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Leis de Kirchhoff.

MATERIAL DE APOIO
Circuitos Eletrônicos 1

Esta aula busca que o(a) estudante aprenda os conceitos e


a aplicação das Leis de Kirchhoff em circuitos lineares.

Prof. Euler de Vilhena Garcia


Leis de Kirchhoff

MAPA DESTA AULA

ONDE FICA O NORTE


Descreva o funcionamento de um típico
desembaçador do para-brisa traseiro de um
automóvel. Explique quais seriam os principais
critérios de projeto e desenvolvimento deste tipo de
desembaçador
Leis de Kirchhoff.

Problemas de circuitos
Conceitos básicos
Principais definições
Lei de Kirchhoff das Correntes
Formulação
Exemplo
Lei de Kirchhoff das Tensões
Formulação
Exemplo
Boas Práticas de Solução
Formulação
Resolução

CONTEÚDO DESTA AULA


Problemas de circuitos.

Tipos de problemas

Os dois principais tipos de problemas envolvendo circuitos elétricos são a análise e a síntese de circuitos.
 ANÁLISE: o sistema e a entrada são dados. A saída deve ser determinada.
 SÍNTESE: projetar um sistema dadas as entradas e saídas desejadas.

Um circuito é conhecido (ou está resolvido) quando a tensão nos terminais de cada elemento e a corrente
corresponde foram determinadas. Em um sistema elétrico (ou um sistema análogo modelado como se fosse um
sistema elétrico), o sistema é modelado como um circuito, as entradas são correntes e as saídas, tensões (ou vice-
versa).

O tema de aula anterior abordou modelos de elementos de circuitos. O presente passo é estudarmos as ligações
entre elementos. A primeira pessoa a estudar estas interligações foi Gustav Robert Kirchhoff, que definiu duas leis
envolvendo as correntes e tensões em um circuito elétrico.
Conceitos básicos.

Ordens de magnitude das grandezas envolvidas


Valor base
(m) mili = 10-3
(m) micro = 10-6
(n) nano = 10-9
(p) pico = 10-12
(f) fento = 10-15
(a) ato = 10-18
1024 = Yota (Y)
1021 = Zetta (Z)
1018 = Exa (E)
1015 = Peta (P)
1012 = Tera (T)
109 = Giga (G) Repare que alguns prefixos começam com letra
106 = Mega (M) maiúscula, outros não. Da mesma forma, todas
103 = kilo (k) as unidades do SI cuja sigla corresponde à inicial
Valor base de uma pessoa também são maiúsculas.
Principais definições.

Nó Nó é o ponto de ligação de dois ou mais elementos de circuitos. Alguns textos também o denominam
como vértice. Graficamente, a representação da junção de três ou mais elementos pode ser confusa. As
opções são indicar claramente a conexão mediante um ponto sólido, ou indicar claramente a ausência
de conexão mediante um salto entre os fios condutores. Ligações sem o ponto sólido ou sem o salto são
confusas e devem ser evitadas, pois podem ser interpretadas de ambas as formas (conexão ou não).

CUIDADO: (a) e (b) são


equivalentes pois os
mesmos elementos
estão conectados da
mesma forma entre si.
Principais definições.

Em diagramas esquemáticos complexos, contudo, a grande quantidade de pontos sólidos de conexão e/ou saltos de
intersecções resulta em circuitos visualmente poluídos. Nestes casos, a convenção utilizada deve estar visualmente
óbvia e se restringe a apenas duas opções:
 Pontos sólidos como conectores e intersecções simples sempre como indicações de ausência de conexão entre
as linhas
 Intersecções simples serão sempre conexões e ausências de intersecção são claramente indicadas por saltos
entre as linhas.
Salto
Ponto sólido Intersecção simples (superposição sem conexão)
Principais definições.

Ramo, Laço e Malha

CAMINHO. Qualquer trecho do circuito que liga elementos básicos sem passar mais de uma vez pelos elementos
incluídos.

RAMO é um trecho do circuito que liga dois nós consecutivos. Em outras palavras, é um caminho que liga dois nós.

