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Marcos Antonio Dozza

Teoria Econômica
Raimundo N. Casé de Brito

Raimundo N. Casé de Brito


Marcos Antonio Dozza
Econômica
Teoria
Teoria
Econômica
Marcos Antonio Dozza
Raimundo N. Casé de Brito

2ª Edição

Curitiba
2018
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501

D755t Dozza, Marcos Antonio.


Teoria Econômica / Antonio Marcos Dozza, Raimundo N. Casé
de Brito. – 2. ed. – Curitiba: Fael, 2018.
173 p.: il.
ISBN 978-85-5337-011-5

Nota: conforme Novo Acordo Ortográfico da Língua


Portuguesa.
1. Desenvolvimento econômico 2. Mercado financeiro I. Brito,
Raimundo N. Case de II. Título
CDD 330

Direitos desta edição reservados à Fael.


É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.

FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão Jefferson M. G. Mendes
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Imagem da Capa Shutterstock.com/Sergey Nivens
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Apresentação

Os principais temas econômicos da atualidade noticiados


pela mídia nacional e internacional, como a crise na Europa, o pro-
tecionismo das economias locais, o câmbio, a bolsa de valores etc.,
estão intrinsecamente relacionados com a própria existência da
sociedade moderna, na medida em que esses temas têm influência
direta no cotidiano das pessoas. Notadamente, muitas vezes não
conseguimos entender qual a razão de algumas medidas econômi-
cas adotadas por nossos economistas e/ou dirigentes governamen-
tais, contudo não podemos viver à margem dessas questões, pois
elas influenciam ou irão influenciar direta ou indiretamente a vida
de todos os cidadãos do mundo moderno.
Não obstante, os pilares da economia de qualquer país
democrático não podem ser analisados sem que se tenha consciência
do contexto político, econômico e social em que ele está inserido. Em
princípio, os interesses políticos e sociais deveriam caminhar alinha-
dos com as questões técnicas da teoria econômica, objetivando a busca
por melhores resultados para as economias regionais; porém, o que se
percebe é que isso nem sempre é verdadeiro. É nesse contexto que a
moderna macroeconomia procura definir, por meio do resultado do
Teoria Econômica

Produto Interno Bruto (PIB), dos níveis de emprego e dos preços dos produ-
tos e serviços, bem como das relações econômicas internacionais, um equilíbrio
daquilo que é melhor para a sociedade, sem deixar de levar em consideração os
aspectos políticos e econômicos do país em questão.
A obra Teoria Econômica não se limita a proporcionar apenas um con-
texto teórico; vai muito mais além, apresentando capítulos ricos em detalhes
e exemplos sobre economia, capazes de transformar o conhecimento explí-
cito dessa área em um instrumento norteador da construção do conheci-
mento implícito, o qual, certamente, os leitores deste livro irão adquirir.
Os autores fazem uma viagem ao passado da teoria econômica, quando
ainda não era tida como ciência, não somente para relatar a história, mas,
principalmente, com o objetivo de compreender os princípios que delinea-
ram o funcionamento da economia contemporânea, bem como as tendên-
cias das economias do mundo globalizado que irão influenciar a vida coti-
diana dos países, empresas e cidadãos.
Tudo isso está semeado nas linhas a seguir, por meio das quais os autores
nos remetem a uma leitura fácil e agradável, capaz de cativar e projetar para
a construção do processo econômico e de suas inter-relações, visando possibi-
litar a nós, leitores, o uso de conhecimentos adquiridos na aplicação direta de
situações-problema, envolvendo pessoas e/ou o mundo corporativo.
É nesse caminho que conseguimos identificar a razão e o sentido para
os acontecimentos econômicos, sociais e políticos do Brasil e do mundo, apli-
cando, sobretudo, uma visão crítica e consciente daquilo que acontece em
nosso dia a dia.
Portanto, a leitura desta obra irá desenvolver em seus leitores, indubita-
velmente, uma maneira mais consciente para analisar, entender e comentar
os acontecimentos econômicos, sociais e políticos da atualidade.
Osnir Jugler*

* Economista (Fundação de Estudos Sociais do Paraná), Especialista em Gestão de Pessoas


(FAE Business School) e em Educação a Distância–(UFPR) e Mestre em Educação (PUCPR).
Atualmente, é consultor de empresas e professor de economia em cursos de graduação
e pós-graduação, coordenador do centro de estudos e pesquisas em empreendedorismo da
Universidade Tuiuti do Paraná e coordenador de pós-graduação da Fael.

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Sumário

1 Introdução à economia  |  7

2 História do pensamento econômico  |  15

3 Demanda, oferta e equilíbrio de mercado  |  25

4 Produção, custos e maximização do lucro  |  35

5 Estruturas de mercado  |  51

6 Externalidades e bens públicos  |  59

7 Contabilidade social  |  67

8 Determinação da renda e do produto nacional  |  85

9 Noções de economia monetária  |  97

10 Formação econômica brasileira  |  109

11 Aspectos de inflação  |  125

12 Noções de economia internacional  |  135


Teoria Econômica

13 Noções de economia do setor público  |  143

14 A globalização  |  151

15 Desenvolvimento econômico  |  159

Referências  |  171

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1
Introdução à economia

Você já vivenciou uma série de situações como o preço das


mercadorias aumentando mais do que o salário, falta de produtos
em uma feira, pessoas pedindo ajuda, você ou amigos discutindo
as diferenças da economia capitalista e socialista. É importante
valorizar essas experiências práticas do dia a dia, também buscar
mais conteúdo para enriquecer seu conhecimento por meio de
bibliografias das Ciências Econômicas, mas principalmente o livro
Introdução à economia, da editora Atlas, (2000), de José Paschoal
Rossetti. Assim, neste capítulo, será fácil para você entender o
problema da escassez e a classificação do sistema econômico.
Teoria Econômica

Para começarmos, imagine as situações relatadas a seguir. O salário


deste mês não vai dar para pagar todas as despesas. A energia e o combus-
tível aumentaram. Uma família decide diminuir despesas para equilibrar
o orçamento.
O gerente do banco informou que só financia 50% do valor do custeio
da safra. A comunidade precisa decidir como poderá ter os bens e serviços
para melhorar seu bem-estar. Como resolver esses problemas? Qual o sistema
econômico mais eficiente?
Iniciaremos este capítulo apresentando conceitos como escassez,
economia, bens e serviços e recursos de produção. Para finalizá-lo, você
estudará o sistema econômico e a divisão do estudo da economia.

1.1 O Problema da escassez


Escassez é o problema objeto de estudo na Economia. A existência da
escassez é o que justifica a economia como ciência. Mas o que é escassez? Por
que existe?
Escassez é a falta de bens e serviços em quantidade e qualidade suficiente
para o atendimento pleno das necessidades humanas. Ela existe porque a
quantidade dos recursos produtivos são insuficientes para produzir todos os
bens e serviços para atender todas as necessidades humanas.
Por definição, as necessidades são ilimitadas; e os recursos produtivos,
bens e serviços são limitados. Necessidades humanas são desejos, aspirações
e expectativas. A satisfação das necessidades resulta em bem-estar físico
e emocional.
Os bens e serviços são capazes de satisfazer as necessidades humanas.
Os bens são classificados em bens de consumo não duráveis, como os
alimentos, produtos de higiene; bens de consumo duráveis, como automóvel,
eletrodomésticos; bens intermediários, como a farinha de trigo; e bens
de capital, como máquinas e equipamentos. Educação, saúde, transporte,
comunicação, comércio, lazer são bens de serviços.
Os recursos produtivos ou fatores de produção são classificados na economia
em trabalho (mão de obra), capital (instalações, equipamentos e máquinas),

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Introdução à economia

terra (área geograficamente delimitada e seus recursos naturais) e tecnologia


(nível tecnológico das máquinas, equipamentos, ferramentas, métodos e
processos de produção. Pode ser interpretada também como conhecimento).
Como prática social, a economia existe desde quando surgiram os
grupos humanos. Mas como ciência é relativamente nova. Foram os gre-
gos que deram início ao estudo da economia como um conhecimen-
to científico.
A seguir serão apresentadas algumas definições baseadas em autores que
contribuíram para o desenvolvimento desse ramo do conhecimento como ciência.
O termo economia vem do grego, oikosnomos: oikos (casa) e nomos (lei,
norma) significam a administração de uma casa ou do Estado. Veja algumas
definições científicas de economia.
Vasconcellos (2004, p. 2) define economia
como ciência social que estuda como os indivíduos e a sociedade
decidem (escolhem) empregar recursos produtivos escassos na produção
de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e
grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas.

Já Samuelson citado por Passos e Nogami (2003, p. 4) a define como


o estudo de como as pe ssoas e a sociedade decidem empregar
recursos escassos, que poderiam ter utilizações alternativas, para
produzir bens variados e para os distribuir para consumo, agora ou
no futuro, entre várias pessoas e grupos da sociedade.

As definições anteriores destacam alguns elementos: primeiro enfatizam


a Economia como uma ciência social, isto é, o comportamento humano está
presente. Em segundo lugar, enfatizam a escassez dos recursos. E, por último,
a questão da escolha individual ou social.

Reflita
Lembre-se de que estamos falando de uma ciência social que se
propõe a estudar um problema de natureza social e a oferecer
uma respectiva solução.

– 9 –
Teoria Econômica

Após essa contextualização e exposição de conceitos sobre escassez,


economia, bens e serviços e recursos de produção, veremos a seguir os
problemas fundamentais que afetam a economia.

1.1.1 Questões econômicas fundamentais


Você está lembrando o que são recursos produtivos (fatores de produção)
e quais são? Se tiver dúvidas, releia o item escassez. Em função da escassez
dos recursos produtivos e das necessidades humanas ilimitadas, qualquer
sociedade se depara com algumas questões fundamentais. Veja a seguir.
É um problema econômico. A resposta é um ato de escolha individual
ou social. Como os recursos produtivos são escassos, não permitindo que
se produza tudo, a solução é decidir quais produtos e serviços devem ser
produzidos. Para tomar a decisão, a comunidade deve conhecer as alternativas.
A decisão inclui as quantidades a serem produzidas. Algumas alternativas,
como sugestão: produzir mais alimentos ou vestuário? Produzir mais carros
ou vagões de trem? Ferrovias ou rodovias?


O que e quanto produzir? Como
produzir? Para quem produzir?

Trata-se de uma questão tecnológica. Trata-se do método de produção.


O método envolve maneiras diferentes de combinar os fatores de produção. Se
trabalho e capital são fatores de produção, qual melhor combinação? Utilizar
mais mão de obra e menos capital? Seria um processo intensivo de mão de
obra. Ou utilizar mais capital e menos mão de obra? Nesse caso, o processo
seria intensivo de capital. Quais os efeitos dessa escolha? O principal é com
relação ao emprego. O processo intensivo de mão de obra gera mais emprego.
Enfatiza a distribuição dos bens e serviços. Logo a questão é quem
vai usufruir os bens e serviços produzidos. Qual o critério da distribuição?
Será conforme a necessidade? Será conforme a participação na produção? A
distribuição dos bens e serviços tem relação com a distribuição da renda. Se

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Introdução à economia

a renda for desigual, a distribuição dos bens e serviços será desigual, pois a
renda permite a aquisição dos bens.
Para analisar as questões anteriores, vamos utilizar a curva de possibilidade
de produção e o custo de oportunidade como modelos, que serão vistos no
terceiro capítulo.
Ao vermos todas essas questões que fundamentam os problemas econô-
micos, você terá de conhecer as características básicas do sistema econômico.

1.2 Sistema econômico


Outra decisão da sociedade é qual a melhor forma de organização econô-
mica. Na literatura, esse assunto é tratado na visão de sistema, isto é, sistema eco-
nômico. O que é um sistema econômico? Quais os sistemas econômicos conhe-
cidos? Como funcionam? Vasconcellos (2004, p. 3) ensina que:
Sistema econômico pode ser definido como sendo a forma política,
social e econômica pela qual está organizada a sociedade. É um par-
ticular sistema de organização da produção, distribuição e consumo
de todos os bens e serviços que as pessoas utilizam buscando uma
melhoria no padrão de vida e bem-estar.

Para descrever e analisar o sistema econômico, precisamos conhecer seus


elementos e sua classificação. Portanto um sistema econômico tem como
elementos básicos: estoque de recursos produtivos, complexo de unidades
produtivas e conjunto de instituições econômicas, sociais, políticas e jurídicas.
Você vai conhecê-los agora.

1.2.1 Elementos de um sistema econômico


Um sistema econômico tem como elementos básicos: estoque de recursos
produtivos, complexo de unidades produtivas e conjunto de instituições
econômicas, sociais, políticas e jurídicas.
O estoque de recursos produtivos ou fatores de produção compre-
ende o trabalho (recursos humanos), o capital (instalações, máquinas, equi-
pamentos), a terra (recursos naturais) e a tecnologia (nível tecnológico das
máquinas, equipamentos, ferramentas, métodos e processos de produção.
Pode ser interpretada também como conhecimento).

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Teoria Econômica

O complexo de unidades de produção é representado pelas empresas


que produzem bens e serviços. Os bens podem ser de consumo não durável,
consumo durável, intermediário e de capital. Entre os serviços, destacam-se
comércio, transporte, educação, saúde, comunicação, etc.
As instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais são a base da
organização social. O Congresso Nacional, o Ministério da Fazenda, o Banco
Central, a Agência Nacional do Petróleo, a Agência Nacional de Telecomunicações,
os Tribunais Estaduais e Federais são exemplos de instituições.

1.2.2 Classificação do sistema econômico


Quais os modelos de sistema econômico que a história apresenta? Quais
suas características? Como funcionam? Você verá três modelos que refletem a
prática econômica moderna:
22 Sistema capitalista ou economia de mercado:
A economia de mercado tem como características básicas propriedade
privada dos recursos de produção e livre iniciativa nos negócios. A
decisão sobre o que produzir, como produzir e para quem produzir
é tomada pelo mercado. Nesse modelo, predomina a concorrência
pura sem intervenção do Estado. O Estado cuida da segurança e da
justiça. É a filosofia do liberalismo econômico;
22 Sistema socialista ou economia planificada ou economia centralizada:
Esse sistema se caracteriza pela propriedade pública ou estatal dos
fatores de produção. As decisões sobre produção e distribuição de
bens e serviços, bem como sobre preços, são de competência de uma
comissão de planejamento central. Como, por exemplo, Ex União
Soviética, China, Coreia do Norte e Cuba são exemplos de sistema
socialista de economia;
22 Sistema de economia mista:
Nesse sistema, os recursos de produção são de propriedade do
setor público e do setor privado. O funcionamento da economia é
conforme as leis de mercado. O governo participa da produção de
bens e serviços e também faz controles por meio da regulamentação
dos setores econômicos. O Brasil é uma economia de mercado,

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Introdução à economia

mas com características do sistema de economia mista. O governo


é proprietário de empresas como a Petrobrás, o Banco do Brasil, a
Caixa Econômica Federal, e as Furnas Centrais Elétricas. Ainda o
governo faz controles da economia por meio de agências, como a
Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), Agência Nacional
de Telecomunicações (ANATEL) e Agência Nacional do Petró-
leo (ANP).

1.3 Divisão do estudo econômico


Ao finalizarmos esse contexto sobre sistema econômico, você enten-
derá como se divide o estudo da economia. É o que veremos a seguir. Para
efeito didático, o estudo da economia é dividido em áreas. As principais áreas
são: microeconomia, macroeconomia, economia internacional e desenvolvi-
mento econômico.
A microeconomia estuda o comportamento econômico de indivíduos e
empresas. Esse comportamento pode expressar uma situação de consumidor,
comprador ou de produtor e vendedor. Também estuda como são formados
os preços em um mercado específico.
A macroeconomia se preocupa com agregados macroeconômicos.
Agregado significa que o estudo da variável é em nível nacional. As principais
variáveis macroeconômicas são o produto, a renda e a despesa nacional.
A economia internacional é a área da economia que estuda as relações
econômicas entre habitantes e não habitantes do país. Os assuntos da
economia internacional são taxa de câmbio, balança comercial, balança de
capital, etc.
O Desenvolvimento econômico trata do crescimento do produto e das
transformações econômicas. As mudanças econômicas resultam em melhor
distribuição do produto e da renda. O efeito é um melhor padrão de bem-
estar social.
Para finalizar este capítulo, é importante que você saiba distinguir
lei da escassez e os problemas econômicos fundamentais, bem como a
classificação do sistema econômico e a divisão do estudo da economia.
São prerrogativas para a compreensão dos próximos capítulos deste

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Teoria Econômica

livro. Avalie como podemos aplicar esses conceitos e modelos à reali-


dade econômica.
No próximo capítulo, veremos como nasceu o pensamento econômico,
abordaremos as ideias e os fatos econômicos evidenciados pelos pensadores da
escola clássica, marxista, neoclássica e keynesiana sobre valor, mercado, preços,
divisão do trabalho, lucro, mais-valia. É a história das ideias econômicas, as
quais estão presentes em nosso quotidiano.

Conclusão
Neste capítulo, apresentamos o problema fundamental da ciência
econômica a escassez de produtos para consumo. A comunidade precisa
decidir como poderá ter os bens e serviços para melhorar seu bem-estar.
Como resolver esses problemas? Qual o sistema econômico mais eficiente?
Essas questões foram respondidas neste capítulo por meio das teorias da lei
da escassez.
Em seguida, enfatizamos os problemas fundamentais resultantes da
escassez, em que se procura buscar as respostas de quanto produzir, como
produzir, para quem produzir. Ao término do capítulo, descrevemos para
você o sistema econômico, as relações da economia com outras ciências e a
divisão do estudo econômico.

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2
História do pensamento
econômico

A economia como prática social existe desde que se formaram


os grupos humanos. A noção de produção e troca de bens e
serviços é intuitiva. Entretanto, como conhecimento científico, é
relativamente recente.
Para você obter mais conhecimentos sobre o pensamento
econômico, a obra A Riqueza das Nações, de autoria de Adam Smith,
publicada em 1776, é considerada o marco da economia como
ciência. Antes de ser ciência, várias ideias foram desenvolvidas.
Teoria Econômica

Os conceitos de economia, a lei da escassez, seus problemas e as questões


econômicas fundamentais, bem como sobre os sistemas econômicos, são
importantes. Esses tópicos estão no capítulo um e, com mais abrangência,
no livro de Fundamentos de Economia, da editora Saraiva (2004), que tem
como autores Marco Antônio Sandoval Vasconcellos e Manuel E. Garcia.
Com essas leituras, você identificará autores e conceitos desenvolvidos
em cada escola do pensamento econômico apresentados.
Antes de você conhecer as escolas, precisa saber que, na Grécia,
Aristóteles criou o termo “oikonomia” no sentido da administração privada
e das finanças públicas. Na Idade Média, houve a preocupação com a justiça
e a moral, quando foi criada a lei da usura, que defendia o lucro justo e
condenava os juros altos. O mercantilismo, desenvolvido a partir do século
XVI, tinha como ideia fundamental a acumulação da riqueza da nação. Para
tanto, o país deveria acumular metais preciosos.
A colonização das Américas foi inspirada nas ideias mercantilistas. Na
França, surgiu a fisiocracia. François Quesnay, médico estudioso de economia,
escreveu a obra Quadro Econômico. Afirmou que a economia deveria
funcionar segundo leis naturais, sem intervenção do governo. Considerou
a agricultura o setor gerador de riqueza. Para ele, havia três classes sociais:
produtores, proprietários e classe estéril.
Neste capítulo, vamos desenvolver o período considerado científico da
economia, ou seja, a partir de Adam Smith, da escola clássica, até a esco-
la keynesiana.

2.1 Escola Clássica


O conteúdo desse item está organizado por autores e obras, tendo em
vista que cada um deles desenvolveu mais algum aspecto em específico. Com
essa organização, esperamos que você compreenda melhor as ideias de cada
autor e obra. Começaremos com Adam Smith.

2.1.1 Adam Smith


Professor de filosofia e escritor, viveu em um contexto privilegiado: a
Primeira Revolução Industrial. O ambiente era adequado para observar o
processo de produção e distribuição de bens e serviços.

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História do pensamento econômico

Em 1776, foi publicado A Riqueza das Nações, um verdadeiro tratado


sobre questões econômicas. A seguir, será apresentada uma síntese das
principais ideias:
22 Princípio do liberalismo: livre concorrência. Uma “mão invisível”
levaria a sociedade à perfeição, em que os agentes econômicos –
empresas buscando o lucro máximo e trabalhadores tentando obter
o melhor salário promoveriam o bem-estar de toda a sociedade. O
mercado funcionaria como regulador das decisões econômicas;
22 Causa da riqueza das nações: o trabalho humano. Desenvolveu
a teoria do valor-trabalho, atribuindo ao trabalho a criação da
riqueza. A divisão do trabalho levaria à especialização dos trabalha-
dores. O princípio da divisão do trabalho permitiria ao trabalhador
desenvolver habilidades. O efeito seria o aumento da produtividade
e a necessidade de abertura de novos mercados;
22 Papel do estado: proteção da sociedade. Ao Estado caberia o papel
de proteger a sociedade, cuidando da segurança e da justiça. Para
isso, deveria criar obras e instituições que tivessem essas funções.
Mas não caberia ao governo intervir nas leis de mercado.

2.1.2 David Ricardo


Não era um acadêmico, era homem de negócios. Foi operador da Bolsa
de Valores de Londres e próspero como negociante. Leu A Riqueza das
Nações, que lhe despertou grande interesse pela Economia. Estimulado por
amigos e admiradores, escreveu artigos sobre economia e um livro que se
tornou best seller na sua época.
Em 1817, finalizou a obra Princípios de Economia Política e Tributação.
Eis a seguir uma síntese das ideias básicas do livro:
22 Teoria do valor-trabalho: melhorou a teoria do valor-trabalho de
Smith, demonstrando que todos os custos se reduzem aos custos
do trabalho;
22 Desenvolvimento econômico: a acumulação de capital e o aumento
da população determinam aumento da renda da terra, mas os
rendimentos decrescentes diminuem os lucros, tornando a poupança

– 17 –
Teoria Econômica

nula. A economia torna-se estacionária, isto é, sem crescimento


econômico. Os salários diminuem, sendo suficientes apenas para
subsistência. É um modelo pessimista de desenvolvimento;
22 Comércio internacional: analisou o papel do comércio entre as
nações como positivo. Criou a Teoria das Vantagens Comparativas.
Essa teoria é um modelo que explica os motivos e as vantagens do
comércio internacional. O modelo explica que o motivo princi-
pal do comércio internacional se baseia na disponibilidade relativa
de fatores de produção. O país que tivesse maior disponibilidade
de terra, por exemplo, poderia se especializar na produção agrícola
com menor custo. O excedente agrícola seria exportado e adqui-
rido os produtos industrializados.

2.1.3 Thomas Robert Malthus


Malthus era membro de família próspera foi sacerdote da Igreja
anglicana. Graduou-se na Universidade de Cambridge, onde recebeu o
Máster of Arts Degree e foi aceito como membro pesquisador. Foi professor
de História Moderna e Política Econômica no Colégio das Índias Orientais.
A obra de Malthus compreendeu duas publicações. Em 1798, foi
publicado Ensaio sobre a População e, em 1820, Princípios de Economia
Política. O que deu maior impacto na sociedade da época foi o Ensaio.
O Ensaio sobre a População mostra que os problemas da sociedade
estavam relacionados ao excesso populacional. Em termos matemáticos, ele
demonstrou que a população crescia em progressão geométrica, enquanto a
produção de alimentos crescia em uma progressão aritmética.
Com base nesse diagnóstico, Malthus propôs como solução o adiamento
de casamentos e a limitação voluntária de filhos. Aceitava a guerra e as doenças
endêmicas como processos naturais de controle da população.
Malthus não considerou o desenvolvimento tecnológico que possibilitou
o aumento da produção, mas a questão que ele levantou permanece atual.

2.1.4 Jean Baptiste Say


Em 1803 saiu a obra Tratado de Economia Política. Nesse livro, Say
retomou as ideias de Adam Smith sobre a livre concorrência. Sua contribuição

– 18 –
História do pensamento econômico

principal à economia se expressa na chamada lei de Say. Conforme essa lei, a


questão das trocas de mercadorias depende da produção. Na versão popular,
a lei de Say é expressa assim: a oferta cria sua própria procura. Nesse caso,
o aumento da produção resultaria em aumento dos salários e lucros que
seriam gastos na compra da produção. Na hipótese de o mercado funcionar
como regulador da atividade econômica, haveria o ajuste automático entre
produção e consumo.
Após a escola clássica, devido a críticas e ao declínio de suas teorias,
surge uma nova escola e com outro pensamento econômico, isto é, a ideia de
um sistema socialista.

2.2 Escola Marxista


Com a crise da escola clássica, eclodem revoltas contra o sistema fabril. A
descrença para com a sociedade, tal como era, tinha levado alguns pensadores
a imaginarem um novo tipo de sociedade regulada por outras regras e
princípios, isto é, uma sociedade regida pelo sistema econômico socialista.
Vamos estudar seu principal representante: Karl Max.

2.2.1 Karl Marx


Marx foi o maior expoente entre os pensadores do sistema socialista.
Estudou Direito em Bonn e Berlim, em um ambiente de grande curiosidade
intelectual. Posteriormente, teve interesse por filosofia, economia e política.
Seu primeiro livro sobre economia foram os Manuscritos Econômico-
Filosóficos e, após, a Miséria da Filosofia. Sua obra principal foi O Capital. A
seguir, serão expostas algumas ideias desta última obra.
Marx desenvolveu a teoria do valor-trabalho, que já constava na obra de
Smith e de Ricardo. Essa teoria explica que o valor de uma mercadoria tem
como base a quantidade de trabalho gasto na sua produção.
O conceito de mais-valia é a novidade da Escola Marxista. Ela representa
a diferença entre o valor das mercadorias e o valor pago à força de trabalho.
Lucro, juro, aluguel, arrendamento são sua expressão. A apropriação do
excedente, que é a mais-valia, pelos capitalistas, explica o processo de
acumulação do capital e as relações entre capitalistas e trabalhadores.

– 19 –
Teoria Econômica

As relações entre capitalistas e trabalhadores chamados de proletários


tendem a ser de conflitos. O interesse dos capitalistas é manter e ampliar
a mais-valia. Os proletários querem aumentar sua participação na renda,
recebendo melhor salário.
Vasconcellos e Garcia (2004) citam que, na visão de Marx, o sistema
capitalista estava sujeito a crises resultando no seu desaparecimento. Seria
substituído por um novo sistema econômico, o socialismo. Já vimos no
primeiro tema as características dos dois sistemas.
O sistema capitalista, da mesma forma do que a escola clássica, também
não triunfou, e deu lugar à neoclássica, como veremos a seguir.

2.3 Escola Neoclássica


A Escola Neoclássica teve início a partir de 1870 e faz parte de um
conjunto de escolas de economia que formularam conceitos e modelos de
análise econômica. As principais são a Escola de Viena, a Escola de Lausane
e a Escola de Cambridge.
A Escola de Viena ou Escola Psicológica Austríaca teve como principal
autor Karl Menger. O inglês William Jevons desenvolveu estudos na mesma
linha de pensamento. Essa escola desenvolveu a teoria do valor-utilidade e
a teoria da utilidade marginal. A teoria do valor-utilidade enfatiza o lado
subjetivo do valor, ou seja, o valor de um está relacionado com o grau de
satisfação que é capaz de produzir.
A Escola de Lausane ou Escola Matemática, com sede na cidade Suíça
de Lausane, teve Leon Walras e Vilfredo Pareto como autores principais. A
teoria do equilíbrio geral foi a maior contribuição da escola para a ciência
econômica. Essa teoria demonstra a interdependência dos preços no sistema
econômico e também distinguiu economia pura da economia aplicada.
A Escola de Cambridge, na Inglaterra, teve como principal autor Alfred
Marshall. O livro Princípios de Economia, publicado em 1890, é obra de
referência dos neoclássicos. As contribuições básicas dessa escola podem ser
analisadas por você nos três itens a seguir:
1. Teoria do consumidor ou teoria do comportamento do consu-
midor: Essa teoria explica que o comportamento do consumidor

– 20 –
História do pensamento econômico

está relacionado com suas preferências e seu orçamento. A decisão


de compra do consumidor depende da maximização da utilidade
de acordo com as preferências e o orçamento desse consumidor;
2. Teoria marginalista: O equilíbrio do mercado depende do compor-
tamento da receita marginal e do custo marginal. A receita marginal
é o acréscimo da receita quando se produz ou se vende uma unidade.
O custo marginal é o custo adicional por unidade produzida;
3. Teoria quantitativa da moeda: Essa teoria relaciona a quantidade
de moeda na economia com os níveis da atividade econômica.
Qual a relação entre a quantidade de moeda e a quantidade de bens
e serviços? A essa questão a teoria quantitativa da moeda responde
em detalhes.
Por fim, temos a escola Keynesiana, em que você conhecerá seu principal
representante: John Maynard Keynes.

2.4 Escola Keynesiana


Com a grande depressão econômica ocorrida com a crise do sistema
capitalista, na década de 30 do século XX, surge uma nova escola,
chamada de keynesiana, por ser implementada por Keynes, seu precursor.
Ele demonstrou que a lei de Say não funcionou, pois a suposição de
que toda a renda seria gasta no consumo não era verdadeira. Havia os
vazamentos da renda, como poupança e impostos. Vamos conhecer melhor
esse pensador.

2.4.1 John Maynard Keynes


Foi o principal representante da escola. Em 1936, publicou a Teoria
Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, dando início ao que foi chamado
de revolução keynesiana. O impacto do livro foi significativo. O sistema
capitalista estava passando por uma crise que se denominou “Grande
Depressão”, em que o principal sintoma era a sobra de estoques, portanto
crise de superprodução. Os efeitos imediatos foram o aumento do desemprego
e a quebra da Bolsa de Nova York. A teoria econômica clássica não conseguia
explicar nem oferecer uma solução satisfatória.

– 21 –
Teoria Econômica

Foi nesse contexto que a obra de Keynes apareceu. Os aspectos mais


relevantes dizem respeito ao diagnóstico e às políticas econômicas indicadas
para a solução da crise.
O diagnóstico da teoria clássica afirmava que o problema era temporário
e o ajuste seria automático. Com base na lei de Say, a oferta cria sua própria
procura e a expectativa era o ajuste espontâneo. Mas isso não aconteceu.
O diagnóstico de Keynes inverteu a ordem da oferta e procura. Para
Keynes, o nível do emprego é o resultado do nível de produção, que é
determinado pela demanda agregada. Keynes criou o termo demanda efetiva
para indicar a demanda real do mercado.
A solução indicada para a crise foi a intervenção do Estado na economia.
Essa participação visava a aumentar a demanda efetiva, ampliando a produção
e gerando emprego. A forma de intervenção era a política fiscal, a política
monetária e investimentos nos setores que a iniciativa privada não tivesse
interesse. A política fiscal trata da arrecadação de tributos e dos gastos
públicos; a política monetária administra a oferta e o controle da moeda e do
crédito; os investimentos em obras públicas como ferrovias, rodovias, portos,
aeroportos ajudariam aumentar o nível da demanda.

