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TESEU

(c. Qz+s - c. 1199 a.c.)

Prefáçio. l.
Sósio Senecião 1:
Os geógrafos relegam os países que desconhecem
às extremidades de seus mapas' anotando ao lado de alguns:
"Além daqui existem apenas areais estéreis, infestados de bestas
selvagens", ou "pântanos sombrios", o! "a Cítia gelada" ou
"um mar glacial". Eu também, depois de percorrer, escrevendo
esÍas Vídas Paralelas, as épocas acessíveis à verossimilhança
e o terreno consistente da história ampatada em fatos, bem
poderia dizer dos tempos mais recuados: "Além daqui é a teffa
dos prodígios e das lendas trágicas, povoada de poetas e mitó-
grafos, da qual não se tem nem prova nem cetteza".' Ainãa
as!ttq,-" g9-*pgb-li,ser ".p- .rçJ?-!-g" . çgnsagra-do. .ao-,-legis-lad-o,r L- icurgp
19i. !,{qmar g,9n9.lÍp9s_,149" s-qf . Í-o$ "=4-e-."12"to-p-Ó-,sÍo* l-e,ÍU.9n"-taÍ*
1i..,g_o.. "

até RQmulo-, j á qqq â.e. íè$qqipal 1199 tinh-am. 19-v"-4."4q. 3- uma .ép gsa
muito*próxinra-CR.:y.4* Perguntando-me, confotme os versos de
Ésquilo:

Quem enlrentará semelhante mortal?


Quem contra ele enviaremos? Quem teró tal lirmeza?
2

pareceu-me oportuno contrastar e comparar o fundador da bela


e ilustre Atenas com o pai da invencível e gloriosa Roma.

,./. Quin,o Sósio Senecião era importante personagem romano du-


rante os reinados de Domiciano e Trajano. Frcqüentou as lições de
Plutarco, em Roma. Daí resultou perdurável amizade entre os dois'
Senecião foi quatro vezes cônsul, e a ele dedicou Plutarco as Vidas
Paralelas.
,/ Ésquilo, Os Sete conta Tebas, veÍsos 435t 395-396. Citação
Ii vre.

t7
PLUTARCO TESEU

possamos obrigar a fâbula, depurada pela 'l'r'czena 7 uma cidade pequena, é verdade mas alcançou
\ ^ .-_ ,O*:lá razão,
a ela, assumindo feições de história! -Entretanro, -
('norme reputação -,
como o mortal mais sábio e avisado que
í :__:y:,T"rer_se
audaciosamente a credibilidade e compro- rnais existiu. Egsi1.-qahedoria, segundo pareee,. lernbrave "bas'
.

-- (, I 1ïï:"^quatquer.
.1::denhar
acordo com a verossimilhança, pediremos
irr
I ir ute aquela- -que-perrn"ite*a---tlesíodo,,.9-spJ-e-YçÍ.*o..q-ue,constitui
ü Í i:*r aos
.

se mostrem indulgenres e aceite. ,o* paciência rr cssência-d9.'9-.q3' gl-ó{hi ..qs- . a--e,oj9!ç,4p.. de-.qgu- .p-o,9!la dps "Trs-
- I I :lrï:.s, :,re
essas hrstórias antigas. halhos.. E-ta aqui passa mesmo por ser da autoria de Piteu:

Teseu e Rômulo. 2. parcceu_me, pois, que Teseu e Rômu_ Paga a teu amigo o preço combinados'
lo tinham inúmeros pontos em comum: Pelo menos é o que afirma Aristóteles, o filósofo. E Eurí-
eram ambos fruto de união ilegítima e clandestina, t""do pides, chamando Hipólito de "rebento do virtuoso Piteu" e,
sado por filhos de deuses. ;;;_
dá bem a medida da reputação deste homem.
e outro guerreiros esforçados, nós todos o sabemoss, Egeu, ansioso para ter filhos, foi ao que se diz consultar
aliavam a forya à inteligência. As duas cidades a Pítitl0. O célebre oráculo por ela transmitido recomendava
mais ilustre;
são Roma, que um fundou, e Atenas, cujos burgos que não se deitasse com mulher nenhuma antes de regressar a
reuniu. Os dois também taptaram mulheres e nenhìrm
o outro
escapou Atenas. Todavia, parecendo-lhe que a Pítia não se exprimia com
à infelicidade doméstica ou aos dramas familiares. De clarcza suficiente, ao passar pot Ttezena revelou a Piteu a res-
amïos
se diz que, no firn da vida, padeceram o descontentamento de posta do deus, assim concebida:
seus súditos s€, entre as tradições aparentemente menos
- há que possam aiudar no escrutínio
fabulosas, algumas Não desates o pé que sai do odre, ó príncipe,
da ver- Antes de chegar à cidade dos stenienses.
dade.

Não se sabe como Piteu a interpretou; mas, recorrendo


Infância de Teseu. J. A estirpe de Teseu reclJava, do lado à persuasão ou à astúcia, conseguiu que Egeu mantivesse rela-
tãïï?'r;i çõès com Etra. Possuiu-a, pois, e, sabedor de que era filha de
tóctones 5, Do rado
-,,.ffj:'J; :,"t:ï1i.ï,ïï:
o mais poderoso dos reis do peloponero,
Piteu e desconfiado de que estava grávida, deixou sua espada
Àu, menos pelà fatura e suas sandálias debaixo de uma grande pedra escavada de modo
das riquezas que pelo número ae fimos: casara
diversas filhas a ocultar esses objetos. Somente a ela deu conta do fato, reco-
com os homens mais nobres do país e estabelecera
muitos filhos mendandolhe, caso tivesse um filho, que, chegando ele à idade
como chefes de cidades. Um deÈs, piteu, avô
de Teseu. fundou viril e já capaz de soerguer a rocha para de lâ tetitat as coisas
depositadas, com estas lho enviasse. Não deveria falar a respeito
com ninguém, mantendo o máximo sigilo possível. É que temia
3. Homero, Ilíada, yll, 2gI.
4. Filho de pandião, rei de muito os palântidas, que o desprezavam e conspiravam contra
rìo trono.
Atenas, e Zeuxipe. Sucedeu ao pai
os.gregos í. cidade da Argólida.
, "5- -jurgavam
.se âutóctones, isto é, originários
de seu
?ais, principaimente os habitantes 'oà- Ãti.u e da Arcádia. ,í. Hesíodo, Os Ìrabalhos e os Dias, 370.
'róprip
l. Filho de Tântalo, emigrou da Ásia Menor para a Grécia, onde
clcsposou Hipodâmia e foi pai de Atreu f. Eurípedes, Hipólíto, 11.
o ttc "t)ctoponeso,, (ilha de pélope), aãa""-ri..ììr, De seu nome deriva f0. Sacerdotisa de Apolo no templo de Delfos, que transmitia os
á-iãgja. da Grécia. oráculos do deus.

