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MATERIAL DE APOIO
Circuitos Eletrônicos 1
Problemas de circuitos
Conceitos básicos
Principais definições
Lei de Kirchhoff das Correntes
Formulação
Exemplo
Lei de Kirchhoff das Tensões
Formulação
Exemplo
Boas Práticas de Solução
Formulação
Resolução
Tipos de problemas
Os dois principais tipos de problemas envolvendo circuitos elétricos são a análise e a síntese de circuitos.
ANÁLISE: o sistema e a entrada são dados. A saída deve ser determinada.
SÍNTESE: projetar um sistema dadas as entradas e saídas desejadas.
Um circuito é conhecido (ou está resolvido) quando a tensão nos terminais de cada elemento e a corrente
corresponde foram determinadas. Em um sistema elétrico (ou um sistema análogo modelado como se fosse um
sistema elétrico), o sistema é modelado como um circuito, as entradas são correntes e as saídas, tensões (ou vice-
versa).
O tema de aula anterior abordou modelos de elementos de circuitos. O presente passo é estudarmos as ligações
entre elementos. A primeira pessoa a estudar estas interligações foi Gustav Robert Kirchhoff, que definiu duas leis
envolvendo as correntes e tensões em um circuito elétrico.
Conceitos básicos.
Nó Nó é o ponto de ligação de dois ou mais elementos de circuitos. Alguns textos também o denominam
como vértice. Graficamente, a representação da junção de três ou mais elementos pode ser confusa. As
opções são indicar claramente a conexão mediante um ponto sólido, ou indicar claramente a ausência
de conexão mediante um salto entre os fios condutores. Ligações sem o ponto sólido ou sem o salto são
confusas e devem ser evitadas, pois podem ser interpretadas de ambas as formas (conexão ou não).
Em diagramas esquemáticos complexos, contudo, a grande quantidade de pontos sólidos de conexão e/ou saltos de
intersecções resulta em circuitos visualmente poluídos. Nestes casos, a convenção utilizada deve estar visualmente
óbvia e se restringe a apenas duas opções:
Pontos sólidos como conectores e intersecções simples sempre como indicações de ausência de conexão entre
as linhas
Intersecções simples serão sempre conexões e ausências de intersecção são claramente indicadas por saltos
entre as linhas.
Salto
Ponto sólido Intersecção simples (superposição sem conexão)
Principais definições.
CAMINHO. Qualquer trecho do circuito que liga elementos básicos sem passar mais de uma vez pelos elementos
incluídos.
RAMO é um trecho do circuito que liga dois nós consecutivos. Em outras palavras, é um caminho que liga dois nós.
CAMINHO FECHADO é o trajeto que começa em um nó arbitrário, passa pelos componentes selecionados e retorna
ao nó original sem passar por qualquer nó intermediário mais de uma vez.
LAÇO é o conjunto de ramos que formam um único caminho fechado. Um caminho cujos nós inicial e final coincidem.
Um circuito é denominado planar quando pode ser desenhado sobre um plano sem nenhuma intersecção de ramos.
Uma MALHA é um laço que não engloba nenhum outro laço ou um laço que não engloba nenhum outro ramo em um
circuito planar.
Lei de Kirchhoff das Correntes (LKC)
Formulação
Em etapas anteriores do nosso curso, vimos que todos os circuitos elétricos tratados neste curso (sejam reais ou
modelos conceituais de outros sistemas físicos) são considerados sistemas isolados nos termos da Lei de
Conservação de Energia. Também vimos que uma das condições da aplicação da Teoria de Circuitos é que a carga
líquida em cada componente do sistema seja sempre zero. Estas premissas implicam que:
Não pode haver acúmulo de carga em um nó, pois este é apenas uma interligação entre dois ramos. Se houvesse
acúmulo de carga nele, seria uma acúmulo líquido de apenas um tipo de carga (i.e., positiva ou negativa),
proveniente da corrente que não teria fluido por ele ou de algum ganho de energia com o meio. Isso seria uma
contradição pois nosso sistema é isolado nos termos da Lei de Conservação de Energia e nossas interligações
entre os elementos são consideradas curtos-circuitos ideais. Logo, não pode acontecer.
Essas são as bases físicas da Lei de Kirchhoff das Correntes (LKC). Apenas isso. Mas podemos enunciá-la de várias
formas diferentes e equivalentes.
Lei de Kirchhoff das Correntes (LKC)
Para utilizar a LKC devidamente, é preciso definir uma referência de polaridade para as correntes. Uma vez definida
essa referência, esta deve ser mantida em todo o circuito, com correntes em sentido oposto representadas
algebricamente pelo sinal negativo.
Para fins deste curso, consideramos positiva toda corrente que entra em um nó.
Lei de Kirchhoff das Correntes (LKC)
Podemos definir uma superfície fechada limitando qualquer parte de um circuito e que não passe através de um
elemento1 e aplicarmos a LKC da mesma forma. Como não há acúmulo líquido de cargas dentro da superfície, a soma
algébrica das correntes que entram da superfície é zero. Abaixo temos duas superfícies, um retângulo e um círculo.
