Você está na página 1de 5

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

2ª CÂMARA CRIMINAL

Apelação Criminal n° 0001285-93.2017.8.16.0104


Vara Criminal de Laranjeiras do Sul
Apelante(s): JOÃO BATISTA AMANCIO
Apelado(s): Ministério Público do Estado do Paraná
Relator: Desembargador Mário Helton Jorge

APELAÇÃO CRIME. CONDENAÇÃO PELA PRÁTICA DOS DELITOS


DO ART. 306, §1º, INCISO I, E DO ART. 309, AMBOS DO CÓDIGO DE
TRÂNSITO BRASILEIRO, NA FORMA DO ART. 69, DO CÓDIGO
PENAL. PEDIDO DE APLICAÇÃO DA ATENUANTE GENÉRICA DA
CONFISSÃO ESPONTÂNEA, DO ART. ART. 65, III, “D”, DO CÓDIGO
PENAL. REALIZAÇÃO DA CONFISSÃO PERANTE A AUTORIDADE
POLICIAL. JUIZ A QUO QUE NÃO CONSIDEROU A CONFISSÃO
ESPONTÂNEA REALIZADA NA FASE PRÉ-PROCESSUAL PARA
FUNDAMENTAR A AUTORIA E A MATERIALIDADE DELITIVA.
SÚMULA Nº 545, DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
APLICAÇÃO DA ATENUANTE GENÉRICA, SOMENTE, QUANDO A
CONFISSÃO É UTILIZADA COMO FUNDAMENTO DA SENTENÇA
CONDENATÓRIA. RECURSO CONHECIDO E, NO MÉRITO,
DESPROVIDO.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal nº


0001285-93.2017.8.16.0104, da Vara Criminal de Laranjeiras do Sul, em que é apelante JOÃO
BATISTA AMANCIO, e apelado, MINISTÉRIO PUBLICO DO ESTADO DO PARANÁ.

I – EXPOSIÇÃO DOS FATOS

Trata-se de Apelação Criminal interposta contra a sentença (mov. 119) que


julgou procedente a pretensão punitiva do Estado, condenando o apelante como incurso nas
sanções do art. 306, §1º, inciso I, e do art. 309, ambos do Código de Trânsito Brasileiro, na
forma do art. 69, do Código Penal, a uma pena privativa de liberdade de 01 (um) ano e 02
(dois) meses de detenção e 11 (onze) dias-multa, a ser cumprida, inicialmente, em regime
aberto, com a suspensão da habilitação para dirigir veículo automotor, pelo período de 02 (dois)
meses e 15 (quinze) dias.

Segundo a denúncia (mov. 25):

“No dia 22 de março de 2017, por volta das 18h10 min, em via pública
situada na Avenida Álvaro Natel de Camargo, em frente ao numeral 1909,
nesta cidade e Comarca de Laranjeiras do Sul/PR, o denunciado João
Batista Amancio, agindo com consciência e vontade, conduziu o veículo
FIAT/80, placas AIU-9546, sem estar habilitado para tanto e gerando perigo
de dano, uma vez que retornava em marcha ré na via pública, ocasionando
a queda da condutora da motocicleta HONDA CBX de placas MGC – 439,
conduzida por Viviane Divenka, além de estar com a capacidade
psicomotora alterada em razão da influência de álcool, pois estava com
concentração de álcool por litro de ar alveolar em dosagem de 1,24 (um
vírgula vinte e quatro) mg/l, detectada através de teste de alcoolemia
(bafômetro), acostado às fls. 10”.

A denúncia foi recebida, em 10.09.2017 (mov. 32).

Em suas razões recursais, o acusado, JOÃO BATISTA AMANCIO, afirmou


que deve ser aplicada a atenuante da confissão espontânea, pois, em que pese o processo
tenha tramitado à sua revelia, houve a confissão em sede policial, conforme documento de
mov. 1.7, dos autos originários. Pugnou, ao final, pelo provimento do recurso, bem como pela a
fixação de honorários advocatícios recursais (mov. 130).

