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net/publication/307625803
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SegHAE: water-food-energy security in the Brazilian Cerrado - MCTI/CNPq Nº 441289/2017-7 View project
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RESUMO: Desde a divisão do Estado de Mato Grosso do ABSTRACT: Since the division of the State of Mato
Sul a preocupação em relação a gestão da água se faz presen- Grosso do Sul was the concern about water management.
te. Neste trabalho são analisados os atores que compõem o This work looks at the components of the Water Resources
Sistema Estadual de Recursos Hídricos de Mato Grosso do State System in Mato Grosso do Sul. This study presents a
Sul. O estudo apresenta uma visão crítica dos aspectos legais critical approach to the legal aspects related to the subject
relacionados ao tema e das mudanças institucionais ocorridas and institutional changes within the State Environmental
no âmbito do Órgão de Meio Ambiente do Estado, com o Authority, in order to point out the organizational
objetivo de elucidar a estrutura organizacional e pontuar os structure and the progress in implementing the
avanços na implementação dos instrumentos de gestão de management tools. Summarizing, the water management
recursos hídricos no Estado de MS. É constatado que o geren- in Mato Grosso do Sul is under development as the existing
ciamento da água no Mato Grosso do Sul está em processo organizational and institutional structures need advances
de desenvolvimento, a estrutura institucional e legal existente and empowerment and the role of public departments
necessita avanços, fortalecimento e adequações quanto às related to water issues needs to be reviewed and explained.
competências dos Órgãos públicos estaduais vinculados à Besides, the state water resources legislation is, somehow,
gestão hídrica. A legislação de recursos hídricos de Mato against to the Federal Law 9.433/97, as it excuse the
Grosso do Sul é contrária em alguns aspectos à Lei Federal nº agricultural sectors from charges related to the water use.
9.433/97, pois isenta da cobrança pelo uso da água os setores The regulatory framework creation and implementation
da agropecuária e da agroindústria. O processo de regulamen- of the Water Resources State Policy requires sometime
tação e implantação dos instrumentos da Política Estadual de to be spread among the society, the politicians and the
Recursos Hídricos necessita de um período de internalização technical training.
na sociedade, classe política e capacitação técnica. KEYWORDS: Water Law, public policy, water resources
PALAVRAS-CHAVE: Lei das águas, Políticas públicas, management.
gestão de recursos hídricos.
e contemplam a percepção da água como recurso Centro-Oeste. O Estado compunha a parte meri-
finito dotado de valor econômico. dional de Mato Grosso, do qual foi desmembrado
O Plano Estadual de Recursos Hídricos de Mato por Lei Complementar de 11 de outubro de 1977
Grosso do Sul (PERH-MS), aprovado em 2009, é e instalado em 1 de janeiro de 1979 (Mato Grosso
instrumento utilizado para subsidiar a tomada de do Sul, 2010a).
decisão e direcionar o gerenciamento da questão O território sul-mato-grossense tem área total de
hídrica no Estado, contudo muitos são os desafios 357.145,836 Km² e está dividido em setenta e oito
6 para a aplicação dos mecanismos de gestão. Algumas
peculiaridades da legislação de Mato Grosso do Sul
municípios, com uma população estimada, em 2010,
de aproximadamente 2,45 milhões de habitantes
que remetem à isenção da cobrança pelo uso da água (IBGE, 2011). Faz divisa político-administrativa com
pelo setor agropecuário e agroindustrial, as mudanças os Estados de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais,
institucionais ocorridas no âmbito do Órgão Estadual São Paulo e Paraná e defronta-se com a República do
de Recursos Hídricos e a falta de clareza nas compe- Paraguai que, junto à Bolívia, define a linha fronteira
tências entre o órgão gestor e o executor da Política de ocidental brasileira.
