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~_ISTAMOS VI po Amar GLO Hse. ~ O PROF. OCTAVIO TANNI aan Lest PRESENTA UM EXCELENTE ENSAIO: © mundo entrou na era do globalismo. Todos esto sendo desafiados pelos dilemas e horizontes que se abrem com a formacao da sociedade global. Essa € uma tealidade probleméatica, atravessa- da por movimentos de integragio ¢ fragmentagao. Simultaneamente a interdependéncia e 4 acomo- dacio, desenvolvem-se tensdes e antagonismos Implicam tribos e nages, coletividades € naciona- lidades, grupos € classes sociais, trabalho e capital, cinias e religides, sociedade e natureza. So muitas as diversidades e desigualdades que se desen- volyem com a sociedade global. Algumas sao anti- gas e€ oulras recentes, surpreendentes, Para com- preender os movimentos ¢ as tendéncias da socie- dade global, pode ser indispens4vel compreender como as diversidades e desigualdades atravessam o mundo. (an CIVILIZACAO BRASILEIRA TSH 85-200-0V2)-0 TD 2850676 280 St — A ERA Do——> obalismo CIVILIZACAOBRASILEIRA Copyright© 1996 by Octavio laani Capa: Silvana Mattievich Composigho: Tiffany ProdugGes Graficas ¢ Editriais Lida, 97 Impresso no Brat Printed in Br eo - 303.4 DU = 008 96.1874 ‘Todos os direitos reservados pel BCD UNIAO DE EDITORAS S.A. ‘Av Rio Branca, 99-20° andar— Centro 2040-004 Rio de Jansiro— RI “Tel: (021)263-2082 ~Fani (021) 262-6112 Impressono Brasil pe ‘Sistema Cameron da Divisto Grificada DISTRIBUIDORARSCORD DESERVIGOS DEIMPRENSA S.A. Rua Argentina 171 — Rio de Janeiro, RJ ~20921-380~ Tel: 585-2000 io 6 pemnitida a reprodugio total ow percial desta obra, por quaisquer eios, semna prévia autorizagiopor escrito de Edtora, Atendemos pelo Reembolso Postal. Proficio © mundo entrou na era do globalismo, Todos estio sendo desafiados pelos dilemas e horizontes que se abrem com a forma- do da sociedade gl Essa ¢ uma realidade probleméti mentos de integragdo e fragmentacio. wessada port faneemente grupos e classes sociais dade e natureza, So muitas as diversidades e desigualds se desenvolvem oom a sociedade global. Algumas sfo a outras recentes, surpreendentes, Para compreender os movimen- tos e as tendéncias da sociedade global, pode ser indispensivel compreender como as diversidades e desigualdades atravessam o mundo, O globalismo naturalmente convivecom vérias figuragdes fundamentais de vida ¢ pensamento, O tribalismo, 0 nacionalismo eo regionalismo, assim come 0 coloni perialismo, continuizm presentes em todo ¢ mundo. Mas todas es- ‘ses realidades adquirem outros significados ¢ outros dinamismos, devido aos processos e as estruturas que movimentam a socieda- de global. Esse € 0 vasto eenario em que se formam e recriam cor- rentes de pensamento ce alcance global. Elas podem ser pensiveis para que se possa explicar, traneformar ou ao menos imaginar o que vai pelo mundo. Octavio Lani T GLoBALizAGAo E DivERSIDADE A globalizagio do mundo expressa um novo ciclo de expanstio do capitalismo, como modo de producao e proces- so civilizatério de alcance mundial. Um processo de amplas proporgdes envelvendo nagdes nacionalidades, regimes po- Iiticos © projetos nacionais, grupos e classes sociais, econo as e sociedades, culturase civilizagdes, Assinalaa emergen- cia da sociedade global, como uma totalidade abrangente, com- plexa e conttaditéria, Uma realidade ainda ponco conhecida, desafiando priticas ¢ ideais, situagdes consolidadas ¢ inter- pretagSes sedimentadas, formas de pensamento ¢ vos da ima- ginageo. Para reconhecer essa nova realidad, precisemente noque ela tem de novo, ou desconhecido, toma-se necessirio reco- nheoer que.a trama da historia nio se desenvolve apenas em continuidades, seqiiGneias, recorréncias, A mesmahist6ria ad- quire movimentos insuspeitados, surpreendentes, Toda duragio sedeixa alravessar por rupturas, A mesma dinémica das conti- rnuidades germina possibitidades inesperadas, hiatosinadverti- dos, rupturas que parecem terremotos. “Em dade nfo €, de modo al- gum, « caracteristica mais s sm todos 08 grandes momentos decisivos do passado, deparames subita- mente com o fortuito eo imprevisto, 0 novo, 0 dinémico ¢o ativos sfio as diferencas e ndo as semel descontinuidade e ndo os elementos decontinuidade,.. Se néo mantivermos nossos olhos alertados para o que é nove ¢ dife- rente, todos perderemos, com a maior facilidade, o que € es- sencitil,a saber, o sentimento de viver emum novo periodo...O cstudo da Histéria contempordinea requer novas perspectivas © uma nova escala de valores Jentacimperceptivel, oude repente, desapa- am-se ossigni- ficados das nogdes de pafses centrais ¢ periféricos, do norte © jindustrializados e agrarios, modernos earcaicos, ocidentais ‘corientais, Literalmente, embaralha-seo mapa do mundo, unas vvezes parecendo reestruturar-se sob 0 signo do neoliberatismo, outras parecenddo desfazer-se no caos, mas também prenun- ciando outros horizontes. Tudo se move. A historia entra em movimento, em escalamonumental, pondo em causa cartogra- fias geopoliticas, blocos ealiangas, polerizagées ideoldgicas e interpretagdes cientificas, ‘As nogdes de coloni no, dependén- cia einterdependéncia, assim comoas de projeto nacional, via nacional, capitalismo n alc outrasen- velhecem, mudam designificado, exigem novas formulagies. Na medida em que se desfazem as hegemontias