Você está na página 1de 5

O conceito de Vanguarda no século XX

As Vanguardas Europeias foram tendências artísticas, que ocorreram na Europa, no início do


século XX. Estas foram movimentos de rutura com a arte tradicional. A proposta era libertar a
arte e a cultura dos vínculos e parâmetros estabelecidos até à data. Resultaram dos avanços e
mudanças promovidos pela massiva industrialização e urbanização da Europa: a aceleração, a
eletricidade, a máquina, tudo modificava o modo de viver da humanidade e exigia, portanto,
uma nova maneira de fazer arte. Espalharam-se por todo o mundo ocidental, influenciando a
consolidação da arte moderna em diversos países. Cada uma das vanguardas tem
especificidades e desenvolveu-se como um movimento próprio, cujo eixo em comum era a
renovação estética, que repudiava o gosto e a cultura que dominavam a arte até então. Outra
coisa que tinham em comum era o estreitamento entre as diversas formas de arte – escritores,
escultores, pintores, músicos, arquitetos e poetas conviveram e produziram em conjunto nos
movimentos de vanguarda, cada um as suas particularidades. Foi a época dos “ismos”, em que
cada tendência estética procurou uma nova forma de expressão.
“Vanguarda” é o nome dado à primeira linha de tropas militares, ou seja, os que vão à frente
de um exército, aqueles que são os primeiros. Por isso a palavra metaforicamente também
significa “pioneirismo”, precisamente o que esses artistas representaram.

Quais são as vanguardas europeias?


Expressionismo, Futurismo, Surrealismo, Cubismo, Dadaísmo…

Abstracionismo
A origem da arte abstrata está intimamente relacionada com as vanguardas artísticas
europeias do final do século XIX, a também chamada arte moderna. Tais vanguardas
representaram movimentos de rutura artística, sobretudo em relação aos moldes
renascentistas, tradicionalistas e academicistas. Esses moldes eram pautados no modelo da
arte greco-romana, onde o conceito de “belo” é sua principal caraterística. Movimentos como
o surrealismo, cubismo, dadaísmo, expressionismo e futurismo procuraram o rompimento
com os antigos valores estéticos. A partir desse contexto, surge posteriormente o que foi
intitulado "abstracionismo", sendo que o artista que iniciou esse movimento foi o russo
Wassily Kandisnky. Este pintor estava interessado em estudar os efeitos da cor e da criação
aliada à música. Caracterizada pela “não representação”, esta vertente procurou apresentar
um novo estilo de arte, em que as formas, cores, linhas e texturas eram os objetos de pesquisa
dos artistas.
O Modernismo é um conceito que define, de um modo geral, as diversas correntes artísticas
de vanguarda que surgem na primeira metade do século XX. Cubismo, dadaísmo,
expressionismo, futurismo ou surrealismo são algumas das principais correntes que se inserem
no movimento modernista que influenciou a literatura, a arquitetura ou a pintura mundial nos
finais do século XIX e princípios do século XX. Durante aquele período histórico as mudanças
tecnológicas criaram uma nova realidade social, a primeira Guerra Mundial colocou o homem
perante a possibilidade da sua destruição, na Rússia surgiu o comunismo. Tudo isto é tema de
reflexão para os artistas que procuram novas formas de se expressar. Em Portugal, o
Modernismo e as diversas subcorrentes, surge também no princípio do século XX, com a
revista Orpheu. Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Mário de Sá Carneiro, Alves Redol,
Miguel Torga, Amadeu Sousa-Cardoso ou Santa-Rita Pintor são alguns dos artistas portugueses
que integram esta corrente.
Ligações entre a Arquitetura e as Artes Plásticas