CAMINHO FECHADO é o trajeto que começa em um nó arbitrário, passa pelos componentes selecionados e retorna
ao nó original sem passar por qualquer nó intermediário mais de uma vez.

LAÇO é o conjunto de ramos que formam um único caminho fechado. Um caminho cujos nós inicial e final coincidem.

Um circuito é denominado planar quando pode ser desenhado sobre um plano sem nenhuma intersecção de ramos.
Uma MALHA é um laço que não engloba nenhum outro laço ou um laço que não engloba nenhum outro ramo em um
circuito planar.
Lei de Kirchhoff das Correntes (LKC)

Formulação

Em etapas anteriores do nosso curso, vimos que todos os circuitos elétricos tratados neste curso (sejam reais ou
modelos conceituais de outros sistemas físicos) são considerados sistemas isolados nos termos da Lei de
Conservação de Energia. Também vimos que uma das condições da aplicação da Teoria de Circuitos é que a carga
líquida em cada componente do sistema seja sempre zero. Estas premissas implicam que:

 A carga total do sistema se conserva.

 Não pode haver acúmulo de carga em um nó, pois este é apenas uma interligação entre dois ramos. Se houvesse
acúmulo de carga nele, seria uma acúmulo líquido de apenas um tipo de carga (i.e., positiva ou negativa),
proveniente da corrente que não teria fluido por ele ou de algum ganho de energia com o meio. Isso seria uma
contradição pois nosso sistema é isolado nos termos da Lei de Conservação de Energia e nossas interligações
entre os elementos são consideradas curtos-circuitos ideais. Logo, não pode acontecer.

Essas são as bases físicas da Lei de Kirchhoff das Correntes (LKC). Apenas isso. Mas podemos enunciá-la de várias
formas diferentes e equivalentes.
Lei de Kirchhoff das Correntes (LKC)

A LKC, portanto, diz que:


 A carga total que entra em um dado nó é igual a carga total que sai.
OU
 A soma algébrica das correntes que entram em um nó é igual a soma das correntes que saem deste respectivo
nó.
OU
 A soma algébrica de todas as correntes (que entram ou saem) em um nó é igual a zero.

Para utilizar a LKC devidamente, é preciso definir uma referência de polaridade para as correntes. Uma vez definida
essa referência, esta deve ser mantida em todo o circuito, com correntes em sentido oposto representadas
algebricamente pelo sinal negativo.

Para fins deste curso, consideramos positiva toda corrente que entra em um nó.
Lei de Kirchhoff das Correntes (LKC)

Podemos definir uma superfície fechada limitando qualquer parte de um circuito e que não passe através de um
elemento1 e aplicarmos a LKC da mesma forma. Como não há acúmulo líquido de cargas dentro da superfície, a soma
algébrica das correntes que entram da superfície é zero. Abaixo temos duas superfícies, um retângulo e um círculo.

LKC para o retângulo: 𝑖1 𝑡 + 𝑖2 𝑡 + 𝑖4 𝑡 − 𝑖5 𝑡 = 0

LKC para o círculo (igual a somar


as correntes para o nó C):
Nota prática:
Fazer as contas em uma superfície fechada
arbitrária é um exercício importante em
𝑖5 𝑡 + 𝑖6 𝑡 − 𝑖1 𝑡 = 0 problemas físico-matemáticos. Na bancada,
imagine esta superfície fechada como
sendo qualquer coisa que lhe impedisse
acesso direto ao circuito para fazer
medições. Desta forma, você só poderia ter
acesso aos contatos externos dela. Isso
permite simplificar os cálculos, resolvendo
o circuito sem se preocupar com as
correntes dentro da superfície.

