspersões.
Em relação à geração dos líquidos percolados, no presente estudo, a produção esteve
relacionada basicamente a dois fatores. Primeiramente, procurou-se quantificar o volume de
chorume gerado pela degradação dos resíduos sem que houvesse alimentação de água nas
caixas armazenadoras, isto é, inicialmente nos primeiros 75 dias de monitoramento foi
observada a quantidade de chorume gerada pela degradação da massa de resíduos e em função
dos seus sistemas específicos de drenagem. A partir do 75o dia, data onde a produção de
chorume por degradação da massa de resíduos se estabilizou, iniciou-se o processo de
aspersão de água nas caixas, que se estendeu ate o término da pesquisa.
A maior parte da geração dos efluentes neste período foi causada pela introdução de
água, lixiviando os componentes na massa de resíduos e drenos. A produção do chorume e
dos efluentes são mostrados nas figuras 5.21 a 5.23 e seus dados são apresentados no
apêndice B. Desta forma, ao final do período sem aspersão cerca de 32,7 litros de chorume
haviam sido liberados pela caixa C2 e nenhum pela caixa C1. Nesse período as aspersões e
conseqüente infiltração foram nulas, indicando a boa condutividade hidráulica dos materiais
utilizados na Caixa C2, que permite o fluxo eficiente dos líquidos expulsos a partir da massa
192
de resíduos. Contudo, da mesma forma que ocorreu na célula experimental CMA, para a caixa
C1 a liberação de chorume se prolongou por alguns meses, sendo a primeira carga liberada
decorrido dois meses e meio de degradação. Em virtude da não existência de infiltrações, a
camada de entulho da Caixa C1 reteve os líquidos provenientes da massa dos resíduos neste
período, em oposição ao sistema de coleta e remoção de percolado da caixa C2 que liberava
prontamente o chorume produzido. Este comportamento é evidenciado na Tabela 5.11 e
Figura 5.22, que ilustram a produção acumulada de chorume no inicio da pesquisa para as
duas caixas.
350 350
300 300
Percolado Acumulado (L)
200 200
150 150
100 100
50 50
0 0
0 35 70 105 140 175 210 245 280 315 350
Dias
Início da Aspersão
14 14
C1 C2 Aspersao
12 12
10 10
Percolado (L)
Aspersao (L)
8 8
6 6
4 4
2 2
0 0
0 7 14 21 28 35 42 49 56 63 70 77 84 91
Dias
193
Na caixa C2, cujo sistema de coleta e remoção de percolados era constituído por uma
camada de pneu picotado e revestido com uma camada de geotêxtil como elemento de filtro, a
quantidade de chorume produzida nos primeiros 2 meses foi bastante significativa quando
comparada à Caixa C1, chegando a 30,2 litros, conforme já mostrado na Figura 5.21. Neste
período observou-se um crescimento relativo na liberação do chorume após 7 dias de
degradação dos resíduos e com uma tendência de estabilização, com menos de 1 litro por
semana, a partir de meados do terceiro mês, onde teve o inicio a aspersão de água.
50 30
Aspersao AC C1 C2
Percolado Acumulado (L)
25
20
30
15
20
10
10
5
0 0
0 7 14 21 28 35 42 49 56 63 70 77 84
Dias
Início da aspersões
194
As figuras e as tabela permitem as seguintes observações:
A perda de líquidos percolados pode ser causada pela evaporação nas caixas em
virtude de sua instalação a céu aberto e da elevação de temperatura em função da
decomposição aeróbia, pois o afastamento das curvas ao longo da ordenada se verificam
predominantemente nos meses de menor índices pluviométricos e maiores temperaturas.
Durante o período de seca houve baixa aspersão e se observaram pouco efluentes (Figura
5.24), e a partir do segundo inverno as duas curvas são síncronas. A água percolada, na
estação seca, atinge em média 70% da aspersão.
8 5
7
C1 C2 Aspersão
6
Percolado (L)
Aspersão (L)
5
4 2,5
3
2
1
0 0
133 147 161 175 189 203 217 231 245
Data
Figura 5.24 - Valores de volumes de líquidos percolados para o primeiro período de seca nas
caixas C1 e C2.
195
É de se destacar que o volume de água infiltrada no segundo período de maiores
pluviosidade e baixa temperaturas atingiu valores de 70%, fato para o qual não se encontra
resposta, a não ser que, com a redução da decomposição aeróbia, não foram atingidas
temperaturas necessárias à evaporação.
O gráfico da Figura 5.26 apresenta o comportamento dos sistemas de drenagem para o
primeiro período de monitoramento onde houve aspersão de água nas caixas armazenadoras.
Os volumes de água inseridos nos sistemas não foram completamente drenados, tendo a caixa
C1 apresentado uma baixa relação entre o volume inserido e o liberado pelo sistema, enquanto
a caixa C2 liberou praticamente todo volume inserido. O volume de água de aspersão neste
período foi de 70 litros enquanto o volume de percolado acumulado foi de 54,1 litros para a
caixa C1 e 74,2 litros para a caixa C2. Desta forma a caixa C1 apresentou uma relação entre
os líquidos afluentes e efluentes numa faixa de 6,3 a 54,1%, enquanto a Caixa C2 uma faixa
de 89 a 114%. Os grandes valores extremos de defasagem estão associados à capacidade de
campo dos resíduos e dos sistemas de drenagem e ainda com a proximidade da estação de
elevadas temperaturas (maiores evaporações).
13
12
10
11
Percolado (L)
10 Aspersão (L)
9
5
8
7
6
C1 C2 Aspersão
5 0
84 91 98 105 112 119 126
Data
Figura 5.25 - Valores dos volumes de líquidos percolados para o primeiro período de aspersão
nas caixas C1 e C2.
Cabe salientar que, em ambas caixas, depois de atingida a capacidade de campo dos
resíduos e dos sistemas de drenagem, houve um fluxo permanente de chorume, as vazões
foram menores para as estações de elevadas temperaturas e a relação entre os líquidos
percolados e as aspersões sofreram aumento gradativo com a decomposição dos resíduos.
196
200
350 350
300 300
Percolado Acumulado (L)
Aspersao AC C2
250 250
200 200
150 150
100 100
50 50
0 0
0 35 70 105 140 175 210 245 280 315 350
Dias
197
No segundo ano de monitoramento, apesar da diminuição da porosidade (acomodação
maior dos resíduos), aumentou o volume de líquidos drenados em relação às aspersões.
Nestes sistemas-pilotos ou de ensaio, pôde-se acompanhar que a somatória dos líquidos
percolados (efluentes) atingiu uma faixa de 75 a 92 % do total dos líquidos introduzidos
(afluentes), mas não foi observado um desenvolvimento homogêneo para as caixas C1 e C2,
notando-se declividades e inflexões diferentes e inconstantes e também cruzamento de curvas
o que é indicativo de velocidade de percolação diferenciada e/ou volumes de efluentes
evaporados diversos.
350 350
300 300
Percolado Acumulado (L)
200 200
150 150
100 100
50 50
0 0
0 35 70 105 140 175 210 245 280 315 350
Dias
5.4 RECALQUES
198
foram efetuadas medições no período de ago/99 a jul/02 para as células CMA e CMG, e
durante 24 meses de observações para as células CPN e CSX. Para efeito deste estudo foram
utilizadas as leituras realizadas até 17/04/2003, totalizando um período de cerca de 2 anos de
observação para as células CPN e CSX.
Conforme mencionado no Capitulo 4, as análises que se seguem não tiveram o
aprofundamento adequado, devendo ser encaradas como uma contribuição inicial ao tema,
direcionadas à realidade brasileira e principalmente aos tipos de sistema de coleta e remoção
de percolados utilizados.
Para o enchimento das células CMA e CMG foram utilizados resíduos provenientes
das cidades satélites do Gama e Sobradinho, em agosto/1998. Nestas células os resíduos
foram despejados diretamente dos caminhões para dentro das células, sendo que entre as
várias etapas de enchimento, os resíduos foram compactados pela passagem constante de um
trator de esteira de 6 toneladas, atingindo-se a massa específica média de 0,7 t/m3 e uma
espessura final de aproximadamente 2,0 m de resíduos na célula CMA e 1,9 m na célula
CMG. Os volumes de resíduos compactados nestas células foram de 47.880 kg para a célula
CMA e 44.080 kg para a célula CMG.
As células CSX e CPN foram preenchidas, em agosto de 2001, com a utilização de
resíduos coletados diariamente do Parkway e das cidades satélites do Gama e Samambaia.
Nestas células, o lançamento e espalhamento dos resíduos foram efetuados pela passagem
constante de um trator de esteira de 6 toneladas, atingindo-se a massa específica média de 0,7
t/m3 e uma espessura final de aproximadamente 2,8 m de resíduos nas células. Os volumes de
resíduos compactados nestas células podem ser considerados iguais e de 70 m3.
A magnitude dos recalques medidos variou bastante, apresentando valores elevados.
Estes altos valores são conseqüência principalmente da alta atividade microbiológica, típica
de estado inicial de decomposição dos resíduos. A deformação dos resíduos é fortemente
influenciada pelas quantidades de matéria orgânica presente nos resíduos, espessuras das
camadas, infiltração e drenagem dos líquidos percolados.
Uma análise geral indica a existência de um padrão diferenciado de comportamento
para as células. Dessa forma, são observadas taxas de recalque mais elevadas no início da
pesquisa, decorridos 3 meses de aterramento das células, fato certamente associado à
existência de recalques originados a partir do ajuste das massas dos resíduos. Nesse período,
as taxas de recalques para a placa superficial da célula CSX e CPN foram maiores do que para
as mesmas placas das células CMA e CMG, valores influenciados pela maior quantidade de
resíduos dispostos nas primeiras, com cerca de 70 cm a mais na altura dos resíduos. Nos
199
meses de maiores precipitações pluviométricas, a partir de Dezembro até o final do mês de
Março, uma redução na inclinação das curvas aponta um decréscimo nas taxas de recalques
para as células CMA e CMG (Fig. 5.29) e um aumento para as células CSX e CPN, sendo que
estas variações foram menos acentuadas para as placas das duas últimas células.
Para as células CMA e CMG os recalques foram medidos mensalmente durante 36
meses de observações a partir de placas de recalque instaladas na região central de cada
célula, uma na superfície, denominada “PRS” (Placa de Recalque na Superfície) e uma no
centro da camada de lixo denominada “PRC” (Placa de Recalque no Centro). Conforme
descrito por Junqueira (2000), em virtude de questões operacionais a instalação das placas de
recalque nestas células ocorreu somente uma semana após o seu preenchimento, com isso, os
recalques ocorridos na primeira semana não foram medidos. As Figuras 5.29 e 5.30 mostram
os resultados obtidos nos primeiros dois anos de monitoramento para as células.
Ao final de praticamente 24 meses de observação, os recalques na célula CMA foram
de 21,3 cm para a placa superficial e de 11,6 cm para a placa central. Considerando a altura
máxima de resíduos de 2 metros e desconsiderando as acomodações ocorridas na primeira
semana, os recalques nos primeiros 24 meses correspondem a cerca de 10,7 % da altura
inicial. Esse valor é relativamente alto levando-se em conta a pouca idade das células, uma
vez que os recalques máximos previstos ao final da vida útil de um aterro são da ordem de
30% a 50% da altura inicial da camada de resíduos. Porém, o decréscimo das taxas de
recalques aponta para um avanço cada vez mais lento dos recalques.
Data
mar/99
mar/00
ago/98
nov/98
ago/99
nov/99
mai/99
mai/00
dez/98
dez/99
out/98
out/99
abr/99
abr/00
jun/99
jan/99
jan/00
set/98
fev/99
set/99
fev/00
jul/99
jul/00
0
2,5
5
Recalque (cm)
7,5
10
12,5
15 CMA CMG
17,5
20
22,5
Figura 5.29 – Recalques ocorridos nas células CMA e CMG – Recalque na superfície (PRS)
200
Decorridos os dois primeiros anos de monitoramento, os recalques ocorridos na célula
CMG apresentavam valores da ordem 8,7 % (16,5 cm) da espessura inicial dos resíduos
dispostos nesta célula. Na placa central os recalques medidos alcançaram 9,5 cm, valores
bastante semelhantes aos obtidos para a célula CMA, refletindo um estado de consolidação
mais elevado dos materiais em profundidade. De modo análogo à célula CMA, as taxas de
recalques decresceram com o tempo, o que parece indicar um período bem maior até que o
máximo de recalque seja atingido para a célula CMG.
Uma análise geral das figuras indica a existência de um padrão de comportamento dos
recalques similar para as duas células e para as placas de recalque.
Data
mar/99
mar/00
ago/98
nov/98
ago/99
nov/99
mai/99
mai/00
dez/98
dez/99
out/98
out/99
abr/99
abr/00
jun/99
set/98
jan/99
fev/99
set/99
jan/00
fev/00
jul/99
jul/00
0
2,5
5
Recalque (cm)
7,5
10
12,5
15 CMA CMG
17,5
20
22,5
Figura 5.30 – Recalques ocorridos nas células CMA e CMG – Recalque no Centro (PRC)
201
pesquisa, associado a recalques primários e ajustamento das massas. Nesse período, as taxas
de recalques para a placa superficial da célula CMA foram maiores do que para a mesma
placa da célula CMG, valores influenciados pela maior quantidade de lixo disposto na célula
CMA, com cerca de 10 cm a mais na altura do lixo.
25
4 5
20
3
Recalques (cm)
15
2
10
1
5
0
19/08/1998
19/10/1998
19/12/1998
19/02/1999
19/04/1999
19/06/1999
19/08/1999
19/10/1999
19/12/1999
19/02/2000
19/04/2000
19/06/2000
Data
Figura 5.31 – Períodos em que podem ser reconhecidas variações nas taxas de recalque para
as duas células.
Tabela 5.12 – Variações nas taxas de recalques para as duas células ao longo da pesquisa.
CMA CMG
Período Dias PRS PRC PRS PRC
S (cm) cm/dia S (cm) cm/dia S (cm) cm/dia S (cm) cm/dia
1 19/8 a 12/11/98 85 6,9 0,081 3 0,035 4,4 0,052 3,1 0,036
2 12/11/98 a 31/03/99 139 1,9 0,014 2,3 0,017 3,2 0,023 1,8 0,013
3 31/3 a 21/09/99 174 7,7 0,044 3,3 0,019 4,5 0,026 2,4 0,014
4 21/09/99 a 22/03/00 183 2,1 0,011 1,3 0,007 2,4 0,013 1,7 0,009
5 22/03 a 31/07/00 131 2,7 0,021 1,7 0,013 2,0 0,015 1,4 0,011
No segundo período registrou-se uma queda acentuada nas taxas em todas as placas,
principalmente para a placa superficial da célula CMA, quando as taxas calculadas foram
mais de 5 vezes menores do que às calculadas para o primeiro período. Enquanto nos
primeiros 85 dias de observação foram registrados 6,9 centímetros de recalques para a placa
202
PRS da célula CMA, durante os 139 dias seguintes, foram medidos apenas 1,9 centímetros.
De maneira mais acentuada ou não, a redução das taxas de recalques no segundo período era
esperada, uma vez que os recalques primários ocorridos no início da pesquisa não mais são
refletidos nessa etapa. Nessa fase as massas de resíduos já sofreram acomodação e os
recalques passam a ser relacionados principalmente com a degradação da matéria orgânica
contida no interior dos resíduos.
Em um terceiro período, entre Abril e Setembro de 1999, as taxas de recalques voltam
a subir para todas as placas, alcançando valores somente menores do que os registrados no
início da pesquisa. Novamente a placa superficial (PRS) da célula CMA foi a que apresentou
o maior valor, sendo as taxas associadas a placa superficial da célula CMA novamente bem
superiores às apresentadas pela PRS da célula CMG. Com relação às placas centrais, estas
continuam apresentando valores bastante similares, indicando uma maior homogeneidade dos
recalques nas camadas mais profundas.
Considerando-se que os materiais dos sistemas de coleta e remoção de percolados para
as duas células podem ser considerados inertes e com pouca influência nos percolados
oriundos das massas dos resíduos, pode-se assumir que a diferença nas taxas de recalques
registradas nesse período entre as células está diretamente associada às condições internas
predominantes em cada uma delas. Enquanto para a célula CMA o ambiente interno permitiu
a implantação da fase metanogênica, para a célula CMG, teores muitos elevados de nitrogênio
amoniacal inibiram essa atividade. Como na fase de decomposição anaeróbia a retirada da
matéria orgânica no meio se dá principalmente pela produção de gás metano, a existência de
um ambiente desfavorável às bactérias metanogênicas influencia na decomposição dos
compostos orgânicos e retarda, por conseqüência, os recalques.
No quarto e quinto período, o padrão de comportamento repetiu-se para todas as
placas, porém as diferenças entre os valores maiores e menores tornam-se cada vez mais
reduzidas, uma vez que, progressivamente as taxas de recalques vão se reduzindo, associadas
à diminuição dos vazios no interior das massas e à redução dos teores de matéria orgânica
contidas nos resíduos, que aos poucos vão sendo degradadas. Essa redução progressiva nas
taxas de recalque apontam que o tempo necessário para que os recalques nas duas células
atinjam 20 % da altura inicial será bem maior do que dois anos, tempo decorrido para que os
recalques alcançassem 10 % da altura inicial do lixo aterrado.
Considerando o padrão de comportamento cíclico, com valores maiores e menores das
taxas de recalque observadas para as duas células CMA e CMG, um fator que aparentemente
se associa a esse fenômeno é a taxa de infiltração de águas das chuvas. De fato, há uma
203
relação clara entre os índices de precipitação/infiltração e as taxas de recalque em cada
período. A entrada de água das chuvas no interior das células provoca mudanças nos teores de
umidade e nas temperaturas reinantes nas massas. Esses dois fatores associados condicionam
o aparecimento de taxas variadas de recalques, conforme pode ser visto na Figura 5.32. Essa
figura mostra que as menores taxas de recalques observadas ocorreram justamente no período
de maior índice pluviométrico. Por outro lado, entre Março e Setembro de 1999 foram
registradas as segundas maiores taxas de recalques, menores apenas do que as taxas iniciais
registradas logo após o enchimento das células. Apesar das variações cíclicas, estas tenderam
a ser cada vez menores com o passar do tempo, até que essa diferença não mais pudesse ser
notada.