Reflita
Qual a importância das ideias econômicas desenvolvidas por
Adam Smith, Karl Marx e John Maynard Keynes na atualidade?

Ao final deste capítulo, você observou que, para conhecer as ideias das
escolas econômicas a partir de Adam Smith, abordamos, como a teoria do
valor-trabalho e a teoria do consumidor. Também tivemos oportunidade
de ver definições como mais-valia e demanda efetiva. É importante atentar
para essas teorias e definições, pois podem ser aplicadas no comportamento
econômico dos indivíduos e das empresas.
A seguir, no próximo capítulo, trataremos do funcionamento do
mercado. Como se trata da economia de mercado, são as leis e forças de
demanda e oferta que conduzem em regras básicas para encontrar o equilíbrio.

– 22 –
História do pensamento econômico

Algumas variáveis que influenciam a demanda e a oferta são o preço, a renda,


a tecnologia e a preferência dos consumidores.

Conclusão
Apresentamos a você as ideias econômicas desenvolvidas pelas escolas
clássica, marxista, neoclássica e keynesiana. A escola clássica, com Smith,
Ricardo, Malthus e Say, além de exporem os conceitos, defenderam o
liberalismo econômico, o comércio internacional e discutiram a questão
da população. A escola marxista, com Marx, aperfeiçoou a teoria do valor-
trabalho, criou o conceito de mais-valia e previu as crises do sistema capitalista.
A corrente neoclássica, com as escolas de Viena, desenvolveu a teoria do valor-
utilidade e a teoria da utilidade marginal; a escola de Lausane, com a teoria do
equilíbrio geral, foi a maior contribuição da escola para a ciência econômica.
Essa teoria demonstra a interdependência dos preços no sistema econômico e
também distinguiu economia pura da economia aplicada.
A Escola de Cambridge, na Inglaterra, teve como principal autor Alfred
Marshall, que criou o conceito de utilidade marginal, a teoria do consumidor e
outros instrumentos de análise microeconômica. Por fim, a escola keynesiana
com Keynes, criou o princípio da demanda efetiva e defendeu a intervenção
do governo no sistema econômico.

– 23 –
3
Demanda, oferta e
equilíbrio de mercado

Os conceitos básicos de economia do capítulo anterior são


importantes para iniciarmos este capítulo. Indicamos, ainda, a obra
sobre os aspectos de microeconomia Princípios de economia, da
editora Thomson Learning (2003), de Passos e Nogami.
E você se lembra das funções do 1º grau e da relação entre a vari-
ável dependente e as variáveis independentes advindas da Matemática
básica? Essas leituras ajudarão você na conceituação de demanda, de
oferta, equilíbrio de mercado e suas principais variáveis.
Teoria Econômica

Comece sabendo que o campo de estudo da microeconomia ou teoria


dos preços é a formação de preços no mercado. A decisão sobre preços e as
quantidades de bens e serviços são resultados da interação entre empresas e
consumidores. As leis da demanda e da oferta são modelos de estudo dos preços.
Na análise microeconômica, alguns pressupostos são essenciais. São eles a
condição Ceteris Paribus: significa que na análise de duas variáveis as outras vari-
áveis são consideradas constantes, os preços relativos e os objetivos da empresa.
Os objetivos da empresa na economia de mercado são a maximização
do lucro, participação nas vendas do mercado e maximização da margem
sobre os custos de produção. Vamos iniciar aprendendo o que é demanda de
mercado e sua função. Após, você verá a lei geral da oferta de mercado e, por
fim, como ocorre o equilíbrio de mercado.

Reflita
Quais os fatores que determinam o aumento ou a redução de
preços dos bens e serviços?

3.1 Demanda de mercado


Vasconcellos (2004, p. 38) ensina que “a demanda ou procura pode ser
definida como a quantidade de um determinado bem ou serviço que os con-
sumidores desejam adquirir em determinado período de tempo”.
As variáveis determinantes da demanda individual de um bem ou ser-
viço são o preço do bem, o preço dos bens substitutos, o preço dos bens
complementares, a renda do consumidor e a preferência do consumidor. Em
linguagem matemática, pode ser expresso pela função:
Qdi = f (Pi, Ps, Pc, R, G)
Sendo:
Qdi – quantidade demanda do bem i
f – em função de

– 26 –
Demanda, oferta e equilíbrio de mercado

Pi, – preço do bem i


Ps – preço dos bens substitutos
Pc – preço dos bens complementares
R – renda do consumidor
G – gosto ou preferência do consumidor
O que são bens substitutos e bens complementares? Bens substitutos
são aqueles que substituem o consumo de outro bem, exemplo: margarina e
manteiga. Os bens complementares são consumidos como complemento de
outro bem, por exemplo: combustível como bem complementar e automóvel
como bem principal.
Vamos observar algumas relações entre bens e outros aspectos.

3.1.1 Relação entre quantidade demandada e preço


do bem: lei geral da demanda Qdi = f(Pi)
A relação é inversamente proporcional entre a quantidade demandada
e o preço do bem. Então, na função Qdi = f(Pi), quando (Pi) aumenta, a
tendência de (Qdi) é diminuir, e quando (Pi) diminui, a tendência de (Qdi)
é aumentar (ver tabela 1 e figura 1).

Fonte: Vasconcellos (2004, p. 39).

– 27 –
Teoria Econômica

Fonte: Vasconcellos (2004, p. 39).


A curva de demanda é inclinada negativamente devido a dois efeitos.
Observe a seguir:
1. efeito substituição: se um bem (X) tem um substituto (Y), quando o
preço do bem (X) aumenta, Ceteris Paribus, o consumidor adquire
o bem substituto (Y);
2. efeito renda: quando o preço do bem (X) aumenta e a renda do
consumidor permanece constante, há perda do poder real de com-
pra desse consumidor, e o efeito é a queda de demanda do bem (X).

3.1.2 Relação entre a procura de um bem


(Qdi) e a renda do consumidor (R)
Na função Qdi = f(R), a relação depende do tipo de bem. Observe.
22 Para bens normais: aumento da renda, (R) resulta no aumento da
demanda, (Qdi);
22 Para bens de consumo saciado: aumento na renda, (R), não aumenta
a demanda, (Qdi);
22 Para bens inferiores: aumento da renda, (R), pode reduzir a
demanda, (Qdi).
O que são bens normais, bens de consumo saciado e bens inferiores?
Bens normais são os bens preferidos pelo consumidor. Bens de consumo

– 28 –
Demanda, oferta e equilíbrio de mercado

saciado são os bens que o consumidor já consome na quantidade necessária.


Bens inferiores são bens não preferidos pelo consumidor. Quando a renda
diminui ou é insuficiente, o consumidor adquire bens inferiores.

3.1.3 Relação entre a procura de um bem e o


preço dos outros bens Qdi = f (Ps, Pc)
Nessa relação, temos bens substitutos e bem complementares. Observe
a diferença entre eles.
22 Bens substitutos ou concorrentes: na função Qdi = f(Ps), se (Ps)
aumenta, a tendência de (Qdi) é aumentar e, se (Ps) diminui, a
tendência de (Qdi) é diminuir;
22 Bens complementares: na função Qdi = f(Pc), se (Pc) aumenta, a
tendência de (Qdi) é diminuir; e, se (Pc) diminui, a tendência de
(Qdi) é aumentar.

3.1.4 Relação entre a demanda do bem e a


preferência ou gosto do consumidor Qdi = f (G)
Na função Qdi = f(G), quando há incentivo despertando a preferência
do consumidor (G), a tendência é aumentar a demanda, (Qdi). Mas se o
produto ou serviço não despertar a preferência do consumidor, a demanda
tende a diminuir.

Reflita
O comportamento da demanda significa o aumento ou a redu-
ção dela em função da alteração do preço e da renda.

3.1.5 Da demanda individual à demanda de mercado


Vamos diferenciar a demanda individual da demanda de mercado de
um bem ou serviço. A demanda de mercado é o resultado ou somatório das
demandas individuais. Portanto, a cada preço, a demanda de mercado é a
soma das demandas individuais. Para ilustrar, vamos examinar o quadro 1,
a seguir.

– 29 –
Teoria Econômica

Fonte: O autor.
A observação do quadro mostra que, ao preço de $ 3,00, as demandas
individuais são: consumidor A, 8 litros; consumidor B, 5 litros e o consumi-
dor C, 12 litros. A demanda de mercado é a soma das demandas individuais,
ou seja, 8 litros + 5 litros + 12 litros = 25 litros. Quando o preço diminui para
$ 2,50, $ 2,00 e $ 1,50, o processo se repete.
Depois de você saber os principais aspectos e características da demanda
de mercado, conhecerá os aspectos da oferta de mercado.

3.2 Oferta de mercado


A lei geral da oferta é a relação em que a quantidade ofertada é direta-
mente proporcional ao preço. Então, havendo aumento de preços, a tendên-
cia é aumentar a oferta, e vice-versa.
Vasconcellos (2004, p. 41) conceitua oferta “como as várias quantidades
que os produtores desejam oferecer ao mercado em determinado período de
tempo”. As variáveis que influenciam a oferta de um bem ou serviço são o
preço do bem, o custo dos fatores de produção e a tecnologia.
A função geral da oferta pode ser escrita como: Qsi = f (P, Ԉ, T)
Sendo:
Qsi – quantidade ofertada do bem i
P – preço do bem i
Ԉ – custo dos fatores de produção
T – tecnologia
– 30 –
Demanda, oferta e equilíbrio de mercado

A relação entre a quantidade ofertada e o preço do bem é diretamente


proporcional. Então, se o preço do bem aumentar, a tendência da oferta é
aumentar; se o preço diminuir, a tendência da oferta é diminuir. A relação
entre quantidade oferta e o custo dos fatores de produção é inversamente
proporcional. Se o custo dos fatores de produção aumentar, a tendência da
quantidade ofertada é diminuir, e vice-versa. A relação entre a quantidade
ofertada e a tecnologia é diretamente proporcional. Então, se a tecnologia ou
nível tecnológico utilizado reduzir custos, a tendência é aumentar a oferta.
Como ilustração, veja a tabela 2 e a figura 2.

Fonte: Vasconcellos (2004, p. 43).

Fonte: Vasconcellos (2004, p. 43).


Você certamente observou a relação entre a tabela anterior e o gráfico,
nele demonstramos essa ligação entre as variações do preço e as variações da
quantidade ofertada, dando sentido à curva da oferta.

– 31 –
Teoria Econômica

Após estudar os aspectos de demanda e oferta e suas relações com o


preço, poderemos agora ver como se configura o equilíbrio de mercado.

3.3 Equilíbrio de mercado


Na economia de mercado, o preço é determinado pela oferta e a pro-
cura. Tratando-se do equilíbrio de mercado, é necessário existir o preço de
equilíbrio e também a quantidade de equilíbrio.
Na prática, é possível demonstrar o equilíbrio utilizando tabela e figura.
A tabela 3 e a figura 3 ilustram esse o equilíbrio econômico em uma situação
dada. Observe-as e fique atento para a análise.

Fonte: Vasconcellos (2004, p. 45).

Fonte: Vasconcellos (2004, p. 45).

– 32 –
Demanda, oferta e equilíbrio de mercado

Análise do equilíbrio:
I. Quando existir excesso de demanda, compradores se dispõem a
pagar mais; e produtores, diante da escassez, elevam preços;
II. Quando existir excesso de oferta, surgem pressões para os preços
serem reduzidos: produtores percebem que não podem vender tudo
o que desejam; e compradores percebem a abundância e querem
pagar menos;
Ao fim deste capítulo, você precisa verificar se pode explicar a diferença
entre a lei da demanda e a lei da oferta e quando ocorre o equilíbrio do mer-
cado. Observe que o funcionamento do mercado pode ser explicado pelo
modelo das leis de demanda e oferta. A compreensão desse modelo nos ajuda
na vida pessoal e nos negócios.
No próximo capítulo, analisaremos a produção, os custos e o lucro.
Veremos como podemos saber se a mão de obra e o capital estão bem utili-
zados e Também estudaremos o comportamento dos custos totais, médios
e marginais além disso, verificaremos como se calcula o lucro e quando
ele maximizado.

Conclusão
Neste capítulo, foi abordado o funcionamento do mercado. Esse funcio-
namento é baseado na lei de oferta e lei da demanda. As variáveis que se rela-
cionam com a demanda são o preço, a renda e a preferência dos consumidores.
A hipótese Ceteris Paribus (do latim coeteris paribus) significa que na
análise de duas variáveis, as outras variáveis são consideradas constantes.
Exemplo: sendo a demanda função dos preços e da renda do consumidor,
quando se analisa a demanda em função do preço, a renda é considerada
constante. Os preços relativos são os preços de um bem ou serviço quando
comparados aos preços de outros bens e serviços. Exemplo: quantas sacas
de soja compram um alqueire de terra? É o preço relativo da soja em relação
à terra.
As variáveis que influenciam a oferta são o preço, o custo da mão de
obra e do capital e a tecnologia. Para analisar o comportamento da demanda

– 33 –
Teoria Econômica

e da oferta, é necessário analisar a relação entre cada variável e a demanda ou


a oferta. Finalmente, o equilíbrio do mercado é o resultado da interação entre
demanda e oferta, é aquela situação em que preço e quantidade atendem o
interesse de vendedores e compradores.

– 34 –
4
Produção, custos e
maximização do lucro

Os conceitos de oferta, demanda e equilíbrio de mercado


do capítulo anterior podem auxiliar no entendimento de produção
e custos. Para isso, é necessário uma nova revisão na bibliografia de
gestão de custos, que é facilmente encontrada no livro de Gestão de
Custos e Formação de Preços, da editora Atlas (2004), dos autores
Adriano Leal Bruni e Rubens Famá. Essa revisão é relevante para
você poder dimensionar de forma prática como as empresas podem
determinar seus custos de produção e calcular a função de produção
e custos, bem como demonstrar graficamente os resultados.
Teoria Econômica

Para iniciarmos, imagine que, em um dia da semana, você vai ao super-


mercado fazer suas compras. Lá estão muitos produtos disponíveis para venda,
prontos para serem consumidos. Quando você está escolhendo os produtos e
quando chega ao caixa, sua preocupação é com o preço de cada produto e o total.
Outras questões de natureza econômica se relacionam com a disponibi-
lidade de compra dos produtos. Como foram produzidos? Quanto custou a
produção? A teoria da oferta da firma individual apresenta conceitos e mode-
los que possibilitam uma resposta. Essa teoria estuda o processo de produção
e a formação dos custos na fabricação de bens e serviços.
Neste capítulo, estudaremos a produção do ponto de vista da economia.
Esse estudo permitirá verificar se os fatores de produção foram utilizados de
forma a obter o melhor resultado. Também analisaremos os custos e como o
lucro pode ser maximizado.

4.1 Produção: conceitos e funções


Produção é o processo de transformação dos fatores de produção em
bens ou serviços.
Os fatores de produção terra (recursos naturais), trabalho (mão de obra),
capital (equipamentos, instalações, etc.) e tecnologia (processos de produção)
são combinados em quantidades adequadas na fabricação dos produtos.
A opção por um ou outro método de produção depende da eficiência
do método. A eficiência é tecnológica e econômica. A eficiência tecnológica
de um método de produção é avaliada pela quantidade de fatores utilizados
na produção. Quando se comparam métodos de produção, é mais eficiente o
que atinge um nível de produção com menos insumos.
A eficiência econômica é medida pelos custos de produção. O método
de produção que tem menor custo é mais eficiente em termos econômicos.
Passos e Nogami (2003, p.223) afirmam que:
Podemos conceituar a função de produção como a relação que indica a
quantidade máxima que se pode obter de um produto, por unidade de
tempo, a partir da utilização de uma determinada quantidade de fatores
de produção e mediante a escolha do processo de produção adequado.

– 36 –
Produção, custos e maximização do lucro

A relação que indica a quantidade máxima que se pode obter de um pro-


duto é a forma funcional da função de produção que é expressa pela função:
Quantidade de produto = f (quantidade de fatores de produção).
Q = f ( X1, X2, X3,.... Xn)
Q – quantidade de produto
f – em função de X1, X2, ... Xn quantidade dos fatores de produção
A forma da função de produção simplificada para análise é:
Q = f (N, K)
Sendo:
Q – quantidade de produto
f – em função de
N – trabalho (mão de obra)
K – capital (infraestrutura).
São considerados fatores de produção fixos os fatores que a quantidade
utilizada na produção não se altera quando a quantidade de produto aumenta
ou diminui. Exemplo: a terra, as instalações físicas, os equipamentos e
a tecnologia.
Os fatores de produção variáveis são os fatores que alteram a quantidade
utilizada quando a quantidade de produto aumenta ou diminui. O principal
fator variável na produção é a mão de obra.
No processo de produção, o curto prazo é quando existe pelo menos
um fator de produção fixo. Geralmente o fator fixo é a terra ou o capital.
No longo prazo, todos os fatores de produção são variáveis. Vamos ver mais
detalhadamente a produção no curto e no longo prazo.

4.1.1 Produção no curto prazo


Vamos fazer a análise de curto prazo, considerando apenas a mão de
obra e o capital ( um fator variável e um fixo). A função de produção é repre-
sentada algebricamente por:

– 37 –
Teoria Econômica

Q = f ( N, K)
Sendo:
Q – quantidade
f – em função de
N – mão de obra (fator variável)
K – capital (fator fixo)
O nível de produção depende apenas das alterações na quantidade utili-
zada de mão de obra (fator variável).

4.1.1.1 Definições relativas aos elementos


da função de produção
Produto total é a quantidade do produto obtida com a utilização do
fator variável (mão de obra), sendo os demais fatores fixos (capital).
Produção total = QT
Produtividade média do fator é o resultado do quociente do produto
total pela quantidade utilizada do fator. Assim podemos calcular a produtivi-
dade média da mão de obra e do capital.


Produtividade média da mão de obra
PMeN = produção total / número de trabalhadores;
Produtividade média do capital
PMeK = produção total / número de
máquinas e equipamentos.

Produtividade marginal do fator é a relação entre a variação do produto
total e a variação da quantidade utilizada do fator.
Podemos calcular a produtividade marginal da mão de obra e do capital.
Veja as fórmulas a seguir:

– 38 –
Produção, custos e maximização do lucro


Produtividade marginal do trabalho
PMgN = variação da produção total
/ variação da mão de obra;
Produtividade marginal do capital
PMeK = variação da produção total / variação do capital.

Na tabela a seguir, você poderá ver ilustrados os conceitos anteriores.
Tabela 1– Produto total, produtividade média e marginal do fator variável

Fonte: Vasconcellos (2004, p. 62).

Fonte: Vasconcellos (2004, p. 62-63).

– 39 –
Teoria Econômica

Fonte: Vasconcellos (2004, p. 62-63).

Sobre a lei dos rendimentos decrescentes, Vasconcellos (2004, p. 62)


afirma que
elevando-se a quantidade do fator variável, permanecendo fixa a
quantidade dos demais fatores, a produção inicialmente aumentará
as taxas crescentes; a seguir, depois de certa quantidade utilizada do
fator variável, continuará a crescer, mas a taxas decrescentes.

Essa definição está demonstrada na tabela 1 com relação ao fator mão de


obra. Na tabela, o fator capital é fixo em 10 unidades. O fator mão de obra
é variável, de 1 a 9 unidades. Qual foi o comportamento da produtividade
média e da produtividade marginal do fator trabalho?
Quando a mão de obra passou de uma para duas unidades, a produtivi-
dade média aumentou de 6 para 7, e a produtividade marginal, de 6 para 8.
Quando a mão de obra aumentou para 3 unidades, a produtividade média
aumentou de 7 para 8, e a produtividade marginal, de 8 para 10. Quando foi
admitido o trabalhador número 4, a produtividade média continuou em 8, e
a produtividade marginal diminuiu de 10 para 8.
Quando o trabalhador número 5 foi admitido, a produtividade
média diminuiu para 7, 6, e a produtividade marginal, para 6. Exami-
nando a tabela, constatamos que as produtividades média e marginal conti-
nuam decrescendo.

– 40 –
Produção, custos e maximização do lucro

4.1.2 Custos no longo prazo


Na análise da produção no longo prazo, os fatores mão de obra e capi-
tal são variáveis. A função de produção é a mesma do curto prazo (todos os
insumos variáveis).
Seja: Q = f ( N, K)
A análise da produção introduz o conceito de rendimentos de escala.
Esses rendimentos podem ser crescentes, constantes e decrescentes. Vejamos
cada um deles:
22 Rendimentos crescentes de escala ou economias de escala ocorrem
quando a variação na quantidade do produto é proporcionalmente
maior do que a variação na quantidade utilizada de fatores. Vamos
supor um aumento de 5% em mão de obra e capital e que o resul-
tado seja um aumento de 10% no produto.
22 Rendimentos constantes de escala se verificam quando a variação
do produto é idêntica à variação da quantidade de fatores. Supo-
nhamos um aumento de 7% nos recursos produtivos e o aumento
do produto seja também de 7%.
22 Rendimentos decrescentes de escala significam que a variação do
produto é menor do que a variação dos fatores de produção utiliza-
dos. Por exemplo, se os fatores de produção forem aumentados em
12% e o aumento do produto for de 10%.
Agora que você já estudou os conceitos e as funções da produção, verá
suas curvas de possibilidades.

4.2 Curva de possibilidades de produção


A curva de possibilidade de produção é um modelo de análise para a
tomada de decisão sobre o que e quanto produzir. As curvas representam
possibilidades. Como ilustrações, serão utilizadas uma tabela e uma figura. A
tabela 2 mostra as alternativas em termos de quantidade em quilos. A curva
de possibilidade de produção está desenhada mostrando as quantidades de
calça, no eixo horizontal, e de bermuda, no eixo vertical.

– 41 –
Teoria Econômica

Tabela 2 – Possibilidades de produção de uma indústria.

Fonte: Passos e Nogami (2003).


Os dados da tabela apresentam três alternativas. Observe-as a seguir:
22 Alternativa A – só produzir bermuda;
22 Alternativa F – só produzir calça;
22 Alternativas B, C, D, E – produzir calça e bermuda.
Na figura 3, as alternativas A e F representam a fronteira de possibilida-
des de produção. As alternativas B, C, D e E representam as possibilidades de
produção conjunta de calça e bermuda.
Figura 3 – Curva de Possibilidade de Produção

Fonte: Passos e Nogami (2003).


Para haver eficiência na produção, é necessária a hipótese de plena
utilização dos recursos produtivos. O que é plena utilização dos recursos
ou pleno emprego dos recursos? Significa que toda a matéria-prima, a mão

– 42 –
Produção, custos e maximização do lucro

de obra e os equipamentos estão sendo completamente utilizados. Não há


recurso ocioso.
Quando recursos são transferidos da alternativa A para a alternativa B,
de B para C, e assim por diante, há um custo que pode ser medido em termos
reais. Por exemplo, mudar da alternativa A para a B representou o sacrifício
de não produzir 500 unidades de bermuda para produzir 1 000 unidades de
calça. Na escolha da alternativa de D para E, houve a renúncia da produção
de 2 000 unidades de bermudas para produzir 1 000 unidades de calça. Logo
o custo de oportunidade refere-se à transferência de recursos da produção
de um bem (bermuda) para produzir outro bem (calça), supondo o pleno
emprego dos recursos produtivos.
Você já viu os conceitos, as funções e a curva de possibilidade de produ-
ção. E os custos disso? É nosso próximo assunto.

4.3 Custos: conceitos e funções


O objetivo básico da firma é a maximização dos resultados. As condições
essenciais para que isso aconteça são que ocorra simultaneamente a maximi-
zação da produção e a minimização.
O nível de produção que maximiza os resultados nós vimos no item
anterior. Agora veremos a análise dos custos. Inicialmente, façamos a dis-
tinção entre custos de oportunidade e custos contábeis (serão discutidos no
tópico 4.5).

4.3.1 Custos de produção


Os custos de produção são classificados em custos totais, custos médios e
custos marginais. Os custos totais e os custos médios podem ser fixos e variáveis.
Vejamos os conceitos e como são calculados os custos.
a) Custo total
Custo total (CT) é o total das despesas pagas pela firma para obten-
ção do produto total. Divide-se em custos variáveis totais e custos
fixos totais.

– 43 –
Teoria Econômica

A fórmula para calcular o custo total é:


CT = CVT + CFT
Custos variáveis totais (CVT) são a parcela do custo total que tem
variação quando a produção aumenta ou diminui. Os custos vari-
áveis são salários pagos na produção e respectivos encargos sociais,
taxa de energia utilizada na produção e matéria-prima.
A fórmula para calcular o custo variável total é:
CVT = CVMe ∙ Q
Custos fixos totais (CFT) são os gastos totais com fatores fixos de
produção. O custo fixo se refere aos salários da administração, alu-
guel, energia das áreas administrativas, conservação, seguros, depre-
ciação, etc.
A fórmula para o cálculo do custo fixo total é:
CFT = CFme ∙ Q
b) Custos médios e marginais
Custo total médio ou custo unitário (CTMe ou Cme) é o custo por
unidade de produto. Custo total médio é igual à divisão do custo
total pela quantidade produzida, ou seja:
CTMe = CT ÷ Q
Custo variável médio (CVMe) é o custo variável por unidade pro-
duzida. Portanto o custo variável médio é igual ao custo variável
total dividido pela quantidade de produto. Assim:
CVMe = CVT ÷ Q
Custo fixo médio (CFMe) é o custo fixo por unidade produzida. É
calculado dividindo-se o custo fixo total pela quantidade produzida.
Portanto:
CFMe = CFT ÷ Q
Custo marginal (CMg) é a variação do custo total quando há varia-
ção de uma unidade de produto. Para efetuar o cálculo, divide-se a
variação do custo total pela variação de uma unidade de produto.

– 44 –
Produção, custos e maximização do lucro

Portanto:
CMg = ΔCT ÷ .Q
Δ (delta) é o símbolo de variação na matemática.
A tabela 3 e as figuras 4 e 5 ilustram os custos de produção em uma
situação de curto prazo.
Tabela 3 – Custos de produção

Fonte: Vasconcellos (2004, p. 68).

Figura 4 – Custos totais

Fonte: O autor.

– 45 –
Teoria Econômica

Figura 5 – Custos médios e marginais

Fonte: O autor.
Esses dois gráficos tem como fonte Vasconcellos (2004, p. 68) e
demonstram as curvas relativas às variações ocorridas entre os custos de
produção que constam na tabela 3 anterior.
Na economia de mercado e, principalmente, na visão dos neoclás-
sicos, o objetivo maior da firma é a maximização dos lucros, tanto a
curto como a longo prazo. Para o desenvolvimento desse item, vejamos
os conceitos de lucro total, receita total, custo total, receita marginal e
custo marginal.

4.4 Maximização do lucro


Lucro Total = Receita Total – Custo Total
Fórmula: LT = RT – CT

Receita Total (RT) é o resultado do preço de venda (Pv) – quantidade (Q),


ou seja:
RT = Pv ∙ Q

Custo Total (CT) = custo fixo total (CFT) + custo variável total (CVT)
CT = CfT + CVT

– 46 –
Produção, custos e maximização do lucro

Receita marginal
RMg = variação da receita total / variação
de uma unidade vendida
Custo marginal
CMg = variação do custo total / variação
de uma unidade vendida

Para maximizar o lucro, o nível de produção deve satisfazer as duas con-


dições seguintes:
22 a diferença entre receita total e custo total seja máxima;
22 receita marginal (RMg) = custo marginal (CMg).

Tabela 4 – Maximização de lucros (Preço = RMg = 5,00)

Fonte: O autor.

– 47 –
Teoria Econômica

Tabela 5 – Maximização de lucros (Preço = RMg = 8,00)

Fonte: O autor.
A seguir, são demonstrados dois exemplos de maximização de lucros.
Observe na tabela 4, com o preço de venda em R$ 5,00 o nível de máximo
lucro esta na produção de 7 ou 8 unidades. Quando o preço considerado
passa a ser de R$ 8,00 (tabela 5), o nível de máximo lucro passa ser 10 ou 11
unidades. Isso demonstra a condição de maximização lucros, em que receita
marginal (RMg) = custo marginal (CMg).

4.5 Custos de oportunidade e custos contábeis


Custos de oportunidade, também denominados custos implícitos ou
custos alternativos, são custos que se referem à utilização dos recursos produ-
tivos. Vejamos algumas situações. Suponhamos que a firma utilize prédio de
sua propriedade. Ela não paga aluguel, e o custo de oportunidade é o valor do
aluguel que ela deixa de pagar. Outra situação é o estoque de matéria-prima.
O custo de oportunidade é o juro que renderia o valor pago na aquisição do
estoque. Ainda podemos considerar custo de oportunidade o trabalho do proprie-
tário da firma. O custo de oportunidade é o salário que ganharia em um emprego.
Caracteriza-se por não haver desembolso, ou seja, pagamentos pela firma.

– 48 –
Produção, custos e maximização do lucro

Custos contábeis, também chamados de custos explícitos, referem-se a


despesas e envolve desembolso monetário, isto é, pagamentos. Por exemplo,
o pagamento de salários, encargos sociais, tributos, taxas de energia, telefone
são custos contábeis.
Vamos nos aprofundar um pouco mais nesse assunto a seguir.

4.5.1 Enfoque econômico e contábil


do custo de oportunidade
O enfoque econômico proporciona orientação para que a melhor decisão
seja tomada, com base na premissa da otimização e suportada pelas hipóteses da
racionalidade e da liberdade de ação. Nesse sentido, os gestores têm liberdade
para agir e escolher a melhor opção, entre diversas, para tomar decisão.
Para a teoria econômica, Santos (2005b, p. 168) afirma que os custos de
oportunidade ou custos alternativos surgem
quando o decisor opta por uma determinada alternativa de ação em
detrimento de outras viáveis e mutuamente exclusivas, e, assim, repre-
sentam os benefícios que foram desprezados ao se escolher uma deter-
minada alternativa em função das outras.

Diversos são os conceitos de custo de oportunidade no enfoque


econômico. Pindyck e Rubinfeld citados por Santos (2005b, p. 169) expõem
que “são custos associados com as oportunidades que serão deixadas de lado,
caso a empresa não empregue seus recursos em sua utilização de maior valor”.
O enfoque contábil do custo de oportunidade é utilizado como um
mecanismo auxiliar e relevante do processo decisório dos gestores por meio
do fornecimento de informações ideais para que se desenvolvam melhores
critérios de avaliação do patrimônio e do resultado das organizações, diante
da mensuração econômica dos fatos ocorridos.
Sobre o enfoque econômico e contábil do custo, Santos (2005b) afirma
que alguns aspectos são imprescindíveis, como:
22 existirem pelo menos duas alternativas viáveis e mutuamente exclu-
sivas para o decisor;
22 referir-se a algum atributo específico do objeto de mensuração
ou avaliação;

– 49 –
Teoria Econômica

22 estar associado ao valor dos bens e serviços utilizados.


