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Quais as condições "jurídicas" requeridas aos fiéis para a comunhão com a hierarquia da
Igreja?
O cânon 204 que abre o Livro II -Povo de Deus- encontramos duas condições jurídicas
fundamentais: a noção de fiéis (§ 1) e a noção de Igreja como sociedade (§ 2).
Noção de fiéis
O cân. 204§1: "Fiéis são os que, incorporados a Cristo pelo batismo, foram constituídos como
povo de Deus e assim, feitos participantes, a seu modo, do múnus sacerdotal, profético e régio
de Cristo, são chamados a exercer, segundo a condição própria de cada um, a missão que Deus
confiou para a Igreja cumprir no mundo"
Segundo Juan Fornés, o cân. 204§1 recolhe a noção de fiel que no contexto da regulação
codicial, coincide com a noção de pessoa na Igreja embasada no cân. 96. Os dois termos (fiel e
pessoa) têm o mesmo sentido. Não se opunha ambos termos nem há distinção entre o ser
persona in Ecclesia e o ser fiél (cf. Fornés, EUNSA, 3ed., 2002, vol. II/1, p.24).
Todas as pessoas que pertencem à Igreja têm um sentido jurídico fundamental, uma categoria
comum primária, a condição de fiel, enquanto fiel, é a mesma em todos os batizados, desde o
Papa ao último batizado, participam da mesma vocação, da mesma fé, do mesmo espírito e da
mesma graça.
Então, a noção de fiél é a seguinte: membro do Povo de Deus, a pessoa incorporada a Cristo pelo
batismo. É o batismo que habilita o fiel a participar do múnus sacerdotal, profético e régio de
Cristo. É pelo batismo que o fiel é Igreja de Cristo. Por isso, todo batizado deve sentir-se sempre
Igreja, em comunhão com a Igreja e como Igreja, enviado sob a ação do Espírito para cumprir
esta determinada missão no mundo (cf. CIgC. 871-873, 1213).
Enfim, o §1 do cânon comentado, ao colher a noção de fiel na clara sintonia com o Vaticano II,
tem acentuado vigorosamente a igualdade radical, o básico de todos os membros da Igreja (cf.
LG, 32), mesmo que existe uma diferença no plano funcional que, em alguns casos (cf. LG, 10),
tem uma raiz ontológica. Por exemplo, a diferenciação funcional radica no princípio hierárquico
ou institucional (LG, 18 e 32) e no próprio batismo, sendo que, todos os fieis são chamados à
plenitude da vida cristã, isto é, a santidade (LG, 39-40).
Noção de sociedade
O cân. 204§2: "Essa Igreja, constituída e organizada neste mundo como sociedade, subsiste na
Igreja católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele".
Em virtude do princípio institucional existe na Igreja umas funções que não se origina nem está
no povo cristão, mas que são designados e outorgados diretamente por Cristo à hierarquia, como
por exemplo: Romano Pontífice e Bispos em comunhão com ele (cf. CIgC. 816 e 874); isto,
monstra que existe no Povo de Deus uma diversidade funcional, também de Direito divino,
porque Cristo quis assim e fundou sua Igreja como comunidade hirarquicamente estruturada.
Depois desses comentários introdutórios do cânon 204 §§ 1 e 2 sobre noção descrita, do fiel
cristão, do batizado e da noção de sociedade em geral, eu quero adentrar mais ainda para
desenvolver sobre as condições "jurídicas" requeridas aos fiéis para a COMUNHÃO.
Porque no cânon 205, o Legislador vai acentuar sobre o fiel católico, o batizado na Igreja
católica, os três vínculos fundamentais para a comunhão dos fiéis.
O cân. 205: "Neste mundo, estão plenamente na comunhão da Igreja católica os batizados que
se unem a Cristo na estrutura visível, ou seja, pelos vínculos da profissão da fé, dos
sacramentos e do regime eclesiástico".
O cânon fala da comunhão eclesial que se realiza nesta terra dentro da estrutura visível da Igreja
católica, isto é, através dos três vínculos:
1). A profissão de fé, isto é, a adessão a um único depositum fidei, revelado na Sagrada
Escritura, transmitida pela Tradição, e ela como a propõe e interpreta o Magistério da Igreja.
2). A unidade nos sacramentos, o primeiro dos quais, o batismo, que outorga a condição de fiel
(cf. cân. 204).
Assim também, conforme o Código, o Legislador apresenta no cân. 751 de três modos que um
fiel cristão pode se afastar da plena comunhão com a Igreja católica:
"É vontade expressa do próprio fundador da Igreja, Cristo Nosso Senhor, que a comunhão plena
com seu Corpo Místico, o povo de Deus, seja mantida através da fé, dos Sacramentos e do regime
eclesiástico. Não havendo essa plenitude de vínculos, não há plenitude de comunhao" (Neves,
LOYOLA, 1987, p. 69).
E continua: "Pode haver comunhão parcial, por exemplo, através do batismo em Cristo, mas não
a comunhão plena e total. Essa exige: profissão de fé, prática dos sacramentos e governo
eclesiástico da Igreja católica" (Neves, LOYOLA, 1987, p. 69).
