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Política externa brasileira
Política Internacional
Professor Thomaz Napoleão
Aula 3
02/10/2018
Princípios, diretrizes e conceitos
Princípios constitucionais da PEB
Artigo 4o CF
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da
América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. ( CELAC)
Primazia do executivo
• Art. 84. CF: Compete privativamente ao Presidente da República:
• VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos;
• VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;

• Essa competência é delegada ao MRE (Itamaraty)

• Instâncias complementares: Congresso e entes da Federação


MRE
• Criado em 1822 como Secretaria dos Negócios Estrangeiros (quarto mais antigo após Casa Civil, Justiça e
Defesa)

• Competências (Art 33 do Decreto 4.118/2002):


• I - política internacional;
• II - relações diplomáticas e serviços consulares;
• III - participação nas negociações comerciais, econômicas, técnicas e culturais com governos e entidades estrangeiras;
• IV - programas de cooperação internacional; e
• V - apoio a delegações, comitivas e representações brasileiras em agências e organismos internacionais e multilaterais.

• Regido internamente pela Lei do Serviço Exterior (11.440/2006) e pelo Regimento Interno do Serviço Exterior

• Coordena ação internacional dos Ministérios (Fazenda, MJ, MD, MDIC, MEC, MMA, Saúde...)
Organograma do MRE
Elementos centrais
• Política de Estado x Política de Governo

• Política externa > diplomacia

• PEB como meio; desenvolvimento como fim

• Defesa do multilateralismo e da multipolaridade

• Continuidade ou evolução? “Melhor tradição do Itamaraty é saber renovar-se” (Azeredo da