Assim o valor do custo de oportunidade é fornecido e validado pelo
mercado por meio de valor pontual no tempo, seja do valor presente dos
serviços futuros, do fluxo de benefícios esperados ou de determinada taxa
de juros.
Para finalizar este capítulo, você deve observar que a empresa tem como
principal finalidade a maximização dos lucros. Para tanto, ela procurará
contratar os insumos (matéria-prima, mão de obra, etc.) da forma mais
econômica possível. Também a empresa procurará dimensionar seu
tamanho de forma a obter o maior sucesso possível no mercado. A partir
dessas decisões, terá a dimensão de qual estratégia produtiva deve adotar no
curto e longo prazos.
No próximo capítulo, ao abordar a estrutura de mercado, estudaremos
o mercado de bens e serviços e o mercado de fatores de produção, suas
características e seu funcionamento. Vamos melhorar nosso conhecimento
sobre toda a classificação da estrutura do mercado, que são: concorrência
perfeita, monopólio, oligopólio e concorrência monopolística, bem como
monopsônio, oligopsônio e monopólio bilateral.

Conclusão
O tema abordado foi produção, custos e maximização do lucro. Vimos
que a produção é função da combinação de insumos, e a eficiência da pro-
dução ocorre quando os insumos são combinados de forma ótima. Os custos
de produção são derivados da combinação técnica de insumos. A eficiência
econômica da produção ocorre quando se consegue produzir a um menor
custo possível. A curva de possibilidade de produção é um modelo de análise
para a tomada de decisão sobre o que e quanto produzir. O lucro máximo
ocorre no nível produção em que o custo marginal (CMg) é igual à receita
marginal (RMg). E os custos de oportunidade, também denominados custos
implícitos ou custos alternativos, são custos que se referem à utilização dos
recursos produtivos.

– 50 –
5
Estruturas de
mercado

Nos capítulos três e quatro abordamos demanda, oferta, pro-


dução e custos, mas não fizemos distinção entre os tipos de mercado.
O mercado que funciona segundo as leis da demanda e da oferta é
denominado de concorrência perfeita ou mercado competitivo.
Teoria Econômica

Neste capítulo, veremos que existem outras estruturas de mercado, assim


você poderá descrever as características dos modelos ou estruturas. Antes de
começarmos, é importante que você saiba que no mercado de bens e serviços
as estruturas são: concorrência perfeita, monopólio, oligopólio e concorrência
monopolística. E, no mercado de fatores de produção, o mercado está assim
estruturado: concorrência perfeita, o monopsônio, o oligopsônio e o mono-
pólio bilateral.

Reflita
Quais as diferenças entre uma empresa no mercado competi-
tivo e uma empresa monopolista?

5.1 Mercado de bens e serviços


Esse mercado é composto de empresas que trabalham na produção de
bens e serviços que são destinados ao mercado de consumo final. A seguir,
apresentaremos toda sua estrutura.

5.1.1 Concorrência perfeita


Nesse modelo de mercado, as hipóteses básicas são:
22 existência de grande número de compradores e vendedores;
22 os produtos são homogêneos, substitutos perfeitos entre si;
22 livre entrada e saída de empresas, não havendo barreiras legais ou
econômicas;
22 transparência de mercado, sendo as informações do mercado
conhecidas de todos.
Quais empresas podem ser classificadas nesse modelo de mercado?
Certamente a maioria das micro, pequenas e médias empresas, agrícolas,
comerciais, industriais ou de prestação de serviços. Não pertencem à

– 52 –
Estruturas de mercado

concorrência perfeita, as pequenas empresas de alta tecnologia com pro-


duto diferenciado.
A formação do preço na concorrência perfeita é feita pelo mercado.
Nenhuma firma individualmente tem poder para determinar preços. Na
figura 1, podemos verificar o equilíbrio do mercado e da firma, mostrando
que o preço praticado pela firma é o preço de mercado.
Figura 1 – Equilíbrio do mercado e da firma em concorrência perfeita

Fonte: Vasconcellos (2004).


A curva de demanda da firma é uma reta paralela ao eixo das quantida-
des, mostrando que o preço é estabelecido pelas forças de mercado. Nenhuma
firma, isoladamente, tem condições de alterar o preço de mercado.
Agora vamos conhecer a estrutura que regulamenta as empresa no mer-
cado de bens e serviços conhecido como monopólio.

5.1.2 Monopólio
O monopólio é uma situação de mercado completamente oposta ao
mercado competitivo. Nesse modelo, existe um só produtor e o produto
não tem substituto próximo. Outra diferença é que há barreiras à entrada de
novas empresas.
A curva de demanda da firma monopolista é a própria curva de demanda
do mercado, pois a firma é única no mercado. O monopolista tem poder de

– 53 –
Teoria Econômica

mercado, ou seja, determina o preço de equilíbrio. Esse preço de equilíbrio


depende de sua capacidade de produção: quando aumenta a oferta, o preço
de mercado diminui; e quando reduz a oferta, o preço aumenta. A curva de
demanda é inclinada negativamente, conforme a figura 2.

Figura 2 – Curva de demanda do monopólio

Fonte: Vasconcellos (2004).

Uma característica do monopólio é a existência de barreiras à entrada de


outras empresas. Como isso acontece na prática? Quais mecanismos econô-
micos são utilizados? As barreiras à entrada de novas empresas são situações e
condições de mercado, como:
22 existência de monopólio puro ou natural, quando as empresas ope-
ram com grandes plantas industriais, grande economia de escala e
custos unitários baixos, exigindo grandes investimentos;
22 registro de patente, e a empresa é a única detentora de tecnologia
e direito de uso;
22 controle de matérias-primas básicas e estratégicas, como bauxita,
urânio, petróleo, alumínio;
22 existência de monopólios institucionais ou estatais, em setores
estratégicos da economia.
As empresas monopolistas realizam lucros extraordinários a curto e a
longo prazo. Isso é possível pela inexistência de empresas concorrentes e as
barreiras para entradas de outras empresas. Veja a seguir o oligopólio.

– 54 –
Estruturas de mercado

5.1.3 Oligopólio
O oligopólio é um modelo de estrutura de mercado comum nas economias
capitalistas. O que caracteriza o modelo é a existência de poucas firmas, produto
homogêneo ou diferenciado e barreiras para entrada de outras empresas.
A economia brasileira tem vários setores oligopolizados. Entre esses seto-
res podem ser relacionadas montadoras de veículos, indústria de bebidas e
indústria do aço.
Nas firmas oligopolistas, a decisão sobre quantidade a ser ofertada e pre-
ços funciona na forma de cartel ou liderança preço. No cartel, os produtores
se organizam de maneira formal ou informal para tomar decisões. Na maioria
dos países, o cartel é proibido, inclusive no Brasil. Quando atua na forma
de liderança de preços, uma firma reconhecida como líder fixa o preço e as
empresas lideradas adotam o preço fixado. No Brasil, a indústria de bebidas
adota essa forma de decisão.

5.1.4 Concorrência monopolística


Esse modelo de mercado tem características do mercado competitivo e
do monopólio. O modelo se caracteriza pela existência de grande número de
empresas que ofertam produtos diferenciados, mas sendo substitutos próxi-
mos. Podem ser citados perfumes, aparelhos de televisão, automóveis, produ-
tos farmacêuticos.
Sempre há alguma diferenciação que pode estar nas características físicas
do produto, como composição química, design, embalagem, nome comer-
cial, atendimento, brindes, pós-venda.
Como existem produtos substitutos no mercado, a margem de manobra
para fixação de preços é pequena.
O equilíbrio da firma, ou seja, o nível de produção e vendas que maximiza
o resultado é o mesmo do mercado competitivo e do monopólio. Qual é a
condição de maximização do lucro naquelas situações? Tente lembrar. Aqui
vai um lembrete para ajudar: depende da receita marginal e do custo marginal.
Outra estrutura de mercado, isto é, o de fatores de produção, é com-
posto pela oferta de recursos produtivos, como principalmente mão de obra,
matéria-prima.

– 55 –
Teoria Econômica

5.2 Mercado de fatores de produção


A demanda por fatores de produção é chamada de demanda derivada.
Demanda derivada porque o mercado de fatores depende da demanda do
mercado de bens e serviços. Por exemplo, a demanda de adubos na agricul-
tura depende da demanda por produtos agrícolas. Se a demanda de produtos
agrícolas cai, a tendência é cair a demanda por adubo.
No mercado de fatores de produção, as estruturas de mercado são a
concorrência perfeita, o monopsônio, o oligopsônio e o monopólio bilateral.
É o que veremos a seguir.

5.2.1 Concorrência perfeita


No mercado de trabalho, a concorrência perfeita é o mercado em que
a oferta de fator de produção é abundante, como a mão de obra não qualifi-
cada. Supondo que a oferta de mão de obra é em grande quantidade, o salário
pago ao trabalhador não qualificado é baixo.
No mercado de capitais, quando há excesso de oferta de fatores, a ten-
dência é diminuição de preços. Também quando há excesso de demanda, os
preços tendem a subir.

5.2.2 Monopsônio
Existe monopsônio quando só há um comprador. É o inverso do mono-
pólio quando há só um vendedor. Suponhamos, no mercado de trabalho que
uma empresa se instale em um local bem interiorano e seja a única emprega-
dora. Essa empresa se caracteriza como um monopsônio. Vamos supor, ainda,
que um laboratório fabrique um tipo de vacina que só o Ministério da Saúde
seja o comprador. Então o Ministério funciona como um monopsônio.

5.2.3 Oligopsônio
O que caracteriza o oligopsônio é haver poucas empresas compradoras
do produto ou serviço. É o mercado de insumos em que há poucos com-
pradores que negociam com muitos vendedores. Vamos supor uma cidade
onde haja dois lacticínios e centenas de produtores de leite. Os lacticínios

– 56 –
Estruturas de mercado

são oligopsônios. Outra situação que caracteriza oligopsônio é na indústria


de autopeças e montadoras de veículos. Pode haver dezenas de indústria de
autopeças e poucas montadoras de veículos.

5.2.4 Monopólio bilateral


Ocorre o monopólio bilateral quando há um monopólio e um
monopsônio conjuntamente. Vamos supor que exista apenas um laboratório
que fabrique determinada vacina, é o monopólio na fabricação. Suponhamos
também que apenas o governo compre essas vacinas, é o oligopsônio. Essa
situação se caracteriza como monopólio bilateral.
Tivemos, neste capítulo, a proposta de descrever as diversas estruturas
de mercado, analisar a condição de maximização dos resultados das empresas
e demonstrar graficamente o equilíbrio do mercado da firma na concorrência
perfeita. Você pôde observar que há características diferentes em cada estru-
tura, e que cada uma delas tem peculiaridades específicas.
O próximo capítulo será o início do estudo da macroeconomia.
Começaremos com a contabilidade social. Vamos aprender calcular produto,
renda e despesa nacional e também vamos diferenciar produto interno bruto
(PIB) do produto nacional bruto (PNB).

Conclusão
Neste capítulo descrevemos as características das diversas estruturas de
mercado, analisamos a condição de equilíbrio nos diversos modelos de mer-
cado e vimos que as empresas têm lucro normal e lucro extraordinário. Em
qualquer das estruturas de mercado, supõe-se que as empresas maximizam o
lucro total. No caso do oligopólio, a empresa maximiza margem entre receitas
e custos diretos (ou variáveis) de produção.
As estruturas de mercado dependem do número de empresas produ-
toras, homogeneidade ou diferenciação dos produtos e existência ou não de
barreiras à entrada de novas empresas.
No mercado de bens e serviços, a concorrência perfeita se caracteriza pela
formação do preço pelo mercado. Nenhuma firma individualmente tem poder

– 57 –
Teoria Econômica

para determinar preços. No monopólio existe um só produtor e o produto


não tem substituto próximo. O que caracteriza o modelo de oligopólio é a
existência de poucas firmas, produto homogêneo ou diferenciado e barreiras
para entrada de outras empresas. E, para a concorrência monopolista, há
grande número de empresas que ofertam produtos diferenciados, mas sendo
substitutos próximos.
No mercado de fatores de produção, a concorrência perfeita é o
mercado em que a oferta de fator de produção é abundante, como a mão de
obra não qualificada. Existe monopsônio quando só há um comprador, que
é o inverso do monopólio quando há só um vendedor. O que caracteriza o
oligopsônio é haver poucas empresas compradoras do produto ou serviço.
Por fim, ocorre o monopólio bilateral quando há um monopólio e um
monopsônio conjuntamente.

– 58 –
6
Externalidades e
bens públicos

Você deve reler os capítulos três e quatro, em que apresentamos


determinantes da demanda, oferta, produção, custos e maximização de
lucros. Nesse momento, também abordamos a forma como o sistema
de mercado organiza o seu processo de produção para ofertar os bens
e serviços de modo a satisfazer as necessidades dos consumidores
e a maximização do seu lucro. Esses tópicos contribuirão para o
entendimento da forma como o Estado intervém para corrigir as falhas
de mercados, as externalidades negativas e potencializar as positivas,
de modo a justificar a provisão de bens públicos e a regulação do
Estado no domínio econômico.
Teoria Econômica

Na vida real, mercados em concorrência perfeita são raríssimos, o que


acaba originando as falhas de mercado e externalidades que afetam o equilí-
brio competitivo de mercado e alocações ineficientes dos fatores de produção.
Isso justifica a intervenção do poder público como, por exemplo, na definição
dos direitos de propriedades e na regulamentação do processo produtivo.
Os agentes econômicos respondem a incentivos e são motivados a aten-
der exclusivamente seus próprios interesses, ou seja, a maximização das suas
satisfações. No caso das empresas, a maximização do lucro; e os cidadãos, a
melhoria do seu bem-estar social. No entanto você já deve ter percebido na
prática que ações realizadas por empresas ou pessoas afetam outras, positiva
ou negativamente e, muitas vezes, negligenciam os impactos das suas ações
sobre os outros agentes econômicos. Quando o conflito é iminente, quem
ajudará a resolver o impasse e quais serão esses critérios? Você já parou para
pensar sobre a questão?
Os assuntos que se seguem abordarão com detalhes o tema externalida-
des e intervenção governamental e como incidem sobre o equilíbrio compe-
titivo e a melhoria do bem-estar social.
A essa altura você deve estar se perguntando: o que determina as exter-
nalidades? Por que o Estado intervém para fornecer os bens públicos? Aliás,
você sabe definir com propriedade o que são bens públicos? Essas perguntas
começarão a ser respondidas nos tópicos seguintes.

6.1 Bens públicos, semipúblicos e privados


As categorias de bens são distinguidas em três: públicos, semipúblicos
e privados.
Os bens públicos possuem como características principais e que os
diferenciam dos privados a sua impossibilidade de exclusão de determinadas
pessoas ou grupos da sociedade, do seu uso/consumo, após a definição do seu
montante de produção. Ou seja, os bens públicos possuem como características
básicas a não rivalidade e a impossibilidade de exclusão de consumo.
Portanto, a não exclusão define o uso coletivo, dessa forma, um indivíduo
a utilizar-se, em dado momento, do serviço que é oferecido, não pode reduzir
substancialmente a oferta para as outras pessoas.

– 60 –
Externalidades e bens públicos

Essas características especiais tornam insuficiente a oferta desses bens


pelo sistema de mercado, pois torna impraticável para a empresa ofertar
um bem que pode ser consumido por qualquer um sem nenhum tipo de
remuneração, pois não é excludente, assim são ofertados pelo poder público.
Os bens semipúblicos (ou meritórios) possuem parte das características
dos bens públicos e são definidos pelo mérito da sua oferta. São excludentes,
mas podem ser ofertados pelo mercado ou pelo o governo que, inclusive, é
cada vez mais exigido a ofertar dado o valor social que a sociedade atribui a
esses bens como forma de melhorar seu bem-estar social. Como exemplo,
temos: educação, saúde, assistência social e saneamento básico.
Os bens semipúblicos possuem como característica crucial a sua
capacidade de gerar externalidades, isto é, benefícios advindos de seu consumo
não se internalizam integralmente pela pessoa que o consome, tendo uma
capacidade de repercussão por toda a sociedade.
Os bens privados, ao contrário dos públicos, são os que podem ser
divididos e proporcionados de forma separa aos diferentes indivíduos, sem
benefícios nem custos externos para os outros. No caso dos bens privados,
os níveis de produção são determinados pelo mercado, em síntese são bens
excluíveis e rivais.


Para você não ter dúvida se um bem é público, semipúblico
ou privado, faça sempre as indagações a seguir.
O bem é excluível? Pode-se impedir
as pessoas de usar o bem?
O bem é rival? Várias pessoas poderão desfrutar
de um bem sem prejuízo das demais?

O fornecimento eficiente de bens públicos exige frequentemente ação


do governo, enquanto que os bens privados podem ser eficientemente dis-
tribuídos pelo mercado. Quando isso não acontecer, o estado intervém ofer-
tando o regulando a atividade.

– 61 –
Teoria Econômica

6.2 Falhas de mercado e produção


de externalidades
O problema da externalidade é verificado porque, no ato de consumir
ou produzir, as empresas e as pessoas consideram os seus benefícios e os custos
privados, e não os benefícios e os custos sociais envolvidos nas suas atividades.
Samuelson (1999, p. 331) versa que:
uma externalidade ocorre quando a produção ou o consumo causam
custos ou benefícios involuntários a terceiros. Mais precisamente,
uma externalidade é um efeito do comportamento de um agente
econômico no bem-estar de outro agente econômico sem que essa
influência seja refletida em transações mercantins.

Em outras palavras, esses agentes econômicos não recebem/percebem


via sistema de mercado a sinalização correta dos custos ou benefícios das
suas ações, deduz-se, portanto, que as externalidades são originadas das
imperfeições de mercado.
As externalidades podem ocorrer de forma positiva ou negativa. As
positivas ocorrem quando o benefício social gerado por determinada atividade
for maior ou igual ao benefício privado. No entanto, com a externalidade
negativa, o custo social é maior que o custo privado.
Você certamente já se perguntou: por que as externalidades negativas
provocam ineficiência econômica? Tornaremos mais simples o seu
entendimento por meio de um exemplo. Considere uma indústria. No
seu processo produtivo, ela produz bens privados que serão ofertados no
mercado. No entanto, ao lançar a poluição na atmosfera, na água ou no solo,
ela afeta a coletividade, acarretando um risco à saúde pública, portanto uma
externalidade negativa.
Em função disso, o custo de produção da indústria para a sociedade é
maior do que o custo para a indústria produtora do bem. O que nos remete a
outra pergunta: qual o nível que a indústria deveria produzir? Ou o governo
estabelece um nível menor de produção para igualar os custos e os benefícios,
tornando possível o equilíbrio econômico e de bem-estar social ou tributar a
indústria a cada unidade comercializada progressivamente. Ou seja, quanto
maior o nível, mais os impostos aumentarão, desestimulando um nível de
produção crescente e, ao mesmo tempo, a reversão dos recursos arrecadados

– 62 –
Externalidades e bens públicos

para melhorar o sistema de saúde e realizar ações que diminuam os efeitos


da poluição, o que chamamos de internalização de uma externalidade.
Isso significa alteração dos incentivos de modo que as pessoas levem em
consideração os efeitos externos de suas ações.
Esse tipo de situação acontece porque, em um ambiente não
regulamentado, as empresas fixam os seus níveis mais lucrativos de poluição,
ao igualarem o dano privado da poluição ao custo da despoluição. Por isso a
necessidade de uma análise de custo-benefício, em que os padrões de eficiência
são estabelecidos pela igualdade entre os custos marginais de uma ação e os
benefícios marginais dessa ação.
No caso das externalidades positivas (custos sociais inferiores aos
custos privados), os governos podem incentivar/subsidiar sua produção para
aumentar a produção, garantindo um equilíbrio de mercado de tal forma que
o ótimo social seja igual ao subsídio dado.

6.3 Falhas de governo


O poder público de uma maneira geral usa seus recursos de forma
alternativa na produção de bens públicos, semipúblicos e subsídios à sociedade
e empresas. No entanto algumas decisões governamentais são ineficientes e
podem trazer prejuízos à sociedade. E por que os governos algumas vezes
tomam decisões ineficientes?
Um dos motivos é a informação inadequada, pois ele precisa decidir se
ofertará bens públicos e semipúblicos, portanto deve comparar os benefícios
e custos. Mas é sempre complicado fazer isso, pois os beneficiários tendem a
subestimar ou superestimar seus benefícios pessoais.
Um sistema inflexível de impostos também gera ineficiências, pois se
a sociedade desejar que todos aprovem um bem público ou semipúblico
eficiente, devemos fazer coincidirem seus benefícios e custos, nesse caso
representado pela carga tributária. Outra razão e essa certamente muito
evidente no cenário político é a atuação dos grupos de interesse, em que
poucas pessoas, mas com alto poder de persuasão e influência, acabam
obtendo grandes benefícios e os custos socializados por muitos.

– 63 –
Teoria Econômica

6.4 Políticas públicas para as externalidades


Você já deve ter refletido sobre a questão e considerado alguns pontos,
por exemplo: que soluções podem ser implementadas para combater as
externalidades negativas? Inicialmente, podemos responder que as mais
visíveis são os programas governamentais antipoluição, que usam controles
diretos ou incentivos financeiros. Vamos verificar como eles se dão?
Ao regulamentar, o governo pode solucionar/mitigar uma externalidade
tornando certos comportamentos ou exigidos ou proibidos. Em todos os
casos, para formular regras adequadas, os regulamentadores governamentais
precisam conhecer detalhadamente as atividades a serem regulamentadas e o
uso das tecnologias a serem adotadas, o que coibirá uma falha de governo, a
assimetria de informações.
O governo também pode utilizar políticas baseadas no mercado para
alinhar incentivos privados e eficiência social. Por exemplo, aumentar
a tributação para atividades poluidoras e subsidiar aquelas que gerem
externalidades positivas. A regulamentação determina o nível de poluição.
Por exemplo, enquanto o imposto proporcionará aos poluidores incentivos
econômicos para reduzir a poluição.

Reflita
Qual a melhor solução, em sua opinião: regulamentação ou
incentivos econômicos?

Se o imposto for demasiadamente elevado, a empresa terá dificuldade


em maximizar o seu lucro. Não realizando, as empresas fecharão e a poluição
será nula, mas como fica a provisão de bens e serviços no sistema de mercado?
E os funcionários e toda a cadeia produtiva?

6.5 Soluções privadas para as externalidades


Nem todas as soluções podem ou devem ser resolvidas pelo governo, em
algumas situações é possível desenvolver soluções privadas. Duas abordagens

– 64 –
Externalidades e bens públicos

podem proporcionar um resultado moderadamente eficiente: as negociações


particulares e as normas de responsabilização. Às vezes, as externalidades
podem ser resolvidas por meio de códigos morais e sanções sociais.
A negociação e o teorema de Coase implicam na decisão de o governo não
intervir. Dessa forma, existe uma proposição de que os agentes econômicos
privados possam negociar sem custos a respeito da alocação de recursos, o que
provocaria uma negociação e a solução para a externalidade. Com respectiva
alocação eficiente do recurso, em tese essa é a explicação do teorema, mas na
prática nem sempre é alcançado um acordo.

Saiba mais
O Wikipédia é uma das maiores enciclopédias livres. A página
inicial explica que o Teorema de Coase foi concebido pelo
prêmio nobel de economia Ronald Coase e que, em síntese,
seu modelo baseia-se na capacidade de negociação dos agen-
tes envolvidos a partir dos seus direitos de propriedade.

As condições para o estabelecimento da negociação ocorrem em


situações que existam direitos de propriedade definidos e os custos de
negociação ou são inexistentes ou pequenos. Também pode ocorrer de
haver reduzido número de agentes afetados que conseguem se organizar e
negociar para uma solução eficiente.
As normas de responsabilidade é o enquadramento legal, ou seja, as
leis de responsabilidade civil ou no sistema de danos causados, em vez de
basear-se nas regulamentações governamentais. Nesse caso, o causador das
externalidades é legalmente responsável por quaisquer danos causados a
terceiros. Um exemplo bem claro para esse tipo de situação são os acordos
entre os moradores de um condomínio.
Podemos concluir que uma das maiores falhas do sistema de mercado são
as externalidades, motivos de preocupação e negociações no mundo inteiro,
principalmente as relacionadas às questões ambientais. E que os agentes

– 65 –
Teoria Econômica

econômicos afetados por externalidades podem, às vezes, resolver o problema


no âmbito privado. Quando não conseguem, o governo frequentemente
entra em cena, regulamentando, com subsídios ou impostos.
No capítulo seguinte, enfatizaremos a Contabilidade Social, ou seja, o
registro contábil da atividade produtiva de um país. Enfatizaremos princípios
básicos e os modelos simplificadores da economia, como uma economia
fechada sem governo até chegarmos com uma economia com governo e
aberta ao setor externo.

Conclusão
Neste capítulo, o tema desenvolvido foi a externalidades e os bens públicos.
Conceituamos os bens públicos, semipúblicos e privados, considerando suas
características básicas de (não) exclusão e (não) rivalidade. Discutimos as
falhas de mercado, que originam as externalidades, ou seja, situação em que
ocorrem benefícios ou custos involuntários a terceiros. Também observamos
as falhas de governo, que acontecem principalmente devido às assimetrias das
informações, sistema inflexíveis de impostos e grupos de pressão. Por fim,
apresentamos as políticas públicas para as externalidades e as privadas.

– 66 –
7
Contabilidade social

Para uma melhor compreensão deste capítulo, observe a intro-


dução geral, pois foram abordados os conceitos de microeconomia
e macroeconomia e seus elementos diferenciadores. Esses conheci-
mentos contribuirão para entender a importância da contabilidade
social para a mensuração da produção, renda e da despesa total de
uma economia.
Enquanto a microeconomia lida com as decisões indivi-
duais de produtores e consumidores, a macroeconomia trata do
somatório das transações que são realizadas pelas organizações que
Teoria Econômica

intervêm no processo produtivo da economia, que são chamados de agrega-


dos econômicos. A macroeconomia estuda a economia como um todo, ou
seja, explica as mudanças econômicas que afetam nossas famílias, empresas e
mercados simultaneamente. Por nos afetar profundamente, as variações nas
condições econômicas são amplamente noticiadas na mídia.
Se você fosse julgar o sucesso econômico de uma pessoa, observaria em
primeiro lugar sua renda. Um cidadão com uma renda elevada pode adquirir
bens e serviços com maior facilidade, a mesma lógica se aplica à economia
nacional . Ao analisarmos o êxito da economia é natural observar a renda total
gerada na economia. Por isso, neste capítulo, apresentaremos os conceitos de
sistema de contabilidade social, o produto, a renda e a despesa nacional. Mas
o que determina o crescimento da renda e do produto nacional? Por que, na
experiência econômica das nações, há períodos de crescimento, outros de
estagnação e até depressão econômica?

7.1 Sistemas de Contabilidade Social


A Contabilidade Social é o registro contábil da atividade produtiva de
um país em um período de tempo, geralmente um ano. Define e mede os
principais agregados macroeconômicos. Os três agregados são: o produto, a
renda e a despesa, considerando valores já realizados.
O produto corresponde à soma de todos os bens e serviços finais
produzidos em uma determinada economia, contabilizados normalmente em
um período de um ano. A renda refere-se à soma de todas as remunerações
percebidas pelos proprietários dos fatores de produção como pagamento
pela utilização de seus serviços nas atividades produtivas. E a despesa é o
somatório dos gastos efetuados pelos agentes econômicos na aquisição dos
bens e serviços finais produzidos pela sociedade.
Os principais sistemas de contabilidade social são o sistema de contas
nacionais e a matriz de relações intersetoriais.
O sistema de contas nacionais utiliza o método das partidas dobradas,
discriminando as transações entre os agentes macroeconômicos: famílias,
empresas, governo e setor externo.

– 68 –
Contabilidade social


Método das partidas dobradas constitui a base do sis-
tema contábil moderno, no qual todas as transações de
uma economia são decompostas em dois elementos
básicos: a origem dos recursos e o destino dos recur-
sos, sendo que a soma dos elementos do primeiro
deve ser igual à soma dos elementos do segundo.

A matriz de relações intersetoriais (insumo-produto ou Leontief )
registra também as transações intersetoriais. No entanto, o sistema de contas
nacionais é o mais utilizado. Nesta obra estudaremos o sistema de con-
tas nacionais.
Portanto, não abordaremos o sistema de matriz insumo-produto por ser
um sistema não mais utilizado na contabilidade social pelos países desenvol-
vidos e nem pelo Brasil. Atualmente, somente o sistema das contas nacio-
nais é utilizado para registrar e medir os agregados macroeconômicos. Em
resumo, esses são os conceitos iniciais do sistema de contabilidade social que
auxiliarão você a entender os princípios básicos das contas nacionais, nossos
próximos passos.

7.1.1 Princípios básicos das contas nacionais


No levantamento de dados e cálculo dos agregados macroeconômicos,
você deve observar algumas normas.
Vasconcellos (2004, p. 98) ensina que “são consideradas apenas as
transações com bens e serviços finais. Não entram no cálculo bens e serviços
intermediários, como matéria-prima e outros componentes da produção”.
O Produto Interno Bruto (PIB) expressa o resultado final das atividades
econômicas de produção realizadas dentro do espaço econômico do país, não
incluídas as transações intermediárias. É calculado no Brasil por três ângulos
convencionais: o da produção, da renda e do dispêndio (também conhecido
como Demanda Agregada – DA).
Ao utilizar estes métodos, só é calculada a produção corrente do próprio
período. As transações com bens produzidos em períodos anteriores não

– 69 –
Teoria Econômica

são consideradas. A moeda é a unidade de medida, permitindo a agregar o


valor de bens e serviços diferentes. Os valores das transações financeiras não
são registrados. A movimentação financeira de depósitos, financiamentos,
negócios em Bolsa de Valores, etc. são considerados apenas transferências e
não acréscimo no produto.
Neste sentido, como o PIB é calculado por três óticas, devemos entender
que o resultado deve ser sempre o mesmo. Por isso, é necessário saber que a
identidade fundamental na Contabilidade Nacional é a de que:
Produto = Renda = Despesa
Para entendermos como é feita a mensuração desses agregados
macroeconômicos, bem como para verificarmos a identidade fundamental,
recorreremos a modelos simplificadores da economia, como veremos a seguir.