construidas du- rante a guerra fria, declinam as superpoténcias mundiais, enve- hecemn ou apagam-scas aliangas ce acomodagbes estratégicase s sob as quais desenhava-se o mapa do mundoaté 1989, quando caitt 0 Muro de Berlim, o emblema do mundo bipotatizado, Simultaneamente, comegam aemergit novos pétos depo- der, revelam-se os primeiros tragos cle outros blocos geopolitices, manifestam-se as primeiras acomodagées ¢ tensdes entre os Unio Sov os sistemes de aliongas que pareciam convenientes e permanen- tes, abalam-se ou desabam, No queda do Muro de Berlim, os governantes dos Estados Unidos comegaram a preocupar-secom ¢ preeminéncia do Jap na orla do Pacifico @ em outras partes do mundo. No dia seguintea unificagao da Alemanha,quandoa Alemanha Federal absorveu a Repliblica Popular Alema, a Comunidade Européia estremeecu, ‘Mais uma vez, no final do sécuilo XX, o mundo se dat conta de que a historia nao se resume no Mluxo das continuida- des, seqtiéncias ¢ reconréncias, mas que cnvolve também ten- 60s, rupturas e terremotos. Tanto é assim que permanece noar aimpressio deque terminouuma época, terminou estrondosa- mente toda uma época; e comegou outta nko $6 diferente, mas muito diferente, surpreendente. Agora, sfio muitas os que so obrigados areconhecer que esti em curso um intenso processe de glebalizagao das coisas, gentes ¢ iddias. Esti em curso novo surto de universalizagzo do capitalis mo, como modo de produg2o e proceso civilizatério. O de- senvolvimento do modo capitalista de produgao, cm forma ex- tensivae intensiva, adquire outro impulso, com base emnovas tecnologias, criagio de novos prodatos, reeriagao da divisto internacional do trabalho e mundializagio dos mereados. As for- gas produtivas basicas, compreendendoo capital, a tecnologia, a forgade trabalho ea divisdo transnacional do trabalho, wltre- passam fionteiras geograficas, historicas e culturais, multiplican~ do-se assim a8 suas formas de aiticulagdo e eontradigdo, Esseé uum processo simultaneainente civilizatério, fA que desafia,rom- pe, subordina, mutila, destréi ou recria outras formas so% vida e trabalho, comprecncendo modos de ser, pensar, agit,sentir eimaginar. A nova divisdo transnacional do trabalho envolve a redistribuigao das empresas, eorporagdes ¢ congtomerados por todo o mundo. Bm lagar da concentragio da incistrie, cen- tros financeitos, organizagdes de comeércio, agéncias de pu- blicidade © micia impressa e cletrnica nos pafses dominan- tes, verifica-se a redistribuig&io dessase outras atividades por diferentes paises e continentes. Tanto é assim que, m poucas décadas, simplesmente a partir do término da Segunda Guerra Mundial, ocorrem “milagres” econémicos em paises com es- cassa tradigio industrial, assim como em cidades sem nagoes, taiscomo Hong Kong ¢ Cingapura; mas estrategicamente situa- das em cartografias geopoliticas, Forma-se toda uma cadeia mun- 10 dial decidades globais, que passam a exerver papéiscruciais na generalizagdo das forgas prodativase relagdes ce produgzioem ‘moldes capitalisias, bem como na polarizaglio de estruturas glo- bais de poder. Simultaneamente, ocorre a reestruturagao deem- presas, grandes, médias epequenas, em conformidade com as cexigéncias da produtividade, agilidade c capacidade de inova- Gao abertas pela ampliagiio dos mereados, em ambitonecional, regional e mundial. O fordismo, como padrdo de organizagaio do trabalho e produgio, passa a combinar-se com ou ser subs- {ituido pela flexibilizagiio dos processos de trabalho e produ- dio, um padriio mais sensivel as novas exigéncias do mercado mundial, combinando produtividede, capacidade de inovagiioe competitividade, Sob todos os aspectos, a nova divisto trans- nacional do trabalho c produgo implica outras e novas formas dcorganizacao social ¢ técnica de trabalho, de mobilizagaio da forga detrabalho, quando se combinam trabalhadores de distin- tas categorias ¢ especislidades, de modo a formar-se 0 traba- thador coletivo desterritorializado. Nesse sentido équeomun- do parece (er-se transformado em uma imensa fibrica. Tanto agsimqquejé Ihe cabe a metéfora de fabrica global. Uma fabrica em que seexpressam e sintetizam as forgas produtivas atuantes nc mundo; eagilizades pelas condigese possibilidades abertas tanto pela globalizagio dos mercados ¢ empreses como pelos meios de comunicagio baseadosna eletronica, A partir daeke- tronica, compreendendoa telecomunicagto, o computador, o fax c outros meios, o mundo dos negécios agilizou-se erm uma cescala desconhecida anteriormente, desterritorializando coisas, gentes e idéias, n ‘Acmergéneia des citlades globais ébem um produto e ma condig&o do modo pelo qual se dé a dispersdo das ativi- dades ccondmicas pelo mundo, Na mesme medida em que se movimentam e dispersam as empresas, corporagées e con- lomerados, promovendo uma espécie de destetritorializagio das forges produtivas, verifica-sc uma simult€nca reterri- torializagio em oatros espagos, una concomitante polarizacio de atividedes produtivas, industriais, manufatureiras, deservi- 60s, financeiras, administativas, getenciais, decisbrins. Ao rom- poras fronteiras nacionais,atravessando regimespolitices,cul- turase civilizagdes, tanto quanto mares ¢ oceanos, ias,arqui- pélagos econtinentes, as forgas produtivase asinstituiges que sgarantemas relagGos copitelistas