Com o passar do tempo os recalques primários deram lugar aos recalques secundários,
ocasionados pela diminuição de volume na massa, a partir da saída da matéria orgânica
degradada. A degradação da matéria orgânica sólida propicia um aumento de espaços dentro
da massa, de modo que há um novo ajuste da camada de lixo em resposta as novas condições
no interior dos montes. Esse novo ajuste é um processo contínuo que ocorre enquanto houver
a degradação da matéria orgânica, sendo o próprio peso das massas a força que provoca a
compressão dos resíduos degradáveis, e conseqüentes recalques.
0,09 1600
0,08 1400
Precipitação no período (mm)
Taxas de Recalque (cm/dia)
0,07 1200
0,06
1000
0,05
800
0,04
600
0,03
0,02 400
0,01 200
0 0
1 2 3 4 5
PERÍODOS
Figura 5.32 – Correlação entre taxas de recalque nas células e índices de precipitação (com
conseqüente infiltração) nos períodos.
204
Para que haja essa seqüência contínua de ajustes ao longo da vida útil de um aterro, é
necessário que a matéria orgânica sólida presente no interior do lixo seja convertida em
líquidos e gases a partir da ação dos microrganismos anaeróbios. Dessa forma, qualquer
alteração no ambiente interno das células que desestabilize o desenvolvimento dessas
bactérias certamente é refletido nas taxas de recalques, conforme foi visto na célula CMG,
entre Abril e Setembro de 1999, quando elevados teores de pH e nitrogênio amoniacal
inibiram a ação das bactérias, diminuindo as taxas de recalques. Assim, durante as estações
chuvosas, a infiltração de águas superficiais tende a aumentar o teor de CO2 no interior das
células, seja pelo CO2 presente na própria água, por meio de interações com a atmosfera ou
contato com a parte superficial do solo, seja pelo CO2 liberado por bactérias aeróbias ou
anaeróbias facultativas, que se aproveitam do oxigênio extra presente na estrutura molecular
das águas infiltrantes. Essa elevação de CO2 provoca uma diminuição do pH no interior do
lixo, de modo que, caso essa redução seja muito grande, tornando o pH abaixo de 6,5, o
ambiente interno passa a não ser favorável às atividades de bactérias metanogênicas, que são
as principais responsáveis pela retirada da matéria orgânica nessa fase, pelo processo de
conversão de compostos secundários em gás metano.
Assim, a infiltração de águas das chuvas proporciona uma mudança no ambiente
interno das células, prejudicando a atividade normal dos microrganismos, que passam a
necessitar de uma nova aclimatação às condições internas, retardando o processo de produção
de gás e, conseqüentemente, diminuindo as taxas de recalques nesses períodos.
Outro fator importante que deve ser considerado, o qual influencia na redução das
taxas de recalques nos períodos chuvosos, trata-se do decréscimo na velocidade de digestão
anaeróbia em função de grandes variações de temperatura dentro das massas. Variações
bruscas de temperatura desestabilizam o ambiente microbiológico no interior das massas de
resíduos, alterando o equilíbrio entre as colônias e prejudicando seu desempenho no que se
refere à degradação da matéria orgânica.
Durante os períodos chuvosos foram verificadas variações bruscas de temperaturas,
que se elevam em mais de 10 oC em um espaço muito curto de tempo, as vezes em apenas um
dia, retornando também de forma rápida às temperaturas mais baixas. Esse fenômeno,
observado durante todo o período chuvoso, pode estar associado ao aumento da quantidade de
oxigênio disponível no interior do lixo, via infiltração de água das chuvas. O incremento na
disponibilidade de oxigênio, apesar de não alterar o quadro predominantemente anaeróbio no
interior das células, permite um aumento na atividade de bactérias aeróbias ou anaeróbias
facultativas, as quais liberam calor durante sua atividade de degradação da matéria orgânica e
205
provocam o incremento das temperaturas. Com a continuidade das chuvas, a constante troca
de calor entre os resíduos mais quentes e a água infiltrada com temperatura ambiente, acaba
por proporcionar o decréscimo das temperaturas no interior da massa de lixo. Dessa forma, as
variações bruscas de temperaturas afetam o ecossistema microbial, diminuindo as taxas de
decomposição da matéria orgânica e, conseqüentemente, os recalques ocorridos no período.
Nas estações secas as taxas de infiltração são praticamente nulas, o que faz com que os
níveis de oxigênio voltem a decair dentro das massas, interrompendo as atividades das
bactérias aeróbias, de modo que variações bruscas de temperaturas não são observadas,
proporcionando um ambiente mais homogêneo para o desenvolvimento dos microrganismos
responsáveis pela degradação anaeróbia dos compostos orgânicos, o que possibilita uma taxa
de degradação maior, elevando também as taxas de recalques ocorridas no período.
As variações nas taxas de recalques para a célula CMA são mais acentuadas que na
célula CMG, com os valores mais elevados durante os períodos secos, mas também as
menores taxas ao longo das estações chuvosas. Como o dreno sintético da célula CMG
apresenta uma liberação bem mais rápida dos líquidos infiltrados, a coluna de chorume
formada na base da célula é bem menor do que a existente na célula CMA, resultando em um
volume total de líquidos retidos no interior da massa também menor, o que ameniza o efeito
dos líquidos sobre os recalques. A interferência dos processos descritos anteriormente sobre a
evolução das taxas de recalques pôde ser bem visualizada na presente pesquisa em virtude das
células serem relativamente jovens. Quanto mais velha for a célula, menor será a quantidade
de matéria orgânica a ser degradada, menores serão os vazios existentes dentro da massa, e
menores serão as taxas de recalques, até que o monte atinja uma maturidade tal que não mais
sofra a influência desses fatores, praticamente cessando os recalques.
Para as células CSX e CPN os recalques foram medidos mensalmente durante 24
meses de observações a partir de placas de recalque instaladas na região central de cada
célula. As Figuras 5.33 e 5.34 mostram os resultados obtidos neste período de monitoramento
para as duas células. Ao final de praticamente 24 meses de observação, os recalques
acumulados na célula CSX foram de 24,5 cm e de 23,1cm para a célula CPN. Considerando a
altura máxima de resíduos de 2,7 metros nas células, os recalques nesses primeiros 24 meses
correspondem 9,7 % da altura inicial para a célula CSX e 8,56 % para a célula CPN. Estes
valores são menores que os recalques ocorridos para as células CMA e CMG no mesmo
período de tempo de degradação de resíduos, fato justificado pela maior quantidade de
resíduos dispostos nas células CSX e CPN, leituras iniciais não efetuadas nas células CMA e
CMG, condições climáticas diferenciadas nos primeiros meses de aterramento etc. Contudo,
206
cabe salientar que, como evidenciado nas células CMA e CMG, esses valores são
relativamente elevados levando-se em conta a pouca idade das células.
Uma análise geral das figuras indica a existência de um padrão de comportamento dos
recalques similar para as duas células nos seis primeiros meses de aterramento. Dessa forma,
observadas taxas de recalque mais elevadas no início da pesquisa, decorridos 4 meses de
aterramento das células, fato certamente associado ao ajuste das massas de resíduos. A partir
do quarto mês de aterramento e prolongando-se até o sétimo mês, uma redução na inclinação
das curvas indica um decréscimo nas taxas de recalques.
Nos primeiros 180 dias de monitoramento, os recalques ocorridos na célula CPN
foram ligeiramente maiores que os ocorridos na célula CSX. Enquanto nos primeiros 118 dias
de observação foram registrados 7,2 centímetros de recalques acumulados para a placa da
célula CSX e 7,9 centímetros para a célula CPN, durante os 120 dias seguintes, foram
medidos apenas 2,7 centímetros pra a célula CPN e 3,4 para a célula CSX.
30
Recalque acumulado (cm)
25
CSX CPN
20
15
10
0
0 58 118 182 238 300 395 460 547 630 690
Tempo de degradação
Figura 5.33 – Recalques total ocorridos nas células CSX e CPN com o tempo de degradação
De maneira mais acentuada ou não, a redução das taxas de recalques após os três
primeiros meses de aterramento era esperada, uma vez que o ajuste da massa de resíduos
ocorridos no início da pesquisa não mais são refletidos nessa etapa, onde os recalques passam
a ser relacionados principalmente com a degradação da matéria orgânica.
No primeiro ano de aterramento dos resíduos, os recalques acumulados e mensais
medidos na célula CPN foram ligeiramente maiores que os recalques da célula CSX.
Entretanto, a partir deste período houve um incremento nos recalques ocorridos na célula de
seixos, onde os recalques acumulados tornaram-se maiores que os da célula CPN, fato para o
qual ainda não se encontra resposta, a não ser a uma acomodação eventual na célula CSX,
207
principalmente nos meses de Setembro a Dezembro/02, meses de elevados índices
pluviométricos. Cabe também salientar que a acomodação inicial dos resíduos da célula CPN,
onde o sistema de drenagem apresenta elevado volume de vazios, certamente influenciou de
modo significativo os recalques acumulados nos primeiros meses.
30
Recalque acumulado (cm)
25
CSX CPN
20
15
10
0
jan
jan
mai
mai
jul
jun
jun
ago
nov
ago
nov
dez
dez
out
mar
abr
mar
fev
fev
set
Data
Figura 5.34 – Recalques ocorridos nas células CSX e CPN com os meses de degradação
208
células, das quantidades de resíduos depositados nas mesmas, das diferentes alturas máxima
dos resíduos nas células e, principalmente, pelo período diferenciado do aterramento dos
resíduos. Entretanto, a fim de visualizar uma comparação entre os recalques ocorridos plotou-
se um gráfico relacionando o tempo de degradação dos resíduos nas células e a relação entre
os recalques totais ocorridos e a altura máxima de resíduos em cada célula. As Figuras 5.35 a
5.37 e a Tabela 5.13 apresentam os resultados obtidos. No que se refere aos recalques
relativos (deformações verticais), apresentados na Figura 5.37, com exceção dos recalques
observados para a célula CMA, os demais resultados foram semelhantes.
Tempo de Degradação
0 60 120 180 240 300 360 480 540 630 690
0
Recalque Total acumulado/Ho
0,01
0,02
CSX CPN
0,03
0,04
0,05
0,06
0,07
0,08
0,09
0,1
Figura 5.35 – Relação entre os recalques totais acumulados e a altura inicial dos resíduos
sólidos dispostos nas células CSX e CPN.
Tempo de Degradação
118
120
150
151
180
182
204
210
238
240
266
270
300
330
343
360
390
395
420
424
450
460
480
510
514
540
547
570
600
630
667
28
30
58
60
90
0
5
Recalque Total
10
15
20
CMA CMG CSX CPN
25
Figura 5.36 – Recalque total acumulado como o tempo de degradação para as células
experimentais.
209
Tabela 5.13 – Valores de recalques medidos nas células experimentais ao longo da pesquisa.
Recalques Relação recalque/altura Inicial = R/Ho
Tempo de
CMA CMG CSX CPN
degradação CMA CMG CSX CPN
(cm) (cm) (cm) (cm)
0 - - - - - - - -
28 - - 2 2,4 0,007 0,009
30 3,8 1,6 0,02 0,008
58 - - 3,8 4,5 0,014 0,017
60 4,5 1,9 - - 0,023684 0,0095
90 6,9 4,4 - - 0,036316 0,022
118 - - 7,2 7,9 - - 0,027 0,029
120 7,2 4,8 - - 0,037895 0,024 - -
150 7,6 5,3 - - 0,04 0,0265 - -
151 - - 8,3 8,6 - - 0,031 0,032
180 8 6 - - 0,042105 0,03 - -
182 - - 9,1 9,4 - - 0,034 0,035
204 - - 9,6 9,7 - - 0,036 0,036
210 8,8 7,6 0,046316 0,038 - -
238 - - 10,2 10,6 - - 0,038 0,039
240 11 8,5 0,057895 0,0425 - -
266 - - 10,6 11,1 - - 0,039 0,041
270 12,9 9,2 - - 0,067895 0,046 - -
300 14,8 10,3 - - 0,077895 0,0515 - -
330 15,7 11,1 - - 0,082632 0,0555 - -
343 11,8 12,4 - - 0,044 0,046
360 16,5 12,1 0,086842 0,0605 - -
390 17 13,1 0,089474 0,0655 - -
395 - - 13,4 12,9 0,050 0,048
420 17,4 13,8 - - 0,091579 0,069
424 - - 14,6 13,3 - - 0,054 0,049
450 17,7 13,9 - - 0,093158 0,0695
460 - - 15,4 13,8 - - 0,057 0,051
480 18 14,2 - - 0,094737 0,071 - -
510 18,3 14,2 - - 0,096316 0,071 - -
514 - - 18,5 18,9 - - 0,069 0,070
540 18,6 14,5 0,097895 0,0725
547 - - 20,6 19,8 - - 0,076 0,073
570 19,4 15 - - 0,102105 0,075 - -
600 20,2 15,7 - - 0,106316 0,0785 - -
630 21,3 16,5 - - 0,112105 0,0825 - -
210
Tempo de Degradação
118
120
150
151
180
182
204
210
238
240
266
270
300
330
343
360
390
395
420
424
450
460
480
510
514
540
547
570
600
630
667
28
30
58
60
90
0
0
0,02
Recalque Total /Ho
0,04
0,06
0,08
0,1
CMA CMG CSX CPN
0,12
Figura 5.37- Relação entre os recalques totais ocorridos e a altura máxima de resíduos em
cada célula
5.5 TEMPERATURAS
211
importante parâmetro para avaliação da atividade e eventual reaproveitamento destes maciços.
Carvalho (1999) registra temperaturas da ordem de 31ºC a 38ºC para resíduos localizados,
respectivamente, a cerca de 4,0 e 6,0m de profundidade no Aterro Sanitário Bandeirantes, em
São Paulo. Para o mesmo aterro, relatórios de avanço de perfuração para instalação de drenos
apontam para temperaturas entre 42ºC e 59ºC a profundidades da ordem de 30,0m.
212
5.5.1 ESCALA DE CAMPO - CÉLULAS EXPERIMENTAIS
213
Tabela 5.14. Posicionamento dos termopares nas células experimentais.
Células Termopar Posicionamento
De modo geral, os valores medidos de temperaturas nos resíduos sólidos das células
experimentais variaram numa faixa de 24 a 46 0C, de modo que os termopares posicionados
mais próximos a camada de cobertura de solo tiveram temperaturas mais elevadas do que os
posicionados próximos à base das células. Esses dados refletem observações reportadas na
literatura onde em aterros sanitários as temperaturas geralmente não ultrapassam 50oC. As
Figuras 5.39 a 5.41 ilustram as temperaturas observadas nas células durante o monitoramento,
enquanto a Tabela 5.15 mostra os valores máximos, mínimos e médios para cada termopar.
Salienta-se, entretanto, que essas figuras mostram somente dados observados a parir de Jul/99
e que maiores detalhes podem ser encontrados em anexo.
As medições indicaram que as temperaturas apresentaram seus valores mais elevados
durante os cinco primeiros meses após o aterramento, a partir de quando, de modo geral, os
valores obtidos foram menores. Esse comportamento já era esperado, estando relacionado às
mudanças nas atividades bacterianas no interior da massa dos resíduos, passando de
predominantemente aeróbia para anaeróbia.
214
45
40
Temperatura ( C) Tamb TP 11 TP 2
35
30
25
20
15
23-Jun/01
24-Mar/01
3-Jun-99
30-Jun-99
4-Ago-99
31-Ago-99
15-Nov-99
14-Dez-99
31-Jan-00
14-Jun-00
23-Dez/00
27-Set-99
18-Out-99
13-Mar-00
8-Mai-00
23-Set/00
Data
Figura 5.39 – Variação de temperatura dentro da massa de lixo para a célula CMA, dados a
partir do segundo ano de aterramento.
45
40
Temperatura ( C)
Tamb T5
35
30
25
20
15
24-Mar/01
23-Jun/01
3-Jun-99
31-Ago-99
15-Nov-99
30-Jun-99
31-Jan-00
13-Mar-00
14-Jun-00
4-Ago-99
14-Dez-99
8-Mai-00
23-Dez/00
27-Set-99
23-Set/00
18-Out-99
Data
Figura 5.40 – Variação de temperaturas dentro da massa de lixo para a célula CMG.
215
31
50
30
Temperatura ambiente
40 29
Temperatura ( C)
30 28
27
20
26
10 25
24
0
Ago/01 Out/01 Dez/01 Fev/02 Abr/02
Set/01 Nov/01 Jan/02 Mar/02 Mai/02
Data
Figura 5.41 – Variação de temperaturas dentro da massa de resíduos células CSX e CPN.
216
grandes variações em função da aclimatação inicial dos microrganismos presentes. A Figura
5.42 ilustra as temperaturas máximas desenvolvidas na massa dos resíduos para todas as
células experimentais nos quatro primeiros meses de aterramento de cada célula. Percebe-se
que as temperaturas observadas nas células CMA e CMG foram sempre maiores que as
registradas nas células CSX e CPN, demonstrando uma maior atividade bacteriana
desenvolvida nas primeiras, o que possivelmente refletiu em uma maior degradação dos
resíduos sólidos e conseqüentemente maiores recalques iniciais. Ester fato foi comprovado
pelas medições dos recalques nas células.
50
45
40
Temperatura ( C)
35
30
25
20
15
10
Ago Set Out Nov
Data
Figura 5.42 - Variação de temperaturas dentro das massas de resíduos nas células nos
primeiros quatro meses de aterramento.
217
existentes dentro dos montes. Bactérias aeróbias elevam as temperaturas devido a suas
atividades exotérmicas de degradação da matéria orgânica. Daí as temperaturas mais elevadas
registradas logo após o aterramento das células, quando o ambiente ainda possui uma grande
quantidade de oxigênio disponível para a degradação aeróbia dos resíduos.
As temperaturas obtidas nos termopares nas massas de resíduos das células
experimentais de Carvalho (1999) registraram temperaturas entre 31ºC e 38ºC para resíduos
localizados, respectivamente, a cerca de 4,0 e 6,0m de profundidade no Aterro Sanitário
Bandeirantes, em São Paulo. Assim, os valores observados por este autor foram ligeiramente
menores que os observados na presente tese.