7.2 Economia fechada sem


governo: famílias e empresas
Vasconcellos (2004, p. 203), sobre uma economia fechada, afirma que:
Numa economia fechada, sem governo, supõe-se que as famílias e
empresas são os agentes econômicos. Quais as relações econômicas
entre famílias e empresas? O conjunto das relações econômicas
entre famílias e empresas é denominado fluxo circular da renda.

O fluxo circular de renda descreve todas as transações entre famílias e


empresas em uma economia simples. Nessa economia, as famílias compram
bens e serviços das empresas; essas despesas fluem por meio dos mercados
de bens e serviços. As empresas, por sua vez, usam o dinheiro recebido
das vendas para pagar os salários dos trabalhadores, a renda dos donos de
terra e os lucros dos proprietários das empresas; essa renda flui por meio
dos mercados de fatores de produção. Assim, nessa economia, a moeda
flui continuamente das famílias para as empresas e das empresas para
as famílias.
Para simplificar o seu raciocínio, veremos um modelo de economia
fechada sem governo, ou seja, somente com dois setores econômicos, isto é, o
conjunto de relações entre as empresas e as famílias.

– 70 –
Contabilidade social

Figura 2 – Fluxo circular da renda – economia fechada com governo

Fonte: O autor.
Observe que a parte de cima da figura é representada pela renda (Y)
e a parte de baixo é representada pelo consumo (C) e pelo investimento
(I). Neste modelo, para que haja equilíbrio, a função que representa esta
relação é:


Pela ótica da renda:
Y=C+S
Pela ótica da demanda agregada (DA):
DA = C + I

As famílias ofertam às empresas os recursos produtivos – trabalho,


capital, dinheiro e bens de aluguel – e recebem a remuneração (Y) pelos
recursos fornecidos, na forma de salários, lucros, juros e aluguel. As empresas
demandam estes recursos de produção e pagam pelos serviços na forma de
salários, lucros, juros e aluguel.

– 71 –
Teoria Econômica

Na continuação das relações econômicas, as empresas produzem e


ofertam, para as famílias, bens e serviços. As famílias compram (C) os bens
e serviços e pagam o preço da aquisição. Da mesma forma, uma parcela da
renda é mantida como poupança (S).
Podemos observar que há dois fluxos econômicos distintos. O primeiro
é o fluxo real da economia representado pela oferta de fatores de produção
– recursos produtivos: trabalho, dinheiro, capital e bens de aluguel – pelas
famílias e a oferta de bens e serviços pelas empresas. O segundo fluxo é
monetário, em que as empresas pagam às famílias salários, lucros, juros e
aluguel, e as famílias pagam às empresas pela compra de bens e serviços.

7.2.1 Formação de capital


Na economia de dois setores, supomos que as famílias apenas consomem,
e as empresas produzem bens de consumo. Entretanto as famílias fazem
poupança, e as empresas investem.
Veremos a seguir os conceitos e equações com as variáveis da poupança
e do investimento agregado:
22 Poupança agregada (S): Vasconcellos (2004, p.104) ensina que
“poupança agregada (S) é a parcela da renda nacional (RN) que não
é consumida no mesmo período. Portanto é a parte dos salários,
lucros, juros e aluguel não gastos em consumo (C)”.
S = RN – C
22 S = saving em inglês; RN = Renda Nacional; C = Consumo
22 Investimento agregado (I): Vasconcellos escreve sobre o investimento
agregado como gasto com bens produzidos e não consumidos no
período e diz que o investimento agregado, conhecido como taxa de
acumulação de capital, é formado pelo investimento em bens de capi-
tal e pela variação de estoque (VASCONCELLOS, 2004, p. 105).
Portanto, o investimento total na economia é igual a: I = FBKF + Ve
22 Investimento total = Investimento em bens de capital +
variação estoques. Onde:
FBKF: Formação Bruta de Capital Fixo

– 72 –
Contabilidade social

7.3 Economia fechada com


governo: setor público
Agora vamos trabalhar com uma economia fechada com governo. O
governo inclui União, Estados e Municípios. São consideradas as transações
financeiras dos tesouros federal, estadual e municipal. As operações do Banco
Central, como empréstimos, depósitos, taxa de juros e taxa de câmbio, não
são incluídos.
Com a entrada do setor público, vamos incluir, em nossos registros, a
receita fiscal, os gastos e o superávit ou déficit do governo.
Figura 3 – Fluxo circular da renda – economia aberta com governo

Fonte: O autor.

– 73 –
Teoria Econômica

Observe que a parte de cima da figura é representada pela renda (Y) e a


parte de baixo é representada pelo consumo (C), pelo investimento (I) e pelos
gastos do Governo (G). Neste modelo, para que haja equilíbrio, a função que
representa esta relação é:


Pela ótica da renda:
Y=C+S+T
Pela ótica da demanda agregada (DA):
DA = C + I + G

A receita fiscal do governo compreende:


22 impostos indiretos que incidem sobre transações com bens e servi-
ços, como IPI, ICMS, ISS;
22 impostos diretos que incidem sobre a renda e a propriedade das pes-
soas físicas e jurídicas, como imposto de renda (IR), IPTU, IPVA;
22 contribuições à previdência (INSS) tanto dos empregados quanto
dos empregadores;
22 outras receitas, como taxas, multas, pedágios.
Os gastos do governo são classificados em:
22 gastos dos ministérios e autarquias que é o total de despesas corren-
tes ou de custeio e despesas de capital;
22 gastos das empresas públicas e sociedades de economia mista;
22 gastos com transferências e subsídios. Transferências e subsídios não
são computados como parte da renda nacional. São apenas trans-
ferências do setor público para o setor privado. As transferências
são aposentadorias, pensões, bolsa de estudo, programas sociais,
como bolsa-família, seguro desemprego. Subsídios são benefícios
às pessoas jurídicas, como redução ou isenção de impostos indire-

– 74 –
Contabilidade social

tos. Têm o objetivo de incentivar a produção de determinados bens


e serviços.
O superávit ou déficit é classificado em:
22 superávit ou déficit primário, quando se calcula a diferença entre
arrecadação e gastos no período, excluindo os juros das dívidas
interna e externa. O período considerado é de um ano. Nos últimos
anos, o Brasil tem registrado superávit primário;
22 superávit ou déficit operacional, quando se calcula a diferença
entre arrecadação e gastos no período incluindo o gasto com juros
reais (sem correção monetária ou cambial);
22 superávit ou déficit nominal, quando a diferença entre arrecadação
e gastos inclui os juros nominais (com correção monetária ou cam-
bial). Portanto, se o total da arrecadação é superior aos gastos do
governo, temos uma situação de superávit. Quando a arrecadação
é inferior aos gastos, então há déficit. O déficit é conhecido como
necessidade de financiamento do setor público.

Reflita
Você concorda com os cientistas políticos e economistas que
acreditam que os índices de aprovação do Presidente da Repú-
blica são afetados pelas condições econômicas?

Ainda há um item que você deve conhecer, a renda pessoal disponível.


Renda pessoal disponível é a parte da renda nacional que fica em poder das
famílias. De forma prática, é subtraído da renda nacional líquida a custo de
fatores (RNLcf ), o que fica retido nas empresas, os impostos e contribuições
que incidem sobre a renda e adicionado as transferências do setor público
para o setor privado.
Renda Pessoal Disponível = RNLcf – lucros retidos pelas empresas –
impostos diretos – contribuições previdenciárias – outras receitas de governo
+ transferências de governo.

– 75 –
Teoria Econômica

7.4 Economia aberta com


governo: setor externo
Com a economia a quatro setores, temos uma economia aberta, com
governo. Novas variáveis serão incluídas, como exportação, importação e
renda líquida externa.
Neste modelo quando se inclui o Governo e o “resto do mundo”,
podemos perceber, por meio do fluxo circular de renda, a relação entre
consumo (C), poupança (S), investimentos (I), tributos (T) que financiam
os gastos do governo (G) e a economia nacional que se relaciona com outros
países por meio do comercio internacional (X-M).
As exportações (X) representam os bens e serviços produzidos no
país e vendidos a outros países. As importações (M) são os bens e serviços
comprados no exterior.
Figura 3 – Fluxo circular da renda – economia aberta com governo

Fonte: O autor.

– 76 –
Contabilidade social

Observe que a parte de cima da figura é representada pela renda (Y) e a


parte de baixo é representada pelo consumo (C), pelo investimento (I), pelos
gastos do Governo (G) e pelo saldo comercial das transações internacionais
(X-M). Neste modelo, para que haja equilíbrio, a função que representa esta
relação é:


Pela ótica da renda:
Y=C+S+T
Pela ótica da demanda agregada (DA):
DA = C + I + G + (X-M)

Obs.: A ótica da demanda agregada (DA) é o método pelo qual é


calculado o PIB no Brasil.
Seguindo nossos estudos sobre contabilidade nacional, o que diferencia
o PIB do PNB é a renda líquida de fatores externos (RLFE). A RLFE é a
remuneração dos capitais estrangeiros.
A renda líquida de fatores externos (RLFE) é a diferença entre rendas
recebidas do exterior (RR) e rendas enviadas ao exterior (RE) para o exterior.
As rendas recebidas do exterior e remetidas para o exterior referem-se a lucros
das empresas, renda do trabalho, entre outras.
Vejamos:
22 Renda enviada ao exterior (RE). Representa a remuneração do
capital e da tecnologia de propriedade de não residentes na forma
de remessa de lucros, royalties, juros, assistência técnica.
22 Renda recebida do exterior (RR). Significa a remuneração do
capital e tecnologia de empresas nacionais que operam em outros
países. Essa remuneração pode ser lucros, royalties, juros, assis-
tência técnica.
Para calcular o PIB e o PNB. Então:

– 77 –
Teoria Econômica

PNB = PIB + RR – RE
RLFE = RR - RE
PNB = PIB + RLFE
Obs.: Se a RE for maior que RR, temos que RLFE é negativa. Desta
forma, o PIB é maior do que o PNB. Se RE é menor que RR, o PIB é
menor que o PNB.

7.5 Óticas de cálculo dos


agregados macroeconômicos
Analisando os fluxos econômicos apresentados nos itens 7.2, 7.3 e
7.4, que são os resultados da atividade econômica, podemos perceber que
há três possibilidades para calcular os agregados macroeconômicos: pela
ótica da produção, pela ótica da despesa e pela ótica da renda, cálculos que
realizaremos em conjunto.

7.5.1 Ótica do produto nacional (PN)


Vasconcellos (2004, p. 101) afirma que “produto nacional é o valor de
todos os bens e serviços finais, medidos a preço de mercado, produzidos em
determinado período de tempo”.
O valor permite agregar bens e serviços diferentes. São considerados
apenas os bens e serviços finais. Os bens Intermediários, como matéria-prima,
não são incluídos na mensuração. Esse procedimento evita a dupla contagem.
O que podemos entender por dupla contagem? O exemplo nos ajudará a
elucidar a questão: só o pão, bem final, é somado. Não se somam trigo e
farinha de trigo, bens intermediários. Para calcular o produto, a fórmula é:
PN = ∑ pi.qi
22 PN = Produto Nacional
22 Pi = Preço unitário de bens e serviços finais
22 Qi = Quantidade produzida dos bens e serviços finais
22 ∑ = Símbolo de somatório, soma

– 78 –
Contabilidade social

Aplicando os elementos da fórmula e desenvolvendo-a, temos:


PN =∑pi.qi = P(veículo).Q(veículo)+P(televisor).Q(televisor)+...+
P(calçado).Q(calçado)
Portanto, a estimativa pelo ângulo da produção corresponde à
totalização dos custos de processamento das empresas, ou seja, a diferença
entre o valor bruto da produção e o valor dos insumos adquiridos de outras
empresas para reprocessamento.
No Brasil, os custos de processamento da produção, que correspondem
ao conceito de valor adicionado, são avaliados por atividades produtivas.
Você sabe quais são as atividades produtivas, então atente ao quadro a seguir.


As atividades primárias, denominadas genericamente
de agropecuária, incluem lavouras, produção animal,
extração vegetal e a silvicultura. As atividades secundárias
compreendem quatro categorias de indústrias: extrativa
mineral, de transformação, de construção e suprimento
de bens públicos e semipúblicos, as atividades terciárias
incluem os serviços, privados e de governo.

7.5.2 Ótica da despesa nacional (DN)


Despesa Nacional é o valor dos gastos dos agentes econômicos. Para
calcular a despesa nacional, a fórmula é:
DN = C + I + G + (X-M)
22 DN = Despesa Nacional
22 C = despesas das famílias com bens de consumo
22 I = despesas das empresas com investimentos
22 G = despesas do governo; gastos de custeio e de investimento
22 X-M = despesas líquidas do setor externo (X – exportações; 
– importações)

– 79 –
Teoria Econômica

Então a despesa nacional representa os gastos das famílias, das empresas,


do governo e do setor externo, na compra dos bens e serviços, que é o
produto nacional.

7.5.3 Ótica da Renda Nacional (RN)


Vasconcellos (2004, p. 103) define que “renda nacional é a soma
dos rendimentos pagos às famílias pela utilização dos serviços de fatores
produtivos”. Quem paga esses rendimentos são as empresas. Os rendimentos
são classificados em salários, lucros, juros e aluguel. A fórmula para calcular
a renda nacional é:

RN = W + J + L + A

22 W = salários (em inglês wages)


22 J = juros
22 A = aluguel
22 L = lucros
Como podemos saber o valor agregado de salários, juros, aluguel e
lucros? Para isso, o IBGE tem um banco de dados, usando informações do
setor privado e do setor público. Veremos a seguir a identidade básica das
contas nacionais.
PN = DN = RN

22 (Produto Nacional = Despesa Nacional (ou DA) = Renda Nacional)

7.5.4 Valor adicionado ou valor agregado (VA)


Vasconcellos (2004, p. 103) explica que “valor adicionado ou valor
agregado é o valor que se adiciona ao produto em cada estágio da produção,
ou seja, é a renda adicionada por setor produtivo”.
Estágio da produção são as etapas do processo produtivo. O valor
adicionado é a diferença entre vendas e o custo dos bens intermediários.

– 80 –
Contabilidade social

Tabela 1 - Valor Adicionado

Fonte: Vasconcellos (2004, p. 103).

Observando a tabela 1, cada linha representa um estágio da produção,


neste caso são três estágios: trigo, farinha de trigo e pão. Em cada estágio,
temos o valor bruto da produção (VBP) e o custo dos bens intermediários. A
diferença é o valor adicionado.
Concluímos, ao final deste capítulo, que o principal objetivo da
Contabilidade Social, como expusemos, consiste em produzir uma mensuração
quantitativa dos principais agregados macroeconômicos de um país, ou seja,
o produto, a renda e o dispêndio. O produto por ser a produção de todos os
bens e serviços finais da economia em determinado período de tempo, define o
crescimento econômico. Dessa forma, a Contabilidade Social apresenta as várias
formas de medir os diversos agentes econômicos envolvidos no funcionamento
da economia (famílias, empresas, governo e o resto do mundo).

Saiba mais
Você sabe qual a diferença entre Produto Interno Bruto e Pro-
duto Nacional Bruto e, no caso brasileiro, qual o maior? Para

– 81 –
Teoria Econômica

saber mais, leia com atenção. O prof. Roberto Macedo, PhD


Universidade Harvard (EUA), escreveu o seguinte texto:
O PNB É PIOR QUE O PIB. O Produto Interno Bruto é
considerado por muitos a melhor medida do desempenho da
economia, pois o objetivo do PIB é resumir em um único número
o valor em dólares da atividade econômica em um determinado
período. No entanto, segundo o prof. Roberto Macedo,
quatro décadas atrás, o indicador mais difundido era o Produto
Nacional Bruto, depois, virou moda o Produto Interno Bruto,
e sua exposição argumenta que precisamos recuperar a atenção
que o PNB recebia no passado, pois este mede a produção
nacional, entendida como tal a dos seus fatores de produção,
independentemente do país em que atuem. Como no Brasil
esta é negativa, o PNB é menor que o PIB, por isso, segundo
PhD. Roberto Macedo, é o mais utilizado.
Para maiores informações, acesse: <http://www.unb.br/face/
eco/inteco/textosnet/2parte/por_que_o_pib_e_maior_
que_o_pnb.pdf>

No próximo capítulo, trataremos da determinação da renda nacional,


do conceito da demanda efetiva e oferta agregada e explicaremos como o
consumo agregado e o investimento agregado influenciam o crescimento do
produto. Por fim, você verá como a política fiscal é utilizada para estimular a
demanda e controlar a inflação.

Conclusão
Neste capítulo, o tema desenvolvido foi a Contabilidade Social, ou
seja, o registro contábil da atividade produtiva de um país. Enfatizamos seus
princípios básicos, pois só devem ser consideradas apenas as transações com
bens e serviços finais. Em seguida, apresentamos os modelos simplificadores
da economia: iniciamos com uma economia fechada sem governo (famílias

– 82 –
Contabilidade social

e empresas, cujas relações econômicas são determinadas no fluxo circular


de renda). Desenvolvemos os cálculos dos agregados macroeconômicos,
pela ótica da produção, do dispêndio e da renda e, por fim, os modelos
econômicos completos: economia fechada com o governo e aberta com o
governo e setor externo.

Saiba mais
A crise econômica está abalando as economias mundiais e,
portanto, com efeitos significativos na economia brasileira. Mas
você sabe como essa crise internacional afeta o PIB e o PNB
brasileiro? Luciano Lima Pereira procura explicar quais os efei-
tos da crise internacional. Inicialmente, o autor aborda a solidez
do nosso sistema financeiro, e as diferenças do nosso sistema
em relação à Europa e Estados Unidos, ressalta o bom desem-
penho dos últimos anos das nossas exportações ao mesmo
tempo em que alerta para o risco de descapitalização das gran-
des empresas multinacionais.
Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/
economia-e-financas/como-a-crise-internacionalafeta-o-pib-e-o-
-pnb-brasileiros/25533/>.

– 83 –
8
Determinação
da renda e
do produto
nacional

Para iniciarmos os estudos deste capítulo, você deverá


ativar seus conhecimentos sobre a introdução geral. Naquele
momento, versamos sobre o problema econômico básico, os modos
de produção e a história do pensamento econômico, com ênfase
nos principais pensadores, que embasam e situam de forma mais
apropriada a Ciência Econômica e as transformações ocorridas na
forma de provisão de bens e serviços para atender as necessidades da
sociedade. Esses temas serão importantes para você compreender a
importância da determinação da renda e do produto nacional para
análise da conjuntura de um país.
O que determina o crescimento da renda e do produto
nacional? Por que na experiência econômica das nações há períodos
de crescimento, outros de estagnação e até depressão econômica?
Teoria Econômica

Por que a China cresce atualmente, em média, 10% a.a., e a Europa a 2%


a.a.? Neste capítulo, veremos um pouco de história da crise do capitalismo na
década de 30 e criação do modelo keynesiano. Esse modelo é utilizado para
explicar o crescimento do produto e da renda nacional.
Os economistas seguidores das escolas clássicas e neoclássicas acreditavam
que o mercado era capaz de regular o fluxo econômico e o pleno emprego dos
recursos produtivos. Essa crença durou até 1930. A crise econômica do sistema
capitalista, a quebra da Bolsa de Nova York e o desemprego em massa, nos
Estados Unidos e na Europa, são os principais sintomas que demonstraram a
insuficiência do mercado como regulador da atividade econômica.
O desemprego e a quebra da bolsa ocorreram porque os estoques de
produtos estavam além da demanda. Havia um excesso de oferta. De acordo
com a lei de Say, que você já estudou neste livro, a oferta criava sua demanda.
Para os clássicos, toda a renda criada na produção seria gasta no consumo.
Não aconteceu, e a crise continuou.
John Maynard Keynes fez o diagnóstico da crise. Ele verificou que havia
vazamentos da renda, pois parte da renda era destinada à poupança e aos
impostos. Com base nesse diagnóstico, propôs a intervenção do governo
para permitir que a poupança pudesse voltar para a produção. Das ideias de
Keynes, foi criada a Contabilidade Nacional, que possibilita um conjunto de
informações sobre o produto, a renda e a despesa nacional, como vimos no
capítulo anterior. A macroeconomia moderna também nasceu nesse contexto.
Keynes recomendava que o governo compensasse a escassez de inves-
timento tomando a seu cargo o déficit da demanda. O bom-senso aconse-
lhava a resolução em conjunto do desemprego de milhões de pessoas e das
crescentes necessidades sociais para preencher. Para tanto, a intervenção do
governo era imprescindível nos mecanismos de produção, na distribuição
e consumo de bens e serviços, ou seja, auxilia o mecanismo de mercado
em responder às perguntas básicas: o que e quanto, como e para quem
produzir. A sociedade deseja resultados, que suas metas e objetivos sejam
alcançados e não apenas a correção das falhas do sistema de mercado, a
política econômica deve viabilizar os objetivos escolhidos pela sociedade.
Seguiremos juntos para verificarmos como essa situação acontece. Então,
vamos lá...

– 86 –
Determinação da renda e do produto nacional

8.1 Modelo Keynesiano básico


O modelo keynesiano básico utiliza a demanda agregada, a oferta agre-
gada e o princípio da demanda efetiva.
Rizzieri (2006, p. 296) ensina que demanda agregada (DA)
é a demanda total dos agentes econômicos: demanda de consumo das
famílias (C), demanda de investimento das empresas (I), demanda
do governo (G) e demanda líquida do setor externo (exportações X
– importações M).

Então podemos demonstrar a demanda agregada pela seguinte equação:


DA = C + I + G + X – M
A oferta agregada (OA), de e acordo com Rizzieri (2006, p. 295), é “é a
quantidade de bens e serviços disponível, para ser vendida no mercado. Então
a oferta agregada é o mesmo que o produto nacional e a renda nacional”.
Assim podemos demonstrar a oferta agregada pela seguinte equação:
OA = PN = RN
A oferta agregada pode ser potencial ou efetiva. A oferta agregada poten-
cial corresponde ao pleno emprego dos recursos de produção. A oferta agre-
gada efetiva é o total de bens e serviços colocados no mercado. Pode ocorrer
com capacidade ociosa, ou seja, com a utilização dos recursos de produção
abaixo do nível de pleno emprego.


Pleno emprego: grau máximo de utilização dos
recursos produtivos (materiais e humanos) de uma
economia. Em uma economia dinâmica, é muito
difícil que ocorra a eliminação total do desemprego,
pois: 1) há atividades, como a agricultura, que não
ocupam continuamente a mesma força de trabalho;
2) é necessário certo tempo para que as pessoas
troquem de emprego; 3) além disso, certas pessoas
podem optar por viverem desempregadas.

– 87 –
Teoria Econômica

Por essas razões, considera-se haver uma situação


de pleno emprego quando não mais que 3% a
4% da força de trabalho está desempregada.

Vasconcellos (2004, p. 124-125) explica o princípio da demanda efetiva


afirmando que,
curto prazo, a oferta agregada potencial é fixada, pois há pleno
emprego dos recursos. Na oferta agregada efetiva, há capacidade
ociosa e mão de obra desempregada. Nesse caso, é possível aumentar
o crescimento da produção estimulando a demanda. Portanto, o
crescimento da demanda agregada explica a variação do produto e da
renda nacional. É o princípio da demanda efetiva.

Esse princípio nos indica que, havendo desemprego de recursos ou


capacidade de produção ociosa, a função da política econômica é elevar a
demanda agregada, aumentando o nível de emprego. Essas políticas devem
estimular o consumo, os investimentos e as exportações. Keynes enfatizou
o papel do governo, como fomentador dos gastos públicos para aumentar a
demanda agregada.
Para a economia encontrar o equilíbrio macroeconômico, é necessário
que a oferta agregada seja igual à demanda agregada.
A essa altura você já começa a se indagar: qual a diferença entre renda de
pleno emprego e renda de equilíbrio? Qual a importância dessa diferença no
equilíbrio macroeconômico?
A renda de pleno emprego ocorre quando a economia está utilizando
toda sua capacidade de produção. Significa que todos os recursos produtivos,
trabalho e capital estão plenamente empregados.
A renda de equilíbrio ocorrerá quando a oferta agregada é igual à
demanda agregada de bens e serviços. Entretanto a renda de equilíbrio pode
acontecer também abaixo do pleno emprego, isto é, quando a economia está
operando, sem a sua capacidade instalada máxima. Quando há renda de
equilíbrio na economia, isso significa que a oferta agregada atende a todas as
necessidades da demanda agregada da população.

– 88 –
Determinação da renda e do produto nacional

Neste contexto, Vasconcellos (2004, p. 125-126) diz que


O objetivo da política econômica é encontrar o equilíbrio a pleno
emprego. Sendo a oferta agregada fixada no curto prazo, a política
econômica deve atuar sobre a elevação do consumo das famílias, do
investimento das empresas, dos gastos do governo e das exportações
líquidas. Havendo crescimento dos elementos da demanda agregada,
significa crescimento do nível do produto e da renda nacional.

De modo geral, aprofunda-se o conhecimento sobre o impacto das


políticas econômicas, ao mesmo tempo em que cresce sua importância, para
o processo de estabilidade e crescimento econômico das nações. No entanto
você deve estar se questionando: o que é Política Econômica? Gremaud
(2002, p. 190) define a política econômica como a intervenção do governo
na economia com o objetivo de manter elevados níveis de emprego e elevadas
taxas de crescimento econômico com estabilidade de preços. Portanto a
política econômica deve ter um caráter pragmático, com fins, objetivos e
metas a serem alcançadas.
Os objetivos econômicos, sociais e políticos perseguidos pelas nações
são variáveis no tempo e nas regiões, mas, de uma maneira geral, busca-se:
22 crescimento econômico;
22 estabilidade econômica;
22 emprego;
22 disponibilidade de crédito;
22 elevação dos investimentos;
22 redução das desigualdades de renda.

Saiba mais
Diogo Pinheiro entrevista Júlio Gomes de Almeida, economista
e consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial). O economista discorre sobre as condições adver-
sas da economia internacional e apresenta pontos positivos da
nossa economia, se comparado a períodos anteriores de retra-
ção econômica mundial. Enfatiza principalmente o aumento da

– 89 –
Teoria Econômica

demanda interna, como grande impulsionador do cresci-


mento econômico no ano de 2007 e 2008, ao mesmo
tempo em que aponta caminhos para a superação da crise
por parte do governo, empresas e sociedade e, por fim,
apresenta os principais indicadores macroeconômicos.
Para maiores informações, acesse o site: <http://mais.uol.
com.br/view/1575mnadmj5c/mercadointerno-deve-sustentar-
crescimento-do-pib-em-2008040266E48103A6?types=A>.

O nosso próximo passo é conhecer o comportamento dos agregados


macroeconômicos, pois compreendê-los será importante para entender como
se dá o processo de determinação da renda.

8.2 Comportamento dos agregados


macroeconômicos
O crescimento da demanda agregada explica a variação do produto e da
renda nacional. Você já se perguntou quais são as variáveis da demanda agre-
gada e como se comportam? Vimos o comportamento da oferta e da demanda
em função dos preços, da renda e das preferências do consumidor, no capítulo
três, a diferença agora é que, no comportamento da demanda agregada, as
variáveis são consumo, poupança, investimento, gastos do governo, expor-
tações (X) e importações (M), isto é, o saldo do balanço comercial (X – M).
Vasconcellos (2004, p. 128) ensina que, no consumo agregado (C),
Os fatores que influenciam o nível de consumo são a renda nacio-
nal, o estoque de riqueza, a taxa de juros, disponibilidade de crédito,
expectativa sobre as rendas futuras e rentabilidade das aplicações
financeiras. Mas o fator principal é a renda nacional disponível.

O autor acrescenta que a relação entre consumo e renda nacional dispo-


nível é expressa pela função (VASCONCELLOS, 2004, p. 128):

C = f (RND) .C = consumo agregado e RND =


renda nacional disponível

– 90 –
Determinação da renda e do produto nacional

Renda Nacional Disponível (RND): renda com que as famílias con-


tam para poderem consumir bens e serviços.
O consumo é realizado quando comemos, usamos roupas ou vamos ao
cinema, pois estamos consumindo alguma coisa da produção da economia.
Todas as formas de consumo juntas constituem dois terços do PIB e, por
ser tão significativo, é preciso estudar a maneira como as famílias decidem
quanto a consumir.
É possível determinar qual a proporção da renda nacional disponível
gasta em consumo? Para responder a essa indagação, Keynes criou o conceito
de propensão marginal a consumir (PMgc), para explicar a parcela da renda
disponível, gasta em consumo. A propensão marginal a consumir é a variação
esperada do consumo, quando varia a renda disponível, logo:
PMgC = variação de C ÷ variação de RND
Para você entender melhor, vamos exemplificar numericamente. Supo-
nha que a PMgc das famílias seja de 90% da renda nacional disponível. Supo-
nhamos também que a RND seja de $ 200 bilhões.
Então:
PMgc = $ 200 bilhões ∙ 0,90 = $ 180 bilhões
Ou seja, de uma RND de $ 200 bilhões, as famílias possuem uma PMgc
de $ 180 bilhões. Você deve estar se perguntando: e os $ 20 bilhões da renda
não consumida? Qual é seu destino? Acertou se você falou a poupança.
A poupança agregada (S) é a parte da RND não gasta em consumo. A
função poupança é expressa por:
S = f(RND)
Sendo:
S = poupança agregada e RND = renda nacional disponível.
Keynes chamou de propensão marginal a poupar (PMgS) a relação entre
a variação da poupança e a variação da RND.
Logo:
PMgS = variação de S ÷ variação de RND

– 91 –
Teoria Econômica

Utilizando o mesmo exemplo numérico anterior, em que a RND é a


mesma, $ 200 bilhões, e também que a PMgS é de 10%, então: PMgS =
$ 200 bilhões ∙ 0,10 = $ 20 bilhões.
Observe que, nos exemplos a RND foi de $ 200 bilhões, isto é, PMgC
de 90% e PMgS de 10%.
O Investimento agregado (I) é a variável principal para explicar o cresci-
mento da demanda agregada. Mas o que é investimento agregado?
Investimento agregado pode ser definido como o acréscimo ao
estoque de capital existente. São as instalações novas como prédios,
rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, máquinas e equipamentos
incorporados ao parque de produção (VASCONCELLOS, 2004,
p. 129).

No curto prazo, amplia a demanda agregada como gastos necessários


para aumentar a capacidade produtiva. No longo prazo, a oferta agregada de
bens e serviços é aumentada com o aumento da produção.
Quais os fatores que determinam o aumento dos investimentos? Na eco-
nomia capitalista, os fatores que mais influenciam os investimentos são: taxa
de rentabilidade esperada e taxa de juros de mercado.

Reflita
O que faz o investimento aumentar durante os períodos de
crescimento econômico e diminuir nos períodos de recessão?
Ao final do capítulo, voltaremos a essa questão e apresentarei
minha reflexão.

