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O Impacto da Crise sobre a Hotelaria Brasileira


Diogo Canteras

As preocupantes notícias que circulam sobre a crise econômico-financeira global e o seu


impacto no Brasil tendem a fazer com que as pessoas em geral (incluindo os hoteleiros
que estão fazendo os seus orçamentos para 2009) prevejam um período difícil para o
próximo ano. Uma análise criteriosa, entretanto, mostra que, a despeito da crise, o
desempenho dos hotéis em 2009 deverá ser substancialmente melhor do que neste ano.

Para entender melhor essas perspectivas podemos avaliar dois importantes segmentos
do mercado hoteleiro nacional: o Mercado das Grandes Capitais e o Mercado de
Resorts.

O mercado das grandes capitais, liderado por São Paulo, é essencialmente voltado para
o turismo de negócios e convenções. Esse mercado sofreu um forte impacto negativo
nos primeiros cinco anos desta década com a super oferta provocada pela avalanche de
apart-hotéis. Principalmente em São Paulo, mas também em Porto Alegre, Curitiba,
Campinas, Guarulhos, Fortaleza, Brasília, entre outros destinos, as incorporadoras
imobiliárias lançaram um número excessivo de apart-hotéis, que fez com que a oferta
de quartos superasse em muito a demanda e, consequentemente, a ocupação dos hotéis
e a sua diária média caíssem abruptamente.

A partir de 2005, após a inauguração dos últimos apart-hotéis em construção, e


impulsionado pelo forte crescimento econômico, iniciou-se um processo de recuperação
do mercado hoteleiro das grandes cidades. O gráfico abaixo mostra como tem sido esse
processo de recuperação na cidade de São Paulo, junto a projeções de desempenho
para os próximos anos.

Recuperação do Mercado

300 100%

250
80%
Ocupação média (%)

200
60%
(R$)

150
40%
100

20%
50

0 0%
2009p

2010p

2011p

2012p

2013p

2014p
1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

DIÁRIA (R$ DE 2008) REVPAR (PROJEÇÃO ORIGINAL)

REVPAR (PROJEÇÃO AJUSTADA) OCUPAÇÃO

REVPAR: receita média de hospedagem por apartamento em reais (R$) de 2008 Fonte: HVS

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A projeção original feita antes do estouro da crise previa uma recuperação da receita
dos hotéis de São Paulo entre 20 e 25% em 2009, comparada com 2008, considerando-se
um crescimento de 5% do PIB brasileiro. Ajustando-se o crescimento do PIB nacional
para as novas estimativas, em torno de 2,5%, a recuperação da receita desses hotéis
também deverá ser um pouco mais modesta, mas ainda da ordem de 10% para o
próximo ano.

O processo de recuperação do mercado deverá ainda estender-se pelos próximos 5 ou 6


anos, no mínimo, pois existem muito poucos hotéis em construção atualmente e os
poucos projetos que estavam sendo estruturados, em virtude da crise de liquidez,
foram adiados “sine die”.

Já o mercado dos resorts, essencialmente voltado para o público de lazer, mas que
também atende a uma parcela importante do segmento de convenções, vinha
enfrentando um forte declínio nos últimos anos. Esse declínio era provocado
principalmente pela queda do dólar, que fazia com que o Brasil ficasse caro para os
estrangeiros e os destinos internacionais ficassem baratos para os brasileiros. Fosse
pelos estrangeiros que não vinham ou pelos brasileiros que viajavam para o exterior ou
que optavam por cruzeiros marítimos (cujos preços, vinculados ao dólar, também eram
muito atrativos) os resorts brasileiros, principalmente no Nordeste, iam ficando cada
vez mais vazios.

Performance do Mercado de Resorts no Brasil

R$ 3,00 60%

R$ 2,44
R$ 2,50
R$ 2,18
R$ 2,08 55%
55% R$ 1,95
R$ 2,00 54% R$ 1,80

R$ 1,50 51% 51% 50%

R$ 1,00 48%
45%
R$ 0,50

R$ 0,00 40%
2005 2006 2007 2008 (1) 2009 (2)
(1): Estimativa
Fonte: HV S Câmbio Ocupação (2): Projeção

O fato é que com o dólar a R$ 1,70 ficava 30% mais barato para um europeu passar uma
semana nas Bahamas do que em Salvador, e, para um paulista, ir a Cancun ou a Sauípe
era mais o menos o mesmo preço. Já com o dólar a R$ 2,30, para um europeu, ir às
Bahamas ou vir para a Bahia passa a custar preços muito similares, e, para o paulista,
Cancun fica 50% mais caro do que Sauípe.

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Permanecendo o dólar nesse novo patamar, deve-se reverter o processo de deterioração


do fluxo de turistas para os resorts, de maneira especial para os resorts do Nordeste, e
reiniciar o ciclo virtuoso de crescimento do turismo brasileiro. O ano de 2009 deverá ser
apenas o início desse processo, mas acreditamos que já podemos esperar ocupações
voltando ao patamar de 50% em média. Mesmo que os europeus estejam menos
propensos a viajar no próximo ano, os brasileiros que deixam de ir para o exterior e
viajam pelo Brasil, mais do que compensam essa diminuição do número de
estrangeiros.

Isto deixa claro que, a despeito da crise, a hotelaria brasileira deverá ter um 2009 melhor
do que 2008. Os proprietários dos hotéis (e dos apart-hotéis) podem esperar (e devem
cobrar) rendimentos maiores e os resorts devem se preparar para aproveitar o novo
momento de mercado, que lhes é mais favorável do que o anterior.

Diogo Canteras é sócio diretor da HVS Consultoria Hoteleira, para o Brasil e professor
de desenvolvimento de empreendimentos hoteleiros da FGV.

e-mail: dcanteras@hvs.com

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