1 Em sistemas de parâmetros concentrados, como os circuitos da Teoria de Circuitos, os elementos são considerados indivisíveis.
Lei de Kirchhoff das Correntes (LKC)
Exemplo
Formulação
Para explicar a Lei de Kirchhoff das Tensões sem nenhum tipo de memorização ou ‘decoreba’ é necessário voltar à
discussão de trabalho e energia. No caso deste curso, energia elétrica.
Dentre todas as formas de transferir energia para algo (em linguagem comum diríamos ‘energizar’ ou ‘desenergizar’),
Trabalho é a forma de transferir energia a algum objeto mediante a aplicação de uma força sobre ele. É o produto da
força aplicada pelo deslocamento obtido em sua aplicação.
𝑊 =𝐹∙𝑑
A força elétrica é uma força conservativa. Isto quer dizer que o trabalho devido à força elétrica independe da
trajetória, sendo proporcional apenas aos pontos inicial e final do deslocamento. Mas qual a razão do nome
‘conservativa’?
É fácil de entender. Imagine um deslocamento em um percurso fechado, isto é, um percurso que comece e termine
no mesmo lugar. Neste caso, sendo o trabalho proporcional apenas aos extremos do deslocamento, o trabalho seria
nulo pois os pontos inicial e final são iguais.
Lei de Kirchhoff das Tensões (LKT)
Se o trabalho total é nulo, não está sendo transferida energia para o objeto. Ele não está nem ganhando energia
(neste caso W > 0), nem perdendo energia (neste caso W < 0). Ou seja, mesmo aplicando uma força sobre ele a
energia do objeto se conserva! Eis a razão do nome.
Sabemos que potencial elétrico é o trabalho realizado (pela força elétrica) por unidade de carga. Logo, por ser a força
elétrica uma força conservativa, o potencial elétrico total em um caminho fechado de circuito é zero! Pronto, essas
são as bases físicas da Lei de Kirchhoff das Tensões (LKT).
Relembrando que tensão elétrica é definida como a diferença de potencial entre dois pontos, a LKT pode ser
enunciada da seguinte forma:
A soma algébrica das tensões ao longo de qualquer caminho fechado é igual a zero.
Para se usar a LKT corretamente é necessário, portanto, definir um sinal algébrico para as tensões encontradas. A
convenção usada é usar o sinal correspondente ao primeiro terminal de cada elemento de circuito encontrado
enquanto percorremos o caminho fechado em um dado sentido (horário ou anti-horário).
Lei de Kirchhoff das Tensões (LKT)
Exemplo
Os exemplos a seguir foram pensados para ensinar boas metodologias de formulação e resolução de problemas de
circuitos.
Exemplo #1
Calcular todas as tensões e correntes do circuito abaixo. Neste caso em particular, são conhecidos os valores dos
resistores e a tensão da bateria ideal.
Exemplo #1
Passo #1
São 12 variáveis para calcular, sendo 6 correntes e 6 tensões.
Passo #2
Observamos que todas as tensões desconhecidas são tensões elétricas nos terminais de resistores. Logo, todas
podem ser escritas como funções das respectivas correntes. Assim, das 12 variáveis deste problema, apenas 6
são realmente incógnitas: as correntes.
Passo #3
Um sistema de ordem 6 precisa pelo menos de 6 equações com 6 incógnitas para ter solução. Logo, temos de
montar um sistema linear de 6 equações.
Passo #4
Vamos começar a montar as equações a partir da análise dos nós pela Lei de Kirchhoff das Correntes.
Boas Práticas de Solução: Formulação.
Nó A. 𝑖1 − 𝑖2 − 𝑖3 = 0;
Nó B. 𝑖2 − 𝑖4 − 𝑖5 = 0;
Nó C. 𝑖3 + 𝑖4 − 𝑖6 = 0 E por que não usarmos o quarto nó?
A equação dele seria −𝑖1 + 𝑖5 + 𝑖6 = 0.
Laço 1. −𝑉0 + 𝑅1 𝑖1 + 𝑅2 𝑖2 + 𝑅5 𝑖5 = 0;
Laço 2. +𝑅3 𝑖3 − 𝑅4 𝑖4 − 𝑅2 𝑖2 = 0;
Figuras adaptadas a partir de:
SCHERZ, P; MONK, S. Pratical Electronics for Inventors.
Laço 3. +𝑅6 𝑖6 − 𝑅5 𝑖5 + 𝑅4 𝑖4 = 0
4ª edição. McGraw-Hill Education, 2016.
Boas Práticas de Solução: Formulação.
Passo #4 (continuação)
Acabamos este passo montando o sistema em forma de matriz.