1 Em sistemas de parâmetros concentrados, como os circuitos da Teoria de Circuitos, os elementos são considerados indivisíveis.
Lei de Kirchhoff das Correntes (LKC)

Exemplo

LKC para o nó (a): −𝑖1 − 𝑖4 + 𝑖2 + 𝑖5 = 0


LKC para o nó (b): +𝑖1 − 𝑖2 + 𝑖𝑎 − 𝑖3 + 𝑖𝑏 = 0
LKC para o nó (c): +𝑖4 + 𝑖3 + 𝑖𝑐 − 𝑖𝑏 = 0
LKC para o nó (d): −𝑖5 − 𝑖𝑎 − 𝑖𝑐 = 0
Lei de Kirchhoff das Tensões (LKT)

Formulação

Para explicar a Lei de Kirchhoff das Tensões sem nenhum tipo de memorização ou ‘decoreba’ é necessário voltar à
discussão de trabalho e energia. No caso deste curso, energia elétrica.

Dentre todas as formas de transferir energia para algo (em linguagem comum diríamos ‘energizar’ ou ‘desenergizar’),
Trabalho é a forma de transferir energia a algum objeto mediante a aplicação de uma força sobre ele. É o produto da
força aplicada pelo deslocamento obtido em sua aplicação.
𝑊 =𝐹∙𝑑
A força elétrica é uma força conservativa. Isto quer dizer que o trabalho devido à força elétrica independe da
trajetória, sendo proporcional apenas aos pontos inicial e final do deslocamento. Mas qual a razão do nome
‘conservativa’?

É fácil de entender. Imagine um deslocamento em um percurso fechado, isto é, um percurso que comece e termine
no mesmo lugar. Neste caso, sendo o trabalho proporcional apenas aos extremos do deslocamento, o trabalho seria
nulo pois os pontos inicial e final são iguais.
Lei de Kirchhoff das Tensões (LKT)

Se o trabalho total é nulo, não está sendo transferida energia para o objeto. Ele não está nem ganhando energia
(neste caso W > 0), nem perdendo energia (neste caso W < 0). Ou seja, mesmo aplicando uma força sobre ele a
energia do objeto se conserva! Eis a razão do nome.

Sabemos que potencial elétrico é o trabalho realizado (pela força elétrica) por unidade de carga. Logo, por ser a força
elétrica uma força conservativa, o potencial elétrico total em um caminho fechado de circuito é zero! Pronto, essas
são as bases físicas da Lei de Kirchhoff das Tensões (LKT).

Relembrando que tensão elétrica é definida como a diferença de potencial entre dois pontos, a LKT pode ser
enunciada da seguinte forma:
 A soma algébrica das tensões ao longo de qualquer caminho fechado é igual a zero.

Para se usar a LKT corretamente é necessário, portanto, definir um sinal algébrico para as tensões encontradas. A
convenção usada é usar o sinal correspondente ao primeiro terminal de cada elemento de circuito encontrado
enquanto percorremos o caminho fechado em um dado sentido (horário ou anti-horário).
Lei de Kirchhoff das Tensões (LKT)

Exemplo

LKT no caminho fechado (a): −𝑣1 + 𝑣2 + 𝑣4 − 𝑣𝑏 − 𝑣3 = 0


LKT no caminho fechado (b): −𝑣𝑎 + 𝑣3 + 𝑣5 = 0
LKT no caminho fechado (c): +𝑣𝑏 − 𝑣4 − 𝑣𝑐 − 𝑣6 − 𝑣5 = 0
LKT no caminho fechado (d): −𝑣𝑑 − 𝑣𝑎 − 𝑣1 + 𝑣2 − 𝑣𝑐 + 𝑣7 = 0
Boas Práticas de Solução.

Evitar os dois principais tipos de falhas

Duas são as principais falhas em um projeto de engenharia:


1. Realizar tarefas sem necessidade real de serem feitas.
2. Ter de refazer total ou parcialmente as tarefas já feitas.

No caso da disciplina de Circuitos Eletrônicos 1, isso significa:


1. Ter de resolver contas que não precisavam ser feitas. Estes são erros de formulação do problema. Erros de
formulação sempre envolvem erros de conceitos físicos.
2. Ter de refazer contas que errou da primeira vez. Estes são erros de resolução do problema. Erros de resolução
sempre envolvem falhas de aplicação de técnicas matemáticas.

Os exemplos a seguir foram pensados para ensinar boas metodologias de formulação e resolução de problemas de
circuitos.