Silveira)
Conceitos da PEB
• Paulo Roberto de Almeida (viés liberal)
• Sete “teses idealistas” da PEB
• Objetivos nacionais permanentes
• Independência nacional
• Interesse nacional e cooperação internacional
• “Graduação” e status de país em desenvolvimento
• Integração regional e ingresso em foros restritos
• Imagem internacional do Brasil
• Instrumento diplomático brasileiro (“mito do Barão”)
Conceitos da PEB
• Amado Cervo (viés nacional-desenvolvimentista)
• “Conceitos brasileiros”: não-confrontacionismo, universalismo, pacifismo, zelo pela
soberania, papel indutor do Estado, planejamento do desenvolvimento
• PEB se vincula aos 4 paradigmas do Estado no Brasil:
• Liberal-conservador (1810-1930)
• Desenvolvimentista (1930-1990)
• Normal ou neoliberal (1990-2002)
• Logístico (desde 2003)
Conceitos da PEB
• UNIVERSALISMO
• Não é inerente, mas resulta de projeto político e processo histórico (Alcides Costa Vaz)
• “Universalismo seletivo” (Antonio Carlos Lessa) – atua em múltiplas esferas mas define
prioridades
• Campanha permanente pela reforma da governança global; crítica da “ordem injusta”
(Alexandre Parola)
• Sexta maior rede diplomática do mundo (mais de 220 postos em 139 países)
Conceitos da PEB
• DESENVOLVIMENTISMO
• PEB é inspirada por um “nacionalismo de fins” (Helio Jaguaribe) e pelas identidades do Brasil
como país em desenvolvimento e sul-americano (Sergio Danese)
• Reconhecimento das assimetrias e desigualdades internas e externas, para superá-las
• Brasil se reconhece como país do Sul – não é terceiro-mundismo
Conceitos da PEB
• COOPERAÇÃO
• Pragmatismo e solidariedade são complementares
• “Não-indiferença” (Celso Amorim)
• “Eixos combinados” (Cristina Pecequilo) sul-sul e norte-sul
• Busca de novas arquiteturas diplomáticas sul-sul (BRICS, IBAS, ASA, ASPA)
Conceitos da PEB
• PACIFISMO
• Defesa da solução pacífica de controvérsias (Capítulo VI da Carta da ONU; tribunais
internacionais e mecanismos judiciais)
• Crítica às ferramentas coercitivas (uso da força, sanções unilaterais) sem autorização do CSNU
• Participação em operações de manutenção da paz
• Responsabilidade ao proteger (Patriota)
Conceitos da PEB
• AUTONOMIA
• Evitar alinhamentos automáticos e alianças militares
• Três etapas da autonomia (Gelson Fonseca; depois Tullo Vigevani e Gabriel Cepaluni)
• Autonomia pela distância (até 1989)
• Autonomia pela participação (1990-2002)
• Autonomia pela diversificação (desde 2003)
• Como “Estado periférico”, Brasil não deve se subordinar às “estruturas hegemônicas” (Samuel
Pinheiro Guimarães)
Trajetória da PEB desde 1945
Governo Dutra (1946-1951)
• Alinhamento com EUA no início da Guerra Fria
• Decepção com não-inclusão no Plano Marshall
• Rompimento com a URSS 1946
• TIAR 1947 e OEA 1948; 1a visita presidencial aos EUA 1949
• Engajamento com ONU desde o início (fundador):
• Membro do CSNU 1946-47, busca de vaga permanente
• Oswaldo Aranha preside AGNU em 1947 (criação de Israel)
• Primeiro Estado a falar na AGNU 1947
• Apoio ao envio de tropas da ONU para a Coreia, 1950-1953, mas sem participação
• Ministros João Neves da Fontoura (1946), Samuel de Sousa Leão Gracie (1946) e Raul Fernandes (1946-51)
Governo Vargas II (1951-1954)
• Retomada do nacionalismo
• Ponto de referência quase exclusivo: EUA (disputas políticas na América do Sul [peronismo], Europa em
reconstrução, África colonizada, socialistas distantes)
• Tensões internas entre “soberanistas” e “entreguistas”; desenvolvimentismo: Petrobras, Eletrobras, Plano
de Valorização da Amazônia, limite à remessa de lucros
• Acordo militar com EUA 1952
• Tentativa frustrada de retomar equilíbrio dos anos 1930 – “pragmatismo impossível” (Monica Hirst)
• Ministros João Neves da Fontoura (1951-53) e Vicente Rao (1953-54); seguido pelo hiato de
1954-1956
Governo Kubitschek (1956-1960)
• Ensaios de autonomia
• Cooperação regional para prevenir comunismo (Operação Panamericana 1958 e ALALC 1960)
• Endividamento e rompimento com FMI (1959)
• Tropas na missão de paz da ONU em Suez (UNEF I)
• Distância do “Terceiro Mundo” (não-participação do MNA após Bandung) e da descolonização
