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Aquilo que hoje apelidamos de turismo tem, pelo menos no ponto de vista formal, os seus
antepassados vincados no vocábulo inglês “tour” que designava a volta, ou ida com retorno
ao ponto de partida, e que era utilizado para denominar a viagem que a jovem aristocracia
britânica encetava no final do seu período de aprendizagem.
Pelo facto do turismo apresentar como berço uma elite extremamente reduzida, este
cresceu intimamente associado ao despontar da civilização industrial ocidental.
O turismo aparece-nos, por isso, associado a um processo de difusão social que foi
proporcionado pelo aumento dos tempos livres, generalização das férias pagas e reforço da
acessibilidade ( transportes rodoviários, ferroviários, aéreos, melhoria das estradas e
vulgarização do carro particular ). [1]
Um aspecto que interessa muito ao geógrafo está relacionado com a difusão do fenómeno
turístico no espaço. Desde o final da II Guerra Mundial que a expansão do turismo suscita a
atenção dos geógrafos pelo facto deste manifestar inúmeras repercussões espaciais.
Em 1899, o turismo foi definido como “ uma viagem”, “um período de ócio” e um desejo de
“curiosidade”. [3]
O Turismo é “ uma eliminação do espaço por pessoas que afluem a um sítio onde não
possuem lugar fixo de residência”, disse Glucksmann ,em 1929, [4] ou “conjunto de
viagens cujo objectivo é o prazer, ou motivos comerciais ou profissionais ou outros
análogos, e durante os quais a ausência da residência habitual é temporária” avançou em
1930 Arthur Bormann. [5]
Mais tarde, e devido à evidência que o turismo é bastante mais do que uma mera viagem,
as definições vão sendo sucessivamente enriquecidas com a sua dimensão económica e
cultural,
“ conjunto de relações pacíficas entre viajantes que se detenham num sítio, as pessoas não
domiciliadas aí e os naturais dessa região” Benscheid, e “ conjunto de fenómenos
económicos e sociais originados pelas viagens”, M. Gautier. [6]
Uma outra definição que importa esclarecer é a de turista. Não existe, ainda, um definição
amplamente aceite por todos os países dado que cada um utiliza os seu próprio conceito.
Para os países escandinavos e a própria Espanha, turista (externo) continua a ser todo o
estrangeiro que cruza as fronteiras. Para a Suíça só são turistas aqueles que utilizam os
estabelecimentos da hotelaria tradicional. Para a Bélgica e Portugal, o turista é todo o
indivíduo que dispende pelo menos uma noite num alojamento temporário fora do seu local
de residência habitual.
Posto isto, podemos afirmar sem mínima dúvida que, o turismo constitui um fenómeno
muito complexo e que apresenta uma multiplicidade de componentes. O acto turístico é algo
que se desenrola na encruzilhada de uma vasta gama de áreas fenomenológicas, cada uma
delas com a sua própria matriz de possibilidades. O turismo é um fenómeno
multi-dimensional cuja a acção se desenrola tanto numa vertente espacial, como num
campo económico, sociológico e mesmo psicológico. Como resultado de tudo isto, o que se
verifica é a existência de abordagens efectuadas sobre diversos prismas, privilegiando esta
ou aquela dimensão, e dando maior atenção a um ou a outro factor considerado como
importante. Neste sentido, é natural que se possa falar em diferentes tipos/formas de
turismo, por exemplo:
o turismo interno ( que é aquele que é efectuado pelos nacionais de um país sem sair
das suas fronteiras);
o o turismo urbano que apresenta variedades que vão do histórico até ás originadas por
motivações de carácter cultural. [10]
O turismo é um fenómeno eminentemente dinâmico, não só porque é responsável pelas
mais impressionantes migrações que o nosso planeta jamais conheceu, mas também
porque é o responsável pela transformação acelerada da fisionomia dos lugares. As
migrações massivas dos tempos modernos, com tudo o que lhe está associado( fluxos
financeiros e culturais), é, um elemento fundamental na explicação de determinados locais
de acolhimento, na interpretação da sua organização espacial. O turismo rasga as vias de
acesso, exige equipamentos, valoriza áreas marginais, fixa populações devido à criação de
postos de trabalho, isto é, altera a geografia não só das áreas vocacionadas para a oferta
turística, como das eminentemente emissoras.
