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Apaixonado pela ninfa Filira, Saturno ia visitá-la todas as noites sob a forma de um
centauro.
Mais tarde, quando Filira deu à luz um ser metade homem e metade animal, ela ficou
tão horrorizada que implorou aos deuses que a cegassem, que a fizessem louca para que
ela nunca visse aquele horrendo ser que havia gerado.
E Filira morreu sem saber que havia dado à luz o centauro Quiron, a mais sábia de todas
as criaturas da floresta.
Um dia, por engano, Hércules acertou em Quiron uma de suas flechas embebidas no
sangue venenoso da hidra de Lerna. Quiron não podia morrer, porque era filho de um
deus. Mas as dores que o torturava eram tantas, eram tão fortes, que a mulher que
amava Quiron implorou aos deuses que o libertassem daquela imensa agonia.
E os deuses concederam. E Quiron foi vitrificado sem dor e visível pra sempre, na bela
constelação de Sagitário.
Oswaldo Montenegro
Texto de Aquário
Texto de Gêmeos
Cada vez que eu olhava pro céu, eu achava estranho que houvesse tantos tipos de astros.
Jamais alguém me explicou o porque dos cometas. Por que tão perdidos? Por que essa
dependência que lua tem do sol pra brilhar? Por quê que as constelações jamais se
separavam, mas jamais podiam estar pertinho. Aquilo me assustava. Eu tinha medo que
fossem símbolos. Símbolos de nós. Da solidão que nós temos, como os cometas.
E aí eu pensava nos meus amigos. Havia quem fosse como o sol. Que brilhasse como o
sol, independendo de tudo. Havia quem fosse cometa, voando rápido como os cometas.
E havia quem fosse a lua.
Ele era a lua. E lhe haviam dado o destino do sol. Mas ele era lua, ele não queria ser sol.
Ele queria ser do sol. Queria ser do sol apenas um espelho. Ele nunca conseguiu ser sol.
Ele era a lua.
Oswaldo Montenegro
Texto de Libra
Oswaldo Montenegro
Texto de Áries
Há muitos e muitos anos uma pedra rolou durante uma avalanche e parou bem pertinho
de outra pedra.
E as duas se apaixonaram.
Um tempo depois, de tanto se abraçar, tiveram um filho lindo – o fogo.
O fogo, por sua vez, teve vários amores.
Primeiro o fogo amou a chuva, mas é claro, não deu certo, porque a chuva apagava o
fogo.
Depois foi uma árvore - e desta vez ele, fogo, era o perigo.
E por fim o fogo amou uma pedra. Uma pedra da montanha, como mãe dele.
Mas por mais que se amassem, fogo e pedra não conseguiam ter filhos. Não se
destruíam, mas não geravam outro ser.
Até que eles descobriram que toda vez que se abraçavam eles geravam uma filha linda:
a sombra.
Oswaldo Montenegro
A ninfa Filira nunca descobriu que seu filho era sábio justamente por ser metade
homem e metade animal.
Portugal também teve um filho. Um país estranho, um país centauro. Metade humano e
metade animal.
Com a força de Áries, a docilidade de Touro, a curiosidade de Gêmeos.
O país da lua bonita como em Câncer, com o sol de Leão brilhando nas florestas lindas
que querem destruir, e refletindo nas cachoeiras que estão matando.
Portugal teve um filho. O país da harmonia como Libra, que matam e nasce de novo
como Escorpião, que tem no sangue o ritmo e a teimosia de Capricórnio, o futuro de
Aquário e o destino das grandes causas de Peixes.
Portugal ficou grávida do futuro.
Grávido de um país que apesar de tudo, além de tudo, por causa de tudo, é o país da
alegria.
Oswaldo Montenegro