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FACULDADE DE DIREITO
TEORIA GERAL DO PROCESSO
DA AÇÃO CIVIL
Por isso mesmo procuramos afastar essa dificuldade. Antes de conceituarmos a ação civil,
colocaremos em termos concretos e práticos o que vamos conceituar e definir, ou bem seja a
ação civil. É o que segue : Admitamos que Antonio se considera credor de José.
Reconhecendo José a dívida, paga e satisfaz a obrigação. O direito subjetivo de Antônio
realizou-se normalmente, pela própria força coercitiva do direito material, do qual era titular
Antônio, e José o obrigado. Será o caso, por exemplo, do locatário pagar o aluguel ao
locador, pela maneira disposta no contrato locatício. É o que acontece na grande maioria
dos casos. A relação obrigacional se realiza entre as partes independente da intervenção do
Poder Judiciário, pela vontade do credor e do devedor. Isto acontece não só porque a lei e o
contrato impõem penalidades, mas também por força do elemento psicológico que atua na
consciência do devedor.
Mas, pode também acontecer que José não reconheça a obrigação que lhe é exigida por
Antônio, ou mesmo reconhecendo-a não a queira cumprir e não pague a dívida.
Diante de tal recusa e para que o direito de Antônio se efetive contra a vontade de José,
necessário se faz que a relação de direito material, de direito privado que vincula o credor e o
devedor, tendo por objeto a pretensa dívida, seja substituída por outra relação jurídica, de
direito público, em que entra o Estado-juiz, como parte obrigada a declarar a existência ou a
inexistência do direito material privado invocado por Antonio, em seu favor, contra José, e
condená-lo a cumprir essa sua obrigação coativamente, ou não.
Ora, esse poder que tem Antonio de provocar a atuação do Estado-juiz para que este
cumpra a obrigação de prestar a tutela jurisdicional (administração da Justiça), é o que se
denomina ação civil. Visa, esse poder, a declaração e a tutela de um direito individual,
exercidas pela justiça, ou mesmo o seu resguardo, ou a certeza de sua existência ou
A B A – Credor
B – Devedor / Obrigado
D – Dívida
D
Proposta a ação, e para efeito de garantia do direito, essa relação de direito subjetivo material
seria substituída por outra, mais ampla, de natureza processual, como vai configurado.
C Juiz
Autor/Credor A B Réu/Devedor
D Dívida
Com a citação válida, fica constituída nova relação jurídica, com caráter substitutivo da
relação de direito material pretensamente existente - entre o credor e o devedor. Da
resposta do acionado, contestando a lide, ou não (revelia), surge, para as partes autora e ré, o
direito a uma sentença compondo judicialmente o conflito de interesses suscitados no
processo, tanto mais que será res in iudicium de ducta. (questão debatida em Juízo)
O Autor não poderá mais desistir da ação sem o consentimento do réu. A propósito,
dispunha o antigo Código, verbis :
“Art. 181- Apresentada a contestação, o autor não poderá, sem o consentimento do réu,
alterar o pedido ou sua causa, nem desistir da ação, salvo apenas os casos em que a
recusa do réu não se estriba em prejuízo seu decorrente da desistência.”
CONCEITO
Por outro lado, o direito de ação, tanto no ataque como na defesa, subordinava-se à
preexistência de um legítimo interesse econômico ou moral, (art. 76 do antigo Código Civil:
“Para propor, ou contestar uma ação, é necessário ter legítimo interesse econômico, ou moral”), aí
incluído interesse de agir, além da legitimidade para ser parte do processo. Neste sentido
dispõe o atual Código de Processo Civil, no artigo 3º : “Para propor ou contestar ação é
necessário ter interesse e legitimidade.”
Colocada a matéria sob esse ângulo, admitimos que o direito à prestação da tutela
jurisdicional (direito de ação) independe da pré-existência do direito material, e assiste a ambas
as partes lítigantes, limitado o seu exercício, entretanto, à presença de um interesse, ou seja
de um interesse que a lei não exclui, o que não se confunde com o direito material
questionado, embora com este possa guardar dependência formal. É que deste direito
material, quando há, sobre cuja existência ou inexistência se objetiva na sentença, emana o
interesse das partes. Isto é : a prestação jurisdicional, extinguindo o processo da ação,
definirá o litígio, ou seja, o conflito de interesses que a demanda suscita, declarando ou
rejeitando o direito subjetivo, que a parte acionante se diz titular e o réu nega essa
titularidade ou a obrigação decorrente.
Igualmente, e por isso mesmo, pode haver exercício do direito de ação sem que tenha havido
um direito material subjetivo lesado ou ameaçado. Sobre o assunto, exatamente é o que nos
ensina Frederico Marques, às fls. 162 da sua citada obra :
A ação não é direito à tutela jurisdicional, mas apenas o direito de pedir essa tutela. Se o art. 2º
do Código de Processo Civil subordina a prestação jurisdicional a pedido formulado segundo as
formas legais e nos casos que a lei prevê, forçoso será concluir que o Judiciário não ‘prestará a
tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer’ se o pedido não atender
às formas legais, ou não se subsumir em algum caso legalmente previsto e descrito.