218
40
35
30
Temperaturas (C)
25
20
15
10
5
0
1998
1999
1999
1999
1999
2000
1998
1998
1998
1998
1999
1999
1999
1999
1999
1999
1999
1999
2000
2000
2000
2000
2000
2000
10/03/
10/04/
10/08/
10/09/
10/10/
10/11/
10/12/
10/01/
10/02/
10/05/
10/06/
10/07/
10/08/
10/09/
10/10/
10/11/
10/12/
10/01/
10/02/
10/03/
10/04/
10/05/
10/06/
10/07/
D a ta s
TP 7 TP 4 TP 16 T am b
Figura 5.43 – Variação das temperaturas nos sistemas de drenagem e impermeabilização para
a célula CMA.
45
40
35
Temperaturas (C)
30
25
20
15
10
5
0
10/08/1998
10/10/1998
10/12/1998
10/02/1999
10/04/1999
10/06/1999
10/08/1999
10/10/1999
10/12/1999
10/02/2000
10/04/2000
10/06/2000
D atas
TP 1 TP 8 TP 15 T am b
Figura 5.44 - Variação das temperaturas nos sistemas de drenagem e impermeabilização para
a célula CMG.
219
31
50
30
Temperatura ambiente
40 29
Temperatura ( C)
30 28
27
20
26
10 25
24
0
Ago/01 Out/01 Dez/01 Fev/02 Abr/02
Set/01 Nov/01 Jan/02 Mar/02 Mai/02
Data
Figura 5.45 - Variação das temperaturas nos sistemas de drenagem para a célula CSX e CPN
31
50
Temperatura ambiente
30
40
Temperatura ( C)
29
30 28
27
20
26
10 25
24
0
Ago/01 Out/01 Dez/01 Fev/02 Abr/02
Set/01 Nov/01 Jan/02 Mar/02 Mai/02
Data
220
Tabela 5.16 – Valores de temperaturas nos termopares instalados junto aos sistemas de
drenagem e impermeabilização das células experimentais.
CMA CMG CSX CPN
Termopares
TP 04 TP 16 TP 15 TP 08 TP 17 TP 19
Posição Areia / lixo Dentro do Geotêxtil / Dentro do Dentro do Junto aos pneus
cascalho lixo cascalho seixo picotados
T máxima oC 33 34 38 41 34,5 38,4
T mínima. oC 25 23 25 24 25,3 25,6
T média oC 28,3 27,3 28,7 28,5 30,12 29,54
A Tabela 5.17 mostra as temperaturas médias dos termopares posicionados junto aos
sistemas de drenagem e impermeabilização das células CMA e CMG, durante as estações
secas (Abril a Setembro) e chuvosa (Outubro a Março), bem como apresenta os valores de
desvio padrão que caracterizam as variações dentro de cada período. Mostra ainda que as
variações de temperaturas registradas durante as estações chuvosas abrangidas pela pesquisa
foram maiores do que durante as estações de seca, para todos os termopares. Além disso, as
médias de temperaturas nos períodos chuvosos também foram maiores do que nos períodos
secos.
Com relação a infiltração de águas das chuvas, já foi descrita a importância desse
processo no que se refere a mudanças no contexto interno das células que acarretam
incremento rápido das temperaturas, prejudicando as taxas de decomposição e de recalques.
Porém, deve ficar claro que o fluxo contínuo das águas dentro das massas de lixo acaba por
diminuir as temperaturas em seu interior, pela constante troca de calor entre as águas
infiltrantes e o lixo no interior das células, até que uma temperatura de equilíbrio seja
alcançada.
Esse fenômeno é o grande responsável pela queda das temperaturas pouco tempo após
o surgimento de picos mais elevados, completando o ciclo de variação das temperaturas.
Assim, apesar da água infiltrada favorecer as atividades de microrganismos aeróbios que
provocam a elevação das temperaturas, o fluxo contínuo de água em temperaturas mais baixas
dentro da massa de lixo condiciona o surgimento de temperaturas de equilíbrio mais baixas.
221
Tabela 5.17 – Temperaturas médias nos termopares posicionados junto aos sistemas de
drenagem e impermeabilização das células, nos períodos de chuva e seca.
CMA CMG
TP 07 TP04 TP16 TP01 TP15 TP08
Período
T oC D T oC D T oC D T oC D T oC D T oC D
Ago a Out /98 26,9 1,1 28,4 0,5 27,6 1,0 26,7 1,5 29,3 1,3 29,0 2,4
Ou/98 a Mar/99 27,9 1,9 28,4 2,3 28,5 2,1 27,7 1,4 30,6 4,1 31,5 5,2
Abr a Set / 99 25,7 0,7 25,6 0,7 25,9 1,1 25,4 0,5 26,2 0,6 25,9 1,2
Out/99 a Mar/00 26,4 2,2 - - 27,1 3,2 - - 28,7 3,1 28,1 3,4
Abr a Jul / 00 25,2 0,7 - - 26,5 0,6 - - 26,7 0,5 25,7 0,5
Ago a Out/00 26,7 1,2 - - 27,1 0,9 - - - - 27,7 1,2
Out/00 a Mar/01 27,9 1,4 - - 28,5 1,1 - - - - 28,6 1,1
Abr a Set/01 25,9 0,9 - - - - - - - - 25,9 1,2
Nas caixas metálicas utilizadas nas pesquisas foram empregados os mesmos tipos de
termopares (Tipo “J”), instalados também durante o processo de enchimento das células
experimentais, como mostrado no capitulo 4. Os termopares foram posicionados na região
central das caixas conforme descrito na Tabela 5.18. As medidas de temperatura foram
realizadas periodicamente e puderam ser obtidas por termômetros eletrônico-digitais (Figura
5.38).
Com relação às temperaturas nas massas dos resíduos, a Figura 5.47 e a Tabela 5.18
ilustram os comportamentos dos termopares TP 01 e 04 nas caixas armazenadoras ao longo da
pesquisa. Já a Tabela 5.19 mostra os resultados máximos, médios e mínimos obtidos para os
termopares instalados nos resíduos e sistema de drenagem nas caixas armazenadoras.
222
Tabela 5.18 - Posicionamento dos termopares nas Caixas Armazenadoras .
Caixa Termopar Posicionamento
45
40
TP 1 TP 4 Tamb
35
Chorume (L)
30
25
20
15
10
0 60 120 180 240 300 360 420 480
Data
Figura 5.47 – Temperaturas medias medidas nos resíduos dentro da caixa C1 e C2.
Caixa C1 Caixa C2
Temperatura
TP 01 TP 02 TP03 TP 04 TP 05 TP 06
Posição Resíduos Dreno Acima geotêxtil Resíduos Dreno Acima geotex.
T máx oC 41 35 38 42 37 37
T mín oC 23 23 23 25 23 22
T média oC 28,4 27,3 26,2 30,4 32,7 25,4
223
De modo geral, as temperaturas no interior das caixas se comportaram de maneira
similar às registradas nas células experimentais, apresentando valores mais elevados no início
da pesquisa com decréscimo progressivo e surgimento de picos em épocas variadas. Porém, a
troca de calor entre o meio externo e o interior das caixas, em virtude de sua estrutura
metálica, associado ao baixo grau de compactação inicial dos resíduos e à fina camada de
cobertura de solo sobre os resíduos, provocaram oscilações nas temperaturas.
As temperaturas nos resíduos sólidos se mantiveram elevadas para os termopares
durante os três primeiros meses de pesquisa, mantendo o mesmo padrão para as duas caixas
até meados de março de 2001. Os valores medidos foram altos quando comparados à
temperatura ambiente, havendo grandes variações durante este período de monitoramento. Os
termopares apresentaram uma queda acentuada nas temperaturas nestes primeiros meses. O
TP 1 registrou uma queda na temperatura media de aproximadamente 6 0C do segundo para o
terceiro mês de enchimento da caixa C1, comprovando oscilações nas temperaturas e uma
forte troca de calor com o meio ambiente.
Apesar dessas variações, picos de temperaturas ainda podem ser observados nas duas
caixas sempre associados à aspersão de água, o que confirma a importância da infiltração da
água para o surgimento de ambientes que possibilitem maior ou menor atividade de bactérias
aeróbias, provocando a elevação das temperaturas. Como nas caixas, praticamente toda água
precipitada infiltra, uma vez que não há a possibilidade de perda de volume por escoamento
superficial, a variação da temperatura, via troca de calor entre os resíduos e a aspersão é muito
significativo, provocando decréscimos ainda mais acelerados nas temperaturas até que um
valor de equilíbrio seja alcançado.
Interferências ligadas ao grau de compactação dos resíduos e à fina cobertura
superficial, as quais não impediram a entrada de ar para o interior das caixas, provavelmente
influenciaram uma maior entrada de oxigênio, que favoreceu a atividade aeróbia, manteve-se
com temperaturas elevadas por um período bem mais prolongado que os demais.
Os valores de desvios revelam a maior variabilidade das temperaturas durante as
aspersões para todos os termopares instalados, padrão semelhante ao observado em escala de
campo em virtude das infiltrações. Esse fato deveu-se à migração de ar do ambiente externo
para o interior das caixas, disponibilizando oxigênio para a atividade de bactérias aeróbias ou
anaeróbias facultativas, as quais elevam a temperatura no interior dos montes.
224
É importante observar que os termopares instalados entre os geotêxteis e as camadas
de resíduos apresentaram comportamento semelhante, contudo com temperaturas inferiores,
conforme mostrado na Tabela 5.19.
As temperaturas nos sistemas de drenagem apresentaram valores bastante variados
com o tempo de degradação em curtos intervalos de observações. A Figura 5.48 apresenta os
valores observados para os sistemas de drenagem das Caixas C1 e C2. Antes da disposição
dos resíduos nas caixas, os termopares instalados nos sistemas de drenagem apresentavam
valores muitos próximos a temperatura ambiente, registrando 26,5 e 27 0C para a Caixa C1 e
C2 respectivamente, com temperatura ambiente em torno de 26 0C.
Da mesma forma que os valores observados nas massas de resíduos, os valores iniciais
foram bem superiores aos registrados ao longo da pesquisa. Entretanto, variações bruscas
foram registradas ao longo do monitoramento. Nos três primeiros meses, período onde houve
uma maior retenção do chorume pela camada de entulho, os valores de temperatura nos
drenos foram maiores para a caixa C1 em relação a C2. Depois deste período, com a
liberação da primeira carga de chorume, houve uma inversão nos valores das temperaturas
dos drenos, se prolongando até meados de Abril/01. Os picos de temperaturas foram mais
acentuados no sistema de drenagem com os pneus picotados, entretanto foram observadas
variações bruscas de temperatura em um mesmo mês para os dois drenos. Os picos
diferenciados nas caixas também demonstram a instabilidade reinante nos sistemas de
drenagem.
45
40
Temperatura (0C)
C1 C2
35
30
25
20
15
Jun-01
Jun-01
Out-01
Jan-01
Jan-01
Fev-01
Fev-01
Mar-01
Mar-01
Jul-01
Jul-01
Dez-01
Mai-01
Mai-01
Abr-01
Abr-01
Ago-01
Set-01
Set-01
Nov-01
-Jan-02
Dez-00
Dez-00
mar-02
Data
225
CAPÍTULO 6
6.1 INTRODUÇÃO
226
Os resultados destas análises serão apresentados em grupos específicos. Assim, os
teores de Nitrato e Nitrogênio amoniacal são dispostos conjuntamente, considerando a relação
existente entre os dois parâmetros. Em seguida serão apresentados separadamente os valores
obtidos para pH, Demanda Química de Oxigênio, Cloretos, Sulfatos e Sólidos Totais e
Dissolvidos. Como as células experimentais tiveram seus aterramentos em épocas
diferenciadas, os resultados das análises específicas procuram ressaltar as correlações na
época de disposição dos resíduos. Salienta-se ainda que a amônia é representada na forma de
+
nitrogênio amoniacal, que compreende o íon NH4 e NH3 (gás dissolvido), uma vez que as
duas formas podem estar presentes, dependendo do pH. Assim, nesse trabalho as palavras
amônia e nitrogênio amoniacal são utilizados com o mesmo significado.
Enfatiza-se ainda que nas células CMA e CMG as primeiras análises foram realizadas
em Novembro/98, decorridos pouco mais de três meses de aterramento, tempo suficiente para
que o oxigênio contido no interior das massas fosse consumido, instalando-se um ambiente
anaeróbio devido às condições impostas às células.
A relação entre Amônia e Nitrato é bem conhecida, sendo que o meio aeróbio ou
anaeróbio exerce grande influência sobre esses valores, com aumento dos valores de Nitratos
em meios aeróbios, em função da oxidação da Amônia, e decréscimo desses valores em
condições anaeróbias, quando o Nitrato é reduzido a Nitrito. Posteriormente, persistindo as
condições anaeróbia, grande parte do Nitrito é transformado em nitrogênio gasoso. Dessa
forma, elevados teores de Nitrato tendem a diminuir os valores de amônia, uma vez que esta é
a matéria prima para a formação de Nitratos.
Os resultados obtidos para os teores de nitrato e amônia para as células podem ser
vistos nas Figuras 6.1 a 6.6. De modo geral, as figuras apontam um comportamento com a
faixa de amônia mais elevada associada a teores menores de nitratos nas análises realizadas
em todas as células. Para um ambiente com escassez de oxigênio, como era o caso das células
na época das análises, os teores de Nitrato tendem a ser muito baixos, uma vez que o meio
redutor não permite a oxidação da amônia que se apresenta com valores bem elevados.
Percebe-se também nas células experimentais que os maiores valores de nitrato foram obtidos
sempre nos primeiros meses de aterramento e principalmente durante a estação chuvosa, entre
Outubro e meados de Abril, de forma que uma associação direta entre a estação do ano e os
teores de Nitrato e Amônia pode ser efetuada.
227
Após o enchimento das células, provavelmente o índice mais elevado de oxigênio no
interior das massas propiciou o surgimento de teores mais elevados de nitratos. Contudo, com
o consumo desse oxigênio por bactérias aeróbias, predomina o ambiente anaeróbio,
diminuindo estes teores, que tenderiam a se tornar cada vez menores caso não houvesse uma
injeção extra de oxigênio no interior das células. Esse comportamento é mais evidente para as
células CMG, CSX e CPN.
Com relação ao nitrogênio amoniacal, as Figuras 6.1 e 6.2 mostram que, de modo
geral, os teores de amônia são muitos elevados e mais altos quando os teores de nitrato são
menores, comportamento já esperado, uma vez que os nitratos derivam da oxidação da
amônia. Deve ser ressaltado que enquanto os nitratos surgem somente em condições aeróbias,
a amônia é formada tanto em meio aeróbio quanto anaeróbio, a partir da degradação de
proteínas contidas na matéria orgânica do interior dos resíduos. Assim, enquanto houver
compostos orgânicos degradáveis no interior das massas haverá a formação de amônia, daí a
elevação dos teores de amônia em um ambiente anaeróbio, uma vez que pela falta de
oxidação, ocorre um acúmulo de amônia no interior das massas que se reflete no chorume
coletado a partir dos sistemas de drenagem.
2500 9
8
2000 7
6
1500
mg/L
5
pH
4
1000
3
500 2
1
0 0
jan/01
ago/01
mar/01
mai/01
out/01
dez/01
jan/99
mar/99
mai/99
jul/99
set/99
nov/99
jan/00
mar/00
mai/00
jul/00
set/00
nov/00
fev/02
abr/02
jul/02
set/02
nov/02
jan/03
mar/03
mai/03
jul/03
Data
pH Nitrato Amônia
Figura 6.1 – Teores de Nitrato (NO3 ) e nitrogênio amoniacal ( NH4+ + NH3) obtidos para a
-
célula CMA.
228
4000 9
3600 8
3200 7
2800 6
2400
5
mg/L
pH
2000
4
1600
1200 3
800 2
400 1
0 0
abr/01
nov/01
fev/01
set/01
jul/01
dez/99
dez/00
mar/02
dez/02
fev/99
fev/00
fev/03
jun/99
jun/00
jun/03
nov/98
abr/99
ago/99
out/99
abr/00
ago/00
out/00
jan/02
ago/02
mai/02
out/02
abr/03
Data
Nitrato Amonia pH
Figura 6.2 – Teores de Nitrato (NO3 -) e nitrogênio amoniacal ( NH4+ + NH3) obtidos para a
célula CMG.
3000 9
8
2500
7
2000 6
mg/L
5
pH
1500
4
1000 3
2
500
1
0 0
Ago/01
Out/01
Set/01
Nov/01
Dez/01
Jul/02
Ago/02
Out/02
Jun/03
Set/02
Dez/02
Jan/02
Fev/02
Abr/02
Mai/02
Nov/02
Jan/03
Fev/03
Abr/03
Mai/03
Mar/02
Mar/03
Data
Nitrato Amônia pH
Figura 6.3 – Teores de Nitrato (NO3 -) e nitrogênio amoniacal ( NH4+ + NH3) obtidos para a
célula CSX.
229
800
CP N CSX
700 CMA CMG
600
CONCENTRAÇÃO (mg/L)
500
400
300
200
100
0
nov/98
fev/99
ago/99
nov/99
fev/00
ago/00
nov/00
fev/01
ago/01
nov/01
fev/02
ago/02
nov/02
fev/03
mai/99
mai/00
mai/01
mai/02
mai/03
DAT A
-
Figura 6.4 – Teores de Nitrato (NO3 ) para as células experimentais
Nas figuras observa-se ainda que para as células experimentais CMA, CMG e CSX,
em geral, os valores obtidos de nitrato e amônia no primeiro ano de aterramento são maiores
que nos anos subseqüentes e bem acima das duas últimas análises feitas no ano de 2003.
Entretanto, a célula experimental CPN não apresenta esse comportamento, tendo seus valores
de nitrogênio amoniacal no segundo ano de aterramento mais elevados do que no primeiro. Os
altos valores de Nitrogênio amoniacal mostrados são características de um chorume em fase
de fermentação anaeróbia estável onde ocorre um aumento de nitrogênio amoniacal.