A relação entre a Arquitetura e as Artes Plásticas surge ao longo da História, mas no Século XX,
ao desenvolver-se um novo conceito, uma nova ideia de arte, as relações amplificam e
reforçam o diálogo e o conhecimento. A renovação estética apontada pelas correntes
vanguardistas, como o cubismo, o neoplasticismo ou o abstracionismo, no campo da pintura,
facilitam o caminho a novas propostas arquitetónicas, a novos pensamentos, propondo novas
realidades onde o homem e a natureza passam a ter um papel preponderante. O próprio
modernismo surge como que ligado a uma nova sociedade, com novas ideias, a um novo
indivíduo, a um indivíduo com uma nova estética, ao homem máquina devido à
industrialização e a todo progresso “(…) Ville Radieuse de Le Corbusier, reflete o tipo de
desmembramento das partes dos objetos que foi elaborado pelo purismo e pelo cubismo.”
Este conjunto de ideias vê-se refletido na arquitetura, e no pensamento dos arquitetos. A
Arquitetura é caracterizada por um forte discurso estético e social que irá influenciar a vida do
homem e a sua forma de estar perante a sociedade.
A partir das experiências das vanguardas europeias surge a arte abstrata, o abstracionismo que
foi a manifestação mais pura da criação artística, liberta de condicionantes, da representação
mimética da realidade e de ideologias culturais ou sociais, através da simplificação da forma.
No entanto, alguns movimentos como o Expressionismo, o Cubismo, o Futurismo, já tinham
utilizado intuitivamente a linguagem abstrata.
O Abstracionismo decompõe-se em duas tendências diferentes, o Abstracionismo Lírico que
foi influenciado pelo Expressionismo de O Cavaleiro Azul através da obra de Kandinsky, e o
Abstracionismo Geométrico onde está presente a racionalização, tendo sido influenciado pelo
Cubismo e pelo Futurismo. O Abstracionismo Lírico é ligado essencialmente à arte interior/à
necessidade interior do artista, inspirando-se no inconsciente, na intuição, utilizando nas suas
representações formas orgânicas, criando um dinamismo através da linha de contorno e da
cor. Procuravam na composição, através da cor com uma paleta cromática vibrante, um ritmo
matemático. Em contrapartida, o Abstracionismo Geométrico nasce do racional da lógica,
dividindo-se em duas correntes: no Suprematismo de Casimir Malevitch (1887-1935) e o
Neoplasticismo de Piet Mondrian. A pintura Suprematista caracteriza-se pelo uso de formas
geométricas puras, preenchidas por mancha de cor, mas a paleta cromática deste movimento
é bastante mais reduzida, composta pelas cores primárias e secundárias, e pelo preto e
branco. O suprematismo permanecerá ligado ao seu criador, este leva a pintura ao seu
expoente máximo, o essencial é a supremacia do sentimento, alcançado com duas
composições o Quadrado Negro sobre Fundo Branco de, 1918 e o Quadrado Branco sobre
Fundo Preto de, 1920. A pintura Neoplasticista de Piet Mondrian, Van der Leck e de Teo van
Doesburg é uma arte essencialmente genuína, luminosa, objetiva, não representativa,
utilizando as formas geométricas como base de toda a sua representação. As composições
assentam na ideia de equilíbrio, harmonia e serenidade, conseguida através do uso da linha e
das múltiplas relações espaciais, utilizando um número limitado de formas e cores, cingindo-se
exclusivamente às cores primárias e às não cores, o preto, o branco e o cinza
O Neoplasticismo foi um movimento artístico que englobava a arquitetura, as artes plásticas, o
design e a literatura, também constituído pelos arquitetos Pieter Oud e Gerrit Rietveld. Foi um
movimento que contestou todas as artes, particularmente o Expressionismo, por difundir os
aspetos sensoriais, chocantes, sensíveis da vida. Os neoplasticistas visavam atingir uma arte
impessoal e objetiva, criar uma estética nova e universal, o grande objetivo era eliminar o lado
triste da vida, a arte de servir o homem pelo lado bom da vida. As propostas formais e plásticas
do Neoplasticismo deram origem a uma corrente inovadora, detentora de novas conceções
formais e novas formulações espaciais que apontaram para o rigor técnico, através de regras
matemáticas e geométricas. Estas correntes de vanguarda tiveram influência sobre a
arquitetura e sobre o sentido estético do arquiteto, como Montaner refere, “as diferentes
formas de ver e representar a imagem visível do mundo formam o motor de uma contínua
evolução” já anteriormente foi referido que para a experiência estética é necessário que exista
uma relação entre o sujeito e o objeto.

