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VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA:
O POSICIONAMENTO DOS TRIBUNAIS BRASILEIROS DIANTE DA VIOLÊNCIA
DE GÊNERO CONTRA A GESTANTE
Florianópolis
2020
VANESSA MEDEIROS ANSELMO LEANDRO
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA:
O POSICIONAMENTO DOS TRIBUNAIS BRASILEIROS DIANTE DA VIOLÊNCIA
DE GÊNERO CONTRA A GESTANTE
Florianópolis
2020
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA:
O POSICIONAMENTO DOS TRIBUNAIS BRASILEIROS DIANTE DA VIOLÊNCIA
DE GÊNERO CONTRA A GESTANTE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de
Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito e a professora da disciplina de todo e
qualquer reflexo acerca deste Projeto de Pesquisa.
Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso
de plágio comprovado do Projeto de Pesquisa.
1 OBJETO DE ESTUDO
2 PROBLEMATIZAÇÃO
3 OBJETIVOS
A presente pesquisa possui como objetivo demonstrar qual tem sido o posicionamento
dos Tribunais brasileiros diante dos casos de violência obstétrica registrados no país, a fim de
identificar se existe o reconhecimento do tema pelos tribunais e sua aplicabilidade em casos
concretos.
3.2 OBJETIVOS
Para que o objetivo geral seja alcançado, faz-se necessário analisar os seguintes
objetivos específicos:
4 JUSTIFICATIVA
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
1 INTRODUÇÃO
2 MULHER, REPRODUÇÃO E SOCIEDADE
2.1 O CORPO FEMININO E O CONTROLE SOCIAL
2.2 VIOLÊNCIA DE GÊNERO
2.3 REALIDADE OBSTÉTRICA NO BRASIL
2.4 CARACTERIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
2.4.1 Procedimentos psicológicos
2.4.2 Procedimentos sexuais
2.4.3 Procedimentos físicos
3 DIREITOS DA GESTANTE NO BRASIL
3.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS DAS MULHERES NA CONSTITUIÇÃO DE 1988
3.2 TRATADOS INTERNACIONAIS RATIFICADOS PELO BRASIL QUE PROTEGEM E
GESTANTE
3.2.3 Caso Alyne da Silva Pimentel X Brasil
3.3 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ACERCA DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
3.3.1 Projetos de lei
3.3.2 Lei 11.634/2007
3.3.3 Lei 11.108/2005
3.3.4 Lei estadual 17.097/2017
3.3.5 Resolução CFM nº 2.144/2016
4 A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E O PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO
4.1 DECISÕES DOS TRIBUNAIS BRASILEIROS ENVOLVENDO VÍTIMAS DE
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
4.2 O RECONHECIMENTO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA PELOS TRIBUNAIS
BRASILEIROS
4.3 A RESPONSABILIZAÇÃO DOS AGENTES PELA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
4.3.1 Violência obstétrica x erro médico
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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7 REFERENCIAL TEÓRICO
Por um longo período na história, o acesso a médicos e hospitais era escasso e restrito
a classes sociais elevadas. Nesse contexto o parto ocorria em casa com auxílio de parteiras e
mulheres mais experientes da família, sendo considerado um evento fisiológico para o qual a
mulher estava preparada por sua natureza. (BARCELOS, 2016, p. 22)
Pelo fato de as parteiras não possuírem conhecimentos médicos acerca da fisiologia do
parto e suas possíveis intercorrências, os índices de mortalidade materna e infantil eram muito
elevados.
A Segunda Guerra Mundial trouxe consideráveis mudanças nesse cenário, em que o
parto hospitalar se tornou predominante. As mudanças inseriram rotinas cirúrgicas no parto,
como a utilização de episiotomia e fórceps profilático. Se antes o ato de dar à luz era uma
experiência profundamente subjetiva para a mulher e sua família, transformou-se, no hospital,
em momento privilegiado para o treinamento de acadêmicos e residentes de medicina.
(OSAVA, 1997, p. 37)
No Brasil os programas de assistência gestacional começaram a surgir ainda no século
XIX, com vistas a diminuir a mortalidade infantil, sem, no entanto, demonstrar preocupação
com a saúde da mulher. Nesse sentido, Brasil leciona que:
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Atualmente ainda não há no Brasil uma lei federal tipificando a violência obstétrica,
tão pouco prevendo punições aos agentes que concorrem para sua ocorrência, porém existem
leis estaduais e municipais que abordam a violência obstétrica, bem como projetos de lei
federal em tramitação.
Nesse diapasão, merece destaque a Lei Federal 11.108/2005, que garante à parturiente
a presença de um acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato no
Sistema Único de Saúde. Importante salientar que, a despeito da existência da referida lei, a
proibição de acompanhante durante o parto é prática comum nos hospitais brasileiros, em um
flagrante caso de violência obstétrica.
