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A TRIBUTAÇÃO SOBRE O SERVIÇO DE STREAMING NO BRASIL

Karen 1
Rui Machado Junior2

RESUMO

O presente trabalho trata sobre “A tributação sobre o serviço de streaming no Brasil”


onde inicia demonstrando sobre a evolução das tecnologias ao longo dos tempos e
como isso influenciou na forma de consumo da população, posteriormente é
possível ver que a oferta de serviços teve que ser reformulada e adequada a nova
realidade digital, foi então que surgiu o serviço streaming e este devido o seu auto
poder rentável abriu precedentes para a cobrança de tributação e a necessidade do
direito se adequar a essa realidade. Foi então que surgiu a LC nº 157/2016 que
buscou instituir a cobrança de impostos sobre essa modalidade de serviços. O
objetivo que norteou essa construção foi discorrer sobre a possibilidade de
tributação sobre os serviços streaming no Brasil. A metodologia que serviu de base
para a construção desse trabalho foi à bibliográfica. Ao término é possível verificar
que apesar da LC nº 157/2016 ainda existe divergências na doutrina quanto a
cobrança de imposto sobre os serviços streaming.

Palavras-chave: Tributos. Streaming. ISS. LC nº157/2016.

ABSTRACT

The present work is about "The taxation on the streaming service in Brazil" where it
begins demonstrating on the evolution of the technologies throughout the times and
how this influenced in the form of consumption of the population, later it is possible to
see that the service offer had to be reformulated and adapted to the new digital
reality, it was then that the streaming service emerged and this because of its
profitable self power opened up the tax collection and the need for the right to suit
that reality. It was then that LC No. 157/2016 appeared that sought to institute the
collection of taxes on this modality of services. The objective that guided this
construction was to discuss the possibility of taxation on streaming services in Brazil.
The methodology that served as the basis for the construction of this work was the
bibliographical one. At the end it is possible to verify that despite LC no. 157/2016
there are still differences in the doctrine regarding the collection of tax on streaming
services.

Keywords: Taxes. Streaming. ISS. LC nº 157/2016.


1
Acadêmica do curso de Direito da Faculdade Estácio. E-mail: karenkercia1234@gmail.com
2
Mestrando em Segurança Pública, Direitos Humanos e Cidadania (UERR), Especialista em Estudos
de Criminalidade e Segurança Pública (UFMG), Professor de Direito Penal e Direito Tributário do
Centro Universitário Estácio da Amazônia e Escrivão da Polícia Federal, e-mail:
ruimachadojr01@gmail.com.
2

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa discorrer sobre a possibilidade de tributação sobre


os serviços streaming no Brasil que tem apesar de ter sido incluído recentemente no
ordenamento jurídico por meio da LC nº 157/2016, o mesmo demanda grande
relevância o que justifica a construção deste trabalho.
Atualmente é possível verificar que as tecnologias têm avançado de forma
efetiva e rápida no mundo, todos os dias são possíveis ter acesso a novos
programas e outras mídias que se utilizam da tecnologia para se expandir. Discorrer
sobre o tema que envolve tributação e o meio digital é bem interessante, tendo em
vista ser atual e movimentar milhões no mundo todo, assim como no Brasil que este
mercado tem ganhado proporção significativa.
Esse ganho exorbitando que o streaming proporciona foi o que não passou
despercebido aos responsáveis pela tributação, tanto que se buscaram mecanismos
que pudessem dar retorno ao Estado quanto a essa questão, a partir de então
surgiram leis que embasaram essa demanda.
Foi diante desse contexto que este trabalho é construído, onde primeiramente
se trabalha o imposto sobre serviços de qualquer natureza que traz uma breve
contextualização de tributos e como se deu o surgimento do ISS no ordenamento
jurídico brasileiro, até o ISS sobre o streaming.
Posteriormente é trabalhado sobre o serviço streaming, contextualizando o
mesmo e apresentando conceitos de doutrinadores que discorrem sobre o mesmo.
Por fim, é demonstrada a tributação do streaming no Brasil e a lei complementar nº
157/2016, onde é possível ver como se deu o surgimento dessa lei complementar e
como a doutrina se comporta mediante ela, tendo em vista a discordância quanto à
incidência de imposto sobre o streaming.
Na conclusão é possível verificar os resultados deste trabalho que foi
desenvolvida por meio da pesquisa bibliográfica, onde se buscou alcançar o objetivo
proposto, embasado em estudos já realizado e na legislação vigente que traz um
aparato que pode possibilitar a discussão em tela.
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2 O IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA – ISSQN

