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Nome: Gustavo Guazzelli Nanni Data: 03/03/2021

1) Descreva com suas palavras quais são as principais teses sobre a questão
agrária apresentadas no texto.

As teses/ideias clássicas que Guilherme C. Delgado analisa no período de 1950 à


2003, tem por plano de fundo o pós-guerra, momento em que a reforma agrária
conformou-se como campo discursivo e prático em disputa sobre quais seriam as
estratégias de enfrentamento para a questão agrária – situação fundiária e relações
de trabalho.

No campo, digamos, progressista, emergem três teses: a do Partido Comunista


Brasileiro, representado especialmente por Caio Prado Jr.; a da CEPAL,
representada por Celso Furtado; e, a Doutrina Social da Igreja Católica, sem um
intelectual orgânico que a representaria, mas instituída pelas Comunidades Eclesiais
de Base, a Teologia da Libertação, enquanto atores religiosos coletivos. No campo
conservador, emerge de forma reativa o Conservadorismo Econômico, em que o
maior expoente seria Delfim Neto, que durante o período ditatorial viria a ocupar
cargo estratégico no Ministério da Fazenda em 1967.

O PCB introduz sua discussão através da denúncia das condições sub-humanas


que a estrutura fundiária e as relações de trabalho impõe a população do campo.
Todavia, através de uma leitura evolucionista da história, percebem que a tendência
seria o camponês transformar-se em assalariado, o que faria com que o foco da luta
fosse em torno dos direitos trabalhistas. Além disso, precedem com uma análise
equivocada comparando o latifúndio brasileiro com o feudalismo, quando na
realidade se trata da herança colonial da acumulação primitiva, base de
impulsionamento da economia moderno-capitalista.

O pensamento Católico se opõe a realidade de grave injustiça e exclusão social


vivenciada cotidianamente pela população do campo, disputando espaço com a
esquerda através de um pensamento humanista. Teve importante papel na
organização do sindicalismo rural e influenciou os debates sobre a função social da
propriedade.

A CEPAL traz como tese a rigidez da oferta agrícola diante das pressões
impostas pela demanda urbana e industrial, problema estrutural que justificaria
mudanças também estruturais na estrutura fundiária e nas relações de trabalho. Esta
tese será o ponto de ataque imprimido pelo Conservadorismo Econômico, através de
uma resposta funcional da oferta agrícola às pressões da demanda. É um
pensamento negacionista, tendo em vista que nega a existência da questão agrária, já
que a existência de um problema no setor agrário só seria reconhecida se este setor
descomprimisse alguma de suas funções no desenvolvimento econômico.

2) Qual a tese vencedora? Quais os impactos (sociais, ambientais, na saúde)


dessa política para o campo brasileiro?
A do Conservadorismo Econômico, que produziu um pensamento sob
demanda das elites agrárias e militares nacionais e à serviço do imperialismo,
que legitimou e deu argumentos para que o desenvolvimento do setor agrário se
instituísse em graus elevadíssimos de desigualdade, desemprego, ociosidade da
terra e insegurança alimentar (fome).
Esse é o tipo de pensamento que faz com que o Brasil seja vendido aos
interesses exógenos da nação, tornando a tarefa de atender as necessidades de
sua população através da produção uma ficção.
Os impactos desse tipo de pensamento no campo são múltiplos, mas
citemos alguns. A começar pela “modernização conservadora”, que avança em
nível tecnológico, mas estagna ou retrocede em nível social.
Com a introdução dos equipamentos tecnológicos de ponta no campo,
podemos observar que os latifundiários tendem a diminuir a dependência de mão
de obra (mesmo que haja demanda por mão de obra especializada em manejo
destes equipamentos), o que gera maior desemprego no campo. Além disso, o
aumento no lucro é exponencial para os proprietários, o que aumenta o abismo
social, tendo em vista que o setor agro também não contribui para o
desenvolvimento de políticas sociais que poderiam ao menos mitigar os efeitos
perversos da desigualdade.
Os agrotóxicos, carinhosamente chamados de insumos agrícolas, criam a
ilusão da domesticação da natureza, quando na realidade consomem impactos
incalculáveis no meio ambiente e na saúde humana. A destruição da natureza,
necessária ao avanço da grande propriedade, retira as barreiras naturais de
proteção à dispersão de agente patogênicos, o que traz riscos sanitários
altíssimos – haja visto o número de pandemias que acumulamos na última
quadra histórica.

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