4000
CPN CSX
3500 CMA CMG
CONCENTRAÇÃO (mg/L)
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
mar/99
mar/00
mar/01
abr/02
mai/03
jun/99
jun/00
nov/98
jul/01
nov/02
out/01
jan/02
ago/02
dez/99
dez/00
set/99
set/00
fev/03
DATA
Figura 6.5 – Teores de nitrogênio amoniacal (NH4+ + NH3) obtidos para as células
230
3000 9
8
2500
7
2000 6
mg/L
pH
1500
4
1000 3
2
500
1
0 0
Ago/01
Nov/01
Out/01
Set/01
Dez/01
Abr/02
Ago/02
Nov/02
Jun/03
Out/02
Abr/03
Jan/02
Fev/02
Jul/02
Set/02
Dez/02
Jan/03
Fev/03
Mai/02
Mai/03
Mar/02
Mar/03
Data
Nitrato Amônia pH
Figura 6.6 – Teores de Nitrato (NO3 -) e nitrogênio amoniacal (NH4+ + NH3) obtidos para a
célula CPN
Conforme relatado por Junqueira (2000) quando foram realizadas as primeiras análises
para as células CMA e CMG, as mesmas já estavam cheias há pouco mais de três meses,
tempo suficiente para que o oxigênio contido no interior das massas fosse consumido,
instalando-se um ambiente anaeróbio. Para um ambiente com escassez de oxigênio, como era
o caso das células na época dessas análises, os teores de Nitrato tendem a ser muito baixos,
uma vez que o meio redutor não permite a oxidação da amônia que se apresenta com valores
bem elevados. No entanto, as análises para as duas células indicam que os teores de Nitrato
apresentam-se em uma curva ascendente que estendeu-se até meados do nono mês de
aterramento (Maio/1999), com pico bem mais acentuado para a célula CMA (Figura 6.1).
Neste momento os valores começam a diminuir, permanecendo com valores baixos até o
inicio das precipitações/infiltrações, quando uma faixa com valores mais elevados de nitrato
e um pouco menores de amônia surge, retornando aos valores padrões normais a partir do
inicio da seca (Abril/2000).
No período seguinte, de Out/00 a Abr/01 os teores de nitrato voltam a se elevar em
virtude da disponibilidade de oxigênio provocada pelas infiltrações de água de chuva nas
células. Neste mesmo período o nitrogênio amoniacal decai em relação ao período anterior. A
relação entre a quantidade de oxigênio disponível pela maior ou menor quantidade de água
infiltrada nas células permanece durante o monitoramento das mesmas. Entretanto, cabe
231
salientar que em dezembro/02, devido às fortes infiltrações nas células, observa-se a maior
relação entre L/PPT registrada na pesquisa, e conseqüentemente maior diluição dos líquidos
percolados, onde os teores de nitrato e amônia foram baixos quando comparados a outras
medições. No entanto, estes valores estão acima de muitas faixas de valores reportados na
literatura para os teores de nitrato e amônia de líquidos percolados de aterros jovens.
Os valores de nitrato (NO3 -) da célula CMA apresentam picos maiores do que os da
célula CMG nas estações chuvosas. O mesmo comportamento é verificado ao longo do
monitoramento, com queda de teores após um período de elevação e valores menores nas
estações secas. Pode-se observar que, enquanto a célula CMG mostra valores mais elevados
por um período mais prolongado, para a célula CMA a ação mais intensa das bactérias
redutoras, provocada por uma maior massa biológica e um tempo de contato mais prolongado,
torna os teores de nitrato menores.
232
Tabela 6.1 – Variação dos teores médios de nitrato e nitrogênio amoniacal durante os
períodos secos e chuvosos para as células CMA e CMG. Valores em mg/l.
CMA CMG
Período
Nitrato N. amoniacal Nitrato N amoniacal
Nov/98 a Abr/99 259,1 1291,0 351,3 2508,0
Mai a Set/99 177,8 1895,9 92,4 3042,8
Out/99 a Abr/2000 190,5 1232,3 206,9 1564,9
Mai a Set/2000 20,4 1865 60,22 1892
Out/00 a Abr/01 97,31 1992,3 156,4 1093
Mai a Set/01 205,2 877,6 227,5 1372,5
Out/01 a Abr/02 176,6 777,1 160 668,5
Mai a Set/02 163,6 567,5 124 506
Out/02 a Abr/03 86,6 291,5 88,9 444,3
233
Em relação às células experimentais CSX e CPN, foram observados comportamentos
similares entre as curvas dos teores de nitratos para o primeiro ano de monitoramento dessas
células. Entretanto, com a maior interação entre seus sistemas de drenagem e os líquidos
percolados essa similaridade desapareceu (Figura 6.7).
800
700
600
500
mg/L
400
300
200
100
0
Set/01
Out/01
Ago/01
Nov/01
Dez/01
Set/02
Jan/02
Fev/02
Ago/02
Jan/03
Fev/03
Jun/03
Mar/02
Abr/02
Mai/02
Out/02
Mar/03
Mai/03
Jul/02
Nov/02
Dez/02
Abr/03
Tempo de aterramento
CSX CPN
Figura 6.7 – Teores de Nitrato (NO3 -) para as células experimentais CSX e CPN.
234
2002, provavelmente provocado ainda pelas infiltrações ocorridas em Janeiro, cuja relação
L/PPT foi da ordem de 18,5 %.
Nas Figuras 6.3 e 6.6, referentes aos valores de nitrogênio amoniacal das células
experimentais CSX e CPN, observa-se que os valores medidos ao longo do monitoramento
apresentam-se bastante elevados, acima de 1000 mg/L, e que os valores de amônia são bem
superiores aos valores de nitrato. De forma geral, os valores de amônia no ano de 2001 não
estão acima dos valores encontrados nos anos subseqüentes, como acontece com as células
experimentais CMA e CMG.
Tabela 6.2 – Variação dos teores médios de nitrato e nitrogênio amoniacal durante os períodos
secos e chuvosos para as células CSX e CPN.
CSX CPN
Período
Nitrato N. amoniacal Nitrato N. amoniacal
Ago e set/01 365,4-224,4 940-1120 391,6-374 1520-1300
Out/01 a Abr/02 326,1 1658,6 488,4 1680
Mai a Set/02 223,3 1935 361,9 2275
Out/02 a Abr/03 187,4 1292,9 183,0 1802,9
Mai a Jul/03 61,5 1653,3 160,0 1685,4
Obs: dados em mg/L
A Tabela 6.3 mostra a faixa de valores e médias medidas neste trabalho, tendo como
base à célula CMA, para os valores de nitrato e amônia nos quatro primeiros anos de
235
aterramento dos resíduos e comparação com os valores mínimos e máximos encontrados por
três autores, que são: Tchobanouglos (1996), Porhland (1995) e Held (1996). Nesta tabela,
nota-se que mesmo entre os autores, há uma grande variação dos valores mínimos e máximos
apontados por cada um. Por exemplo, em Tchobanouglos (1998), o máximo valor encontrado
para o nitrogênio amoniacal foi de 800 mg/L, em Porhland (1995) foi de 1.106 mg/L e em
Held (1995) chega a 5.000 mg/L. Comparando-se esses três autores com as faixas de valores e
as médias dos valores medidos nas células, observa-se que as medidas feitas nas células
experimentais somente se enquadrariam dentro dos valores mínimos e máximos reportados
por Held (1995) para o nitrogênio amoniacal, onde a faixa de valores reportada pelo autor e
bastante extensa. Mesmo no quinto ano de aterramento dos resíduos na célula onde a faixa de
valores para os meses de janeiro a julho se situa entre 4,4 - 286 mg/L(com média de 136,6)
para os teores de nitrato e uma faixa de 60 – 340 (média de 263,3) para os teores de nitrogênio
amoniacal, observa-se que as medidas feitas nas células experimentais estão aquém dos
valores indicados pelos autores.
Tabela 6.3 - Comparação entre os valores de parâmetros do percolado da célula CMA com
faixa de valores da literatura
Faixa / Médias dos valores
Dados da Literatura
Parâmetros Ano
236
fato acontece principalmente com as células experimentais CSX e CPN e com outros
parâmetros analisados destas células.
Na presente pesquisa algumas correlações clássicas e fundamentais para a digestão
anaeróbia de resíduos sólidos foram observadas ou tiveram suas acurácias verificadas como,
por exemplo: a maior infiltração de águas de chuva aumentam os valores de teores de nitrato,
elevados teores de amônia nos primeiros meses de aterramento e seu decréscimo com o tempo
de aterramento. Entretanto, é importante mencionar que uma atenção especial deve ser dada
aos teores de nitrato e amônia encontrados nas células ao longo da pesquisa, uma vez que
considerando a falta de impermeabilização no aterro do Jóquei Clube de Brasília e na maioria
das disposições de resíduos no Brasil, a infiltração de elevados teores desses elementos pode
vir a provocar problemas de contaminação do solo e de águas subterrâneas. Com relação aos
nitratos, as análises mostraram que este é motivo de preocupação principalmente logo após o
enchimento das células e durante os períodos chuvosos, quando é verificado um aumento
considerável de seus teores.
Na presente pesquisa foram encontrados valores muito elevados de nitrato e amônia
quando comparados a valores reportados na literatura, bem como flutuações internas elevadas
nesses parâmetros, principalmente para a célula experimental CPN, ficando enfatizada a
necessidade de estudos específicos, que justifiquem os comportamentos observados com base
nos processos bioquímicos envolvidos.
Deve ser recordado que o valor máximo de nitratos existentes em águas para consumo
é de 10 mg/l (CONAMA, 1986). Desse modo uma análise cuidadosa do ambiente em que se
encontra o aterro se faz necessária a fim de evitar danos futuros, principalmente pela
disposição indiscriminada de pneus na área do aterro do Jóquei Clube.
Os valores de amônia encontrados no chorume produzidos nas células também foram
muito elevados. Levando-se em conta que teores elevados de amônia podem alcançar o lençol
freático, e que o máximo permitido em águas para consumo é de 0,02 mg/l de amônia livre
+
(NH3), ou não mais de 1 mg/l de nitrogênio amoniacal (NH3 + NH4 ), percebe-se que, apesar
da atenuação natural do solo, os elevados teores de amônia devem ser considerados como um
risco potencial ao solo e águas subterrâneas existentes abaixo do aterro.
A célula CPN cujo sistema de coleta e remoção de percolados incluem pneus em sua
formação apresentou valores muitos elevados dos componentes analisados. Ficando
enfatizado a necessidade de estudos específicos, tendo em vista que no aterro de resíduos
sólidos do Jóquei Clube de Brasília é comum o uso desses materiais em sistemas perimetais
237
de drenagem de percolados dos montes dos resíduos, conforme mostrado na revisão
bibliográfica desta tese.
238
O efeito da dissolução do CO2 provoca uma acidez na fase aquosa. A própria água das
chuvas é enriquecida em CO2, pelas reações ocorridas na atmosfera, concedendo acidez a
essas águas. Apesar de aparentemente pouco influente, a acidez adquirida pelas águas das
chuvas, faz com que estas atuem na dissolução de rochas calcárias, por exemplo, com uma
agressividade 5 vezes maior do que a observada em água pura (Fookes et al., 1988). Além
disso, o contato da água com o solo durante o processo de infiltração aumenta em muito suas
concentrações de CO2, em virtude da matéria orgânica normalmente existente na parte
superior do solo. Para o caso do aterro do Jóquei de Brasília, análises de pH do solo
superficial indicam valores em torno de 4,5, que certamente contribuem para aumentar a
acidez das águas ao infiltrarem para dentro das células, o que acaba por propiciar também um
ambiente mais ácido em seu interior (Junqueira, 2000).
Conforme já mencionado, os valores de pH mais baixos deslocam o equilíbrio da
+
equação em direção a produção do íon NH4 , aumentando sua concentração, o que permite a
+
formação do íon H3O pela seguinte reação:
+ +
NH4 + H2O NH3 + H3O (6.1)
+ +
O íon H3O , de maneira similar ao H , proporciona um aumento na acidez do meio,
somando-se ao efeito causado pelo CO2 dissolvido na fase aquosa.
Conforme já mencionado, as amostragens dos líquidos percolados oriundos das células
experimentais para as determinações do pH obedeceram a freqüências preestabelecidas, sendo
quinzenais no primeiro mês de aterramento para as células CSX e CPN e mensais para as
demais determinações e para as outras células.
A Figura 6.8 ilustra o comportamento do pH dos percolados para as células
experimentais, onde podem ser observados padrões diferenciados na variação de seus valores.
Conforme já salientado em relação as célula CMA e CMG, quando as primeiras
medidas de pH foram feitas, já haviam decorrido pouco mais de três meses desde o
enchimento das células. Nesse período, certamente a fase acidogênica se instalou nas duas
células, tornando os valores de pH muito baixos, próximos a 5, conforme é observados par os
valores das células CSX e CPN.
Junqueira (2000) relata que neste período a fase acetogênica já começava a atuar nas
células CMA e CMG, promovendo uma elevação gradual dos valores de pH, que se
encontravam em 6.1 para as duas células. Deste ponto em diante, o comportamento do pH na
célula CMA é compatível com o processo evolutivo de degradação da matéria orgânica,
239
havendo uma elevação gradual do pH, sendo que, a partir do décimo mês após o aterramento
dos resíduos, as condições de pH passaram a ser favoráveis ao surgimento da fase
metanogênica, ocorrendo o metabolismo de parte do CO2 e do ácido acético, mantendo o pH
em valores próximos à neutralidade. O surgimento desta fase esta diretamente associada a
elevação dos teores de amônia, devido a capacidade do íon nitrogênio amoniacal de gerar
alcalinidade.
9,50
8,00
7,50
pH
7,00
6,50
6,00
5,50
5,00
4,50
mar/99
mar/00
mar/01
jun/99
jun/00
abr/02
mai/03
nov/98
nov/02
jul/01
out/01
jan/02
ago/02
dez/99
dez/00
fev/03
set/99
set/00
DATA
240
condição, o equilíbrio da reação encontra-se quase que totalmente deslocado para a esquerda
(NH+4).
Em conseqüencia das infiltrações de águas de precipitações no interior das células, no
décimo sexto mês de aterramento dos resíduos (dez/99), foi observada uma variação nos
valores de pH para as duas células, caindo de 7,4 e 7,6 nas células CMA e CMG
respectivamente, para 6,2. Nesta época, também foi verificada uma queda nos teores de
amônia, caindo de 1890 para 793mg/L, para a célula CMA, e de 2160 para 1342 mg/L para a
célula CMG, com diminuição da capacidade do íon de nitrogênio amoniacal de gerar
alcalinidade no meio. De modo análogo ao ocorrido com outros fatores analisados nessa
pesquisa, como temperaturas e recalques, o início da estação chuvosa causa modificações nos
parâmetros analisados para estas células. Após esse decréscimo nos valores de pH, a célula
CMA apresentou uma elevação progressiva dos valores nos meses seguintes, apresentando, já
em Fevereiro/2000, pH de 6,9, novamente dentro da faixa aceitável para a metanogênese.
Para a célula CMG, contudo, novamente foi observado um atraso na evolução do pH
em direção à neutralidade, sendo que somente em Maio de 2000, decorridos vinte meses de
aterramento dos resíduos, o valor do pH voltou a subir, alcançando a faixa metanogênica com
valor de 7,1.
Após alcançada a fase metanogênica, os valores de pH situaram-se em torno de 7,8
para a célula CMA e 7,7 para a célula CMG, apresentando pequenas variações,
principalmente até o final do monitoramento, conforme mostra a Tabela 6.4. Entretanto os
valores de pH apresentaram picos em torno de 8 para as células, principalmente para os meses
de maiores incidências pluviométricas, mostrando uma forte diluição quando comparados aos
meses antecedentes. Esses valores de pH já se encontram pouco acima da faixa ótima de
metanogênese, além de proporcionar um surgimento de teores mais elevados de NH3 (gás
amônia), que pode vir a dificultar o metabolismo das bactérias em função de sua toxidade.
A Figura 6.9 mostra os teores de pH para as células experimentais CPN e CSX em
função do tempo de aterramento dos resíduos, onde podem ser observados padrões
diferenciados na variação de seus valores. Com base nessa figura nota-se que os valores de
pH dos líquidos percolados das células CSX e CPN tiveram seus valores máximos e mínimos,
respectivamente, de 5,4 e 8,01 para a célula CSX, enquanto para a célula experimental CPN
observas-se valor máximo de 7,9 e mínimo de 5,2.
241
Tabela 6.4 - Teores de pH dos líquidos percolados das células CMA e CMG – 2000-2003
CMA CMG
Mês/Ano
2000 2001 2002 2003 2000 2001 2002 2003
jan 6,4 8,01 7,04 7,29 5,9 7,8 7,77 7,81
fev 6,9 7,66 6,92 7,65 6,3 7,57 7,53 7,73
mar 7,1 7,3 7,36 7,45 6,2 7,8 7,27 7,8
abr 7,5 7,56 8,05 7,28 6 7,6 8,06 7,89
mai 8,2 7,6 7,6 7,35 7,1 7,5 7,4 7,59
jun 8,1 - 7,56 7,7 7,81
jul 8 7,8 7,62 - 7,7 7,9 7,5 -
ago 7,9 8,36 7,35 - 7,2 8,19 7,49 -
set 7,9 7,96 7,8 - 7,9 7,94 7,95
out 7,9 8,01 7,99 - 7,4 8,01 8,09
nov 7,4 8,15 7,82 7,8 7,6 8,27 7,96 7,7
dez 8,04 8,06 8,01 - 7,89 7,83 8,05
Fica evidenciado, pelos estudos realizados que os valores de pH dos percolados das
células quando das suas estabilizações se situaram na faixa de 5,2 e 6,6, nos primeiros 16
meses de aterramento para a célula CSX e nos vinte primeiros meses para a célula CPN,
sendo essa faixa um indicativo de predominância da fase acetogênese. Essa fase se caracteriza
da pela presença de organismos anaeróbios e facultativos (bactérias acetogênicas) que
hidrolisam e fermentam materiais putrescíveis produzindo compostos solúveis como ácidos
graxos voláteis e amônia. Nesta fase, que pode durar anos, o percolado gerado pelo aterro tem
elevada DBO e a relação DQO/DBO maior que sete. Como observado nos líquidos
percolados provenientes das células, nessa fase a concentração de amônia é relativamente
elevada e líquidos percolados apresentaram forte odor característico. Além disso, a célula
CPN apresentava bastante espuma, características de predominância de fase ácida. Como
pode ser observado na Figura 6.9, este período de aterramento dos resíduos se caracterizou
por um aumento gradativo do pH, e em seguida um brusco aumento nos valores de pH
provocado pela diluições dos líquidos percolados, tendo em vista que este aumento se
processou no período de maior pluviosidade/infiltrações. Após este período foi alcançada a
fase metanogênica, os valores de pH situaram-se em torno de 7,8 para a célula CSX e 7.7 para
a célula CPN, apresentando pequenas variações até o final de Julho/2003.
