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Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3

Cadernos PDE

I
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
ESCOLA E FAMÍLIA: Enfrentado a indisciplina para harmonizar o espaço escolar
Regina Elena Dambros1
André Paulo Castanha2

RESUMO: O presente artigo é resultado das atividades desenvolvidas no Programa de Desenvolvimento


Educacional (PDE), ofertado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Tendo como objetivo
conhecer, analisar e buscar caminhos para minimizar a indisciplina no espaço escolar, principalmente, nas
salas de aula. Além de construir coletivamente laços afetivos, autonomia, responsabilidades e respeito
entre professores/alunos e demais participantes das instituições educacionais. Investigar e compreender
situações de indisciplina que atualmente se apresentam como um dos maiores desafios enfrentados
nestes ambientes. A temática em estudo surgiu devido observações de atitudes inadequadas,
presenciadas diariamente em nossa instituição escolar, pois, estes conflitos acabam desgastando as
relações interpessoais daqueles que ali convivem. Com o objetivo de encontrar soluções foi desenvolvido
um trabalho com toda comunidade escolar, num total de quarenta horas de estudos divididos em três
oficinas, sendo uma com pais e comunidade local, outra com alunos e a terceira com professores e
funcionários. Podemos afirmar que foi um trabalho significante, participativo, o qual possibilitou o
aprofundamento teórico e reflexões significativas para implementar mudança de práticas no ambiente
escolar. Todos contribuíram sugerindo estratégias de ações pedagógicas a fim de enfrentar os desafios
causados pela indisciplina. Estes resultados encontram-se elencados ao longo deste texto.

Palavras-chave: (In) Disciplina Escolar. Práticas Educativas. Relação Escola/Família.

Introdução
Buscamos neste artigo apresentar os resultados de um estudo cuja intervenção
foi realizada com o envolvimento de toda comunidade escolar da Escola Estadual do
Campo Barão do Rio Branco – Ensino Fundamental, do município de Pranchita – PR.
Tendo como objetivo principal encontrar as causas da indisciplina e buscar estratégias e
ações pedagógicas, a fim de enfrentar os desafios presentes, neste espaço escolar, de
forma a englobar regras de trabalho e de convivência pacífica nas salas de aula e no
contexto como um todo.
Cientes das dificuldades de aprendizagem, relacionamento e socialização de
muitos de nossos alunos, os quais provenientes de nível socioeconômico e cultural
diversificados, sendo na sua grande maioria desprovidos de acesso as tecnologias,
enfrentando muitas dificuldades familiares, entre elas faltam de motivação e pouco ou
nenhum acompanhamento no processo educativo por parte de pais e/ou responsáveis.
Ou seja, na maioria das vezes não impõem limites e regras aos filhos, favorecendo
assim à prática de atitudes agressivas dentro e fora da sala de aula, dificultando o
trabalho pedagógico, refletindo em pouca aprendizagem.

1
Professora da Rede Estadual de Educação do Paraná. Gestora da Escola Estadual do Campo de Vista
Gaúcha Ensino Fundamental, Docente na Disciplina de Língua Portuguesa na Escola Estadual do Campo
Barão do Rio Branco- Ensino Fundamental, Pranchita – Pr. Participante do Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE/PR- 2014/2015. E-mail reginadambros@seed.pr.gov.br.
2
Professor do Colegiado de Pedagogia e do Programa de Mestrado em Educação da UNIOESTE –
Campus de Francisco Beltrão. Doutor em Educação e Orientador no programa PDE. E-mail:
andrecastanha66@gmail.com
Tendo em vista a problemática da indisciplina dos alunos, como educadores,
cientes de que a escola é um espaço onde os alunos devem vivenciar situações
diversificadas de organização, de sistematização e de desenvolvimento científico, ético,
tecnológico e cultural, vimos como necessário refletir sobre esse problema para
encontrar alternativas didático-pedagógicas que promovam um espaço escolar
harmonioso, favorecendo a apropriação dos conhecimentos por parte dos alunos.
A partir de observações, das queixas dos profissionais da educação a respeito
dos comportamentos indisciplinados de alguns alunos, desinteresse, falta de
compromisso com os estudos e da pouca participação da família nas atividades
escolares dos filhos, escolhemos esta temática para estudo: Enfrentamento da
indisciplina no espaço escolar, com o intuito de buscar estratégias e ações para
minimizar os conflitos, visando melhorar o ensino e aprendizagem no âmbito educativo,
da Escola Estadual do Campo Barão do Rio Branco, e indiretamente em outras escolas
do município e região.
A Escola Estadual do Campo Barão do Rio Branco está localizada na comunidade
rural Linha Nova Esperança do município de Pranchita e atende os alunos da
comunidade e das comunidades vizinhas. Além disso, recebe alunos que moram na
cidade, que diariamente tomam o transporte escolar e vem para a escola.
Destacamos que a maioria destes alunos são filhos de pequenos agricultores,
agregados e funcionários das propriedades rurais que estão localizadas entorno da
escola, sendo que temos também alguns poucos alunos filhos de proprietários rurais e
os alunos da área urbana pertencem as mais diversificadas classes sociais e
econômicas, ou seja, temos alunos os quais os pais têm um bom nível de rendimento
econômico, chegando até aos mais humildes, o que nos leva a acreditar que a
Instituição já sustenta certo conceito de uma boa escola, para os que têm vontade e
interesse em aprender e a crescer na vida. Podemos afirmar que por parte de alguns
destes alunos este é o grande interesse em estarem se deslocando do centro para o
interior do município para estudar.
Neste sentido afirmamos, que é quase que uma regra nas escolas do país,
acolhemos alunos com problemas de indisciplina e que felizmente tem encontrado
grande aconchego e acolhimento em nossa escola e que temos obtido grandes
conquistas e resultados com transformações comportamentais destes discentes, os
quais procuramos envolvê-los ao máximo em todos os programas que a escola
desenvolve, fazendo assim com se ocupem durante praticamente as oito horas diárias
em que estão presentes na escola, obedecendo sempre ao Projeto Politico Pedagógico
da escola, o qual está sendo constantemente revisado e readequado as novas
realidades e desafios que a educação apresenta em nosso dia-a-dia.
Aproveitamos a oportunidade para também evidenciar que o corpo docente da
escola é formado por professores que residem no interior e também na cidade, o que
proporciona uma mescla interessante na troca de ideias e ações em prol das realizações
pedagógicas na escola o quem vem produzindo bons frutos no desfecho das
expectativas e conquistas da comunidade escolar.
O desenvolvimento da temática, objeto deste estudo foi organizado em forma de
oficinas envolvendo toda a comunidade escolar, que foram divididos em três segmentos,
sendo: Oficina I - contemplando pais e comunidade local, com dois encontros em um
total de oito horas. Oficina II – envolvendo alunos das turmas do Sétimo Ano “A” e Nono
Ano “A”, Grêmio Estudantil e dois participantes das demais turmas, ou seja, do sexto e
do oitavo anos, com três encontros de quatro horas cada. Oficina III - ministrada para
professores, equipe pedagógica, gestores e demais funcionários da rede estadual do
município de Pranchita-Pr. Essa oficina foi desenvolvida em cinco encontros aos
sábados, com certificação de 20 horas pela UNIOESTE- PR.
No desenvolvimento destas oficinas totalizamos um período de quarenta horas de
formação/estudo, onde por meio de debates, leituras críticas de autores da educação,
vídeos, músicas e poemas, os quais nos possibilitaram o aporte teórico-prático
necessário, para a compreensão da problemática, para as buscas de estratégias e
ações que visem à minimização da indisciplina e harmonização no ambiente escolar,
para o bom andamento do ensino e aprendizagem.
Como complementação das atividade de implementação dos conteúdos previstos
em nossa Produção Didático-Pedagógica, realizamos na Casa da Cultura uma palestra
com a presença de grande número de pais, professores, gestores, equipes pedagógicas
e funcionários das demais Escolas Estaduais pertencentes ao município de Pranchita,
onde procuramos evidenciar a conscientização dos prejuízos que a indisciplina causa no
contexto escolar, e a necessidade de se buscar coletivamente estratégias e ações para
minimizarmos os conflitos, decorrentes no espaço escolar.
Ainda como parte do processo da realização do PDE, promovemos o Grupo de
Trabalho em Rede (GTR), através de formação online, socializando o tema da nossa
pesquisa e proporcionando reflexões sobre situações de conflitos, contribuindo assim
para construirmos um ambiente mais harmônico entre alunos, professores e
funcionários, difundindo regras de boa convivência e da troca recíproca de
conhecimentos e experiências de vida. Sendo assim, à luz da formação continuada,
proporcionamos trocas de experiências práticas e teóricas, na construção coletiva de
novos conceitos pedagógicos, conforme as peculiaridades de cada escola, tornando
exitoso o processo de ensino e aprendizagem.
Gostaríamos ainda de evidenciar que os colegas participantes do referido estudo
tiveram uma participação ativa opinando, relatando experiências, questionando aspectos
diversos, participando efetivamente, o que nos enche de esperança e da certeza de que
estamos no caminho certo, ou seja, despertar nos alunos e professores o espírito de
união, o respeito mútuo e o exercício de cidadania e assim tornarmos nossa escola num
ambiente agradável, para o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem de
qualidade.