de produgfio reteritorializam- 2m outros higares, em muitos lugares simultaneamente, reve- Jando-se ubiquas. Grages acs recursos teenoldgicos propicia- Gos pela cletinicae informética, ovorre todo um vesto reatranjo domapado mundo, Produzem-se novas redes de articulaydes, pormeiodas quais se desenham os contornos ¢ os movimentos, as condigdes eas possibilidadesdo capitalismo global. Sinnaltaneamente nova divisfio transnacional do traba- tho, o que significa novo impulso no desenvolvimento extensivo ¢ intensivo do capitalismo nomundo, oeorre uma erescentee onerolizada transformagio des condigSes de vida e trabalho no mundo rural. O campo ¢ industrializado ¢ urbauizado, ao mes- mo tempo que se verifica uma crescente migragiio de indivi- duos, familias e grupos para os centros urbanos proximose dis~ tantes, nactonais eestrangeiros. A teenificagiio, maquinizagioe quimificagzo dos processos de trabalho ¢ produgiio no mado 2 rural expressam o industrialismo ¢ 0 urbanismo, entendendo- se 0 urbanismo como modo de vida, padrées-e valores s6cio- culturais, secularizagio do comportamento ¢ individuagzo. Nese sentido ¢ que a globalizago do cepitalisio esta provo- cando a dissolugao do mundo agrério. Isto significa que se reduz.ousupera a contradigao cidade-campo, aque podesig- nificera vitéria definitive da cidede sobre o campo; o que pode significar que, nos moldes em que se movia até meados do século XX, o mundo agrétio deixou de ser um motor decisive da histor Juntamente coma expanstio das empresas, corporagées e conglomerados transnacionais, articulada com a nova di- visto transnacional do trabalho ¢ a emergéncia des cidades globais, verifica-se 0 declinio do estado-nagao. Parece redu- zir-se o significado da soberania nacional, j& que o estado- nagfio comega a ser obrigado a compartilhar ou aceitar deci 85cs ¢ diretrizes provenientes de centros de poder regionais ‘emundisis, Assim como acidadania tem sido prineipalmente tutelada, regulada ou administrada, também a soberania na- nal passa a sor erescontemente tutelada, regulada ou ad- ministrada, Se, por um lado, 0 estado-nagao & levado a lim tar ¢ orientar os espagos da cidadania, por outro lado, as es truturas globais de poder sfo levadas a li espagos da soberania nacional. Alias, 0 exereicio da propria cidadania, em émbito local, nacional, regional e mundial, tem sido delimitado ou agilizado pele jogo das forgas que preponderam em escala global. Acontece que a sociedade global j4 € uma realidade, ainda que em proceso de forma- 13 gic einstitucionslizagio, Vistacomo umtedo em movimento, a sociedade global estabelece algumas das condigbes ¢ pos dades que podem nortcar as condigdcs ¢ as possibilidades de nagSese nacioralidades, assim como de indivicios, grupos, clas- ses, coletividades, povos, movimentos sociais, partidos politi- 0s, correntes de opinito publica ‘A tegionalizagiio pode ser vista como uma necessidade da globalizago, ainda que seja simultaneamente um movimento de integragio de estados-nagdes. Pode muito bem ser es duas e a anilise dos fatos, ¢ no iique a prevaléneia das J. Sobcertos giio de interesses“nacionais" por meio da integragdo, mas sem- no Ambito da globalizagtio. Envolve os estados-nagdesna inica da mundializagio. Jogando com asconvergéncias ¢03 antagonismos entremacionalismo, regionalismoe globalismo, en- contram-se as empresas, corporacdes € conglomerados transnacionais. Tecem a globalizagao desde cima, om con- mundo, planejadas segundo as suas pol comercializagilo, preservagio e conq: indugdo de decisdes governamentais em ambito nacional, regional e mundial, Em suas eliangas estratégicas, ¢ por meio de suas redes de comunicagdes, podem estar presentes em muitos lugares ou mesmo em todo o mundo. Esse contex- to em que tendema ocorrer, resolver-se ou agravar-se as con- vergéncias ¢ as tensdes entre nacionalismo, regionalismo & globalism. Vista assim, no ambito da globalizagiio do capital mo, a controvérsia sobre mereado e planejamento perde mui da sua retorica ideotégica. As empresas, corporagdes ¢ con- glomerados transnacionais sempre planejam as suasatividades, com base nos mais rigorosos requisites da técnica, dos recursos intelectuais acumulados, Planejam em escala nacional, regional ce mundial, Constrocm cartografias minuciosas dos espagos con- trolados, disponiveis e poténcies, tendo também em conta mi- nuciosamenteos recursos de capital, tecnologia, forga de reba- tho, novos produtos, marketing, lobbingete. Um dos signos prineipais dessa historia, da globalizagéo docapitalismo, é 0 desenvolvimento docapital em geral, trans- cendendo mercados ¢ fronteiras, regimes politicos ¢ projetos ionais,regionalismos e geopoliticas, culturas ecivilizagdes. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, e em escata ainda mais ampla desde o término da guerra fri, © capital adquiriu proporges propriamenteuniversais. Articula os mais diversos subsistemas econéimicos nacionais eregionais, os mais cistintos projetos nacionais de organizagdio da economia, as mais dife- rentes formas de organizagio social e técnica do trabalho, subsumindo moedas, reservas cambiais, divides externas e in- tomas, taxas de cambio, cartdes de crédito e todas as outras mocdas reais ou imaginarias. O capital em geral, agora propria- mente universal, tomou-se 0 paréimetro das oparagdes econd- micas em todo 0 mundo, Pode simbolizar-se no délar norte- mericano, iene japonés, marco aleméio ouna moeda deste cu ddaquele pais, Mas nfo se reduz.a esta ou aqitela moeda A des- peito de uma e outra serem utilizadas na pratica, j4 €evidente que sob todas manifesta-sc uma moeda propriamente global. Expressa as formase os movimentosdo capital em geral, pro- priamenteuniversal, subsumindo amplamente as formes singula- res e particulares do capital. JA sfio muitos os que reconhecem que passou a época em que se imaginava a moeda simbolizando a soberania na- cional, economia independente, auto-sustendada, autdrquica, Mesmo as economiasnacionais mais poderosas movimentam- seem conformidade coma dinémica do capital em geral, ope- rando em escala global, subsuimindo real cu formalmente osca- pitais nacionais e regionais. Mais doqueamereadoria, o capital nalo tem ideologia.? Ocvorre queo capitalismo tomou-se propriamente glo- bal. A reprocugio ampliada do capital, emescala global, pas- sou ser uma determinagio predominente no modo pelo qual se organizam a produ, distibuigdo, troca e consumo. O capital, a tecnologia, a forga de trabalho, a divistio do trabalho social, o mereado, o marketing, o lobbing eo planejamento, tanto empresarial como das institui governamental, todas esses forgas estfio atuando em escala mundial, Juntamente com outras, politicase sdcio-culturais, sf0 Press, Londres, 1988, 16 forgas decisivas na criagio e generalizagiio de relagSes, pro- cessos ec estrutuas que articulam e tensionam onovo mapado mundo, No contextoda sociedade global, desenvolvem-se estrutt- rasde poder propriamente globais. Sao estruturas queexpressam as configuragdese os movimentos,as articulagdes ees contrad- Ses no Ambito da sociedade global, Naturalmente apdiam-se também em estados nacionais, centrais e periféricos, dominan- tes esubaltermos, ao sul eao norte, ocidentais e orientais. As estruturas de poder globais evidentemente no prescindem das como em outras combatem-nos. Isso fica evidente nas controvérsias sobre como administraradivida inteme eexterna, como desestatizar cu desregular a economia, reduzir tarifas, ace- lerar a integragio regional ete, Sio controvérsias em boa medi- da induzidas pelo Fundo Monetirio Internacional (FMI), 0 Ban- co Mundial (ou Banco Internacional de Reconstrugaio ¢ Desen- volvimento (BIRD)} ¢0 Acordo Geral de Tarifas Comércio (GATT) substituido em 1995 pela Organizagiio Mundial de Comércio (OMC); mas também agilizadas pelos febbings, marketings eamidia, sempre em escala mundial. Séo estrutu- ras globais de poder, is vezes contraditériss em suas diretrizes ou priticas, mas sempre pairanco além do soberanias ecidada- nias nacionais ¢ regionais. Perccem desterti das, jd que deslocam-se ne acaso das suas dindmicas préprias, descoladas de bases necionais, do jogo das relagdes entre estados nacio- nis, Ereterritoriatizany-se em outros lugares, prinejpalmente em ” cidades globais, transcencendo nagdes ¢ nacionalidades, fron- teiras ¢ geografias. Sob varios aspcetos, na 6pocada globalizagio domundo reabre-se a problemitica do trabalho, O modo pelo qual oca~ pitalismo se globaliza articulando rearticulando asmais diver- sas formas de organizagio técnica da produgo, envolve ampla transformagao na esfera do trabalho, no modo pelo qual otra batho entra na organizagio social da vida do individuo, fami grupo, classe c coletividade, em todas as nagdes e continentes, ilhas earquipélagos. Visto em perspectivaampla, o desenvolvi- mento do capitalismo global tem transformado as condigdes sociais ¢ técnices des atividades ccondmicas, influenciando ou modificando as formes de organizaggio do trabalho em todos os setores do sistema econdmico mundial, compreendendo os subsistemas nacionais cregionais, Modificam-se bastante era- dicelmente as écnicas proditivas, as formas de orgenizagio dos processos produtivos, 2s condigdes téenicas, e sociais de produgio ereprodugio das mercadorias, materiais cculturais, reais eimaginarias, ‘Acs poueos, ou de repente, conforme o caso, « grande maioria da populaggo assalariada mundial se v8 envolvide .o mereado global: um mercado em que se movern compra- dores e vendedores de forge de trabalho, mercadorias, valo- res de uso € valores de troca, Sao transagbes que multipl cam ¢ generalizam os dinamismos das forgas produtivas € relagdes de produciio, propiciando uma acumulagaoacentueca egeneralizada do capital,em ambito mundial. Af organizam-se ¢ desenvolvern-se, de modo articulado e contraditorio, as mais divorses formas de capital, tecnologia, forga de trabalho, divi- slo de trabalho, “socializagaio” do processo produtive, forma- ‘¢40 do trabalho coletive, racionalizagéio, planejamento, discipli- na, calculabilidade, publicidade, mercado, aliangas estratégicas cde empresas, redes de informatica, midia impressaeeleteonic: ‘campanhas de formagiio e indugdo da opinige piblica sobre 68 mais diversos temas da vida social, econémica, politica e cultural deuns e outros nos mais diversos cantos e recantos do mundo. ‘A releviineia do trabalho, em geral eem suas formas par ticularese singulares, comega a revelar-se quando serecorhece queo capitalismo transformon o mundoem uma espéciede imen- sa fibrica, Em relativamente poueas décadas, prineipalmente pos a Segunda Guerra Mundial (1939-45), a industrializagtio espalhou-se pelo mundo. A época da guerra tria (1946-89) fe também uma época de desenvolvimento extensivoe intensivo Jismo ng mundo. A contra-revolugéo mundial embuti- dana guerra fia favoreceua criagtoe 0 desenvolvimento de inddstries em nagdes subdesonvolvidas, agréias, periféricas, do Terceiro Mundo. Inicialmente desenvolveram-se politicas de industrializagdo substitutivas de importagzo.c, depois, de indus- trializagio crientada para a exportagio, sendo que em varios casos combinam.