242
8,50
7,50
7,00
pH
6,50
6,00
5,50
5,00
4,50
mar/02
mar/03
abr/02
mai/02
abr/03
mai/03
jun/03
nov/01
nov/02
out/01
jan/02
jul/02
out/02
jan/03
ago/01
ago/02
dez/01
dez/02
fev/02
fev/03
set/01
set/02
DATA
243
entre os líquidos percolados e as precipitações-L/PPT (18,5 %), ainda assim houve uma
diminuição do valor registrado do pH dos líquido percolado.
A confrontação dos resultados obtidos para o dreno da célula experimental CPN,
composto por uma camada de pneu ao longo de sua base e pneu picotado na vala principal, e
do dreno natural, composto por uma camada de 20 cm de seixo rolado, posicionada na base da
célula CSX, indica que os dois sistemas funcionaram com eficiência ao longo de todo período
de observação no que se refere à liberação dos líquidos percolados. Porém, o modo de
funcionamento desses sistemas com relação ao padrão de qualidade do percolado foi
diferenciado. A forma de funcionamento desses dois sistemas conduziram determinados
parâmetros a comportamentos variados que, em função da estreita relação entre as variáveis
que compõem uma massa de resíduos e as variáveis do sistema de drenagem, acabam por
alterar completamente as condições internas do percolado, com reflexos nas determinações
dos diversos parâmetros analisados, principalmente nos valores de pH. Enquanto para o dreno
da célula CSX existiu uma tendência de estabilização do pH do percolado com o tempo de
degradação dos resíduos, baixos teores de pH foram obtidos na célula CPN após longo
período de aterramento dos resíduos, evidenciando uma maior interação entre o chorume e a
camada de pneus utilizados no sistema de drenagem.
Cabe ainda salientar que o mesmo comportamento na determinação do pH do
percolado oriundo da célula CPN foi evidenciado para a caixa armazenadora de resíduos C2,
conforme será visto no item 6.3.
244
DQO serão significativamente menores. Em aterros sanitários jovens a DQO dos líquidos
percolados podem apresentar valores altíssimos.
Os valores de DQO determinados nas células experimentais foram relativamente altos,
o que já era esperado, devido a grande percentagem de matéria orgânica presente nos resíduos
sólidos utilizados. Também apresentaram grandes variações ao longo do tempo de
aterramento, com redução de valores de DQO para todas as células ao logo do tempo. A
Figura 6.10 apresenta os valores obtidos para a DQO dos líquidos percolados provenientes
das células em função das datas das análises realizadas.
1200
1140 CMA CMG
Centenas
1080
1020 CP N CS X
960
CONCENTRAÇÃO (mg/L)
900
840
780
720
660
600
540
480
420
360
300
240
180
120
60
0
jul/01
dez/99
dez/00
jun/99
jun/00
abr/02
ago/02
mai/03
jan/02
mar/99
set/99
mar/00
set/00
mar/01
out/01
fev/03
nov/98
nov/02
DAT A
Figura 6.10 – Valores de Demanda Química de Oxigênio dos percolados coletados a partir das
células experimentais.
245
Os dados coletados mostram que os líquidos percolados das células constituem uma
emissão potencialmente poluente que exige um tratamento apropriado, onde os valores
encontrados são muitos superiores aos de efluentes de esgotos urbanos, com variações
sazonais.
A Figura 6.11 mostra a evolução dos valores de DQO para os líquidos percolados das
células CMA e CMG. Apesar de apresentarem valores diferenciados, o padrão de variação das
duas células é muito semelhante, de forma que os períodos de elevação e decréscimo dos
teores na maioria das vezes são coincidentes, apenas com a diferença nos valores causada
pelos níveis diversos de atividades bacteriológica.
96
88
80
72
64
Milhares
56
mg/L
48
40
32
24
16
8
0
jul/01
nov/01
fev/01
abr/01
set/01
jun/99
jun/00
jun/03
nov/98
ago/99
dez/99
ago/00
dez/00
jan/02
out/99
ago/02
dez/02
out/00
out/02
fev/99
mar/02
abr/99
fev/00
abr/00
mai/02
fev/03
abr/03
Data
CMA CMG
Figura 6.11 - Valores de Demanda Química de Oxigênio dos percolados coletados a partir das
células experimentais CMA e CMG.
246
16800 mg/l, sendo verificada uma queda na DQO da célula CMG, que registrou 25500 mg/l.
A primeira observação que fica evidente na Figura 6.11 é que os valores de DQO verificados
na célula CMA são sempre menores do que os observados para a célula CMG, fato
diretamente relacionado a ação depurativa da camada de areia, que por meio de intensa
atividade biológica ali implantada, atenua praticamente todos os contaminantes analisados.
A Tabela 6.5 mostra os valores médios da DQO para as duas células, durante os
períodos de chuva e seca abrangidos pela pesquisa. De modo relativamente homogêneo, os
valores da DQO nas duas células seguem em elevação até meados de Maio de 1999, quando
são registrados os maiores valores ao longo da pesquisa. Esse fato é verificado no fim da
estação chuvosa onde houve interrupção da infiltração que tende a diluir os compostos
orgânicos, proporcionando uma elevação dos níveis de DQO no início da estação seca. Os
líquidos retidos no interior das duas células começam a ser liberados, originando vazões
intermediárias, entre o período chuvoso e o seco, conduzindo compostos orgânicos em altas
concentrações que se refletem nos índices de DQO.
Com a redução contínua das vazões na estação seca, o volume de percolados não é
suficiente para lixiviar todos os compostos orgânicos contidos no interior dos resíduos, de
modo que é verificada uma queda nas faixas de DQO, apesar destes valores serem maiores do
que os observados durante o período chuvoso. Esses teores muitos elevados da Demanda
Química de Oxigênio verificado para a célula CMG, em oposição aos valores registrados na
célula CMA, refletem bem as condições internas que predominaram nas células no período
seco.
Os valores de pH ácidos medidos na célula CMG, aliado aos elevados teores de
nitrogênio amoniacal, dificultaram a degradação dos compostos orgânicos no interior dos
resíduos, uma vez que tais condições eram inibitórias para o desenvolvimento de bactérias
metanogênicas, responsáveis pela conversão dos compostos orgânicos em metano. Dessa
forma, a existência de compostos orgânicos não estabilizados no interior dos resíduos refletiu-
se diretamente nos teores de DQO. Para a célula CMA, contudo, as condições internas de pH
e nitrogênio amoniacal não se constituíram em um empecilho para o início da fase
metanogênica, de modo que a atividade microbiana foi bem mais eficiente, diminuindo a
concentração dos compostos orgânicos e, por conseqüência, os teores de DQO.
Com o cessar das chuvas, a tendência é o pH retornar a valores próximos a
neutralidade, estabilizando novamente o ambiente para a atividade das bactérias
metanogênicas, que voltam a atuar sobre os compostos orgânicos. Para a célula CMA, já em
Fevereiro de 2000, o pH se encontrava na faixa de 6,9, dentro do limite aceitável para os
247
microrganismos metanogênicos, de modo que os teores de DQO assumem uma tendência
decrescente. No caso da célula CMG, somente em Maio de 2000 os valores de pH entraram
dentro da faixa limite, alcançando valores de 7,1. Dessa forma, a falta de condições que
permitiam aos microrganismos estabilizar parte dos compostos orgânicos no interior da célula
CMG é bem refletida nos elevados teores de DQO.
Tabela 6.5 – Valores médios da Demanda Química de Oxigênio nas células experimentais ao
longo das estações seca e chuvosa abrangidas pela pesquisa.
DQO (mg/L)
Período Precipitação (mm)
CMG CMA
Nov/98 a Abr/99 447,7 43608 31830
Abri a Set/99 32,6 62590 36469
Set/99 a Abr/00 1431,9 31086 14790
Abr a Ago/00 105,9 30580 4330
Out/00 a Abr/01 1356 3333 3201
Mai a Set/01 80 2138 1598
Out/01 a Abr/02 1315 3251 2287
Mai a Set/02 77 9025 9350
Out/02 a Abr/03 1130,7 3629 3403
Mai e Jul/03 8,7 1850 2004
Desse modo, a Figura 5.59 mostra bem que os teores de DQO variam muito ao longo
dos meses, sofrendo grande influência da atividade dos microrganismos no interior da célula,
bem como da infiltração de águas das chuvas.
Em relação às células CSX e CPN, os valores de DQO dos líquidos percolados
variaram muitos ao longo do monitoramento, conforme ilustra a Figura 6.12. Valores
acentuados de DQO foram registrados durante os dezessete primeiros meses de aterramento
dos resíduos para as duas células. Neste período também foram registrados elevados teores de
nitrogênio amoniacal e baixos valores no pH. Conforme já relatado, os valores de pH ácidos
medidos nas células, aliado aos elevados teores de nitrogênio amoniacal, dificultaram a
degradação dos compostos orgânicos no interior dos resíduos, uma vez que tais condições
eram inibitórias para o desenvolvimento de bactérias metanogênicas, responsáveis pela
248
conversão dos compostos orgânicos em metano. Dessa forma, a existência de compostos
orgânicos não estabilizados no interior dos resíduos refletiu-se em parte nos teores de DQO.
A partir de Janeiro de 2003, onde a relação entre os líquidos percolados e as
precipitações apresentava seus maiores valores, houve uma queda acentuada nos valores
medidos de DQO. Esse fato foi verificado na estação chuvosa, onde foram registradas grandes
infiltrações que tendem a diluir os compostos orgânicos, proporcionando uma variação nos
níveis de DQO. Entretanto, a partir deste período até junho de 2003, fica evidente uma
considerável redução nos valores de DQO, situando–se na faixa de 16000 a 25000.
120
100
80
Milhares
mg/L
60
40
20
set/01
dez/01
ago/01
nov/01
out/01
mai/02
jul/02
mai/03
jan/02
fev/02
mar/02
set/02
dez/02
jan/03
fev/03
mar/03
jun/03
abr/02
ago/02
nov/02
out/02
abr/03
Data
CPN CSX
Figura 6.12 - Valores de Demanda Química de Oxigênio dos percolados coletados das células
experimentais CSX e CPN.
249
nas figuras. Entretanto, a disposição dos resíduos sólidos nas células CMA e CMG encerrou
no mês de agosto de 1998, o que permite afirmar que os resíduos dispostos encontram-se
numa fase mais adiantada do processo de digestão anaeróbia, a qual se caracteriza pela
geração de um liquido percolado com menor carga orgânica, quando comparados às células
CSX e CPN.
Cabe salientar que os elevados valores detectados nos líquidos provenientes das
células experimentais em áreas de disposição de resíduos com as características do aterro de
resíduos do Jóquei Clube, irão propiciar a contaminação do solo de base e de águas
subterrâneas. Tendo em vista que os solos presentes na região do aterro do Jóquei não se
configuram como barreiras a atenuação, não sendo eficiente o bastante para evitar o avanço
dos contaminantes, isto poderá gerar problemas futuros ligados não somente à contaminação
do solo e da água, mas também à saúde pública.
Outro ponto que deve ser colocado diz respeito à degradação da matéria orgânica ao
longo da pesquisa, sendo que, naturalmente, com o avanço da degradação dos compostos
orgânicos, os teores de DQO tendem a diminuir, uma vez que a quantidade de oxigênio
necessária à estabilização dos compostos orgânicos presentes no interior do lixo é cada vez
menor. Esse fenômeno pôde ser observado na presente pesquisa. Quando se comparam os
valores da DQO para as células e considerando-se o tempo de aterramento dos resíduos,
percebe-se que os teores relativos as células CMA e CMG são bem inferiores aos registrados
para as células CPN e CSX. Para as células, apesar dos teores terem decrescido com dois
anos de aterramento, e mesmo 5 anos para as células CMA e CMG, estes ainda podem ser
considerados elevados, principalmente quando comparados aos reportados na literatura.
Os valores bem mais elevados de DQO registrados para a célula CPN refletem
diretamente as condições adversas que prevaleceram no interior da célula, quando os baixos
valores de pH e os elevados níveis de nitrogênio amoniacal dificultaram o desenvolvimento
de bactérias que são responsáveis pela degradação da matéria orgânica.
Pelas condições internas mais favoráveis que predominaram ao longo de toda pesquisa
no interior da célula CMA é de se esperar que a matéria orgânica contida nos resíduos se
encontre em um estágio de degradação mais avançado do que a presente no interior da célula
CMG.
A influência da infiltração de águas superficiais nos valores obtidos para a Demanda
Química de Oxigeno é por vezes antagônica, podendo diminuir ou elevar os índices de DQO.
Comumente, o que ocorre durante as estações de chuva é a diminuição dos valores em função
da diluição dos compostos, onde os valores médios de DQO durante as chuvas são menores
250
que os valore médios obtidos na estação seca anterior. Contudo, um outro fenômeno pode ser
observado também relacionado à infiltração de águas superficiais para o interior das células.
Durante chuvas muito extensas, o volume infiltrado pode se elevar, promovendo a lixiviação
dos compostos retidos no interior das massas, aumentando muito a concentração em solução
desses compostos. Com a continuidade das chuvas, porém, a tendência é a redução dos níveis
de DQO.
Os resultados das análises indicam que o processo de lixiviação que proporciona o
incremento dos teores de DQO está mais relacionado a eventos isolados de maior infiltração,
atuando assim em um período muito curto. Por outro lado, a diluição dos contaminantes
associa-se de maneira mais homogênea a toda estação chuvosa, impondo ao chorume valores
mais reduzidos de DQO nesses períodos. As chuvas acumuladas conduziram os níveis de
DQO do chorume nas células a valores progressivamente menores, sendo observada uma
elevação, principalmente para a célula CMG, no mês de Abril, quando as chuvas já não eram
tão freqüentes.
Conforme se pode observar na Figura 6.13 foi verificada uma boa correlação entre os
valores de pH e DQO dos líquidos percolados provenientes da célula CSX, onde o aumento
gradativo do pH implica numa diminuição dos valores da DQO. Entretanto, esta correlação
não é observada para os líquidos coletados da célula CPN até o início de 2003 (Figura 6.14).
120 9
8
100
7
80 6
Milhares
5
mg/L
pH
60 4
3
40
2
20 1
0
dez/01
ago/01
set/01
out/01
nov/01
jan/02
fev/02
mai/02
jul/02
ago/02
set/02
nov/02
jan/03
fev/03
mai/03
jun/03
mar/02
abr/02
dez/02
mar/03
abr/03
out/02
Data
CSX pH
251
120 9
8
100
7
80 6
Milhares
5
mg/L
pH
60 4
3
40
2
20 1
0
set/01
out/01
ago/01
nov/01
dez/01
jan/02
mar/02
mai/02
jul/02
jan/03
mar/03
mai/03
jun/03
fev/02
abr/02
ago/02
set/02
out/02
nov/02
dez/02
fev/03
abr/03
Data
DQO PH
6.2.4 SÓLIDOS
252
Tabela 6.6 - Teores de sólidos nos percolados das células.
CMA CMG CSX CPN
Mês/Ano
ST SS STD ST SS STD ST SS STD ST SS STD
Ago/01 12090 665 11425 17576 1367 16209 42901 2297 40604 30750 963 29787
Set/01 11584 305 11279 12642 1187 11455 45538 - - 32549 1942 30607
Dez/01 5765 895 4870 11253 129 11124 40970 2251 38719 31473 1865 29608
Fev/02 7543 157 7386 11253 129 11124 39446 2443 37003 29656 1479 28177
Mar/02 12123 121 12002 11366 152 11214 40751 2276 38475 31809 1616 30193
Jul/02 11587 119 11468 10345 204 10141 38324 1064 37260 34656 - -
Set/02 12108 137 11971 11308 137 11171 42341 2542 39799 34360 - -
Jan/03 5328 693 4635 6221 654 5567 23340 2165 21175 24668 1127 23541
Abr/03 6435 895 5540 6543 889 5654 26354 1678 24676 27474 1060 26414
Mai/03 10653 290 10363 9653 302 9351 24627 1287 23340 28546 965 27581
Jun/03 11789 141 11648 11876 157 11719 22865 1160 21705 26016 876 25140
Obs: teores em mg/L
Como pode ser visto na Tabela 6.6, os teores de sólidos sofrem grandes variações ao
longo da pesquisa, sendo que duas tendências gerais são verificadas: i) os teores nas fases
iniciais da pesquisa foram maiores do que os medidos na fase final e, ii) os teores durante as
estações chuvosas são menores do que os obtidos ao longo do período seco. Os valores mais
elevados durante os períodos secos se justificam pela menor diluição nessas épocas, quando
as vazões são bem menores.
Considerando que os sólidos totais são a soma de sólidos suspensos e sólidos totais
dissolvidos, verifica-se que a contribuição dos sólidos suspensos na formação dos sólidos
totais são maiores para as células CSX e CMG, fato que pode ter contribuído para os valores
de DQO e amônia obtidos nessas células. A célula CPN apresenta os maiores valores para os
sólidos dissolvidos, isto é, os valores de sólidos fixos passam a contribuir com uma maior
parcela para a formação dos sólidos totais, o que também influenciou nos valores de DQO dos
líquidos percolados desta célula. As Figuras 6.15 e 6.16 mostram alguns detalhes na
execução dos ensaios para a determinação dos sólidos.
253
Figura 6.15 - Detalhes da execução dos ensaios para a determinação dos sólidos.
Figura 6.16 - Detalhes dos cadinhos e papel filtros utilizados nos ensaios para a
determinação dos sólidos.
254
Com relação à cor dos percolados pôde-se perceber que os percolados das células
CMA, CMG e CSX apresentavam cor castanha amarelada, com maior intensidade para os
percolados provenientes da célula CSX. Observou-se também que o percolado da célula CPN
apresentou cor negra durante todo o monitoramento da pesquisa. Esse percolado também
apresentou odores mais acentuados que os demais, certamente influenciado pela interação dos
percolados com o sistema de drenagem.
