O sentido destes parágrafos, uma vez desenterrado do lixo verbal que lhe serve
de embalagem, é de uma nitidez contundente:
“Foi assim que nós pudemos atuar junto a outros países com os nossos
companheiros do movimento social, dos partidos daqueles países, do
movimento sindical, sempre utilizando a relação construída no Foro de São
Paulo para que pudéssemos conversar sem que parecesse e sem que as
pessoas entendessem qualquer interferência política.”
1º. O Foro de São Paulo é uma entidade secreta ou pelo menos camuflada
(“construída… para que pudéssemos conversar sem que parecesse e sem que
as pessoas entendessem qualquer interferência política“).
4º. Depois de eleito em 2002, ele, Luís Inácio Lula da Silva, ao mesmo tempo
que pro forma abandonava seu cargo de presidente do Foro de São Paulo,
dando a impressão de que estava livre para governar o Brasil sem compromissos
com alianças estrangeiras mal explicadas, continuou trabalhando
clandestinamente para o Foro, ajudando, por exemplo, a produzir os resultados
do plebiscito venezuelano de 15 de agosto de 2004 (” graças a essa relação foi
possível construirmos a consolidação do que aconteceu na Venezuela “), sem
dar a menor satisfação disso a seus eleitores.
5º. A orientação quanto a pontos vitais da política externa brasileira foi decidida
pelo sr. Lula não como presidente da República em reunião com seu ministério,
mas como participante e orientador de reuniões clandestinas com agentes
políticos estrangeiros (“foi uma ação política de companheiros, não uma ação
política de um Estado com outro Estado, ou de um presidente com outro
presidente“). Acima de seus deveres de presidente ele colocou sua lealdade aos
“companheiros”.
desses meios ilícitos em especial; (B) indivíduos e grupos alheios a uma coisa e
à outra.
Seria absurdo imputar tão somente a Lula e ao Foro de São Paulo a culpa do
apodrecimento moral brasileiro, esquecendo a contribuição que receberam
desses moralistas de ocasião, tão afoitos em denunciar as partes quanto solícitos
em ocultar o todo. Nada poderia ter fomentado mais o auto-engano nacional do
que essa prodigiosa rede de cumplicidades e omissões nascidas de motivos
diversos mas convergentes na direção do mesmo resultado: criar uma falsa
impressão de investigações transparentes, uma fachada de normalidade e
legalidade no instante mesmo em que, roída invisivelmente por dentro, a ordem
inteira se esboroa.
Talvez os feitos do sr. Lula e do seu maldito Foro não tenham trazido ao Brasil
um dano tão vasto quanto essa inversão total das proporções, essa destruição
completa do juízo moral, essa corrupção integral da consciência pública. Nunca
se viu um acordo tão profundo entre acusado e acusadores para permitir que o
crime, denunciado com tanto alarde nos detalhes, fosse tão bem sucedido nos
objetivos de conjunto ” sem que parecesse e sem que as pessoas
entendessem “.
Magalhães foi para o museu faz mais de um ano. Maluf está na cadeia.
Há mais de uma década, todas as previsões que fiz sobre os rumos da política
nacional se confirmaram, enquanto os mais badalados comentaristas e
politólogos, da mídia e das universidades, não acertavam uma, uma sequer
(breve mostruário em http://www.olavodecarvalho.org
/semana/050625globo.htm).
sai funcionando. É verdade que meus trabalhos teóricos, como “Ser e Poder” e
“O Método nas Ciências Humanas”, que circulam como apostilas de meus cursos
na PUC do Paraná, continuam inéditos em livro e não têm como ser resumidos
em artigos de jornal, onde as conclusões monstruosamente compactadas da sua
aplicação aos fatos do dia aparecem como se nascidas do nada. Mas já vão longe
os tempos em que o editor Schmidt, pela leitura de uns relatórios de prefeito do
interior de Alagoas, adivinhava um romancista oculto. Hoje a totalidade da classe
falante é incapaz de suspeitar que exista alguma investigação científica por trás
de uma sucessão ininterrupta de previsões certas que, de outra forma, só se
explicariam por dons sobrenaturais como a sabedoria infusa de São Lulinha.