Foram apresentadas contrarrazões pelo Ministério Público, alegando que a


atenuante da confissão espontânea deve ser analisada, apenas, quando foi considerada pelo
julgador para proferir a sentença condenatória, nos termos da Súmula nº 545, do Superior
Tribunal de Justiça, o que não ocorreu na hipótese. Informou, ainda, que a reincidência e a
personalidade do agente preponderam em relação à confissão, e, sendo o apelante reincidente
específico, deve ser mantida a dosimetria da pena. Por fim, pediu o desprovimento do recurso
(mov. 134).

A Procuradoria Geral de Justiça se manifestou pelo conhecimento do


recurso e, no mérito, pelo seu desprovimento (mov. 12 – TJPR).

Relatei, em síntese.

II - VOTO E FUNDAMENTAÇÃO:

Não há óbice ao conhecimento do recurso, eis que preenchidos os


pressupostos de admissibilidade objetivos (cabimento, adequação, tempestividade, inexistência
de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer e regularidade formal) e subjetivos
(legitimidade e interesse), conforme doutrina clássica.

O apelante alegou, em suma, que deve ser aplicada ao caso concreto a


atenuante genérica da confissão espontânea, conforme disposto no art. 65, III, “d”, do Código
Penal, in verbis: “ Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o agente: d)
confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime”, haja vista que, em
que pese o processo tenha tramitado à sua revelia, realizou a confissão perante a autoridade
policial, conforme documento de mov. 1.7, dos autos originários.

Ocorre que, conforme o entendimento do Superior Tribunal de Justiça,


exarado por meio da Súmula nº 545, a confissão será utilizada como atenuante genérica
quando for utilizada para o convencimento do julgador para a prolação da sentença
condenatória e, ao contrário do que quer fazer crer a defesa, o juiz a quo não se utilizou da
confissão realizada em sede policial para fundamentar a sentença.

A autoria e a materialidade delitiva foram embasadas, tão somente, no auto


de prisão em flagrante delito (mov. 1.3), no boletim de ocorrência e no teste etilométrico (mov.
1.4), bem como nas provas testemunhais colhidas em Juízo, nos seguintes termos:

“O mesmo se pode afirmar a respeito da autoria. A conduta do acusado


ficou devidamente comprovada no curso das investigações e instrução
criminal por meio do depoimento dos policiais militares que atenderam a
ocorrência. A testemunha de acusação CLAYTON CLERIO PETRICOVSKI
disse em juízo: “Que lembra que a equipe foi acionada porque um
caminhão tinha batido em uma motocicleta; que chegando no local,
estavam fazendo uma calçada e deixaram um monte de areia, ele bateu
com esse caminhão lá, não podia passar, voltou de ré em cima dessa
motocicleta; constatou-se que ele estava alcoolizado. ”A testemunha de
acusação JOSÉ ADRIANO DA SILVA afirmou em juízo: “Que estavam em
patrulhamento na Rua Alvaro Natel, quando foram abordados que havia um
acidente; que no local a vítima disse que estava transitando com a sua
motocicleta, quando o veículo transitando de ré veio a colidir com a
motocicleta dela; que o réu disse que estava transitando quando se
deparou com materiais de construção que estavam sendo descarregados,
não percebeu e acabou subindo naquele morro e nisso o carro veio a
apagar; que estava sem partida e ele foi dar um tranco de ré; acabou
colidindo com a motocicleta que vinha atrás; que feito o bafômetro nele e foi
atestada a embriaguez.” Sem dúvida, o cotejo dos depoimentos obtidos
fornece robustos elementos para atribuir a autoria do crime de embriaguez
ao volante contra o denunciado, máxime não haver razões para que os
policiais, que gozam de presunção de veracidade, prestem declarações
inverídicas quanto ao fato tratado na denúncia”. (mov. 119, dos autos
originários).