-se as ches politicas. Bm poucas décadas, mui- tas nagGes asidticgs, latino-americanas ¢ afticanas ingressaram nosisteme industrial mundial, As empreses, corporagdes e con- glomerados transnacionais desenvolveram-see generalizaram- se. Intensificou-seomovimentode capital, tecnologiae forga de trabalho, Formaram-see expandiram-se as aliangas estratégi- 9 cas, os contros ¢ os sistemas decisérios. Emergiram as cidades globais, como elas e polarizagées fundamentais da sociedade global, muitas vezes os lugares privilegiados das estruturas glo- bais de poder, Desde que se desagregou o bloco sovistico e reduzi- ram-se as barreires As inversdes estrangeirasna China, Vietna c outros paises com regimes socialistas, sem esquecer a tran- sigdo para a economia de mercado em todos os pafses que compunham 0 bloco soviético, desile essa ocasitoo capitalis- mo se vit diante de uma imensa fronteira de expansio, que ape- nas comega.a ser reocupada nas décadas finais do século XX. Umespaco cle amplas proporgées que conta com um contin gente excepeionalmentenumeroso de irabalhadores dispontveis, em larga medida qualificados. Talvezse possa dizer que a aber- turado conjunto das nagdesdo que era o mundo socialista, ouo “segundo mundo,” representa uma fronteira inesperada ¢ex- cepeional para novos surtos de acumuulago origindria. Af cria- ram-se condigdes novas e muito favordveis parao desenvelvi- ‘mento extensivo ¢ intensive do capitalismo.’ Asmesmas condi- ‘ges propfcias aos novossurtos de expanséo mundial do capi- talismo, da reprodugio ampliada do capital em escata global, 3. Andris Koves,"Secislst Boonomy andthe World-Eeenemy”, Review, vol.V, i¢do, td. de Keren Elsibe Barbose, Editora Paz. Terra, Sao Paulo, 1992, 20 essasmesmas condigSes trazem consigo acriagio ea teprodu- G0 de desigualdades, caréncias, inquietagves, tens6es, antago- nisms. Esse o contexto em que se desenvolve a globalizagzoda questio social. As mais diversas manifestagdes da questo social, nos mais diferentes paises € continentes, adquirem outres significados, podendo slimentar novos movimentos sociais e suscitar interpretagdes desconhecidas. Ocorre que as condigées de vida e trabalho, em todos os lugares, estio sendo revolucionadas pelos processos que provocam, induzem ‘ou comandama globalizagdo. A nova divisio transnacional do trabalho e produgéo transforma o mundo em uma fabrica glo- bal. A mundializagio dos merendos de produgdo, ou forgas pro- dutivas, tanto provoca a busca de forga de trabalho barata em todos os cantos do mundo como promove as migrages em todas as diregdes. O exéreito industrial detrabalhadores, ativo code reserva, modifica-see movimenta-se, formandocentingen- tesde desempregados mais ou menos permenentes ousubelasses, emescala global. Toda essa movimentagaio envolve proble- mas eulturais, religioses,lintiisticose raciais, sinmultaneamente sociais, econdmicos politicos, Emergem xenofobias, emocen- trismos, raeismos, funcamentalismos,racicalismos, violéacias. ‘A mesma mundializago da questo social induz uns & outros perceberemas dimens6es propriamente globais da sua existéncia, das snas possibilidades de consciéncia, Juntamente como queé local, nacional e regional, revela-se oqueé mundial. Osindivicuos, grupos, classes, movimentos sociais, partidos politicosecorrentes de opiniaio pilica sao desafiadosadesco- briras dimonsdes globais dos seus modos de ser, agir, pensar, sentir, imaginar. Todos so levados a perceber algo além do horizonte visivel, a captar configuraedes emovimentos da mé- quina do mundo! So muitos os que ja reconhecem que vivem no mes- ‘moplancta, como realidade social, econdmica, politica ¢cultu- ral, O planeta Terra j4 nfo é mais apenas um ente astrondmnico, mas também histérico, O que parecia, ou era, uma abstragho, Jogo seimpde a muitos como realidade nova, pouco conhecide, coma qual hi que seconviver. O planeta Terra tome-seoterri- trio da humanidade. ‘A medidaquese desenvolve a globalizagao, queo mer- cado se mundializa ¢ expande-se a fabrica global, o globo ter- restre se revela onicho ecolgico detado o mundo. Muitos s80 ‘os que passam areconhecer que 0 céu ea terra,adgua co ar, a fauna ea flora, os recursos minerais e a camada de ozénio, tudo isso diz respeito a todos, 20s que sabem, e 20s que no sabern, nos quatro cantos do mundo. muito significativo queaproblematica ambiental, ou pro- priamente eolégica, tenha sido reaberta em termos bastante enfiticos ne época da globalizagao. Em poucos anos, forma- ram-se movimentos scciais empenhadosem denunciar as agres- ses a0 meio ambiente, reivindicar medidas de protegao, exigit [Editora Beasiliense,Sd0 Panto, 1994; jzagio e Meio Téenico-Cien- 1994; Serge Latouche, A Geideatalizagao co Afundo, rad. de Celso Mauro Faciomiks, Vozs8, ak, Modernidade-sfundo, tra. 1995. 