1. Introdução
Novos padrões de tomada de decisão para os gestores nas empresas de produção
surgem a cada dia. As decisões no meio produtivo trazem com certeza maior competitividade,
entretanto no mundo corporativo a meta é servir o cliente, com qualidade, e isso demanda
recursos e produtividade organizacional, o que permite gerar valor ao para o acionista e o
cliente.
Conforme Kardec (2002) sabe-se que um grande salto nos resultados só acontece com
mudança de paradigma. Para Motta (1999) paradigma refere-se a um conjunto de crenças ou
premissas sobre o que se julga verdadeiro. A idéia fundamental é de se disponibilizar
mecanismos que auxiliem de forma efetiva na intervenção dos equipamentos da produção,
permitindo uma máxima confiabilidade e disponibilidade dos maquinários industriais.
2. Gestão da manutenção
A manutenção desempenha um papel estratégico nas organizações competitivas,
proporcionando a confiabilidade e a disponibilidade dos processos produtivos, evitando a
deterioração e as falhas através da preservação dos equipamentos.
Segundo Moubray apud Picanço (2003), nos períodos que antecederam a 2ª Guerra
Mundial a manutenção era vista como fator gerador de custos para as organizações, onde os
aspectos mais conhecidos desta função caracterizavam-se por consertos emergenciais
simplistas, através da troca de peças ou improvisações no momento em que houvesse uma
quebra ou interrupção na linha de produção.
A medida que o mercado vem se tornando globalizado e a concorrência entre as
organizações apresenta-se cada vez mais acirrada, esta visão da manutenção tornou-se
ultrapassada e a condução moderna dos negócios passou a exigir uma mudança profunda de
mentalidade e de posturas (KARDEC e RIBEIRO, 2002).
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3. A evolução da manutenção
O termo manutenção tem sua origem no vocábulo militar, cujo sentido era manter, nas
unidades de combate o efetivo e o material num nível constante (MONCHY, 1989). Baseado
em Senra (1995) é apresentado nos parágrafos seguintes um retrospecto histórico em relação
ao início da utilização da manutenção nos processos industriais.
Depois da invenção das primeiras máquinas têxteis, a vapor no século XVI, a função
manutenção apareceu como uma forma de conservar as máquinas e equipamentos. Nessa
época o homem projetava as máquinas, treinava outros homens para operar, regular e
consertar as máquinas. O projetista só era chamado a intervir em casos extremos. A
tecnologia foi evoluindo até que outras indústrias começaram a sair do artesanato para as
máquinas. Eram indústrias de mineração, fabricação do aço, sabão, açúcar, cerveja, pólvora,
objetos de cobre, estanho latão, papel, etc. E a cada ano novas indústrias com a nova
tecnologia tomaram o lugar das antigas.
Com o crescimento das empresas tornou-se complexo e dispendioso o sistema de
conserto em emergência. Neste ponto houve a necessidade do desdobramento da mão-de-obra
para manutenção de máquinas. Assim, o antigo profissional de manutenção viu-se dividido
em especialidades, tais como eletricidade, mecânica, funilaria, etc.
Como a técnica evoluía a passos largos, sistemas complexos apareceram nas
máquinas, equipamentos e instalações e estes para cada especialidade, ou seja, hidráulicos,
pneumáticos, mecânicos, elétricos e eletrônicos. A manutenção que era somente de
emergência teve que se preparar para atender tudo aquilo. Primeiro procurou-se melhorar o
ferramental e processos de aplicação de corretiva de emergência, e desdobrou-se ainda mais o
pessoal de manutenção. Nem tudo isso resolveu os problemas, pois a manutenção tornou-se
dispendiosa de mais, e o preço do produto acabado era muito alto e não podia ser estimado
com precisão, pois não havia previsão formada para a manutenção. Os técnicos de
manutenção começaram a desenvolver métodos e criar uma ciência nova: a manutenção.
A partir da criação e uso da manutenção nas máquinas e equipamentos do processo
produtivo, a manutenção não parou de evoluir. A história da manutenção mostra que, em
pouco mais de 100 anos, ela evoluiu de sua condição inicial de “socorro” para permitir a
continuidade da produção, após uma quebra, para uma necessidade de produção, ou seja, uma
ferramenta que confere confiabilidade a um processo produtivo (KMITA apud ASSIS, 2003).
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4. Manutenção de equipamentos
A manutenção de equipamentos faz parte de um complexo número de atividades que
envolvem a atividade de manutenção industrial. Segundo Marçal (2000, p.5), “o processo de
manutenção inclui todas as atividades técnicas e organizacionais que garantam que as
máquinas e equipamentos em geral operem nos limites da confiabilidade esperada”.