Este capítulo trará uma explanação sobre os aspectos gerais e específicos do


imposto sobre serviços – ISS, discorrendo primeiramente sobre tributo para melhor
entendimento da discussão ora apresentada. Quanto ao tributo a sua definição se
encontra presente no artigo 3º do Código Tributário Nacional – CTN, onde aponta
que tributo “é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela
se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada
mediante atividade administrativa plenamente vinculada” (BRASIL, 1966).
Dentro dessa definição está presente os impostos, tendo em vista ser uma
espécie de tributo, conforme disposto no artigo 16 do CTN que discorre “Imposto é o
tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer
atividade estatal específica, relativa ao contribuinte” (BRASIL, 1966).
Outro conceito apresentado para tributo é feito por Carvalho (2010, p. 68) que
define o mesmo como sendo “o tributo que tem por hipótese de incidência
(confirmada pela base de cálculo) um fato alheio a qualquer atuação do Poder
Público”, este por sua vez possui regime jurídico específico.
Quanto ao conceito de imposto, Baleeiro (1999, p. 197) apresenta a seguinte
definição:

Imposto é a prestação de dinheiro que, para fins de interesse coletivo, uma


pessoa jurídica de Direito Público, por lei, exige coativamente de quantos
lhe estão sujeitos e têm capacidade contributiva, sem que lhes assegure
qualquer vantagem ou serviço específico em retribuição desse pagamento.

O que se observa é que o imposto é uma forma de tributo que ocorre de


maneira unilateral, que não necessita de contrapartida do Poder Público e que para
o mesmo ocorrer é preciso somente que exista uma hipótese de incidência, onde
tenha u fato gerador, que pode ser alheia a atuação do Estado e, seja realizado pelo
contribuinte. Inserido nesse contexto, existe o Imposto Sobre Serviço que é uma
espécie tributária, com previsão da Constituição de 1988 em seu artigo 156, inciso
III, na parte que trata sobre os “Impostos do Município” (BRASIL, 1988).
Quanto ao surgimento do atual modelo de Imposto Sobre Serviços, verifica-se
que mesmo teve origem na França, no ano de 1954, quando aquele país instituiu a
taxa sobre valor agregado que funcionava como uma forma de tributação que
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ocorria em cima das operações de venda e de serviços realizados. No mesmo de


sua criação essa taxa foi dividida em duas formas de impostos, sendo que a primeira
denominada de taxe sur la valeur ajouteé, que incidia sobre as vendas de produtos e
mercadorias e a outra denominou-se taxe sur les prestations de services, que recaia
nas operações que envolviam as operações do comércio varejista e as demais
forma de prestação de serviços (MARTINS, 2013).
O surgimento da cobrança desse tipo de imposto no Brasil ocorreu por meio
da promulgação da Constituição Federal de 1934, tendo em vista a mesma
estabelecer a competência de tributação dos municípios, conforme artigo 13,
parágrafo 2º, in verbis:

Art. 13. [...] § 2º - Além daqueles de que participam, ex vi dos arts. 8º, § 2º, e
10, parágrafo único, e dos que lhes forem transferidos pelo Estado,
pertencem aos Municípios:
I - o imposto de licenças;
II - os impostos predial e territorial urbanos, cobrado o primeiro sob a forma
de décima ou de cédula de renda;
III - o imposto sobre diversões públicas;
IV - o imposto cedular sobre a renda de imóveis rurais;
V - as taxas sobre serviços municipais.

