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INTRODUÇÃO À ELETRÔNICA DE POTÊNCIA

Profº Evandro de Carvalho Gomes1


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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão
evandrogomes@ifma.edu.br

Abstract – Este artigo apresentará uma introdução à


eletrônica de potência, descrevendo sua área de atuação e II. CIRCUITOS ELETRÔNICOS DE POTÊNCIA
interdisciplinaridade com outras áreas da engenharia
elétrica. Os conversores serão classificados e Circuitos eletrônicos de potência convertem a potência
exemplificados através de aplicações específicas e
aplicações encontradas no nosso cotidiano. Uma rápida elétrica de uma forma para outra usando dispositivos
abordagem das chaves semicondutoras será apresentada a eletrônicos semicondutores. Esses dispositivos eletrônicos são
fim de justificar o seu uso como elemento básico dos usados como chaves controlando ou modificando o valor da
circuitos eletrônicos de potência. tensão ou da corrente de um circuito. O projeto de
equipamentos de conversão de potência inclui várias
Keywords – Eletrônica de Potência; Conversores; Chaves disciplinas da área de engenharia elétrica. O avanço na
semicondutoras. capacidade dos dispositivos semicondutores de chaveamento
combinado com a vantagem de aumentar a eficiência e o
I. INTRODUÇÃO funcionamento dos dispositivos elétricos fez da eletrônica de
potência uma área importante e de rápido crescimento na
O controle do fluxo de energia elétrica entre dois ou mais engenharia elétrica. A finalidade de um circuito eletrônico de
sistemas elétricos distintos sempre foi uma das grandes potência é a de corresponder às condições da tensão e da
preocupações dos engenheiros ao longo da história da corrente da carga em função da fonte de alimentação. Esses
engenharia elétrica. Para realizar tal controle, sempre foram circuitos eletrônicos de potência são comumente chamados de
procurados métodos que permitissem rendimentos elevados, conversores, os quais funcionam como uma interface entre a
visto que normalmente eles são empregados no tratamento de fonte e a carga, conforme ilustrado na Fig.1 [4].
potências elevadas. O tiristor foi indubitavelmente um
componente que mudou a trajetória da engenharia e das
atividades industriais, repercutindo profundamente em todas
as atividades humanas, sobretudo as de natureza produtivas.
Milhares de produtos, equipamentos, processos e técnicas
foram concebidos e criados. Juntamente com o tiristor nasceu Figura 1 – Conversor eletrônico como interface.
a Eletrônica de Potência, como hoje é conhecida como ciência.
A eletrônica de potência pode ser definida como uma Os conversores são classificados conforme a relação entre a
ciência aplicada dedicada ao estudo dos conversores estáticos entrada e a saída:
de energia elétrica, ou melhor, a aplicação da eletrônica de Conversor CA/CC → Retificador;
estado sólido para o controle e conversão da energia elétrica. Conversor CC/CA → Inversor;
A eletrônica de potência trata da aplicação de dispositivos Conversor CC/CC → Chopper;
semicondutores de potência, como tiristores e transistores, na Conversor CA/CA → Controlador CA.
conversão e controle de energia elétrica em níveis altos de É o sentido da transferência de potência média que
potência. A eletrônica de potência pode ser considerada uma determina a classificação do conversor [3].
tecnologia interdisciplinar que envolve três campos básicos: a
potência, a eletrônica e o controle. Nas aplicações em que a
potência a ser controlada é grande, a eficiência de conversão
passa a ser importante. Uma eficiência baixa significa grandes
perdas, uma preocupação de caráter econômico, além de gerar
calor, que terá de ser removido do sistema para evitar
superaquecimento [1]-[2].
A eletrônica de potência é uma área de interligação entre
três áreas: a eletrônica que trata do processamento de sinais
analógicos e digitais; a eletrotécnica (potência) que estuda as
máquinas elétricas, os transformadores e as linhas de Figura 2 – Um conversor pode funcionar como um
transmissão; o controle automático que descreve as técnicas de retificador ou inversor, dependendo do sentido de
estabilidade de sistemas lineares e não lineares. A eletrônica transferência da potência média.
industrial, como primeiramente era chamada a eletrônica de
potência, estudava os componentes e circuitos eletrônicos de Na Fig. 2, se a bateria for carregada a partir da fonte, o
potência de uso industrial [3]. conversor é classificado com retificador. Se os parâmetros de