De acordo com Viana (2002), pode-se citar três formas de manutenção:
a) Manutenção corretiva;
b) Manutenção preventiva;
c) Manutenção preditiva.
Cada uma dessas formas de manutenção apresentam suas características específicas,
sendo aplicadas de acordo com a necessidade em cada processo. Marçal (2000) evidencia no
Quadro 1 as diferenças básicas entre as modalidades de manutenção e suas características
fundamentais.
QUADRO 1 – Modalidades de manutenção e suas características.
Desmontagem para
Tarefas a serem
Troca de componentes inspeção e troca de Medições
realizadas na m
componentes
Garantir o
Objetivo da Predizer e detectar
Retorno ao serviço funcionamento por um
intervenção falhas
determinado período
Fonte: Marçal (2000).
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função de alguma falha. Essa máquina sofrerá a intervenção com a finalidade de colocá-la em
serviço novamente.
A utilização da manutenção corretiva pode ocorrer de duas formas: de maneira não
planejada ou planejada. É importante analisar, conhecer e distinguir de forma adequada os
resultados obtidos com a manutenção corretiva planejada e não planejada. Enquanto na
manutenção corretiva planejada as perdas de produção são reduzidas a níveis muito baixos e
os custos e tempos de reparos são minimizados, com a manutenção corretiva não planejada
ocorre o oposto (KARDEC e NASCIF, 2005).
De acordo com Kardec e Nascif (2005 p.26) as razões que levam a manutenção
corretiva executada de forma planejada a obter melhores resultados são:
• Compatibilização das necessidades de intervenção com os interesses de produção.
• Planejamento dos serviços mais eficiente.
• Garantia da existência de peças de reposição, equipamentos e ferramental.
• Garantia da existência de mão de obra qualificada e em quantidade suficiente para
execução dos serviços.
• Aspectos relacionados com segurança – a antecipação à falha evita situações de risco para
as pessoas e instalações.
Apesar de se apresentar como a mais rudimentar das formas de manutenção, a
intervenção corretiva se aplica em muitas situações dentro dos processos produtivos em
função do custo benefício apresentado.
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5. Custos de Manutenção
Na manutenção, a definição de qualquer curso de ação requer a análise e consideração
dos custos envolvidos. Isso implica na necessidade de uma clara explicitação da estrutura de
custos, além da apropriação correta desses na estrutura do processo fabril (SOUZA, 2002).
De acordo com Kardec e Nascif (2005), para fins de controle, podemos pode-se
classificar os custos de manutenção em três grandes famílias a saber:
• Custos Diretos: São todos os custos necessários para manter os equipamentos em
operação. São incluídos como custos diretos os custos com manutenções preventivas
(inspeções, lubrificações, etc.), manutenções preditivas, custos de reparos e revisões e
manutenção corretiva de uma maneira geral.
• Custos de perda de produção: São os custos originados da perda de produção, causados
pelas falhas dos equipamentos do processo produtivo.
• Custos Indiretos: São os custos administrativos da manutenção, como os custos de
gerenciamento, supervisão, desenvolvimento de projetos, entre outros.
Devido ao impacto que incorrem os custos de manutenção ao processo produtivo, é
importante montar-se uma estrutura operacional para que se possa continuamente apropriar e
controlar os custos. Uma necessidade paralela em todo o contexto onde se pretende
implementar uma engenharia de decisão, é a existência de um sistema de apoio à decisão
sustentado por um sistema de informações gerenciais (SOUZA, 2002).
O grande paradoxo da manutenção atual é determinar a máxima periodicidade de
manutenção, ou seja, o momento ótimo de se realizar a intervenção em função de uma
otimização do processo, ou ao menor custo possível. Quando se trata do estabelecimento da
periodicidade das manutenções o que se busca é minimizar o custo e maximizar a
confiabilidade do sistema de modo a se ter o maior aproveitamento desse. E o que se deseja é
que as intervenções nos sistemas se dêem na iminência de uma falha, a fim de que não sejam
feitas intervenções desnecessárias que incorram em diversos custos adicionais, porém não
proporcionem um nível de confiabilidade muito baixo (CAVALCANTE et al, 2003).
De acordo com Kardec e Nascif (2005) é possível, através de uma análise de custos,
disponibilidade e nível de manutenção, determinar o momento ótimo da manutenção. Dessa
forma, consegue-se que se aplique os melhores métodos, a custos mais baixos e obtendo
resultados ótimos.
Os custos da manutenção crescem de modo inverso aos custos de parada da produção,
desde que se espera que com esse aumento dos custos se consiga uma redução das paradas de
emergência. No limite máximo (manutenção em excesso), pode-se imaginar uma manutenção
em que em intervalos muito pequeno de tempo esteja realizando intervenções e trocas de
componentes desnecessários. No outro extremo, a falta de manutenção provocará paradas
longas com perdas de produção mais acentuadas (KARDEC e NASCIF, 2005).