Itì 19
PLUTARCO
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sua segurança justamente por ele não ter filhos _
enquanto As espadas cum:prirão o seu mister de dores,
esses filhos de palas eram em número de cinqüenta.
Coá isso, Pois que, neste combate, eles excedem
partiu.
De Eubéia seus mestres aguerridos. . .
4. Efta deu à luz um menino que recebeu imediatamente,
ao que se diz, o nome de Teseu, devião segundo Portanto, cortavam assim os cabelos para que os adver-
uns ao depósitá sírios não pudessem segurá-los por eles. Foi também com essa
(thésís) dos sinais de reconhecimento;
ouìror, no entanto, asse_
guram que esse nome lhe foi posto mais tarde, irrlcnção, sem dúvida, que Alexandre da Macedônia ordenou
em Atenas, rr scus generais, segundo consta, que mandassem os soldados
quando Egeu o reconheceu (theménou) como filho.
Conta_se llrspar a barba: pensava que esta, nas batalhas, podia muito
que foi criado por piteu, tendo por preceptor
um certo Cônidas, rrcilmente ser agarrada.
a quem os atenienses sacrificam ainda hoje um carneiro na I

véspera da festa de Teseu. Essas honras tributadas


à sua me_
mória valem mais que as reservadas a Silânio e parrásio í lda para Atenas. 6, Até então Etra ocultara a verdadeira
por
terem ïepresentado Teseu em pintura e escultura. origem de Teseu, e, de sua parte, Piteu
cspalhara o boato de que ele era filho de Posídon la. Com efeito,
Adolescência 5. Vigorava ainda o costume, para os que os habitantes de Trezena rendem a esse deus um culto especial,
de Teseu. se despediam da infância, de ii a Delfos e considerando-o o protetor de sua cidade; consagram-lhe as pri-
oferecer ao deus as primícias da cabeleira. rnícias das colheitas e usam o tridente como a marca distintiva
Teseu rumou para lâ, e diz-se que o sítio ora conhecido de suas moedas. Mas quando Teseu, chegado à adolescência,
como
"Teséia" deve a ele seu nome. Entretanto, raspou rnostrou que à força do corpo juntava a coragem e uma grandeza
apenas a frente
da cabeça (corno faziam os -abantes, segundó de alma inquebrantável, Etra o conduziu até o rochedo, revelou-
Homero trt, ;;;;
que ficou conhecido como .,tonsura à Tãseu". lhe o segredo de seu nascimento, mandou que apanhasse os
Os abantes foram
os primeiros a usá-lo não por imitação dos árabes, sinais de reconhecimento deixados pelo pai e se dirigisse a
conforme
pensam alguns, nem tampouco dos mísios ls:
eram, isso sirn, Atenas por mar. Teseu segurou a pedra pela base, levantou-a
guerreiros que combatiam de peïto e acostumados Í'acilmente, mas recusou-se a partir por via marítima, se bem
sobretudo
a se atracar com os inimigos, segundo o testemunho que o avô e a mãe lhe recomendassem insistentemente essa rota,
de Arquíloco
nestes versos: por mais segura. De fato, a viagem por terra a Atenas era
perigosa, pois não havia caminho desimpedido nem a salvo de
Nem arcos a distender, nem lundas, quando Ares
facínoras e salteadores. Aquela época produzia homens que,
Encetar a luta na planície! pela força dos braços, rapidez das pernas e vigor de corpo,
pareciam extraordinários e infatigáveis; entretanto, ao invés de
, y{. Sita-nio de Atenas, escultor, é efetivamente célebre
estátua em bronze de Tes.eu. parrásio de
por sua aplicar esses dons naturais a fins úteis e honestos, só achavam
Éfeso (c. 400 a.C.) era hábil prazü na violência petulante e se prevaleciam da força para
celúrizado pelo concurso de pintura em que
nvat zeuxls. EsÍe pintara,uras tão_perfeitas que os pásiarosderrotou seu
1i"1i?,i1": saciar sua crueldade impiedosa, submetendo, constrangendo e
a bicá-las; certo da vitória, pediu então J-Éurrario qu. "o_"çuau_.orr.'rr.
-u
cortina de seu quarto
Ta,s ã própria cortina era uma pintura.
E !:y: da ilha -de Eubéia. H;^.r;: iü;, rr, v. 542. !a{. Posídon (o Netuno dos romanos) era irmão de Zeus e deus
|Á. Habitantes da região noroeste da'Ásia ú.r,o.. do mar, dos terremotos e dos cavalos. Seu atributo característico é o
tridente.

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destruindo tudo o que lhes çaía nas garras. persuadidos de que Iuísn'ro de Héracles, sonhava à noite com seus feitos, e, de dia,
a maior parte dos homens louva o pudor, a justiça, a igualdáde mrlricaçado pelo espírito de emulação, exaltava-se ante a pers-
e a humanidade apenas por não ousar infringir esses piincípios
lrccliva de igualáJos.
com risco de padecer as conseqüências de semelhante ãto, ,üpu-
nham que as virtudes não convêm àqueles que se arrojam rnais 7. Sucedia ainda serem ambos parentes, filhos que eram
que os outros. Desses malfeitores, uns hayiam sido debelados rlc primas germanas: Etra, com efeito, tinha por pai Piteu, sendo
e mortos por Héracles 15 rr rnãe de Alcmena uma irmã de Piteu, Lisídice, nascida como
no curso de suas peregrinações; outros,
para escapar-lhe, abandonaram o ofício e, fazendo_se pequenos, clo de Hipodâmia e Pélope. Parecia-lhe, pois, verdadeiramente
puderam ser esquecidos. Mas quando Héracles caiu eni irrsuportável e vergonhoso que, enquanto aquele herói atacasse
Aárgruçá do mar, ele
e, após o assassinato de Ífito 16, partiu para a Lídia r? (onáe 1,.rr toda parte os celerados, varrendo-os da terra e
por muito tempo viveu escravo de ônfale 18 a fim de redimir pr'óprio evitasse os combates que se apresentavam. Se viajasse
aquele crime), a Lídia passou a gozar de paz completa e segu_ ,1,: navio para escapar ao perigo, desonraria o pai que a opinião
rança_ perfeita, ao passo que nas terras gregas ó banditismo púrblica e os lhe atribuíam; ao pai verdadeiro, não
rumores
recrudescia e imperava novamente, à falta de alguém para i,:varia mais que um par de sandálias e uma espada virgem de
reprimilo e sopeá-lo. De sorte que o viajante se expunha m'ito sangue como sinais de reconhecimento. Cabia-lhe então apre-
ao ir por terra do Peloponeso a Atenas, e piteu ìe esforcava scntar a Egeu, pela imediata tealizaçáo de altos feitos e belas
para convencer Teseu a preferir o caminho do mar, descre_ irções, uma marca insofismável de sua origem nobre' Nessas
vendo-lhe, um por um, os malfeitores e os tratamentos que tlisposições de coração e espírito pôs-se em marcha, decidido
costumavam infligir aos estrangeiros. Mas é de crer que^hâ a náo fazer mal a ninguém, mas a defender-se daqueles que
muito Teseu se sentia secretamente inflamado pela nomeada assestassem o primeiro golpe.
das façanhas de Héracles; admirava-o, ouvia com atenção
les que o pintavam, mas principalmente os que tinham vìsto
aque_
Encontro com 8. Primeiro teve de haver-se, no território
e testemunhado seus atos e palavras. Experimentaya então, sem Perifetes. de Epidauro, com Perifetes, que tinha por
dissimular, o sentimento que muito tempo depois se assenhoreou arma uma clava (kotÍne) e tecebera por
de Temístocles, quando confessava què o tioféu de Milcíades isso a alcunha de Corinetes. Como esse ladrão o atacasse, que-
o impedia de dormir 1e, Assim também Teseu, tocado pelo he_ rendo barrar-lhe a passagem, matou-o. A clava agradou muito
a Teseu, que a apanhou, adotou por arma e trouxe sempre
y4 O Hércules dos romanos, filho de Zeus e Alcmena, modelo consigo, como Héracles fizera com a pele do leão. E assim como
.
do Héracles alardeava, vestindo essa pele, as enoÍmes proporções
.herói civilizador que limpa o mundo dosìonstros par,a que nele
se instaure a ordem. da fera que abatera, Teseu demonstrava que uma aÍma que se
*. .16. Amigo de Héracles, o qual atirou do alto das muralhas
Tirino por causa de um desentenãimento.
de mostrara tão frágil contra ele eta, em suas mãos, formidável'
Ll , Região da Ásia Menor, entre a Mísia e a Câria.
1&. Rainha da Lídia. Héracles a tal ponto se apaixonou por ela Suplício de Sínis. No Istmo deu cabo de Sínis 20, o encur-
que, dsquecido do próprio valor, consentiu ute
-"..o em realizar tarefas vador de pinheiros, aplicando-lhe o mes-
I'erninipas, como fiar a lã.
* lP Milcíades é o vencedor da batalha de Maratona (490 a.C.) e
Temístocles o arquiteto da vitória de saramina (4s0 a.c,), ambas
fo. Sittir curvava dois pinheiros e amaÍrava suas vítimas às copas;
íseguida, quando
contra em as árvores se levantavam, os corpos ficavam em
os persas invasores. pedaços.