Recursos Hídricos no Estado caracterizam e resultam O Estado compreende a maior parcela do terri-
dificuldades para a implementação e operação do tório das bacias dos rios Paraná e Paraguai na Região
Sistema Estadual de Recursos Hídricos de MS. Centro-Oeste. Na Bacia Hidrográfica do Paraguai
Apesar do processo inicializado, a Política e o Sis- está inserido o Pantanal Sul-Mato-Grossense num
tema Estadual de Recursos Hídricos de Mato Grosso território, que corresponde a aproximadamente 25%
do Sul apresentam fragilidades, tanto legal como da área total do Estado, considerado a maior planície
institucional. Deste modo o objetivo deste trabalho inundável do mundo. Por sua importância ecológica
foi abordar o cenário geral da gestão de Recursos foi declarado Patrimônio Nacional pela Constituição
Hídricos no Estado de Mato Grosso do Sul, ao des- Federal de 1988, e Patrimônio Natural da Humanida-
crever a composição organizacional estabelecida por de e Reserva da Biosfera, pela UNESCO, em 2000,
sua Política Estadual de Recursos Hídricos, a atuação pois constitui um dos mais originais ecossistemas do
de seus elementos e atores, e apontar os avanços à im- Planeta (Mato Grosso do Sul, 2010a) ao apresentar
plementação dos instrumentos de gestão no Estado. grande diversidade biológica e um regime hidrológico
delicado. Dentre os sítios inscritos na Lista Ramsar
de Áreas Úmidas de Importância Internacional, a
METODOLOGIA Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN)
A análise realizada foi construída com base na “Fazenda Rio Negro”, com coordenadas 19°33’S
coleta de dados e informações disponibilizadas pelo 056°13’W, está inserida no território de MS e abrange
Instituto de Meio ambiente do Estado de MS (IMA- parte do Pantanal da Nhecolândia (Ramsar, 2012).
SUL), em reuniões do Comitê de Bacia Hidrográfica O território de Mato Grosso do Sul envolve as
do Rio Miranda e na experiência profissional dos bacias sedimentares do Paraná e do Pantanal, deposi-
autores. O levantamento bibliográfico e a pesquisa tadas em embasamento cristalino composto de rochas
sobre a legislação ambiental e de recursos hídricos do metamórficas e ígneas. A Bacia do Paraná ocupa
Estado de MS referenciou as discussões em torno do aproximadamente 65% da área do Estado, enquanto
processo evolutivo da implantação do Sistema e dos a Bacia do Pantanal abrange 27% e o embasamento
instrumentos de gestão de recursos hídricos de Mato cristalino apenas 8%. Os Latossolos são os de maior
Grosso do Sul, enfatizando os dispositivos sobre a ocorrência na classificação dos solos do Estado (Mato
cobrança pelo uso da água, considerando os termos Grosso do sul, 2010b).
legais da Constituição da República Federativa do As atividades agropecuárias e das agroindústrias
Brasil de 1988 e da Lei Federal n° 9.433 de 1997 que compõem os principais setores que impulsionam o
estabelece a Política Nacional de Recursos Hídricos. desenvolvimento da economia de MS (Mato Grosso
do Sul, 2010a). O Estado é considerado um dos
CARACTERÍSTICAS GERAIS DO ESTADO maiores produtores de gado e de soja do Brasil e
enfrenta situações novas, como o crescimento do
Dos Estados brasileiros, Mato Grosso do Sul ocu- setor sucroalcooleiro e da indústria de celulose, que
pa a 6º posição em extensão territorial ao constituir possuem relações profundas com a questão hídrica.
4,19% da área total do Brasil e 22,23% da área do Conta com uma Política Estadual de Recursos Hí-
Almeida, l. F. R. de; Broch, S. A. O.; Dias, C. A.; Alves Sobrinho, T. Análise do gerenciamento dos recursos hídricos de MS
dricos e um sistema institucional de gerenciamento elétrica, nas atividades agrícolas, de pesca, turismo
de recursos hídricos em processo de implantação. e industriais. A bacia do Paraná é compartilhada
com mais seis Estados brasileiros. Nesta Região são
$VSHFWRV+LGURJUiÀFRV encontradas as sub-bacias dos rios: Aporé, Sucuriú,
Santana, Quitéria, Verde, Pardo, Ivinhema, Amambai
O Conselho Nacional de Recursos Hídricos, por
e Iguatemi.
