Ou "filosofia de autoajuda".
Alguns títulos de livros enganam. Parecem de autoajuda tradicional, mas no fundo são mais obras
filosóficas do que autoajuda padrão. Ao mesmo tempo, não são leituras tão densas, e contêm
inúmeras lições práticas para o enfrentamento de problemas que aparecem no percurso de
qualquer vida humana, hoje e sempre. Enquanto é verdade que a autoajuda tradicional tem sua
utilidade, listamos abaixo três leituras de um tipo diferente de autoajuda – algo que poderíamos
chamar “autoajuda filosófica”, ou “filosofia de autoajuda”.
12 Regras Para a Vida: Um antídoto para o caos, de Jordan Peterson (Alta Books, 2018, 448
páginas)
Da lista, este livro é de longe o que está mais em voga, porque seu autor é uma personalidade da
internet e da imprensa mundiais. Peterson é um psicólogo canadense e suas palestras e escritos
passeiam por temas que vão de técnicas comportamentais simples às mensagens profundas dos
mitos; do politicamente correto a Dostoiévki. Algumas de suas 12 regras incluem: “Cuide de si
mesmo como cuidaria de alguém sob sua responsabilidade”; “Seja amigo de pessoas que queiram
o melhor para você”; “Compare a si mesmo com quem você foi ontem, não com quem outra
pessoa é hoje”; “Não deixe que seus filhos façam algo que faça você deixar de gostar deles”;
“Presuma que a pessoa com quem você está conversando possa saber algo que você não sabe”.
A Guide to the Good Life: The ancient art of stoic joy, de William Braxton Irvine (Oxford University
Press, 2008, 314 páginas)
O estoicismo foi uma escola de filosofia da Grécia Antiga inaugurada por Zenão de Cítio no século
3 antes de Cristo. De acordo com Zenão e seus seguidores, a “fórmula” da felicidade é a aceitação
do presente da forma como este se nos apresenta, o controle dos nossos desejos e medos etc.
Mas será possível que uma escola filosófica tão antiga quanto a estoica ainda tenha utilidade em
pleno século 21? Sim, de acordo com o filósofo e professor William Irvine. Neste A Guide to the
Good Life ele atualiza os ensinamentos estoicos e escreve como podemos aplicar tal sabedoria, de
forma prática, aos problemas que (ainda) enfrentamos hoje em dia. Aprendemos nestas páginas
como minimizar as preocupações, como parar as obsessões sobre o passado e focar nas coisas que
realmente podemos controlar, como lidar com ofensas, luto, idade avançada, doenças e por aí vai.
Uma leitura maravilhosa.
Como Proust Pode Mudar Sua Vida, de Alain Botton (Intrínseca, 2011, 256 páginas)
Marcel Proust, escritor francês da virada do século 19 para o 20, foi um dos autores mais prolíficos
da história da literatura mundial. Seu estilo inigualável e às vezes de difícil percurso demandam
uma atenção acima da média por parte dos leitores, mas no final esse é um esforço que sempre
compensa. Independente da questão estilística, a biografia de Proust foi marcada por eventos
complicados: ele sofria com asma, tinha uma mãe dominadora, era incapaz de permanecer muito
tempo no mesmo emprego, sofreu múltiplas rejeições por parte de editores etc. Mas, ao mesmo
tempo, a sua é uma história de superações. Alain de Botton, filósofo conterrâneo de Proust,
analisa nesta obra como, apesar das turbulências, o ficcionista conseguia manter sólidas relações
pessoais, ter energia para dedicar à leitura da alta literatura e, claro, como ele conseguia
transformar dificuldade e caos, em uma arte de beleza em nível poucas vezes alcançado antes ou
depois de sua existência.