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mo suplício que o bandido costumava
passantes' Não que Teseu infligir aos inúmeros 1rús uos estrangeiros P-
conhecesse semehlnte ã"ìir.i"-""
nele se exercitasse: |,s a-o s com um * nì:ïun:: i" f
av
ï:ì:i;,:::::ïï,
,"",Ï:"rï,.ï;
,t igi'ários de Mégarq;frr;
em muito a arte e"t;#i.it",ïï;::ïï: ffi""#ïiìii: ::ïl: ;;u iruaiçao, .'fazendo assim
lr guerra", como diz Simônides, "à mais alta antiguidade"'
lenta e formosa, chamada perigo;e.ï
pondo-se Teseu a procuráJa ver o pai morto fugira, I'r.ctcndem que Círon
giara num bosque
;-;;;-p"rte. perígone se refu- r.u contrário, castigavo\i "-t:,::i.:1*]i:ï
nem ladrão' mas'
cerrado, cheio ã" ""spinheiros
quais, com a l"í*"iãro" e aspargos tr,spessoashonestãs-u,,ïr'."ïtf'j*"ï:i, j:?|'""t,1'i;;11?:
ìï|fgïs^:
orngra "os
como se pudessem entendéJa,
de uma criança, se passa pelo mais Pilïl'-"';"-- :::-'; cicreu de Salamina 22
Ìedoso dos gregos'
mento que jamais os arrancariu
prometendo il.;^-rJ;;*_ goza honras divinas ,
o, qurr_a'a de Peleuzs e Telamão 2a
e salvassem. Teseu chamou u se a ocultassem rrilo escapa u ,ringuerì.Aj::"t;.1lltt^11e
causar nenhum mal. p-erígone
. pro_Ëãï trata-h bem, sem lhe do Éaco e avô de Pel'l;
otu' círon era genro de cicreu' sogro
saiu ão iorqu" ,, ;;i";;:r".; Telamã.o' nascidos de Endeida' filha
ele,.gerou M_eranipo. (Defois, trc círon e cáriclo. Naìo "
Eurito, o ecaliense. a quem
.;r;u;; com Dioneu, filho de sc aliem ao pior, troc'o\-P,fffi
'\ndo entre
-"^"t-tiu::t-^Lie.
os melhores homens
Teseu a presenteou.) De Melanipo, si os presentes mais preciosos
filho de Teseu, nasceu io*o, q.r. c estlmados' Allrmarn ' ' - o matou quando de
uma corônia na câria'-roi
," ilü a ornito para fundar sua primeira viagem s'i:1 jtt-:::"j^1:
áe^seu atir"rìra que os descendentes Atenas' porém mais tarde' ao apossar-se
de loxo, homens e mulheres, de Elêusis então ocrlìbada pelos e ludibriar seu
os, brotos de asoargo nem
*lü;";'uso de nunca queimar comandante Díocles. .megarenses
os espinheiros, mas sim reverenciar fais as contradições que existem sobre
e honrar essas plantas. esse episódio.
A javalina 9. No que diz respeito javalina cercião e Procusto' 1r. Em Elêusis, venceu o arcádio cer-
de crômion. mion,. à de Crô-
i?ìã,'"- se tratava de um um pouco mai s, em t.,,,ï1"0."r.3,"ï"8ï;"?,".ll "âi:
tì;rlJãff
animal"Ë;r"d-;
comum, mas de uma besta feroz
difícil de vencer. pouco custou e mado Procusto, esticl- 1 ., i
a Teseu enfrentá_la e matá_la: alcançasse a medida de
receava parecer não,estar seus leitos, como o ì19:::^
Nróprio ""t:,:::
agindo senão por necessidade. facínora fazia com os estrangei-
a seu ver, se um valente só deve Ora, ros 2ã. Assim agindo,
lutar contra malfeitores por que' s' ao
defesa própria, em contrapartida
dele se espera que tome a
def ender-s e dos a gres s,.s.-e^g^ut1^ i-" "utucle
-:.- ï^",T1 1:.,
iniciativa diante de feras predadoras
,.-"*porrta ao combatê-
cessosquetentavam.iffi ,:,"#ïï::::ï:'.'ff ",L:ì"i"#nf; :?:
Ìas' Querem uns que Féia ftsse "
rÀ" l"riãr afeita aobanditismo,
sanguinária e dissoluta, cuja
morada-
e que seu apelido de ,,lavaLina,, ,"rao
"ìua seus modosem Crômion; { rilt'to de Zeus
ua uutra DBrua' uEPUls ua rr tornou-se
devia_se juiz'd.os Infernos, juntaqr
dqs Infernos, luntu*l^dt i1t".,",n1-"'^d:oï:-ii-yrte
de vida, à qual Teseu finalm;r;; e gênero 7^- inno
Ãttt^ de Posídorrlente com Minos e Radamanto'
r^'n'^-r:^-'tente Radamanto.
ïrrï r".rno. /i.- jl da rrurra
.;:;- l;:;";-"-rìil
deooisrde livrar a ilha d"* çe ua ninfa oararrtrò' turrruu-òç rei
Salamis, tornou-se Íl de Salamina
' {s" vul de Aquiles. uma serpente que a devastava'
Círon. 10. Antes de entrar na Megárida,
cipitando_o. d-o alro de um
matou Círon pre_ {q. Pai de Aiax M..
,J"h.do. s"gunOo u *Ããã z6. Procusto ãeitavatlor'
mais corrente, esse ladrão despojava luaò Yrruu4ò numa
suas vítimas rruura cama: òç çeram maiores que
uaura; se
tras, levava a insolência e o
or'pãrrunr"r; segundo ou- -' cortava-lhes os pés; eram menores' esticava-as'
ela,
òrgulho uo'fonro de estender ?f . Rei mítico áo ÊnÌt
\ito, que pretendia sacrificar Héracles no altar
os de um templo,
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PLUTARCO
TESEU
recorrendo à astúcia: segundo
ralmente os homens, 1;g" -iró
ele as amazonas, que amam natu_
n iniciativa da luta. A batalha aconteceu no mês de boedrômio
lhe. enviaram presentes
;" ï de Teseu, aré u é em sua memória QÌle os atenienses oferecem ainda hoje o
a"-norpitufiaut "hegada
os trazia u
'uËi.
pu*
um certo Menécrates,
m'ao-"ïrtaõr"ïïffJ#l'f"*ï sacrifício das Boedrôrnjas. Clidemo, empenhado em fornecer
todos os pormenores do episódio, refere que a ala esquerda das
u.u hiïio.iu a" .iara" ï" Nï"àr"
auror de
na Bitínia, conta que Teseu, amazonas se estendia as ãireção do sítio ainda hoje conhecido
de Antíope, ficou
"" ""rü"fria
por algum tempo naquelas p;d.;r.-õ;",
parricipavam com ele
como Amazônion, chegqn6o a ala esquer da até Crisa, perto do
da expedição três jwens I'nix. O embate contra esta ala foi desfechado pelos atenienses
"ï";ã; [u. .run, irmãos: Euneu,
Toas e Sólois. Este último;;i;;;; vindos do Museu, e o\ tümulos dos que tombaram estão na
ninguém grande rua que conduz à atual porta dã Pireu, nas imediações
excero um dos
fidenciou"-r""#rr",
tudo e pediu que i"rãr*'ï'ì "",o;#rï.,11ïïï##;ï: do monumento ao heró1 gu1"o6onte. Dali recuaram até o san-
vivamenre t"n tJiu ï"" J;;:"ã,',#l',"ï;"f.ïllti tuário das Eumênides, cedendo o Dasso às terríveis mulheres.
nada revelou"rrua Teseu.
Tomado á" á*rp.ro, Sólois
trff]:ï Mas, do lado do Paládio, Árdeto Ë Li".u, cafuam sobre a ala
num rio e morreu afogado. atirou_se direita inimiga e a repelil.unÌ para dentro de seu próprio acampa-
t"...r,-ruiãdor da causa da morte
e da paixã.o do jovem,-afrigiu+e mento, infligindo-lhe Pesadas baixas. No quarto mês a paz toi
de um oráculo no qual a"pítia
;; ;;"" ftisteza,rembrou_se concluída por mediação de Hipólita
l,-d"-;;, Clidemo a chama assim,
quando ," r"niirr" e não de Antíope â qmazona que-vivia com Teseu. Afirmam
uma cidade e lhe confiarr"
amargurado
"* ,.r* .ïlrlïr:il ïltft*:: -, combatendo nas fileiras de Teseu, foi
alguns que essa mulhel,
o.gouoio
Por isso deu à cidade que findou ï p.rrou, de seuséquito. morta por um dardo_ arremessado por Molpádia; sobre seu
lembrava o do deus,.e ao nã.. de
o pitópolis,
que túmulo ergue-se a estelq existente nas vizinhanças do santuário
rio vizinho o Je Sólois, em honra
rapaz. Ali deixou os jrmãos
a..r"
ìo da Terra Olímpica. A fslar verdade, essas incertezas da história
acompanhados de Hermo, fìL'gJu"rnu..rn e legislarem, nada têm de espantoso, Visto a antiguidade dos acontecimentos.
eupátridà de Ãtenar. Daí os
de Pitópolis chamarem ,uru habitantes Conta-se mesmo que as amazonas feridas foram enviadas secre-
á" He"m", a um sítio de sua
pronunciando erradamente cidade. tamente a Cálcis Por A\tíope. onde se cuidou muito bem delas;
e transferindo a um deus a
a segundu ,úlu ;; il;#iï; algumas estão sepultadss no'sítio ainda hoje conhecido como
rr""i" à"riãã a um herói. Amazônion. A prova d_. ou" a guerra se conciuiu por um tratado
Essa foi, pois, a_causa da guerra está no nome do local prOximã ao santuário de Teseu, Horco-
,27.
qual, das amazonas _ a
segundo parece, não se poal mósio (lugar do juramqnto), e no sacrifício de há muito reali-
nem empÍesa de mulheres. Com "onriaerar
de somenos, zado em honra das amaìonas ántes das festas de Teseu. Também
efeito. não teriam
na cidade ou travado uT .orpo_;_.ãõo'p"rro "";;;;; os megarenses mostram em seu território um túmulo das ama-
Museu sem domina.,o de pnix e do zonas, ao longo da estta6u que leva da âgora ao sítio de Rus,
p{r- f*nqu"uïã, .uror. eue tenham
"
vindo sobre os gelos ao Èerroro lá onde se ergue o flonumento em forma de losango. Outras
^;;;";;ru"ru*relara Helânico,
é coisa difícil de a*editar; "i;:;;;;";;"ro teriam morrido em Qasrrr6ia e sido sepultadas à margem do
quase no coração da cidade, -il acampamento
regato outrora chamadg Termodonte é- nogos dias Hemo,
e os túmulos dos que pereceram.
atestam_noãu ,ror", dos lugares "
Durante muito tempo os dois conforme.iâ reÍeti na Vida de Demóstenes. Também é certo
partidos hesitaram em tÍavar que não atravessaram a Tessália sem percalços, pois ainda hoje
combate; finalmente, depois de
sacrificar ao Medo segundo se vêem tumbas de ama2onu, em Escoìussa troi montes Cinos-
a ordem deïrn ã.a"uto, Teseu
tomou céfalas. "
40
41
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Fedra. 28. Esses os fatos dignos de registro relativamente