Conceituando Indisciplina
Ao longo da pesquisa, encontramos uma variedade de entendimentos conceituais
sobre indisciplina escolar. A indisciplina é e sempre foi um assunto polêmico, complexo,
definido de diferentes formas por diferentes profissionais. É uma problemática que
envolve uma dificuldade de se estabelecer um consenso acerca do seu significado e de
suas causas.
Conceituá-la não é tão simples, pois está envolvida com uma série de fatores
multidisciplinares que a referenciam, fazendo com que esse fenômeno seja
perspectivado em diferentes ângulos de entendimento, o que torna esse conceito longe
de ter uma abordagem consensual, pois a tendência é dar mais ênfase a uns aspectos
do que a outros.
Para aprofundar ainda o conceito de indisciplina, é necessário buscarmos o
conceito do termo oposto, ou seja, “disciplina”. De acordo com o dicionário Aurélio, o
termo disciplina pode ser definido como

[...] regime de ordem imposta ou mesmo consentida, ou, ainda, relações de


subordinação do aluno ao mestre”. Dessa forma, pode-se concluir que
indisciplina pode ser vista como todo e qualquer ato de inquietação,
desobediência, discordância, conversa e desatenção por parte do aluno (1998, p.
224).

A disciplina também não distante dos fatores já mencionados é um ato que muda
de acordo com os valores e princípios que norteiam cada escola, em seu conjunto de
regras e regulamentos expressa a ordem que ocorre no tempo e espaço.
Sobre a indisciplina, Garcia afirma o seguinte:

A partir da década de 80 o conceito de indisciplina aparece na literatura escolar,


desde então, seu conceito foi sendo considerado de diversas maneiras, em
diferentes momentos e lugares, porém, ela não surgiu isolada no ambiente da
escola e, ao longo do tempo, vem demonstrando algumas relações com a
organização escolar, com as práticas pedagógicas, com a autoridade docente,
entre outras. E, ainda que os professores não estejam preparados para superá-
la, a indisciplina é um dos principais desafios que perpassam a escola (2001, p.
118).

Temos presenciado que a indisciplina no âmbito educativo se relaciona com


vários aspectos ao longo da história, variando dentro das diferentes sociedades,
culturas, instituições escolares, classes sociais e até mesmo compreendidas,
diferentemente em uma mesma instituição social.
Rego também define indisciplina:

O próprio conceito de indisciplina, como toda criação cultural, não é estático,


uniforme, nem tampouco universal. Ele se relaciona com o conjunto de valores e
expectativas que variam ao longo da história, entre as diferentes culturas e uma
mesma sociedade: nas diversas classes sociais, nas diferentes instituições e até
mesmo dentro de uma mesma camada social ou organismo. Também no plano
individual a palavra indisciplina pode ter diferentes sentidos que dependerão das
vivências de cada sujeito e do contexto em que forem aplicadas. Como
decorrência, os padrões de disciplina que pautam a educação das crianças e
jovens, assim como os critérios adotados para identificar um comportamento
indisciplinado não somente se transformam ao longo do tempo como também se
diferenciam no interior da dinâmica social (1996, p. 84).