IMPORTANTE: CUIDADO COM AS REFERÊNCIAS DE POLARIDADE


A definição inicial das correntes para o uso da LKC, ou das tensões para o uso da LKT, é arbitrária. Agora a junção das duas definições – a de tensão e
a de corrente – deve seguir a convenção de potência conforme cada tipo de componente. Pode começar por qualquer preferência. Contudo, uma vez
que foram escolhidas as correntes, as tensões devem obrigatoriamente obedecer à convenção, e vice-versa.
Boas Práticas de Solução: Formulação.

Passo #1: Descobrir o que precisa ser calculado.


Um circuito só é conhecido quando se sabe todas as correntes que passam em cada um dos seus componentes com as respectivas tensões em seus
terminais. Cada valor desconhecido é denominado de variável. Todas as variáveis precisam ser calculadas para que o problema esteja completamente
resolvido.

Passo #2: Redução da dimensionalidade do problema.


Nem todas as variáveis apresentam informação inédita ao problema. Isso quer dizer que algumas variáveis podem ser escritas em termos de
combinações lineares de outras variáveis. As primeiras são denominadas variáveis dependentes, as últimas são conhecidas por variáveis independentes.
Chamaremos as variáveis independentes de incógnitas. Ex: em um resistor, a tensão pode ser escrita em termos da corrente e vice-versa. Então, um
resistor tem sempre duas variáveis mas apenas uma incógnita.
Qualquer sistema linear estará resolvido apenas quando forem conhecidos todos os valores possíveis de todas as variáveis independentes. A
dimensão de um sistema linear, por sua vez, corresponde ao número de variáveis independentes. Ex: um sistema linear de 6 dimensões possui 6 variáveis
independentes. Neste passo, devemos definir quais são as variáveis independentes dentre todas as listadas no Passo #1.

Passo #3: Definir a quantidade de equações necessárias.


Em geral, um sistema linear com menos equações do que incógnitas não possui solução. Colocar mais equações do que incógnitas por si só também não
facilita a resolução. Logo, seu sistema deve ter tantas equações quantas incógnitas existirem.

Passo #4: Manter a coerência na montagem das equações.


Manter a coerência na montagem das equações significa respeitar todas as simplificações físicas que resultaram nas condições de aplicação geral da teoria
de circuitos e nas bases físicas particulares de cada uma das leis e teoremas que estiverem sendo aplicados.
Exemplo 1: Não dá para usar a Lei das Tensões de Kirchhoff em uma malha que possua uma fonte ideal de corrente (seja ela independente ou
controlada). Isso porque não tem como prever a tensão nos seus terminais: será sempre a que for necessária para manter a corrente constante.
Exemplo 2: Pelo mesmo motivo, não dá para usar a Lei de Kirchhoff das Correntes em um nó que conecta diretamente a uma fonte de tensão
ideal. Não há como relacionar a corrente da fonte com sua tensão , logo não há como somar todas as correntes do nó.
Boas Práticas de Solução: Formulação.

Exemplo #1
Calcular todas as tensões e correntes do circuito abaixo. Neste caso em particular, são conhecidos os valores dos
resistores e a tensão da bateria ideal.

Figuras adaptadas a partir de:


SCHERZ, P; MONK, S. Pratical Electronics for Inventors.
4ª edição. McGraw-Hill Education, 2016.
Boas Práticas de Solução: Formulação.

Exemplo #1
Passo #1
 São 12 variáveis para calcular, sendo 6 correntes e 6 tensões.

Passo #2
 Observamos que todas as tensões desconhecidas são tensões elétricas nos terminais de resistores. Logo, todas
podem ser escritas como funções das respectivas correntes. Assim, das 12 variáveis deste problema, apenas 6
são realmente incógnitas: as correntes.

Passo #3
 Um sistema de ordem 6 precisa pelo menos de 6 equações com 6 incógnitas para ter solução. Logo, temos de
montar um sistema linear de 6 equações.

Passo #4
 Vamos começar a montar as equações a partir da análise dos nós pela Lei de Kirchhoff das Correntes.
Boas Práticas de Solução: Formulação.