2 a reposigdio de condigdes originais. A terra, fauna, flora, Agu: ar, recursos do subsolo, tudo passou a preocupar a opinitio pu blica, mobilizar movimentos sociais, suscitaracriagio de cursos universitérios e programas de pesquisa, estimular a edigtio de vrose revistas, tudo isso destinado a proteger, obstare repor “osambientes, os nichos ecolégicos. Aos poucos, muitos se dio conta de que vivem no planeta Terra, ¢ precisam entender-se enquanto habitantes que dependem da vida desse planeta."“A difusfio global das politicas econdmicase dos estilos de vida est exaurindo a tiqueza ecolégica do nosso planeta, mais rapidamente do que pode ser reposta. Estio.em 10 05 recursos naturais dos quais depende a crescente po- pulago mundial’ ‘A forma pela qual a globalizagao provoca uma nova conscignciade que todos habitam o planeta Terra cria também desafiostedricos. Além dos valores fundamentais do humanistio laico e religioso, cientifico ¢ flos6fico, aconsciéncia de que o ecocosmo est sendo depauperado pela propria atividade de individuos, grupos, classes, govemos, empresas € corporagbes, essa consciéneia reaviva ideais humanisticos ¢ defrontam-se com desafios te6rices. Primeizo, logo se recolocao clissieo proble- a sociedade enatureza, uma preocupagdo sempre presente nas cigneias da natureza, nas ciéncias sociais ena filo- sofia, Segundo, em pouco tempo recoloca-se o problema da 5 The Group of Green Ecoromists, Ecological Economies (a Practical Programme forGiokal Reform), Zed Books, Londres, 1992, . 6. Tambemi iraio Natural trad, de Beatein Sidoux, Fditora Nove a contradicdo sociedade natureza, Muitos sto obrigadosadar- se conta dessa contradigo nos horizontes da globalizacao, quando essa contradiciio se universaliza em forma desconbe- cida para individuos, grupos, classes, coletividades e povos. ‘Além dacontradigto forga de trabalho e capital, desenvolve- se a contradigfo sociedade e natureza, dinamizada pela re~ produgdo ampliada do capital, em Ambito global. “A causa principal da segunda contradigdo é 0 uso e a apropriagio mutodestrutiva da forga de trabalho, do espago eda natureza externa, ou ambiente."* Mais uma vez, recoloca-se o problema das diversidades dos nichos ecoldgicos, das formas sociais de vida e trabalho, das singularidades das culturas, dos conhecimentos acumulados por tribos, povos e nagdes sobre o sou ambiente, suas relagbes coma ccalogia local, com o ciclo das estagdes, as formas de reprodugao das condigdesambientais em que vivem ereprodu- zem grupose coletividaces, tribos enagbes. sso 0 contexto em que muitos comecama compreender que possuem problemas similares, a despeito de viveremem condigdes diversas, em lugares distantes, sob distintas formas de governo. Recontievem que seus direitos e deverestranscen- dem o locale o nacional, transbordando para o Ambito mundial. ‘Amesma globalizagio da economia, politica, sociedadeecultu- raestabelece algumnas das bases de uma percepgto da sovieda- de global em formapo, da cidadania em escala muncial. Tames O'Connor, “La Seconda Contraddizione del Capitaisme: Cause € ‘Conseguenzs", Cepitalisno Natura Socialisio,n"6, Roma, 1992, pp.9-195 cltegto dap. 12, 4 Quando o planeta Terr deixade ser apenasumente as- tronémico para sertambém histérica, recoloca-se de modo ori- ginala dialética sociedade enatureza. Em pouco tempo, reebro- 50.2 conviegiio de queo modo pelo qual a sociedade se apro- pria danatureza, tornando-a historica, étambém o modo pelo qual se reabre a contradigao sociedade-natureza. O planeta Terra esta tecido por muitasmalhas, visiveis ¢ visiveis, consistentese esgargadas, regionais ¢ universais, SAo principalmente sociais,econdmieas, politicase culturis, oman- do-se as vezes ecologicas, demogrificas, ices, religiosas,lin- gilsticas. A propria cultura encontra outros horizontes de universalizagiio, ao mesmo tempo que se recria em suassingt Jaridades. O que era local enacional pode tomar-se também man- dial. O que era antigo pode revelar-se novo, renovado, mo- demo, contemporineo. Formes de vida e trabalho, imaginarios e-visdes do mundo diferentes, as vezes radicalmente diversos, encontram-se, tensionam-se, subordinam-se, recriam-se, “Fre- Gqtientemente a homogeneizagio desdobra-se no argument da americanizagio ou mercantilizagio, e muitas vezes os dois ar~ gumentos esto intimamente relacionados. Mas o que estes argumentos deixam de considerar é que tio logoas forgas das virias metrOpoles sfio levadas as novas sociedades, elas ten- dem a indigenizar-se de uma ou outra forma. Isto ¢ verdade para osestilos de misica e habitagio, tanto quanto é verdade para cigncia eterrorismo, espetdiculos @ constituigoes.”” ral “Disjunture and Difference in the Global ire, vol. 2, 2° 2, 1990, pp. 1-24 citacdo da p. 5. 