A cor mais clara apresentada pelo percolado da célula CMA é conseqüência do efeito
de filtração dos próprios resíduos, de seus sistemas de drenagem/filtração, da diluição
determinada pelas infiltrações e da idade da célula experimental.
6.2.5 CONDUTIVIDADE
255
Os resultados obtidos para as células, referentes a este parâmetro, sugerem que as
altas concentrações de carga orgânica, expressas em DQO, contribuíram para a elevação da
condutividade no estagio inicial de aterramento dos resíduos durante os 16 primeiros meses.
A comparação do comportamento da condutividade dos líquidos percolados das
células CSX e CPN mostra que em ambos os casos os valores apresentaram variações
significativas, conforme mostrado na Tabela 6.7. Os valores de condutividade nos líquidos
percolados da célula CMA oscilam mais lentamente do que os da célula CMG, evidenciando
claramente as tendências decrescentes dos valores. Tal comportamento é condizente com os
estágios mais avançados da degradação dos resíduos. Já os valores de condutividade obtidos
para as células CSX e CPN mostram rápidas oscilações de grandes amplitudes durante os dois
primeiros anos de monitoramento e uma evidente tendência ao decréscimo durante o último
ano. Com base nisso, é possível concluir que os resíduos dispostos nas células CMA e CMG,
encontram-se na fase metanogênica estável e que os resíduos da célula CSX e CPN estão na
fase inicial do processo de estabilização.
256
monitoramento do avanço da pluma. Para tanto, os valores gerados a partir do lixo devem ser
bem superiores ao padrão normal do ambiente, de modo que a inserção de cloretos oriundos
do lixo nos vários componentes do meio, principalmente água subterrânea, produza valores
anômalos que servirão de suporte a toda uma campanha de monitoramento. A Figura 6.17
ilustra o comportamento dos teores de cloreto para os percolados oriundos das células.
As análises indicaram que a produção de cloretos a partir das massas dos resíduos
constitui-se num bom indicador para o avanço de uma pluma de contaminação, uma vez que
os teores registrados ao longo da pesquisa são elevados. Nas células experimentais, os
menores valores registrados para o chorume produzido foram de 130 mg/l e 180 mg/l nas
células CMG e CMA, em Janeiro de 2003, após um período muito chuvoso. Contudo,
normalmente os teores encontrados no chorume são muito superiores a estes, com valores
médios de 1774 mg/l na célula CMA e 2778 mg/l na célula CMG, considerando todos os
períodos abrangidos pela pesquisa.
5500
5000
CPN CSX
4500 CMA CMG
CONCENTRAÇÃO (mg/L)
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
mar/99
mar/00
mar/01
abr/02
jun/99
jun/00
mai/03
jul/01
nov/98
nov/02
out/01
jan/02
ago/02
dez/99
dez/00
set/99
set/00
fev/03
DATA
Como pode ser visto na Figura 6.17, os teores de cloretos sofreram grandes variações
ao longo da pesquisa, sendo que os teores durante as estações chuvosas foram menores do que
os obtidos ao longo do período seco e, os teores nas fases iniciais da pesquisa foram maiores
do que os medidos na fase final das análises. Este fato fica menos evidente para os percolados
provenientes da célula experimental CPN (Figura 6.18). Os valores mais elevados durante os
períodos secos se justificam pela menor diluição dos cloretos nessas épocas, quando as vazões
257
são bem menores. Com relação ao fato dos valores médios no final da pesquisa serem
menores do que os registrados no início, está é uma tendência natural de todos os
contaminantes, uma vez que, com a estabilização dos compostos orgânicos, o ritmo das
reações no interior das massas diminui, com teores de contaminantes cada vez menores.
O decréscimo dos teores de cloretos está associado a uma diminuição progressiva dos
líquidos produzidos a partir das células. Esse tipo de comportamento indica que os teores
máximos dos contaminantes estão associados a uma certa quantidade ótima de líquidos, de
forma que, quando em excesso os líquidos diluem os contaminantes propiciando o surgimento
de concentrações mais baixas. Por outro lado, em condições de umidade muito baixa, os
líquidos presentes não são suficientes para dissolver e lixiviar os contaminantes, conduzindo
também à concentrações menos elevadas. Dessa forma, a transição entre as estações chuvosa
e seca, propicia o surgimento das condições ótimas de umidade no interior do lixo, para que
os compostos sejam lixiviados, quando sempre é verificado um aumento dos teores de
contaminantes. Com o avanço da estação seca, a falta de lixiviação proporcionada pela
pequena quantidade de líquidos faz com que as concentrações dos contaminantes aumentem
pelo acúmulo dos compostos no interior das massas, até que estas atingem valores tão
elevados que mesmo em condições de pouca umidade, os líquidos presentes acabam por
dissolver uma quantidade maior de contaminantes, elevando seus teores de concentração.
Outro ponto que chama à atenção na Figura 6.18 é a diferença encontrada entre
valores de teores de cloreto nas células. Nos primeiros meses de aterramento dos resíduos, os
valores encontrados para os teores de cloreto nas células CMA e CMG são superiores aos
encontrados nas células CSX e CPN. A célula CSX não apresentou picos acentuados, sendo
que seus valores se enquadram dentro das faixas reportadas na literatura, enquanto os picos
das demais células ficam fora dessa faixa de valores.
Na grande maioria das vezes, a concentração de cloretos na célula CMG foi maior do
que na célula CMA. Essa diferença pouca acentuada deva-se a virtude dos cloretos serem
reconhecidamente pouco atenuados pelo solo ou por atividade bacteriológica, sendo inclusive
essa baixa retenção uma das propriedades mais importantes dos cloretos, que justificam sua
utilização como traçadores.
O comportamento relativamente paralelo das curvas apresentadas na Figura 6.17, no
entanto, indica que a camada de areia no fundo da célula CMA, juntamente com a maior
atividade bacteriológica presente na célula, influenciou os teores finais de cloreto. Com o
passar do tempo essa influência persiste, conforme pode ser visto comparando-se a diferença
entre os valores após o enchimento das células.
258
4200
3600
3000
mg/L
2400
1800
1200
600
0
ago/01
out/01
nov/01
dez/01
set/01
ago/02
out/02
nov/02
dez/02
fev/02
set/02
fev/03
jan/02
mar/02
abr/02
mai/02
jul/02
jan/03
mar/03
abr/03
mai/03
jun/03
Tempo de aterramento
CSX CPN
Estação Chuvosa
seca
Figura 6.18 – Evolução dos teores de cloretos ao longo da pesquisa para as células CSX e
CPN
259
água da chuva, porém aspersões de água eram realizadas semanalmente, conforme descrições
no Capítulo 4.
260
Tabela 6.9 - Parâmetro do percolado utilizado nas caixas armazenadoras.
Parâmetro Chorume Utilizado
pH 7,3
Cloreto 1100
Amônia 805
Nitrato 66,4
DQO 3450
Os resultados obtidos para os teores de nitrato e amônia para as caixas podem ser visto
nas Figura 6.19 e 6.20.
9
800
8
600
7
mg/L
pH
400
6
200 5
0 4
out/01
jan/01
jul/01
fev/01
jun/01
ago/01
set/01
nov/01
dez/01
mar/01
abr/01
mai/01
jul/02
ago/02
nov/02
out/02
dez/02
jan/02
fev/02
mar/02
abr/02
mai/02
set/02
Data
Amonia nitrato pH
Figura 6.19 – Teores de nitrato e nitrogênio amoniacal para a caixa C2.
261
300 9
250 8
200
7
mg/L
pH
150
6
100
50 5
0 4
out/01
jan/01
jul/01
fev/01
jun/01
ago/01
set/01
nov/01
dez/01
mar/01
abr/01
mai/01
jul/02
ago/02
nov/02
out/02
dez/02
jan/02
jan/03
fev/02
mar/02
abr/02
mai/02
set/02
fev/03
Data
pH Amônia Nitrato
262
nos teores de amônia, apesar das aspersões terem sido iniciadas a partir do segundo mês de
disposição dos resíduos. Com as aspersões na célula existiu uma maior possibilidade de
oxigenação da massa dos resíduos e, com isso, uma maior transformação de amônia em
nitrato, embora esta tendência não tenha sido observada no percolado da caixa C2.
Nos percolados oriundos das duas caixas fica evidente a instabilidade em relação aos
teores de amônia e de nitratos com o passar dos meses. A caixa C1 apresentou, ao longo da
pesquisa, teores de amônia e nitratos bem inferiores ao dos percolados provenientes da caixa
C2. Esta diferença de valores é acentuada principalmente no iniciou da disposição dos
resíduos.
Nas análises efetuadas na primeira carga de percolado liberado pela caixa C1 foram
observados baixos valores nos parâmetros analisados. Comparando-se os valores de amônia e
nitrato desta análise com os valores obtidos do percolado proveniente da Caixa C2, verifica-se
uma defasagem de cerca de 25% para o nitrogênio amoniacal. No entanto, para os valores de
nitratos essas diferenças não são tão acentuadas.
Esse elevado índice inicial de retenção está associado principalmente ao processo de
saturação da camada de drenagem da Caixa C1 e início da interação entre o percolado e as
partículas do entulho britado, onde a atenuação da amônia é feita principalmente pela
atividade biológica e por processos de troca catiônica. No caso da atuação de microrganismos,
a atenuação da amônia pela conversão em nitritos e nitratos é condicionada à disponibilidade
de oxigênio. Desse modo, os processos de trocas catiônicas combinados a processos de sorção
passam a ser os principais fatores na atenuação da amônia. Entretanto, quanto maior o tempo
de contato entre as soluções e as partículas do entulho, menos eficiente é a atenuação.
Cabe salientar que os fatores responsáveis pela atenuação no percolado da caixa C1
estão relacionado à atividade de microrganismos que se desenvolvem sobre a parte superficial
263
da camada de entulho e também em seu interior, formando uma espécie de filtro biológico ou
lodo ativo, e ainda nas reações químicas entre o chorume e o material de concreto do dreno, o
qual, ao interagir com o chorume propicia a atenuação, alterando a cor aparente do percolado,
removendo compostos orgânicos biodegradáveis e aumentando o pH. Ao longo do tempo,
contudo, esse processo é minimizado, tendo como conseqüência à elevação dos teores de
nitrato e amônia e o decréscimo no valor do pH. Cabe salientar ainda que, como visto no
item 6.1.2 desta Tese, o entulho britado apresentou um ambiente alcalino quando submerso
em água (pH=8,7) e os pneus picotados, também submersos em água, sofreram um leve
decréscimo de pH com decorrer do tempo.
Desta forma, os teores dos contaminantes do percolado pela camada de entulho britado
são invariavelmente menores do que os medidos a partir do percolado pelo dreno em pneu
picotado. Partes do nitrogênio orgânico coloidal e o suspenso podem ter sido removidas por
sedimentação e filtração e a maior parte da amônia pode ter sido removida inicialmente por
troca iônica na superfície do entulho britado. Parte do nitrato formado durante a fase de
saturação do sistema de drenagem pode ter sido desnitrificado quando se estabeleceu a
condição anaeróbia com a saturação do meio.
Comparando-se os teores iniciais de nitrato e amônia nas caixas com o valor no
percolado introduzido, verifica-se que em nenhum momento da pesquisa os teores de amônia
do percolado das caixas foram superiores ao teor introduzido. Este fato pode ser explicado
pela elevada oxigenação da caixa e/ou a interação do percolado com o seu sistema de
drenagem ou ainda a remoção de nutrientes devido ao contato do chorume com a matriz de
entulho e a sua capacidade de adsorção. Contudo, cabe salientar que para um ambiente onde a
possibilidade de entrada de oxigênio é muito grande, como era o caso das caixas na época das
análises, os teores de nitrato tenderiam a ser mais elevados que as determinações efetuadas,
visto que o meio com oxigênio permite a oxidação da amônia. Entretanto o sistema de
drenagem da caixa C1 praticamente teve sua saturação mantida por todo o monitoramento,
onde grande parte do nitrogênio total fica na forma de nitrogênio amoniacal. Isto se deve em
parte a condição do dreno ficar sob a condição anaeróbia.
Existe também uma forte tendência do percolado gerado a partir da massa dos resíduos
na caixa C2 ter sido fortemente influenciado na sua composição pela interação com o sistema
de drenagem compostos por pneus picotados. Foi observado que o percolado coletado na
caixa C2 apresentou uma forte cor negra e odor bem característico. Esse raciocínio também
vale para as células experimentais e explica porque a elevação dos teores de nitrato nas
células ocorreu na mesma ordem de grandeza da observada nas caixas, apesar do volume
264
muito maior de resíduos aterrado e dos teores bem mais elevados de amônia verificados.
Acontece que o volume de líquidos no interior das células também é muito maior do que o
presente nas caixas, havendo diluição das concentrações, além do fato das camadas de
cobertura das células serem bem mais eficientes, no tocante a evitar a oxigenação.
Nos mês de setembro de 2001, após nove meses de disposição dos resíduos, observou-
se uma elevação significativa nos teores de nitrato com uma redução dos teores de amônia
para a caixa C2, indicando que ocorreu um suprimento extra de oxigênio para o interior das
caixas, que permitiu a oxidação da amônia com formação de nitrato. Neste período a
alimentação de água por aspersão foi menor, ocasionando maior oxigenação e com isso a
concentração de nitrato aumentou rapidamente, com valores maiores que no período anterior.
De Outubro/2001 a Janeiro/02 novamente as curvas de nitrato tomaram uma tendência
descendente, enquanto os teores de nitrogênio amoniacal se elevaram. Isso se deveu ao fato de
que no período de Outubro a Janeiro as aspersões foram elevadas e conseqüentemente
produziram maiores carreamentos de substâncias contidas nos resíduos e no dreno, o que
tende a alterar a concentração amoniacal, aumentando a concentração de nitrogênio
amoniacal.
Para a caixa C1 não foram observadas variações bruscas nos teores de nitrato e
amônia, onde pudesse ser detectada a entrada de oxigênio no meio. Para esta caixa a variação
uniforme dos teores de nitrato e amônia, mesmo durante o período seco, sugerem que houve
uma grande interação entre o liquido percolado e seu sistema de drenagem.
Os pH das duas caixas apresentaram comportamento antagônicos, conforme ilustra a
Figura 6.21. Enquanto o percolado da caixa C1 se manteve na maioria do tempo com valores
próximos a neutralidade, com tendência à alcalinidade, os percolados provenientes da caixa
C2 mostraram-se bastante ácidos. Pela figura percebe-se que na primeira análise, cerca de 45
dias após o enchimento das caixas, o valor de pH do liquido percolado da caixa C1 se
encontrava bastante alcalino (8,4), com tendência de queda nos três meses subseqüentes, a
partir de quando se observa uma leve estabilização próximo à neutralidade. O pH alcalino de
8,4 e a elevada temperatura no dreno de 35 oC evidenciam que parte do nitrogênio amoniacal
se encontra sobre a forma de amônia livre. Isso tem importantes conseqüências ambientais,
pois a amônia livre é tóxica.
O percolado proveniente da Caixa C2 apresentou um pH inicial ácido ao longo dos 15
primeiros meses de disposição dos resíduos, quando então se observa uma tendência à
neutralidade. Entretanto, a partir de Março de 2001, os valores de pH se elevam,
permanecendo na faixa ótima para a implantação da metanogênese (entre 6,8 e 7,4).
265
9
7
pH
6
C1 C2
5
jan/01
abr/01
ago/01
out/01
nov/01
mar/01
mai/01
dez/01
fev/01
set/01
jul/01
mar/00
dez/00
mar/02
fev/00
set/00
fev/02
jun/00
jan/00
abr/00
ago/00
out/00
nov/00
jan/02
mai/00
jul/00
Data
266
6.3.2 DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO
30 8
25
7
DQO (mg/L)
20
Milhares
pH
15 6
10
5
5
0 4
jan/01
fev/01
nov/01
dez/01
mar/01
abr/01
mai/01
jul/01
ago/01
set/01
jun/01
out/01
jan/02
mai/02
out/02
fev/02
jul/02
ago/02
set/02
nov/02
dez/02
mar/02
abr/02
Data
DQO pH
267
10000 9
9000
8000 8
DQO (mg/L)
7000
7
6000
pH
5000
6
4000
3000 5
2000
1000 4
fev/01
set/01
jan/01
mar/01
abr/01
jun/01
ago/01
out/01
nov/01
mai/01
jul/01
dez/01
jan/02
mai/02
dez/02
fev/02
set/02
mar/02
abr/02
jul/02
ago/02
out/02
nov/02
Data
DQO pH
aspersão -10L/semana aspersão – 2,5 L/semana
268
intensa do processo de evaporação e ainda pelo menor volume de chorume em contado com o
material do sistema de drenagem. Com isso, os líquidos liberados não eram suficientes para
dissolver e lixiviar os compostos orgânicos presentes no interior dos resíduos e drenos, não
obstante o efeito da diluição causado pelo excesso de líquidos também tenha ocorrido, como
pôde ser também verificado em várias ocasiões para a célula experimental.
O percolado oriundo da caixa C2 apresentou valores ascendentes de DQO até junho de
2001, com faixas de variação entre 11500 e 26790 mg/L, a partir de onde se verifica um
decréscimo progressivo nos valores. O decréscimo dos valores registrados foi uma
conseqüência das variações da degradação da matéria orgânica presente na caixa.
Em Janeiro de 2002 foram observados baixos valores de DQO, em torno de 11.700
mg/L, e em Dezembro valores da ordem de 5500 mg/L. Entretanto, estes valores, quando
comparados a valores reportados na literatura, ainda aprestam uma elevada carga. Nesse
ponto vale acentuar novamente o limite que separa os processos de lixiviação dos
contaminantes, que tende a aumentar os valores de DQO, da diluição, que os diminui. Em
virtude das aspersões ocorridas pouco depois das amostragens, o volume precipitado não foi
grande o suficiente para promover uma lixiviação dos compostos acumulados nas caixas. De
fato, as condições muito secas do solo de cobertura e das próprias massas de lixo retiveram a
maior parte dos líquidos infiltrados, tanto que, dos volumes precipitados sobre as caixas,
menos de 70% foram liberados pelos sistemas de drenagem, sendo o restante perdido por
evaporação ou retidos no interior das massas de lixo.
