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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

“Insanidade é continuar fazendo sempre a


mesma coisa e esperar resultados diferentes”
(Albert Einstein)

A ASSOCIAÇÃO NACIONAL MP PRÓ-SOCIEDADE, pessoa jurídica de direito


privado, de natureza civil sem fins lucrativos, inscrita no CNPJ nº 32.702.301/0001-53, com
sede na Rua Coronel Marciano Rodrigues, 151, sala 11, Centro de Muriaé, Estado de Minas
Gerais, CEP 36.880-027, vem perante Vossa Excelência oferecer REPRESENTAÇÃO a fim de
que, nos termos do art. 51 da Lei 13.844/19 e dos artigos 39, 71, inciso VI, 136, 137 e 144, §
1º, inciso I, da Constituição da República de 1.988, sejam apuradas condutas ilícitas e
sejam, ao fim, tomadas as devidas providências ao final enumeradas, em razão do
evidente enquadramento das hipóteses legais e constitucionais à situação brasileira
atual, esta em decorrência da Pandemia de Coronavírus, pelos fatos a seguir expostos.

I – DOS FATOS

Como sabido e amplamente noticiado pelo Governo Federal e pelos meios


de comunicação em geral, a União não só destinou aos Estados-membros bilhões de
reais para a utilização no combate à pandemia de coronavírus, como também deixou de
receber os pagamentos de seus créditos junto aos Estados, isso por conta da suspensão
da cobrança dessas dívidas.

O resultado final disso, segundo divulgado pela própria imprensa, foi de


que as unidades da Federação tiveram em média receitas 2,4% superiores em 2020 em
relação ao ano de 2019.

Apesar disso, de acordo com um estudo da Rede de Pesquisa Solidária,


divulgado pelo jornal Folha de São Paulo na edição de 6 de Março de 2021, o aumento de
gastos com saúde nos Estados foi inferior a metade do valor dos repasses emergenciais
enviados pela União.

Por exemplo, o Estado de São Paulo recebeu cerca de R$ 8 bilhões em


auxílios do Governo Federal, mas as despesas com saúde cresceram apenas R$ 2 bilhões.

Em outras unidades da Federação, é fato, também se observou a mesma


situação, valendo lembrar o caso do estado do Rio Grande do Sul, onde o governo local
também recebeu um montante considerável de dinheiro público para cuidar da

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pandemia, mas que, na atualidade, uma parcela da população está morrendo por falta de
leitos e cuidados médicos, e a outra está dentro de casa sem sequer poder comprar
aquilo que reputa necessário para a sua vida.

De acordo com as mesmas fontes de informação já citadas, se


Governadores e Prefeitos tivessem usado os bilhões de reais remetidos pelo Planalto na
estruturação do Sistema de Saúde, o Brasil teria hoje cerca de 250 mil leitos de UTI, e não
apenas 1/3 desse número, consoante últimos dados divulgados.

Em outras palavras, é preciso aclarar o que foi feito com esses créditos
orçamentários disponibilizados via transferências voluntárias, evitando não só que os
cidadãos brasileiros sejam responsabilizado pelo caos social atual, como também que
continuem sendo punidos por aquilo que não fizeram, suprimindo-lhes os mais básicos
direitos constitucionais assegurados em nossa Carta Política, quase todos eles
verdadeiras cláusulas pétreas e impossíveis de serem restringidos por meros decretos
estaduais e municipais (direito de ir e vir, direito de reunião, direito à educação, direito ao
trabalho, direito de culto, direito de livre iniciativa e direito de comprar o que lhe
aprouver).

II – DO DIREITO

Diante de tal quadro, evidente a necessidade de atuação dos órgãos de


controle do orçamento público federal, bem como daqueles outros com atribuição para
investigar a prática de crimes contra a União, verificando-se a destinação final das verbas
públicas repassadas e eventuais desvios criminosos.

Por isso, então, a necessidade de atuação da Controladoria Geral da União


(CGU), responsável pelo Controle Interno do Poder Executivo Federal, do Tribunal de
Contas da União (TCU), responsável pelo Controle Externo dos gastos públicos, e
criminalmente do Departamento de Polícia Federal (PF), tudo com fundamento legal no
art. 51 da Lei 13.844/19 e nos artigos 71, inciso VI, e 144, parágrafo primeiro, inciso I, da
Constituição Federal de 1988.