E tanto isto é verdadeiro que o Código de Processo Civil dispõe, respectivamente nos incisos IV
e VI do art. 267, que o processo se extingue sem composição do litígio: a) quando se verificar a
“Conceito
Examinando o fenômeno do Estado que fornece o serviço jurisdicional, é mister agora analisar o
da pessoa que pede esse serviço estatal. É o que se faz através do estudo denominado ‘direito de
ação’.
Ação, portanto, é o direito ao exercício da atividade jurisdicional (ou o poder de exigir esse
exercício). Mediante o exercício da ação provoca-se a jurisdição, que por sua vez se exerce através
daquele complexo de atos que é o processo.
A ação se inicia com o pedido do autor ao juiz, em petição escrita, chamada inicial, e a
relação processual se completa, isto é, se efetiva, com a citação válida do réu. Quando tal
acontece temos a ação instaurada. A relação processual se completa e as obrigações
processuais se estabelecem entre os atores : juiz, autor e réu.
DEFINIÇÃO
Vale de logo salientar que o vocábulo “ação” é tomado em variadíssimos sentidos, mesmo
no campo estrito do direito processual. “Além disso, o seu entendimento tem sofrido
profundas variações no tempo e no espaço”. E tanto assim é, que a acepção que se dava a
“actio romana” não é a mesma que hoje se tem da ação civil. Nem é igual o sentido que se
lhe dá, em um mesmo momento histórico, em sistemas jurídicos que não sejam afins. E até
mesmo num sistema jurídico homogêneo, como o italiano. Pekelis atribui 15 significados
diferentes ao vocábulo em estudo. Daí, por certo, as dificuldades de conceituação. A
mobilidade dificulta precisão no enquadramento. Reduzindo, porém, a dificuldade
terminológica à sua expressão mais simples, nos limites mais estreitos do processo civil,
repetiríamos Eduardo Cuture enfeixando a acepção em três categorias : 1º - sinônimo de
direito; 2º - sinônimo de demanda em sentido formal; e 3º - como faculdade de provocar
a atuação do poder judiciário. É precisamente nesse sentido, ou seja, a ação como sendo um
poder jurídico diverso do direito material que se articula e da demanda em sentido formal,
como poder destinado a provocar atividade judiciária, é que tomamos o vocábulo para
buscar a sua natureza e fundamento jurídico. Algumas legislações, como por exemplo, a
Uruguaia, incidem no defeito técnico de definir a ação, e o faz dispondo que “a ação é o meio
legal de pedir judicialmente o que nos pertence ou nos é devido”.
Por isso, podemos definir a ação como o poder jurídico destinado a provocar a atividade
judiciária no sentido de assegurar a satisfação, ou resguardo, de um direito ou, ainda, a
declaração de sua existência ou inexistência. É, assim, um poder autônomo, sem
condicionamento essencial do direito material que se quer afirmar e da demanda em seu
sentido formal como procedimento.
No atual estágio evolutivo do processo e do direito, não há mais como admitir-se o conceito
civilístico de Von Ihering de que “a ação é meio de luta pelo qual o direito se defende contra a
sua violação ou ameaça”, nem concluir com João Mendes de que “o fundamento jurídico da
ação é o próprio direito violado” . Nem nos satisfaz a afirmação simplista de que “a ação é o direito
armado de capacete e disposto para a luta”. Nem iguais elucubrações pseudo científicas,
fazendo analogias entre os fenômenos sociais do organismo natural e os fenômenos sociais
do organismo jurídico, cujo exemplo principal apontava o direito das ações.
A ação se caracteriza como direito ou poder constitucional, de que desfruta o autor ao exigir
a prestação jurisdicional do Estado. É um direito cívico, oriundo do “status civitatis”,
assegurado constitucionalmente, que tem como objeto a prestação positiva por parte do
Estado. E, como ensina Ada Pellegrini, e seus co-autores, “a facultas agendi do indivíduo é
substituída pela facultas exigendi”. Vale dizer : o que antigamente, e segundo alguns conceitos, era
uma faculdade de agir, passou a ser uma faculdade de exigir do estado/juiz o conhecimento e a
composição dos conflitos de interesses, por via de processo regular.
A doutrina predominante é no sentido de que a ação é intentada contra o Estado e não contra
o adversário, muito menos contra ambos (Estado e adversário) ao mesmo tempo.
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“ a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito: ”
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“ ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; ”
Com essas colocações torna-se insofismável a afirmação de que a ação civil tem natureza
jurídica de direito subjetivo público constitucional.
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Atenção: A apostila é, tão somente, um resumo da matéria que pode ser aprendida pelo aluno. Ela deve servir de
guia do ensino-aprendizado, sob orientação pedagógica.
Esta apostila se destina, pois, exclusivamente ao estudo e discussão do texto em sala de aula, como
diretriz do assunto, podendo substituir os apontamentos de sala de aula, a critério do aluno.
Atualizada em junho/2010