• Ministros Macedo Soares (1956-58), Negrão de Lima (1958-59) e Horácio Lafer (1959-61)
Governos Jânio e Jango (1961-1964)
• Novo paradigma: Política Externa Independente
• Universalismo e autonomia da PEB
• Expansão do leque de parcerias do Brasil (COLESTE e relações diplomáticas com URSS, Bulgária,
Romênia...)
• Não-alinhamento (embora sem pertencer ao MNA)
• Defesa dos interesses econômicos do Sul (UNCTAD)
• Influência de teses isebinas e cepalinas na PEB
• Discurso dos 3Ds (Araújo Castro) – desarmamento, desenvolvimento e descolonização
• Ministros Santiago Dantas (1961-62), Afonso Arinos de Melo Franco (1962), Hermes Lima
(1962-63), Evandro Lins e Silva (1963) e Araújo Castro (1963-64)
Governo Castello Branco (1964-1967)
• “Correção de rumos” (ou “passo fora da cadência” - Amado Cervo)
• Círculos concêntricos (Brasil, América do Sul, Ocidente) – aceitação da ordem bipolar
• Envio de tropas para intervenção da OEA na República Dominicana (Força Interamericana de
Paz, 1965)
• Abertura ao capital estrangeiro
• Anticomunismo e rompimento com Cuba (1964), mas não com URSS
• Ministros Vasco Leitão da Cunha (1964-66) e Juracy Magalhães (1966-67)
Governo Costa e Silva (1967-1969)
• “Diplomacia da prosperidade”
• Retomada parcial da lógica da PEI
• Rejeição ao TNP em 1968 - “congelamento do poder mundial” (Araújo Castro)
• Maior autonomia decisória do MRE (continuaria até fim do regime militar)
• Postura defensiva em DH (Teerã 1968)
• Ministro Magalhães Pinto (1967-69)
Governo Médici (1969-1974)
• “Diplomacia do interesse nacional”
• “Milagre econômico” e endividamento externo (8 empréstimos do FMI de 1965 a 1972)
• Aproximação com África: missões de Gibson, fim do apoio ao colonialismo português
• Expansão do comércio com bloco socialista
• Início de hiato do Brasil no CSNU (1969-1988)
• Soberanismo em temas ambientais (Estocolmo 1972)
• Crises com Argentina desde Tratado de Itaipu 1973
• Ministro Mário Gibson Barboza (1969-74)
Governo Geisel (1974-1979)
• “Pragmatismo responsável e ecumênico”
• Estabelecimento de relações com China comunista 1974
• Fim do pacto militar com EUA 1977
• Críticas externas (Jimmy Carter) aos DH no Brasil
• Reações aos choques do petróleo: Acordo Nuclear Brasil-Alemanha (Angra), Proalcool, Itaipu
• Mais africanismo pragmático: reconhecimento de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, distanciamento
da África do Sul do apartheid
• Ministro Antonio Azeredo da Silveira (1974-79)
Governo Figueiredo (1979-1984)
• “Diplomacia do universalismo”
• Manutenção da estratégia autonomista da PEB militar, mas sob dificuldades econômicas internas
• Crise da dívida na América Latina (Consenso de Cartagena 1984)
• ALADI 1980 – marco jurídico do futuro Mercosul
• Início da reconciliação com Argentina (Acordo Itaipu-Corpus 1979, Guerra das Malvinas 1982)
• Ministro Ramiro Saraiva Guerreiro (1979-84)
Governo Sarney (1985-1989)
• Adaptação a transições internas (redemocratização) e externas (perestroika)
• Reaproximação definitiva com Argentina
• Iniciativas regionais: Grupo de Apoio à Contadora 1985 e Grupo do Rio 1986; ZOPACAS 1986
• I Cúpula Lusófona 1989
• Retorno ao CSNU 1988 e retomada da campanha por assento permanente (Paulo Nogueira Batista)
• Criação da ABC 1987
• Ministros Olavo Setúbal (1985-86) e Abreu Sodré (1986-90)
Governo Collor (1990-1992)
• Abertura (“dança dos paradigmas” – Cervo)
• Criação formal de Mercosul e ABACC em 1991
• Resgate das “hipotecas” (Gelson Fonseca Jr) dos DH (Pactos de DH e Convenção de São José ratificadas
em 1993) e do meio ambiente (Rio-92)
• Privatização, desregulamentação, liberalização, Consenso de Washington
• Endosso à Guerra do Golfo e à maior atuação da ONU
• Ministros Francisco Rezek (1990-92) e Celso Lafer (1992)
Governo Itamar (1992-1994)
• Integração regional e inserção global
• Resgate da “hipoteca” do desarmamento: promulgação do Tratado de Tlatelolco e assinatura da
Convenção para a Proibição de Armas Químicas
• Conclusão da Rodada Montevidéu do GATT e criação da OMC
• Consolidação do Mercosul (Protocolo de Ouro Preto), proposta da ALCSA, lançamento da ALCA
• Ministros Fernando Henrique Cardoso (1992-93) e Celso Amorim (1993-94)