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funcionamento do conversor forem mudados e a bateria Uma chave ideal deve satisfazer as seguintes condições: a)
funcionar como fonte de alimentação para o sistema CA, o ligar e desligar instantaneamente; b) quando ligada, a queda de
conversor é classificado como inversor. tensão nela é zero; c) quando desligada, a corrente que passa
As principais funções dos conversores estáticos podem ser por ela é zero; d) não dissipa potência; e) quando ligada, deve
sistematizadas conforme descrito na Fig.3. suportar correntes elevadas; f) quando desligada, deve suportar
tensões elevadas; g) utilizar pouca potência para o controle da
operação; h) que seja altamente confiável; i) que seja pequena
e leve; j) que tenha baixo custo; k) que não requeira
manutenção.
Os tiristores podem ser divididos em oito tipos quanto a sua
estrutura física e princípio de funcionamento:
• Tiristor de comutação forçada;
• Tiristor comutados pela rede;
• Tiristor de desligamento pelo gatilho;
• Tiristor de condução reversa;
• Tiristor de indução estática;
• Tiristor de desligamento auxiliado pelo gatilho;
• Tiristor controlado pela luz;
• Tiristor controlado por MOS.

As chaves semicondutoras de potência, em sua maioria, são


controladas por um estágio de controle (circuito eletrônico
Figura 3 – Principais funções dos conversores estáticos. analógico, digital ou microprocessado) que define as regras
como o conversor deve tratar o fluxo de potência entre os
sistemas. Quanto às características de controle das chaves
III. AS CHAVES SEMICONDUTORAS DE POTÊNCIA
semicondutoras de potência, podemos ter:
Para realizar o controle do fluxo de energia elétrica entre os • Disparo e desligamento não controlado;
sistemas, foram concebidos inicialmente interruptores como • Disparo controlado e desligamento não controlado;
dispositivos de controle. Esses interruptores eram constituídos • Disparo e desligamento controlados;
por relés, contactores, reatores com núcleo saturáveis, • Necessidade de sinal contínuo de porta;
retificadores a arco, tiratrons, etc. A necessidade de • Necessidade de pulso de gatilho;
interruptores mais eficientes, compactos e rápidos levou ao • Capacidade de suportar tensão bipolar;
desenvolvimento de interruptores eletrônicos de estado sólido. • Capacidade de suportar tensão unipolar;
Assim, nos anos 60 foi desenvolvido o tiristor nos laboratórios • Capacidade de suportar corrente bidirecional;
da General Electric nos Estados Unidos. • Capacidade de suportar corrente unidirecional.
As chaves semicondutoras de potência são os elementos
mais importantes em circuitos de eletrônica de potência. Os Os dispositivos de potência são fornecidos como unidade
principais tipos de dispositivos semicondutores usados como ou em um módulo, conforme ilustrado na Fig.4. Um conversor
chaves em circuitos de eletrônica de potência são: diodos, de potência sempre requer dois, quatro ou seis dispositivos,
transistores bipolares de junção (BJT), transistores de efeito de dependendo de sua topologia. Os módulos oferecem as
campo metal-óxido-semicondutor (MOSFET), transistores vantagens de perdas mais baixas em estado de condução,
bipolares de porta isolada (IGBT), retificador controlado de características de chaveamento de altas tensões e correntes e
silício (SCR), triacs, transistores de desligamento por porta velocidades maiores que os dispositivos convencionais.
(GTO), tiristores controlados por MOS (MCT). Em eletrônica Alguns módulos ainda incluem proteção contra transientes e
de potência, esses dispositivos são operados no modo de ao circuito de excitação da porta ou do gatilho. Temos também
chaveamento. os módulos inteligentes, conforme ilustrado na Fig.5, que são
Uma chave eletrônica é caracterizada por ter dois estados: o estado da arte em eletrônica de potência, integrando o
ligado ou desligado, idealmente sendo ambos um curto- módulo de potência e o circuito periférico. O circuito
circuito ou circuito aberto. Aplicações usando dispositivos de periférico consiste de uma isolação entrada/saída e interface
chaveamento são desejáveis por causa de uma perda do sinal com o sistema de alta tensão, um circuito de
relativamente menor de potência no dispositivo. Se a chave for excitação, um circuito de diagnóstico e proteção (contra
ideal, ou a tensão ou a corrente é zero, então a potência excesso de corrente, excesso de tensão, curto-circuito, carga
absorvida por ela é zero. Os dispositivos reais absorvem aberta, sobreaquecimento), controle por microcomputador e
alguma potência quando estão no estado ligado e quando um controle da fonte de alimentação. Um módulo inteligente é
fazem transição entre os estados ligado e desligado, mas a também conhecido como Smart Power. Esses módulos estão
eficiência do circuito ainda pode ser bastante alta. sendo cada vez mais utilizados em eletrônica de potência [5].