A taxa de rentabilidade esperada ou taxa de retorno é calculada com


base na estimativa do retorno líquido pelas instalações novas ou máquinas e
equipamentos adquiridos. A taxa de juros de mercado é o custo do dinheiro
para o investidor. A relação da taxa de juros e o investimento são inversa-
mente proporcionais. Significa que, quando a taxa de juros é elevada, a ten-
dência é a redução dos investimentos. Mas, quando a taxa de juros é baixa,
a tendência é aumentar os investimentos.

– 92 –
Determinação da renda e do produto nacional

Quando o investidor toma decisão sobre investimentos, com base na


rentabilidade e na taxa de juros, adota o critério a seguir:
22 se a taxa de retorno for maior que a taxa de juros, realiza o inves-
timento;
22 se a taxa de retorno for menor que a taxa de juros, não realiza o
investimento.
Os gastos do governo (G) são definidos por Vasconcellos (2004, p. 106)
ao afirmar que “despesas correntes e despesa de capital influenciam o cresci-
mento da demanda agregada”. Se o governo expande os gastos públicos, esses
gastos refletem no crescimento da demanda; mas, se o governo reduz seus
gastos, principalmente de investimentos, a demanda agregada diminui.
No modelo de Keynes, a expansão dos gastos do governo é necessária
para aumentar o nível da renda e do emprego.
As exportações (X) e importações (M) também estimulam a demanda
agregada. As exportações têm relação com a renda nacional de outros paí-
ses. Nos últimos anos, as exportações brasileiras cresceram muito. Esse
crescimento é função da demanda do crescimento mundial nos anos ante-
riores e aumento de competitividade da nossa economia. No entanto,
com a crise econômica, existe uma tendência de diminuição do ritmo
de crescimento, dada a restrição econômica dos nossos principais parcei-
ros comerciais como a China, União Europeia, Japão e Estados Unidos.
Como as importações cresceram menos, os resultados são superávit ele-
vado na balança comercial e aumento no nível do emprego no mercado
de trabalho.
O governo pode estimular a demanda efetiva, utilizando a política fiscal,
o nosso próximo assunto.

8.3 A política fiscal


A política fiscal é a forma de intervenção do governo no sistema econô-
mico, utilizando a arrecadação e os gastos. Pode ser restritiva, ou seja, reduzir
gastos de governo e/ou aumentar os tributos, e expansionistas, isto é, aumen-
tar gastos de governo e/ou redução de tributos. A escolha da política fiscal a

– 93 –
Teoria Econômica

ser utilizada dependerá dos fins, objetivos e metas a serem alcançados. Keynes
propôs a intervenção do governo para corrigir as falhas do mercado.

8.3.1 Economia com desemprego de recursos


É denominada com desemprego de recursos a economia com capacidade
ociosa. Nesse caso, a economia está produzindo abaixo do seu potencial. Essa
situação é conhecida também como hiato deflacionário. Portanto a economia
está com insuficiência de demanda em relação à produção de pleno emprego.
A questão básica é: como tirar a economia do desemprego, utilizando
instrumentos da política fiscal?
O governo pode utilizar os instrumentos a seguir para estimular a
demanda agregada:
22 aumento dos gastos públicos, gastos correntes e gastos de capital;
22 redução da carga tributária, estimulando o consumo das famílias e
o investimento das empresas;
22 subsídios e estímulos às exportações.
Nessa situação, temos o típico caso de aplicação de uma política fiscal
expansionista, cujo fim principal é estimular a retomado do processo de cres-
cimento econômico.

8.3.2 Economia com inflação


Quando pensamos em termos de demanda agregada (quantidade de
bens ou serviços que a totalidade dos consumidores deseja e está disposta a
adquirir) e oferta agregada (quantidade de bens ou serviços que o conjunto
dos ofertantes produz e oferece no mercado), uma economia com inflação
é a situação em que a demanda agregada é superior à oferta agregada. É
o chamado hiato inflacionário. Nesse caso, dizemos que a inflação é uma
inflação de demanda. Como o governo pode intervir na economia com o
objetivo de controlar a inflação, utilizando a política fiscal?
As formas de intervenção geralmente utilizadas são:
22 redução dos gastos públicos em despesas correntes e de capital;

– 94 –
Determinação da renda e do produto nacional

22 elevação da carga tributária sobre bens de consumo, desestimu-


lando os gastos das famílias;
22 redução das tarifas e barreiras sobre importações, aumentando o grau
de abertura da economia e a competitividade. Essa medida de polí-
tica fiscal tende a elevar as importações e evitar a elevação dos preços.
Nesse caso, temos a aplicação da política fiscal restritiva, cujos resultados
serão a diminuição da atividade econômica, mas com a redução da inflação.

Reflita
Após o seu processo de reflexão e pesquisa, temos convicção
de que você compreendeu que o produto mais elevado tam-
bém aumenta os lucros da empresa, e com isso reduzem-se as
restrições de financiamento com que algumas empresas enfren-
tam. Além disso, a renda maior eleva a demanda por imóveis,
o que por sua vez aumenta os preços dos imóveis e o investi-
mento nesse setor. O produto maior aumenta o estoque que as
empresas desejam manter, estimulando o investimento em esto-
que. Nesse sentido, prevê-se que um crescimento econômico
deve estimular o investimento, e uma recessão deve reduzi-lo.

Neste capítulo, podemos concluir que o modelo básico keynesiano enfatiza


como os preços se ajustam para equilibrar a oferta e a demanda agregada. Os
preços de fatores equilibram os mercados de fatores e a taxa de juros equilibra
a oferta e a demanda de bens e serviços. A abordagem do comportamento dos
agregados macroeconômicos nos propiciou entender melhor a Renda Nacional
Disponível e, por conseguinte, a propensão marginal a consumir e a poupar de
uma sociedade. Ao final, utilizamos o modelo para mostrar como a política fiscal
altera a alocação da produção entre seus diversos usos alternativos, consumo,
investimentos e compras governamentais e seu combate à inflação.
No próximo capítulo, trataremos da função da moeda na economia.
Veremos a origem, a evolução e os tipos de moeda e examinaremos sua

– 95 –
Teoria Econômica

oferta e demanda. Você verá também a influência da moeda na inflação e no


crescimento da economia para depois conceituarmos o Sistema Financeiro
Nacional, em destaque, as principais funções do Banco Central do Brasil.

Conclusão
Abordamos, neste capítulo, o sistema de contas nacionais para a
medição das transações econômicas de um país em determinado período
de tempo. No modelo Keynesiano básico apresentamos os conceitos de
demanda agregada, oferta agregada e demanda efetiva e o papel do governo
para manter o equilíbrio macroeconômico. Ressaltamos como os agregados
macroeconômicos se comportam em momentos de expansão e retração
econômica e como interferem na renda pessoa disponível, e por conseguinte
na propensão marginal a consumir e a poupar. Por fim conceituamos a política
fiscal e suas formas de intervenção, restritiva e expansionista, para estimular a
demanda agregada ou conter o processo inflacionário.

– 96 –
9
Noções de
economia
monetária

Você compreendeu os temas dos capítulos sete e oito, em


que discutimos a contabilidade social e determinação da renda
nacional, apresentamos os agentes econômicos, os princípios bási-
cos do sistema de contabilidade social e as identidades macroeco-
nômicas: produto, renda e despesa? Neles você também estudou o
comportamento dos agregados macroeconômicos e a política fis-
cal. Esses conhecimentos serão importantes neste capítulo, porque
demonstrarão como a moeda atua na atividade econômica e quais
mecanismos de controle da oferta monetária no sistema econômico.
Teoria Econômica

Certamente, você já deve ter mencionado, ou mesmo ouvido alguém


dizer, que uma pessoa que tem muito dinheiro, ou seja, que ela é rica. Em
contraste, para a economia, o termo moeda possui uma natureza especializada.
Para a economia, moeda não caracteriza toda a riqueza, mas somente a um
tipo específico: moeda é um estoque de ativos que pode ser imediatamente
usada para efetuar as transações. Portanto, a moeda desempenha papel
fundamental nas relações de trocas.
Para uma compreensão do papel da moeda na economia, estudaremos
seu conceito, evolução, funções e tipos de moeda. Também abordaremos
como ocorre sua oferta e demanda e como a quantidade de moeda influencia
o nível do crescimento do produto e a inflação. Por fim, você conhecerá o
papel do Sistema Financeiro Nacional.

9.1 Conceito e evolução da moeda


Vasconcellos (2004, p. 139) explica que “moeda é um instrumento ou
objeto aceito pela coletividade para intermediar as transações econômicas,
para pagamento de bens e serviços”. Podemos observar por essa definição de
moeda, que ela é utilizada para pagamento de todas as nossas necessidades
de consumo.
Mas essas transações econômicas passaram por alguns estágios.
Vasconcellos (2004, p. 141) cita que foram:
1. Troca direta
A troca direta denominada “escambo” – troca de mercadoria por
mercadoria. Exemplo: troca de alimentos por vestuário.
2. Troca indireta
Na fase da troca indireta ocorreu a seguinte evolução:
22 moeda-mercadoria – uma mercadoria era trocada por outras.
Exemplos: sal, gado;
22 moeda-metálica – metais preciosos (ouro e prata) eram
trocados por mercadorias;

– 98 –
Noções de economia monetária

22 moeda-papel: certificado de depósitos dos metais (ouro e prata);


22 papel-moeda – emitida pelos bancos comerciais.
Posteriormente, o Estado monopolizou a emissão do papel-moeda e,
atualmente, o Banco Central é responsável pela sua emissão. Apresentado o
conceito de moeda e seus estágios de evolução, torna-se imprescindível dis-
cutir suas funções para você capitalizar mais conhecimento sobre economia.

9.2 Funções da moeda


As funções da moeda no sistema econômico são, segundo Vasconcellos
(2004, p. 140):
22 instrumento ou meio de troca: intermedia troca de bens e serviços;
22 denominador comum monetário: expressa o valor de todos os bens
e serviços, como o balanço das empresas e o Produto Interno Bruto;
22 reserva de valor: representa liquidez imediata.
Para compreender melhor as funções da moeda, tente imaginar uma
economia sem ela: uma economia de escambo. Nessas circunstâncias, seria
exigido a dupla coincidência de desejos, ou seja, cada uma com um bem
que a outra deseja, encontrarem-se no momento certo, no lugar certo, para
efetuarem uma única troca e bastante simples. A moeda nos permitiu e/ou
favoreceu transações mais indiretas e complexas.
Como já mencionamos, a moeda é utilizada para as transações econômi-
cas, mas também como um fator de remuneração, isto é, como referência de
preços para os produtos, assim como fator de especulação no mercado, obje-
tivando rendimentos. A moeda assume muitas formas na economia, conhecer
seus tipos é a nossa próxima meta.

9.3 Tipos de moeda


Os tipos de moeda utilizados na economia são, de acordo com Vascon-
cellos (2004, p. 141):
22 moeda-metálica: emitidas pelo Banco Central;

– 99 –
Teoria Econômica

22 papel-moeda: emitida pelo Banco Central;


22 moeda-escritural ou bancária: depósitos à vista nos bancos
comerciais.
Por outro lado, temos na atualidade esses três tipos de moeda para
satisfazer nossos motivos de demanda, ou seja, para transação, precaução e
especulação. Mas, como ocorre a oferta e demanda de moedas? Na próxima
seção, começaremos a responder essas indagações.

Reflita
A moeda sem valor intrínseco é denominada moeda de curso
forçado. Isso quer dizer que o objeto que serve de moeda é
em função de um decreto do governo. Por exemplo, compare
as notas de Real (impressos pela Casa da Moeda do Brasil,
por ordem do Banco Central) e as notas de Real de um jogo
de Banco Imobiliário. Por que você pode usar as primeiras para
pagar um cinema e as do Banco Imobiliário não? A resposta é
que o governo brasileiro decretou que seus Reais são moedas
válidas.

9.4 Oferta de moeda


Umas das mais importantes atividades do Banco Central é o controle
da quantidade de moeda disponível na economia, ou seja, a oferta de moeda.
Sobre esse assunto, Vasconcellos (2004, p. 141) ensina que:
A oferta de moeda são os meios de pagamento que é o total de moeda
disponível para efetuar pagamentos. A liquidez da moeda é a capacidade
de ser um ativo completamente disponível. Os meios de pagamento
representam a soma da moeda em poder do público mais os depósitos
à vista nos bancos comerciais, isto é, o total da moeda manual mais a
moeda escritural. Assim, a moeda que está com os bancos comerciais
(reservas) e as autoridades monetárias (Banco Central) não são conside-
radas meios de pagamento.

– 100 –
Noções de economia monetária

Ainda em relação aos meios de pagamento abordados anteriormente, os


conceitos de meios de pagamento em economia compreendem:
22 M1 = moeda em poder do público + depósitos à vista;
22 M2 = M1 + depósitos de poupança + títulos privados;
22 M3 = M2 + fundos de renda fixa + operações compromissadas com
títulos federais;
22 M4 = M3 + títulos públicos federais, estaduais e municipais.
O controle da oferta de moeda é a questão crucial da política monetária.
O Governo controla diretamente uma parcela da oferta monetária ao
decidir, por meio das Autoridades Monetárias, o volume de moeda que será
emitido. No entanto há uma parte dos meios de pagamento que é controlável
parcialmente e/ou indiretamente pelo Governo, que é formado pelos
depósitos à vista da sociedade nos bancos comerciais.
22 Política monetária: conjunto de instrumentos de que se valem as
Autoridades Monetárias para regular a oferta de moedas e a taxa de
juros, de modo a atingir os objetivos da política econômica global.
Para entender melhor como a política monetária pode alcançar os
objetivos descritos, precisamos entender os mecanismos de oferta e de demanda
de moedas, nossos próximos passos.

9.4.1 Oferta de moeda pelo banco central


As autoridades monetárias são o Conselho Monetário Nacional (CMN)
e o Banco Central (Bacen). O CMN toma as decisões e o Bacen é o executor
do controle da moeda.
As funções clássicas do Bacen são:
22 execução da política monetária: controle da oferta de moeda;
22 banco emissor: papel-moeda e moeda-metálica;
22 banco dos bancos: regula o caixa dos bancos comerciais;
22 banco do governo: recebe depósitos e empresta ao governo;
22 controle da oferta de moeda: quantidade de moeda;

– 101 –
Teoria Econômica

22 administração do câmbio: operações com moeda estrangeira;


22 fiscalização das instituições financeiras.

9.4.2 Oferta de moeda pelos bancos comerciais


Os bancos comerciais podem aumentar a oferta de moeda, multiplicando
a moeda escritural ou depósitos à vista, conforme ilustrado na tabela a seguir.

Tabela 1 O efeito da criação múltipla de depósitos à vista.

Banco Dep. à Vista Reservas Empréstimos


A 100.000 40.000 60.000
B 60.000 24.000 36.000
C 36.000 14.400 21.600
D 21.600 8.640 12.960
E 12.960 5.184 7.776
Outros 19.440 7.776 11.664
Total 250.000 100.000 150.000
Fonte: Vasconcellos (2004, p. 146).
Na tabela acima, a oferta inicial de $ 100.000 em moeda manual
transformou-se em oferta total de moeda escritural de $ 250.000, ou
seja, houve criação de moeda no valor de R$ 150.000,00 e reservas de
R$ 100.000,00.
Como o Governo tem um forte controle sobre a oferta de moedas,
precisamos conhecer e entender melhor os instrumentos de polí-
tica monetária.

9.5 Instrumentos de política monetária


Os instrumentos da política monetária são condicionados pela gestão
da política econômica como um todo e por seus mais relevantes objetivos:
desenvolvimento socioeconômico, expansão do emprego e estabilização dos

– 102 –
Noções de economia monetária

preços. Isso cresce a importância dos instrumentos de política monetária.


Observe a seguir quais são esses instrumentos:
22 Controle das emissões: o Bacen controla o volume de moeda
manual da economia;
22 Depósitos compulsórios ou reservas obrigatórias: é um percentual
dos depósitos à vista depositados à ordem do Bacen. Exemplo: um
banco comercial tem $ 1 bilhão de depósitos à vista e o Bacen
determina que 30% são reservas obrigatórias. Significa que $ 300
milhões não podem ser emprestados;
22 Operações com mercado aberto (open market): compra e venda
dos títulos do governo;
22 Operações de redesconto: liberação de recursos do Bacen para os
bancos comerciais;
Com a aplicação desses quatro instrumentos, a oferta monetária ou a
regulação da liquidez podem assumir direção expansionista ou contracionista.

9.6 Tipos de política monetária


A política monetária pode ser restritiva e expansionista. Ressaltamos
que a escolha da política monetária dependerá dos fins, objetivos e metas.
Se o governo desejar a expansão do nível de atividade, nesse caso a atividade
econômica pode ser expandida com uma política monetária expansionista:
22 aumentar a emissão de moeda;
22 diminuir a taxa de reservas compulsórias;
22 recomprar títulos públicos;
22 diminuir a regulamentação do mercado de crédito.
Mas pode ocorrer o hiato inflacionário, quando a demanda de bens e
serviços está aquecida e a capacidade produtiva da economia não é capaz de
aumentar a oferta. Nesse caso, ocorre a inflação de demanda.
A política monetária apropriada será a restritiva, a fim de enxugar os
meios de pagamentos com instrumentos como:

– 103 –
Teoria Econômica

22 controle da emissão pelo Bacen;


22 venda de títulos públicos;
22 elevação da taxa de reservas compulsórias;
22 alteração das normas de crédito.

9.7 Demanda de moeda


Vasconcellos (2004, p. 148) afirma que “a demanda de moeda é a
quantidade de moeda que o setor privado não bancário (indivíduos, empresas)
retém em papel-moeda e depósitos à vista”. Keynes citado por Vasconcellos
(2004, p. 149) cita os motivos para a demanda de moeda, que são :
22 demanda de moeda para transações: alimentação, taxas, alu-
guel, transporte;
22 demanda de moeda por precaução: reserva para pagamentos
imprevistos;
22 demanda de moeda por especulação: viabiliza aplicações em função
da rentabilidade dos títulos.
A versão clássica aponta o motivo de transações e precaução para que
as pessoas demandem a moeda; já para a versão keynesiana, a demanda da
moeda ocorrerá por motivo de especulação.

Saiba mais
O Banco Central, com o objetivo de aproximar a Instituição
com a Sociedade, lançou seu Programa de Educação Finan-
ceira. A publicação Moeda – Surgimento e evolução inicia
com uma mostra panorâmica a respeito das funções do Banco
Central do Brasil, ressaltando sua importância para a sociedade.
Na contextualização das informações, faz um breve histórico
sobre essa instituição, remontando ao aparecimento da moeda
e dos sistemas financeiros. A obra aborda também o surgimento
e evolução histórica dos Bancos Centrais no mundo e, no

– 104 –
Noções de economia monetária

Brasil, com suas funções e atuação. Por fim, destaca o papel do


Banco Central brasileiro como agente promotor da estabilidade
da economia. Acesse: <http://www.bcb.gov.br/htms/sobre/
bcuniversidade/cartilhaBancoCentral.pdf>.

9.8 Relação entre moeda, nível


da renda e inflação
Para explicar essa relação para você, vejamos a teoria quantitativa
da moeda.
A teoria quantitativa da moeda aborda os dois lados da relação da
moeda: o lado monetário, que aborda os pagamentos e recebimentos
monetários; e o lado real da economia, que aborda a compra e venda de
bens e serviços.
Equação da teoria quantitativa da moeda:
MV = PY
22 M = quantidade de moeda na economia (manual e escritural);
22 V = velocidade-renda da moeda;
22 P = nível geral de preços;
22 Y = nível de renda nacional real.
O lado esquerdo da equação (MV) mostra que a quantidade de moeda
na economia depende da velocidade-renda da moeda. O lado direito da
equação (PY) mostra que o valor do PIB nominal é igual ao total de bens e
serviços finais (real) vezes o preço de bens e serviços finais.
Para analisar a relação entre quantidade de moeda (M), nível de
atividade e inflação, é necessário definir a velocidade-renda da moeda.
A velocidade-renda da moeda ou velocidade de circulação da moeda é o
número de vezes que a moeda circula, no mesmo período de tempo.
A velocidade de circulação é calculada pela fórmula:

– 105 –
Teoria Econômica

V = PIB nominal ÷ saldo dos meios de pagamento


Vamos supor que o PIB nominal ou PIB monetário (que significa o PIB
real vezes o nível geral de preços) seja de $ 300 bilhões e o saldo dos meios de
pagamento de $ 50 bilhões. Aplicando a fórmula, temos:
V = $ 300 bilhões ÷ $ 50 bilhões = 6
No exemplo, a velocidade-renda da moeda é 6 vezes.

9.9 Política monetária e expansão


do nível de atividade
Criemos a hipótese de que a atividade econômica esteja abaixo do pleno
emprego. Nesse caso, a atividade econômica pode ser expandida com uma
política monetária expansionista:
22 aumentar a emissão de moeda;
22 diminuir a taxa de reservas compulsórias;
22 recomprar títulos públicos;
22 diminuir a regulamentação do mercado de crédito.
O impacto dessas medidas é direto sobre o nível da renda. Exemplo: na
equação MV = PY supondo V e P constantes, se houver uma expansão de
20% em M (quantidade de moeda), a tendência é aumentar em 20% (renda).
A Relação entre oferta monetária e inflação ocorre quando a demanda
de bens e serviços está aquecida e a capacidade produtiva da economia não é
capaz de aumentar a oferta. Nesse caso, ocorre a inflação de demanda.
Neste capítulo, inicializamos você no estudo da moeda. Apresentamos o
que é a moeda, os diferentes conceitos e agregados monetários e seu processo
de criação. Você também conheceu os instrumentos para controlar a oferta de
moeda, com a utilização da política monetária.
No próximo capítulo, trataremos dos aspectos da inflação. Descreveremos
as causas e os efeitos da inflação e discutiremos os instrumentos de política
monetária e fiscal para controlar a inflação.

– 106 –
Noções de economia monetária

Conclusão
A moeda é um instrumento ou objeto aceito pela coletividade para
intermediar as transações econômicas, funciona como reserva de valor, unidade
de conta e um meio de troca. Seus principais tipos são: moeda-metálica,
emitida pelo Banco Central; papel-moeda: emitida pelo Banco Central; e
moeda-escritural ou bancária, depósitos à vista nos bancos comerciais.
Ressaltamos a importância do controle da oferta monetária, ou seja, a
soma da moeda em poder do público. Em seguida, apresentamos as funções
clássicas do Banco Central do Brasil, como órgão executor da política
monetária, banco emissor de papel-moeda e moeda-metálica e também
fiscalizador das instituições financeiras. Apresentamos os instrumentos de
política monetária: controle das emissões, depósitos compulsórios ou reservas
obrigatórias, operações com mercado aberto e de redesconto. Por fim, você
aprendeu sobre os tipos de política monetária: restritiva ou expansionista.

– 107 –
10
Formação econômica
brasileira

Os capítulos em que tratamos da contabilidade social e da


determinação da renda nacional são os alicerces para a mensuração
da atividade e para entender os ciclos econômicos, ou seja, as
variações no comportamento do crescimento econômico do país.
As estruturas de mercado, assunto tratado no capítulo cinco,
também darão maior consistência na sua análise da economia
brasileira contemporânea. Analisar esses temas facilitará a
compreensão dos principais determinantes dos ciclos e das fases
econômicas brasileiros.
Teoria Econômica

Para tanto, neste capítulo, apresentaremos as principais transformações e


tendências, considerando os aspectos socioeconômicos e produtivos da socie-
dade brasileira. Veremos da economia agroexportadora ao processo de subs-
tituição de importação, da fase desenvolvimentista do governo JK ao milagre
econômico, até alcançarmos a crise dos anos 80 do século XX, os planos de
combate à inflação e a recente estabilização. Por fim, faremos uma análise
sucinta dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva
e o papel do Estado brasileiro.
Os principais debates econômicos da década de 80 do século XX
se concentraram, em boa medida, sobre os sérios e urgentes problemas
decorrentes dos desequilíbrios da nossa economia, principalmente inflação
e dívida externa.
O Plano Real implantado em 1994 marca um novo processo de estabili-
zação da inflação, ao mesmo tempo em que se aprofundaram as transforma-
ções produtivas e econômicas brasileira.
A abertura econômica e as transformações do papel do estado na eco-
nomia brasileira serão destacadas nos governos Fernando Henrique Car-
doso e Lula.

10.1 O modelo agroexportador


O modelo agroexportador é a forma de incluir a economia brasileira
na economia mundial desde a época colonial. Neste modelo, a exportação
apresentava-se como a variável quase que exclusiva na determinação da
renda nacional e de seu dinamismo. Citando Maria Conceição Tavares,
Gremaud (2002, p. 342) versa que a economia agroexportadora é um
modelo de desenvolvimento voltado para fora, pois se caracteriza por
possuir alto peso relativo do setor externo na estrutura econômica, mas o
principal problema era o descompasso entre a base produtiva e a estrutura
de consumo.
A grande depressão de 1929 causa um dramático desequilíbrio na eco-
nomia brasileira, parecia chegar ao fim a hegemonia agrário-exportadora, o
que exigiu mudanças estruturais que viabilizaram a passagem ao novo modo
de produção capitalista.

– 110 –
Formação econômica brasileira

Dessa forma, o centro dinâmico da economia passaria a ser a indús-


tria, para a qual o Estado operaria ao transferir capital (baixando os juros,
facilitando o crédito), ao regulamentar as relações entre capital e trabalho
(legislação trabalhista e salário mínimo, obrigação máxima da empresa, que
dedicará toda a sua potencialidade de acumulação às tarefas do crescimento
da produção propriamente dita) e ao eleger proteções a setores industriais.
Abreu (1992, p. 71) explica que:
O dramático desequilíbrio sofrido pelo Brasil a partir do fim dos
anos 20, em decorrência do colapso dos mercados internacionais de
capital, da brutal contração do comércio mundial e dos problemas
criados pela crise da superprodução de café, alterou completamente
as condições de viabilidade da forma de inserção internacional da
economia brasileira consolidada na Primeira República. Isto criou,
ironicamente, as condições de superação do antigo problema de
como manter a estabilidade doméstica em face de choques externos
sem nenhuma das grandes reformas estruturais ou institucionais que
teriam sido necessárias em condições normais de funcionamento da
economia internacional.

O desequilíbrio e a crise nos centros industriais capitalistas acabaram


refletindo nas economias dependentes, em um primeiro momento, por meio
de uma redução do volume de exportações; após, redução do volume de
importações, face à limitação de divisa; e, em seguida, pela piora nos termos
de intercâmbio.
No entanto, para você ter uma ideia, a crise teve contornos diferenciados
no Brasil, pois o violento impacto da crise de 29 não impôs uma depressão
prolongada, como nas economias desenvolvidas, na medida em que se voltou
para dentro o potencial produtivo, antes todo voltado para a exportação.
Começava o processo substituidor de importação, nosso próximo assunto.

10.2 O processo de substituição de importação


Devemos compreender que, para ocorrer o modelo substitutivo, é neces-
sário que o volume e a composição das importações representem uma reserva
de mercado suficiente para justificar a implantação de uma série de indústrias
substitutivas; e que o sistema econômico já possua um grau de diversificação

– 111 –
Teoria Econômica

da sua capacidade capaz de dar uma resposta adequada ao impulso surgido do


estrangulamento externo.
A crise do setor cafeeiro, apesar da vigorosa defesa da política gover-
namental, tornou evidente que o investimento no setor exportador já não
era atraente e, em consequência, liberou recursos, sobretudo financeiros, cuja
transferência para o setor industrial foi facilitada (a indústria passou a ser o
centro da economia). Tanto as variáveis externas como as internas atuaram
favoravelmente ao processo de substituição de importações, que assim acele-
rou a atividade industrial.
É importante destacar que o modelo nasceu e se desenvolveu com o
caráter dual, as indústrias são obrigadas a tentar explorar cada vez mais o
poder de compra da classe média, em uma perversão do modelo, que passa a
produzir bens de luxo.
O processo de substituição de importação pode ser entendido como um
processo de desenvolvimento parcial e fechado que, respondendo às restrições
do comércio exterior, procurou repetir aceleradamente, em condições históri-
cas distintas à experiência de industrialização dos países desenvolvidos. Sobre
esse assunto, Gremaud (2002, p. 366) acrescenta que:
A característica da industrialização substituidora de importações é a
de ser uma industrialização fechada, em função de dois elementos:
i. ser voltada para dentro, isto é, visar ao atendimento do mercado
interno, não ser uma industrialização que produz para exportar; ii.
Depender em boa parte de medidas que protegem a indústria nacio-
nal dos concorrentes externos.

O Estado, para termos uma ideia, teve participação ativa, seguindo a


orientação keynesiana de intervenção do Estado no domínio econômico.
Coube ao Estado, basicamente, quatro funções:
Adequação do arcabouço institucional à indústria: legislação traba-
lhista, mecanismos de direção do capital agrícola para industrial e
criação de agências estatais para fomentar e normatizar; II. Geração
de infra-estrutura básica; III. fornecimento dos insumos básicos; IV.
captação e distribuição de poupança: o estado acabou por executar
parte das atribuições dos intermediários financeiros (GREMAUD,
2002, p. 372-373).

Como podemos perceber, o Estado garantiu as condições necessárias


para o setor implantar-se e desenvolver-se, com garantia de alta rentabili-

– 112 –
Formação econômica brasileira

dade. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) acarretou mudanças estrutu-


rais na nossa economia que, na verdade, correspondeu ao amadurecimento
de tendências já detectáveis: fortalecimento do poder central, regulando-se a
área econômica. Mas também explicitou a contradição entre os programas de
investimentos públicos e a manutenção dos pagamentos do serviço da dívida.
Em 1945, o Brasil se vê frente a uma intensa demanda internacional de
gêneros alimentares e matérias-primas exigidos pela necessidade da Guerra.
Você já parou para pensar o porquê dessa demanda crescente? Destruído o
setor produtivo dos países em conflito e outros direcionando seus fatores
de produção para o esforço de Guerra, os países que não participaram ou
tiveram um papel secundário (no caso brasileiro, com boa produção agrí-
cola e exploração de matérias-primas) logo foram procurados para atender a
demanda mundial.
No entanto, a intensificação da demanda não se reflete tanto no volume
da exportação, pois estava esgotada a capacidade produtiva da economia bra-
sileira de exportação, devido à limitação dos investimentos. A inflação dá
sinais de vida e essa alta dos preços será acompanhada muito tardiamente pela
alta dos salários, repassando à massa dos trabalhadores o ônus do crescimento.
A Guerra encarregou-se de estimular a industrialização brasileira, aju-
dada pelas mudanças do Governo Getúlio Vargas, que lançou as bases da
economia urbana, e os industriais tornaram-se mais importantes do que os
cafeicultores. A proteção aos industriais persiste durante os anos 50 do século
XX e o Estado começa a intervir efetivamente no processo de industrializa-
ção. Com essas características, a formação social brasileira é capitalista mono-
polista. Pereira (1982, p. 38) explica que:
Em todos os países em que o capitalismo foi tardio, seu desenvolvi-
mento já ocorreu de forma monopolista foi necessária a intervenção
crescente de grandes bancos de investimentos e do estado. Ora, tanto
os grandes bancos quanto o estado só estavam dispostos a financiar
e, até certo ponto, só tinham condições administrativas de financiar
grandes capitalistas. Esta é uma primeira causa da concentração e cen-
tralização do capital [...].

