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MÉTODO DE ANÁLISE SOBRE AS CONDIÇÕES DE TRABALHO EM

ALTURA EM UMA REFORMA DE TROCA DE COBERTURA

Aluno: Sidney Rosa Junior


Orientador (a): Polyana Fernandes

RESUMO

O presente trabalho de cunho qualitativo e exploratório teve como objetivo principal


observar se os serviços de reforma de troca de cobertura de uma empresa observaram e
aplicaram as recomendações da NR 35 de forma a garantir condições adequadas de
trabalho e proteção da integridade física dos seus trabalhadores nos trabalhos em altura.
A partir de análises in loco dos procedimentos, constatou-se da observância ou não dos
tópicos normativos. Buscou-se apontar medidas de prevenção para os trabalhos em
altura com o intuito de minimizar possíveis acidentes. A principal conclusão foi de que
não foram adotadas as precauções necessárias e que os trabalhadores ficaram expostos a
diversos tipos de acidentes.
Palavras-chave: NR 35. Trabalho em altura. Acidente de trabalho.

1. INTRODUÇÃO

A indústria da construção civil teve um grande crescimento no Brasil e no mundo nos


últimos anos, vivendo um dos seus melhores momentos e sendo um importante pilar
para a economia e geração de empregos no país.
Junto ao crescimento da construção civil vieram os elevados números de acidentes de
trabalho. Uma maneira que colabora para isto ocorrer é que a maioria dos trabalhadores
possui pouca escolaridade e instrução, além de serem pessoas simples que estão
submetidas a qualquer tipo de trabalho em ambientes perigosos por longos períodos.
Nas obras de construção civil os trabalhadores ficam sujeitos a vários riscos, entre esses,
existe o risco de queda em trabalhos realizados em altura, causador de quase metade dos
acidentes graves e fatais (FIRETTI, 2013).
De acordo com a Previdência Social, no ano de 2015, ocorreram mais de dois mil
acidentes atrelados a quedas de altura no Brasil.
É recorrente os acidentes por quedas, principalmente em serviços de construção civil,
reformas, pontes rolantes, depósitos de materiais, limpeza de fachadas e diversos locais
em que se têm aberturas em pisos e paredes (SINDUSCON-CE, 2011).
Com o intuito de redução dos números de acidentes e formação de um ambiente com
condições de segurança ao trabalhador, foram redigidas as Normas Regulamentadoras
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(NRs), estabelecendo métodos e regras, objetivando a segurança e a integridade dos


trabalhadores (AMANTE e SILVA, 2017).
Segundo a NORMA REGULAMENTADORA Nº 35 - NR35, cujo título é Trabalho em
Altura, passa a ser considerado trabalho em altura aquele que a distância do solo até
onde o trabalhador executa o seu serviço é maior do que 2 metros. Quando se atinge o
limite de 2 metros já se fazem necessárias medidas de proteção planejadas para
resguardar a vida do trabalhador como o uso de cinto de segurança obrigatório. A NR35
divide as responsabilidades entre o empregador e o trabalhador que devem obedecer
conjuntamente a todos critérios normativos. Cabe também a esta norma estabelecer uma
metodologia de ações preventivas, definir cursos de formação com emissão de
certificado e demais orientações básicas para que o serviço em altura seja seguro.
Atentar-se para as diretrizes dessa norma é de vital importância para proteção da vida do
trabalhador.
A NORMA REGULAMENTADORA Nº 18 – NR18 é ainda mais criteriosa e diz que
quando houver qualquer risco de queda de trabalhadores ou de materiais deve-se adotar
medidas protetivas coletivas. Recomenda também construção de plataformas e
instalação de telas de proteção, cuidados especiais com içamentos, proteção do
trabalhador em elevadores de obras e de um Sistema Limitador de Quedas de Altura.
Com base na breve introdução do cenário dos acidentes em trabalho em altura e baseado
nas normas regulamentadoras existentes, este trabalho tem como intuito fazer uma
análise de caso de uma obra em que os trabalhadores estavam expostos aos riscos de
queda em altura.
O objetivo do presente trabalho é verificar se foram aplicadas as diretrizes
regulamentadoras de segurança do trabalho relativas aos trabalhos em altura em um
serviço de reforma de troca de cobertura em uma Universidade Federal.
Propõe-se a investigar, como ponto central de seu desenvolvimento, quais foram as
medidas de segurança para o trabalho em altura adotadas e que poderiam ter sido
adotadas.
O trabalho proposto buscará analisar se as medidas adotadas foram eficientes através de
uma análise de riscos aos quais os trabalhadores e todos a sua volta estavam sujeitos.