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IV. APLICAÇÕES DA ELETRÔNICA DE POTÊNCIA

A eletrônica de potência já encontrou um lugar importante


na tecnologia moderna, sendo usada em uma grande variedade
de produtos de alta potência, incluindo controle de
aquecimentos, controle de iluminação, controle de máquinas
elétricas, fontes de alimentação, sistemas de propulsão de
veículos e sistemas de corrente contínua em alta tensão –
HVDC. Com a atual tendência no desenvolvimento de
dispositivos de potência e microprocessadores, é difícil definir
os limites para as aplicações da eletrônica de potência.
Podem-se citar algumas dentre várias aplicações dos
conversores de potência como: a) Fontes chaveadas; b)
Controle de motores de corrente contínua; c) Controle de
motores de corrente alternada (síncronos, de indução e a
relutância); d) Conversores para soldagem; e) Alimentação de
emergência; f) Carregadores de bateria; g) Retificadores para
eletroquímica; h) Transmissão em corrente contínua; i)
Figura 4 – Módulos de potência. Reatores eletrônicos para lâmpadas fluorescentes; j) Filtros
ativos de potência; k) Compensadores estáticos de potência
reativa; l) Controle de fornos indutivos e resistivos.
O objetivo das pesquisas em tecnologia de conversores é a
construção de conversores cada vez menores que possam
processar cada vez mais potência com alta eficiência. O
projeto de equipamentos de eletrônica de potência pode ser
dividido em quatro partes: 1) projeto dos circuitos de potência;
2) proteção dos dispositivos de potência; 3) determinação da
estratégia de controle e 4) projeto dos circuitos lógicos de
controle [5].

1) O processador de potência e a fonte de alimentação


chaveada.

Na Fig.6 é mostrado o diagrama de blocos de um sistema


genérico de eletrônica de potência. A potência de entrada para
o processador de potência é geralmente obtida de uma linha
monofásica ou trifásica da concessionária local na freqüência
Figura 5 – Módulos inteligentes: Smart Power. de 60Hz ou 50Hz. O ângulo de fase entre a tensão e a corrente
de entrada depende da topologia e do controle do processador
A escolha de um dispositivo de potência para uma dada de potência. A saída processada (tensão, corrente, freqüência e
aplicação depende não apenas dos níveis de tensão e corrente o número de fases) depende da necessidade da carga.
exigidos, mas também das características de chaveamento. Os Normalmente, um controlador por realimentação compara a
transistores e GTOs possibilitam o controle de ligamento e saída do processador de potência com um valor desejado, e o
desligamento, os SCRs possibilitam o ligamento, mas não do erro entre os dois é minimizado pelo controlador
desligamento e os diodos de nenhum. As velocidades de
chaveamento e as perdas de potência associadas são muito
importantes nos circuitos de eletrônica de potência. O BJT é
um dispositivo com portadores minoritários, enquanto o
MOSFET é um dispositivo com portadores majoritários que
não tem portadores minoritários armazenados em atraso,
dando ao MOSFET uma vantagem nas velocidades de
chaveamento. Os tempos de chaveamento de um BJT podem
ser maiores que os do MOSFET. Portanto, o MOSFET tem em
geral perdas menores e é preferido em relação ao BJT.
Ao escolher um dispositivo de chaveamento adequado, a
primeira consideração é o ponto de operação exigido e as
características de ligamento e desligamento. Figura 6 – Diagrama de blocos de um sistema eletrônico de
potência.