Dessa forma, o processo brasileiro de monopolização assumiu duas


características básicas: “A transformação do estado em produtor e a penetra-
ção das empresas multinacionais manufatureiras” (PEREIRA, 1988, p. 40).

– 113 –
Teoria Econômica

A partir dos anos 50 do século XX, quando o capital industrial já é


claramente dominante, as crises, ou as flutuações, tornam-se endógenas,
ou seja, passaram a ter sua origem internamente na economia brasileira,
embora possam ser também reflexos de crises internacionais.
Como a industrialização em um país subdesenvolvido se dá de forma
mais dinâmica, a taxa de lucro tende a ser maior do que nos países centrais,
também porque a força de trabalho é abundante e barata.
Devemos salientar, que é também na década de 50 do século XX
que começa a penetração das multinacionais, inaugurando o modelo de
subdesenvolvimento industrializado, com uma marca, a contradição,
que transfere o excedente para o centro, via lucros abertos e disfarçados,
mas dinâmico, que promove o desenvolvimento interno. Oliveira (2000,
p. 32) diz que “a expansão do capitalismo no Brasil se dá introduzindo
relações novas no arcaico e reproduzindo relações arcaicas no novo”. As
mudanças sociais foram significativas e mudaram irreversivelmente a face
da sociedade brasileira. Brum (2005, p. 176-177) ensina que as principais
mudanças foram:
o surgimento de novas classes sociais – burguesia e proletariado;
ascensão das camadas médias; o início das reivindicações operárias
e da luta social; o processo de urbanização; e o início do pro-
cesso de emancipação feminina. [...] A industrialização acelerou
também o processo de urbanização. Com a indústria, cresceram
também o comércio e os serviços. Em consequência, o êxodo rural
adquiriu mais velocidade. [...] A família patriarcal, numerosa e
monolítica, submetida ao arbítrio do chefe, foi desmoronando,
substituída pela família conjugal, menor e mais flexível nas rela-
ções entre seus membros.

É importante você perceber que as características da sociedade brasi-


leira são reflexos das intensas transformações ocorridas na primeira metade
do século passado, principalmente em virtude do processo de urbanização e
das relações de trabalho. A base econômica nacional sofre profundas trans-
formações e a base para os processos subsequentes do modelo industrial esta-
vam assentadas. Ao governo continuava o papel de investir em infraestrutura
e dotar de condições favoráveis o investimento privado, como ocorreu no
governo do Presidente Juscelino Kubistchek.

– 114 –
Formação econômica brasileira

10.3 O crescimento acelerado –


plano de metas
O governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960) marcou o integral
comprometimento do setor público com uma explícita política de desen-
volvimento. O plano de metas constituiu o mais completo e coerente con-
junto de investimentos até então planejados na economia brasileira: o plano
foi implementado com sucesso alcançando a maioria das metas estabelecidas
tanto para o setor público como para o setor privado.
Você certamente já ouviu a famosa frase: “Cinquenta anos em cinco”,
mas, você sabe o que contemplava o plano, suas deficiências e seus objetivos?
Vamos então começar a responder suas indagações. O plano contemplava
investimentos em energia, transporte, alimentação, indústria de base e edu-
cação, distribuídos entre setor público e privado, cujos gastos não estavam
orçados no plano.
Uma deficiência do plano é a ausência de definição dos mecanismos
de financiamento que seriam utilizados para viabilizar um conjunto tão
ambicioso de metas: o esquema financeiro encontrado para financiá-lo foi o
inflacionário. O sucesso na obtenção de uma taxa de crescimento econômico
significativo permitiu que fossem evitados, de forma sistemática, os conflitos
associados à distribuição dos frutos do desenvolvimento.

Reflita
A renda de todos os grupos aumentava, mesmo que de forma
muito desigual. Mas qual o problema de um modelo que aumenta
a renda? Ao contrário, proliferam os mecanismos disfarçados de
transferência de recursos, facilitados pela ação do Estado.

O plano de metas foi uma tentativa de compatibilizar variáveis muitas


vezes antagônicas, como crescimento, estabilidade, altos lucros e baixo custo
de vida: as tensões foram dissolvidas pelo crescimento do produto.
Nas mãos do governo estava a tarefa de conduzir as obras de infraestru-
tura que objetivavam romper os estrangulamentos que limitavam o processo

– 115 –
Teoria Econômica

de industrialização. A crescente intervenção do governo na economia não


encontrava resistência por parte do setor privado, o papel do estado no Brasil
não foi o de ocupar setores estratégicos para uma industrialização mais firme,
e a melhoria do nível de vida da população, mas antes o de complementar as
iniciativas do setor privado, ou, dito de outra forma, investir nas áreas em que
não houve interesse privado.
A política do governo JK, em relação ao capital estrangeiro, também
contribuiu para isso, pois “[...] facilidades proporcionadas às empresas mul-
tinacionais e aos capitais estrangeiros em geral atraíram vários estrangeiros,
destacando-se a indústria automobilística” (SANDRONI, 2000, p. 64).
Brum (2005, p. 253) acrescenta que:
O governo JK conseguiu que o país desse um salto econômico qua-
litativo e quantitativo, mas, por outro lado, agravou a concentração
econômica e acentuou os desequilíbrios regionais. [...] Não se dispôs
o governo a realizar reformas estruturais, como a reforma agrária,
na perspectiva de conter o êxodo e ampliar a classe média rural; a
reforma fiscal e tributária, para assegurar o equilíbrio e a disciplina das
contas públicas; a reforma administrativa, para racionalizar a ação do
estado, e eliminar os interesses clientelistas [...].

Temos convicção de que seu senso crítico e sua capacidade de realizar


comparações analisaram que uma série de questões que discutimos até hoje
fazem parte dos grandes temas da década de 50 do século passado e que mui-
tos deles permanecem sem significativos avanços. Agora vamos conhecer o
chamado milagre econômico.

10.4 O milagre econômico


O período de 1967-1973 em que Delfim Neto permaneceu Ministro
da Fazenda pode ser examinado como um único período em que o Brasil
alcançou taxas médias de crescimento do seu Produto Interno Bruto-PIB
sem precedentes.
Os objetivos principais concentravam-se no crescimento econômico e
contenção da inflação, com as finanças públicas equilibradas e o financia-
mento do déficit (diferença entre arrecadação e gastos governamentais) por
meio de títulos. O governo pôde manter elevado o nível de despesa, princi-

– 116 –
Formação econômica brasileira

palmente em novos investimentos de infraestrutura, importantes para o setor


privado, conjugado com amplo programa de subsídios e incentivos fiscais
para promover setores e regiões específicas. O dinamismo do setor industrial
deveu-se principalmente à demanda interna, estimulada pelas políticas seto-
riais do governo.
O milagre econômico foi um processo de acumulação apoiado em endivi-
damento externo, com uma política gradual de combate à inflação, no entanto
o crescimento experimentado nos anos 70 do século XX não corrigiu a grave
concentração de renda, ao contrário, caracterizou-se também pela deterioração
na distribuição do “bolo”. Abreu (2005, p. 341-342) assevera que:
Os aspectos mais negativos da política econômica seguida ao longo
do ciclo militar foram de natureza social. Enquanto se valorizam
ao máximo os empregos nos postos mais altos da administração de
empresas e nas áreas de publicidade, comprimiam-se os salários dos
trabalhadores de baixa qualificação, com reajustes inferiores aos índi-
ces da inflação. Também não mereceram a devida atenção os progra-
mas sociais, relacionados com saúde, educação, habitação popular etc.
Em consequência, acentuou-se a contradição entre o notável cresci-
mento econômico e o avanço industrial, de um lado, e, de outro, o
comprometimento da qualidade de vida da população. Outro aspecto
negativo diz respeito à violenta agressão ao meio ambiente e sua con-
sequente degradação, sobretudo na década de 1970.

O censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE) demonstrou uma nação que crescia à custa da ampliação da pobreza
e da desigualdade social, sendo um dos motivos a legislação que arrochava
os salários.
Podemos destacar como fonte de crescimento no período o fato de o
governo retomar os investimentos em infraestrutura econômica, ao mesmo
tempo em que ampliava os investimentos das empresas estatais e na constru-
ção civil, e também o aumento da demanda por bens duráveis e estímulo ao
crescimento das exportações.
O endividamento externo brasileiro aumenta sensivelmente, mesmo
porque ocorre um estímulo ao seu endividamento, motivado pela grande
liquidez no sistema financeiro internacional e inexistência de linhas de finan-
ciamento de longo prazo no país, com exceção das linhas do governo. De
fato, no período de 1967 a 1973, a dívida externa bruta cresceu à taxa anual

– 117 –
Teoria Econômica

de 19,3% (ABREU, 1989, p. 278). A dívida acumulada durante o período


JK toma novo impulso durante o milagre econômico. Como verificamos, as
duas grandes etapas de crescimento econômico do país não tiveram sustenta-
bilidade e foram embasadas pelo grande endividamento externo.

Saiba mais
O artigo dos autores Fernando A. Veloso, André Villela e
Fabio Giambiagi, Determinantes do “Milagre” Econômico Brasi-
leiro (1968-1973), em Uma Análise Empírica, procurou deter-
minar os principais condicionantes do “milagre” econômico.
Também, no artigo, foi ressaltado, com bastante propriedade,
a situação internacional e as condições favoráveis de crédito
no período. Os autores abordaram o Programa de Ação Eco-
nômica do Governo (PAEG) e, principalmente, ilustraram o
trabalho com uma série de informações macroeconômicas do
período e análise conjuntural. Verifique no site: <http://www.
scielo.br/pdf/rbe/v62n2/06.pdf>.

10.5 A década perdida: os anos 80


e os planos de estabilização
Durante a segunda metade da década de 80 do século XX, a política
econômica brasileira concentrou-se no combate à inflação. A Nova Repú-
blica instalou-se em março de 1985, após 21 anos de regime militar. Embora
a necessidade de um pacto social (harmonizar aumentos salariais, lucros e
rebaixamento da inflação) tivesse sido enfatizada por Tancredo Neves durante
as eleições, o novo governo anunciou apenas medidas de política fiscal e
monetária restritiva, para facilitar as negociações com o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e acenar com o fim do estado gastador. O inflamado
slogan da campanha de Tancredo Neves, de que a dívida não seria paga com a
fome e miséria do povo, recomendava cautela aos bancos credores.

– 118 –
Formação econômica brasileira

22 FMI: Foi criado em 1944 com a finalidade de promover a coope-


ração monetária do mundo capitalista e de levantar fundos entre os
diversos países-membros, para auxiliar os que encontrem dificulda-
des nos pagamentos internacionais.
Em fevereiro de 1986, foi lançado o Plano Cruzado, cujo início é mar-
cado pela reforma monetária, ou seja, a criação de uma nova moeda cuja
estabilidade o governo se comprometeu a defender. Os planos de estabili-
zação serão debatidos no capítulo 11, quando discutirmos a inflação e os
planos de estabilização.

10.6 Dos anos 90 do século XX aos nossos dias


Em 1999, logo após a reeleição do presidente Fernando Henrique Car-
doso, o seu governo passou por seu pior momento: elevação súbita e acentu-
ada das cotações de dólares e fortes aumentos de preços no atacado. A vulne-
rabilidade externa estava explícita.
Apesar de alcançar a estabilidade de preços, os efeitos colaterais foram
severos, com taxas de juros elevados, ataques especulativos internacionais e
descompassado no crescimento econômico. O desemprego manteve uma
tendência de alta, a balança comercial deficitária. As privatizações foram uma
marca do governo FHC, mas devemos considerar que esse processo acontece
ao longo dos anos 80 do século XX.
Em 1991, no governo Collor, é lançado o Programa Nacional de Deses-
tatização, mas é no governo Fernando Henrique Cardoso que se aprofunda
o processo. Gremaud (2002, p. 546) afirma que as principais razões para o
processo de privatização são:
a) Ineficiência das empresas públicas, destaca pela baixa qualidade dos
serviços e/ou pela existência de déficit financeiro nas empresas esta-
tais; b) diminuição da capacidade estatal em fazer os investimentos
necessários à manutenção e da ampliação dos serviços e atualização
tecnológica das empresas; c) necessidade de gerar receitas para abater
a elevada dívida estatal; d) mudança no quadro tecnológico e finan-
ceiro internacional.

O processo de privatização brasileiro foi um dos mais rápidos e maio-


res da história. O volume arrecadado foi de aproximadamente US$ 103

– 119 –
Teoria Econômica

bilhões de dólares, além de diminuir a dívida externa e ampliar os investi-


mentos sociais.
Segundo Brum (2005, p. 487) cita que os principais beneficiários e pre-
judicados no Plano Real foram:
Quem perdeu: os exportadores em geral, parcela dos trabalhadores
que perdeu o emprego e não conseguiu novos postos de trabalho,
nem estabelecer-se por conta própria; os funcionários públicos fede-
rais e militares, por falta de reajustes salariais, em menor grau o setor
público, o sistema financeiro, e em menor grau as empresas e as pes-
soas que apelaram em demasia ao crédito e alguns setores da indústria
como a de brinquedos, calçados, têxteis e autopeças e vários setores da
classe média, como pequenos microempresários, pouco estruturados,
que perderam os ganhos das aplicações financeiras.
Quem ganhou: as camadas pobres, as grandes empresas e os profis-
sionais liberais.

Apesar de o tema ser controverso, os grandes questionamentos hoje apon-


tam para a transparência e o valor “justo” das empresas e, principalmente, qual
o valor que efetivamente fora depositado nos cofres do governo brasileiro.
O governo do Presidente Lula assumiu com grande desconfiança do
mercado internacional e nacional. A estabilidade de preços adquirida com
o advento do Plano Real poderia ser modificada? O governo procurou afas-
tar inicialmente qualquer possibilidade de ações oportunistas e reafirmou o
compromisso com a estabilidade econômica, principalmente com o controle
inflacionário e com o equilíbrio das contas públicas.
O presidente Lula inicia o seu governo com um grande desafio: debelar a
inflação que dava sinais de aquecimento, pois terminava o ano de 2002, com
14,74% a maior desde 1995, e a projeção para o ano de 2003 ultrapassava os
dois dígitos (20%), o dólar disparava e o risco Brasil alcançava 2.436 pontos,
logo após sua eleição. Para conter a inflação, o governo eleva a taxa de juros
sistematicamente, resultado: uma inflação em 2003 de 9,3%, o PIB teve um
desempenho fraco, alcançando 1,1%, o desemprego aumentou. No entanto o
mercado internacional demonstra otimismo em relação à política econômica
do governo.
Outro fator positivo foi o incremento do setor exportador, aumento de
21,1%, o saldo da balança comercial quase dobrou (88,5%). O pior havia pas-

– 120 –
Formação econômica brasileira

sado. No campo social, a principal ação governamental foi o lançamento do


Programa Fome Zero, voltado para a alimentação da população em risco social.
Em 2004, com a situação internacional favorável, maior estabilidade dos
preços, cumprimento da meta de inflação e do superávit primário (o governo
arrecadou mais do que gastou, motivado principalmente pela elevação da
carga tributária), as taxas de juros em queda, a continuação do aumento das
exportações (o país quase alcançou os 100 bilhões de dólares) e o aumento
da demanda interna foram fatores decisivos para o crescimento de 5,7%,
o maior desde 1994. Ampliaram-se os programas sociais, principalmente o
Bolsa Família, um programa de transferência de renda direta para as famílias
pobres, com algumas exigências, notadamente a permanência das crianças
nas escolas.

Reflita
É possível no mundo globalizado um país conduzir sua política
econômica?

Tabela 1 – Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)

(*) Acumulado até mar./2014.


Fonte: Banco Central do Brasil, 2014 (*).

– 121 –
Teoria Econômica

Tabela 2 – Produto Interno Bruto (PIB)

(*) Acumulado até 3º trimestre/2008.


Fonte: Banco Central do Brasil, 2014 (*).
Nos anos seguintes (2005, 2006 e 2007), a economia demonstrou
taxas crescentes de crescimento econômico e até o 3º trimestre de 2008,
o crescimento foi extremamente positivo. No entanto foi atrapalhado
no último trimestre em virtude da crise internacional. As projeções para
2009 estão sendo refeitas e há previsão de que o PIB brasileiro cresça
em torno de 3% no ano. O segundo mandato tem como marco prin-
cipal o lançamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento),
configurado como um pacote de Projetos relacionados principalmente à
infraestrutura (transporte, energia, saneamento, habitação), estimulação
de crédito e financiamento e desoneração tributária. O período de execu-
ção compreende o período do mandato do Presidente Lula, e o volume
de recursos deve atingir R$ 503 bilhões de reais, sendo boa parte recursos
da iniciativa privada.
Neste capítulo, nós acompanhamos as mudanças que a atuação do
Estado brasileiro sofreu ao longo do tempo, destacando as recentes altera-
ções ocorridas, especialmente os planos de estabilização. Discorremos sobre
as mudanças na estrutura produtiva e nos padrões de crescimento econômico
que fomos experimentando e seus reflexos na vida social.

– 122 –
Formação econômica brasileira

No próximo capítulo, trataremos os aspectos da inflação. Descreveremos


as causas e os efeitos da inflação e discutiremos os instrumentos de política
monetária e fiscal para controlá-la.

Conclusão
Saímos de uma economia agrário-exportadora para economia
industrializada, de um estado pequeno, para um estado que interveio diretamente
no domínio econômico e social, notadamente a partir da grande depressão
de 1929. A partir daí, até os cinquenta anos que se seguiram, o Estado teve
uma participação efetiva no crescimento econômico: investindo, financiando,
avalizando, fornecendo a infraestrutura básica e toda política econômica voltada
para o crescimento. No entanto a deterioração das contas públicas e a inflação
elevada acabam interrompendo uma trajetória de crescimento nunca antes visto
na nossa economia. Os efeitos foram amargos, como inflação descontrolada,
declaração de moratória da dívida e perda do poder aquisitivo da população e
acentuação das desigualdades regionais e individuais.

– 123 –
11
Aspectos de inflação

A inflação perturba o funcionamento da economia. Pro-


voca perdas aos agentes econômicos. A renda das famílias perde
poder aquisitivo. As empresas têm dificuldade para calcular seus
custos reais e estabelecer o preço de suas mercadorias. O governo
perde receita.
Neste capítulo, é aconselhável reforçar o conteúdo que será
trabalhado através de leitura especifica ao tema, ou seja, ampliar os
conceitos e teorias sobre os aspectos que influenciam as variações de
preços. Esses conteúdos você encontrará na bibliografia de Funda-
mentos de Economia Ed. Saraiva (2004).
Teoria Econômica

Inicialmente conceituaremos inflação. Depois vamos analisar suas cau-


sas, seus efeitos e especialmente como o Brasil tem feito o controle da inflação.
Com o estudo deste tema estará preparado para desenvolver conhecimentos sufi-
cientes para identificar os conceitos e efeitos da inflação no sistema econômico.

Reflita
Sobre os principais instrumentos ou ferramentas econômicas que
são utilizadas pelo governo para controlar a inflação brasileira.

11.1 Conceito de inflação


Segundo Vasconcellos (2004, p. 337), a inflação pode ser conceituada
como um aumento contínuo e generalizado no nível de preços.

11.1.1 Causas da inflação


As causas clássicas da inflação são:
22 Inflação de demanda: “[...] refere-se ao excesso de demanda
agregada em relação à produção disponível de bens e serviços”. Este
tipo de inflação ocorre quando a economia está com a produção
próxima ao “pleno emprego dos recursos”. Não sendo possível
aumentar a produção, o nível dos preços aumenta;
22 Inflação de custos: “[...] pode ser associada a uma inflação
tipicamente de oferta”. A demanda permanece no mesmo nível,
mas os custos dos fatores de produção aumentam. Os aumentos
mais comuns são: aumentos salariais e aumentos do custo da maté-
ria-prima;
22 Inflação inercial: “[...] é o processo automático de realimentação
de preços”, isto é, a inflação corrente é resultado da inflação
passada. Os preços passados são automaticamente repassados para
todos os preços da economia, por meio de mecanismos de correção
monetária, cambial e salarial.

– 126 –
Aspectos de inflação

11.2 Efeitos de taxas elevadas de inflação


Taxas elevadas de inflação determinam efeitos na economia, como:
22 no perfil da distribuição da renda: as classes que têm rendimen-
tos fixos com prazos legais de reajustes perdem o poder aquisitivo.
Nesse caso, estão os assalariados. Empresas e governo repassam o
custo da inflação, mantendo sua participação no produto nacional;
22 sobre as finanças públicas: a defasagem entre fato gerador e
o recolhimento dos tributos, a inflação tende a corroer a receita
do governo;
22 sobre as expectativas: as empresas são sensíveis à taxa de infla-
ção futura, à instabilidade e a imprevisibilidade dos lucros. Ten-
dem a esperar, não aumentando os investimentos o que resulta
no aumento da taxa de desemprego. É inflação de expectativas ou
inflação psicológica.

11.3 Controle da inflação na


economia Brasileira
A inflação tornou-se crônica na economia brasileira a partir de 1950. O
diagnóstico demonstra que as causas estão relacionadas com o aumento da
demanda e aumento de custos. O aumento da demanda ocorreu quando houve
aumento de salários acima da inflação. O aumento de custos é consequência
do aumento de salários sem aumento da produtividade e aumentos de
insumos como nas crises do petróleo em 1973 e 1979. Na década de 80
do século XX, com salários e preços indexados, a inflação inercial também
alimentou a inflação.
O governo brasileiro tem utilizado a política fiscal, a política monetária
e a política de rendas para controlar a inflação. Com relação à política fiscal,
o principal instrumento tem sido aumento de tributos e redução dos gastos.
Na política monetária, a elevação da taxa de juros e a redução do crédito,
reduzem o consumo e o investimento. Na política de rendas, foi adotado
o congelamento e preços no Plano Cruzado e os salários do setor privado
passaram a reajustes mediante livre negociação.

– 127 –
Teoria Econômica

Atualmente, o método de controle da inflação é o sistema de metas


inflacionárias, administrada pelo Banco Central. Nesse sistema, é estabelecida
uma meta da inflação para o ano. Para alcançar a meta, o governo usa a taxa de
juros, os gastos públicos e outros instrumentos para garantir o cumprimento
da meta.

11.4 Planos econômicos e inflação


Plano econômico é um instrumento de gestão da economia. Na
estrutura de um plano econômico, os elementos principais são o diagnóstico,
a definição dos objetivos e metas e a escolha dos instrumentos de gestão. Os
instrumentos de gestão são as políticas fiscal, monetária, cambial, comercial
e de rendas.
A partir de 1985, os planos econômicos do governo brasileiro tiveram
como objetivo principal o controle da inflação. A seguir, serão analisados, de
forma sucinta, os planos Cruzado, Collor e Real. Esses planos adotaram o
diagnóstico da inflação inercial.

11.4.1 Plano cruzado


Era o reinício da democracia no Brasil. Foram eleitos Tancredo Neves,
presidente, e José Sarney, vice-presidente. Com a morte de Tancredo, Sarney
assumiu a presidência. O problema econômico principal era a inflação.
Conforme Vasconcellos (2004), a inflação, em 1983, foi de 211%, em
1984, 223,8% e, em 1985, 235,1%. O plano foi lançado em 28 de fevereiro
de 1986, como instrumento de gestão da economia. A seguir será feita uma
síntese do plano.
O diagnóstico levantado antes desse plano econômico foi de uma
inflação inercial, com índices elevados, portanto teve como objetivo geral o
controle da inflação.
Instrumentos de gestão do plano:
22 Adoção de uma nova moeda, o Cruzado, em substituição ao cruzeiro;
22 Conversão dos salários pelo poder de compra dos últimos seis
meses mais um abono de 8%;

– 128 –
Aspectos de inflação

22 Congelamento de preços com base 28 de dezembro de 1986, com


exceção da energia elétrica, que foi reajustada em 20%, sem prazo
para descongelamento;
22 Fixação da taxa de câmbio com base em 27 de fevereiro de 1986;
22 Recomposição dos valores de aluguel pela média.

11.4.2 Plano Collor


Quando o presidente Fernando Collor de Melo assumiu o governo,
a principal preocupação era o controle da inflação. Assim foi concebido e
aplicado o plano Collor.
O diagnóstico foi um processo inflacionário explicado pelo descontrole
monetário e fiscal e pela elevada e crescente liquidez dos haveres financeiros não
monetários. Haveres financeiros não monetários são caderneta de poupança,
depósitos a prazo, letras cambiais, hipotecárias e imobiliárias, fundos de renda
fixa e títulos públicos. Portanto o objetivo era controle da inflação.
Instrumentos de gestão do plano:
22 Reforma monetária: bloqueio de 50% dos depósitos à vista, 80%
das aplicações de overnight e fundos de curto prazo e um terço dos
depósitos em poupança. 70% do total dos meios de pagamento
foram bloqueados;
22 Reforma administrativa: programa de privatizações, melhoria da fisca-
lização para evitar a sonegação e maior controle dos bancos estaduais;
22 Reforma fiscal: ajuste fiscal de 10% para eliminar déficit de 8% e
criar superávit de 2% do PIB. O ajuste seria feito com redução do
custo da dívida, suspensão de subsídios, incentivos fiscais e isen-
ções, ampliação da base tributária, tributação das grandes fortunas,
imposto sobre operações financeiras, extraordinário sobre o esto-
que de ativos financeiros e o fim do anonimato fiscal, proibindo
cheques e ações ao portador;
22 Congelamento de preços e desindexação de salários em relação à
inflação anterior, criando nova norma de prefixação de preços e
salários, a partir de 1º de maio de 1990;

– 129 –
Teoria Econômica

22 Alteração do regime cambial para o sistema de taxas flutuantes;


22 Mudança da política comercial, iniciando o processo de abertura da
economia, com redução das tarifas de importação em uma média
de 40%, para 20%.
Resultados: as pressões do mercado levaram à devolução do bloqueio. Em
menos de dois meses, os meios de pagamento aumentaram 60%. O ajuste
fiscal resultou em um superávit primário de 1,2% do PIB. Não foi possível
implementar a demissão de funcionários públicos, que dependia de alteração
na constituição. O Programa Nacional de Desestatização, administrado
pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, foi alvo de
críticas. A valorização da taxa de câmbio combinada com menores incentivos
às exportações e elevação do preço do petróleo na Guerra do Golfo aumentou
o déficit na Balança Comercial. Esse fator influenciou o fracasso do Plano
Collor I. Foi lançado o Plano Collor II, que eliminou a indexação financeira,
congelou preços e salários, bloqueou recursos do orçamento para investimento
e criou maior controle sobre os gastos das empresas estatais. A inflação foi
reduzida entre fevereiro e maio. Na administração de Marcílio, foi lançado
um pacote anti-inflacionário com forte restrição do crédito, recuperação
das finanças públicas e manutenção da taxa de câmbio real. O resultado
foi a grande recessão em 1992, sem redução da inflação. Pressões políticas
e denúncias de corrupção resultaram no afastamento de Collor. Entretanto,
no governo Collor de Melo, teve início o programa de privatização, maior
abertura comercial e volta dos recursos externos ao país.
Com o afastamento de Collor, assumiu o vice Itamar Franco, que
iniciou a criação e a implementação do Plano Real. Ainda no governo Itamar,
foi criado o Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira – IPMF – e
lançado o Plano de Ação Imediata – PAI –, que tinha com objetivo básico a
redução de gastos do setor público federal, estadual e municipal.

11.4.3 Plano real


Após o fracasso dos planos Cruzado, Bresser, Verão e Collor no controle
da inflação, nasceu um plano que evitou a repetição de erros do passado:
o Plano Real. A seguir será apresentada uma síntese desse plano como
instrumento de gestão da economia.

– 130 –
Aspectos de inflação

O diagnóstico foi que a inflação brasileira tinha como característica um


componente inercial. Inflação inercial é resultado da indexação da economia
no passado. Para fazer o controle da inflação inercial, havia a proposta de
congelamento de preços (Francisco Lopes) e a da reforma monetária (Larida
– André Lara Resende e Pérsio Arida). A proposta da reforma monetária foi
adotada. O objetivo do Plano Real era o controle da inflação.
Instrumentos de gestão do plano. O Plano Real foi implementado em
três etapas. Veja a seguir:
1. Ajuste fiscal que consistiu na criação do IPMF e no Fundo Social de
Emergência (FSE). O IPMF era um imposto de caráter provisório,
com alíquota de 0,25% sobre movimentação financeira. O FSE
correspondia a 15% da arrecadação de todos os impostos. Esses
recursos não seriam vinculados, assim não haveria transferências
obrigatórias sobre esse valor. A intenção era haver um alívio no caixa
do governo para promover as reformas tributária, administrativa e
previdenciária;
2. Indexação completa da economia com a criação da Unidade Real
de Valor (URV). A URV manteve uma paridade com o dólar e uma
URV correspondia a um dólar. Alguns preços e rendimentos foram
convertidos imediatamente para URV e outros foram convertidos
voluntariamente. A URV funcionava como unidade de conta e
preço das mercadorias, embora as trocas fossem realizadas com o
cruzeiro real (CR$). Essa fase possibilitou o realinhamento dos
preços relativos dos bens e serviços. O processo inflacionário havia
causado muitas distorções nos preços. A fase da URV foi uma
preparação para a etapa seguinte;
3. Adoção do Real (R$) como nova moeda, em 1º de julho de 1994.
O valor de 1 real era igual ao valor da URV, que equivalia a 1 dólar,
CR$ 2.750,00.
Para garantir a eficiência do plano, foram adotadas, também, a âncora
monetária e a âncora cambial. A âncora monetária consistiu no estabelecimento
de metas da expansão monetária, e depósito compulsório de 100% sobre
depósitos adicionais do sistema financeiro. Esses instrumentos tinham como
objetivo controlar a demanda de bens e serviços e a expansão monetária. A

– 131 –
Teoria Econômica

âncora cambial ocorreu com a adoção do sistema de câmbio flutuante. Esse


sistema resultou na valorização da taxa de câmbio. Com a economia aberta
e um volume elevado de reservas, U$ 40 bilhões, houve a possibilidade de
aumentar as importações, aumentando a concorrência e, em consequência,
os preços se mantiveram estáveis.
Resultados: o resultado imediato foi a redução da inflação. Em agosto
de 1994, a inflação foi de 3% a.m., quando no primeiro semestre foi superior
a 40% a.m. Em 1995, a inflação atingiu 14,8%, em 1996, 9,3%, em 1997,
7,5% e 1998, 1,7%.
Houve, também, crescimento da demanda e da atividade econômica. A
explicação para o aumento da demanda teve vários fatores. O primeiro, foi o
aumento do poder aquisitivo das classes com menor renda, com a redução da
inflação. Outro fator foi mais oferta de crédito pelo sistema financeiro com
a diminuição das incertezas na economia. Assim consumidores e empresas
tomaram mais empréstimos para financiar o consumo e os investimentos.
Aumento do consumo e do investimento significa aumento da demanda
agregada. A apreciação ou valorização cambial foi outro resultado em função
da âncora cambial como estratégia de estabilização. A apreciação cambial
facilitou as importações, determinando uma acomodação dos preços internos
aos preços internacionais.