meio da Resolução nº 32, de 25 de junho de 2003,
divide o Brasil em 12 Regiões Hidrográficas. Destas, Além da extensa malha hídrica superficial, Mato
duas configuram-se no território de Mato Grosso do
Sul: a Região Hidrográfica do Paraguai e a Região
Grosso do Sul dispõe de oito unidades aqüíferas,
sendo elas: Aquífero Cenozóico; Bauru; Serra Ge-
7
Hidrográfica do Rio Paraná, conforme descritas no ral; Guarani; Aquidauana-Ponta Grossa; Furnas;
Plano Estadual de Recursos Hídricos (Figura 1). Pré-cambriano Calcários; Pré-cambriano. Os aquí-
A Região Hidrográfica do Paraguai, concentrada feros porosos são definidos pelos grupos de rochas
no oeste de Mato Grosso do Sul, representa 52,54% sedimentares, e as rochas ígneas-metamórficas cons-
da área total do Estado. Compreende o Pantanal, um tituem os aquíferos fraturados ou de fissuras (Mato
santuário ecológico mundial, e contem as seguintes Grosso do Sul, 2010b).
sub-bacias: Taquari, Miranda, Negro, Apa, Correntes O Aquífero Guarani, considerado a principal
e Nabileque. reserva subterrânea de água doce da América do Sul,
Na porção leste do Estado situa-se a Região Hi- é importante manancial de abastecimento do Estado.
drográfica do Paraná que ocupa a área de 169.5 mil Esse aquífero estende-se pelo Paraguai, Uruguai e
km², ou seja, aproximadamente 47,46% da área de Argentina e no território brasileiro, pelos Estados
Mato Grosso do Sul. A bacia do Paraná compreende de Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa
a região mais urbanizada e que concentra o maior Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul,
desenvolvimento econômico do Estado. Os recursos o último detém a maior área brasileira do Aquífero
hídricos são utilizados para a geração de energia Guarani (Mato Grosso do Sul, 2010a).
QUADRO 1
Evolução dos Órgãos envolvidos na gestão e execução da Política Estadual de Recursos Hídricos de MS.
Em Mato Grosso do Sul, a Resolução CERH escolha da contratação da consultoria e não definem
(Conselho Estadual de Recursos Hídricos) N° a divisão dos recursos entre os mesmos.
002, de 25 de outubro de 2005, aprova a criação As ações do Comitê estão travadas e limitadas
do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Miranda pela ausência de uma secretaria executiva com au-
(CBH-MIRANDA). A atuação do CBH - MIRAN- tonomia financeira. Desta forma, Moções foram
DA compreende a totalidade da área de drenagem da enviadas para a Assembléia Legislativa de MS e ao
bacia hidrográfica do Rio Miranda que é de 43.787 IMASUL exigindo apoio financeiro para estruturação
km2 e abrange a UPG Miranda.
A criação do Comitê da Bacia do Rio Ivinhema foi
dos Comitês, a regulamentação do Fundo Estadual
de Recursos Hídricos, bem como, para o repasse da 11
aprovada pela Resolução CERH/MS N° 013, de 15 compensação financeira das hidroelétricas ao apoio
de dezembro de 2010, cuja atuação abrange a UPG do atendimento das demandas apontadas. A aplicação
Ivinhema. O processo de escolha dos integrantes dos recursos da Compensação Financeira pelo uso da
dos Comitês de Bacia é público, com ampla e prévia água para geração e energia e os Royalties de Itaipu
divulgação, sob a coordenação do IMASUL. Binacional na Política e Sistema Estadual de Recursos
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Parana- Hídricos é prevista na Lei Estadual 2.406/2002, que
íba (CBH-Paranaíba), criado por meio do Decreto cria o Fundo Estadual de Recursos Hídricos cujas
Federal de 16 de julho de 2002 (não numerado), receitas originárias, dentre outras, são dos recursos
dentre seus membros tem os representantes dos es- capitados pelo Estado da exploração hidroelétrica.
tados de Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais Porém, o Fundo Estadual de Recursos hídricos não
e Distrito Federal. está regulamentado e tais recursos da compensação
estão alocados para serviços e obras hidráulicas, para
a capitalização do Fundo de Previdência Social do
As Agências de Água Estado, e ao abatimento de dívidas decorrentes da
Com a função de secretaria executiva dos Comitês, Conta Gráfica do Estado de MS para com a União.