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Em qualquer processo de conversão de potência como a está ligado e na posição quando o transistor está desligado
mostrada no diagrama de blocos da Fig.6, uma pequena perda durante o intervalo . Como conseqüência é igual a e
de potência e conseqüentemente uma maior eficiência de zero durante os períodos e , respectivamente,
energia é importante devido duas razões: o custo da energia conforme mostrado na Fig.9b.
desperdiçada e a dificuldade na remoção do calor gerado
devido à energia dissipada, além da redução do tamanho, peso
e custo. Os objetivos anteriores não são facilmente
conseguidos pela eletrônica linear onde os dispositivos
semicondutores são operados na região ativa e um
transformador de linha é usado para isolação elétrica. Como
exemplo, considere a fonte de alimentação linear mostrada na
Fig.7 que gera uma tensão de saída regulada para a carga. A
tensão de entrada pode ser tipicamente 120V a 240V e a
tensão de saída pode ser, por exemplo, 5V(dc). A saída é, em
geral, eletricamente isolada da entrada. Nas fontes de
alimentação lineares, um transformador de linha é usado para
fornecer esse isolamento elétrico e reduzir a tensão da rede
elétrica. O retificador converte a tensão alternada da saída do Figura 8a – Fonte de alimentação chaveada com tensão de
transformador em uma tensão contínua pulsante. O filtro entrada ca.
capacitivo reduz as oscilações na tensão dc de saída do
retificador. O transistor é controlado a fim de absorver a
diferença de tensão entre e , fornecendo uma tensão de
saída regulada. O transistor opera na sua região ativa como um
resistor variável, resultando uma baixa eficiência de energia. O
transformador é relativamente grande e pesado.

Figura 8b – Fonte de alimentação chaveada com tensão de


entrada dc.

Figura 7 – Fonte de alimentação dc linear.

Na eletrônica de potência, a regulação de tensão acima e a


isolação elétrica são conseguidas, por exemplo, por meio do
circuito mostrado na Fig.8a. Neste sistema, a entrada é
retificada para uma tensão dc , sem um transformador de
linha. Através da operação do transistor como uma chave
(totalmente ligada ou desligada) com alta freqüência de
chaveamento, a tensão dc é convertida em uma tensão ca Figura 9a – Circuito equivalente da fonte de alimentação
na freqüência de chaveamento. Isso permite a utilização de um chaveada com chave de duas posições.
transformador de alta freqüência para reduzir a tensão da rede
e proporciona a isolação elétrica requerida pelo sistema. A fim
de simplificar o circuito para análise, começaremos com a
tensão dc como a tensão de entrada e omitiremos o
transformador, resultando no circuito equivalente mostrado na
Fig.8b.
É suficiente dizer neste estágio que a combinação do
transistor-diodo pode ser representada por uma chave de duas
posições hipotética conforme mostrado na Fig.9a. A chave
está na posição durante o intervalo quando o transistor Figura 9b – Forma de onda da tensão .