A partir de então os municípios passaram a instituir e a cobrar inúmeras taxas


relacionadas aos serviços municipais, dentre eles: os impostos cobrados sobre as
licenças, os impostos prediais, sobre os imóveis rurais e sobre as diversões
públicas, sendo este último considerado o primeiro a ter incidência sobre as
atividades consideradas como serviços. Já com a Constituição de 1946 ocorreu o
surgimento de mais um imposto parecido com o temos de ISS hoje, neste caso,
passou a ser cobrado o imposto de indústria e profissões.
Mas foi com o Código Tributário Nacional no ano de 1966 que o imposto de
tornou uma obrigatoriedade a ser cumprida, onde se estabeleceu a hipótese de
incidência e a base de cálculo e o contribuinte do ISS (BAPTISTA, 2005). Na
Constituição de 1967 ocorreu a ratificação quanto a competência municipal na
tributação do ISS.
No ano de 1968 foi editada o Decreto-Lei nº406/1968 que revogou os
dispositivos previstos no CTN em relação ao ISS, onde institui como serviços para
efeito de tributação todos os impostos constantes na lista em anexo do referido
decreto-lei, que era taxativo e devido a isso sofreu várias alterações ao longo dos
anos.
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Por meio da Constituição de 1988 foi possível verificar que o então decreto-lei
foi recepcionado com status de lei complementar, assim como ocorreu com o CTN,
tendo em vista não terem sido apresentadas alterações quanto ao ISS, o que
ocorreu ainda foi à atualização da lista em anexo do decreto-lei por meio das leis
complementares nº56/1987 e nº100/1999.
Diante de todo esse processo de evolução legal em relação ao ISS a última
mudança significativa ocorreu no ano de 2016, por meio da Lei complementar
nº157/2016 que alterou significativamente a lista em anexo da lei anterior, Lc nº
116/2003, onde incluiu outros serviços, dentre eles os conteúdos de áudio, vídeo,
imagens e textos por meio da internet (CÔELHO, 2016). Estes por sua vez são
objetos de estudo centrais deste trabalho, os denim.

2.1 O SERVIÇO STREAMING: CONTEXTUALIZAÇÃO GERAL

No que se refere ao serviço streaming é possível observar na doutrina que


existem duas correntes que as define, uma delas é a corrente econômica, tendo em
vista o seu conceito partir da Economia e esta por sua vez não será objeto de
discussão desse trabalho. A segunda corrente é a jurídica ou civil que entende e
defende que o termo surge do Direito Civil, mas precisamente do que trata sobre a
prestação de serviços (MARTINS, 2013)
De acordo com Brasil (1990) existem alguns conceitos que são jurídicos e
criados com fins determinados, e este é um deles, tendo em vista se tratar de
“qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração,
inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter trabalhista”. Essa definição está inclusive
exposta no Código de Defesa do Consumidor.
Ainda no que se refere ao serviço Meirelles (2013) leciona que:

Serviço é fundamentalmente diferente de um bem ou de um produto.


Serviço é trabalho em processo, e não o resultado da ação do trabalho; por
esta razão elementar, não se produz um serviço, e sim se presta um
serviço. Esta perspectiva de abordagem conceitual incita mudanças
significativas no tratamento até agora dado a estas atividades, tanto em
termos de classificação e quantificação nas contas nacionais, quanto do
ponto de vista do seu papel na dinâmica econômica.
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Com o passar dos anos o mundo tornou-se globalizando e as tecnologias de


informação têm crescido significativamente e juntamente com esse crescimento é
possível verificar grandes mudanças na sociedade. A internet é um exemplo dessas
mudanças, tendo em vista que a mesma se popularizou e com isto suas conexões
estão sendo adaptadas de modo a atender de forma satisfatória a população.
Diante de todas essas mudanças digitais surgem tecnologias que permitem o
compartilhamento cada vez mais rápido de informações e conteúdos por meio da
rede de computadores. E com isto surgem também novos modelos de distribuição
de conteúdos audiovisuais, possibilitando rapidez e autonomia ao usuário. O
streaming é uma dessas modalidades que surge com o avanço das tecnologias,
para distribuição de conteúdos, áudios e vídeos por meio da internet (BENTO NETO,
2016).
O streaming é uma tecnologia nova, tendo em vista os moldes ao qual a
mesma se encontra inserida, permitindo a transmissão de inúmeras informações ao
mesmo tempo pela rede de computadores, e o melhor, sem que necessariamente
seja feito o download.
Quanto ao de streaming veremos o que demonstra o site americano que se
destina a conceituar termos técnicos voltados à tecnologia e comunicação, portanto,
a Webopedia3 define como sendo:

O streaming ou streaming mídia é uma técnica para transferir dados que


permite o seu processamento como um único e contínuo pacote.
Tecnologias de streaming estão ficando cada vez mais importantes com o
crescimento da Internet pois a maioria dos usuários não possui acesso
rápido o suficiente para fazer download de arquivos grandes em multimídia.
Com o streaming, o navegador do usuário ou programa de leitura pode
começar a exibição dos dados antes que o arquivo inteiro seja transmitido.
Para o streaming funcionar, o cliente que está recebendo os dados deve ser
hábil a coletar e enviá-los como um único pacote ao aplicativo que está
processando e convertendo os dados em som ou imagens. Isso significa
que se o cliente do streaming recebe os dados mais rápido do que são
requeridos, ele precisa salvar o excedente em um buffer. Se os dados não
chegam rápido o suficiente, entretanto, a apresentação dos dados não
ocorre de forma contínua.