2. ESTUDO DE CASO

O presente artigo fará uma análise qualitativa dos aspectos relativos às normas
regulamentadoras de segurança do trabalho que definem os procedimentos básicos que
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garantem a segurança durante a execução de serviços em altura em um canteiro de obras


de uma Universidade Federal.
Segundo GOLDENBERG (1997), a pesquisa qualitativa não se preocupa com
representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um
grupo social, de uma organização, etc. Assim, buscou-se fazer observações
participativas com o intuito de na abordagem do trabalhador, ator dos serviços em
altura, identificar quais cuidados eram tomados ou deixados de lado.
O trabalho foi desenvolvido com base em um estudo de caso, para o qual se
acompanhou todos os serviços executados no canteiro de obras. Foram feitos registros
dos equipamentos de segurança que foram usados e aferiu-se as conformidades e
inconformidades da obra no tocante às normas de segurança do trabalho.
A população do estudo era composta pelo responsável da empresa contratada,
engenheiro civil, e pela equipe do subempreiteiro. Essa equipe era formada por um
encarregado geral, 5 oficiais e 3 ajudantes. A fiscalização era feita pela contratante e
não foi registrada nenhuma visita do responsável técnico de segurança do trabalho ao
canteiro.
Foi analisado todos os procedimentos e cuidados adotados pelos trabalhadores em toda
execução. Ao todo eram 750 m² de área projetada que foi dividida em três etapas. Cada
etapa era formada por remoção da cobertura antiga, montagem da estrutura metálica e
telhamento.
Primeiramente, o estudo foi constituído através de um levantamento bibliográfico para
maior conhecimento do assunto.
Segundo a Norma Regulamentadora – NR 35, considera-se trabalho em altura toda
atividade executada acima de 2,00 m (dois metros) do nível inferior, onde haja risco de
queda. A norma contempla as seguintes diretrizes e definições para com o Trabalho em
Altura (TA):
a) O ambiente é o local e o entorno da execução dos serviços;
b) Deve ser feito o isolamento e sinalização do entorno do TA;
c) Deve-se estabelecer os sistemas e pontos de ancoragem;
d) Considerar as condições meteorológicas adversas;
e) Seleção, inspeção, utilização e limitação dos EPC/EPI; e
f) Redução do impacto e Fator de Queda.
Todo trabalho em altura deve ser precedido de Análise de Risco (AR), conforme
regulamentado.
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a) Todo trabalho em altura deve ser realizado sob supervisão, cuja forma será
definida pela Análise de Risco de acordo com as peculiaridades da atividade;
b) Para atividades rotineiras de trabalho em altura a análise de risco poderá estar
contemplada no respectivo procedimento operacional;
c) As atividades de trabalho em altura não rotineiras devem ser previamente
autorizadas mediante Permissão de Trabalho (PT).
A análise das informações foi realizada comparando o que era previsto nas normas com
o executado ou atendido dentro do canteiro de obras.

3. ANÁLISE DOS RESULTADOS

O local da obra era na própria Universidade, a qual se encontrava em período letivo. De


um lado tinha um bloco de ensino do curso de História e do outro a quadra de esportes
do campus. A forma de trabalhar precisava ser adaptada para permitir que as atividades
acadêmicas continuassem sem muita interferência. Sempre se buscou a conciliação das
atividades de entorno com o desenvolver da obra.
Desde o início da reforma até o telhamento, os riscos do trabalho em altura eram
evidentes conforme mostra a Figura 1 e 2. Entretanto, não foram adotadas as medidas
corretivas e protetivas de prevenção a queda.

Figura 1: Trabalhadores realizando atividades em altura de fixação de telhas sem os equipamentos


mínimos de proteção contra queda.