Sem prejuízo do acima afirmado, e considerando a mesma situação fática


já descrita na exposição supra, é evidente que o país atravessa uma situação de comoção
grave de repercussão nacional, abalando assim a ordem pública e a paz social, estas
atingidas por uma calamidade de grande proporção da natureza (coronavírus).

Parece clara, portanto, a possibilidade de decretação de Estado de Defesa


(CF, Art. 136) com vistas a restabelecer a normalidade, em especial em alguns locais
restritos e determinados, tal como permite a Constituição Federal:

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Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de
Defesa Nacional, decretar ESTADO DE DEFESA para preservar ou prontamente restabelecer,
em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e
iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na
natureza.
§ 1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua duração,
especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas
coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:
I - restrições aos direitos de:
a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;
b) sigilo de correspondência;
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;
II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade
pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes. (grifamos)

Tal providência concentraria nas mãos da União a coordenação dos rumos


da pandemia, evitando-se os equívocos e desencontros de muitas das medidas adotadas
pelas demais unidades da Federação (as quais estão suprimindo direitos individuais
indisponíveis), podendo o Governo Federal se valer até mesmo da ocupação e do uso
temporário de bens e serviços públicos de outros entes federativos.

Caso tais providências sejam tidas por insuficientes ou incabíveis, sugere-


se ainda, a título subsidiário, a possibilidade então de decretação de intervenção federal
em algumas unidades da Federação (em especial naquelas que receberam recursos da
União e não investiram na saúde), sendo de se ressaltar o perfeito enquadramento
constitucional dessa medida ao vivenciado atualmente: a) grave comprometimento da
ordem pública; b) violação dos direitos da pessoa humana; e c) não aplicação do mínimo
exigido da receita resultante das transferências federais nos serviços de saúde
estaduais (art. 34, incisos III e VII, alíneas “b” e “e”, da Constituição Federal de 1988).

Por fim, a própria Procuradoria-Geral da República, através do Gabinete


Integrado de Acompanhamento da Epidemia Covid-19 (GIAC), instaurou por meio da
Portaria PGR/MPU n.º 59, de 16.3.2020 procedimento extrajudicial a fim de promover o
trabalho conjunto e preventivo do Ministério Público brasileiro no esforço nacional de
contenção da pandemia, conforme Ofício-Circular anexo.

Tais informações serão deveras úteis para a prevenção e punição de


possíveis ilícitos praticados na gestão dos recursos orçamentários destinados às áreas de
Saúde dos Estados e Municípios.

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III – DOS PEDIDOS

ANTE O EXPOSTO, a ASSOCIAÇÃO NACIONAL MP PRÓ-SOCIEDADE representa pela:

i) instauração de investigação criminal pelo Departamento de Polícia


Federal em Brasília, de procedimento de controle externo pelo Tribunal de Contas da
União e de procedimento de controle interno pela Controladoria-Geral da União a fim de
que sejam apurados, no âmbito de cada esfera (criminal, de controle externo e
administrativa interna) os eventuais desvios e/ou o emprego irregular de verbas públicas
federais repassadas aos Estados-membros, responsabilizando-se os seus respectivos
agentes;

ii) seja analisada a possibilidade de decretação de Estado de Defesa a fim


de que a União consiga concentrar e coordenação a gestão do combate à pandemia do
novo coronavírus;

iii) subsidiariamente, seja analisada eventual necessidade de intervenção


federal em Estados da Federação, especialmente naqueles em que se constate a
incorreta aplicação de recursos orçamentários voluntariamente transferidos bem como
naqueles em que os direitos fundamentais da pessoa humana estão sendo
inconstitucionalmente suprimidos (direito de ir e vir, direito de reunião, direito à
educação, direito ao trabalho, direito de culto, direito de livre iniciativa e direito de adquirir
o que lhe aprouver; e

iv) que haja um intercâmbio de informações obtidas pela Procuradoria-


Geral da República, que através do Gabinete Integrado de Acompanhamento da
Epidemia Covid-19 (GIAC) instaurou procedimento extrajudicial por meio da Portaria
PGR/MPU n.º 59, de 16.3.2020 procedimento extrajudicial a fim de promover o trabalho
conjunto e preventivo do Ministério Público brasileiro no esforço nacional de contenção
da pandemia.

Brasília, Distrito Federal, 16 de Março de 2.021.

Douglas Ivanowski Bertelli Kirchner


Advogado
OAB-DF 57.332

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