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Aristoteles-Arte e Musica
Aristoteles-Arte e Musica
1
Segundo Plutarco, Aristóteles teria tomado parte de sua concepção sobre a música do
diálogo Timeu, de Platão.
2
Ao retornar a Atenas, após ter sido o preceptor de Alexandre, O Grande, na
Macedônia, Aristóteles e se vê destituído do Liceu, local onde ensinava; por essa
razão, passou a dar suas aulas ao ar livre. A denominação ‘peripatético’ (do verbo
peritatéō = passear, perambular) vem do hábito do filósofo de ensinar a seus
discípulos enquanto caminhavam pelas ruas da cidade. Daí vêm também os termos
‘esoterismo’, com o sentido original de “estudo profundo para iniciados, através de
caminhadas à tardinha”, e ‘exoterismo’, que tem sentido de “iniciação por meio de
caminhadas pela manhã”.
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É interessante notar como essa distinção entre música prática e música teórica, em
Platão, e entre escutar música e tocar música, em Aristóteles, permaneceu ao longo
dos tempos nas diversas concepções de música. Por exemplo, na Renascença, os
nobres dedicavam-se à fruição musical, enquanto seus súditos se dedicavam a tocar;
2
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FUBINI, Enrico. L’estetica musicale dall’antichità al Settecento. Torino: Einaudi, 1976,
p. 43-58.
5
Problemas é uma obra apócrifa, por isso, os especialistas costumam denominar o
autor como Pseudo Aristóteles.
6
ARISTÓTELES, A política. São Paulo: Atena, 1963.
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***
7
ARISTÓTELES. Retórica das paixões. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 7.
8
Ibid.
8
POÉTICA
Os conceitos mais importantes presentes na poética de Aristóteles,
são os seguintes:
• mímēsis – termo grego que significa imitação; esse termo é
geralmente associado à imitação da natureza, nas artes visuais
(pintura e escultura), porém, foi amplamente empregado por
Aristóteles para significar imitação de vozes e gestos, através
de pantomimas, na tragédia, como também a imitação com
sentido moral, isto é, imitação dos vícios e das virtudes, assim
como a imitação das paixões através da música;
• kátharsis – termo grego que significa purificação do corpo ou da
alma através da purgação dos males e pela satisfação de
necessidades morais; Aristóteles emprega esse vocábulo com o
sentido de produzir o alívio da alma, através de um
procedimento que engloba a produção de afeições mistas de
piedade e terror, no espectador;
• peripéteia – vocábulo grego que significa peripécia, aventura ou
imprevisto; Aristóteles utiliza essa palavra para designar as
mudanças súbitas ou imprevistas de um estado a outro, no
decorrer da narrativa, em que ocorrem revelações inesperadas;
• stásimon (estásimo) – é o termo grego que designa as
participações do coro, na tragédia, entre os episódios da
narrativa, com a função de comentar os atos dos personagens,
aconselhando-os;
• eikos – vocábulo grego que significa verossimilhança; para
Aristóteles, o princípio da verossimilhança é mais importante
para a arte do que a verdade; assim como o mito é mais
importante do que a História – o mito é universal, ao passo que
a história é particular (Poétique, p. 46).
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MIMESE
Este termo foi inicialmente utilizado pelos pitagóricos, sendo
originalmente aplicado à música e à dança. Sua aplicação às artes
cênicas provavelmente deve-se a Aristóteles, para quem a arte deveria
se dedicar à criação e à transposição da narrativa em figuras da
realidade, porém não apenas cópia ou imitação desta. Com isso, o
filósofo peripatético pretende o primado da ação sobre o personagem,
sendo que a mimese pode significar tanto o objeto reproduzido quanto o
objeto que resulta da imitação (verbo: ‘mimesthai’).
Para Platão, a tragédia se limita à imitação e deve, portanto, ser
banida da república, pois entende a mimese em sentido negativo, como
um imitação da imitação, isto é, um imitação de segunda categoria.
Aristóteles, ao contrário, entende a tragédia como personagens em
ação, por isso, propõe a unidade de ação em vários aspectos da
tragédia, sendo que a epopéia, que é pura narração, pode ser construída
ple multiplicidade de ação. Isso deriva de necessidades práticas, pois ao
narrar uma história, é possível fazer com que vários personagens
apareçam em diferentes lugares, o que seria impossível na encenação9.