Aqui é importante 1 esclarecimento: Podemos usar a LKC no Nó A


porque existe o resistor 𝑅1 entre a bateria e o nó. Desta forma temos
como calcular 𝑖1 mesmo sendo uma fonte ideal.

Nó A. 𝑖1 − 𝑖2 − 𝑖3 = 0;
Nó B. 𝑖2 − 𝑖4 − 𝑖5 = 0;
Nó C. 𝑖3 + 𝑖4 − 𝑖6 = 0 E por que não usarmos o quarto nó?
A equação dele seria −𝑖1 + 𝑖5 + 𝑖6 = 0.

Percebam que, por causa da topologia do circuito, o quarto nó


não acrescentaria nenhuma corrente nova. Ou seja a equação
dele pode ser escrita a partir das outras três.

Temos 3 equações então. De onde tiramos as outras três? A partir da


análise dos laços pela Lei de Kirchhoff das Tensões.

Laço 1. −𝑉0 + 𝑅1 𝑖1 + 𝑅2 𝑖2 + 𝑅5 𝑖5 = 0;
Laço 2. +𝑅3 𝑖3 − 𝑅4 𝑖4 − 𝑅2 𝑖2 = 0;
Figuras adaptadas a partir de:
SCHERZ, P; MONK, S. Pratical Electronics for Inventors.
Laço 3. +𝑅6 𝑖6 − 𝑅5 𝑖5 + 𝑅4 𝑖4 = 0
4ª edição. McGraw-Hill Education, 2016.
Boas Práticas de Solução: Formulação.

Passo #4 (continuação)
 Acabamos este passo montando o sistema em forma de matriz.
Lembrando que os valores dos resistores e da fonte de tensão são conhecidos:
𝑅1 = 1Ω
𝑅2 = 2Ω
𝑅3 = 3Ω
𝑅4 = 4Ω
𝑅5 = 5Ω
𝑅6 = 6Ω

𝑉0 = 10𝑉

1 −1 −1 0 0 0 𝑖1 0
0 1 0 0 −1 −1 𝑖2 0
0 0 1 1 0 −1 𝑖3 0
𝑅1 𝑅2 0 0 𝑅5 0 =
𝑖4 𝑉0
0 −𝑅2 𝑅3 −𝑅4 0 0 𝑖5 0
0 0 0 𝑅4 −𝑅5 𝑅6 𝑖6 0
Boas Práticas de Solução: Formulação.

Exemplo #2
Este exemplo é bem parecido com o anterior. Apenas trocamos a fonte ideal de tensão por uma fonte ideal de
corrente, tiramos o resistor 𝑅1 e sabemos a tensão em cima do resistor de 15kW, cerca de 500V.

Um estudante desavisado tentaria repetir o exemplo anterior como uma ‘receita de bolo’. Vamos seguir passo-a-
passo e ver se isso se mantém.
Boas Práticas de Solução: Formulação.

Exemplo #2

Passo #1
 Continuamos com 6 correntes e 6 tensões no total, mas dessas vez conhecemos a corrente 𝑖1 (igual à fonte de
corrente, 100mA) e a tensão 𝑉6 (já dada, 500V). São, portanto, 10 variáveis para calcular, sendo 5 correntes e 5
tensões.

Passo #2
 Observamos que todas as tensões desconhecidas são tensões elétricas nos terminais de resistores. Logo, todas
podem ser escritas como funções das respectivas correntes. Assim, das 10 variáveis deste problema, cerca de 5
são variáveis dependentes.
 E as outras 5 variáveis, as 5 correntes? Ficamos com um sistema de ordem 5, portanto? A resposta é não.
 Como sabemos 𝑉6 e 𝑅6 , podemos calcular 𝑖6 pela aplicação da Lei de Ohm.
𝑖6 = 500 = 33,33 𝑚𝐴
15. 103
Boas Práticas de Solução: Formulação.