No exposto acima, a autora afirma que ao conceituar indisciplina não se pode


esperar uniformidade, por se tratar de “criação cultural” e, estar relacionada a diferentes
valores e expectativas que variam conforme o contexto onde se insere. Também,
ocorrem múltiplas interpretações em diversos meios sociais.
Aquino também conceitua indisciplina como toda criação cultural, que não é
estática, uniforme, nem tampouco universal. Defende que a indisciplina se relaciona com
o conjunto de valores e expectativas que variam ao longo da história, entre as diferentes
culturas e numa mesma sociedade, (1999, p. 38).
Dayan Parrat também contribui afirmando:

O conceito de indisciplina é definido em relação ao conceito de disciplina, que na


linguagem corrente significa regra de conduta comum a uma coletividade para
manter a boa ordem e, por extensão, a obediência à regra. [...] assim, o conceito
de disciplina está relacionado com a existência de regras; e o conceito de
indisciplina, com a desobediência a essas regras (2012, p. 19).

Na visão dos autores fica claro que a indisciplina não se apresenta de forma
estática, mas está cada vez mais complexa, criativa, que vem aumentando e ganhando
um espaço cada vez maior no âmbito escolar. Evidencia também que tanto a escola,
quanto a família precisam de regras e normas orientadoras, para a convivência entre os
que atuam, tanto no âmbito escolar, quanto familiar.
Frente às leituras percebemos que a indisciplina também surge através da falta
de afetividade, do resgate de valores, pois os adultos, no geral estão deixando as
crianças sem referências de boas condutas para que elas possam se espelhar. Como
estas crianças vão ter uma formação adequada se os pais estão na maioria das vezes
ausentes na vida dos seus filhos?
Sabemos que o aluno aprende boas maneiras e os conceitos de disciplina e
respeito onde passa o maior tempo de convivência com outros, ou seja, no ambiente
familiar e é ali que este deveria aprender até aonde vão os seus direitos e deveres com
os outros e por que não com seu país?
Devemos sempre ter em mente que o foco central da escola é a construção do
conhecimento, daí a necessidade de haver um bom relacionamento professor/aluno e
escola/família para que se constitua um ambiente escolar prazeroso para busca do
aprendizado.

O Papel da Família e Escola na Educação dos Filhos/Alunos


Estudos têm evidenciado que para compreender a indisciplina no contexto escolar
é preciso refletir de uma maneira mais ampla, que busquemos conceitos e inter-relações
que serão necessários para entender este fato de uma forma mais justa e assim poder
ver toda sua complexidade.
Como afirma Vasconcellos:

O problema da indisciplina está angustiando cada dia mais os educadores em


geral. A grande pergunta que está na cabeça de todos é: o que fazer? Embora
esta questão seja da maior importância e deva ser respondida, entendemos que,
antes, outras devem ser enfrentadas: o que está acontecendo? O que
queremos? (1989, p.130).

O autor relata a nossa situação como profissional da educação, nossos


sentimentos de angústia, causada pela insegurança sem saber que atitude tomar frente
muitas realidades do cotidiano escolar.
Neste sentido Vasconcellos também assegura:

(...) é importante que haja participação e comprometimento de todos os


envolvidos no processo (pais, alunos, professores, equipe pedagógica,
administrativa etc.), na elaboração das normas disciplinares no âmbito escolar,
viabilizando um projeto de participação democrática de forma consciente e
interativa para que os problemas relacionados à escola sejam discutidos em
conjunto (1989, p. 73-74).

Nesse sentido, a indisciplina está relacionada no que se estabelece no interior da


sala de aula, por essa ser sempre vista como sintoma de relações descontínuas e
conflitantes entre o espaço escolar e as outras instituições sociais, ou seja, uma
desconexão entre professor, aluno e escola.
Compreende-se que a relação professor-aluno é à base das práticas educativas e
do contrato pedagógico. Assim, um professor que mantém um bom relacionamento com
seus alunos, conseguirá (re)inventar a moralidade discente, atingindo assim seus
objetivos propostos em sala de aula, que é construir o conhecimento científico em um
ambiente educativo e harmônico.
Ainda o mesmo autor contribui afirmando:

“a relação entre a escola e a família têm se modificado nas últimas décadas”, a


maioria dos pais está transferindo à escola a obrigação de educar seus filhos,
ensiná-los valores, regras e limites. Eximindo-se de seus compromissos na
educação dos filhos (1995, p. 63).

Diante esta situação evidencia-se que as famílias estão desorientadas, talvez não
saibam o quanto é valioso o acompanhamento dos pais no processo educacional dos
filhos. É preciso que a família esteja presente na vida escolar dos filhos, em todo
processo de desenvolvimento educacional.
A família tem um papel insubstituível e decisivo na educação dos filhos, além
disso, no seu interior devem ser absorvidos os valores éticos e humanitários, onde se
aprofundam os laços de afetividade e solidariedade. Também, no meio familiar que se
constroem as marcas entre as gerações e, quando a educação é sólida, observam-se os
valores culturais, éticos morais de cada cidadão.
No decorrer das oficinas com os pais, orientamos que de certa forma, quando a
família não cumpre a sua função como educadora, não age com autoridade afetiva, nem
com autonomia em suas decisões criam-se as condições favoráveis para promover a
indisciplina dos filhos na escola.
Estes chegam à escola sem regras e limites, desrespeitando os professores,
como profissionais da educação, não atendem as normas da escola, não realizam os
trabalhos escolares e, frequentemente praticam agressões verbais e físicas.
Segundo Aquino (...) “as crianças de hoje em dia não têm limites, não
reconhecem a autoridade, não respeitam as regras, a responsabilidade por isso é dos
pais, que teriam se tornado muitos permissivos”, (1996, p17).
Como educadores, podemos confirmar que o comportamento de nossos alunos
vem se modificando progressivamente, assim, cada vez mais em nossa sociedade,
grande número de crianças e adolescentes não têm limites, nem tampouco regras de
boa convivência.
No papel de educadores percebemos diariamente falhas de comprometimentos
diante da educação das crianças. Muitos pais atribuem toda responsabilidade da
educação de seus filhos à escola. Esta uma situação preocupante para os educadores.
Em certas ocasiões já nem mais resolve chamar os pais para tomarem ciência dos
comportamentos de indisciplina dos filhos. Há pais que deixam claro, na frente dos
próprios filhos que não sabem mais como lidar com eles. Ameaçam de entregá-los ao
Conselho Tutelar e até mesmo a polícia, deixando-os cada vez mais revoltados. Estes
pais perdem o respeito e o controle da educação de seus filhos.
Diante destas realidades percebemos que muitos pais de nossos alunos,
encontram-se desorientados diante da educação dos filhos. Agem de forma contrária, ao
invés de ajudar a escola na formação dos filhos, pedem ajuda aos docentes para educar
seus filhos, porque estes não respeitam seus pais.
Para esta situação Vasconcellos contribui:

A escola precisa intervir no trabalho de formação e conscientização dos pais.


Devemos esclarecer aos pais a concepção de disciplina da escola, de forma a
minimizar a distância entre a disciplina domiciliar e escolar. Diante de toda crise,
as famílias estão desorientadas. Muitos educadores argumentam que não seria
tarefa da escola este trabalho com as famílias. De fato, só que concretamente se
não fizermos algo já, enquanto lutamos por mudanças mais estruturais, nosso
trabalho com as crianças ficará muito mais difícil (2004, p.79).

O autor afirma que há necessidade da escola intervir na formação e


conscientização dos pais, pois, sabe-se que os mesmos diante das frequentes
mudanças em nossa sociedade sentem-se inseguros e, sempre que possível devemos
auxiliá-los, orientando-os sobre a forma agir na educação de seus filhos, mostrando que
à medida que eles cobram o respeito dos filhos, boas maneiras, cumprimento de normas
na família, os professores terão condições de um desempenho melhor no processo de
ensino e aprendizagem.
No decorrer das reflexões percebemos que a escola ainda é a instituição mais
confiável aos pais e alunos devendo então, aliar-se à família para conscientização da
formação do filho/aluno de maneira integral.
Ao tomar medidas visando à formação, escola e família, possibilitam ao aluno
pensar criticamente, desenvolver sua autonomia, o prazer pelo estudo e,
automaticamente diminuem-se os conflitos de indisciplina em sala de aula, e,
consequentemente tornará a escola um ambiente muito mais prazeroso para se
conviver.
Uma base concreta que pode fortalecer tais ações é a compreensão do que
estabelece a legislação. Precisamos retomar as leis e juntamente com os pais e a
comunidade escolar, estudá-las, para que cada instituição entenda seus compromissos
de educadores.
Conforme previsto na Constituição da República Federativa do Brasil em seu
artigo 205: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”
(BRASIL,1989, p. 99). Também observamos que no Estatuto da Criança e do
Adolescente o mesmo prevê no seu artigo 19 que:

Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua
família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência
familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes
de substâncias entorpecentes. (BRASIL, Lei nº 8.069/90).

Essa responsabilidade foi reforçada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação,


Lei nº. 9394/96, ao estabelecer que é dever da família o acompanhamento do filho no
processo de escolaridade. Conforme o artigo 12, as famílias também são responsáveis
pelo desenvolvimento educacional da criança. A mesma lei define que cabe a escola
criar os meios de articulação com a família, além de mantê-la informada sobre sua
proposta pedagógica e outras informações como frequência e rendimento do aluno.
O exposto acima evidencia que a educação dos filhos é direito e dever das
famílias, mas muitas vezes, as famílias se omitem de suas obrigações transferindo-as à
escola. Como é um dever, as famílias precisam fazer a sua parte, mas devem exigir do
Estado e Escola, que também cumpram seus deveres.
Diante destas responsabilidades cabe a nós educadores encontrar formas
corretas, para administrar determinados conflitos de indisciplina no espaço escolar.
Estes conflitos acabam tomando parte do tempo em que seria disponibilizado para o
desenvolvimento do trabalho com o conhecimento, tempo este desperdiçado nos
momentos em que o docente usa para chamar a atenção e apaziguar os alunos,
fragilizando assim, a efetivação da construção do conhecimento ao qual ele se propôs.
Saber lidar com diferentes situações que vão além dos conhecimentos científicos,
que comprometem o processo de ensino e aprendizagem, se caracteriza como um dos
maiores desafios enfrentados atualmente pela classe de educadores. Acreditamos que,
para termos sucesso diante desta problemática, temos que estar em constante formação
para lidar com as determinadas situações problemas, caso venham surgir no meio social
e educacional em que vivemos.
Freire ressalta que enquanto os professores não percebem que é por meio de
uma dinâmica relacional do docente com a turma, e da análise detalhada do que se
passa no seio do grupo, que se pode melhorar o ambiente de sala de aula (2006, p. 27).
Caso isso não ocorra não obteremos grandes resultados.
Faz-se necessário urgente repensarmos coletivamente maneiras de organizarmos
trabalhos que contemplam teoria e prática no enfrentamento da indisciplina. É preciso
repensar ações entre família e escola, pois, não podemos deixar de realizar atividades
que envolvam a família, trazendo-a para a escola, pois, o fato de envolvê-la nas
decisões as torna parte do processo e faz com que se sintam mais responsável e
participativa na vida escolar de seus filhos.

Compromissos da Escola com a Harmonização do Espaço Escolar


Inúmeros são os compromissos inerentes à escola no ato de educar, até porque
se trata de uma instituição cujo objetivo maior é a educação. Sendo a escola um espaço
social, concomitantemente, deve ser parceira essencial da família na formação da
criança e do adolescente, pois ambas devem objetivar efetivamente para o crescimento
intelectual, cultural social, cognitivo, crítico, científico e espiritual do educando.
Diante da constatação, compreende-se a necessidade de um maior engajamento
por parte da escola na busca de alternativas de intervenções para o enfrentamento de
conflitos na sala de aula.
Enfatiza-se que o trabalho coletivo é o principal instrumento de viabilização
dessas ações. A cooperação, estudo e diálogo são os instrumentos que mediarão
caminhos, na busca por uma disciplina que considere o respeito como condição principal
nas relações existentes na escola.
Segundo Libâneo:

(...) devemos ter em mente que a escola não está isolada do sistema social,
político e cultural, mas que pode criar seu espaço de trabalho junto a seus pares,
em função da qualidade das aprendizagens dos alunos e de objetivos pessoais,
profissionais e coletivos (2004, p.16).

Ainda Libâneo nos chama a atenção para as mudanças nos aspectos individuais.
As pessoas são estimuladas a se preparar para competir, por si mesmas, no mercado de
trabalho e gerar seus próprios meios de vida, (2004, p. 46-47). Neste sentido, perde-se o
sentido da coletividade, das trocas, de vínculos afetivos duradouros e da cooperação
mútua. Passa-se a ideia de que o prazer está nos bens materiais e não no
companheirismo, na convivência, no diálogo e na solidariedade.
Frente a isso, o papel da escola deve ser o de formar o cidadão crítico capaz de
intervir sobre a realidade social para que exerça ativamente sua cidadania. Neste foco
evidencia-se a necessidade de formações continuadas na perspectiva dialética de
interação, escola – família - aluno, numa construção de um novo sentido e novo
relacionamento entre professores, alunos e pais num coletivo escolar, afim de que a
disciplina possa ser vivida na escola de forma a contribuir para a melhoria da
aprendizagem do aluno.
Aquino afirma que devemos compreender as atitudes de indisciplina dos alunos e
torná-las amplamente educativas, desenvolvendo em nossas práticas os valores da
tolerância e solidariedade (1996, p.137). Na compreensão do autor faz-se necessária a
busca de soluções que nos ajudem a reconstruir nossas relações no âmbito escolar,
possibilitar os conflitos como uma saída, para devidas mudanças necessários, garantir
assim, a valorização e dignidade de todos os envolvidos no processo de ensino e
aprendizagem.
Tendo em vista a responsabilidade da escola na organização social,
administrativa e pedagógica, diante do processo educativo é preciso apoiar-se nas
normas que regem o sistema educacional, para amparar as decisões tomadas; devem
estar respaldadas nas normas propostas no Projeto Político Pedagógico (PPP) e no do
Regimento Escolar. Estas leis, que são o amparo legal às decisões a serem tomadas no
âmbito educativo, devem estar explícitas, principalmente, no que diz respeito aos direitos
e deveres dos alunos, pais ou responsáveis e profissionais da escola.
Para isso, todo coletivo escolar deve conhecer, analisar e discutir essas leis, para
cumpri-las de forma correta, tanto no aspecto pedagógico, administrativo, como
estrutura física da escola e na sua manutenção e conservação, para que o ambiente
seja agradável, afetivo, favorecendo a autonomia e a disciplina no ambiente educativo.
Portanto, como profissionais da educação, compreendemos que a escola ainda
tem a maior responsabilidade e influência na educação da criança. Para isso,
precisamos ser profissionais comprometidos, éticos. Mesmo com toda a amplitude e
complexidade enfrentada em nosso cotidiano escolar, é possível sonhar, conquistar o
aluno, como também, a sociedade que queremos. Esta conquista será possível através
da formação continuada, que nos possibilite mudar e transformar o que não queremos e
não aceitamos, utilizando essas situações em instrumento que favoreçam o ensino e
aprendizagem.
No decorrer das leituras sobre esta temática e o acompanhamento da realidade
escolar, compreendemos que o aluno é o núcleo do processo educativo. É a partir dele e
para ele que toda a educação é (re)pensada. Todavia, grande parte dos alunos
perderam o foco da importância dos bons hábitos, dos estudos e apontam para um norte
divergente daquele ofertado pela escola e ainda indagam, estudar para quê?
Isto tem protagonizado cenas de horror nas escolas, através da manifestação da
indisciplina explícita. Talvez, estes alunos esperam algo diferente da escola, pode ser
pelos ensinamentos da sociedade, ou pelo fracasso da família, ou ainda pela
“inadequação” da escola com conteúdos não condizentes com a realidade do aluno ou
práticas pedagógicas não atraentes para o momento. Porém, os alunos estão cada vez
mais distantes das boas questões educacionais, menos comprometidos com a própria
formação e muito mais agressivos.
Frente a isso Vasconcellos afirma:

O aluno tem de fazer uma aprendizagem fundamental da convivência


democrática: não abrir mão de forma alguma de sua dignidade, de seu valor,
todavia, ao mesmo tempo, não passar por cima da dignidade do outro. Há que
descobrir que sua afirmação não significa necessariamente a negação do outro,
mas que, pelo contrário, a convivência com o outro o leva a potencializar e
desenvolver-se. O outro, tanto quanto eu é um sujeito contraditório, com
positividades e negatividades, ao mesmo tempo. No desenvolvimento dessa
contradição, há perfeitamente a possibilidade do crescimento de ambos, já que
só pelo contato com o outro é que posso entrar no processo de vir a ser homem,
(1995, p. 97).

Através da afirmativa do autor, das leituras e observações realizadas ficou claro


que o aluno precisa (re)construir seu papel enquanto estudante, deixar de ser um mero
receptor passivo e ser sujeito ativo consciente de sua aprendizagem. Interagir com seu
professor na construção de seu saber. Precisa buscar, descobrir, assumir o
compromisso com autonomia e acreditar que a escola é importante para formação
intelectual e pessoal.
Neste sentido, no papel de educadores devemos compreender o aluno
indisciplinado, participando com afetividade na sua vida na sala de aula, como também,
entender seus problemas e frustrações para assim buscar soluções de respeito e com
prazer de estar e cooperar no âmbito educativo.

Escola e Família em Busca de Soluções para (In) Disciplina


A proposta deste estudo teve como norte discussões coletivas, escola e família
propondo possibilidades de compreensão das causas de indisciplina, visando à busca
de estratégias e ações pedagógicas para minimizar os problemas conflituosos que
ocorrem no espaço escolar.
Para o encaminhamento destas reflexões desenvolvemos um Caderno
Pedagógico com a finalidade de fornecer subsídios para o debate nos grupos de
estudos, e para encontrarmos soluções que visam sanar os conflitos de indisciplina
vivenciados cotidianamente no âmbito educativo.
O desenvolvimento da Intervenção na escola ocorreu por meio de grupos de
estudos divididos em três oficinas, sendo uma com pais e comunidade local, outra com
alunos das turmas do sétimo ano “A” e nono ano “A”, Grêmio Estudantil e dois
participantes das demais turmas, e uma oficina com professores e funcionários.
Iniciamos os estudos com os pais e comunidade local, em forma de oficinas.
Primeiramente, realizamos a explanação do Tema em estudo, objetivos, justificativas e
convidamos os pais para busca de estratégias e ações para o enfrentamento à
indisciplina, visando minimizá-la no espaço escolar.
Na sequência para subsidiar os grupos de estudos aplicamos questionários para
os pais dos discentes que residem na cidade e que mandam seus filhos estudar na
escola do campo, e outro questionário com questões diferenciadas para os pais dos
alunos que moram no campo. Estes foram aplicados com a finalidade de conhecer,
analisar e entender a visão dos pais sobre a instituição escolar, sendo que esta escola
tem como política levar alunos da cidade para estudar na escola do campo, motivado
pelo número reduzido de alunos que moram no campo, consequência da modernização
da agricultura, e do êxodo rural.
Foram elencadas algumas respostas das questões para análise e ciência de toda
comunidade escolar.
Perguntamos aos pais que moram na “Cidade”. 1- Por que matricula seu filho na
Escola do Campo? Entrevistado 01: “Porque o ambiente escolar no Campo, ainda é
mais tranquilo e meu filho tem maior rendimento e assim qualidade no ensino. Estudar
no Campo é melhor porque os alunos não podem sair da escola, permanecem na sala
de aula o tempo todo”. Entrevistado 02: “Porque esta escola conscientiza as crianças a
permanecerem no Campo, ficando longe da aglomeração das cidades. Também, pelo
número reduzido de alunos por turma, onde o professor pode dar maior atenção
individual ao nosso filho”. Entrevistado 03: “Primeiramente, porque ele pediu porque
são menos alunos, mais calmo, as aulas são bastante diversificadas. Os professores são
dedicados e amigos”.
2- Perguntamos aos pais residentes no “Campo”. Como você vê a matrícula de
aluno da cidade na Escola do Campo? Entrevistado 01: “Vejo como uma forma normal,
assim os alunos da cidade e campo trocam conhecimentos e formam novas amizades.
Como também, os da cidade aprendem a valorizar o agricultor e trabalhar na horta
escolar”. Entrevistado 02: “Eu acho normal, pois isso ajuda a escola para continuar
aberta e todos têm os mesmos direitos”. Entrevistado 03: “Em alguns casos é bom,
mas também há desrespeito entre alunos e falta de respeito com os professores e isso é
muito ruim, mas na cidade é pior”.
3- Os pais da “cidade” respondem a seguinte questão: Como a Escola do Campo
trata seu filho? Entrevistado 01: “Aqui também tem a falta de respeito por parte de
alguns alunos, mas é a minoria”. Entrevistado 02: “Muito bom, não deixam nada a
desejar, toda equipe da escola é comprometida com a educação de nossos filhos”
Entrevistado 03: “Trata conforme deve ser tratado, com seus direitos e deveres. Pois,
há bastante cobrança dos professores”.
4- Os pais do “Campo” respondem a questão: Você acha que os colegas da
cidade ajudam ou atrapalham na formação de seu filho? Entrevistado 01: “Depende do
comportamento do aluno, pois em algumas situações acabam prejudicando quem quer
aprender”. Entrevistado 02: “Nem todos ajudam, muitos atrapalham dando mau
exemplo, pois, a educação deles é totalmente diferente dos nossos filhos. Mas, com
esse trabalho da professora sobre indisciplina acreditamos que vai melhorar”.
Entrevistado 03: “Sim, porque todos têm o direito de aprender e valorizar o trabalho da
escola”.
5- Apresentamos a seguinte questão aos pais da “Cidade”: Como você avalia o
trabalho desenvolvido pela escola? Entrevistado 01: “Muito bom! Os alunos aprendem
mexer na terra, cuidar da natureza com aulas práticas, onde cativam os alunos,
aguçando-os a aprender mais”. Entrevistado 02: “Esta escola é muito boa, os
professores, diretora e funcionários fazem tudo com carinho. A merenda é muito boa”.
Entrevistado 03: “Bom, porque tem menos alunos e os professores se dedicam. Tem
algumas bagunças, mas bem menos que na cidade. Aqui nossos filhos são tratados com
dignidade”.
6– Os pais do “Campo” respondem a questão: “Você acha interessante que
alunos da cidade venham estudar na escola do Campo? Por quê? Entrevistado 01:
“Sim porque não queremos que a nossa escola do Campo feche. Eles se matriculando
aqui aumenta o número de alunos”. Entrevistado 02: “Sim, porque assim eles aprendem
a lidar com as plantas, cuidar da natureza e valorizar nosso trabalho do campo”.
Entrevistado 03: “Sim aqui não existe a diferença de alunos, tanto da cidade quanto do
interior são tratados iguais”.
7- Os pais do “Campo” contribuíram respondendo a questão: Como você avalia o
trabalho desenvolvido pela Escola? Entrevistado 01: “Muito bom, pois todos se ajudam
principalmente os colegas e professores”. Entrevistado 02: “Bom, pois meu filho
aprende cada vez mais, pois todos os professores, funcionários etc., colaboram para
fazer um bom trabalho”. Entrevistado 03: “É um trabalho maravilhoso, pois é o melhor
colégio do município. O desenvolvimento do aluno é extraordinário e ele jamais terá isso
em outro colégio!”.
8- Os pais da “Cidade” respondem ao seguinte questionamento: Na sua opinião o
que deveria melhorar em nossa escola? Entrevistado 01: “Bom, acho que precisaria de
maior apoio. Porque aqui querem fechar as escolas do campo, eu não concordo, tanto
que minha filha está matriculada nessa escola e já deixou bem claro que gostaria de
estudar nessa escola o ano que vem”. Entrevistado 02: “Na minha opinião do jeito que
está, está ótimo!”. Entrevistado 03: “Estão de parabéns!”.
9- Os pais do “Campo” respondem a questão: Na sua opinião o que deveria
melhorar em nossa escola? Entrevistado 01: “Está tudo ótimo, mas a gente tem que
melhorar cada vez mais”. Entrevistado 02: “Nada, pois o que tinha que ser melhorado já
está em andamento”. Entrevistado 03: “Deveria continuar funcionando, pois, os alunos
perderiam muito, mas muito mesmo se a escola fechasse e eles tivessem que estudar
em outro lugar”.
Após análise dos questionários com os pais, realizamos uma dinâmica de
perguntas e respostas entre pais e filhos denominada de Pais e Filhos 6x4: placar da
vida, a qual veio ao encontro de nossas práticas na família e escola, contribuindo para
compreender como está à educação dos nossos filhos/alunos? Esta atividade lúdica,
oportunizou entendimento sobre responsabilidades e necessidades dos pais exigirem o
respeito de seus filhos, ou seja, do respeito mútuo entre os pais e filhos. Trabalhamos a
questão dos limites, responsabilidade, autonomia na família e escola, humildade,
gratidão, compreensão, ordem, controle, autocontrole, valores morais e importância das
regras para boa convivência em nosso meio social.
Após o desenvolvimento desta dinâmica, assistimos ao vídeo ³“Pais e Filhos 6x4:
O jogo da vida 3, de autoria do Pe. Zezinho. A partir do vídeo comparamos as
reflexões/respostas desenvolvidas na atividade lúdica realizada com os pais e filhos.
Nesta linha de raciocínio, Dayan Parrat contribui:

Desafiar a autoridade é inerente ao desenvolvimento do ser humano, mas


conhecer os limites da própria liberdade de ação também é. Se quisermos
alunos capazes de pensar e atuar com critérios próprios, com capacidade para
tomar decisões livres e adequadas, é necessário reforçar a sua capacidade de
autocontrole e autorregulação (2012, p. 15).

Diante do exposto acima, a autora afirma que em toda prática educativa deveria
ser atribuída a responsabilidade, a autoestima e o esforço, e esta deve começar pela
família, pois é nela que se constrói a personalidade da criança, se não a educar desde
cedo, provavelmente o que ocorrerá são distúrbios de comportamentos,
ocasionando agressividade, brutalidade entre colegas e professores, o que atualmente
se vê muito no âmbito escolar.
Na sequência estudamos com os pais algumas Leis e documentos oficiais como
LDBEN, Constituição Federal, ECA, Regimento Escolar e PPP da Escola, documentos
que regem as responsabilidades da família e da escola na educação dos filhos. A partir
destas leituras e reflexões os pais perceberam que é obrigação deles passar valores .

3
Pais e Filhos 6x4: o jogo da vida, vídeo de autoria do Pe. Zezinho. O vídeo possibilita a elaboração de
uma dinâmica de perguntas e respostas e a compreensão de que filhos/alunos devem aprender na família,
a respeitar aos pais e adultos e que todos têm o direito de ser respeitados, ter autonomia, dialogar e
participar nas decisões coletivas na família, para uma convivência harmoniosa no seu meio social.
A partir destas leituras e reflexões os pais perceberam que é obrigação deles passar
valores éticos, religiosidade e ensinar seu (sua) filho (a) a se comportar educadamente
com outras pessoas e respeitar seus limites.
Foi um diálogo franco e aberto sobre as responsabilidades. Frente a estas
reflexões, os pais se propuseram a participar do enfrentamento da indisciplina no
contexto escolar. Afirmaram ainda que os estudos nesta temática os deixaram cientes
de suas responsabilidades educacionais, que o envolvimento com a escola não é tarefa
só da escola como também da família.
Fomos elogiados pelos presentes pela iniciativa de refletir e trabalhar com esta
problemática com toda comunidade escolar. Finalizando, os pais se comprometeram em
acompanhar mais de perto o processo de aprendizagem de seus filhos, demonstraram
ainda que estes encontros de estudos os fez analisar o quanto a escola estava alheia
aos compromissos de pais como educadores. Que estas reflexões trarão bons frutos à
escola e família, que agora vão entender melhor certas atitudes dos filhos e lidar com
mais autoridade afetiva.
Para iniciar a reflexão com os alunos foram apresentados slides e vídeos
demonstrando situações de indisciplina no espaço escolar, onde foi possível fazê-los
perceber que existem muitos conflitos de indisciplina, principalmente em salas de aula, o
que vem atrapalhando o processo ensino/aprendizagem.
Estes alunos compreenderam que com a movimentação, barulho em sala de
aula, não é possível desenvolver um bom trabalho para construção do conhecimento
científico. E no decorrer das reflexões, por meio de dinâmicas e leituras de textos sobre
a temática em estudo se conscientizaram, que muitos deles é que são os causadores da
indisciplina em sala de aula, a qual vem prejudicando a turma toda no processo de
ensino e aprendizagem.
Sobre isso Parrat afirma:

Os conflitos em sala de aula, comumente são caracterizados pelo


descumprimento de ordens e falta de limites como, falar durante as aulas o
tempo todo, não levar o material necessário para a escola, ficar em pé,
interromper o professor, gritar, andar pela sala, jogar papéis nos colegas ou
mesmo no professor, dentre outras atitudes, que dificultam o rendimento escolar
(2012, p. 95).

A autora apresenta conflitos semelhantes aos que ocorrem diariamente nas


salas de aula de nossa instituição escolar. E nessa percepção os alunos apontaram a
necessidade de construir regras e normas orientadoras para se cumprir, tanto no
ambiente escolar, quanto familiar para melhorar a convivência de todos.
Diante destas reflexões surgiu a ideia da constituição de uma equipe de
“Representantes de Classe” para constituir um instrumento de regulação de convívio
participativo e democrático na escola. A equipe de alunos ajudará enfrentar a indisciplina
no âmbito educativo e colaborará com a escola sempre que necessário e em tudo que
lhes for confiado.
Para a organização desse conselho de representantes dos alunos foi
responsabilizado o Grêmio Estudantil e dois alunos de cada turma, juntamente com a
professora PDE e equipe pedagógica. A instituição destinou um tempo periódico,
dispondo espaço de sala de aula para a realização dos encontros, isso favoreceu o
diálogo e possibilitou a organização do trabalho, a solução de conflitos e
comprometimento dos envolvidos.
As assembleias foram desenvolvidas em três momentos: a preparação, o
debate e a aplicação do instrumento. A experiência de construção de uma proposta de
enfrentamento à indisciplina no espaço escolar, visando um ambiente de cooperação
entre todos os envolvidos no âmbito educativo foi muito rica e concreta. A partir do
diálogo e dos acordos e regras coletivas, os alunos mostraram-se capazes de dialogar e
resolver situações de conflitos, junto aos professores ao longo do ano letivo de dois mil e
quinze, que auxiliou significativamente no convívio de cooperação com todos os
envolvidos no espaço escolar. Diante do sucesso dos resultados desta iniciativa, o
conselho será reativado no período letivo de dois mil e dezesseis em nosso âmbito
escolar.
Nas oficinas com os professores e funcionários retomamos os questionários que
foram respondidos pelos pais, para ciência dos docentes. As respostas subsidiaram as
reflexões e análises do grupo de estudos e serviram como eixo para melhoria de
práticas pedagógica em sala de aula. Entender como os pais veem a escola de seu filho
e o que deve ser melhorado na escola é fundamental para o trabalho docente e da
equipe pedagógica.
A análise possibilitou debates construtivos, que produziram inúmeras ideias de
como proceder para sanar as problemáticas apresentadas pelos pais dos alunos, bem
como, criar alternativas compensatórias que gerem responsabilidades, autonomia
pessoal e mudança de comportamento. Ideias como: incumbir o aluno a ser líder de um
grupo, exigir produção nos trabalhos, que o aluno seja o capitão do time, sugerir ao
aluno considerado “indisciplinado” que organize e controle os colegas para facilitar, por
exemplo, o momento em que o professor estiver explicando o conteúdo, dando-lhe
assim noções concretas do que é ter um mínimo de disciplina e respeito ao outro.
Também se chegou à conclusão de que para entendermos a questão da
indisciplina na escola é necessário que se faça uma confrontação do cotidiano familiar
com o contexto escolar. Nesse caso, deve-se considerar as diferenças entre um espaço
e outro, pois a criança está inserida em uma permissividade familiar, onde age e cresce
sem nenhum tipo de responsabilidade ou compromisso e até mesmo sem respeito para
com seus pais ou cuidadores superiores.
Enquanto que na escola, deve obedecer a regras, prestar atenção às aulas, fazer
tarefas e ainda mostrar aprendizagem através das avaliações sem atribuições de
nenhum bônus, simplesmente, com a promessa de ser alguém na vida. Argumento este
que já está desgastado.
Ainda, através da realidade da escola, destacou-se no grupo a necessidade e a
importância de maior envolvimento da coletividade escola/família, dando destaque aos
pais pela responsabilidade que eles têm em ensinar e impor limites aos seus filhos, pois,
quanto mais cedo eles aprenderem esta lição mais sucesso conquistarão na vida
escolar, particular, profissional e social. Afinal um dos princípios básicos do bom
relacionamento entre as pessoas é ter consciência de que seu direito termina onde
começa o do outro.
Diante destas situações, também abordamos nas oficinas uma sondagem com os
educadores, sobre o que pensam a respeito de atitudes de indisciplina dos alunos no
contexto escolar, principalmente em salas de aula. Ao questioná-los as respostas foram
unânimes, que é a falta de limites, que as famílias estão desestruturadas, que os alunos
estão muito desinteressados e que os pais estão delegando toda a responsabilidade de
educar para a escola, e não se importam com os filhos e que percebem que os
adolescentes estão sem rumo, com baixa autoestima.
Neste chão, os professores estão encontrando dificuldades em motivar estes
alunos ao aprendizado, mostrando fragilidade diante sua autoridade de educadores.
Muitas vezes perdem o controle da classe.
Ainda através desta atividade foi possível perceber que existem professores, que
se mostram preocupados em buscar conhecimentos para melhorar sua atuação
profissional como educador. Outros alegam que as IES, não os preparam
adequadamente para atender a demanda da sociedade contemporânea, causando
assim aos docentes um desacordo frustrante entre o ato de ensinar e o ato de mediar os
conflitos, que ocorrem em salas de aula, sendo que este material de estudo das oficinas
veio ao encontro de soluções para o entendimento de situações problemas encontrados
no âmbito educativo.
Considerações Finais
Diante das reflexões construídas por meio deste trabalho, ampliamos o
conhecimento acerca das orientações e contribuições teóricas e práticas que
fundamentam um tema tão importante e debatido dentro e fora dos meios acadêmicos,
ou seja, a indisciplina por parte dos alunos no contexto escolar.
Para chegarmos a conclusões satisfatórias é preciso analisar as situações de
comportamentos dos alunos no espaço escolar, bem como em sala de aula, perfis, suas
histórias de vida, aspectos familiares, acesso a informação e as mídias, nível
socioeconômico e particularidades da escola e comunidade escolar.
As estratégias e ações para a implementação do nosso estudo consistiram
basicamente no desenvolvimento de grupos de estudos com professores, funcionários,
pais e alunos, em horários estratégicos para facilitar a participação de todos, o que
resultou em excelentes participações e contribuições para o esclarecimento desta
problemática na escola.
Acreditamos que nosso intervenção tenha sido muito importante e que renderá
muitos frutos em um futuro breve, pois, as sementes já foram lançadas e com certeza
caberá a nós educadores, pais, alunos, enfim, toda a comunidade escolar cuidar para
que elas brotem e assim cresçam e se multipliquem transformando nossos ambientes
escolares em verdadeiros espaços de ensino-aprendizagem, onde todos possam se
sentir à vontade para crescer e se desenvolver sem medos, sem traumas, com liberdade
para se transformarem em cidadãos honestos, capazes de produzirem o próprio
sustento e também das suas futuras gerações.
Acreditamos fielmente que com esforços, professores, pais, alunos, enfim, toda a
comunidade escolar pode-se unir em prol de nossa missão, que é, através da educação,
provocar mudanças substanciais (positivas) nas vidas de nossos alunos,
consequentemente, de nossa sociedade e que este processo deve ser regido pela
parceria, pelo respeito, pelo compromisso e pelo amor. Nesta perspectiva, o trabalho da
escola é fundamental para fomentar tamanhas responsabilidades e complementar as
ações que tem início no círculo familiar.
No entanto, as discussões nesta temática não se encerram com essa pesquisa-
ação, sabemos que os problemas e dificuldades persistirão no ambiente escolar, mas
acreditamos na relação família/escola que fortalecidos com fundamentações teórico-
práticas, encontrar-se-ão saídas para essas questões conflituosas, construindo
dinâmicas e estratégias/ações competentes e autônomas para harmonização do espaço
escolar.
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