— A senhora não tem raiva do presidente por causa da resposta federal tardia?
— Não, de maneira alguma. Os governos do Estado e do município é que tinham
de estar a postos primeiro.
— E não estavam?
— Não, não estavam. Meu Deus, não estavam!
disse que em tempos normais essa declaração seria manchete em todo mundo.
Agora, a grande mídia americana, mais interessada em ativismo ecológico global
do que em jornalismo, preferiu ignorá-la.
Entre esses fatos ocorreram outros inumeráveis cuja data não recordo
precisamente no momento, entre os quais o fornecimento maciço de armas às
Farc pelo governo Hugo Chávez, uma campanha nacional de mídia para
desmoralizar o analista estratégico americano Constantine Menges que
divulgava a existência de um eixo Lula-Castro-Chávez-Farc, os tiroteios entre
guerrilheiros das Farc e soldados do Exército brasileiro na Amazônia, as
denúncias de que as Farc davam treinamento em guerrilha urbana aos
militantes do MST e, é claro, várias assembléias gerais e reuniões de grupos de
trabalho do Foro de São Paulo.
Também não me parece possível ocultar a evidência de que essa ligação não é
só bilateral, mas envolve, em maior ou menor grau, todas as entidades
participantes do Foro de São Paulo, a maior organização política do continente,
da qual as Farc e movimentos similares constituem os diversos braços
armados, atuando em torno e dentro do território brasileiro sob a proteção do
nosso governo federal, chefiado, como se sabe, pelo próprio fundador do Foro
de São Paulo.
Não me perguntem como e por que fatos dessa magnitude nunca foram objeto
de uma CPI, nem sequer de um breve debate no Congresso, muito menos de
algum esforço de reportagem da parte de uma mídia que se gaba de ser tão
afeita a investigações perigosas.
Olavo de Carvalho - 11
O vício dos cursos de auto-ajuda, pagos a peso de ouro e valorizados mais por
isso do que por qualquer resultado comprovado, infundiu na classe dominante
brasileira uma fé sem limites no poder do pensamento positivo. Muita gente
nas altas rodas acredita piamente que, se você repetir com perseverança o
mantra “O comunismo acabou”, o movimento comunista terá cessado de
existir. Acredita até que, diante de sujeitos que se declaram abertamente
comunistas, como os srs. Aldo Rebelo ou Quartim de Moraes, a firme decisão
de pensar que eles são outra coisa há de transformá-los nessa outra coisa.
Após fazer o diabo para abafar a repercussão das denúncias quanto à sua
ligação com a narcoguerrilha colombiana, chegando ao supremo blefe de
atribuí-las a especulações bizarras de um solitário “picareta” de Miami, o PT
finalmente reconheceu que estava fingindo, que o caso realmente teve grande
Olavo de Carvalho - 12
Porca miséria, quem já viu um mero foro de debates emitir “resoluções” ao fim
das assembléias? Resolução é decisão, é diretriz prática, é norma de ação.
Uma assembléia que emite resoluções, subscritas unanimemente por
organizações de vários países, não pode estar fazendo outra coisa senão
coordená-las politicamente. É, aliás, o que afirma a resolução final do I Foro
(São Paulo, 4 de julho de 1990), ao expressar seu intuito de “avanzar
propuestas de unidad de acción consensuales”. O esforço comum para
formular uma “unidade de ação” não pode ser puro debate, sobretudo quando
se cristaliza em “resoluções”: ele é, no mais pleno sentido do termo,
coordenação política.
Até agora, o sr. Lula — apostando o peso da sua palavra contra o das provas
colhidas com Fernandinho Beira-Mar — assegurava que as Farc não faziam
comércio de drogas, portanto não podiam ter relação nenhuma com
narcotraficantes brasileiros. De repente, seu partido promete que ele vai
romper as ligações que proclamava inexistentes. Que zombaria é essa? Até
onde irá a confiança petista no poder hipnótico dos jogos de palavras?
Olavo de Carvalho - 14
Depois dessa sua estréia nas letras pátrias, o sr. Summa, que tem por
sobrenome um gênero literário medieval, deveria passar a assinar-se, para
maior esclarecimento dos leitores, Summa mendacitatis: “Suprema
mendacidade”.
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