às amazonas. Segundo o autor dta Teseida46, a catJ_ riliou Adrasto a Íecuperar os corpos dos guerreiros tombados
sa da guerra teria sido o casamento de Teseu com no pó da Cadméia 48, mas não, conforme mostrou Eurípides
Fedra: An- rnr uma de suas tragédias, depois de vencer os tebanos em
tíope, com suas guerreitas, atacara-o por vingança, mas perece-
ram todas às mãos de Héracres. Tãl relatõ é evidentËmente Irrrtllha, e sim persuadindo-os a concluir uma trégua' Pelo menos
fabuloso, puramente fictício: Teseu só desposou Fedra depois fi isso o que diz a maior parte dos autores, e Filócoro acrescenta
da morte nrcsrìro que aquela foi a primeita ttégua combinada paÍa se
Antíope, da qual tivera um ?ilho, Hipólito,
Píndaro chama Demofonte. euanto aos males que^tne ;ue
_de lr.rsgatareft os moÍtos. Entretanto foi Héracles, como está dito
áavie- uu|ído desse herói, quem primeiro devolveu os cadáveres dos
ram de Hipólito e Fedra, como os historiadore, em nada contra-
djzem os poetas trágicos, é de crer que aconteceram conforme irrimigos. As tumbas dos soldados de Adrasto podem ser vistas
eles unanimemente os representam. ,'t' Eluteras e as dos chefes em Elêusis, outro favor concedido
por Teseu a Adrasto. O que Eurípides declara a esse propósito
Amores de Teseu. 29. Correm a respeito dos amores cn"Ì suas suplicantes é rebatido por Ésquilo em suas Eleusinas,

Novas aventufas. Teseu muito, ouiro, relatos que ja_


de onde coloca na boca de Teseu aquilo que acabo de reportar'
mais foram levados à cena. Não têm Pirítoo. 50. Quanto àamizade de Teseu
começos honestos e muito menos finais felizes. Assim Àmizade com
que raptou uma certa Anaxo de Trezena, que depois
se diz Os lápitas. e Pirítoo, começou da seguinte ma-
de matar neira, pelo que se conta. Como
Sínis e Cercião violentou-lhes as filhas, q,rá d"rpôrou peribéia,
'l'eseu gozasse enorme reputação de força e valentia, Pirítoo
mãe de Ajax, e em seguida Ferebéia Iop", titha ae'Íficles.
Também se lhe recrimina, como já disse, " clesejou pô-las à prova. Roubou em Maratona alguns bois que
o pouco honroso pertenciam a Teseu e, ao saber que o herói tomara armas para
abandono de Ariadne por amor de Egle, fi1hâ de panopeu.
Finalmente, o rapto de Helena espalhou pela Ática persegui-lo, em lugar de fugir refez seus passos e marchou ao
os furãres dele. Mas quando se viram em presença um do outro'
da guerra e atraiu sobre ere o exílio u *oit", "nronltro
mais adiante. " "onro.,n" "o"tár"ì ambos se sentiram tocados pela admiração teciptoca da beleza
Ao passo que os heróis de então se assinalavam por e da altivez de porte, e renunciaram a combater-se' Pirítoo foi
rosas empresas, Teseu, a crermos em Heródoro, não tomou parte
nume_ o primeiro a estender a máo direita a Teseu, pedindo-lhe que
uuàliurr" os danos causados pelo roubo dos bois e asseverando
em nenhuma, exceto a luta dos lápitas contra os centauros.
que se submeteria voluntariamente à indenização estipulada. Te-
Entretanto, no dizer de outros, acompanhou à
|asão Cólquida seu não só o declarou desobrigado como requisitou sua amizade
e ajudou Meleagro a acabar de vez com o javail_az (donde pìo""_ e aliança, a que ambos acederam mediante juramento' Em se-
deria o ditado: "Nada sem Teseu',). Acrescenta_se ainda que, guida Pirítoo, q.t. ia desposar Deidâmia, convidou Teseu às
ae'
sem precisar de aliados, rearizou incontáveis feitos groriosos, ãuas núpcias, insistindo para que visitasse o país dos lápitas
justificando dizer-se dele que ,,era um segundo
Héracles,,. Au-
48. A Cadméia é a cidadela de Tebas, cidade que teria sido fun-
dada pelo fenício cadmo. Plutarco se refere aqui à luta entre os irmãos
. 46. Po^ema composto por vorta do sécuro
tica-o por falta de unidade em poética, g, i.
vI a.c. Aristóteles cri- Etéocfes e Polínice pelo trono de Tebas. Adrasto era o comandante
47 , O javali de Calidão, que devastava essa do exército atacante ("os Sete").
região da Etólia. 49. Povo mítico das montanhas da Tessália'
'42 +3
PLUTARCO TESEU