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Podemos definir a tensão como: • Painéis solares que são responsáveis por transformar
energia solar em eletricidade;
(1) • Controladores de carga que funcionam como válvulas
para o sistema. Servem para evitar sobrecargas ou
Onde é o valor médio de e é a tensão de descargas exageradas na bateria, aumentando sua
oscilação instantânea, com valor médio zero. Os elementos L e vida útil e desempenho;
C formam um filtro passa-baixas que reduz a oscilação na • O inversor, cérebro do sistema, responsável por
tensão de saída e passa a média da tensão de entrada, assim: transformar os 12V (CC) das baterias em 110V ou
220V (AC), ou outra tensão desejada. No caso de
(2) sistemas conectados, também são responsáveis pela
sincronia com a rede elétrica;
Onde é a tensão de saída média, definida por: • Baterias que armazenam a energia elétrica para que o
sistema possa ser utilizado quando não há sol.
1 (3) Enquanto um sistema isolado necessita de baterias e
controladores de carga, sistemas conectados à rede
funcionam com painéis e inversores, já que não precisam
Como a tensão de entrada varia com o tempo, a equação (3) armazenar energia.
mostra que é possível regular a tensão no valor desejado
através do controle da razão , que é chamado ciclo de
trabalho da chave transistorizada. Normalmente é
mantido constante e é ajustado.
Há muitas características importantes nesse sistema de
regulação chaveado. Uma vez que o transistor opera como
chave, totalmente ligada ou totalmente desligada, a perda de
potência é minimizada. Claro que há perdas de energia cada
instante que o transistor chaveia de um estado para outro.
Assim a perda de potência devido o chaveamento é
linearmente proporcional à freqüência de chaveamento. Mas
mesmo assim essa perda de potência de chaveamento é muito
menor que a perda de potência nas fontes de alimentação
linear. Nas altas freqüências, o transformador e os
componentes do filtro são muito pequenos em dimensões e
pesos comparados com os elementos das fontes lineares.
A seleção da freqüência de chaveamento é ditada pelo
compromisso entre a dissipação de potência no chaveamento
no transistor e o custo do transformador e filtro. Uma Figura 10 – Sistema Fotovoltaíco.
importante observação no circuito descrito acima é que ambas
a entrada e a saída são dc, ou seja, temos um exemplo de
aplicação de um conversor CC-CC. 3) Os conversores nos sistemas de energia eólica.
2) Os conversores nos sistemas de energia solar. A turbina eólica, devido à característica de velocidade
variável do vento, não consegue transformar a energia do
Um sistema de energia solar fotovoltaico, também chamado vento em energia mecânica mantendo a rotação do eixo
de sistema de energia solar ou, ainda, sistema fotovoltaico, é constante. Em função desta característica é necessário
um sistema capaz de gerar energia elétrica através da radiação construir um grupo gerador eólico-elétrico que seja capaz de
solar. Existem dois tipos básicos de sistemas fotovoltaicos: gerar energia elétrica e entregar a rede com freqüência
sistemas isolados (Off-grid) e sistemas conectados à rede constante. Outra característica importante do grupo gerador
(Grid-tie). Os sistemas isolados são utilizados em locais eólico-elétrico é a baixa rotação desenvolvida pela turbina
remotos ou onde o custo de se conectar a rede elétrica é eólica. Estas características fazem com que a tecnologia de
elevado. São utilizados em casa de campo, refúgios, projeto e fabricação do grupo eólico-elétrico apresente
iluminação, telecomunicações, bombeio de água, etc. Já os particularidades diferentes dos grupos convencionais de
sistemas conectados à rede substituem ou complementam a geração de energia elétrica. Existem, basicamente, duas
energia elétrica disponível na rede elétrica. filosofias tecnológicas aplicadas atualmente aos grupos eólico-
Um sistema fotovoltaico possui quatro componentes elétrico, ou seja: Os grupos eólico-elétricos assíncronos e os
básicos: grupos eólico-elétricos síncronos. Conforme observado na
Fig.11a, as várias configurações dos grupos eólicos-elétricos

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utilizam conversores para a conexão do sistema eólico à rede 4) Os conversores nos veículos híbridos.
elétrica [7].
Na Fig.12 está ilustrado um sistema de alimentação e
acionamento de um veículo elétrico. As baterias são
carregadas por um conversor que recebe uma tensão ac
senoidal de uma linha monofásica ou trifásica. As baterias
fornecem potência aos motores ac de velocidade variável para
propulsionar o veículo. As velocidades dos motores ac são
controlados pela variação da freqüência de entrada. Inversores
produzem tensões de saída ac trifásicas de freqüência e
amplitude variável para controlar a velocidade dos motores ac
e do veículo. Um conversor cc-cc reduz a tensão da bateria
para os níveis dc requeridos pelo sistema eletrônico do
veículo.