25 Eclaro que sio muites as formas culturais mutiladas ou mesmo destrucas pola globalizagio, O capitalismo expande-se mais cu menos avassalador em muitos lugares, recobrindo, inte- grando, destruindo, recriando ou subsuraindo. So poucas as formas de vida e trabalho, de sere imaginar, que permanceem incdlumes dianteda atividade “civilizat6ria” do mereaclo, em- presa, forgas produtivas, capital. ‘A sociedade global nfo é somente uma realidade em constituigao, que apenas comega a mover-se como tal, por sobrenag®es ¢ impérios, fionteiras ¢ geopoliticas, dependén- cias ¢ interdependéneias. Revela-se visivel e incdgnita, pre- sentee presumivel, indiscutivel e fugez, real ¢ imagindria, De fato, esti. em constituigao, apenas esbogada aqui e acol, ain- daque em outros lugares aparega inquestiondvel, evidente, Ste muitos os que tém dividase certezas, conviegbes e ceticismos sobre cla, Ocorre que 0 que é mais visivel e evidente & 0 lugar, 0 locale onacional, aidentidade eo patriotismo, o provincianismo eonacionalismo, Aindaque problematico, esse lugar articula gcografia chist6ria, espago ¢ tempo, servindo de ponto derefe- réncia, parimetro, paradigma, So séculos de tradigdes ¢ faga- inhas, herdis e santos, monumentes enuines cristalizados.em velo- resepadtdes, priticasc ilusdes, linguase religides. Sob varios aspectos, o enraizamento no lugar ea ilusdo da identidade po- dem dificultara percepgio do queé outro, estrangeiro, diferen- te ouestranho, assim come oque é internacional, multinacional, transnacional, mundial, cosmopolita ou global. Sao gradagdes da geografie chistoria, do real e posstvel, do ser edevir, que ds 26 -vezes ultrepassam os dados imediatos da consciéncia, as per- cepgSes empiricase pragmiaticas, asconviegBessedimentadas, as catogorias elaboradas, es interpretagdes conhecidas. Tisse dilema, com suasimplicagdes epistemologicas, com- pliga-se um poueo mais quando comevamos anotar queasoci- edade global se constituina época da cletrdnica, dinamizada pelos recursos da informstica, Esse, também, um motivo ¢o porqué a sociedade global se mostra visvel ¢ inebgnita, presen- fee presumivel indiscutivel efugaz, real c imaginéria, Ba est articulada por emissées, ondas, mensagens, signos, § redes¢ aliangas que tecem os lugares eas atividades, os eam- pose as cidades, a diferengas e as identidades, as nagdes © nacionalidades. Esses so: ‘osmeios pelosquais desterritorializam- se mercados, teonclogias, capitais, mercadorias, idéias, deci- sdes, priticas, expectativase ilusdes. ‘Nomade‘‘¢ @ palavra-chave que define o modode vida, vestiloculturaleo consumo dos anos 2.000, Pois todos carre- garlic consigo entdo a sua identidadle; 0 nomadismo serd a for- mia suprema da ordem mercentil..Qs meiosde trensporte (ate tomével, avido, trem, navio), suportes naturals destenomadismo, sero lugares privilogiados de reunidio deobjetosnémades: tele- fons, telofax, elevisorcs, leitores de video, computadores,for- nos microondas...Seja em avido, trem, navio ou a domicilio, 0 individuo se alimentara movendo-se, a fim de ndo perdertem- 1po"?O mercado global ria ailusdo de que tudo tendeaasse- melhar-se © harmonizar-se. ‘Em todos os lugares, tudo cada. Barcelona, 1991. FT Tecques Attali, Milenio, trad. doR. M. Basso, Seix Bar pp. 81-82 2 vezmais se parece com tudo o mais, a medida que a estrutura de preféréncias do mundo ¢ pressionada paraum ponto comum homegeneizado.”® Nesse nivel, a sociedade global umuniverso deobjetos, aparelhos ou equipamentos moveis fugazes atravessando espa ciaea técnica, acletrOnica ea inform m 08 espagos © os tempos, as nagdes ¢ 0s cor lagos, 0s mares € 0S Oceanos, OS singulares ¢ 0s universais, O mundo se povoa de imagens, mien- sagens, colagons, montagens, bricolagens, simulacros ¢ virtualidades. Representam ¢ elidem arealicade, periéncia, Povoamo imaginério detodo o mundo. cesimulam a experiéncia, conferindo ao imagin da experigncia, As tempo em que es pelavras revelam-se prinefpelmente com ima- ialidades ¢ simulacros produzidos formética. Esses objetos, aparelhos ou equipamentos, tals como o tador, televisd, telcfax,telefone celular, sintetizador, se- guas, mercados e regimes de ec entresi, scguindo amesma 9 Theodore Levi ‘Simees, Editora Atias, 2" edigdo, S30 Paulo, 1991, p 43. 28 nos emensagens quesemundializam, Corem o mundodemedo instantinoo ¢ desterritorializado, olidindo a durago, Criam a astio dequeomnndo é imediato, presente, miniaturizado, sem geografianem historia, B claro que a globa aio nfo tem nada a ver com idades, desigual- associagies ¢ Trata-se de ade nova, que integra, subsume e reeri Aomesmo tempo quese consti global subsume etensiona uns eo: poseclasses, nagdes e nacionalidades, re cragas, Asidentidades roaise ilusérias baralham-se, afirmam- se ou recriam-se, No Ambito da globalizagio, abrem-se ismos, redes ¢ aliangas, soberanias e hegemonias, fronteiras ¢ espagos, ecossistemas cambientalismos, blocos ¢ tepragzo e fragmentegio. As mesmas forgas empenhadasna globalizacio provocam forgas adversas, noves e antigas, con- tempordneas eanacronicas, re icanco aiticula- q@ese tensdes. 