Sucede que convidara também os centauros, velossímil e bem-fundamentado é o que segue. Teseu e Pirítoo
os quais durante
o festim se comportaram com impudência l'ot'rrm juntos a Esparta e, vendo a jovenzinha dançando no san-
e brutalàad", u_u
vez.embriagados, perderam todo ì respeito pelas ", lrrririo de Ártemis Órtia, raptaram-na e fugiram. Seus persegui-
fendendo-as, os lápitas venceram pu.ô
mulher"r. l"_
ao, ."ntuu.or,-ã-'.1i, rltrrcs não foram além de Tegéia. Depois de atravessarem o Pelo-
tarde, derrotando os restantes em batalha,
expulsaram_nos do lx)noso, sentindo-se já em segurança, os dois combinaram sortear
país a ajuda de Teseu, que participou da luta. llr:lcna, devendo o ganhador tomá-la por esposa à condição de
-com
que Heródoro
É verdade
pretende não terem u. se passado ;irr" ntrxiliar o amigo a encontrar outra mulher. Fez-se o sorteio con-
1as-e.st1
"àiru,acorreu em
a guerra já em curso quando Teseu lolrne o estipulado e Teseu foi o favorecido. Tomou a menina,
amparo
dos lápitas. Nessa ocasião teria uirto
Ue.*les pela pri^"i;;'"-, r;rrr: ainda não estava em idade núbil, e levou-a para Afidnas,
depois de provocar um encontro com ele orrcle a instalou perto de sua mãe e confiou a um amigo, Afidnos,
em Traquine, onde
o herói repousava das tropelias e trabalhos agora rr tarefa de vigiá-la e manter o segredo. Em seguida, para deso-
terminados.
Heródoro acrescenta qrr" ,ã deram grandes lrrigar-se com Pirítoo, partiu em sua companhia para o Epiro
testemunhos de esti_
ma e amizade, cumulando_se recipiocamente rr Í'im de ruptü filha de Edoneu, rei dos molossos. Esse Edoneu
a
de elogios. Mãis
vale,.no reportar-se uo, uutor* que afirmam terem tlcra à esposa o nome de Perséfone, à filha o de Core e ao
-entanto, os
dois heróis se encontrado diversas veze,s: Hérc'les t:uchorro o de Cérbero 52. Costumava ordenar aos pretendentes
nos-Mistérios 50 por Teseu, o qual até
foi iniciado
mesmo o purificou antes rh jovem que lutassem contra o animal, com promessa de entre-
Í:.llt:t1:,",
pois disso precisàva po.
ïattas lnvoluntariamente.
tuu"i-"#Jã;;ï;;;; gri-la ao vencedor. Mas, advertido de que Pirítoo e o companheiro
vinham não para pedi-la em casamento, mas paru arrebatâ-Ia,
rrprisionou os dois, fez com que o cão devorasse imediatamente
Rapto de Helena. jl. Teseu já contava cinqüenta anos, I'irítoo e conservou Teseu a ferros.
no dizer de Helânico, quando se con_
duziu para com Helena da maneira que se 52. A esse tempo Menesteu, filho de Peteu (filho de Orneu)
sabef sem levar em c neto de Erecteu, que foi o primeiro, segundo a tradição, a
conta a diferença de.idade. Assim ufoun.
escritores, para des- cultivar as artes da demagogia e a perorar para obter as boas
culpar esta-que é a pior-das faltas quã tn"
assacam, pretendem graças da multidão, andava a excitar com suas provocações uma
que na verdade não roubou Helena, ìp"nu,
a recebeu das mãos çoalizáo de notáveis, já estomagados com Teseu. Sentiam-se des-
dos raptores, Idas e Linceu, .onr"*undo_
a e não querendo de_ pojados por ele do poder e da realeza que cada eupátrida exercia
volvê-la aos Dióscuros 51, que reclamavam a irmã.
ôfr"gu_r" uit, cm seu demo, sendo agora forçados a viver dentro dos muros
por Zeus!, a-djzer que o próprio Tíndaro
lha confiou pã, ,"..ui cleuma única cidade onde eram tratados como súditos e escra-
Enársforo, filho de Hipocoãnte, que queria tomá_lâ à i;;;;
embora não passasse de uma vos. Menesteu aciçatava assim o povo e acusava Teseu de lhe
a"ninu. ôontudo, o relato mais tcr dado a liberdade apenas em sonho: na realidade, privava-o
de suas terras e cultos ancestrais, substituindo a tantos reis
50. C-ultos reservados apenas aos legítimos e bons um déspota que mandava sozinho, um estran-
.secretos, iniciados. Os principais
eram os "Mistérios eleusianos',, celetrados em Elêusis
Deméter e perséfone, e os ..Misiéri", -;ã;r,i';ssociados "; ;;;;-;;
preceituavam entre a orfeu, que
outras coisas a t*r.Álglôaã das almas. 52. Variante da lenda de Hades, deus dos Infernos, que raptou
5l'Literalmente. "filhos de Zeus". e.rï-ãr gc-"os
castor e pólux, Perséfone (Core era o nome da jovem antes de descer à sua morada
filhos de Zeus e Leda (esposa a. fi"ari.i subterrânea). Cérbero era o cão que vigiava a entrada dos Infernos.
i#ao, a. Helena.
"
44
45
PLUTARCO TESEU