Passo #2 (continuação)
 Com 𝑖6 determinada, conhecemos 2 das 3 correntes que se somam naquele que seria o Nó D. Curiosamente, é
justamente aquele nó que descartamos no exemplo anterior que no permite fazer isso.
−𝑖1 + 𝑖5 + 𝑖6 = 0

𝑖5 = 𝑖1 − 𝑖6 = 100. 10−3 − 33,33. 10−3 = 66,67 𝑚𝐴

 Da mesma forma, Com 𝑖5 determinada, conhecemos 2 das 3 tensões que se somam naquele que seria o Laço 3.
+𝑅6 𝑖6 − 𝑅5 𝑖5 + 𝑅4 𝑖4 = 0

𝑅5 𝑖5 − 𝑅6 𝑖6 7,5. 103 . 66,67. 10−3 − 500


𝑖4 = = = 0 𝑚𝐴
𝑅4 4. 103
 Assim, com 4 correntes conhecidas, temos apenas 2 variáveis incógnitas.

Passo #3
 Um sistema de ordem 2 precisa de 2 equações de 2 variáveis para ser resolvido.
Boas Práticas de Solução: Formulação.

Passo #4
 Temos de usar as Leis de Kirchhoff para montar as equações. Observe que neste exemplo o Laço 1 não pode ser
usado por causa da fonte ideal de corrente.
 Temos, portanto, nossas equações a partir da Lei de Kirchhoff das Correntes aplicada no Nó A e a Lei de Kirchhoff
das Tensões no Laço 2.

com o valor da fonte de corrente


𝑖1 − 𝑖2 − 𝑖3 = 0 𝑖2 + 𝑖3 = 100
com o valor de𝑖4
+𝑅3 𝑖3 − 𝑅4 𝑖4 − 𝑅2 𝑖2 = 0 𝑅3 𝑖3 − 𝑅2 𝑖2 = 0

 Montamos então o sistema em forma matricial. Reparem que o circuito extremamente parecido do exemplo
anterior pedia um sistema de 6ª ordem e terminamos este com um sistema de ordem 2!

1 1 𝑖2 100
=
5000 10000 𝑖3 0
Boas Práticas de Solução: Resolução.

Características do método ideal de resolução

Exercícios com resposta são que nem bicicleta com rodinhas. Servem apenas no início, para ganhar confiança. Todos
os problemas reais serão sem resposta conhecida a priori.

O método ideal de resolução de problemas deve ser capaz de:


A. Ser aplicado para problemas de um determinado tipo com nenhuma ou poucas modificações em função da sua
complexidade (i.e., da quantidade de equações).
B. Identificar antes do término dos cálculos quando a solução está indo pelo caminho errado, mesmo com a
resposta final ainda desconhecida.

Isso teria grandes consequências no aprendizado do conteúdo e na maturação profissional:


 Por causa de (A), não seria preciso aprender 2 ou 3 métodos distintos entre si.
 Por causa de (B), é possível desenvolver maior auto-aprendizagem, com maior confiança no resultado que
passe no ‘auto-teste’ da resolução.
 Também devido a (B), é possível ganhar maior efetividade ao reconhecer erros (e eventualmente corrigi-los)
em menor tempo.
Boas Práticas de Solução: Resolução.

Esse método existe? Sim você aprendeu ele e suas variações em Álgebra Linear. Arranje as equações que você
obteve em forma matricial e resolva este sistema de forma que ele se torne um sistema de matriz escalonada (ou
triangular).

A seguir, buscamos explicar todas as vantagens dessa abordagem ainda que esta possa parecer mais complexa do
que o método simples de isolar uma variável em uma equação e substituir nas outras (que vamos referir como
‘método da substituição’):
 Vantagens específicas do arranjo em forma matricial,
 Vantagens específicas da resolução como matriz triangular
 Vantagens do Método de Gauss em relação ao método da substituição
Boas Práticas de Solução: Resolução.

Arranjo em forma matricial


a11 x1  a12 x2  ...  a1n xn  b1
a x  a x  ...  a x  b
Um sistema linear de m equações com n incógnitas cada  21 1 22 2 2n 2 2

    

am1 x1  am 2 x2  ...  amn xn  bn
Em notação matricial: AX  B
B: Vetor dos termos
independentes
 a11 a12  a1n   x1 
     b1 
a a 22  a2n  x   
A   21 X  2 b 
      B 2
    
a am n  x   
 m1 am2    n  b 
 n
A: Matriz de coeficientes X: Vetor das variáveis

VANTAGEM: Inspeção da consistência física das equações.