11.4.4 Pós-plano real


No pós-Real, continuou a implementação do programa nacional
de desestatização, sendo privatizado o setor de telecomunicações, o setor
siderúrgico e parte do setor elétrico. Com o objetivo de reestruturação
financeira, foram criados o Programa de Estímulo à Reestruturação e
Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (PROER) e o Programa
de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária
(PROES).
Outro instrumento de controle da inflação foi adotado a partir de
julho de 1999, o regime de metas inflacionárias. Nesse regime, o governo
estipula a meta futura de inflação. Outros países já adotaram o regime de
metas inflacionárias como a Nova Zelândia (1990), Chile e Canadá (1991)
e Espanha (1994). Quando o Brasil adotou o sistema, projetou a inflação

– 132 –
Aspectos de inflação

para três anos: 1999, 2000 e 2001 – 8%, 6% e 4%, respectivamente. Um


aperfeiçoamento institucional para controle de gastos no setor público foi
a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa lei estabelece limites de
gastos com pessoal da União, Estados e Municípios.
Você observou neste capítulo que descrevemos as causas e os efeitos da
inflação e as formas de controle. Qual o tipo de inflação quando o barril de
petróleo aumenta o preço? Quando os consumidores têm um aumento de
renda ou acesso mais fácil ao crédito e compram tudo, qual o tipo de inflação
que pode surgir? Como você administraria os gastos públicos para controlar
a inflação? Como você avalia os planos Cruzado, Collor e Real no controle
da inflação no Brasil?
No próximo capítulo, você terá a oportunidade de conhecer como
funcionam as relações econômicas entre os países é o próximo tema. Veremos
como se explicam as vantagens do comércio internacional, a taxa de câmbio
e o balanço de pagamentos.

Conclusão
A inflação é resultado de algum desequilíbrio no sistema econômico. As
causas estão relacionadas ao aumento na demanda maior que a capacidade
de oferta, elevação dos custos e indexação generalizada dos preços. Os efeitos
da inflação influenciam a distribuição da renda, as finanças públicas e as
expectativas dos agentes econômicos. Para controlar a inflação, é utilizada a
política fiscal e a política monetária.
Neste capítulo, você também pôde observar por que e como surgiram os
planos Cruzado, Collor e Real, além de seus efeitos.

– 133 –
12
Noções de economia
internacional

As relações econômicas entre países se intensificaram após


a Revolução Industrial. A produção de bens e serviços experimen-
tou um aumento vigoroso e as relações na área financeira cresceram
mais rápido do que na troca de bens e serviços. Atualmente, a glo-
balização da economia e a criação dos blocos econômicos, como o
Mercosul, tornaram essas relações mais intensas. Esse tema vai per-
mitir que tenhamos um conhecimento mínimo sobre os princípios
e os instrumentos do funcionamento da economia em nível inter-
nacional. Para tanto, veremos a teoria das vantagens comparativas, a
taxa de câmbio, o balanço de pagamentos e as funções das principais
organizações internacionais.
Teoria Econômica

Para obter maior entendimento sobre o assunto tratado neste capítulo,


você pode buscar mais conhecimentos nos livros que abordam a econo-
mia internacional, entre eles a teoria clássica da vantagem comparativa e
as teorias modernas do comércio internacional, política cambial e balanço
de pagamentos. Você encontrará este conteúdo no livro intitulado Econo-
mia internacional e comércio exterior, de Jayme de Mariz Maia, da editora
Atlas (2006).
Assim você obterá os conhecimentos necessários para o entendimento
deste tema e para atingir o objetivo de explicar todo o contexto da econo-
mia internacional.
Começaremos com a teoria das vantagens comparativas depois para o
conceito de taxas de câmbio e políticas externas. Finalizando o capítulo o
balanço de pagamentos.

12.1 Teoria das vantagens comparativas


Como se explica o processo de troca de bens e serviços entre países?
A explicação dos economistas clássicos é chamada de princípio das vanta-
gens comparativas.
De acordo com o princípio das vantagens comparativas, cada país deve
se especializar na produção dos bens ou serviços em que seja mais eficiente,
isto é, que tenha custo relativamente menor, para exportar. Deve importar
bens ou serviços que tenham custo relativamente maior na produção interna.
A seguir, ilustraremos o princípio das vantagens comparativas.

Tabela 1 Exemplo de vantagem comparativa.

Países Fator de Produção Milho Tecido


Estados Unidos Trabalhador/ano 1.200 kg 600 m
Brasil Trabalhador/ano 400 kg 400m
Fonte: Maia (2006).
Os dados mostram que, nos Estados Unidos, para se produzir um
metro de tecido, é necessário deixar de produzir 0,5 kg de milho. No

– 136 –
Noções de economia internacional

Brasil, a relação é 1 por 1. No caso de troca entre os países, é vantajoso


para os EUA especializar-se na produção de milho e o Brasil na produção
de tecidos.

12.2 Taxa de câmbio: conceito


As trocas de bens e serviços entre países exigem regra de paridade entre
as moedas – taxa de câmbio, que é o preço da moeda nacional em relação a
outras moedas. Vamos estudá-la agora.

12.2.1 Regimes cambiais: taxas fixas e taxas flexíveis


A taxa de câmbio é determinada pela decisão das autoridades monetárias
– taxas fixas ou pelo mercado, taxas flutuantes ou flexíveis.
As taxas flutuantes ou flexíveis de câmbio são determinadas no mer-
cado de divisas (mercado de moedas). A demanda de divisas é realizada
pelos importadores para pagar compras no exterior. A oferta de divisas é
realizada pelos exportadores que recebem moeda pelas vendas e pela entrada
de capitais financeiros.
Desvalorização cambial ou depreciação cambial significa que a moeda
nacional é desvalorizada em relação a outras moedas. Valorização cambial
ou apreciação cambial é tornar a moeda do país mais forte, comparada com
outras moedas.

12.2.2 Valorização e desvalorização


cambial, exportações e importações
Há uma relação entre a taxa de câmbio e os preços dos produtos e ser-
viços exportados e importados. Se a taxa de câmbio é elevada, estimula as
exportações, pois os importadores receberão mais em moeda nacional. Mas
desestimula as importações, pois os importadores terão de pagar mais caro
em moeda nacional.
Por exemplo, exportação da saca de soja a U$ 16,00 e a taxa de câmbio
R$/ U$ 2,60: o exportador recebe em R$ 41,60; se a taxa de câmbio for R$/
U$ 3,00, recebe R$ 48,00.

– 137 –
Teoria Econômica

Veja agora a valorização e a desvalorização cambial em relação à inflação:


22 Valorização cambial e inflação: A valorização ou aprecia-
ção cambial torna a moeda nacional mais forte, facilitando
as importações e aumentando a competitividade nos preços.
Essa situação tende a estabilizar os preços internos. É a “ân-
cora cambial”.
22 Desvalorização cambial e inflação: A desvalorização ou
depreciação cambial torna a moeda nacional mais fraca,
dificultando as importações e aumentando os preços relativos dos
produtos essenciais – petróleo, trigo por exemplo, e aumento dos
custos de produção (inflação de custos). O aumento nos preços
relativos tende a estimular o aumento da inflação.

12.3 Políticas externas


As políticas externas são instrumentos utilizados para manter as rela-
ções internacionais em nível satisfatório, são elas: política cambial e política
comercial. Estudaremos cada uma separadamente.

12.3.1 Política cambial


A política cambial depende do regime cambial adotado pelo país.
Pode ser regime de taxas fixas de câmbio, quando o Banco Central fixa a
taxa de câmbio. Nesse caso, o sistema financeiro internacional exige que
o país disponibilize suas reservas (divisas depositadas no Banco Central).
A principal desvantagem do regime de câmbio fixo é obrigatoriedade
da disponibilização das reservas. Cria vulnerabilidade e oportunidade
para ataques especulativos, que é a elevação de demanda por moeda
estrangeira. Para evitar a saída de divisas, o país necessita elevar a taxa
de juros.
O outro regime é o de taxas flutuantes ou flexíveis de câmbio, quando
a taxa de câmbio é determinada pela demanda e oferta no mercado de divi-
sas. A principal vantagem é a defesa das reservas cambiais, evitando os ata-
ques especulativos.

– 138 –
Noções de economia internacional

12.3.2 Política comercial


O comércio exterior funciona conforme regras a seguir:
22 alterações das tarifas sobre importações: se o objetivo é proteger a
produção nacional (protecionismo), aumentam-se as tarifas sobre
importados e, se o objetivo é liberalizar as importações (abertura
comercial), as tarifas são diminuídas;
22 regulamentação do comércio exterior: entraves burocráticos, esta-
belecimento de quotas ou proibições de importação de produtos
devem ser regulamentados;
22 atualmente, as políticas comerciais estão sujeitas às normas da
Organização Mundial do Comércio – OMC. A função da OMC é
proibir políticas protecionistas e as práticas de dumping (venda de
mercadorias por preço inferior ao custo de produção).
Finalmente, você conhecerá o balanço de pagamentos.

12.4 Balanço de pagamentos


O balanço de pagamentos e um instrumento utilizado para registrar as
transações econômicas entre países. Maia (2006, p. 71) indica uma estrutura
indicada pelo FMI. Veja a seguir.
O Balanço de Pagamentos é o registro estatístico-contábil de todas
as transações econômicas efetuadas entre os residentes de um país
e os residentes dos demais países. Assim, são contabilizados, por
exemplo, exportações, importações, pagamento/recebimento de
juros, fretes, seguros, turismo, empréstimos, amortizações.

O registro das transações segue as normas gerais de contabilidade


geral, utilizando-se o método de partidas dobradas. Nas transações exter-
nas, não há a conta Caixa, que é substituída pela conta Haveres e Obriga-
ções no Exterior (HOE).
Na contabilização do balanço de pagamentos, quando há ingresso
de reservas internacionais em dólar (U$), nesse caso, debita-se a conta
HOE; quando há pagamento ou saída de reservas internacionais, credita
se HOE.

– 139 –
Teoria Econômica

No caso do exemplo a seguir, todos os valores registrados positivos indi-


cam recebimentos (entradas) de reservas internacionais, e os negativos indi-
cam pagamentos (saídas) de reservas internacionais.
Tabela 2 Exemplo de balanço de pagamento resolvido.

Fonte: Revista conjuntura econômica (2006).

Reflita
Como a taxa de câmbio pode influenciar nas exportações e nas
importações dos países especialmente no Brasil?

O funcionamento das relações econômicas internacionais faz parte da


economia moderna. Para explicar esse funcionamento, a teoria das vantagens
comparativas, a taxa de câmbio, as políticas comerciais, o balanço de
pagamentos e as funções das organizações internacionais são essenciais.
Como a teoria das vantagens comparativas explica as vantagens do
comércio mundial? Qual é o papel da taxa de câmbio nas relações comerciais

– 140 –
Noções de economia internacional

internacionais? Você seria capaz de identificar em que os diversos tipos de


operações comerciais e financeiras são registrados no balanço de pagamentos?
Qual a diferença entre globalização econômica e integração econômica? As
respostas ajudarão sua autoavaliação ao final deste capítulo.
No próximo capítulo, veremos como se estrutura o setor público, que é
um agente econômico ativo nos sistemas de economia mista, predominante
nos dias atuais. Apresentaremos as funções do setor público, a estrutura da
arrecadação e dos gastos. Também trataremos da questão do superávit ou
déficit público e, por fim, o orçamento público.

Conclusão
A teoria das vantagens comparativas explica como a diferença na dis-
ponibilidade de recursos de produção favorece o comércio internacional.
Maior disponibilidade de recursos naturais, por exemplo, significa que os
custos desses recursos são menores e o país tem vantagem comparativa em
relação a outro país com menor disponibilidade desse fator. A taxa de câm-
bio é decisiva nos negócios internacionais, pois o preço que o exportador
recebe ou o importador paga é em moeda nacional. As políticas comerciais
relacionadas com taxa de câmbio e tarifas também influenciam o comércio
entre países. Finalmente, o balanço de pagamento é o instrumento de regis-
tro de todas as operações.

– 141 –
13
Noções de economia
do setor público

Nos capítulos anteriores, podemos perceber que o governo


é um agente econômico presente no funcionamento do sistema
econômico. Essa presença ocorre de várias formas, e a forma mais
visível é a intervenção por meio da política econômica. Por meio
da política fiscal, o governo arrecada uma parcela da renda nacional
na forma de impostos e taxas. Essa arrecadação é gasta em despe-
sas correntes e despesas de capital, influenciando a demanda agre-
gada. Utilizando a política monetária, o governo controla a oferta
de moeda, a taxa de juros, a taxa de câmbio e a disponibilidade de
crédito. Nesse tema, abordaremos de maneira mais completa as ati-
vidades do Estado.
Teoria Econômica

Sugere-se uma revisão sobre produto, renda e despesa nacional, sobre


demanda efetiva, oferta agregada e inflação, temas abordados nos capítulos
7, 8 e 11. O livro Introdução à economia da editora Atlas, (2000) de José
Paschoal Rossetti, também é interessante para pesquisa. Com esses conhe-
cimentos, agregados ao que estudaremos neste capítulo, você estará apto a
desenvolver habilidades para: descrever as funções do governo no sistema eco-
nômico, explicar como o governo financia o déficit e descrever o processo de
elaboração do orçamento público.
Para tanto, começaremos este capítulo discorrendo sobre a participação
do setor público na economia. Após, abordaremos a questão da estrutura
tributária, o déficit ou superávit público, para finalizarmos com o orçamento
geral da União.

13.1 A participação do setor


público na economia
De acordo com a economia clássica, as funções do Estado era cuidar da
segurança e da justiça. A partir de 1920, a crise do sistema capitalista com alto
nível de desemprego exigiu maior participação do Estado. Essa participação
se evidenciou com o Estado Noções de economia do setor público produ-
zindo o ofertando os chamados bens públicos, como energia, saneamento,
rodovias, ferrovias, portos, aeroportos. A seguir descreveremos as funções
econômicas do setor público.
Em virtude de falhas no sistema de preços, o setor público assume as
funções alocativa, distributiva e estabilizadora. Falhas no sistema de preços,
significa que só o mercado funcionando conforme as leis de demanda e oferta
mais os monopólios e oligopólios não são capazes de atender totalmente as
demandas sociais.

13.1.1 Função alocativa


Como o sistema de mercado não consegue fornecer todos os bens e
serviços, a função alocativa se propõe a ofertar esses bens. Os bens fornecidos
pelo governo são denominados bens públicos, porque ninguém é excluído do
consumo deles.

– 144 –
Noções de economia do setor público

A oferta de bens não públicos obedece ao princípio da exclusão. Pelo


princípio da exclusão, se um indivíduo consome determinado bem, pagando
seu preço, outro indivíduo está excluído de consumir o mesmo bem.
Os bens de consumo coletivo podem ser um bem público puro ou não.
Uma praia não é um bem público puro, pois quando está completamente
cheia é necessário que banhistas saiam para beneficiar outros banhistas. Já o
serviço meteorológico pode ser considerado um bem público puro. Seu uso
por um indivíduo não exclui a possibilidade de outros também usá-lo.
Ainda pode ser incluída, na função alocativa, a questão do crescimento
econômico. A atuação do Estado no crescimento econômico trata do investi-
mento público na infraestrutura e incentivos e financiamento para estimular
os investimentos no setor privado.
Os bens semipúblicos atendem ao princípio da exclusão, mas são produ-
zidos também pelo Estado. Os serviços de saúde, educação, saneamento são
bens semipúblicos.

13.1.2 Função distributiva


A renda tem como origem o trabalho e a propriedade ou capital. A renda
do trabalho é o salário. A renda da propriedade é o lucro, juro e aluguel. O
nível do salário depende da qualificação profissional e oportunidades de tra-
balho. Lucro, juro e aluguel dependem da disponibilidade de capital. Com
base nas leis de mercado, a tendência natural é haver desigualdade na renda.
A função distributiva do governo visa a redistribuir a renda. Para tanto,
alguns instrumentos são utilizados. Um deles é a tributação. Pela tributação, o
governo retira renda dos segmentos sociais com maior nível de renda e transfere a
renda para os segmentos menos favorecidos. Outro instrumento é o gasto públi-
co e subsídios quando recursos são aplicados em áreas e setores mais carentes.

13.1.3 Função estabilizadora


Já vimos que o pleno emprego e a estabilidade dos preços não aconte-
cem automaticamente no mercado. A intervenção do governo conforme a
proposta de Keynes é utilizar a política econômica para possibilitar o pleno
emprego e a estabilidade dos preços.

– 145 –
Teoria Econômica

13.2 Estrutura tributária


A arrecadação ou receitas do setor público é oriunda dos tributos que
são classificados em impostos, taxas e contribuições de melhoria. As taxas são
cobradas pela utilização de serviços públicos. A contribuição de melhoria é
cobrada pela realização de obra pelo governo, que implica aumento do patri-
mônio na área do imóvel. Os impostos são a parte maior e mais complexa dos
tributos. Façamos sua classificação e análise.

13.2.1 Imposto direto


A incidência do imposto direto é sobre a renda e o patrimônio. O
imposto sobre a renda (IR) abrange salário, lucro e juros. O imposto de renda
é o principal exemplo. O imposto sobre o patrimônio incide sobre o estoque
da riqueza. Os impostos sobre propriedade de veículos (IPVA), de terreno
urbano (IPTU) e propriedade rural (ITR) são exemplos.
O imposto sobre a renda, por exemplo, exerce um impacto sobre
a demanda agregada. Sabemos que a maior parte da renda das famílias é
gasta em consumo. Se a alíquota do imposto sobre a renda é elevada, a renda
pessoal disponível é menor. Esse fato implica menor capacidade de consumo
pelas famílias.

13.2.2 Imposto indireto


Os impostos indiretos incidem sobre as transações sobre bens e serviços.
Na estrutura tributária brasileira, o imposto sobre circulação de mercadorias e
serviços (ICMS), o imposto sobre produtos industrializados (IPI) e o imposto
sobre serviços (ISS) são exemplos. A base tributária do imposto indireto é
o valor da compra e venda do bem ou serviço. Quem recolhe o imposto
nem sempre arca com o ônus. Por exemplo, no ICMS, o vendedor inclui o
imposto no preço do bem ou serviço.

13.3 Déficit ou superávit público


No setor público, superávit ou déficit estão relacionados com a arreca-
dação e o gasto. Se a arrecadação for maior do que o gasto, ocorre superávit.

– 146 –
Noções de economia do setor público

Quando o gasto supera a arrecadação, há déficit. Para se analisar superávit


e déficit público precisamos saber se é nominal, operacional ou primário.
Vamos estudar um deles.

13.3.1 Déficit nominal ou total


É a necessidade de novos financiamentos ao longo de um ano para suprir
a diferença entre arrecadação e gastos. Inclui União, estados e municípios,
empresas estatais e previdência social. É também denominada necessidade de
financiamento líquido do setor público não financeiro. A arrecadação inclui
todos os tributos, taxas e contribuição de melhoria. O gasto inclui gastos
correntes e de capital, compreendendo juros, correção monetária e cambial
da dívida passada.

13.3.2 Déficit primário ou fiscal


O déficit primário é mensurado pela diferença entre arrecadação e gastos
no período de um ano. Não é considerado o custo da dívida passada, como
juro, correção monetária e cambial.

13.3.3 Déficit operacional


O déficit operacional é calculado pela diferença entre arrecadação e gas-
tos no período de um ano. Nos gastos, é incluído o juro real da dívida ante-
rior. Não são incluídas a correção monetária e cambial no cálculo do déficit. A
correção monetária e a correção cambial aumentam o valor nominal da dívida
quando há inflação ou descontrole cambial.
Agora observe como ocorre o financiamento do déficit.

13.3.4 Financiamento do déficit


O governo financia o déficit com recursos extrafiscais. Os instrumentos
de financiamento utilizados são:
22 emissão de moeda: espécie de empréstimo do Banco Central ao
Tesouro Nacional;

– 147 –
Teoria Econômica

22 venda de títulos da dívida pública ao setor privado.


A emissão de moeda aumenta a inflação, mas não a dívida pública. A
venda de títulos não gera inflação, aumentando o endividamento público.
Quando a dívida pública aumenta, o governo oferece taxa de juros maiores
para vender os títulos. Essa situação acontece atualmente no Brasil.
Finalmente, você conhecerá o processo orçamentário a seguir, assunto
que conclui este capítulo.

13.4 Orçamento geral da união


A Constituição Federal de 1988, nos Arts. 165 a 169, definiu como deve
ser o processo orçamentário. O Poder Executivo, por meio de lei, deve estabe-
lecer o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e os orçamentos anuais.
O orçamento geral da União é composto dos seguintes elementos:
22 orçamento fiscal relativo aos poderes Executivo, Legislativo e Judi-
ciário, fundos, órgãos da administração direta e indireta, inclusive
fundações mantidas pelo poder público;
22 orçamento de investimento das empresas públicas e estatais;
22 orçamento da seguridade social, inclusive os órgãos vinculados,
da administração pública direta ou indireta, incluindo fundações
mantidas pelo poder público.
O projeto de lei do orçamento anual deve ser encaminhado ao Con-
gresso Nacional até quatro meses antes do encerramento do ano fiscal.

13.4.1 Plano plurianual


A lei do plano plurianual (PPA) deve estabelecer por regiões as diretri-
zes, os objetivos e as metas da administração pública federal para as despesas
de capital. O PPA tem duração de quatro anos. O presidente eleito executa
um ano do PPA do antecessor. No primeiro ano de mandato, propõe o novo
PPA. Os Estados e municípios também aprovam seus PPAs. No governo do
presidente Fernando Henrique, o PPA foi popularizado como Avança Brasil.
No governo Lula, o PPA é conhecido como Brasil de Todos.

– 148 –
Noções de economia do setor público

13.4.2 Lei de diretrizes orçamentárias


A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) é fundamental para a admi-
nistração das finanças públicas, a curto e médio prazo. Orienta os seguintes
passos da administração financeira da União, Estados ou Municípios:
22 estabelece as metas e prioridades da administração financeira;
22 cria diretrizes para a lei orçamentária anual;
22 inclui as alterações na legislação tributária.
O projeto da LDO é enviado ao Congresso Nacional até oito meses e
meio antes do encerramento do exercício financeiro.

13.4.3 Lei de responsabilidade fiscal


A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) é o instrumento de controle
da política fiscal. O objetivo da lei é possibilitar o equilíbrio orçamentário.
Estabeleceu normas para serem observadas pela União, Estados e Municípios:
22 limita as despesas com funcionalismo público: 50%, para a União;
60% para Estados e Municípios;
22 proíbe socorros financeiros entre União, Estados e Municípios;
22 limita despesas de administradores públicos em final de mandato;
22 limita endividamento para a União, Estados e Municípios.
O não cumprimento da lei implica perda de repasses voluntários da
União. Também os infratores da lei poderão ser punidos por crime de res-
ponsabilidade fiscal.
Você, ao final deste capítulo, observou que a participação do setor
público visa a corrigir distorções do mercado. As funções alocativa, distribu-
tiva e estabilizadora possibilitam o fornecimento de bens públicos, melhora a
distribuição da renda e a estabilidade da economia. Os principais instrumen-
tos de atuação são o orçamento público anual e o plano plurianual.
No próximo capítulo veremos o tema mercados globalizados, isto é, como
funcionam as relações econômicas entre os países. Também abordaremos o fun-
cionamento dos blocos econômicos como a União Europeia e o Mercosul.

– 149 –
Teoria Econômica

Conclusão
No início deste capítulo, foram apresentadas as razões por que o setor
público tem aumentado sua participação na economia. Essa participação
implica funções alocativa, distributiva e estabilizadora do governo. Para exer-
cer essas funções, o governo arrecada tributos e efetua gastos correntes e de
capital. As receitas e gastos são aprovados pelo Congresso Nacional no Orça-
mento Geral da União. O resultado do Orçamento é superávit ou déficit. O
superávit e o déficit são classificados em primário, operacional e nominal.
Quando há déficit, o governo financia o déficit tomando empréstimos inter-
nos e externos.

– 150 –
14
A globalização

O capítulo inicial apresentou a Ciência Econômica, seus


elementos essenciais e os principais pensadores. Nele, releia com
atenção a teoria das vantagens comparativas de David Ricardo, base
para o comércio internacional. No capítulo 12, noções de economia
internacional, você estudou as principais temáticas relacionadas às
transações financeiras e mercadológicas, como a política cambial,
comercial e o balanço de pagamentos. Esses temas auxiliarão sua
compreensão do conceito, princípios e efeitos da globalização.
O relacionamento econômico entre as nações possui
origem imemorial e perde-se na história humana. Mesmo antes
do surgimento dos Estados Nacionais, no alvorecer da idade
moderna, as relações econômicas entre povos era lugar comum,
tendo adquirido crescente importância ao longo dos séculos. Para
melhorar o entendimento sobre o conteúdo, verifique o livro de
Jacques ADDA,“Os problemas da globalização da economia”.
Editora Manole, 2004.
Teoria Econômica

A forma preponderante desse relacionamento se efetivava a partir do


comércio (troca de mercadorias), e esse foi o aspecto básico da economia inter-
nacional até o advento do capitalismo industrial e do imperialismo colônia.
Embora a movimentação de mercadorias e de capitais em nível interna-
cional não seja um fenômeno recente, tem mudado sua natureza íntima ao
longo dos anos, condicionado sempre pelo nível de integração que o mercado
nacional tem conseguido alcançar em relação ao mercado interno de outras
nações. Esse fenômeno hoje atende pelo nome de globalização, e é por esse
conceito que iniciaremos este capítulo.

14.1 O que é globalização?


A principal diferença que podemos alinhar no passado e nos dias atu-
ais do fenômeno de integração das nações é a velocidade e a intensidade
com que os mercados, a tecnologia, a informação e cultura são integradas
e disseminadas.
Esse processo acelera-se com a divisão internacional do trabalho de forma
mais intensa, o que condicionou a produção das nações pobres à exportação
de bens primários, e das nações ricas ao industrialismo, tornou-se o pano de
fundo em que se processou o crescente fluxo de capitais entre as nações.
Todavia o fenômeno mais impressionante é sem dúvida o desenvolvi-
mento de técnicas de comunicação, informática e a melhoria da logística, que
tem dado agilidade operativa sem precedentes na história da humanidade.
Enormes quantias de recursos (financeiros, materiais e humanos) são
movimentadas entre fronteiras, em que o tempo de remanejamento já não é
contado em semanas ou dias, mas em horas, muitas vezes on-line.
Você sabe conceituar globalização?
“A globalização é o termo que designa o fim das economias nacionais e
a integração cada vez maior dos mercados, dos meios de comunicação e
dos transportes” (SANDRONI, 2000, p. 265).

Essa aproximação dos mercados dá a conotação de estímulo à


concorrência e, invariavelmente, contribuirá para o barateamento de
determinadas mercadorias. No entanto, o processo de globalização foi e

– 152 –
A globalização

continua sendo vendido como uma panaceia e sua principal característica


seria que as grandes diferenças que separam as nações do mundo desenvolvido
das nações subdesenvolvidas seriam rapidamente superadas. Santos (2002, p.
19 e 27) explica que:
É como se o mundo se houvesse tornado, para todos, ao alcance da
mão. Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz
de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são
aprofundadas. Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores
hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais dis-
tante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal. Enquanto
isso, o culto ao consumo é estimulado.
[...]
A globalização, longe de ser consensual, é um vasto e intenso campo
de conflitos entre grupos sociais, Estados e interesses hegemônicos,
por um lado, e grupos sociais, Estados e interesses subalternos, por
outro; e mesmo no interior do campo hegemônico há divisões mais ou
menos significativas.

A citação de Santos sobre o processo de globalização nos apresenta algu-


mas contradições bastante evidentes do processo. Vejamos: ao mesmo tempo
em que se busca uma aldeia global, ressurgem ideias nacional-desenvolvimen-
tistas, exacerbam os conflitos étnicos, há movimentos das empresas nacionais
contra as multinacionais e os trabalhadores e desempregados têm receio de
diminuição das suas rendas ou mesmo do desemprego.

14.2 Globalização financeira


A principal diferença que podemos alinhar entre as aplicações
tradicionais de capital internacional (empréstimos e investimentos diretos)
e o capital de natureza meramente especulativa se relaciona à previsibilidade
que se consegue obter em relação aos fluxos do processo. Se por um lado
os empréstimos são acordados a partir de prazos pré-estabelecidos, com
condições previamente estipuladas e contratadas, e os investimentos diretos
possuem uma base física que dificulta sua movimentação após a opção
de aplicação em determinada atividade, o que lhe imprime um caráter
de imobilidade razoável, o mesmo não acontece em relação à atividade
puramente especulativa.

– 153 –
Teoria Econômica

A especulação busca um maior nível de liquidez nas aplicações, que lhe


permite a troca de ativos com maior agilidade, com vistas a aproveitar as dife-
renças de remuneração entre as aplicações de um mesmo mercado, ou entre
mercados nacionais distintos.
Essa característica dá ao capital especulativo internacional um caráter de
instabilidade que tende a se agravar em conformidade a três aspectos distin-
tos, a saber:
22 com o aumento do seu montante global;
22 com o aumento da integração dos mercados mundiais;
22 com o desenvolvimento de técnicas de comunicação, que permi-
tem sua transferência cada vez mais rápida entre aplicações e mer-
cados distintos.

Reflita
Capitalismo a síntese de correr riscos! Máxima do mercado
financeiro: quanto maior o risco maior é o retorno esperado, e
quanto menor o risco menor o retorno esperado.