Governo FHC (1995-2002)
• Auge da “autonomia pela participação”
• Aperfeiçoamento do Mercosul (Protocolos de Ushuaia e Olivos)
• Regimes de não-proliferação (adesão ao TNP em 1998, Direção da OPAQ com Bustani em 1997-2002 –
retirado por EUA pré-invasão do Iraque)
• Diplomacia da lusofonia (criação da CPLP em 1996)
• Comércio: regionalismo (ALCA) e multilateralismo (OMC e Doha)
• Gradual aproximação com Rússia, China e Índia
• Após 11/9, endosso à guerra do Afeganistão (porém, oposição à invasão do Iraque em 2003)
• Crises de liquidez e empréstimos do FMI entre 1998 e 2002
• Ministros Luiz Felipe Lampreia (1995-2001) e Celso Lafer (2001-02)
Governo Lula (2003-2010)
• Brasil como ator global (“diplomacia altiva e ativa”)
• Integração regional: expansão do Mercosul, FOCEM, UNASUL, CALC/CELAC; superação da ALCA
• “Autonomia pela diversificação”: parcerias estratégicas com emergentes – IBAS e BRICS; China se torna
maior parceiro comercial; Cúpulas ASPA e ASA
• Cooperação Sul-Sul (Brasil se torna doador líquido)
• Maior protagonismo na ONU: MINUSTAH, G4 pela reforma do CSNU, envolvimento na criação de CDH e CCP
• Diversificação e expansão do comércio exterior; ênfase no multilateralismo comercial (G-20 da OMC)
• Engajamento no Oriente Médio: Conferência de Annapolis, reconhecimento do Estado da Palestina,
Declaração de Teerã
• G-20 em nível presidencial (crise de 2008) e Brasil credor do FMI
• Expansão do MRE e da rede diplomática do Brasil no mundo
• Ministro Celso Amorim (2003-10)
Governo Dilma (2011-2016)
• Continuidade da atuação global, apesar de dificuldades domésticas
• Protagonismo em negociações ambientais e de desenvolvimento sustentável (Rio+20, Agenda 2030, SDGs)
• Liderança em órgãos multilaterais (Graziano na FAO, Azevêdo na OMC, Patriota na CCP e CSW)
• Maior foco em CTI (Ciência sem Fronteiras, governança da internet e privacidade na era digital)
• Comando de missões de paz: MINUSTAH, UNIFIL e MONUSCO
• Divergências com EUA sobre espionagem e reconciliação
• Preparação de megaeventos esportivos (Copa e Olimpíadas)
• Novos acordos bilaterais sobre facilitação de investimentos
• Acolhimento em massa de refugiados sírios e migrantes haitianos
• Ministros Antonio Patriota (2011-13), Luiz Alberto Figueiredo (2013-15) e Mauro Vieira (2015-
16)
Governo Temer (2016-2018)
• Ajustes diplomáticos em contexto de crise
• Plano regional: revalorização econômica do Mercosul (PCFI, aproximação com Aliança do Pacífico);
distanciamento dos membros da ALBA e defesa da democracia na Venezuela (Carta Democrática da OEA,
suspensão do Mercosul, Grupo de Lima) e na Nicarágua
• Revalorização da diplomacia econômica: busca de alternativas ao multilateralismo comercial da OMC
(negociação Mercosul-UE); transferência da APEX ao MRE; busca de ingresso na OCDE; adesão ao Clube de
Paris como credor
• Ênfase no controle das fronteiras e no combate ao narcotráfico e ao crime organizado transnacional
• Multilateral: negociação do Tratado sobre a Proibição das Armas Nucleares; presidência da CPLP (2016-18),
retorno ao CDH (2017-19), reeleição de Azevêdo (OMC) e apoio ao novo SGNU Guterres; nova Lei da Migração
• Manutenção do eixo sul-sul (BRICS, relações com África e Ásia)
• Tentativa de superar escassez orçamentária do MRE e dívida do Brasil na ONU
• Ministros José Serra (2016-17) e Aloysio Nunes Ferreira (2017-18)
Governo Temer (2016-2018)
• “A política externa foi estruturada em torno de quatro eixos principais: modernização de
nossa inserção econômica internacional com objetivo de abrir mercados, atrair
investimentos e melhorar o ambiente de negócios e a competitividade; atenção não apenas
aos parceiros tradicionais, mas também às oportunidades derivadas na nova configuração
de poder mundial; construção de uma região integrada, próspera, segura e democrática;
busca de uma governança global baseada no direito, com instituições eficazes para
enfrentar os desafios globais”
(Aloysio Nunes Ferreira, “O Brasil retorna à cena internacional”, O Estado de S. Paulo, 23/08/2018)
Perguntas e respostas

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