geiro recém-chegado a quem era forçoso obedecer. O que fez 55. Comc a captura de Afidnas despertasse o medo nos
a balança pender decisivamente em favor da sedição que Menes- lrrrbitantes de Atenas, Menesteu persuadiu o povo a acolher
teu alimentava com suas manobras foi a guerra dos tindáridas, os Lindáridas na cidade e tratá-los como amigos, visto que eles
que então invadiram a Ática. Alguns autores insinuam mesmo sti Í'aziam a guerra a Teseu, o qual os ultrajara em primeiro
que o próprio Menesteu os chamara. De comeco, os invasores Irrgar, e se comportavam como benfeitores e protetores dos outros
se abstiveram de violências e se contentaram em reclamar a Iromens. Realmente a conduta dos tindáridas justificou o teste-
irmã; mas, como os habitantes da cidade respondessem que não rrrtrnho de Menesteu: uma vez senhores de Atenas, não recla-
a tinham consigo e ignoravam onde pudesse estar, já se apres- lrìilram mais que o direito de ser iniciados nos Mistérios, em
tavam para a luta quando Academo, que descobrira não se sabe stra qualidade de parentes dos atenienses no mesmo grau que
como o refúgio, contou-lhes que a jovem vivia escondida em I lóracles. A solicitação foi atendida e Afidnos adotou-os como
Afidnas. Essa a origem das honras que os tindáridas lhe tribu- l'illros, como Pílio fizera com Héracles. Obtiveram até honras
taram por toda a vida; por isso também, quando posteriormente tlivinas sob o nome de Anaces, fosse por causa da trégua con-
os lacedemônios passaram a incursionar com freqüência pela ccrtada (anochdi), fosse pelo cuidado e esforço que não pou-
Ática, devastando o país inteiro, sempre poupavam a Acãde- param para evitar que alguém sofresse com a presença de um
mia 53, em recordação de Academo. Dicearco, porém, assegura cxército tão numeroso dentro da cidade; com efeito, costuma-se
que dois arcádios, Equedemo e Márato, acompanharam os tin- clizer que se comportam com solicitude (anakôs) aqueles que
dáridas em sua expedição, provindo do primeiro o nome de tôm a responsabilidade e a guarda de alguma coisa, sendo talvez
Equedemia, hoje substituído pelo de Academia, e do segundo por isso que os governantes recebem o nome de reis (ánqktes).
o do demo de Maratona. Esse Márato, para dar cumprimento Alguns pretendem, no entanto, que foram chamados Anaces
a um oráculo, ter-se-ia oferecido voluntariamente para ser imo- devido à aparição de seus astros, pois os atenienses designam
lado antes do combate. Os Dióscuros, então, correndo a Afidnas, o que está no alto pelo termo anekàs e o que vem do alto pelo
alcançaram uma vitória e destruíram a praça. Ali teria também termo anékathen.
perecido Hálico, filho de Círon, que servia no exército dos
Dióscuros: vem daí que o local da Megárida onde ele foi enter- 34. Diz-se que Etra, mãe de Teseu, foi feita prisioneira
rado seja chamado de Hálico. Conta Heréias que o próprio e levada para a Lacedemônia, depois para Tróia com Helena'
Teseu o matou em Afidnas, dando como prova estes versos a Temos a prova disso nos versos de Homero, que dá por compa-
ele endereçados: nheiras de Helena

Na planura extensa onde se alteia Alidnas, Etra, lilha de Piteu, e Climena de grandes olhosta.
No aceso da lutq por Helena de belos cqchos, Muitos no entanto acham esse veÍso suspeito, como suspeita
Tombou pelas mãos de Teseu. a fábula referente a Múnico, pretensamente nascido da união
de Demofonte e Laódice, e educado em Tróia por Etra' Istro,
Entretanto, é duvidoso que, estando Teseu presente, sua
mãe caísse prisioneira e Afidnas fosse tomada. no décimo terceiro livro de sua obra sobre a Atiça, dâ a propó-
sito de Etra uma informação no mínimo aberrante: sustenta,
com base em alguns autores, que depois de Páris-Alexandre ser
53. O ginásio da Academia, onde platão instalou sua escola, ficava
a oeste de Atenas. 54. Homero, Ilíada, Ill, I48.

46 47
PLUTARCO
TESEU
vencido em combate por Aquiles e pátroclo
às margens do Es.
pérquio, Heitor tomou a cidáde
de Trezena,pilhou_a e arrebatou Io. Sogundo outras versões, Teseu teria dado um passo
Etra, que lâ ficara. eue relato mais
ãúsurdot falxr e caído sozinho enquanto passeava depois do repasto,
Êâlno costumava. De momento ninguém deu atenção à
sua
Morte de Teseu. j5. Edoneu, o molosso, recebendo Hé. fi|çtt'lr, Mcnesteu reinou em Atenas, ao passo que os filhos de
ïãrprt viviam como simples particulares em casa de Elefenor,
de reseu e piríroo, ;ïiï'J#"iJ".".,#lïi*ffX"H*:
tinham vindo e que. castigo lhes
l€ln rf ur)rn partiram para a guerra de Tróia. Depois que Menesteu
infligira'ungustiado
depois de apanhá_los lêrtrlrorr cliante de Ílio, regressaram a Atenas e recuperaram o
em flagrante' Héracres se- sentiu
vergonhosa que um já padecera -riio pela morte Itl tltt t.