Os valores de DQO do percolado oriundo da caixa C1 variaram de 1750 a 8610 mg/L,
sendo bastante irregulares durante todo o experimento. Da mesma maneira que a amônia,
nitrato e pH, as determinações da demanda química de oxigênio apresentaram valores que
dependeram de inúmeros fatores e podem ter sido afetados pela temperatura, aspersões, pelas
substâncias presentes nos drenos, etc. Tudo isso leva a intuir-se que a DQO na caixa C1 não
deve manter relações rigorosas com fatores específicos, mas será função de todo um conjunto
de características da amostra.
É importante ressaltar ainda que os limites de vazão que separam os processos de
lixiviação da diluição não são necessariamente os mesmos para todos os contaminantes.
Assim, contaminantes mais solúveis, como os cloretos, necessitam de uma menor quantidade
de líquidos para serem dissolvidos, enquanto compostos orgânicos necessitam de um volume
maior de água para serem lixiviados.
Os volumes reduzidos de lixo depositados nas caixas, associados ao fato de não haver
perda de água precipitada via escoamento superficial, tornou as caixas muito susceptíveis às
269
variações climáticas. Dessa forma, os limites de vazões que separam a ocorrência dos
processos de lixiviação de compostos (que promovem a elevação da DQO) e diluição (que
provoca a redução dos teores) por vezes são transpostos em um espaço muito curto de tempo,
devido às grandes variações nas vazões registradas. Com isso, variações bruscas dos teores de
Demanda Química de Oxigênio também podem existir, dependendo da época em que as
análises são feitas.
É interessante observar os resultados obtidos para os valores de amônia e DQO.
Comparando os resultados, pode-se notar que as tendências muitas vezes se apresentaram
opostas. A Figura 6.24 mostra que, em geral, a demanda química de oxigênio diminuiu em
patamares quando o nitrogênio amoniacal aumentou. É importante frisar que são reportados
na literatura aumentos de DQO coincidentes com aumentos de nitrogênio amoniacal.
49500 1000
45000 900
40500 800
36000 700
31500 600
mg/L
mg/L
27000
500
22500
400
18000
13500 300
9000 200
4500 100
0 0
out/01
jan/01
jul/01
fev/01
jun/01
ago/01
set/01
nov/01
dez/01
mar/01
abr/01
mai/01
jul/02
ago/02
nov/02
out/02
dez/02
jan/02
jan/02
fev/02
mar/02
abr/02
mai/02
set/02
fev/02
Data
6.3.3 CLORETOS
Mesmo com o pequeno volume de resíduos depositado nas caixas, o teor de cloretos
obtido ao longo de toda pesquisa foi sempre muito elevado. Os menores teores registrados
situaram-se em torno de 700 mg/L, para a caixa C1, durante o inicio do monitoramento
(Janeiro de 2000), enquanto os maiores valores alcançaram 2540 mg/l e 2175 mg/l para as
caixas C1 e C2, durante o mês de abril de 2001. A Figura 6.25 ilustra as variações de cloretos
durante os meses de observações.
270
A evolução dos cloretos nas caixas mostrou-se relativamente similar ao observado nas
células experimentais (campo), seguindo as tendências de valores mais elevados durante o
inicio dos ensaios, e redução desses teores com o passar do tempo. As aspersões registradas
certamente contribuíram para os valores medidos, com predomínio da diluição dos sais. Nas
menores aspersões é verificado um aumento progressivo dos teores causado pela redução
constante do volume de líquidos no interior das caixas, aumentando a concentração dos
contaminantes.
Na caixa C1 foi verificado que a mobilidade dos cloretos no dreno de entulho foi
confirmada ao longo dos ensaios, onde um valor elevado de retenção foi observado apenas no
início da disposição dos resíduos, quando o dreno capturou a maioria dos contaminantes por
um período muito reduzido de tempo. Rapidamente os teores de atenuação decresceram,
alternando períodos com maior e menor atenuação, conforme ilustra a Figura 6.25.
No caso da caixa C2, o principal processo de atenuação natural que atuou sobre os
cloretos foi a diluição.
Deve-se ressaltar que os teores médios de cloretos na célula C1, em relação à célula
C2, foram cerca de 30 % menores ao longo de toda pesquisa. Esses valores confirmam que
uma atenuação intensa ocorreu na camada de entulho da caixa C1, que conduz a uma redução
mais acentuada dos teores de cloretos. Contudo, os ensaios com os percolados mostram que a
mobilidade dos cloretos é elevada, o que confirma sua utilidade como um traçador, no
monitoramento do avanço de uma pluma de contaminação. Vale lembrar que os cloretos,
mesmo em teores muito elevado, não são prejudiciais à saúde pública.
2700
2500
2300
2100
1900
mg/L
1700
1500
1300
1100
900
700
abr/01
mar/01
out/01
jan/01
fev/01
set/01
mai/01
jul/01
jun/01
ago/01
nov/01
dez/01
jan/02
fev/02
set/02
jan/03
fev/03
mai/02
jul/02
ago/02
nov/02
dez/02
abr/02
mar/02
out/02
Data
Cloreto C1 Cloreto C2
271
Também de modo análogo ao observado nas células experimentais, os maiores teores
de cloretos foram observados para os percolados provenientes do sistema de drenagem
composto por pneu picotado. Para a caixa C2 foram registrados teores maiores do que para a
caixa C1, com uma evolução relativamente paralela dos valores, que induz a um raciocínio
direcionado à possibilidade de existência de um fator diferencial constante entre as duas
caixas. Como a única diferença entre ambas está na camada de dreno posicionada no fundo da
caixa, pressupõe-se que, o maior tempo de retardo dos líquidos no interior das massas, aliado
a uma atividade bacteriológica mais intensa, tenha agido sobre os cloretos, atenuando seus
valores.
Tanto nas células experimentais, como nas caixas armazenadoras, foi verificada uma
queda dos teores de cloreto com o passar do tempo. No entanto, os valores obtidos para as
determinações de cloreto a partir dos percolados das caixas armazenadoras foram muitos
menores que os teores dos percolados das células experimentais. Contudo, nas duas escalas,
mesmo após a atenuação de parte dos cloretos, os valores liberados foram sempre elevados, as
vezes muito superiores aos teores médios reportados na literatura.
6.3.4 SÓLIDOS
272
Como pode ser visto na Tabela 6.11, os teores de sólidos sofreram grandes variações
ao longo da pesquisa, sendo que duas tendências gerais são verificadas: i) os teores nas fases
iniciais da pesquisa foram maiores do que os medidos na fase final e, ii) A quantidade de
sólido retida em cada dreno se mostrou coerente com os sistemas de coleta e remoção de
percolado de cada caixa; iii) os teores durante as maiores aspersões são menores. Os valores
mais elevados durante as menores aspersões se justificam pela menor diluição nessas épocas,
quando as vazões são bem menores.
Considerando que os sólidos totais são a soma de sólidos suspensos e sólidos totais
dissolvidos, verifica-se que a maior contribuição dos sólidos suspensos na formação dos
sólidos totais ocorreram na caixa C1, fato que pode ter influenciado os valores dos parâmetros
analisados. A célula CPN e a caixa C2 apresentaram maiores valores para os sólidos
dissolvidos, isto é, os valores de sólidos fixos passam a contribuir com um maior peso para a
formação dos sólidos totais, o que também influenciou os parâmetros analisados. A Figura
6.26 mostra detalhes das cores dos percolados oriundos das caixas C1 e C2, antes da execução
dos ensaios para a determinação dos sólidos.
273
Inicio doda
Início
aterramento
Aspersão
Ficou evidente que a camada de entulho britado reteve a maior quantidade de sólidos,
o que é uma fator negativo sob o ponto de vista de possibilidade de colmatação do sistema
drenante.
274
CAPÍTULO 7
7.1 INTRODUÇÃO
275
a) Detalhes da escavações das células experimentais
Figura 7.1 – Detalhes das escavações das células experimentais CMA e CMG
276
A brita do sistema de drenagem interna apresentava-se relativamente limpa com a
presença de pequena porcentagem de solo argiloso de granulometria muito fina, enquanto a
areia subjacente aos resíduos se encontrava contaminada com matéria orgânica. O geotêxtil
enterrado apresentou estado de conservação perfeito, tanto na lateral como na parte superior,
sem serem observados rasgos ou perfurações, mostrando íntegras as fibras constituintes. A
abertura do dreno foi efetuada no mês de julho, período de seca no Distrito Federal, mas
verificou-se um volume de líquidos considerável quando da exumação do geotêxtil para
ensaios.
A camada de filtro da célula CMA, composta por uma camada de areia, apresentou-se
levemente contaminada por matéria orgânica e com a presença de finas partículas de solo,
infiltrado a partir da camada de cobertura.
O topo da camada de areia encontrava-se fortemente contaminada por substância preta
gelatinosa. Essa formação não era homogênea em toda a seção transversal do filtro e, em
poucos milímetros abaixo, encontravam-se porções de areia sem sinal de contaminação. À
medida que se aprofundava em direção ao dreno, observa-se que as áreas contaminadas
diminuíam bastante,isto é, a impregnação por matéria orgânica diminuiu consideravelmente
com a profundidade da camada de filtro (areia), sendo que na base apresentava-se com uma
aparência limpa. Na parte superior deste filtro observou-se também uma fina camada de
resíduos acumulados na sua superfície, principalmente nos contatos entre o filtro de areia e os
sacos plásticos de resíduos. Desta forma, fica comprovada a atenuação atribuída à presença de
uma atividade biológica intensa, que se desenvolveu na superfície e no interior da camada de
areia.
Para o geotêxtil posicionado no fundo da célula CMG, a inspeção visual permitiu a
observação de alguns aspectos diferenciados. Na maior parte do geotêxtil não havia a
presença de substâncias agregadas aos filamentos, salvo um pouco de solo que aderiu ao
geotêxtil durante o processo de escavação da célula. Em outros pontos, espalhados por toda a
manta pôde-se verificar a presença de solo agregado aos filamentos do geotêxtil, provenientes
da camada superior de cobertura, carreados com ajuda da infiltração das águas das chuvas.
Por fim, ocupando porções reduzidas ao longo do geotêxtil, sob a forma de pequenas manchas
escuras, aparecem substâncias de origem aparentemente orgânica fortemente incrustadas nos
filamentos.
O estado geral das fibras do geotêxtil estava preservado, mas evidenciou-se
deterioração de algumas fibras, talvez por ataque de microorganismos ou por esforços durante
o lançamento e compactação dos resíduos. As quantidades de poros desimpedidos permitem
277
afirmar que era efetivo o funcionamento do filtro de geotêxtil. Em nenhuma parte da manta
amostrada verificou-se cegamento, bloqueamento ou colmatação física do filtro que
comprometesse o sistema como todo. Pelas inspeções realizadas percebeu-se que o filtro do
sistema de coleta e remoção de percolados da célula CMG favoreceu a exigência de
condutividade hidráulica acima da exigência de retenção, tendo em vista que uma quantidade
pequena de sólidos atravessou o filtro, fato constato pela quantidade de material fino existe
nos drenos e acumulados nos tubos coletores. Portanto, o tamanho de abertura de filtração do
filtro geotêxtil foi suficiente grande para permitir um livre escoamento do percolado. Cabe
salientar que em virtude da rápida liberação do percolado, o filtro geotêxtil não permitiu um
grande acumulo de partículas no seu interior.
A Figura 7.2 ilustra o estado do geotêxtil após sua retirada das células, enfocando os
solos retidos e as manchas escuras de materiais misturados. Observações feitas no geotêxtil,
por meio do uso de uma lupa eletrônica revelam bem os três ambientes descritos
anteriormente.
Primeiramente, a foto da Figura 7.3 ilustra uma visão geral na maior parte do
geotêxtil, quando são observadas a presença de substâncias estranhas agregadas ao geotêxtil.
A Figura 7.4 ilustra a presença de partículas de solo agregados aos filamentos, sob duas
maneiras distintas. No centro, pode-se distinguir com facilidade a presença de uma grande
partícula de solo, cercada por uma massa de material mais claro. Esse comportamento
diferenciado provavelmente associa-se a diferenças temporais que existem entre os materiais
lixiviados, onde a partícula central com forma mais definida representa um solo lixiviado
recentemente, com uma migração rápida a partir da superfície. A massa de agregado que
aparece circundando a partícula maior deve ser um material lixiviado há mais tempo, o qual
sofreu a ação contínua da infiltração das águas que destruiu por completo sua estrutura, com
as micropartículas agregando-se aos filamentos do geotêxtil.
Uma visão detalhada das manchas escuras que constituem o terceiro aspecto
observado no geotêxtil revela a existência de agregados bem grosseiros, ressecados pela falta
de umidade e associados também a uma massa mais fina. Uma análise ainda mais apurada
revela a existência de substâncias aparentemente de origem biológica, remanescente de
partículas que provavelmente ocupavam áreas mais extensas do geotêxtil antes que os
processos de lixiviação promovessem a retirada desses materiais. As Figuras 7.3 e 7.4
ilustram as formações descritas anteriormente.
Assim, a inspeção visual mostrou que a camada de geotêxtil também está vulnerável a
diminuição de sua permeabilidade, em virtude do crescimento de microrganismos. Contudo, a
278
maior rapidez na liberação do chorume e a menor área disponível para o desenvolvimento das
bactérias, facilita o processo de lavagem e parece ter diminuído os riscos de colmatação
biológica.
Os teores de contaminantes do percolado pela camada de areia foram invariavelmente
menores do que os medidos a partir do chorume percolado pelo dreno sintético. O grande
fator responsável por essa atenuação está relacionado à atividade de microrganismos que se
desenvolveram sobre a parte superficial da camada de areia e também em seu interior,
formando uma espécie de lodo ativo, o qual, ao interagir com o percolado propiciou a
atenuação. Ao longo do tempo, contudo, esse processo certamente criará uma camada cada
vez mais espessa, composta por partículas precipitadas a partir do chorume e substâncias
orgânicas. A inspeção visual direta da areia acusou estes mecanismos, fato pouco notado até a
data das escavações, e notado apenas parcialmente no geotêxtil da célula CMG.
A aparência relativamente límpida dos filtros de areia e geotêxtil, relaciona-se com o
grande volume de água infiltrada para o interior das células, processo que ocorre devido a fina
camada de cobertura de solo e a fina camada de resíduos sólidos quando da abertura das
células. Assim, durante chuvas muito intensas, o elevado volume infiltrado de águas
provenientes de precipitações propiciou a lavagem da camada de areia e do geotêxtil,
dissolvendo as partículas sedimentadas e carreando-as para fora das células. Esse processo é
benéfico, por evitar o acúmulo de partículas sobre e no interior dos filtros, impedindo a
colmatação que prejudicam suas funções como materiais drenantes.
Deve-se ressaltar, porém, que o problema da colmatação parece ser mais grave para a
camada de areia, em virtude do maior tempo de contato entre o percolado e a camada de areia.
A menor velocidade de dissipação da carga hidráulica proporciona um maior tempo para a
sedimentação das partículas carreadas pelo percolado e ainda o desenvolvimento de
microrganismos, acarretando uma queda da capacidade drenante do filtro. Essa queda de
capacidade drenante do meio é um fenômeno que envolve mecanismos físicos, químicos e
químico-microbiologicos.
Outro ponto muito importante diz respeito aos efeitos negativos causados pela
infiltração da água para o interior dos resíduos. A entrada excessiva de água e ar para o
interior dos resíduos provoca alterações no ambiente interno das massas, que afetam
diretamente o desenvolvimento das bactérias anaeróbias, aumentando a velocidade de
degradação dos resíduos e as taxas de recalque. Além disso, a entrada exagerada das águas
das chuvas origina uma grande quantidade de percolado, podendo vir a sobrecarregar os
sistema de drenagem e tratamento do aterro. Deve ser acentuado que, devido ao potencial
279
contaminador do percolado e grande volume gerados em aterros sanitários, todos os esforços
devem ser voltados para que a sua produção seja mantida nos menores níveis possíveis.
Os tubos coletores dos sistemas de coleta e remoção de percolados das células
escavadas apresentaram um relativo acúmulo de partículas minerais em sua face externa,
provavelmente provocado pelo arraste no percolado (Fig. 7.5). No interior dos tubos coletores
amostrados não foi possível observar substancias sólidas agregadas às paredes, entretanto
apresentavam varias manchas ao longo de suas paredes. O tubo proveniente da célula CMG
apresentou algumas fissuras, provavelmente provocadas por pressão exercidas durante o
aterramento dos resíduos (Fig. 7.5).
As escavações demonstraram que as geomembranas se mostraram eficientes, sendo
capazes de conter os líquidos percolados sem sinais de degradação, aparentemente
apresentaram estanqueidade, resistência às intempéries e compatibilidade com os resíduos
aterrados. Não foi possível observar rasgos ou furos em sua superfície, o que demonstra a
compatibilidade com os esforços de instalação e operação de compactação dos resíduos.
280
Figura 7.2 – Detalhe de amostra de geotêxtil - célula experimental CMG
281
Aspersão
282
CAPÍTULO 8
CONCLUSÕES
283
base. Investigações de campo e laboratório já realizadas e reportadas na literatura
especializada enfatizam a necessidade de estudos aprofundados sobre os sistemas de coleta e
remoção de percolados de aterros sanitários.
A forma de disposição dos resíduos sólidos urbanos nos experimentos, a sua espessura
e compactação foram fatores de grande importância que controlaram o comportamento da
maioria dos parâmetros analisados. Esses elementos podem conduzir determinados
parâmetros a comportamentos variados que, em função da estreita relação entre as variáveis
que compõem uma massa de resíduos, acabam por alterar completamente as condições
internas da célula, refletindo-se nos recalques ocorridos, na produção de chorume, na
velocidade de degradação dos resíduos, na temperatura e na produção de gases, etc.
A forma de compactação dos resíduos, utilizando-se os procedimentos normalmente
adotados no Aterro do Jóquei Clube, fez com que os pesos específicos dos resíduos
compactados apresentaram grande variação nas células, refletindo-se nos valores analisados.
284
Entretanto considerando o peso específico médio de 4,0 kN/m3 para resíduos sólidos soltos e
o baixa altura das células experimentais, é possível afirmar, de forma simplificada e em uma
primeira análise, que ocorreu um ganho substancial de densificação dos resíduos com a
adoção do processo de compactação.