Logo, não tendo sido a confissão prestada pelo apelante perante a


autoridade policial utilizada para fundamentar a sentença condenatória, não faz jus o apelante à
aplicação, na hipótese, da atenuante genérica da confissão espontânea, trazida à baila pelo art.
art. 65, III, “d”, do Código Penal, conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça,
expresso na Súmula nº 545, in verbis: “Quando a confissão for utilizada para a formação do
convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código
Penal".

Nesse sentido, é o entendimento desta Corte:

APELAÇÃO CRIMINAL. ABANDONO MATERIAL. ARTIGO 244, DO


CÓDIGO PENAL. SENTENÇA PROCEDENTE. INSURGÊNCIA. PEDIDO
DE ABSOLVIÇÃO. ALEGADA ATIPICIDADE DE CONDUTA; AUSÊNCIA
DE DOLO. NÃO ACOLHIMENTO. APELANTE QUE SUSTENTA HAVER
JUSTA CAUSA NA FALTA DE ADIMPLEMENTO DE PENSÃO
ALIMENTÍCIA JUDICIALMENTE ACORDADA. HIPÓTESE NÃO
COMPROVADA NOS AUTOS, AINDA QUE POSSÍVEL AO APELANTE.
DOLO EVIDENCIADO. AFASTAMENTO DA CONTINUIDADE DELITIVA.
POSSIBILIDADE. CRIME PERMANENTE. CRIME ÚNICO.
CIRCUNSTÂNCIA ATENUANTE. ART.65, III, D, DO CP. CONFISSÃO
NÃO UTILIZADA COMO FUNDAMENTAÇÃO PARA EMBASAR A
CONDENAÇÃO. MULTA. PLEITO PELA FIXAÇÃO EM SEU MÍNIMO
LEGAL OU EXTIRPAÇÃO DA MULTA. IMPOSSIBILIDADE. DOSIMETRIA
DA PENA READEQUADO. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO. (TJPR - 2ª C.Criminal - 0001272-36.2019.8.16.0133 - Pérola -
Rel.: Juiz Humberto Gonçalves Brito - J. 30.11.2020). (Destaquei).

Por conseguinte, conclui-se pela manutenção total da sentença ora


vergastada.

Não obstante, imperioso o arbitramento de honorários advocatícios ao


defensor dativo, em razão da sua atuação em segundo grau de jurisdição.

Ressalte-se, por oportuno, que, em analogia ao art. 85, §2º, do Código de


Processo Civil, os honorários advocatícios devem ser fixados de acordo com a complexidade
do trabalho realizado, bem como da diligência e do zelo da atuação, utilizando-se como base a
Resolução Conjunta nº 15/2019 da SEFA/PGE.

Desse modo, considerando o grau de zelo e o trabalho realizado, dentre


outros elementos de avaliação estabelecidos pela legislação, arbitra-se os honorários
advocatícios em R$450,00 (quatrocentos e cinquenta reais) em favor do defensor, Tomas
Nicolas Denis Covaliski Boeira, inscrito na OAB/PR sob o nº 66.907, a serem pagos pelo
Estado do Paraná, vez que a nomeação do defensor decorre da ausência de estrutura da
Defensoria Pública do Paraná.

DIANTE DO EXPOSTO, conclui-se pelo conhecimento do recurso e, no


mérito, pelo seu desprovimento, mantendo-se, integralmente, a sentença impugnada.

III – DISPOSITIVO

ACORDAM os integrantes da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do


Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso e, no mérito,
negar-lhe provimento, mantendo-se, integralmente, a sentença impugnada, nos termos do
voto e dos seus fundamentos.

O julgamento foi presidido pelo Desembargador Mário Helton Jorge


(relator), com voto, e dele participaram Desembargador Luís Carlos Xavier e Desembargadora
Priscilla Placha Sá.

Curitiba, 26 de fevereiro de 2021.

Mário Helton Jorge

Relator

Você também pode gostar