Ainda se tratando da definição de streaming Clemente (2006, p. 1) delineia


como sendo:

3
Webopedia. Disponível em: http://www.webopedia.com/TERM/S/streaming.html Acesso em 03 de
abr de 2019.
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Streaming é uma técnica que permite a transmissão de informação


multimídia através de uma rede de computadores concomitantemente com o
consumo desta informação multimídia por parte do usuário. Em outras
palavras, enquanto o usuário assiste a um vídeo, as próximas cenas estão
sendo transmitidas. Deste modo, o usuário começa a assistir a um vídeo
sem antes ter que baixá-lo integralmente.

Dentro da mesma linha de Clemente, Bento Neto (2016, p. 30) discorre sobre
o streaming como:

[...] um fluxo contínuo de transmissão de informações que não permanece


na posse do receptador do sinal e pode ser consumida no mesmo momento
da solicitação de transferência. Ou seja: primeiramente, embora no
streaming também haja uma parcela de download, o conteúdo transferido
serve apenas para ser remontado, convertido em som ou imagem e
consumido no mesmo instante. Depois, nenhum dado receptado no
aparelho ali permanece, uma vez que, tais quais os sinais recebidos por um
aparelho televisor ou de rádio, não há armazenamento de mídia na unidade
física.

Então, pode-se dizer que o streaming é uma alternativa ao uso do download,


apesar de que também possa ser utilizado para a transmissão de dados virtuais,
mas desde que se faça a completa transferência desses, além do mais o streaming
possibilita somente a visualização desses dados. É uma boa alternativa, tendo em
vista que a transferência de dados ocupa muitos espaços, além de demandar outras
questões como a reprodução sem autorização, a chamada pirataria (CARDOSO,
2016).
De acordo com Neto (2016) o streaming pode ser dividido em duas
modalidades, sendo a primeira conhecida como “live streaming”, que traduzido
significa ao vivo e a segunda modalidade de “streaming on demand” que quer dizer
por demanda.
Na modalidade ao vivo ocorre que:

[...] a transmissão vem diretamente de uma câmera ou microfone, e ocorre


tão somente naquele momento, uma vez que o conteúdo que está sendo
consumido pelo usuário não provém de dados em arquivos, mas em uma
transmissão que ocorre em tempo real, só sendo disponível no momento em
que ocorre a filmagem do evento que está sendo transmitido [...] (NETO,
2016, p. 33-34).

Ou seja, as informações são transmitidas de maneira imediata, real, o que


permitir aos usuários terem acesso a eventos que estão ocorrendo em tempo real,
neste caso é necessário que haja disponibilidade do usuário para acompanhar o
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evento. Em algumas situações é possível ter acesso ao conteúdo de este for


disponibilizado posteriormente no servidor.
De acordo com Neto (2016) no caso do streaming por livre demanda o
conteúdo é disponibilizado por um servidor de mídia streaming, onde o usuário
poderá ter acesso se porventura requerer, o que permite que seja definido o melhor
horário para ter acesso ao mesmo, isto é visto como algo positivo, pois o usuário
não precisa ficar condicionado à programação de nenhuma emissora. Um dos
exemplos bastante conhecidos de streaming é a Netflix e o Youtube, tendo em foco
do trabalho ser voltado a tributação do streaming no Brasil, não ocorrer o
aprofundamento quanto as duas plataformas citadas.