O arranjo em matriz permite inspecionar se as equações montadas estão corretas. Se o vetor de variáveis for composto por correntes, o vetor dos
termos independentes deve ser composto apenas por tensões, e vice-versa. Se essa consistência não existir, as equações estão erradas.
Boas Práticas de Solução: Resolução.

Resolução como matriz triangular


Os dois sistemas são equivalentes, mas o da direita tem solução mais fácil.

VANTAGEM #1: Facilidade de cálculos das variáveis.


É possível transformar qualquer sistema matricial com uma matriz quadrada para uma matriz triangular sem alterar suas soluções. Uma vez como
matriz triangular, as contas ficam MUITO mais simples (veja a diferença entre os dois sistemas acima).

VANTAGEM #2: Inspeção de possíveis erros nos coeficientes da equação.


Caso você monte a equação equivocadamente, seja usando a LKT para uma fonte ideal de corrente ou a LKC para uma fonte ideal de tensão conectada
diretamente ao nó, o sistema triangular apontará a inconsistência igualando uma linha com coeficientes nulos a um termo independente não-nulo.

VANTAGEM #3: Inspeção de possíveis erros na quantidade de equações.


Caso você utilize mais equações do que o necessário, essa redundância será apontada na matriz escalonada como uma linha que 0.x = 0. Isso quer dizer
que alguma variável já está resolvida no próprio sistema.
Boas Práticas de Solução: Resolução.

Método de Gauss (Eliminação Gaussiana)

Método mais utilizado para resolução de matrizes e recomendado para os sistemas desta disciplina.

VANTAGEM #1: Repetibilidade.


É um método sistemático de resolução. Isto é, pode ser praticado e aplicado repetidamente a partir de um algoritmo simples de resolução.

VANTAGEM #2: Permite prever a quantidade de operações necessárias


2𝑛3 3𝑛2 7𝑛
É possível saber a partir da ordem n da matriz quantas operações matemáticas serão necessárias: 3 + − . Também são menos operações que o
2 6
Método de Cramer. Então já é possível ter uma ideia do tempo necessário para resolver a questão.

VANTAGEM #3: Mesmo método, diferentes formas de aplicação.


Pode ser realizado manualmente ou implementado computacionalmente sem grandes modificações.

VANTAGEM #4: Adaptabilidade.


É a base para métodos mais avançados. A Fatoração LU é uma forma específica de implementação do Método de Gauss que permite resolver o mesmo
sistema para diferentes vetores de termos independentes (i.e., diferentes entradas do sistema) sem ter que recomeçar todas as contas a cada novo
vetor.
Boas Práticas de Solução: Resolução.

Exemplo #1
1 −1 −1 0 0 0 𝑖1 0
Resolva pelo Método de Gauss a matriz obtida na 0 1 0 0 −1 −1 𝑖2 0
formulação do sistema com a fonte de tensão. 0 0 1 1 0 −1 𝑖3 0
=
1 2 0 0 5 0 𝑖4 10
0 −2 3 −4 0 0 𝑖5 0
0 0 0 4 −5 6 𝑖6 0
Resposta:

Figuras adaptadas a partir de:


SCHERZ, P; MONK, S. Pratical Electronics for Inventors.
4ª edição. McGraw-Hill Education, 2016.
Boas Práticas de Solução: Resolução.

Exemplo #2

Resolva pelo Método de Gauss a matriz obtida na formulação do sistema com a fonte de corrente.

1 1 𝑖2 100
=
5000 10000 𝑖3 0

Variação 1: Monte o sistema completo de 6ª ordem e perceba a redundância identificada na matriz triangular.

Variação #2: Monte o sistema usando erradamente o laço com a fonte de corrente e perceba o erro identificado na
matriz triangular.
Turma D
2013/2

Avisos finais

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