a criação das Agencias de Água está condicionada, em No ano de 2011 foi aferida uma receita de mais de
cada bacia, à prévia existência do respectivo Comitê R$ 30 milhões para o cofre estadual de Mato Grosso
de Bacia Hidrográfica e à sua viabilidade financeira do Sul decorrente da tarifa paga pelas hidroelétricas
assegurada pela cobrança. Entretanto, até o momen- (ANELL, 2012). Portanto, há possibilidade destes
to há apenas entidades delegatárias das funções das recursos serem considerados como fonte financeira
Agências de Água no Brasil. à estruturação do Sistema Estadual de Recursos Hí-
No Estado a criação de uma Agência de Água da dricos, incluindo o fortalecimento da atuação dos
Bacia depende da autorização do Conselho Estadual Comitês e a viabilização da criação e manutenção
de Recursos Hídricos, mediante solicitação de um ou de sua respectiva Agencia de Água, que para isso,
mais Comitês de Bacia Hidrográfica. Do total dos depende apenas do interesse e dos esforços do poder
recursos financeiros recolhidos por meio da cobrança público estadual para a realocação deste recurso.
pelo uso da água, quando esta estiver implementada, O instrumento de cobrança pelo uso da água apre-
a legislação limita o valor de 7,5 % para ser destinado senta problemas para o Estado de MS tanto de ordem
ao custeio administrativo e implantação da Agência legal, como econômica, devido à parcela significativa
de Água. do setor rural. Há um longo caminho para que este
No Estado, não há nenhuma Agência de Água, instrumento seja efetivamente implementado. A
ou entidade delegatária, para executar as funções de política de recursos hídricos brasileira é baseada no
braço técnico dos Comitês. Os Comitês criados em modelo Frances de gestão embasado no princípio
Mato Grosso do Sul apresentam atuação limitada “Água paga pela Água”, contudo, são concretas as
pela ausência de recursos financeiros para a execução dificuldades para este princípio ser estabelecido no
de estudos e ações. Estado de MS. Por isso, é imprescindível a participa-
A possibilidade de dotação dos recursos financeiros ção governamental na condução inicial do processo
e de suporte técnico para a elaboração de planos de de gerenciamento dos recursos hídricos do Estado.
bacias demandados pelo Comitê do Rio Miranada Tendo em vista que o Art. 242º da Constituição
e do Rio Ivinhema está restrita as competências da Estadual, que trata da aplicação da compensação
administração direta do Estado de MS, no caso, pelo financeira pela exploração hidroelétrica, já foi altera-
IMASUL. Com isso, os Comitês não participam da do por duas vezes, o poder público de MS tem reais
REGA – Vol. 10, no. 1, p. 5-16, jan./jun. 2013
possibilidades de destinar maior destaque às suas O Plano não apresenta a regionalização das vazões,
questões hídricas ao fornecer o suporte econômico e desta forma, as vazões mínimas, máximas e médias
essencial para a consolidação do Sistema proposto, apresentadas no PERH são oriundas das informações
com nova redação para o referido dispositivo cons- do banco de dados da Agência Nacional de Águas,
titucional. por meio do Sistema de Informações de Recursos Hí-
dricos (Hidroweb). Entre as limitações para a análise
&RQVyUFLRGH%DFLD+LGURJUiÀFD das vazões dos rios de MS estão: a carência de postos
fluviométricos; a grande distância entre os existentes;
12 Em Mato Grosso do Sul, os consórcios intermu- e a falha na coleta de dados dos postos em alguns
nicipais têm importante papel de fomento à criação períodos, tornando as informações inconsistentes.
de Comitês de Bacias Hidrográficas. Algumas UPGs possuem apenas um posto fluviomé-
O primeiro Consórcio Intermunicipal de Bacia trico com dados suficientes para análise e outras não
Hidrográfica foi criado no Estado em junho de possuem postos de monitoramento hídrico, como é
1997, o COINTA - Consórcio Intermunicipal para o caso das UPGs Quitéria e Santana (Mato Grosso
o Desenvolvimento Sustentável da Bacia Hidrográfica do Sul, 2010b).
do Taquari. Formado pela associação dos municí- Estruturado em três etapas, o PERH-MS apresen-
pios de Alcinópolis, Bandeirantes, Camapuã, Costa ta, primeiramente, um diagnóstico da situação dos
Rica, Coxim, Pedro Gomes, Rio Verde, São Gabriel recursos hídricos do Estado, em seguida, o prognósti-
d´Oeste e Sonora, uma empresa estatal: SANESUL co para os próximos anos e, ao final, faz referência aos
– Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul, programas a serem desenvolvidos no âmbito estadual,
e uma empresa privada: ENERSUL – Empresa de compreendidos como ações preventivas.
Energia Elétrica de Mato Grosso do Sul.