2.2 A TRIBUTAÇÃO DO STREAMING NO BRASIL E A LEI COMPLEMEMTAR Nº


157/2016

Verificou-se as inúmeras transformações na área da tecnologia e o direito não


pode ser inerte diante das transformações no mundo. A economia digital tem
lançado uma forma diferente de movimentações financeiras que inclusive alcançam
cifras altíssimas ao redor de todo mundo, neste caso é necessário que o direito
tributário tenha nessa transformação novas fontes de arrecadação que podem
ajudar na manutenção do Estado.
Com o advento das plataformas em streaming e a grande demanda de
usuários dessa modalidade que adentrou o país, o legislador brasileiro teve a
preocupação em se buscar tributar esses serviços de modo a dar retorno ao país
que tem investido em tecnologia.
Foi então que no ano de 2013 foi apresentada a Câmara de Deputados o
Projeto de Lei Complementar nº 266, que teve como autor o Senador Romero Jucá,
que buscava por meio desta a inclusão de novos serviços à lista já existente na Lei
complementar nº116/2003. Este projeto de lei complementar foi aprovada pelo
Congresso Nacional e foi sancionada pelo presidente em 20 de dezembro de 2016,
onde ficou instituída como Lei Complementar nº 157/2016.
De acordo com Dias (2018, p. 38):
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A Lei Complementar nº 157/2016 foi responsável por uma reforma no


regramento do ISS, trazendo atualizações à Lei Complementar nº 116/03.
Por meio da nova lei, reiterou-se a alíquota mínima do ISS em 2%, mesmo
percentual previsto pelo art. 88 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias e que já vinha sendo aplicado ao imposto sobre serviços, sendo
vedada qualquer isenção, benefício ou incentivo fiscal que reduza a alíquota
a valor inferior, de modo a evitar guerras fiscais entre municípios. Foi
concedido prazo para que estes entes federativos adequassem a legislação
local às alterações da lei do ISS, tendo até 30 de dezembro de 2016 para
promover tais mudanças legislativas.

Um dado a ser observado é que a Lei complementar nº 157/2016 alterou a LC


nº 116/2003 – Lei sobre o Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza, alterou
também a Lei nº 8.429/1992 – Lei de Improbidade Administrativa e a LC nº 63/1990
que trata sobre critérios e prazos de crédito das parcelas do produto da arrecadação
de impostos de competência dos Estados e de transferências por estes recebidos,
pertencentes aos Municípios.
A LC nº 157/2016 acrescenta o item 1.09 a Lista de Serviços tributáveis pelo
ISSQN que é gerido pelos municípios e pelo Distrito Federal. Esse item inclui no rol
de incidência serviços que sejam sem cessão definitiva, conteúdos de áudio e vídeo,
imagem, texto que sejam veiculados por meio da internet, com exceção para os
livros que possuem imunidade, assim como os jornais e periódicos. Desta forma é
possível afirmar que os serviços de streaming foram incluídos para tributação por
esta lei.

1.09 - Disponibilização, sem cessão definitiva, de conteúdos de áudio,


vídeo, imagem e texto por meio da internet, respeitada a imunidade de
livros, jornais e periódicos (exceto a distribuição de conteúdos pelas
prestadoras de Serviço de Acesso Condicionado, de que trata a Lei no
12.485, de 12 de setembro de 2011, sujeita ao ICMS)(BRASIL, 2016).

Posteriormente a aprovação dessa LC nº 157/2016, no dia 05 de outubro de


2017 o Conselho Nacional de Política Fazendária – CONFAZ instituiu por meio do
convênio ICMS nº 106/2017, que trouxe disciplina aos procedimentos a serem
adotados com a cobrança de ICMS sobre os bens e as mercadorias digitais,
conforme demonstrado a seguir:

Cláusula primeira. As operações com bens e mercadorias digitais, tais como


softwares, programas, jogos eletrônicos, aplicativos, arquivos eletrônicos e
congêneres, que sejam padronizados, ainda que tenham sido ou possam
ser adaptados, comercializadas por meio de transferência eletrônica de
dados observarão as disposições contidas neste convênio.
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Observa-se que após a celebração desse convênio alguns estados buscaram


de forma quase imediata se adequar as legislações estaduais de modo a incluir a
tributação as plataformas de streaming. Observa-se que as atividades realizadas
pelas empresas que fazem transmissão de mídia on line por meio do uso de
tecnologia streaming, envolvem questões jurídicas, uma vez que existe um contrato
onde o serviço é disponibilizado tendo como contrapartida o pagamento de
mensalidades, pois através dela é possível ter acesso a uma chave que possibilita
ter controle aos conteúdos assistidos e compartilhados pela plataforma.
Um embate a ser observado no campo jurídico diz respeito justamente ao fato
de que apesar da previsão legal por meio da LC nº157/2017, que inclusive teve
adesão das leis municipais que reafirmaram a incorporação e a regularização da
cobrança desse tipo de atividade, acredita-se que essa cobrança é inconstitucional,
isso devido, ao fato das atividades ora expostas e delineadas ao serviço streaming
não obedecerem aos pressupostos constitucionais para a cobrança em tela. Uma
vez que o serviço de streaming é considerado locação de serviço e não pode ser
enquadrado dentro do previsto para locação de bens móveis, corroborando com
esse entendimento tem o Código Civil de 2002 que traz o seguinte:

Art. 565. Na locação de coisas, uma das partes se obriga a ceder à outra,
por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível,
mediante certa retribuição.