Em âmbito federal há em tramitação os Projetos de Lei no 7.633/2014, 7867/2017 e
8219/2017. Há também leis municipais e estaduais sobre o tema, como por exemplo a Lei
Estadual 17.097/2017 de Santa Catarina, que foi regulada pelo Decreto 1.269/2017,
estabelecendo a implantação de medidas de informação e proteção à gestante e parturiente
contra a violência obstétrica. Ocorre que tais leis possuem caráter informativo e caracterizador
sobre a violência obstétrica, deixando uma lacuna no que tange a punição desse ato. Há que se
ressaltar também a existência de Portarias do Ministério da Saúde que visam humanizar o
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A proteção à gestante abarca diversos direitos fundamentais, tais como direito à saúde,
à vida, à autonomia e integridade física, moral e psicológica. Todos esses direitos configuram
garantias individuais asseguradas pela Constituição Federal de 1988 e asseguram à gestante o
direito de serem tratadas de maneira respeitosa e de acordo com suas particularidades.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: [...] (BRASIL, 1988, Art. 5)
Apesar dos altos índices de ocorrência de violência obstétrica, nem todas as vítimas
optam por acionar a justiça em busca de reparação e/ou punição dos envolvidos. A falta de
informação e o desconhecimento dos elementos caracterizadores da violência obstétrica são
fatores aos quais podem ser atribuídos a baixa judicialização de demandas sobre o tema.
A esse propósito, recentemente o Ministério da Saúde se posicionou contra a
utilização do termo “violência obstétrica”, fato que ganhou forte repercussão social e trouxe
mais visibilidade ao assunto. Assim foi a manifestação do Ministério da Saúde:
12. Nesse sentido, o MS reconhece o direito legítimo das mulheres em usar o termo
que melhor represente suas experiências vivenciadas em situações de atenção ao
parto e nascimento que configurem maus tratos, desrespeito, abusos e uso de
práticas não baseadas em evidências científicas, assim como demonstrado nos
estudos científicos e produções acadêmicas que versam sobre o tema. (BRASIL,
2019, p. 3)
Tal qual ocorreu o Ministério da Saúde, os Tribunais brasileiros também não possuem
entendimento claro acerca da violência obstétrica. Da jurisprudência pátria colhem-se poucas
decisões que utilizam o termo, mesmo em situações em que há o pleno cabimento deste. Ao
mesmo tempo, há várias decisões que versam sobre práticas consideradas como violência
obstétrica, porém não utilizam a expressão para caracterizar o ato, de maneira que a violência
obstétrica é comumente associada ao erro médico associado ao parto.
O Tribunal de Justiça de Santa Catarina possui apenas cinco processos relacionados às
palavras “violência obstétrica”, enquanto a busca relacionando os termos “erro médico” e
“parto” totaliza 123 decisões.
O caso Adelir Góes é um exemplo de como se dá o posicionamento do judiciário
frente quando precisam decidir acerca da ocorrência de violência obstétrica. Adelir Carmen de
Lemos Góes estava grávida de seu terceiro filho e desejava ter parto normal. Realizou todo o
pré-natal e contratou uma doula que a preparou para o momento. Quando estava com 40
semanas de gestação procurou atendimento hospitalar por apresentar dores lombares,
momento em que a médica indicou a realização de uma cesariana. Diante da recusa de Adelir
em realizar a cirurgia, a médica procurou o Ministério Público, que acionou a justiça para que
Adelir fosse submetida a cesariana, mesmo contra sua vontade e sem evidências médicas
suficientes a embasar o ato. A juíza atendeu o pedido e durante a madrugada a gestante foi
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8 CRONOGRAMA
Pesquisa bibliográfica
Redação do Capítulo I
Revisão
Redação do Capítulo II
Revisão
Revisão
Impressão e digitalização
Entrega do TCC X
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 7867/2017. Dispõe sobre medidas de
proteção contra a violência obstétrica e de divulgação de boas práticas para a atenção à
gravidez, parto, nascimento, abortamento e puerpério. Brasília, DF, 13 jun. 2017. Disponível
em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1568996.
Acesso em: 18 jun. 2020.
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 7633/2014. Dispõe sobre a humanização
da assistência à mulher e ao neonato durante o ciclo gravídico-puerperal e dá outras
providências. Brasília, DF, 29 maio 2014. Disponível em:
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1257785. Acesso
em: 18 jun. 2020.
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pelo Ministério da Saúde. Brasília, DF, 2019. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/noticias/561395-debatedoras-cobram-uso-do-termo-violencia-
obstetrica-pelo-ministerio-da-saude/. Acesso em: 11 out. 2020.
BRASIL. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Nota Pública: Caso
Alyne Pimentel. Brasília, DF, 04 abr. 2014. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-
br/sdh/noticias/2014/abril/nota-publica-caso-alyne-pimentel. Acesso em: 18 jun. 2020.
BRASIL. Senado Federal. Entenda o caso Alyne. Senado Notícias. Brasília, DF, 2013.
Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2013/11/14/entenda-o-caso-
alyne. Acesso em: 20 jul. 2020.
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https://www.emerj.tjrj.jus.br/revistas/genero_e_direito/edicoes/1_2017/pdf/DesIvoneFerreira
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Derecho-de-las-Mujeres-a-una-Vida-Libre-de-Violencia.pdf. Acesso em: 15 jun. 2020.
A orientanda Vanessa foi exemplar durante o semestre, sempre buscou manter contato
para elucidar suas dúvidas. O presente projeto encontra-se adequado e bem escrito, no
que se refere ao conteúdo, como parte que me cabe desta análise, concluo pela sua
aprovação, neste aspecto.
Florianópolis/SC, 15 de outubro de 2020
Eliane Luiz Espíndola de Souza, MSc