A elaboração do Plano Estadual de Recursos
No mesmo ano, os municípios de Anastácio,
Hídricos de Mato Grosso do Sul foi coordenada
Antônio João, Aquidauana, Bodoquena, Bonito,
pela SEMAC e contou com o suporte técnico, ins-
Bela Vista, Caracol, Guia Lopes da Laguna, Jardim,
titucional e financeiro da União, por intermédio da
Maracajú, Miranda, Nioaque, Porto Murtinho, Ponta
Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano
Porã consolidam o Consórcio Intermunicipal para
(SRHU) do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
o Desenvolvimento Integrado das bacias dos Rios
Miranda e Apa (CIDEMA).
O enquadramento dos Corpos de água
OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO No que diz respeito às experiências na região
DOS RECURSOS HÍDRICOS Centro-Oeste, nenhum corpo de água foi enquadrado
DE MATO GROSSO DO SUL em classes, de acordo com os principais usos. Há
uma proposta de enquadramento dos corpos d’água
Plano Estadual de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai (rios Apa,
Com a finalidade de orientar o planejamento e Correntes, Miranda, Taquari, Negro e Nabileque),
a implementação da Política Estadual de Recursos em Mato Grosso do Sul, e do córrego Imbiruçu
Hídricos, o Plano Estadual de Mato Grosso do Sul pertencente à Bacia Hidrográfica do rio Paraná,
foi aprovado através da Resolução CERH-MS nº 011, estabelecida pela Deliberação CECA n.º 003/97, do
de 5 de novembro de 2009, e publicado no Diário Conselho Estadual de Controle Ambiental.
Oficial do Estado de Mato Grosso do Sul nº 7.598 É importante ressaltar que esta proposta de enqua-
de 7, de novembro de 2009. dramento foi embasada nos parâmetros estabelecidos
Para os estudos e proposições, a base físico-territo- na Resolução n° 20, de 18 de junho de 1986, do
rial adotada no Plano Estadual consistiu nas Regiões Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA),
Hidrográficas do Paraná e do Paraguai e, nestas, as posteriormente revogada pela Resolução CONAMA
correspondentes Unidades de Planejamento e Geren- n° 357, de 17 de março de 2005 (Brasil, 2005). A
ciamento (UPGs) de Recursos Hídricos. De acordo referida proposta de enquadramento é anterior à pro-
com Mato Grosso do Sul (1990). O Estado de MS mulgação da Lei 9.433/97, que dispõe sobre a Política
foi dividido em 15 UPGs que correspondem a cada Nacional de Recursos Hídricos e da Lei 2.406/2002,
uma das sub-bacias hidrográficas de Mato Grosso do que propõe a Política Estadual de Recursos Hídricos
Sul, conforme a Figura 1. de MS e estabelecem o enquadramento dos corpos de
Almeida, l. F. R. de; Broch, S. A. O.; Dias, C. A.; Alves Sobrinho, T. Análise do gerenciamento dos recursos hídricos de MS
águas em classes, de acordo com os principais usos, o princípio democrático (Art. 1°, Parágrafo Único,
como um dos instrumentos de gestão de recursos CF) uma vez que o legislador estadual exerce a função
hídricos. Com assim, se faz necessário que tal pro- reservada, com exclusividade, à participação popular
posta de enquadramento dos corpos d’água da Bacia direta, ou seja, aos Comitês de Bacia. A Lei Estadual
Hidrográfica do Alto Paraguai seja revista, aos moldes não tem legitimidade para se sobrepor a Lei Federal,
dos normativos vigentes, inclusive, para a inclusão subtraindo dos Comitês sua autoridade em relação
de corpos hídricos da Bacia Hidrográfica do Paraná. a implantação da cobrança na sua respectiva bacia
hidrográfica (Raslan, 2008).
A outorga de Recursos Hídricos Os dispositivos da Lei Estadual 2.406/2002 que 13
No Estado de Mato Grosso do Sul a outorga de excedem o limite atribuído pela Constituição Federal
direito de uso de recursos hídricos não é aplicada, para a suplementação quanto a cobrança pelo uso dos
tendo apenas o licenciamento ambiental de ativida- recursos hídricos estão assim redigidos:
des poluidoras e/ou potencialmente poluidoras, tais
como irrigação, construção de barragens e açudes, “Art. 20. A cobrança pelo uso dos recursos hídricos
deverá ser implantada por bacia hidrográfica, a partir
aqüicultura, instalação de roda d’água, entre outras.
de proposta dos correspondentes comitês, cujos valores
serão definidos, ouvidos os comitês locais, pelo Conse-
Cobrança pelo uso da água lho Estadual dos Recursos Hídricos.