Fonte: Autor
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Figura 2: Trabalhadores içando a treliça metálica sem proteção de EPI’s e em ambiente que oferecia
grandes riscos.

Fonte: Autor

Os trabalhadores estavam expostos à queda direta no solo, manuseio de peças pesadas


em grandes alturas, atividades de solda e corte com possibilidade de cairem em
madeiras e restos de peças metálicas que poderiam perfurá-los. Além de oferecerem
riscos, caso caíssem peças ou ferramentas, aos demais estudantes e funcionários que
passavam no entorno dos serviços. Conforme Figura 3, observa-se um serviço de solda
realizado em altura em que o operário se equilibra como pode e está propenso à queda a
qualquer momento. Os riscos eram inaceitáveis e de risco grave e eminente.

Figura 3: Trabalhador realizando serviço de solda em altura sem proteção contra queda.
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Fonte: Autor

As condições de segurança desta obra estavam comprometidas. A todo momento os


trabalhadores estavam expostos aos riscos do trabalho em altura, propensos a queda,
trabalhando em locais instáveis com manuseio de ferramentas perigosas (inversora de
solda e esmerilhadeira) pois eram serviços com risco de eletrocussão ou corte.
Devido aos problemas de atraso do cronograma e às condições climáticas, a obra foi
executada de maneira acelerada, o que acentuava os riscos de acidente de trabalho. A
direção da empresa estava pressionada para entregar no prazo e antes de chegar o
período das chuvas. Todos os trabalhadores se sentiam pressionados pelo empreiteiro
que queria receber o valor da parcela de cada etapa de execução o mais rápido possível.
Alguns EPIs básicos eram fornecidos, mas não em quantidade suficiente. Os
trabalhadores tinham a bota de segurança, macacões de solda, máscaras de solda,
máscara de proteção contra projeção de corte, óculos de proteção, luvas e máscaras.
Além de não ter o número necessário de EPIs, alguns trabalhadores não utilizavam por
achar que incomodavam ou até mesmo que alguns podiam atrapalhar o
desenvolvimento do trabalho. Quanto aos EPCs, não se faziam presentes na obra. O
trabalho em altura era executado de acordo como o trabalhador conseguia se equilibrar
em passarelas feitas com a própria madeira da antiga cobertura, o que não era tão
seguro, pois a largura era pequena e era preciso contar com a capacidade do trabalhador
de se manter em equilíbrio.
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O responsável pela obra, pela parte da contratada, acompanhava as atividades e tentava