a Pirítoo, concluiu
. o out.o aguardava. Enquanto
_que
graça para Teseu. Edoneu
nada ganharia se quei"ando, mas pediu ['uho a Teseu.
Ao longo dos tempos, os atenienses hon-
consentiu n"rr. fuuor, ;'p;;;;;, raram Teseu como a um herói' Entre os
libertado, regressou a Arenas,
;";;;;igos "
ainda não tinham várlos motivos que determinaram esse culto o principal foi
sido completamente esmagados. "nd"Dedicou
a Héracles todos os lltc, rìa batalha de Maratona contra os medos, não poucos sol-
recintos sagrados que a cidade aftibuíra
a ele próprio, com risrlt,s acreditaram ver o espectro de Teseu, inteiramente armado,
exceçâo de quatro, pelo que diz
Filócoro, e mudou seu nome larrçnndo-se à sua frente contra os bárbaros'
de Teséia para Herãcleia. rm ,"c-"id;;;,
mostras de querer
governar como antes. e tomar
conta dos negócios ptblicOs, mas 56. Depois das guerras médicas, no arcontado de Fédon,
teve de amargar sedições e transtornos.-'Àp".."0"u; -dï a ltÍtia, consultada pelos atenienses, ordenouJhes que recolhes-
aqueles que o odiavam antes q* rcnl os ossos de Teseu, levassem'nos para sua cidade e os con-
de sua partida já agora o não
temiam mais, acrescentando o d"sprezo ãcrv$ssem com o máximo respeito' Todavia, era difícil repatriá-
ãã .un.o4 o povo, esse
queria bajulado, profundam.rrL .or*pido que lor, e mesmo encontrar a tumba, devido ao humor hostil e feroz
_ser Ërruuá, ,rn
lugar de fazer em sitêncio o qu" tt
iãJse ordenado. Recorreu
rkrs dólopes, que habitam a ilha' Entretanto, tendo Címon
"
à força, mas foi combatido, plfo, à.-us;gos
e facciosos; por
etrnquistado Ciros, conforme mencionei em sua Vida, promoveu
fim, desesperando da situaçãó, urna busca cuidadosa. Diz-se que avistou uma águia que, por
ìe?etumente seus filhos
para a Eubéia, ao pé de Elefenor, "nviou
filho de Calcodonte, ;;rììrd" urn acaso providencial, bicava uma elevação de terreno e arta'
ele próprio para Gárgeto. Ali, atirou rrhava-a com as garras; Címon compreendeu a indicação e man-
maldições contra os ate_
nienses.num sítio que ainda hoje
ostenta o nome de Aratério tlou escavar aquele sítio. Descobriu-se o esquife de um homem
(lugar das maldições) .
,.guida embarcou para Ciros, onde rrvantajado, com uma ponta de lança e uma espada de bronze
contava achar amigos. "m Ademais, possuía nessa ilha algumas lo lado. Címon embarcou os restos em sua tritreme, e os ate-
terras herdadas de seu pai. LicomËdes rrienses, emocionados, acolheram-nos com procissões e sacrifícios
era entao rei de ciros.
Chegando à sua casa, Teseu pediu_lhe- rnagníficos, como se Teseu em pessoa reentrasse na cidade. Está
ãs terras para nelas É local
estabelecer-se (outros, porém, air.r,
quì queria o apoio do rei cntãrrado no centro de Atenas, perto do atual ginásio'
contra os atenienses). Licomedes, fosse
porqu. a reputação de de asilo para os escravos e os humildes que têm algo a temer
semelhante homem lhe inspirasse
medo, fàsse por querer agradar dos podeiosos, e a razão disso é que Teseu sempre se conduziu
a Menesteu, levou Teseú ao ponro _ri, j; ;;ir-; como protetor e defensor dos fracos, cujas preces acolhia com
pretexto de the mostrar seus domínios "ì"uuáo bondaãe. Faz-se-lhe um sacrifício especialmente solene no dia
e empurrou_o do alto do
8 do mês de pianépsio, data de seu regresso de Creta com
48
49
PLUTARCO

os jovens deportados.
Ë igualmente homenageado no oitavo
de cada mês, ou Dorque dh
.h"gou p"iá-prìr.i, a yez
a 8 de hecatombËu, Ëonrorrnï d,eTrezena
por se acreditar oue ,"r* Ër"o*o, o geógrafo, ou
quatquer, devido á
esse número ffr.
tradição ;;; f";;Ëum"onuem
mais que outro RÔMULO
ora, posídon é festejado-i" j;rï.*.ãu.mes, -fitho de posídon; (753-715 a.C.)
orto, sendo o primeiro pois o número
cúbico d; ;Ã.;;ï',n..o
par e o dobro
i:#ïxïi âi': ;";;;';;;; ïu' unái.u *ui, ua,.
J":drado, ()rlgcrrr do nome de Roma. 1. De onde virá o grande no-
*r r .' õJí
rl"i" J""rlïjiï].iffi Tï#ï:. "r*'"À* ï,r?ïio
r urr'('r.r o mundo, e por que foi
me de Roma, cuja glória Per-
dado à cidade? Os historiadores
rllve lgcm sobre esse ponto. Uns dizern-$fç-'-gg'"P9]?-9"go-.s,1, depois
rlc vrrgar por grande parte da terra habitada e vencer inúmeros
lirrvrrs, estabeleceram-se no local onde é hoje a cidade e,
pata
Irntrltalizar a força (róme) de suas armas, deramlhe o nome
rlt' lÌoma. Qutro.s.-.preÍendem que ..os -tro.ranQs.,. depois da queda(
rlt' ílio, escpp,e.t-amÍ1g-E--r13-y;Sp=--qq=-e-!gdçf-an-encontrar e, tangidos 1

pclos ventos-.,..a.b-o-r.d.afgpga-Etrúria*afundearam perto da embg- f


, rrtlura do"Tibrg; mas que, estando suas mulheres cansadas da
I
rrrrvcgação, uma delas, chamada Roma que passava por ser I

rr mais nobre e avisada de todas


-
propôs-lhes atearem fogo
ììs naus. Realmente o fizerum; os
-,
maridos, inicialmente furiosos,
rrcabaram cedendo à necessidade e se deixaram ficar nas imedia-
çt)cs de.'Palâncio
2. Não tardou para que se sentissem muito
rrrclhor ali do que haviam esperado, pois logo perceberam a
riqreza do solo e experimentaram a hospitalidade de seus
vizinhos. De sorte que renderam hornenagens a Roma e até
dcram seu nome à cidade, como se ela própria a tivesse fundado'
Vem-*daí.-as*que--eo*-d,ir*o--çosúurna-.das"-'"mulhçrçe-.Ípf-rì-?,1"-?9" 7
heijar.egl ps-.gegd.o!-.---e.-.p-4391}J-e*s .,Oa"-}Qç4, . p-o;qqg"llts ,foi assim ) 7t'ïl
qu" ãs troianasl'depois-de--incendiar. osnavios, b-çiia,r,e.ql-9-.,4.ce- I
.ìtn1.-1g"-T*SP.nuô*-**olh*..*i"ot*-'-a-'cólera-"' /

y'. Povo pr-é-:bgl-êLlça*quglggg-9clpado a Grécia e a ltália antes


-eïrüSõl- --
-
da chesãdild-íï.ssç$"-Na"lJátia-ã;ssffiifami",ii
Tíaua""qü" Ëriu .iàÀ iunauà" pelo arcadiõ*Ëïãìõro no próprio
rnoúe Palatino e mais tarde absorvida pela cidade de Rômulo.
50
51

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