Assim também, o cânon 205 fala claramente da comunhão dos fieis batizados na Igreja Católica;
e o Legislador coloca no cânon 209§1 sobre o dever da comunhão eclesial de todos os fiéis. "Os
fiéis são obrigados a conservar sempre, também no seu modo próprio de agir, a comunhão com
a Igreja ". É importante não perder de vista o enfoque sobre a comunhão eclesial referido no cân.
205.
O novo Código de Direito Canônico propõe explicitamente o direito de assiciação dos fiéis. Na
linha de renovação do Concílio Vaticano II (cf. GS, 25) estabelece no Ordenamento Jurídico o
direito de livre associação e de livre reunião; estabelece este princípio programático no conjunto
de deveres e direitos dos fiéis, ou seja, comum a todos os batizados (cf. cân. 204).
No cân. 215 proclama o direito de associação nos seguintes termos: "Os fiéis têm o direito de
fundar e dirigir livremente associações para fins de caridade e piedade, ou para favorecer a
vocação cristã no mundo, e de se reunir para a consecução comum dessas finalidades".
Segundo Sistach, "esta norma canônica não se encontrava no antigo Código de 1918. Porém,
sua formulação não é nova na Igreja" (Sistach, Fons Sapientiae, 2016, p.19), porque o Concílio
Vaticano II, no Decreto Apostolicam Actuositatem nº.19 já havia propugnado o direito de
associação dos batizados.
A Igreja incentiva a criação de associações de fiéis porque na história da Igreja primitiva aparece
os cristãos associando-se entre si desde o surguimento da pregação da mensagem evangélica.
Nesse sentido, as próprias comunidades cristãs primitivas são um exemplo deste espírito
comunitário e fraternal dos batizados (cf. At 4,32-36).
São João Paulo II afirma que especialmente em um mundo secularizado, as diversas formas
associadas podem representar para muitos uma ajuda preciosa para levar uma vida cristã
coerente com as exigências do Evangelho e para comprometer-se em uma ação missionária e
apostólica (cf. CfL, 29)
O Papa segui a linha do Concílio Vaticano II, e em nome da Igreja incentiva e expressa a estima
pelo fato de associativo da Igreja, o recomenda vivamente a todos (cân. 278§2 e 327) e exorta
aos pastores a reconhecerem e promoverem a função que corresponde aos leigos na missão da
Igreja "...incentivando suas associações que se propõem finalidades religiosas" (cân. 529§2)
O cânon 217 diz: "Os fiéis, já que são chamados pelo batismo a levar uma vida de acordo com a
doutrina evangélica, têm o direito à educação cristã, pela qual sejam devidamente instruídos
para a consecução da maturidade da pessoa humana e, ao mesmo tempo, para o conhecimento
e a vivência do mistério da salvação".
O teor deste cânon, cuja fonte principal (não exclusivamente) está inspirada na Declaração
Gravissimum Educationis , 2, nesse documento contempla o direito do fiel à educação cristã que
se fundamenta e se explica a partir do batismo.
Esse direito e dever sobre a educação dos filhos de parte dos pais também é afirmado no cân.
226§2, de maneira primária, embora não exclusiva, no sentido de que sempre a Igreja também
tem o dever, por sua própria missão, de educar os seus membros.
O Papa João Paulo II, na Exortação Apostólica Familiaris Consortio, seguindo o espírito do
Concílio (cf. GE, 3) insiste também sobre a educação cristã dizendo:
"O dever de educar mergulha as raízes na vocação primordial dos cônjuges à participação na obra
criadora de Deus: gerando no amor e por amor uma nova pessoa, que traz em si a vocação ao
crescimento e ao desenvolvimento, os pais assumem por isso mesmo o dever de a ajudar
eficazmente a viver uma vida plenamente humana. Como recordou o Concílio Vaticano II: Os
pais, que transmitiram a vida aos filhos, têm uma gravíssima obrigação de educar a prole e, por
isso, devem ser reconhecidos como seus primeiros e principais educadores. Esta função educativa
é de tanto peso que, onde não existir, dificilmente poderá ser suprida. Com efeito, é dever dos pais
criar um ambiente de tal modo animado pelo amor e pela piedade para com Deus e para com os
homens que favoreça a completa educação pessoal e social dos filhos. A família é, portanto, a
primeira escola das virtudes sociais de que as sociedades têm necessidade" (João Paulo II, Ex. Ap.
Familiaris Consortio, 22 nov. 1981, nº.36)
Enfim, a educação cristã dos filhos na Igreja são responsabilidade dos pais em primeiro lugar, e
assim também, a Igreja, representado pela autoridade competente, deve criar espaços e maneiras
de dar essa educação cristã aos seus filhos.
REFERÊNCIAS
-CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 3ª. ed. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Paulinas,
Loyola, Ave-Maria, 1993.
-Código de Direito Canônico, promulgado por João Paulo II, Papa. Tradução: Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil. São Paulo: Loyola, 2017.
-COMENTÁRIO EXEGÉTICO AL CÓDIGO DE DERECHO CANÔNICO, Pamplona.
EUNSA, 3ed., 2002, vol. II/1.
-Constituição Pastoral "Lumen Gentium" in Compêndio do Vaticano II. Petrópolis: Vozes,
1986.
-Constituição Pastoral "Gaudium et