§ 1º. São considerados insignificantes e serão isentos
A cobrança pelo uso da água é um instrumento
da cobrança pelo direito de uso da água as capaci-
que objetiva transmitir ao usuário uma indicação tações e derivações empregadas em processo produ-
do real valor da água de acordo com sua qualidade, tivo agropecuário, assim como os usos destinados
quantidade e uso a que se destina. Apesar do potencial à subsistência familiar rural ou urbana, mantida,
de conscientização para o uso racional dos recursos em todo os casos, entretanto, a obrigatoriedade de
hídricos, a aplicação do instrumento de cobrança cadastramento no órgão outorgante.”
ainda é bastante controversa no Estado de MS. § 2º - Serão adotados mecanismos de compensação
A Constituição Federal de 1988 outorgou à União e incentivos para os usuários que devolverem a água
em qualidade igual ou superior àquela determinada
a competência exclusiva (indelegável), privativa e
em legislação e normas regulamentares.
concorrente, respectivamente, ao instituir o Sistema § 3º - As captações e derivações de que trata o pará-
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos grafo primeiro deste artigo, quando devolvidas ao
(CF, Art. 21, XIX), ao legislar sobre águas (CF, Art. leito hídrico, deverão sê-lo em grau de pureza igual
22, IV) e sobre conservação da natureza, defesa ou superior ao captado ou derivado.
do solo e dos recursos naturais, proteção do meio
ambiente e controle da poluição (CF, Art. 24, VI). “Art. 23 - As agroindústrias que dispuserem de sistema
próprio de captação, tratamento e reciclagem de água,
A competência privativa da União de legislar sobre com projetos aprovados pela Secretaria de Estado de
as águas autoriza os Estados federativos a legislarem Meio Ambiente, Cultura e Turismo, serão isentas da
sobre questões específicas relativa a esse recurso atra- cobrança pelo direito de uso da água.”
vés de lei complementar. A competência concorrente
permite que os Estados-membros e o Distrito Federal “Art. 24 - Os produtores rurais que mantiverem sistema
suplementem as normas gerais (Raslan, 2008), nesse de irrigação de lavouras estarão isentos da cobrança
caso, a Lei Federal 9.433/97. pelo direito do uso da água, desde que comprovado o
aumento da produtividade agrícola do beneficiário e a
Conforme o Art. 20, da Lei 2.406/2002 de Mato não poluição da água.”
Grosso do Sul, é competência dos comitês de bacias
hidrográficas apresentarem proposta para a implan- A produção agropecuária e agroindustrial re-
tação da cobrança na bacia hidrográfica correspon- presenta importante parcela na economia de MS.
dente. Neste mesmo artigo, no § 1º, são isentos a Segundo a legislação que estabelece a Política de
cobrança pelo uso da água no processo produtivo Recursos Hídricos de MS algumas premissas devem
agropecuário e usos na subsistência familiar rural e ser respeitadas para que haja a isenção da cobrança
urbana, assim como são isentas as agroindústrias (Art. pelo uso dos recursos hídricos em relação à quali-
23) e os irrigantes (Art. 24) e, desta forma, retira dos dade do efluente gerado pelas atividades descritas.
Comitês de Bacia Hidrográfica uma parcela vital de Contudo a estrutura institucional necessária para
sua competência. A Lei Estadual 2.406/2002 afronta assumir o controle da qualidade da água usada pelo
REGA – Vol. 10, no. 1, p. 5-16, jan./jun. 2013
setor rural e devolvida ao leito hídrico, como prevê Devido a importância econômica dos setores
o do Art. 20, § 3º, é inviável. A difícil mensurabi- agropastoril e agroindustrial para o desenvolvimento
lidade da poluição difusa originária da agricultura do Estado de MS, é certo a necessidade da análise cau-
através da erosão de fertilizantes, pesticidas e her- telosa do pagamento da água bruta em cada segmento
bicidas torna a fiscalização complexa e de difícil para que atividade produtiva não seja comprometida.