É desta forma que, territórios até à pouco distanciados em termos de localização absoluta,
apresentam hoje uma interacção espacial de tal forma importante que, para a sua
interpretação, análise das ligações mantidas com as áreas vizinhas é menos importante do
que aquelas mantidas com outras distanciadas a centenas ou mesmo milhares de
quilómetros. De um espaço produzido em função de, e para, os seus habitantes, temos
agora, e muitos locais, um espaço concebido em função daquilo que é suposto
corresponder à imagem que os turistas têm dele, ou seja, temos um espaço construído,
estruturado à posteriori, onde, para além do reflexo das próprias contradições internas, se
observa cada vez mais a passagem de um espaço vivido e observado, para um espaço se
estadia temporária, quando não de consumo desregrado.
Figura n.º
Paisagem
Sítio
Vegetação
Factor hídrico
FACTORES
GEOGRÁFICOS
Arte e Cultura
Congressos e Feiras
Meios de animação
Outra componente com grande responsabilidade na atracção dos centros turísticos está
relacionada com o sítio. Este, ao contrário da paisagem que serve de enquadramento,
constituí o ambiente específico onde tem lugar o acto turístico, sendo desta forma, o
responsável por parte das características particulares conferidas aos vários centros de
turismo.
Tudo isto que se referiu até então pode ser visto como lado positivo do fenómeno turístico,
todavia, este traz consigo inúmeros problemas.
Efectivamente, o turismo revela-se uma actividade com efeitos contraditórios: por um lado,
responsável pelo crescimento económico de muitas regiões, e por outro lado, é ele próprio a
fonte de inúmeros problemas que, mais cedo ou mais tarde, se começam a manifestar. É de
reter que os efeitos perversos da prática turística só ganham uma dimensão preocupante
quando nos situamos dentro de um turismo de massas ( ou de um turismo difuso mas
praticado em áreas particularmente sensíveis) e, quando este assume uma importância
desmesurada na estrutura funcional local ou regional.
No que concerne ao património natural, existem dois problemas centrais que se colocam :
um que diz respeito ás modificações operadas na paisagem através do consumo do espaço
para a construção de infraestruturas; o outro está relacionado com os desequilíbrios
ecológicos que uma frequente utilização turística pode provocar. O primeiro problema é
aquele que se afigura mais complexo na medida em que a paisagem é uma das principais
atracções turísticas e é ao mesmo tempo uma das suas maiores vítimas.
A salvaguarda do património humano passa por acções dirigidas à conservação e restauro
do património físico sujeito à pressão turística e passa, também, pela protecção da
identidade das populações de acolhimento.
O fenómeno turístico é algo que tem sofrido alterações ao longo do tempo e por isso é usual
afirmar-se que o devir turístico estruturar-se-á em função de duas variáveis fundamentais: a
evolução dos níveis de rendimento( o que deriva das conjunturas macro-económicas das
sociedades modernas), e as variações nos padrões sociológicos inerentes às motivações
de quem encetar um acto turístico.
Tido até há relativamente pouco tempo como algo associado ao consumo supérfluo, o
turismo actual é, cada vem mais, encarado como um elemento fundamental à saúde e bem
estar das populações, sujeitas a constantes agressões nos seus meios habituais de
residência. Nesta perspectiva, o turista do futuro tenderá para procurar o verdadeiro
repouso que lhe permita a regeneração das suas energias.
[5] cit. por MOREIRA, J.F., Turismo em espaço rural, 1994, p.18
[7] cit. por LOZATO-GIOTARD, J .P., Geografia del Turismo, 1990, p.10