Todavia a tentação de se lançar mão de poupanças, tão regiamente dis-


poníveis no mercado internacional de capitais, tem levado a maioria dos paí-
ses a utilizarem esses recursos, o que acaba desenvolvendo uma relação de
dependência das economias nacionais em relação a esses ativos. Brum citado
por Alcântara (2005, p. 75) afirma que “chegou-se a um estágio em que quase
se pode afirmar que, no grande mundo dos negócios, o capital não tem mais
donos, os países não têm mais fronteiras e as transações são instantâneas.”
A globalização dos mercados financeiros da atualidade, aliada ao desen-
volvimento tecnológico em telecomunicações e informática, tem possibili-
tado aplicações de curto prazo, em termos diários, em quase todo o planeta.
A grande agilidade que os mercados especulativos contemporâneos têm
apresentado representa a real novidade em relação a épocas passadas recen-

– 154 –
A globalização

tes. A interação praticamente instantânea que se consegue nos investimentos


especulativos atuais gera fluxos maciços de capital, que perturbam o equilí-
brio de mercados específicos onde estejam alocados. Isso ocorre principal-
mente se tais fluxos forem efetuados de maneira descontrolada, como ocorre
em um processo de fuga de capitais estrangeiros dos mercados interno para o
externo, induzidos por expectativas da economia em questão.
No mercado financeiro globalizado, é importante esclarecer a diferença
do capital produtivo do especulativo. O capital produtivo tem grande impor-
tância, pois aumenta a capacidade produtiva local, ao mesmo tempo em que
força o avanço tecnológico, a competitividade, a geração de emprego e arreca-
dação tributária. No entanto, na conjuntura atual, esse tipo de capital deseja
a menor intervenção possível do governo ao mesmo tempo em que se exigem
vantagens fiscais, trabalhistas e de remessa de lucros para suas matrizes. Brum
(2005, p. 77) afirma que:
A adoção de um regime de desregulação global do investimento direto
externo, como vem sendo proposta pelos representantes dos países
ricos, traria implicações limitativas sobre a autonomia econômica e
a soberania política dos países receptores; abriria o caminho para que
a maior parte das indústrias chaves, meios e serviços de comunica-
ção, infraestrutura, serviços estratégicos e recursos naturais passem à
propriedade e controle de investidores estrangeiros, sem garantir, em
contrapartida, o aporte sustentado de investimento novo e a melhoria
das condições sociais da população. [...] Os países emergentes, sem
cair num nacionalismo anacrônicos, precisam resguardar seus interes-
ses nacionais e a capacidade de formular políticas e definir prioridades.

Os capitais especulativos, como vimos, podem colocar em risco a própria


estabilidade econômica dos países ou agravar as frágeis economias periféricas,
o que torna urgente a necessidade do seu controle por organismos multilate-
rais, como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e/ou que as economias
fragilizadas diminuam sua dependência em relação à natureza desses capitais.
Como você pode perceber, o processo de globalização financeira nos coloca
entre a cruz e a espada.

14.3 A globalização econômica


O processo produtivo e sua consequente internacionalização é uma
marca indelével do processo de globalização atual, é a integração econômica.

– 155 –
Teoria Econômica

O mundo vive em torno de uma fábrica global, não importa onde são pro-
duzidos e por quem são produzidos, desde que tenham uniformidade no
processo produtivo e que apresentem os maiores lucros e, ao mesmo tempo,
a diminuição de riscos. Brum (2005, p. 77) afirma que:
O produtor compra matéria-prima em qualquer lugar do mundo, onde
for melhor e mais barata; instalada fábricas nos países que oferecem
segurança, incentivos e onde a mão de obra sai mais em conta; e vende
a mercadoria no mundo inteiro. Cada vez mais, produtos, capital e
tecnologia perdem a identidade nacional pela intensificação das fusões,
incorporações, associações e compras de empresas de grupos econômi-
cos em escala mundial e pela terceirização da produção. Partes, peças e
componentes passam a ser produzidos em diferentes países, de acordo
com as vantagens comparativas por eles oferecidas. Já se concretiza, por
exemplo, a ideia de “fábrica global”, e diferentes companhias se unem
para a produção e lançamento do “carro mundial” no mercado.

As relações de trabalho modificam-se radicalmente, o avanço da pro-


dutividade, principalmente pelo avanço da tecnologia, tem produzido um
desemprego estrutural crescente, e a base de estruturação dos sindicatos dimi-
nuem e encontram cada vez mais dificuldades em articular os trabalhadores,
culminando com a própria degradação da cultura operária. Dupas (2001, p.
56) explica que:
Por outro lado, a globalização e a inovação tecnológica reduzem a capa-
cidade de manobra dos Estados e dos Sindicatos. A mobilidade do capital e
a possibilidade de deslocar segmentos da cadeia produtiva para outras regiões
desestabilizam a estrutura de salários, deslocando a concorrência para fora
da esfera nacional. Como consequência de todos esses fatores, a disparidade
de renda está crescendo; e a pobreza, o desemprego e o subemprego estão
engrossando a exclusão social.
22 Desemprego estrutural: também chamado de tecnológico,
origina-se em função das mudanças na tecnologia de produção
(aumento da mecanização e automação).
As profundas e céleres transformações que estamos vivenciando estão
cercadas por modificações da intervenção do estado na economia. Ao mesmo
tempo, o poder nunca antes foi experimentado pelas grandes corporações pro-
dutivas. Desde a grande depressão de 1929, com a crise generalizada do sistema
capitalista e com a perda de hegemonia da teoria liberal, o estado passou a inter-

– 156 –
A globalização

vir no domínio econômico e social decisivamente. No entanto, o descompasso


e a incapacidade do Estado em manter os níveis de investimento, a deterioração
das contas públicas e as sucessivas elevações da carga tributária favoreceram o
retorno do pensamento liberal, o neoliberalismo.

Saiba Mais
A profa. Dra. Maria de Lourdes RollembergMollo, do
Departamento de Economia da Unb, no artigo Globalização da
Economia, Exclusão Social e Instabilidade, conceitua inicialmente
o que é a globalização da economia. No artigo, autora diz que se
trata da continuação do processo de internacionalização do capital,
que se iniciou com a extensão do comércio de mercadorias e
serviços, passou pela expansão dos empréstimos e financiamentos
e, em seguida, generalizou o deslocamento do capital industrial
por meio do desenvolvimento das multinacionais. Também
caracteriza suas principais etapas: a) deslocamento espacial das
diferentes etapas do processo produtivo, de forma a integrar
vantagens nacionais diferentes; b) desenvolvimento tecnológico
acentuado, nas áreas de telemática e informática; c) simplificação
do trabalho, para permitir o deslocamento espacial da mão de obra;
d) igualdade de padrões de consumo, para permitir aumento de
escala; e) mobilidade externa de capitais, buscando rentabilidade
máxima e curto prazo; e f) difusão (embora desigual) dos preços e
padrões de gestão e produção. Encerra dissertando as profundas
transformações do Estado nos últimos anos principalmente devido
ao seu processo de desregulamentação e privatização. Acesse o
texto na íntegra no seguinte site: <http://www.cefetsp.br/edu/eso/
globalizacao/globalizacaoeconomia.html>.

Portanto, a globalização não é isenta, mas é irreversível. Não deve-


mos esperar somente condições catastróficas, ou o paraíso na Terra, o pleno
emprego ou o fim do emprego, o fim da humanidade com o aquecimento
global, devido ao nosso predatório modo de produção, mas que o avanço da

– 157 –
Teoria Econômica

ciência e da consciência ambiental possa tornar o ambiente saudável. Mas


não devemos ter uma visão ingênua e simplista: as desigualdades não são
fenômenos da nossa época, não foram inventadas pela globalização, todavia
devemos ter o máximo de cuidado para que ela não seja (como vem sendo)
a amplificadora das disparidades geradas pelo sistema capitalista de produ-
ção. Octávio Ianni (1996, p. 156) nos alerta sobre a configuração que vem
tomando a “aldeia global”, que muitas vezes são disfarçados cruelmente ou
frequentemente combinados. Ele cita fatos como:
desemprego, crescimento de contingentes situados na condição de
subclasse, super-exploração da força de trabalho, discriminação racial,
sexual, etária, política e religiosa; migrações de indivíduos, famílias
grupos e coletividades em todas as direções, através de países, regiões,
continentes e arquipélagos; ressurgimento de movimentos raciais,
nacionalistas, religiosos, separatistas, xenófobos, racistas, fundamen-
talistas; múltiplas manifestações de pauperização absoluta e relativa,
muitas vezes verbalizadas em termos de “pobreza”, “miséria” e “fome”.

Você observou neste capítulo que, se o padrão de desenvolvimento atual


é perverso ou insustentável, isto não se deve a uma característica intrínseca,
mas à conjugação de interesses sociais (econômicos e políticos) que precede-
ram a sua construção. Nesse sentido, é passível de transformação e representa
um desafio de proporções gigantescas à humanidade.
No próximo capítulo, você verá que o desenvolvimento econômico é o
sonho de qualquer sociedade. Ele resulta em bem-estar social. Descreveremos
as fontes, o financiamento, os estágios e os indicadores.

Conclusão
O processo de globalização intensificou e acelerou o fenômeno da inte-
gração das nações, impulsionado pelo avanço da tecnologia e dos transpor-
tes. A globalização assume múltiplas faces, por isso abordamos uma das mais
importantes: a globalização financeira, muitas vezes com natureza especula-
tiva e imprevisível. A globalização econômica tem como características prin-
cipais as modificações das relações de trabalho, o avanço da produtividade e
profundas modificações na intervenção do Estado na economia, o que veio
fortalecer a corrente liberal do pensamento econômico, o neoliberalismo.

– 158 –
15
Desenvolvimento
econômico

No capítulo um discorremos sobre o problema econômico


básico, os modos de produção e a história do pensamento eco-
nômico, com ênfase nos principais pensadores. Os autores vistos
embasam e situam de forma mais apropriada a Ciência Econômica e
as transformações ocorridas na forma de provisão de bens e serviços
para atender as necessidades da sociedade.
É bem provável que você já tenha conversado sobre como
era a vida há alguns anos e, certamente, aprendeu uma importante
lição sobre economia: os padrões materiais de vida melhoraram de
maneira considerável, para a maioria das famílias, na maioria dos
países. Essa arrancada deve-se a rendas crescentes, que possibilita-
ram que mesmo as pessoas mais simples ampliassem seu consumo
de bem e serviços.
Teoria Econômica

Desenvolvimento econômico é um tema sempre atual, pois há


dezenas de países que ainda não atingiram um padrão de bem-estar de sua
população. No desenvolvimento do estudo, conceituaremos crescimento e
desenvolvimento econômico, pois são conceitos diferentes. Depois, veremos
as fontes e o financiamento do desenvolvimento e teremos oportunidade
de descrever os estágios do desenvolvimento. Finalmente, apresentaremos o
sistema de indicadores para avaliação do grau de desenvolvimento. Vamos
iniciar pelos conceitos.

15.1 Crescimento e
desenvolvimento econômico
A Teoria do Crescimento e Desenvolvimento discute estratégias a longo
prazo, isto é, as questões relacionadas com o crescimento econômico equili-
brado e autosustentado.
Pinho e Vasconcellos (2006, p. 485) informam as diferenças entre cres-
cimento e desenvolvimento econômico, explicando que:
Crescimento e desenvolvimento econômico são conceitos diferentes.
Crescimento econômico refere-se ao crescimento contínuo da “renda
per capita” ao longo do tempo, portanto é quantitativo.
Desenvolvimento econômico trata do crescimento econômico
acompanhado de adequada alocação de recursos nos diversos setores
econômicos, melhorando os indicadores de bem-estar econômico e
social (pobreza, desemprego, condições de saúde, alimentação, edu-
cação, habitação).

Esses conceitos são importantes para obtermos o entendimento básico


sobre esses dois aspectos da economia, muito relevantes na atualidade, sobre-
tudo para o Brasil.
A ideia de crescimento econômico é recente. Antes do surgimento do
capitalismo, as sociedades estavam em estágios comparativamente estag-
nados. Elas eram basicamente agrícolas e variavam pouco ao longo dos
anos, com exceção das ocorrências de boas e más colheitas, de guerras e
de epidemias.

– 160 –
Desenvolvimento econômico

O capitalismo, trazendo contínuas mudanças tecnológicas e acumula-


ção de capital, alterou, de forma radical, as estruturas dessas sociedades. Da
observação dessa realidade, caminhou-se para uma tentativa de entendimento
e posterior explicação de como uma sociedade cresce economicamente. Sobre
esse assunto, Pinho e Vasconcellos (2006, p. 483) concluem que ela cresce
desde que ocorra:
22 acumulação de capital: por meio do aumento de máquinas,
equipamentos, de unidades industriais da realização de obras
de infra-estrutura (estradas, energia, etc) e do investimento em
recursos humanos (melhor preparação de mão de obra);
22 crescimento da população: um aumento na população implica
um aumento da forca de trabalho e da demanda interna;
22 do progresso tecnológico: poupador de capital e poupador de
trabalho. Os países em desenvolvimento, como têm o fator tra-
balho em abundância, devem enfatizar um processo produtivo
poupador de capital, que é o fator escasso. O contrário acontece
nos países desenvolvidos.
No contexto no qual o processo de crescimento pode ser mais bem des-
crito como um processo de transformação, os chamados economistas histó-
ricos tentaram desenvolver teorias de estágios do crescimento, pelos quais a
economia de qualquer sociedade deveria necessariamente passar.
Rostow citado por Pinho e Vasconcellos (2006, p. 484) identifica cinco
estágios, por meio dos quais a sociedade deverá passar ao longo do cresci-
mento econômico:
22 Sociedade Tradicional: Neste estágio, predomina a produção
agrária de subsistência. A produção é artesanal, portanto, sem uso
de tecnologia. A produtividade e o nível da renda são baixos. Essa
etapa existiu nas nações desenvolvidas e ainda existe nas subde-
senvolvidas. Várias nações na África e regiões no interior do Brasil
estão nesse estágio.
22 Pré-requisitos para a Arrancada (Take-off): Várias condições
devem ser criadas para a decolagem da economia. Umacondição
básica é uma taxa de acumulação de capital maior que a taxade

– 161 –
Teoria Econômica

crescimento da população. Outra condição é a formação e quali-


ficaçãoda mão de obra, em outras palavras, melhorar a qualidade
da educação.
Também deve acontecer aumento de produtividade no setor agrí-
cola, possibilitando criar um excedente de recursos para financiar
a industrialização. Ainda como condição para a arrancada, é neces-
sário investimento emenergia, transporte, comunicações, sanea-
mento básico, educação e saúde.
Na etapa da arrancada, ocorre o crescimento de forma contínua e
as instituições econômicas têm bom funcionamento, caracteriza-se
a arrancada com as transformações econômicas e políticas a seguir:
22 O investimento líquido passar a ser superior a 10% da ren-
da nacional;
22 São instaladas novas indústrias, principalmente na produção
de bens de consumo duráveis;
22 É criada uma estrutura social, política e institucional, favorá-
vel ao desenvolvimento.
22 Crescimento Autossustentável: Nesta fase, a tecnologia é apli-
cada nos diversos setores da atividade econômica. A produção é
equilibrada entre bens de consumo não duráveis, bens de consumo
duráveis e bens de capital. Além dos bens finais, a produção de
bens intermediários é suficiente para atender as necessidades do
mercado. A estrutura produtiva é capaz de responder às demanda
de bens e serviços da sociedade.
22 Período do Consumo de Massa: Esta é a última etapa do cres-
cimento econômico; nesta fase, os setores líderes concentram sua
produção nos bens de consumo duráveis de alta tecnologia e servi-
ços. A renda dos trabalhadores atinge um nível em que a demanda
deles não se limite à alimentação, habitação e outros bens básicos.
A demanda dos trabalhadores se amplia para bens de consumo
duráveis como automóveis, microcomputadores e serviços como o
lazer. Uma quantidade maior de recursos é destinada ao bem-estar
social e a seguridade social é ampliada.

– 162 –
Desenvolvimento econômico

Esses estágios caracterizam o crescimento econômico que muitos


países buscam. O Brasil também está em processo de crescimento,
e esses estágios são conhecidos pelos nossos governantes e econo-
mistas como fundamentais para se alcançar o status de país de pri-
meiro mundo.
A expansão da análise do processo de crescimento econômico
desenvolveu-se de tal forma que se pode considerar, atualmente, o
estudo de crescimento como um campo de estudos da teoria eco-
nômica. Entre as várias linhas de estudo apresentadas, podemos
citar, de acordo com Pinho e Vasconcellos (2006, p. 484):
22 Teoria do crescimento ótimo: campo estudado, inicialmente,
pelo economista matemático P. Ransey e por J. von Newmann.
Nessa área, o problema central é o de definir certos objetivos de
longo prazo para a economia e, então, determinar o caminho de
crescimento, ótimo que a economia deverá percorrer, a fim de
concretiza-los. O método utilizado nessas análises é essencial-
mente matemático;
22 Análise de resíduos: campo iniciado, principalmente, com os
trabalhos de E. F. Denison, R. H. Solow e outros, que demons-
traram que o crescimento americano no século XX é pouco
explicado pelas variações observadas no capital e na oferta de
mão de obra. A grande parcela de explicação desse processo de
crescimento se deve ao progresso tecnológico, isto é, ao chamado
fator residual;
22 Economias subdesenvolvidas: campo de análise que passou a
merecer grande atenção por parte dos economistas, a partir dos
anos 50. Nessa área, as linhas de análise se concentram em cada
país em particular e, dentro de cada país, em problemas de natu-
reza específica.
Várias são as linhas de estudos sobre o crescimento econômico.
Apresentamos anteriormente aquelas que são referência para se atingir o cresci-
mento econômico.

– 163 –
Teoria Econômica

O produto nacional per capita de um país tem sido o critério conven-


cional de desenvolvimento ou subdesenvolvimento econômico. Esse critério
pode ser aplicado em nível ou à taxa de crescimento da renda per capita. A
partir desse ponto, torna-se clara a necessidade de compreendermos o que
representam, na prática, os processos de crescimento e de desenvolvimento
econômico de uma sociedade.
Kindleberger e Henrick citados por Pinho e Vasconcellos (2006, p. 485)
salientaram que, para que haja desenvolvimento, tem de haver, antes, o cres-
cimento econômico, e reforçam: “Um aumento na produção acompanhado
de modificações nas disposições técnicas e institucionais, isto é, mudanças
nas estruturas produtivas e na alocação dos insumos pelos diferentes setores
da produção”.
Assim, por crescimento econômico, entende-se o aumento contí-
nuo do produto nacional em termos globais ou per capita, ao longo do
tempo. Esse critério implica também uma melhor eficiência do sistema
produtivo. Por outro lado, desenvolvimento econômico é entendido
como mudança de caráter quantitativo e qualitativo, em níveis do pro-
duto nacional (PN), ou seja, crescimento econômico com alocação de
recursos nos diversos setores, melhorando os indicadores de bem-estar
econômico e social.
Para caracterizar um processo de desenvolvimento econômico, deve-se
observar, ao longo do tempo, a existência de:
22 crescimento do bem-estar econômico, medido por indicadores de
natureza econômica, como por exemplo: produto nacional total,
produto nacional per capita;
22 diminuição dos níveis de pobreza, desemprego e desigualdades;
22 melhoria das condições de saúde, nutrição, educação, moradia e
transportes (PINHO; VASCONCELLOS, 2006, p. 485).
O aspecto fundamental é que desenvolvimento econômico não pode ser
analisado, somente, por meio de indicadores que medem o crescimento do
produto ou do produto per capita. Desenvolvimento deve ser complemen-
tado por índices que representam, ainda que de forma incompleta, a quali-
dade de vida da população.

– 164 –
Desenvolvimento econômico

No entanto, para esse processo de crescimento e posterior desenvolvi-


mento, é preciso identificar e utilizar com racionalidade e sustentabilidade as
fontes de crescimento, assunto que veremos a seguir.

Desenvolvimento endógeno: estratégia de um processo
intencional dos atores, das pessoas de um determinado
território, para, a partir de seus ativos endógenos, ou seja,
de seus recursos locais, de suas potencialidades e vocações,
construírem um projeto de desenvolvimento com mais
participação social, mais equidade e sustentabilidade.

15.2 Fontes de crescimento


O crescimento da produção e da renda depende da quantidade e da
qualidade de capital e da mão de obra. Assim as fontes de crescimento são:
22 aumento da força de trabalho: significa uma população em idade
ativa para o trabalho superior a população inativa;
22 aumento do estoque de capital: nesse caso, estamos relacionando
elevação do investimento em máquinas, equipamentos, instalações
e estoque;
22 melhoria da qualidade da mão de obra: fortalecimento do capital
humano, ou seja, sua qualidade técnica e educacional;
22 melhoria tecnológica: incremento tecnológica, com a moderniza-
ção e incorporação no processo produtivo, o que acarretaria ganhos
de produtividade;
22 eficiência organizacional: nesse caso, utilização de técnicas que
melhore o desempenho gerencial e administrativo da organização.
O salto qualitativo das fontes de crescimento e a sua devida combina-
ção representam a possibilidade de celeridade no processo de crescimento
socioeconômico e, no médio e longo prazo, possibilidades reais de atingir a
maturidade no processo de crescimento e alcançar o tão almejado desenvolvi-

– 165 –
Teoria Econômica

mento socioeconômico. No entanto, para melhorar as fontes de crescimento


e desenvolvimento, é necessário investir no seu potencial. Como classificar as
fontes de financiamento é o que veremos a seguir.

15.3 Financiamento e estágios


do desenvolvimento
O desenvolvimento é financiado pela poupança interna e poupança
externa. A poupança interna é formada pela poupança privada e a poupança
pública. E a poupança externa pode ser atraída de três maneiras: investimento
direto, tomar empréstimos no mercado internacional de capitais ou institui-
ções, como o Banco Mundial, e ajuda de países industrializados.
Como aconteceu o processo de desenvolvimento econômico nos paí-
ses desenvolvidos? É possível identificar etapas bem definidas durante
o desenvolvimento?

Saiba Mais
Você sabe com propriedade conceitual o que é desenvolvi-
mento sustentável? Esse artigo do WWF-Brasil apresenta o
conceito de desenvolvimento sustentável, considerando a
necessidade de satisfazer as gerações presentes e futuras de
bens e serviços, sem diminuir sua qualidade. Aborda também
o que é preciso fazer para se alcançar o desenvolvimento sus-
tentável e, ao final, questiona se os modelos dos países indus-
trializados devem ser seguidos. Esse texto é muito interessante
e ajudará você a entender melhor a questão ambiental. O site
é o seguinte: <http://www.wwf.org.br/informacoes/questoes_
ambientais/desenvolvimento_sustentavel/index.cfm>.

Rostow citado por Vasconcellos (2004, p. 215) identificou cinco está-


gios no processo de desenvolvimento. Os estágios e suas características você
verá a seguir.

– 166 –
Desenvolvimento econômico

15.3.1 Sociedade tradicional


Nesse estágio, predomina a produção agrária de subsistência. A produ-
ção é artesanal, portanto sem uso de tecnologia. A produtividade e o nível da
renda são baixos. Essa etapa existiu nas nações desenvolvidas e ainda existe
nas subdesenvolvidas. Várias nações na África e regiões no interior do Brasil
estão nesse estágio.

15.3.2 Pré-requisitos para a arrancada


Várias condições devem ser criadas para a decolagem da economia.
Uma condição básica é uma taxa de acumulação de capital maior do que a
taxa de crescimento da população. Outra condição é a formação e qualifica-
ção da mão de obra, em outras palavras, melhorar a qualidade da educação.
Também deve acontecer aumento de produtividade no setor agrícola, pos-
sibilitando criar um excedente de recursos para financiar a industrialização.
Ainda como condição para a arrancada, é necessário investimento em ener-
gia, transporte, comunicações, saneamento básico, educação e saúde.

15.3.3 Arrancada
Na etapa da arrancada, ocorre o crescimento de forma contínua e as
instituições econômicas funcionam bem. Rostow caracteriza a arrancada com
as transformações econômicas e políticas a seguir:

22 o investimento líquido passar a ser superior a 10% da renda nacional;


22 são instaladas novas indústrias, principalmente na produção de
bens de consumo duráveis;
22 é criada uma estrutura social, política e institucional, favorável ao
desenvolvimento.

15.3.4 Crescimento autossustentável


Nessa fase, a tecnologia é aplicada nos diversos setores da atividade eco-
nômica. A produção é equilibrada entre bens de consumo não duráveis, bens
de consumo duráveis e bens de capital. Além dos bens finais, a produção de

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Teoria Econômica

bens intermediários é suficiente para atender as necessidades do mercado.


A estrutura produtiva é capaz de responder às demandas de bens e serviços
da sociedade.

15.3.5 Período do consumo de massa


Essa é a última etapa do desenvolvimento, na abordagem de Rostow.
Nessa fase, os setores líderes concentram sua produção nos bens de consumo
duráveis de alta tecnologia e serviços. A renda dos trabalhadores atinge um
nível em que a demanda deles não se limite à alimentação, à habitação e a
outros bens básicos. A demanda dos trabalhadores se amplia para bens de
consumo duráveis, como automóveis, microcomputadores e serviços como o
lazer. Uma quantidade maior de recursos é destinada ao bem-estar social e a
seguridade social é ampliada.

15.4 Indicadores do desenvolvimento


Para avaliar o nível de desenvolvimento, o Banco Mundial e a
Organização das Nações Unidas criaram um sistema de indicadores descrito
a seguir. Observe-os.

15.4.1 Indicadores tradicionais (banco mundial)


22 Vitais:
22 Esperança de vida ao nascer;
22 Taxa de mortalidade infantil;
22 Estrutura etária da população;
22 Taxa média anual de crescimento populacional.
22 Econômicos:
22 Estruturais: força de trabalho, recursos naturais, capital,
22 estrutura da produção, estrutura da distribuição da renda;
22 Disponibilidade de bens e serviços: renda per capta, bens básicos de
consumo (alimentos, móveis, eletrodomésticos), bens produtivos e

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Desenvolvimento econômico

insumos (aço, energia, etc.), serviços básicos (transporte), serviços


sociais (educação, saúde, saneamento básico).

22 Sociais:
22 Estrutura social: interação entre indivíduos, grupos, etc;
22 Mobilidade social: mudança de status social;
22 Representação no sistema político: nível de representação social no
Executivo, Legislativo, Judiciário;
22 Participação social: articulação da sociedade;
22 Sistema de concentração da propriedade.

15.4.2 Novos indicadores (organização das nações unidas)


22 Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): Esse índice passou
a ser divulgado a partir de 1990 e tem o objetivo de monitorar
o desenvolvimento humano “aumentando as opções das pessoas
para que possam ter uma vida longa e saudável, se educar e agregar
conhecimentos, ter acesso aos recursos necessários para um padrão
de vida decente, defendendo a igualdade entre homens e mulheres”
(PASSOS; NOGAMI, 2003, p. 549).

22 Índice de Corrupção Percebia (ICP): Foi idealizado e desenvolvido


pelo pesquisador alemão Johann Graf Lambsdoff, da Universidade
de Gottingen, a partir de uma pesquisa em nível mundial. Há uma
organização não governamental, a Transparência Internacional,
que estuda o nível de corrupção na economia, no governo e nos
indivíduos. É bastante discutida a relação entre corrupção e desen-
volvimento econômico e social.

Reflita
Se o padrão de desenvolvimento atual é perverso ou insus-
tentável, isso não se deve a uma característica intrínseca, mas
à conjugação de interesses sociais (e, portanto, econômicos e

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Teoria Econômica

políticos) que precederam a sua construção. Nesse sentido, é


passível de transformação, representando um desafio de pro-
porções gigantescas à humanidade.

O crescimento econômico é o determinante mais relevante do bem-estar


econômico da sociedade, pois representa um ganho de renda dos cidadãos e,
em virtude dessa situação favorável, podem acelerar sua formação profissional
e educacional.
Ao concluirmos este capítulo, você já está distinguindo com clareza a
diferença entre nações desenvolvidas, da região central e os países das regi-
ões periféricas. Apresentamos os principais indicadores são não só para
mensurar a atividade econômica como um todo, mas acelerar o processo
de crescimento econômico e, ao mesmo tempo, incluir socialmente e pre-
servar ambientalmente.

Conclusão
A teoria do crescimento e desenvolvimento discute estratégias em longo
prazo, enquanto o crescimento tem natureza quantitativa, o desenvolvimento
qualitativo. As fontes de crescimento, como a força de trabalho, estoque
de capital, melhoria da mão de obra, melhoria tecnológica e eficiência
organizacional representam a possibilidade de celeridade no processo de
crescimento socioeconômico. A sociedade, até alcançar o desenvolvimento,
passa por cinco etapas distintas: pré-requisitos para a arrancada: taxa de
acumulação de capital; a arrancada: ocorre o crescimento de forma contínua
e as instituições funcionam bem; crescimento autossustentável: tecnologia
disseminada aos diversos setores da atividade econômica; e o período de
consumo de massas: concentração da produção nos bens de consumo
duráveis de alta tecnologia e serviços. Para mensurar e acompanhar o
crescimento das nações, utilizamos os indicadores, que podem ser vitais,
ou seja, relacionados às condições de vida da sociedade; os econômicos,
as nossas estruturas produtivas e os sociais, relacionados à organização, à
mobilidade e participação social.

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Referências
Teoria Econômica

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VASCONCELLOS, M. A. S. economia: micro e macro. São Paulo: Atlas,
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VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro. São Paulo: Atlas,
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VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia.
2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004

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A obra Teoria Econômica não se limita a proporcionar apenas um con-
texto teórico; vai muito mais além, apresentando capítulos ricos em detalhes
e exemplos sobre economia, capazes de transformar o conhecimento explícito
dessa área em um instrumento norteador da construção do conhecimento
implícito, o qual, certamente, os leitores deste livro irão adquirir.
Os autores fazem uma viagem ao passado da teoria econômica, quando
ainda não era tida como ciência, não somente para relatar a história, mas,
principalmente, com o objetivo de compreender os princípios que delinearam
o funcionamento da economia contemporânea, bem como as tendências das
economias do mundo globalizado que irão influenciar a vida cotidiana dos
países, empresas e cidadãos.
Tudo isso está semeado nas linhas a seguir, por meio das quais os auto-
res nos remetem a uma leitura fácil e agradável, capaz de cativar e projetar
para a construção do processo econômico e de suas inter-relações, visando
possibilitar a nós, leitores, o uso de conhecimentos adquiridos na aplicação
direta de situações-problema, envolvendo pessoas e/ou o mundo corporativo.
É nesse caminho que conseguimos identificar a razão e o sentido para
os acontecimentos econômicos, sociais e políticos do Brasil e do mundo, apli-
cando, sobretudo, uma visão crítica e consciente daquilo que acontece em
nosso dia a dia.
Portanto, a leitura desta obra irá desenvolver em seus leitores, indu-
bitavelmente, uma maneira mais consciente para analisar, entender e comen-
tar os acontecimentos econômicos, sociais e políticos da atualidade.

ISBN 978-85-53370-11-5

9 7885 53 3 7011 5

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