A qualidade dos líquidos percolados, avaliada por ensaios físico-químicos do material
realizados ao longo do tempo, apresentou alguns comportamentos e valores atípicos quando
comparados a valores apresentados na literatura, entretanto não tendo sido registrada
nenhuma alteração que pudesse ser associada aos resíduos e ao processo de compactação dos
mesmos.
285
8.1.5 SISTEMAS DE COLETA E REMOÇÃO DE PERCOLADOS.
286
como a rápida obstrução dos vazios intergranulares das camadas superiores do meio filtrante.
O filtro de areia também é muito sensível aos picos de turbidez e de sólidos suspenso. É
importante lembrar que o excesso de material em suspensão no percolado (afluente ao filtro),
seja de origem mineral ou devido à matéria orgânica tem como efeito a diminuição da duração
da filtração.
Os filtros de geotêxtil não tecido com gramaturas de 200 g/m2 e 150 g/ m2 utilizados
nas células CMG e CPN, respectivamente, apresentaram bom desempenho. Entretanto, cabe
salientar que, conforme experimentos realizados no laboratório de geotecnia ambiental da
UnB, quanto maior a espessura do geotêxtil não-tecido, maiores os riscos de acúmulo de
material em suspensão e colmatação. Tendo em vista a grande capacidade de aderência de
sólidos orgânicos às fibras e constrições do geotêxtil, é mais aconselhável utilizar geotêxteis
de menor espessuras quando se considerada a capacidade drenante, o bloqueamento e a
colmatação física.
Após cinco anos de uso consecutivo, a manta de geotêxtil utilizada na célula CMG não
apresentou qualquer sinal de desgaste ou deterioração, demonstrando grande resistência e
durabilidade para o uso de filtração em aterros sanitários.
Após a conclusão dos trabalhos de disposição dos resíduos nas células, uma camada
final de recobrimento de argila compactada (solo local) de 50cm foi executada, tendo como
função, além das já citadas para a cobertura diária, a de diminuir a taxa de formação de
percolado, controlar a saída de gases e a de servir de camada suporte para algum tipo de
investigação que porventura venha ser realizado no local. Camadas adicionais, como camada
de solo vegetal e a presença de camada de drenagem não foram executadas e incorporadas na
camada final das células. Como a camada de drenagem é opcional, sendo necessária somente
em locais onde existir um grande fluxo de água ou altas forças de percolação através da
camada de proteção, a mesma não foi instalada nas células.
O sistema de cobertura das células mostrou-se resistente a processos erosivos.
Entretanto, verificaram-se fissuras ou trincas provocadas por ressecamento, recalques
diferenciais ou compactação inadequada, principalmente nos meses de menor pluviosidade e
na célula CMA. Os resultados encontrados mostraram que a quantidade de líquidos
percolados é diretamente proporcional à quantidade de água que infiltra nesta camada e é
287
influenciada pelas condições de funcionamento desta camada protetora. É importante ressaltar
que, o recobrimento das células foi feito por uma camada com cerca de 50 cm de espessura,
compactada durante o período seco em sua umidade natural. Mesmo sem ter havido um
controle de compactação, a camada foi eficiente em diminuir a infiltração das águas das
chuvas. Durante os meses mais chuvosos o volume de chorume liberado correspondeu no
máximo, a 24 % do volume total de água precipitado sobre as células. Mesmo assim,
conforme mencionado anteriormente, uma série de mudanças aconteceram no interior das
células associadas à infiltração das águas como: diferenças de vazão entre períodos secos e
chuvosos, variações bruscas de temperaturas e decréscimo das taxas de recalques nos períodos
chuvosos.
Com relação à vegetação, esta tende a crescer naturalmente sobre as células em virtude
dos fertilizantes naturais encontrados no lixo, como nitratos e derivados da amônia.
Entretanto, durante o monitoramento das células foram evitados os crescimentos de algumas
plantas de maiores portes.
288
Observou-se também que a relação entre o volume de líquido percolado e as
precipitações ocorridas (L/PPT) apresentou valores diferenciados para as células, onde essa
relação resultante apresenta valores entre 0,7% e 44,2%, tendo os valores máximos
observados (31,7% e 44,2%) sido registrados nos meses de baixas precipitações.
Os resultados encontrados, por um lado, mostram que a quantidade de percolados
gerados e liberados é proporcional a quantidade de água que infiltra nas células e é
influenciada pelo tipo de sistema de coleta e remoção de percolado instalado. Por outro lado,
mostra também que esta infiltração é influenciada pelas condições de funcionamento da
camada protetora do sistema de cobertura e capacidade de campo dos resíduos ao longo do
tempo.
O valor da relação entre os líquidos percolados coletados e a precipitação (L/PPT) nas
células experimentais apresentou aumento gradativo anual ao longo do período de
monitoramento. Este aumento gradativo pode estar relacionado a uma diminuição
significativa na capacidade de campo das células, em virtude da degradação da matéria
orgânica e aparecimento de caminhos preferenciais e/ou uma maior infiltração das
precipitações ocorridas, devido a um menor escoamento superficial em decorrência dos
recalques superficiais. Da mesma forma que nos estudos realizados por Campbeel (apud
Canziani & Cossu, 1989) e Sobrinho e Azevedo (2001), a produção de líquidos percolados
nas células experimentais se mostrou muito sensível às características das camadas de
cobertura.
Nos meses de maiores precipitações as células CMA e CSX apresentaram as menores
relação entre o percolado gerado e as precipitações ocorridas, no entanto apresentaram
maiores valores nos períodos subseqüentes, evidenciando à capacidade reguladora de fluxo
das camadas de areias e do seixo rolado. Quando comparadas às células CPN e CMG, as
células CMA e CSX apresentaram menores velocidades de fluxo nos seus sistemas de coleta e
remoção de líquidos.
O percolado de aterros municipais contém nutrientes que encorajam o crescimento
bacteriano dentro dos resíduos, em filtros sintéticos e granulares, nos drenos e ao redor das
paredes dos tubos coletores. Assim, nos sistemas onde as velocidades de fluxo de percolados
são menores, em sistemas que apresentam baixos volumes de vazios e maior área de
superfície disponível para crescimento de biofilme, como na célula CMA, as probabilidades
da colmatação severas ocorrerem são maiores. A maximização dos vazios dentro da manta de
drenagem tende a aumentar a condutividade hidráulica inicial e reduz a probabilidade dos
vazios serem bloqueados. Entretanto, o carreamento de partículas sólidas oriundas da massa
289
de resíduos é consideravelmente maior, podendo comprometer o sistema como um todo,
principalmente em células de resíduos sem camada de filtro (célula CSX, por exemplo).
A célula CMG apresentou os melhores resultados se observamos os resultados de
sólidos contidos nos percolados e a rápida liberação dos fluidos pela célula. Neste mesmo
aspecto a célula CSX apresentou uma elevada velocidade de fluxo, no entanto os teores de
sólidos suspensos presentes nos líquidos percolados foram muitos elevados, demonstrando
um elevado carreamento de partículas sólidas para o sistema de coleta e remoção de percolado
e, conseqüentemente, uma grande possibilidade de obstrução de parte do sistema de coleta de
líquidos.
Cabe salientar que em virtude das características das células experimentais e durante
chuvas muito intensas, o elevado volume infiltrado propiciou a lavagem da camada de areia,
seixo e do geotêxtil, dissolvendo as partículas sedimentadas e carreando-as para fora das
células. Esse processo é benéfico, por impedir o acúmulo de partículas sobre e no interior dos
filtros e drenos, evitando a colmatação que prejudica sua função como material drenante.
A análise das vantagens e desvantagens de uma liberação mais rápida do percolado
passa necessariamente pelos objetivos específicos do sistema de drenagem e pela avaliação de
toda infra-estrutura do local onde os resíduos são depositados. Assim, uma rápida liberação do
chorume, propicia o surgimento de picos de vazão muito distantes das vazões normais,
ocorrendo a liberação de um grande volume de chorume em um curto espaço de tempo e em
alguns casos o grande carreamento de partículas sólidas da massa de resíduos para os drenos
como nos caso da célula CSX.
Já para o dreno de areia, a liberação do chorume se dá de maneira mais homogênea,
não obstante variações nas vazões também ocorram durante os períodos muito chuvosos. O
retardo na liberação dos efluentes pela ação da areia, proporciona um maior tempo de contato
entre os microorganismos responsáveis pela degradação anaeróbia e o chorume, propiciando
um processo de atenuação mais eficiente. Além disso, a menor velocidade na liberação dos
líquidos condiciona o surgimento de uma coluna de chorume mais espessa na base da célula,
o que causa a sedimentação de materiais suspensos sobre a superfície da areia. Sob o ponto de
vista de qualidade final do chorume, o uso da camada de areia é extremamente favorável,
dado os processos de atenuação citados anteriormente, porém, a retenção de contaminantes
associada ao desenvolvimento de colônias de bactérias na superfície e no interior da camada
de areia, além da precipitação de sedimentos em suspensão, certamente conduz a um processo
de colmatação.
290
As vazões percoladas pelas células experimentais, estimadas pelo método Suíço e
Balanço Hídrico (Rocca, 1981), indicam, para as distintas simulações, valores
sistematicamente superiores aos valores registrados no experimento. Apesar do caráter geral
dos métodos e das hipóteses simplificadoras assumidas, principalmente da utilização do
método do balanço hídrico para pequenas áreas, os resultados acabam sendo um importante
indicativo na geração dos líquidos percolados.
Quanto à liberação dos percolados nos materiais drenantes da escala intermediária,
verificou-se que a maior parte da geração desses efluentes foi causada pela introdução de
água, lixiviando os componentes na massa de resíduos e drenos.
Uma primeira análise poderia indicar que não houve nenhum tipo de processo de
colmatação nas caixas, contudo, as diferenças de teores dos contaminantes analisados para as
duas caixas indicam claramente que houve uma intensa atividade na camada de entulho da
caixa C1 e nos drenos compostos por pneu picotado.
Apesar das diferenças de velocidade na liberação de chorume existentes entre os
drenos de pneu e o dreno de entulho britado ter sido verificada, o efeito escala foi negativo no
que diz respeito a simular processos de colmatação nos drenos, em virtude das grandes
dimensões da vala onde foram instalados os drenos e do pequeno volume de resíduos
dispostos. Além disso, o chorume produzido em escala reduzida ou de laboratório
dificilmente pode ser comparado com o chorume produzido em escala de campo, podendo vir
a produzir resultados não compatíveis com a realidade. A solução mais plausível para
eliminar essa diferença, é a realização de ensaios em escalas menores, porém utilizando
chorume verdadeiro como o efluente que irá percolar os diferentes materiais drenantes.
A despeito da maior retenção de contaminantes proporcionada pelo dreno de entulho,
o dreno de pneu mostrou-se pouco eficiente, apesar de liberar com rapidez os líquidos
percolados, evitando o acúmulo de chorume no fundo da caixa e diminuindo os riscos de
colmatação, apresentou elevados valores de contaminantes provocados pela interação entre os
percolados e os pneus. Para a camada de entulho porém, em virtude de sua capacidade de
campo, e também do retardo na liberação do chorume, o desenvolvimento de
microorganismos e a sedimentação de materiais em suspensão é mais intenso, de modo que o
volume de líquidos necessários para promover a lavagem desse material seria bem maior do
que o necessário para lixiviar os compostos agregados à superfície do dreno de pneu.
291
8.8 MEDIÇÃO DA TEMPERATURA
As temperaturas medidas junto aos sistemas de drenagem das células são menos
elevadas do que as temperaturas dentro da massa de resíduos, a exceção das temperaturas
medidas no mês de outubro/01 e nov/01, onde as temperaturas nos drenos das células CSX e
CPN foram maiores que as registradas para as massas dos resíduos sólidos. As temperaturas
de modo geral também foram mais homogêneas ao longo da pesquisa, não obstante picos de
valores mais elevados também tenham sido observados.
292
8.9 RECALQUES NA MASSA DE RESÍDUOS
293
8.10 QUALIDADE DO PERCOLADO
A partir dos parâmetros analíticos empregados neste estudo, pode-se concluir que os
líquidos percolados ou chorume gerados pelo aterramento de resíduos sólidos urbanos
possuem constituintes característicos que apresentam-se em concentrações elevadas.
O pH do percolado é uma variável de controle de um aterro sanitário, tendo em vista
que, através dele, muitas vezes é possível identificar a fase de degradação na qual o material
nele disposto se encontra. No caso das células experimentais, entretanto, percebe-se
claramente que, os teores de pH provenientes dos líquidos percolados foram influenciados
pelos seus sistemas de coleta e remoção. Aparentemente existe uma relação entre o tipo de
sistema de coleta e remoção de percolado e o pH, tendo em vista que há um decréscimo e
acréscimo de pH específico para as células.
Os valores de pH variaram entre 4 e 8,5, sendo os menores valores observados na fase
inicial de operação das células. Embora o pH dos líquidos percolados tenha uma tendência
para a neutralidade, foram observadas grandes variações em suas medições, o que certamente
influenciou nas variações dos demais parâmetros analisados.
Cabe ainda salientar que na célula experimental CPN e a caixa C1 possuem sistemas
de coleta de percolado bastante diferenciados, o que certamente provocou modificações nas
medições de pH dos seus líquidos percolados. Os valores iniciais de pH para os percolados
provenientes da caixa C1 (camada de entulho britado) foram bastantes elevados quando
comparados a estagio inicial de degradação dos resíduos na fase ácida, com posterior quedas
progressivas nos valores com o tempo de degradação.
O comportamento do nitrogênio amoniacal e dos nitratos ao longo da pesquisa
indicam que o ambiente no interior das células experimentais foi predominantemente
anaeróbio, com elevados teores de nitrogênio amoniacal associados a teores menores de
nitratos. Porém, a anaerobiose foi parcialmente afetada durante os períodos chuvosos, quando
a infiltração de águas, que carregam em sua estrutura molecular uma pequena quantidade de
oxigênio dissolvido, permitiram que algumas bactérias anaeróbias facultativas ou aeróbias,
reativassem suas atividades promovendo a oxidação de parte da amônia e elevando os teores
de nitratos.
O comportamento de nitratos e nitrogênio amoniacal nas caixas da escala
intermediária também evidenciou a importância da entrada de ar a partir do meio externo.
Nessa escala, mesmo durante os períodos secos, valores alternados com altos e baixos teores
desses parâmetros deixam claro que, o meio externo foi a principal fonte de oxigênio extra
294
que permitiu a coexistência de bactérias aeróbias e anaeróbias, criando um ambiente bastante
instável. Em pequenos lixões, onde não há cobertura diária, e onde a espessura do lixo não é
elevada, é de se esperar um padrão de comportamento similar ao observado nas caixas,
reforçando ainda mais a importância da implantação de coberturas diárias sobre o lixo.
Análises mostraram que a menor atenuação do nitrogênio amoniacal pela célula CMG,
devido a uma menor atividade biológica, proporcionou o surgimento de teores de amônia
muito elevados, o que prejudicou a evolução natural da degradação anaeróbia por um
determinado período, quando o pH manteve-se relativamente ácido. Porém, o próprio
ambiente interno se ajusta de modo a alcançar um estado de equilíbrio, de modo que após essa
fase de ajustes, as condições internas da célula CMG se equivaleram às reinantes na célula
CMA.
Os valores de Demanda Química de Oxigênio observados nos percolados das células
experimentais foram relativamente altos, o que já era esperado, devido a grande percentagem
de matéria orgânica presente nos resíduos sólidos utilizados. Também apresentaram grandes
variações ao longo do tempo de aterramento, com redução de valores de DQO para todas as
células ao logo do tempo. Estes valores variaram de acordo com o período do ano, sendo que
os mais elevados geralmente foram encontrados durante a estação seca e logo após o
aterramento dos resíduos. As últimas análises realizadas nas células experimentais ainda
registraram valores altos de DQO, um indicativo que após quatro anos de degradação, uma
parcela significativa dos compostos orgânicos ainda deve ser degradada
O monitoramento dos cloretos também indicou que, de modo geral, os valores
medidos durante a estação seca são mais elevados do que na estação chuvosa, porém nos dois
períodos os teores médios são elevados. Esses teores elevados, associados a uma pequena
retenção dos cloretos pelo solo, comprovam a boa utilidade desse parâmetro como traçador,
no monitoramento do avanço da pluma de contaminação.
295
sobremaneira no comportamento dos líquidos percolados oriundos das massas aterradas.
Assim, reações químicas e biológicas entre os vários componentes desses drenos, processos
variados de infiltração, mudanças no ambiente interno das massas, influência de processos
operacionais, etc estão presentes quando se utilizam esses drenos.
A célula CPN apresentou valores muitos elevados de parâmetros físico-químicos
analisados, ficando evidenciado a necessidade de estudos específicos quanto à utilização de
pneus ou pedaços de pneus em sistema de drenagem sem sistema de impermeabilização
eficiente. No aterro de resíduos sólidos do Jóquei Clube de Brasília é comum o uso desses
materiais em sistemas de drenagem de percolados dos montes dos resíduos em contato direto
com o terreno natural.
Cabe ainda enfatizar que a possibilidade de utilização de um resíduo se avalia não
somente do ponto de vista das características técnicas necessárias à aplicação que se deseja,
mas também da perspectiva da possível impacto ambiental que possa causar, mesmo num
futuro muito longe. Sob esta ótica, fica enfatizado a necessidade de estudos mais
aprofundados sobre a interação dos percolados e estes sistemas de drenagem.
296
As análises foram efetuadas utilizando-se métodos calorimétricos que nem sempre são os
mais adequados para amostras com elevadas turbidez. Como o liquido percolado
apresentava colorações pardas a negra foi necessário diluir as amostras, o que,
provavelmente, pode ter afetado alguns resultados, pois quanto maior a diluição maior a
possibilidade de erros. Assim, sugere-se que novos procedimentos sejam investigados;
Fazer uma campanha experimental envolvendo a exumação dos elementos de coleta e
remoção de percolados, medir suas permeabilidades em laboratório e aferir a possível
perda de condutividade.
Análises numéricas dos resultados para avaliar programas numéricos existentes como
ferramentas de previsão de comportamentos do lixo e de sistemas de drenagem em áreas
de disposição de resíduos.
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