O entendimento da mimese em sentido positivo leva à imitação
como o fundamento da atividade artística, o que perdurou desde os
antigos gregos até o século XIX. Para Aristóteles,
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Note-se o esforço que os diretores de ópera do século XVII fizeram para superar essa
limitação de Aristóteles ao inventarem máquinas e equipamentos que permitiam ações
simultâneas e personagens atuando em diferentes níveis, no palco.
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10
ARISTÓTELES. Poética. In: BRANDÃO, Roberto de Oliveira (org.). A poética clássica:
Aristóteles, Horácio, Longino. São Paulo: Cultrix, 1997, p. 21-22.
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CATARSE11
(Katharsis, p. 40 §3)
No Livro V de A Política, a catarse aparece associada à música.
Aristóteles apresenta uma espécie de valorização da metáfora,
pois considera a poesia como meio de compreender o mundo em sua
totalidade (objetividade), daí o entendimento do poema lírico (de
caráter subjetivo) como de menor importância12.
São reconhecidos três tipos de canto, conforme sua função
dramática: o canto de ensino, o canto de ação e o canto de entusiasmo.
Nesse sentido, o coro é entendido como um dos atores da tragédia, que
pontua as cenas e comenta a ação, sendo que as intervenções do coro
deveriam ser resguardadas para as passagens líricas da narrativa. De
qualquer maneira, os comentários do coro e os pareceres de prudência
por parte do corifeu estavam caindo em desuso, na época do filósofo.
Aristóteles identifica alguns elementos como essenciais ao poema
trágico, que são o encadeamento da história, a caracterização dos
personagens e a identificação do espectador com a ação. Quando a
narrativa alcança sua unidade pela confluência desses três aspectos, a
surpresa gerada pelo encadeamento de movimentos imprevistos da
ação (peripéteia) é entendida como sendo o melhor meio de produzir as
paixões de medo e piedade, o que vai levar ao estado catártico. Este
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Houaiss: “na religião, medicina e filosofia da Antigüidade grega, libertação, expulsão
ou purgação daquilo que é estranho à essência ou à natureza de um ser e que, por
esta razão, o corrompe; no orfismo e no pitagorismo, período de purificação por que a
alma desencarnada deve passar até que, apagadas as marcas dos crimes cometidos
em sua última existência material, possa ter acesso a uma realidade superior ou
reencarnar em um novo corpo; no platonismo, libertação da alma em relação ao corpo
por meio da renúncia aos prazeres, desejos e paixões, iniciada ainda em vida mas só
completada com a morte; no aristotelismo, descarga de desordens emocionais ou
afetos desmedidos a partir da experiência estética oferecida pelo teatro, música e
poesia; purificação do espírito do espectador através da purgação de suas paixões,
especialmente dos sentimentos de terror ou de piedade vivenciados na contemplação
do espetáculo trágico”.
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Platão, por sua vez, valoriza o critério oposto, pois o poema lírico, subjetivo, é
menos enganador do que a imitação de situações exteriores.
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13
Houaiss: “conjunto dos costumes e hábitos fundamentais, no âmbito do
comportamento (instituições, afazeres etc.) e da cultura (valores, idéias ou crenças),
característicos de uma determinada coletividade, época ou região; parte da retórica
clássica voltada para o estudo dos costumes sociais; conjunto de valores que
permeiam e influenciam uma determinada manifestação (obra, teoria, escola etc.)
artística, científica ou filosófica”.
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14
ANÔNIMO. Tratado Coisliniano: epítome do Livro II da Poética de Aristóteles. Trad.:
Grupo de Pesquisa Projeto OUSIA, coord. Prof. Dr. Fernando Santoro.
15
Ibid.
16
16
Ibid.
17
O termo ‘bacanal’ vem desses rituais em homenagem a Dionísio, deus cujo nome
latino é Baco.
17
PASSAGENS DA POÉTICA
18
ARISTÓTELES. Poética. In: BRANDÃO, Roberto de Oliveira (org.). A poética clássica:
Aristóteles, Horácio, Longino. São Paulo: Cultrix, 1997, p. 26.
18
19
Ibid., p. 26-27.
20
Ibid., p. 28.
21
19
22
Ibid., p. 30.
23
Ibid., p. 40.
20
24
Ibid., p. 43-44.
25
Ibid., p. 50.
21
26
Ibid., p. 51.
22
27
ARTUSI, Giovanni Maria. La Seconda Prattica. In: WEISS, Piero; TARUSKIN, Richard
(org.). Music in the western world, a history in documents, p. 171.
28
MAGNIEN, Michel. Introduction [à la Poétique]. In: ARISTOTE, Poétique. Paris:
Librairie Générale Française, 1990, p. 61-62.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS