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RESENHA

MARTINE, George. O lugar do espaço na equação população/meio ambiente. Revista


brasileira Estudos de População, São Paulo, v. 24, n°.: 2, p. 181-190, jul./dez. 2007.
Fernanda Salgueiro Passos

O demógrafo George Martine chama a atenção para a persistente desconsideração do


espaço como uma dimensão importante na interação entre população, desenvolvimento e
meio ambiente. O autor assevera que determinados conceitos - capacidade de carga, pegada
ecológica e espaço ambiental - são úteis para a conscientização ambiental, porém não dão
conta de demonstrar as vantagens e desvantagens de diferentes padrões de ocupação do
espaço. A partir da abordagem da concentração urbana, Martine exemplifica como a
distribuição da população no espaço pode afetar a sustentabilidade. Nesse sentido, o autor
apresenta a categoria de “uso sustentável do espaço” como ferramenta mais adequada para o
trato dessa questão.

O artigo destaca que diferentes formas de ocupação do espaço têm como resultado
implicações ambientais diferentes, e, portanto, uma análise detalhada da relação entre espaço
e meio ambiente contribui para a reflexão sobre as ações necessárias para se alcançar a
sustentabilidade. Diante das limitações das abordagens que buscam avaliar a relação entre
espaço e a equação população/desenvolvimento/meio ambiente, Martine propõe que
enfoquemos no “uso sustentável do espaço”. A fim de ilustrar sua tese, ele argumenta que ao
contrário do que se pensava, a densidade urbana, per se, poderia ter um papel significativo na
resolução dos problemas ambientais, “[...] pois aumenta a disponibilidade total de terra,
permite ganhos na produtividade agrícola e facilita a preservação de florestas e outros
ecossistemas naturais” (MARTINE, 2007, p. 188). Desse modo, o autor assevera que para
além dos padrões de produção e consumo, a sustentabilidade exige que nos atentemos
também para a alocação espacial da atividade econômica e a distribuição populacional.

É válido ressaltar, que na relação entre meio ambiente e urbanização, dois fenômenos -
degradação ambiental e desigualdade social – se associam e acabam por criar situações de
risco para populações expostas em áreas precárias. Certamente, a população urbana crescerá
ainda mais, logo: “é particularmente importante, no planejamento do uso do solo urbano,
atender às necessidades dos pobres” (MARTINE, 2007, p. 187). Nesse contexto, tal como
Martine, Barbieri (2013) afirma que:
[...] possibilidades de desenho de estratégias de adaptação aos impactos das
mudanças climáticas podem ser mais factíveis em áreas urbanas, em função da
concentração de recursos, capital humano, investimentos em capacidade de
inovação, assim como eventuais vieses em políticas pró-urbanos em relação
a investimentos em adaptação em áreas rurais (LIPTON, 1977, APUD,
BARBIERI, 2013).
Em suma, Martine fundamenta a tese de que a urbanização pode ser vantajosa na
perspectiva ambiental, justamente porque é nas cidades que além de pessoas também estão
concentrados alguns dos fatores necessários para operar mudanças que visem a
sustentabilidade do uso do espaço. Portanto, o processo de expansão urbana deve ser
acompanhado pela formulação de políticas públicas minimizadoras dos problemas
socioambientais já existentes, bem como, estratégias para o enfrentamento dos futuros
desafios socioambientais das áreas densamente habitadas.

Referências:

BARBIERI, A. F. Transições populacionais e vulnerabilidade às mudanças climáticas no


Brasil. REDES - Rev. Des. Regional, Santa Cruz do Sul, v. 18, n. 2, p. 193 - 213, maio/ago.
2013. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/5520/552056835011.pdf. Acesso em: 04
de mar. De 2021.

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