operacionalidade. Os critérios da cobrança pelo uso dos recursos
O Mato Grosso do Sul (2010b) admitiu que hídricos, ou até mesmo a sua isenção, devem oriundos
14 50% da carga do efluente de um rebanho confinado
submetido a um processo de tratamento alcançam
de uma proposta do Comitê de Bacia Hidrográfica
correspondente, aprovado pelo Conselho Estadual
os corpos de água. Na criação extensiva, forma de Recursos Hídricos, como resultado de análises e
predominante da pecuária em MS, a carga gerada é avaliações consensuadas dos segmentos participantes
considerada de 10%. Os dados constituem estimativa do Sistema Estadual de Recursos Hídricos.
consolidada no Plano Estadual de Recursos Hídricos,
contudo, não apresenta o percentual de agrotóxicos
que possam alcançar o curso de água, devido infor- Sistema de informações de recursos hídricos
mações insuficientes para avaliar a mobilidade destes No Estado de Mato Grosso do Sul, o sistema de
no solo e aferir a sua quantidade. informações não é regulamentado, e o cadastro de
A isenção dos irrigantes contida na Lei Estadual de usuários é inexistente. O IMASUL é responsável
Recursos Hídricos está condicionada à comprovação pelo desenvolvimento do sistema de informações de
do aumento da produtividade agrícola do beneficiário recursos hídricos em MS.
e a não poluição da água. É fato notório que todo As informações hidrográficas de rios de domínio
processo de irrigação se propõe ao aumento da pro- da União, no território de Mato Grosso do Sul, estão
dutividade. Ainda, mesmo o recurso hídrico utilizado disponibilizadas no cadastro nacional dos usuários de
de modo que exceda a necessidade da cultura não é recursos hídricos (CNARH), instituído pela Resolu-
passível de cobrança, e assim, não há estímulos aos ção ANA nº. 317, de 26 de agosto de 2003.
agricultores para que optem por sistemas de irriga- Integrante do Sistema Nacional de Informações
ção mais eficientes, ou que busquem apoio técnico sobre Recursos Hídricos (SNIRH), o conteúdo do
para otimizar o uso da água na irrigação. O valor CNARH inclui informações sobre local de capta-
econômico conferido a água bruta justificaria um ção, vazão utilizada, denominação e localização do
investimento inicial mais elevado para a atividade e curso d’água, atividade ou intervenção do usuário. O
geraria o uso racional desse bem. CNARH está sendo implementado de forma gradual,
Em virtude da dominialidade federal e estadual por motivos operacionais, mas é acessível ao público.
dos cursos de água estabelecidas pela Constituição O cadastro nacional é dos usuários de água de rios
Federal de 1988, e considerando os três âmbitos federais, todavia alguns Estados tem seu cadastro de
geográficos possíveis para o planejamento dos re- usuários instituído em conjunto com o CNARH,
cursos hídricos, as isenções contidas na legislação como Rio de Janeiro, Santa Catarina e Minas Gerais.
estadual podem instigar conflitos regionais, devido Algumas informações ambientais e de recursos
a desobrigação do pagamento da água dos rios de hídricos estão disponibilizadas, desde 2008, pelo
domínio estadual, enquanto os rios de domínio Sistema Interativo de Suporte ao Licenciamento
nacional podem apresentar cobrança para o setor Ambiental (SISLA). Esta ferramenta não substitui
agropecuário. a o cadastro dos usuários de recursos hídricos do
A retórica de que a isenção do setor rural é motiva- Estado de MS, pois as informações que integram este
da pela inviabilização da atividade agropecuária, com Sistema, não possibilita efetivar um balanço hídrico,
a cobrança pelo uso da água, não é fundamentada. e sem o balanço hídrico, não há como dar suporte
Inexistem dados e estudos que considerem o impacto aos instrumentos de outorga e cobrança.
desse instrumento no Estado de Mato Grosso do
Sul. Ademais, a isenção extrai o caráter educativo
desse instrumento, pois atribuir valor econômico à Educação Ambiental
água, incentiva o produtor rural e as agroindústrias a A Lei Estadual de Recursos Hídricos de MS não
racionar o uso desse bem, inclusive, a fim de otimizar estabelece a educação ambiental como instrumento
os custos da atividade. da Política Estadual de Recursos Hídricos. Contudo,
Almeida, l. F. R. de; Broch, S. A. O.; Dias, C. A.; Alves Sobrinho, T. Análise do gerenciamento dos recursos hídricos de MS
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