alertar da importância do uso dos EPIs, avisar dos possíveis riscos aos quais os
trabalhadores estavam expostos e sempre que possível impedir que qualquer trabalho
arriscado acontecesse. Entretanto, a equipe de trabalho tinha confiança no que estava
fazendo e alguma das vezes apenas ignorava.
A comissão de fiscalização da Universidade era composta por uma Técnica de
Segurança, mas essa não fez nenhuma visita a obra. A fiscalização da empresa
contratante não foi eficiente. Apesar de estar vendo os erros e riscos, deixavam
acontecer a obra pelo fato de o prazo estar comprometido.
Não se tinha nenhum tipo de certificação e documentação de segurança do trabalho que
atestasse conformidade com as normas.
Apesar de todo o risco que os trabalhadores estavam expostos, nenhum acidente grave
aconteceu. Há registros de pequenos cortes, queimaduras por solda e dores de cabeça
por causa do pó oriundos da remoção da antiga cobertura.
Não houve nenhuma queda oriunda do trabalho em altura. Quando em alguns casos se
dava conta de uma possível queda, adotavam-se medidas de tentar contornar o
problema.
Os riscos poderiam ter sido controlados adotando o uso de plataformas elevadas que
dessem mais liberdade de movimentação e melhores possibilidades de equilíbrio para o
trabalho. Deveriam ter sido adotados cintos de segurança ancorados a estruturas
seguras.
Poderia ter sido montado meios que possibilitassem a criação de uma instalação elétrica
segura e móvel que possibilitasse os trabalhadores ligarem seus equipamentos de solda e
corte com melhores condições de trabalho.
Deveria ter sido feito a conscientização de toda a equipe e da própria gestão da
importância da adoção das medidas protetivas em cada etapa de obra. Oferecer
instrução de quais equipamentos de proteção utilizar e em qual momento. Fazer uma
análise dos possíveis riscos e de como eliminá-los ou os reduzir.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo de analisar se uma empresa contratada para um
serviço de troca de cobertura em uma Universidade Federal foi efetiva em seguir e
aplicar as recomendações normativas referente ao trabalho em altura para a proteção dos
seus trabalhadores.
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Primeiramente foi feito uma rápida introdução de alguns conceitos teóricos para poder
analisar o estudo de caso. Definiu-se trabalho em altura e quais medidas devem ser
tomadas conforme as Normas Regulamentadoras brasileiras.
A análise buscou mostrar as medidas de prevenção aos serviços em altura que
possibilitassem a minimização dos acidentes e a proteção do trabalhador. Apontou quais
os EPIs e EPCs que foram adotados e como foi a aceitação dos trabalhadores quanto aos
mesmos.
Foi feita uma análise de todas as etapas referentes aos serviços executados e quais riscos
incorriam os trabalhadores em cada uma delas. Este estudo foi possível a partir de
visitas in loco e acompanhamento de todo o serviço, por relatórios e fotos.
Deveriam ter adotado cintos de segurança ancorados em cabos de aço para serviços em
altura superior a 2 metros em todas as etapas de obra. Era preciso instalar plataformas
de segurança móveis que permitissem a livre movimentação em altura dos
trabalhadores. Poderiam ter sido instalados protetores laterais para que impedissem a
queda de pessoas e objetos de alturas elevadas.
Serviços como remoção de peças pesadas, elevação de estrutura metálica e montagem
de telhas, deveriam ter sido planejados e executados de acordo com protocolos de
segurança que garantissem a segurança dos trabalhadores.
O canteiro de obras deveria ter sido limpo com mais frequência com o intuído de
eliminar qualquer tipo de resíduo de construção que pudesse causar risco às atividades
sucessoras ou à integridade dos trabalhadores.
A sinalização de alerta e demarcadora de área de risco devia ter sido feita. Em vários
momentos pessoas que não eram trabalhadores, como estudantes e professores,
passavam em locais que ofereciam riscos aos mesmos. Para resolver esse problema
poderiam ter sido usados cercas, fitas de segurança e definição de rotas que seriam
usadas só para trabalhadores e rotas para os demais usuários de entorno.
Mesmo que o trabalho tenha sido concluído sem acidentes graves, não há dúvidas do
grave desacato e não observância das normas de segurança. Não se preocupou em
garantir a proteção correta dos trabalhadores e poderia ter custado caro para os
responsáveis técnicos. Apesar de estar em um ambiente acadêmico, com vários
professores doutores no assunto e com profissionais qualificados para o tipo de serviço,
não se observaram os cuidados básicos com o trabalho em altura.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

FIRETTI, V. L. Trabalho em altura: legislação, soluções e análise de risco para


instalação de calhas em telhados. 2013. 73 f. Monografia (Pós-Graduação em
Engenharia de Segurança do Trabalho) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná –
UTFPR, Curitiba, 2013.

GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denide Tolfo. Métodos de pesquisa. Porto


Alegre: Ufrgs, 2009. 120 p.

MANUAL DE TECNUCAS DE TRABALHO EM ALTURA, 2015, Ceará. Fórum


estadual de proteção ao meio ambiente do trabalho. Ceará: Sinduscon -ce, 2015. 48 p.

NORMA REGULAMENTADORA 18. Disponível em:


http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR18/NR18atualizada2015.pdf
Acesso em: 10 abr. 2018.

NORMA REGULAMENTADORA 35. Disponível em:


<http://laborprev.com.br/wpcontent/uploads/2017/02/NR-35-2016.pdf> Acesso em: 10
abr. 2018.

Previdencia Social. Anuário Estatístico da Previdência Social – AEPS 2015.


Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/wp-content/uploads/2015/08/AEPS-
2015-FINAL.pdf> Acesso em: 09 abr. 2018

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