Figura 12 – Sistema de alimentação e acionamento de um


Figura 11a – Conexões dos geradores eólicos à rede elétrica veículo elétrico.
através de conversores.
5) Os conversores nos notebooks.
Na Fig.11b é ilustrado esquematicamente o controle de um
conversor CA-CC-CA, tipicamente utilizado em sistemas Um sistema de alimentação para um laptop está ilustrado na
eólicos, em duas malhas fechadas, uma de corrente e uma de Fig.13.
rotação.

Figura 13 – Sistema de alimentação de um laptop.

Uma bateria de lítio alimenta o sistema e vários conversores


cc-cc alteram a tensão da bateria para as tensões requeridas
11b – Funcionamento esquemático do conversor. pelas cargas. Um conversor Buck produz uma baixa tensão dc
requerida pelo microprocessador. Um conversor boost

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aumenta a tensão da bateria para o nível desejado do disco Exemplo 2: Uma fonte dc está fornecendo energia para uma
rígido. Um inversor produz uma alta tensão ac de elevada carga resistiva de 10 através de uma chave. Determine a
freqüência para acionar a luz do display. Um carregador com potência fornecida à carga ! , a perda de potência na chave
transformador de isolação converte a tensão ac da rede em 1 , a potência total fornecida pela fonte se a chave
uma tensão dc para carregamento da bateria [8]. estiver: a) fechada; b) aberta; c) fechada 50% do tempo; d)
Dessa forma, podemos observar que os circuitos fechada 20% do tempo.
conversores de potência possuem uma vasta área de aplicação Solução 2:
e que cresce a cada dia. Uma das coisas que torna o campo da a) Com a chave fechada
eletrônica de potência interessante é a incorporação e Tensão na carga ! 100
interdisciplinaridade de diversas outras áreas do conhecimento Potência na carga ! 100$ ⁄10 1&'
conforme mostrado na Fig.14. Perda de potência na chave 1 0'
Potência fornecida pela fonte 1&'

b) Com a chave aberta


Tensão na carga ! 0
Potência na carga ! 0'
Perda de potência na chave 1 0'
Potência fornecida pela fonte 0'

a) Com a chave fechada 50%


Tensão na carga ! 50
Potência na carga ! 50$ ⁄10 250'
Figura 14 – Interdisciplinaridade da eletrônica de potência. Perda de potência na chave 1 0'
Potência fornecida pela fonte 250'
V. EXEMPLOS, SIMULÇÕES E RESULTADOS
a) Com a chave fechada 20%
Exemplo 1: Uma fonte dc de 100V está fornecendo energia Tensão na carga ! 20
para uma carga resistiva de 10 através de um reostato. Potência na carga ! 20$ ⁄10 40'
Perda de potência na chave 1 0'
! , a potência
40'
Determine a potência entregue à carga
Potência fornecida pela fonte
dissipada no reostato " , a potência total fornecida pela
fonte e a eficiência se o reostato for ajustado para: a) 0 ;
Como mostra esse exemplo, toda potência fornecida pela fonte
b) 10 ; c) 100 . é transferida para a carga. A eficiência de transferência de
Solução 1: potência é, portanto, de 100%. Aqui, naturalmente, supõe-se
a) Tensão na carga ! 100 que uma chave seja ideal, mas, quando usamos um transistor
$⁄
Potência fornecida à carga ! 100 10 1&' como chave, o resultado é muito próximo da operação do
Potência dissipada no reostato " 0' circuito ideal.
Potência fornecida pela fonte ! " 1&'
Eficiência ( ! ⁄ . 100 100%
VI. EXERCÍCIOS
b) Tensão na carga ! 10.100/20 50
Potência fornecida à carga ! 50$ ⁄10 250' 1. Pesquise e descreva a revolução da eletrônica em
Potência dissipada no reostato " 250' 1948 com a invenção do transistor de silício e o
Potência fornecida pela fonte ! " 500' surgimento da eletrônica de potência com o
( ! ⁄ . 100 50%
Eficiência desenvolvimento do tiristor em 1958.
2. Defina a eletrônica de potência.
c) Tensão na carga ! 10.100/110 9 3. O que justifica a substituição dos transistores de
Potência fornecida à carga ! 9$ ⁄10 8,1' junção bipolar por transistores MOSFETs nas fontes
Potência dissipada no reostato " 91.19 ⁄100 82,2' de alimentação chaveadas atuais?
Potência fornecida pela fonte ! " 90,9' 4. Quais as vantagens dos módulos de potência?
Eficiência ( ! ⁄ . 100 8,9% 5. Quais as vantagens e desvantagens dos módulos
inteligentes?
Fica claro com esse exemplo que a eficiência da transferência 6. Explique por que uma chave é superior a um reostato
de potência da fonte para a carga é muito baixa. Observe que é para o controle da potência elétrica entregue a uma
somente 50% no caso b. carga.

