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Macroeconomia I – Aula 6

Inflação

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Produção e nível de preços
Sabemos que a Oferta é função dos preços de
mercado.

Vimos no modelo AS-AD que há uma distinção,


porém, entre ofertas de curto e longo prazo, em
razão da flexibilidade de preços e salários.

Mais especificamente, temos que a OALP é


vertical, e a OACP, positivamente inclinada.
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• Da relação entre quantidade produzida e nível de
preços, mais relevante em ambiente de CP, surgiu
a associação entre inflação (∆𝑃) e produto;
• O nível de produção, por sua vez, está associado
ao nível de (des)emprego na economia (lembre
do modelo AS-AD!);
• Ao nível de produto potencial da economia, 𝑦𝑝 ,
está associada a taxa natural de desemprego, 𝑢𝑛 ,
que engloba desempregos friccional e voluntário;
• Denominamos a diferença entre produto
potencial e produto observado, o ‘hiato de
produto’.
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Lei de Okun
A lei de Okun surge, então, da intuição gerada
pelas ideias do slide anterior, de forma que:

𝑢𝑡 − 𝑢𝑛 = 𝜆 𝑦𝑝 − 𝑦𝑡 ; 𝜆 > 0

Onde λ denota a sensibilidade do produto


observado ao nível de desemprego efetivo.

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Curva de Phillips
A partir da Lei de Okun, sabendo que o produto,
y, o nível de preços, P, estão relacionados, é
possível estabelecer relação entre desemprego e
nível de preços.

A curva de Phillips, por sua vez, relacionará a


variação de preços (inflação!) ao nível de
desemprego da seguinte forma:

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A partir da curva de Oferta de Lucas, dada por:

𝑦𝑡 = 𝑦𝑝 + 𝛼 𝑝 − 𝑝𝑒 ; 𝛼 > 0 [1]

E reescrevendo a lei de Okun:


𝑢𝑡 − 𝑢𝑛 = 𝜆(𝑦𝑝 − 𝑦𝑡 )

1
𝑦𝑝 − 𝑦𝑡 = (𝑢𝑡 − 𝑢𝑛 )
𝜆
[2]

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𝑒 1
Usando [1] e [2]: 𝑦𝑡 − 𝑦𝑝 = 𝛼 𝑝 − 𝑝 = − (𝑢𝑡 −
𝜆
𝑢𝑛 )
𝑒
1
𝑝−𝑝 =− (𝑢𝑡 − 𝑢𝑛 )
𝜆. 𝛼

1
Sem perda de generalidade, faça = 𝜑. Então:
𝜆.𝛼

𝑝 − 𝑝𝑒 = −𝜑(𝑢𝑡 − 𝑢𝑛 )
𝑝 = 𝑝𝑒 − 𝜑(𝑢𝑡 − 𝑢𝑛 ) [3]

Onde 𝜑 denota a sensibilidade dos preços à taxa de


desemprego 8
Reescrevendo [3] temos:

𝑝 = 𝑝𝑒 − 𝜑(𝑢𝑡 − 𝑢𝑛 )
𝑝𝑡 − 𝑝𝑡−1 = 𝑝𝑡𝑒 − 𝑝𝑡−1 − 𝜑(𝑢𝑡 − 𝑢𝑛 )
𝜋𝑡 = 𝜋𝑡𝑒 − 𝜑(𝑢𝑡 − 𝑢𝑛 ) [4]

A equação [4] é a curva de Phillips que incorpora


expectativas de inflação, assim como o nível de
desemprego efetivo.
A versão mais completa, porém, incorpora choques
de oferta aleatórios, e gera:
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𝜋𝑡 = 𝜋𝑡𝑒 − 𝜑 𝑢𝑡 − 𝑢𝑛 + 𝜀𝑡

A inflação é negativamente relacionada ao nível


de desemprego, ou seja, quanto maior o
desemprego, menor a inflação, e vice-versa.

Com os demais fatores constantes (curto prazo),


o aumento da mão-de-obra contratada gera
maior produto, e aquecimento da economia (na
curva de oferta de curto prazo, maiores níveis de
produto estão associados a maiores preços).
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Graficamente, a curva de Phillips é da forma:

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Note que expectativas de inflação e choques de
oferta são capazes de alterar o patamar
inflacionário de uma economia, deslocando a
curva (exemplo em azul).
Isto é: para 𝑢𝑡 = 𝑢𝑛 e 𝜋𝑡𝑒 + 𝜀𝑡 = 0,
𝑡𝑒𝑚𝑜𝑠 𝑞𝑢𝑒: 𝜋𝑡 = 0.

Sem alteração no nível de desemprego, mas


com variação da expectativa ou choque de
oferta, a inflação passa a ser não nula (por
exemplo, se 𝜋𝑡𝑒 + 𝜀𝑡 > 0, 𝑡𝑒𝑚𝑜𝑠 𝑞𝑢𝑒: 𝜋𝑡 > 0,
tudo o mais constante).
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Choques de oferta e política
acomodatícia
Suponha choque aleatório de oferta que eleve
preço de insumo(s). A inflação de custos aumenta
nível de preços na economia e reduz oferta
agregada (dado o aumento no custo de produção).
Graficamente:

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No novo equilíbrio, (Y’, P’), há redução de
produto e aumento do desemprego.

Isto gera redução do bem-estar social.

Nessa situação, o governo pode resolver intervir


para aliviar o problema no curto prazo, ou não,
deixando o ajuste para o mercado, com o
tempo.