Art. 594. Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial,


pode ser contratada mediante retribuição.

Embates jurídicos envolvem essa questão que não se encerra na construção


deste trabalho, mas observa-se que o serviço streaming está em expansão no país e
necessita de uma regularização definitiva para que possa ser tributada de maneira
justa e correta dentro do ordenamento jurídico.

3 CONCLUSÃO

Ao término deste trabalho é possível verificar que diante de todas as


transformações existentes no mundo da tecnologia que tem adentrado todos os
lugares, inclusive o Brasil, foi necessária a criação de um mecanismo que viesse a
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tributar sobre os serviços ofertados por meio digital. Isso demonstra que a
informação da forma que está sendo ofertada trouxe certos desafios e tem desafiado
não só os envolvidos no processo de construção dessa área, mas também os
legisladores que buscam angariar recursos por meio de cobranças de impostos
sobre os serviços de streaming, como os serviços na internet são conhecidos.
Voltando a questão do direito, observa-se que essa realidade em que a
tecnologia está presente em tudo e deve-se chegar a um denominador comum que
possa balancear a questão do uso e em contraponto a cobrança por esse uso dos
serviços de streaming em detrimento da sociedade, tendo em vista os tributos
retornarem para a mesma em forma de benefícios. Mas de acordo com o que foi
apresentado no decorrer desse trabalho, o senador Romero Jucá apresentou um
projeto de Lei Complementar que foi aprovado e sancionado pelo presidente
entrando em vigor no ano de 2016, a denominada LC nº 157/2016 que versa sobre a
tributação dos serviços ofertados na internet.
Apesar de toda essa inclusão o ponto central é observar que existe
divergência quanto à aplicação dessa tributação no serviço de streaming, onde foi
possível verificar que em dados momentos o mesmo não é considerado como
locação de serviço e quanto a isto, não existe cobrança de imposto sobre essa
forma de serviço, somente em casos que envolvem locação de bens móveis que é o
que era realizado antes pelas empresas que locavam fitas de vídeos, isso
relacionando com o serviço ofertado pela Netflix.
Inclusive o Código Civil de 2002 prevê a não cobrança em caso de locação de
serviço. Enfim, este trabalho conseguiu alcançar o objetivo proposto, tendo em vista
que apresentou a forma como a tributação em serviços streaming é realizado no
Brasil.

REFERÊNCIAS

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BAPTISTA, Marcelo Caron. ISS: do texto à norma. São Paulo: Quartier Latin, 2005.

BRASIL. Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Disponível em:


http://www2.planalto.gov.br/. Acesso em 05 de abril de 2019.
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CARDOSO, Bárbara França. O Streaming como ferramenta de combate à pirataria


de músicas digitais. 2016. 54f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Direito) – Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2016. Disponível em:
http://repositorio.uniceub.br/handle/235/9222. Acesso em: 04 de maio de 2018.

CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 2010.

COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de direito tributário brasileiro. 15 ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2016.

DIAS, Gabriela Ferreira Sales. A incidência de ISS sobre as plataformas streaming:


uma análise dos desafios na tributação da tecnologia com o advento da Lei
complementar nº 157/2016. Trabalho de conclusão de curso. Universidade de
Ceará. Fortaleza, 2018.

MARTINS, Sérgio Pinto. Manual do imposto sobre serviços. 9 ed. São Paulo: Atlas,
2013.

MEIRELLES, Dimária Silva E. O conceito de serviço. Revista de Economia Política,


São Paulo, v. 26, n. 1. Disponível em: http://www.rep.org.br/PDF/101-7.PDF. Acesso
em: 04 abr. 2019.

NETO, Nazil Bento. A Incidência do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza


(ISS) Sobre o Streaming – (In)Constitucionalidade do Projeto de Lei Complementar
n. 366/2013. 2016. 77f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) –
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de 2019.

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