Lembrando que os valores dos resistores e da fonte de tensão são conhecidos:
𝑅1 = 1Ω
𝑅2 = 2Ω
𝑅3 = 3Ω
𝑅4 = 4Ω
𝑅5 = 5Ω
𝑅6 = 6Ω
𝑉0 = 10𝑉
1 −1 −1 0 0 0 𝑖1 0
0 1 0 0 −1 −1 𝑖2 0
0 0 1 1 0 −1 𝑖3 0
𝑅1 𝑅2 0 0 𝑅5 0 =
𝑖4 𝑉0
0 −𝑅2 𝑅3 −𝑅4 0 0 𝑖5 0
0 0 0 𝑅4 −𝑅5 𝑅6 𝑖6 0
Boas Práticas de Solução: Formulação.
Exemplo #2
Este exemplo é bem parecido com o anterior. Apenas trocamos a fonte ideal de tensão por uma fonte ideal de
corrente, tiramos o resistor 𝑅1 e sabemos a tensão em cima do resistor de 15kW, cerca de 500V.
Um estudante desavisado tentaria repetir o exemplo anterior como uma ‘receita de bolo’. Vamos seguir passo-a-
passo e ver se isso se mantém.
Boas Práticas de Solução: Formulação.
Exemplo #2
Passo #1
Continuamos com 6 correntes e 6 tensões no total, mas dessas vez conhecemos a corrente 𝑖1 (igual à fonte de
corrente, 100mA) e a tensão 𝑉6 (já dada, 500V). São, portanto, 10 variáveis para calcular, sendo 5 correntes e 5
tensões.
Passo #2
Observamos que todas as tensões desconhecidas são tensões elétricas nos terminais de resistores. Logo, todas
podem ser escritas como funções das respectivas correntes. Assim, das 10 variáveis deste problema, cerca de 5
são variáveis dependentes.
E as outras 5 variáveis, as 5 correntes? Ficamos com um sistema de ordem 5, portanto? A resposta é não.
Como sabemos 𝑉6 e 𝑅6 , podemos calcular 𝑖6 pela aplicação da Lei de Ohm.
𝑖6 = 500 = 33,33 𝑚𝐴
15. 103
Boas Práticas de Solução: Formulação.
Passo #2 (continuação)
Com 𝑖6 determinada, conhecemos 2 das 3 correntes que se somam naquele que seria o Nó D. Curiosamente, é
justamente aquele nó que descartamos no exemplo anterior que no permite fazer isso.
−𝑖1 + 𝑖5 + 𝑖6 = 0
Da mesma forma, Com 𝑖5 determinada, conhecemos 2 das 3 tensões que se somam naquele que seria o Laço 3.
+𝑅6 𝑖6 − 𝑅5 𝑖5 + 𝑅4 𝑖4 = 0
Passo #3
Um sistema de ordem 2 precisa de 2 equações de 2 variáveis para ser resolvido.
Boas Práticas de Solução: Formulação.
Passo #4
Temos de usar as Leis de Kirchhoff para montar as equações. Observe que neste exemplo o Laço 1 não pode ser
usado por causa da fonte ideal de corrente.
Temos, portanto, nossas equações a partir da Lei de Kirchhoff das Correntes aplicada no Nó A e a Lei de Kirchhoff
das Tensões no Laço 2.
Montamos então o sistema em forma matricial. Reparem que o circuito extremamente parecido do exemplo
anterior pedia um sistema de 6ª ordem e terminamos este com um sistema de ordem 2!
1 1 𝑖2 100
=
5000 10000 𝑖3 0
Boas Práticas de Solução: Resolução.
Exercícios com resposta são que nem bicicleta com rodinhas. Servem apenas no início, para ganhar confiança. Todos
os problemas reais serão sem resposta conhecida a priori.
Esse método existe? Sim você aprendeu ele e suas variações em Álgebra Linear. Arranje as equações que você
obteve em forma matricial e resolva este sistema de forma que ele se torne um sistema de matriz escalonada (ou
triangular).
A seguir, buscamos explicar todas as vantagens dessa abordagem ainda que esta possa parecer mais complexa do
que o método simples de isolar uma variável em uma equação e substituir nas outras (que vamos referir como
‘método da substituição’):
Vantagens específicas do arranjo em forma matricial,
Vantagens específicas da resolução como matriz triangular
Vantagens do Método de Gauss em relação ao método da substituição
Boas Práticas de Solução: Resolução.
Método mais utilizado para resolução de matrizes e recomendado para os sistemas desta disciplina.
Exemplo #1
1 −1 −1 0 0 0 𝑖1 0
Resolva pelo Método de Gauss a matriz obtida na 0 1 0 0 −1 −1 𝑖2 0
formulação do sistema com a fonte de tensão. 0 0 1 1 0 −1 𝑖3 0
=
1 2 0 0 5 0 𝑖4 10
0 −2 3 −4 0 0 𝑖5 0
0 0 0 4 −5 6 𝑖6 0
Resposta:
Exemplo #2
Resolva pelo Método de Gauss a matriz obtida na formulação do sistema com a fonte de corrente.
1 1 𝑖2 100
=
5000 10000 𝑖3 0
Variação 1: Monte o sistema completo de 6ª ordem e perceba a redundância identificada na matriz triangular.
Variação #2: Monte o sistema usando erradamente o laço com a fonte de corrente e perceba o erro identificado na
matriz triangular.
Turma D
2013/2
Avisos finais