As questões 7 – 18 são baseadas no artigo [9].

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7. Qual o objetivo principal do artigo “Power
Electronics and Motor Drives – Recent Technology
Advances” escrito pelo Dr. Bimal K. Bose?
8. Cite as aplicações da eletrônica de potência que estão
expandindo com o desenvolvimento tecnológico.
9. Cite as aplicações da eletrônica de potência na área
de acionamento de máquinas.
10. Quais as vantagens obtidas, com ajuda da eletrônica
de potência, na melhoria da eficiência energética dos
equipamentos elétricos?
11. O que tem contribuído para o progresso da eletrônica
de potência?
12. Qual o marco inicial para a eletrônica de potência
moderna?
13. Cite as datas de introdução das chaves
semicondutoras na eletrônica de potência.
14. Qual chave semicondutora inventada após o SCR
teve um importante papel na história dos dispositivos
semicondutores de potência?
15. Quais as vantagens dos conversores PWM?
16. Qual a técnica de controle extensivamente aplicada
na indústria?
17. Cite alguns métodos de controle adaptativo utilizados
em equipamentos elétricos de potência.
18. Cite as aplicações da lógica Fuzzy na eletrônica de
potência.

REFERENCES

[1] BARBI, Ivo. Eletrônica de Potência. 6ª Ed. Florianópolis – SC:


INEP – UFSC. 2006.
[2] AHMED, Ashfaq. Eletrônica de Potência. 2ª reimpressão, São
Paulo: Pearson Prentice Hall. 2006.
[3] ALMEIDA, José Luiz Antunes de. Eletrônica de Potência. 2ª Ed.
São Paulo: Editora Érica. 1986.
[4] HART, Daniel W. Eletrônica de Potência – análise e projeto de
circuitos. 1ª Ed. São Paula: Editora McGraw Hill. 2012.
[5] RASHID, Muhammad H. Eletrônica de Potência: Circuitos,
Dispositivos e Aplicações. 1ª Ed. São Paulo: Makron Books.
1999.
[6] MOHAN, Ned, et all. Power Electronics: Converters,
Applications and design, Third Edition”, John Wiley, 2002.
[7] F. Rüncos, R. Carlson, P. Kuo-Peng, H. Voltolini, N. J. Batistela.
“Geração de energia eólica – tecnologias atuais e futuras”.
Florianópolis – SC: WEG máquinas, C. P. 2006.
[8] ERICKSON, Robert W. & MAKSIMOVI‚, Dragan.
Fundamental of Power Electronics. 2nd Ed. New York:
Kluwer Academic Publishers. 2001.
[9] B. K. Bose. “Power Electronics and Motor Drives – Recent
Technology Advances”. IEEE Proceedings of Industrial
Electronics, pp. 22-25. Vol.1. 2002.

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