Nadir Afonso

Nadir Afonso Rodrigues nasceu em Chaves a 4 de dezembro de 1920 e faleceu em Cascais em


11 de dezembro de 2013. Diplomou-se em Arquitetura na Escola Superior de Belas-Artes do
Porto. Em 1946, estuda pintura na École des Beaux-Arts de Paris, e obtém por intermédio de
Portinari uma bolsa de estudo do governo francês. Até 1948 e novamente em 1951 foi
colaborador do arquiteto Le Corbusier; nomeadamente no projeto da cidade radiosa de
Marselha, e serviu-se algum tempo do atelier de Fernand Léger. De 1952 a 1954, trabalha no
Brasil com o arquiteto Oscar Niemeyer. Nesse ano, regressa a Paris, retoma contacto com os
artistas orientados na procura da arte cinética, desenvolvendo os estudos sobre pintura que
denomina «Espacillimité». Na vanguarda da arte mundial expõe em 1958 no Salon des Réalités
Nouvelles «espacillimités» animado de movimento. Em 1965, Nadir Afonso abandona
definitivamente a arquitetura; consciente da sua inadaptação social, refugia-se pouco a pouco
num grande isolamento e acentua o rumo da sua vida exclusivamente dedicada à criação da
sua obra.
Escolhi fazer esta pesquisa sobre Nadir Afonso por ser uma figura tão importante não só em
Chaves que é a minha cidade, mas também a nível nacional e até mundial.

Projetos e Obras de Nadir Afonso

Modernismo
Nadir Afonso iniciou as suas experiências plásticas muito jovem. A atenção cedo conquistada
pelas formas arquitetónicas demonstra a apreensão de elementos geométricos.
Retêm-se deste período representações paisagísticas do contexto rural em que cresceu, com
uma rápida passagem para uma estética mais expressionista e a evidência de um outro
elemento estruturante no seu futuro percurso plástico: o movimento. Enquanto estudante da
Escola de Belas-Artes do Porto participa em exposições com obras cujo modernidade e
qualidade são reconhecidas à época, e uma pintura A Ribeira, dá entrada no Museu de Arte
Contemporânea. Nadir avança para a simplificação dos conteúdos e a notação de formas e de
linhas paralelas que evidenciam uma estética mais depurada e mais atenta ao geometrismo.
Abstracionismo Geométrico
Concentra-se nas formas geométricas e dá-lhes protagonismo exclusivo nas suas criações
plásticas. As suas formas são definidas com rigor. A paleta pauta-se de preferência pelas cores
primárias. Através de um cromatismo afirmativo e vibrante dá vida às figuras geométricas que
elege: quadrado, círculo, triângulo, retângulos. Conhece grandes artistas, como Max Ernst,
Ozenfant, Herbin, Bloc e vários artistas em ascensão ligados à galeria Denise René como
Vasarely, Mortensen, Magnelli, Nicolas Schöffer, Dewasne, Jesus Soto, Pillet, Yaacov Agam.
Panificadoras de Chaves e Vila Real

Construídas em 1962 e 1965 respetivamente, por Nadir Afonso, apresentam uma linguagem
arquitetónica moderna e singular que se destaca no contexto regional em que se inserem.
Num olhar mais atento sobre as opções formais, espaciais e volumétricas presentes nestas
obras, reconhecemos um conjunto de características representativas do momento
arquitetónico que vinham a ser experimentadas e desenvolvidas por alguns autores no final do
Movimento Moderno português. Assim, o seu arquiteto torna-se um elemento chave para o
entendimento ideológico e formal destas obras. O percurso singular que protagonizou junto
dos grandes nomes da arquitetura moderna internacional, onde se destacam Le Corbusier e
Óscar Niemeyer, tornam as obras de Nadir Afonso numa convergência de saberes que
transparece uma forte base moderna fruto da experiência obtida, sobre a qual cria o seu
próprio pensamento arquitetónico numa espécie de modernidade refletida. É esta atitude
ponderada sobre a arquitetura moderna mais radical desenvolvida um pouco por todo mundo
desde o início do século, que caracteriza o movimento moderno português na sua fase final
sensivelmente compreendida entre 1955 até finais dos anos 60. Considera-se então, que
ambas as Panificadoras de Chaves e Vila Real constituem um exemplar que adquire um valor
representativo, pelo testemunho de uma especificidade própria da historiografia do
movimento moderno desenvolvido no nosso país.
Nota que a Panificadora de Chaves foi considerada de interesse público em 2006 e é uma das
100 obras de referência da arquitetura portuguesa do século XX eleita pela Ordem dos
Arquitetos para
figurar num dos
cartazes
representativos das
obras dessa centúria.

Panificadora de Chaves Modelo Tridimensional da


Panificadora de Vila Real

Bibliografia

Dissertação de Mestrado em Arquitetura por Carolina Rodrigues

Tese para obtenção do Grau de Doutor em Arquitetura por Ana Fidalgo


Fernando Teixeira

Você também pode gostar