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De acordo Dias et al. (2005) os custos de manutenção são compreendidos por recursos
humanos, materiais e interferência na produção e perdas no processo. O próprio Dias (2005)
enfatiza que o custo de interferência na produção é o quanto é deixado de produzir por tempo
de parada do sistema produtivo, onde tudo isso é convertido em dinheiro, e por fim o custo de
perdas geradas é referente aos refugos de produção e desperdício de matérias primas e
insumos devido às falhas no maquinário.
O que é fato que proporcionalmente os custos de manutenção nas indústrias devido à
modernidade e complexidade de equipamentos também aumentaram o que exige dos
responsáveis pela gestão desses ativos maior flexibilidade no planejamento da manutenção,
mas para que uma empresa esteja em plena atividade operacional devem-se antever a algumas
condições.
6. Estudo de Caso
A empresa estudada é uma multinacional finlandesa, com aproximadamente 150
empresas em 55 países no mundo. É uma das três maiores fabricantes nacionais de
embalagens de polpa moldada, como embalagens para ovos e para maçã. Está situada no
Estado do Paraná, na região dos Campos Gerais na cidade de Palmeira. Atualmente emprega
160 funcionários e processa 60 toneladas diárias de papel, dos quais esses são 100%
recicláveis.
Em função dos elevados custos de manutenção e disponibilidade operacional das
linhas de produção insatisfatória ao longo do ano de 2004, essa empresa levantou a
necessidade de uma reestruturação do sistema de controle de custos e otimização das
atividades de manutenção.
Em janeiro de 2005 iniciaram-se as reformulações no sistema de controle dos custos
da manutenção. No passado, os custos de manutenção não eram separados por tipo de
aplicação. Dessa forma, inicialmente foram definidos claramente cada tipo de custo que
afetava a manutenção da empresa, os quais foram definidos da seguinte forma:
• Custos normais de manutenção (Manutenção Normal) – são todos aqueles custos que
provêm de manutenções, peças, serviços, consertos aplicados de forma rotineira ou com
uma freqüência determinada.
• Custos especiais de manutenção (Manutenção Especial) – são todos os custos com
manutenções, peças, serviços, consertos que aocntecem de forma extraordinária, ou seja,
não são aplicados na rotina da manutenção.
• Investimentos em manutenção – são os gastos feitos em grandes modificações no processo
ou equipamentos com o objetivo de obter melhorias na eficiência da unidade industrial.
São também alocados aqui os gastos com trocas de equipamentos.
Por convenção, apenas os custos normais de manutenção são contabilizados
mensalmente na conta de manutenção. Os custos especiais e investimentos são previstos
antecipadamente no momento do planejamento do orçamento anual da empresa, sendo
alocados em contas específicas.
Com essa nova classificação tornou-se possível alocar cada custo conforme sua real
aplicação, o que não ocorria anteriormente. Esse reestruturação das classificações aliado ao
controle semanal dos custos por parte da Gerência de Manutenção apresentou resultados
satisfatórios, com a redução dos custos de manutenção (normais), como é visualizado no
gráfico 1 abaixo:
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R$ 250.000,00
R$ 200.000,00
R$ 150.000,00
R$ 100.000,00
R$ 50.000,00
R$ -
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D
Manutenção Normal 2005 Manutenção Normal 2004
R$ 160.000,00
R$ 140.000,00
R$ 120.000,00
R$ 100.000,00
R$ 80.000,00
R$ 60.000,00
R$ 40.000,00
R$ 20.000,00
R$ 0,00
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ês
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ço
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o
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Ju
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ut
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Ja
te
ov
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O
Se
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180,00
160,00
140,00
120,00
100,00
80,00
60,00
40,00
20,00
0,00
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Hrs - Mensal 2005 Hrs - Média 2004 (109,81) Hrs - Meta 2005 (76,87)
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50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
7. Considerações finais
Este trabalho reflete a necessidade da permanente revisão de processos por todos os
níveis na empresa, e muito mais os influenciados no setor de manutenção, devido ao impacto
de sua função no meio produtivo. Para Kardec e Nascif (2005) no setor de manutenção essa
constatação torna-se ainda mais verdadeira, em virtude de suas características especialíssimas
e do impacto de suas atividades em praticamente todas as outras.
Assim é necessário constantemente trabalhar na revisão dos processos, obtenção de
maior rentabilidade em menor tempo e redução de custos difundindo em todos os setores da
empresa onde pode se ter um aumento maior da lucratividade através da identificação de
oportunidades até então não visualizadas, pois é um diferencial competitivo e é a lógica
estratégica do século XXI.
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