29 ‘A mesma fibrica das diversidades fabrica desi ‘A dinémica da soviedade global produz.e reproduz diversida- des e desigualdades, si nte as convergéacias © integragdes. Pode ser ilusdrio imaginar que a diversidade seno ser-em-si, identidade. Esse, quando se verifica, € um esta- doepisédico; e quando permanece, corre 0 risce da recorréncia reiterada mesmidade, A tramadas relagies, 0 jogo do intercam- bio, a zudacia do confronto podem produzir a diferenca, a diver- sidade, 0 antagonismo; com os riscos das perdas ¢ dos ganhos, precisamente comos riseos damudanga ou transfiguragdo. Essa tem sidoa dialética cas trocas. interedmbios, encon- tros, conquistas, dominagdes, cotonialismos, imperialismos, interdependéncias, aliangas ouassociagdes, envolvendo grupos, classes, coletividades, pavos, culturas e civilizagies, Desde a in- vyengao do Novo Mundo & inveng&o do Oriente, desde 2 con- quista da A frica ds incursdes curopéias enorte-americanas na Asia, 30 todos os colonialismas e imperialismos, em todos ascasosa dialética da historia produze reproduz cong convergénciase diversidades, integragdes ¢ ‘and the People 1982, 20 namaioria dos casos mobiliza também valores e padrdes cultu- formas de pensamento, técnicas sociais ou mesmo utopias produzidas no “exterior”, ou buscadas pelos nativos ou levadas pelos conquistadores. S40 muitas técnicas, ideolo movimentos s« correntes de pensamento, teorias, fermentagdo dos smo, comunismo, social-democracia, neoliberalismo, moe outrascormentes de pen- samento, técnicas de controle e mudanga soci sociedadec histbria Ecclaro que em todos os casos ha sempre o resgate oua recriagdio das matrizes culturais ecivilizatories,das raizes de cada povo, tribo ounagdio, Muitas vezes, sio estes os elementos que operam como parametros, quacdtos de referéncia, a partirdos quais ocorre o empréstimo, assimilagao ou recriagaio de ele- déncia, identidade, soberania ou hegemonia.em geral sereforga no contraponto com 0 outro. 10, Bditora Paz e Terra, Rio de an of lndependonce, Roulledge & Kegan Pai a “Nostempos do do: jcigdio, que foi também um periodo de mobilizagzo intelee- Jind proclamou 0 passado h ie mesolada com o despertar p industrializagéio e sua pratica da demoet Ge. Havia sempre uma contradigao entre 0 arcaismo do orgitho ea promessa donovo; ea contradigfoafinal rompeu & lancia na {ndia, desta vez, no veio de i serada desde dentro. {A {ndia nfo pode responder no velho estilo, pelo retrait-se no areaismo, Assvas instituigdes emprestadas tém funcionadio como inst a rifo fom substitu. tos para a imprensa, o parlamento € 08 is. A crise da india no éapenas politica ou econdmica, A crise mi amplaé ade uma civilizacio ferida, queafinal tornou-se conseiente de suas insuficigncias ede sua caréncia de meios intelectusis para mover-se adiante.”* Globalizagao rima com integragie chomogencizagéo, da mesma forma quecom diferenciagdo ¢ fragmentaglo. A socie~ dade global esté sendo teeida por relagBes, processos ¢ estru- turas de dominagio e apropriagdo, integragiio e antagonismo, sobereniae hegemonia, Trata-se de uma configuragio histériea problematica, atravessadapelo desenvolvimento desigual,com- binado e contrat “As mesmas relagdes ¢ Forgas que pro- movema integragao suscitam o antagonismo, jé que elas sem- 12 VS Naipul, Indie 4 Wounded Ch 1978, pp. 9-10. ization, Vintage Books, New York, 2 predeparamdiversidades,alteridades, desiguatades, tens6es, contradigdes. Desde o principio, pois, a sociedade global traz 1o seu bojo as bases do seu movimento. Flaé necessariamente caleidoso6pica. A mesma globalizagto a diversidade de perspectivas, a m lade dos modos de set ¢ convergéncia ca divergéneia, aintegragio ea diferencia~ om aressalva fundamental de que todas as peculiaridades contraponto das relagdes, processes ¢ est rama globalizagzo, ‘As propriag perspectivas de auto-afirmaglo, autocons- Jutapela emaneipagio on desalienaggio re i quecidas e dinamizndas pelo conteto, intercimbio ou contra nodlos de vida e trabalho, formas de ser, agir, pensar, radas ou continuas, osinter- potenciaratividades, produgdes, hor ‘os. B claro que tribos, comunidades, poves,nacionslidadese nagées, com seus recur sossécio- ivilizatorios, (€m sidoagredidos, subju- gados, suprimidos ou mutilados pelos surtos de expanséo do capitalismo pelo mund mo, colonialismo, imperi lismo, aliangas estratégicas de corporagbes, integraczoregi ce geopolitica, compreendenco correntes de pensamento ndosé diferentes mastambém contraditérias, tais como cristianismo, mo, anarquismo, faseismo, neoliberalismo, nco-so- cialismo e outras. Em gerel, no entanto, os povos da Asia, Oceania, Ee colonialistas ou imperi ‘vas de auto-afirmagao, autoconsciéncia ¢ uta, Na maioria dos invengdes, combinaram-se dvas ordens de fatores. “O prim ator foi a assimilagio porasiéticos ¢ afticanos das idéias,téo cas ¢ instituiges ocidenteis, que podiam ser aproveitadas con- tra 2s poténcias ocupantes — um processo em que eles de- jue a maioria des europeusttinka provisto. O segunilo foia vitalidade e capacidade de auto-reno- vagdo de soviedadles que os europeus tinham, com excessiva do, surpreendente. Ao lado das itha, arquipélago ou continente, colocam- idades proprias da sociedade global, Por sobre a colegio de caleidosedpicos locais, nacionais, regionais outcontinentais, justapostose estranhos, semelhantes ¢ opostos, estende-se um vasto caleidoscdpio universal, alterando ¢ apa- gendo, bem como revelando e acentuando cores e tonalidades, formas ¢ sons, espagos e tempos desconhecidos em todo o 4 mundo, Entrecruzam-se, fuindem-se ¢ antagonizami-se perspec- flagmentagdes,antagonismos. No dimbito da globalizagao, quando comega a att ‘gos que pareciam sedimentadas, Alteram-se os contrapontos espago ¢ tempo, presente ¢ passado, locale global, eu ¢ outro, nativo cestrangeiro, oriental e oeidental, na- ional e cosmopolite, A despeito de que tudo parece permane- cerno mesmo lugar, tudo muda, O significado ea conotagaio das coisas, gentes ¢ idéias modificam-sc, estranham-se, transfi- ‘guram-se. as

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