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a. Governo não intervém:

O desemprego involuntário surge da redução da


oferta e desequilibra o mercado de trabalho
(𝐿𝑆 > 𝐿𝐷 ).
Isto pressiona a redução dos salários nominais,
gradualmente. Há, então, redução dos custos de
produção totais e retorno aos níveis de contratação
e de produção iniciais.

Contras: produção/renda/emprego baixos por


algum tempo, e a respectiva perda de bem-estar da
população.
Prós: não onera os cofres públicos e é sustentável –
não gera inflação.
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b. Governo intervém:

Para retornar ao nível de produto/emprego, o


governo faz política expansionista pelo lado da
demanda (política acomodatícia).

No curto prazo, a medida é eficaz para restaurar


o nível de renda da economia, mas gera inflação
pelo lado da demanda. Graficamente:

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Prós: rapidamente se retorna aos níveis de produção
e emprego anteriores ao choque.
Contras: pressão inflacionária, agora pelo lado da
demanda.
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A intervenção pode sinalizar pouco compromisso
com o controle de inflação, elevando expectativas
de inflação e deslocando a curva de Phillips para a
direita.

Manter intervenção como política pode ser cada


vez mais custoso para a sociedade (em termos do
volume de gastos e da pressão inflacionária
gerada).

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O processo de formação de
expectativas de inflação

As expectativas de inflação contidas na curva de


Phillips carregam hipóteses a respeito do
comportamento dos agentes econômicos.

Mais especificamente, a formulação das


expectativas depende da capacidade – e da
velocidade – dos agentes de assimilar
informações e sinais disponíveis no mercado.
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a. Expectativas Adaptativas:

Agentes ajustam expectativas de inflação de


acordo com erros de estimação de períodos
anteriores, ou seja:

𝑒 𝑒
𝜋𝑡𝑒 = 𝜋𝑡−1 + 𝛽(𝜋𝑡−1 − 𝜋𝑡−1 )

Onde β ϵ (0,1), e denota a velocidade de


correção das expectativas de inflação.

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• A construção de expectativas adaptativas implica
em perpetuar níveis prévios de inflação, o que gera
o fenômeno de inércia inflacionária.
• A inércia inflacionária dificulta o processo de
estabilização de preços, exigindo choques
deflacionários/desemprego/perda de produto
mais intensos ou por períodos maiores.
• A introdução do conceito de expectativas
adaptativas permitiu explicar o fenômeno da
estagflação, que consiste em ocorrência
simultânea de inflação e desemprego, desafiando
a relação estabelecida pela Curva de Phillips
original.
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b. Expectativas Racionais:

• Nesta formulação, os agentes incorporam


erros passados de previsão, anúncios atuais e
toda sorte de notícias ao seu conjunto de
informação;
• Logo, não há defasagem na resposta de
comportamento dos agentes às políticas
anunciadas;
• Supõe, portanto, informação perfeita, e plena
capacidade de interpretação de
notícias/anúncios por parte da população. 22
• Em sua versão mais simples, supõe correlação
nula entre erros de previsão de períodos
distintos, de forma que 𝑐𝑜𝑣 𝜖𝑡 , 𝜖𝑡−1 = 0;

• Em sua versão mais forte, vale ainda que, na


média, não há erro de previsão, ou seja,
𝐸 𝜋𝑡𝑒 = 𝜋𝑡 ;

• Assim, os choques de políticas/anúncios


antecipados pelos agentes afetam apenas os
níveis de preços, e não o produto.
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• Note que com previsão perfeita (ou seja ,𝜋𝑡𝑒 =
𝜋𝑡 ) e na ausência de choques aleatórios de oferta
(𝜀𝑡 = 0), temos que:

𝜋𝑡 = 𝜋𝑡𝑒 − 𝜑 𝑢𝑡 − 𝑢𝑛 + 𝜀𝑡
0 = −𝜑(𝑢𝑡 − 𝑢𝑛 )
𝑢𝑡 − 𝑢𝑛 = 0
• Pela lei de Okun, se 𝑢𝑡 = 𝑢𝑛 , então 𝑦𝑡 = 𝑦𝑝 .
Logo, estaremos sempre no nível de produto
potencial, e as curvas de OA e Phillips serão
verticais.
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• Só haverá desvio no nível de produto se a política
não for antecipada pelos agentes (isto é,
anunciada previamente pela autoridade e crível)
ou se houver inconsistência intertemporal do
anúncio (autoridade anuncia x e faz y).

• No limite, políticas de estabilização de preços não


têm viés recessivo (isto é, não reduzem
produto/nível de atividade da economia). Têm,
portanto, taxa de sacrifício nula.

OBS.: Taxa de sacrifício é a perda de produto


decorrente do combate à inflação em uma
𝛥𝑌
economia. Matematicamente, é dada por: .
𝛥𝜋 25
Custos de estabilização e Taxa de
sacrifício
• Dependendo do tipo de expectativa formulada
pelos agentes econômicos, então, o impacto
sobre da renda (taxa de sacrifício) das políticas
de estabilização pode variar largamente.
• Mais especificamente, agentes com
expectativas racionais demandarão menos
tempo e sacrifício de produto durante o
processo, pois interpretam melhor os
anúncios e não perpetuam inflação. No limite,
a taxa de sacrifício pode ser nula quando há
formação de expectativas racionais. 26

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