A obra que escolhi foi “Bichos” de Miguel Torga. Este livro é
constituído por 14 contos, onde humanos e animais partilham características e também problemas da vida, colocando questões fundamentais sobre a sociedade e a própria existência. Cada um dos catorze contos tem uma personagem principal: um animal humanizado ou um humano que é quase um animal e todos vivem em luta com a natureza, Deus, ou consigo mesmos. Dos muitos contos desta obra “Os Bichos”, o meu bicho favorito foi o “Senhor Nicolau”. Este conto fala de um rapaz que vem de uma família de prestígio que queria ao máximo que ele prosperasse. Mas ao contrário do que esperavam dele, Nicolau não gostava da escola ou de estudar, a única coisa que lhe prendia a atenção era a natureza. Nicolau era fascinado pela terra, pelas arvores, pelos insetos…. Pelos bichos. Um poderia pensar que Nicolau seria ótimo nos estudos da biologia, mas para um pai que o colocou na universidade de medicina, o amor pelas ciências da terra não lhe serviu de muito. Desgostoso e doente… o seu pai morreu pouco depois, herdando ao filho toda a sua fortuna. Sem responsabilidades, Nicolau continuou a dedicar-se á sua coleção de insetos, comprando-os a todos os que aproveitassem a oportunidade para lhe roubar dinheiro em troca de joaninhas ou formigas. Na verdade, toda a cidade começou a desprezar mais e mais Nicolau. O que era antes uma boa família, um bom nome entre os seus, tornou-se agora um motivo de vergonha e chacota. Sozinho, Nicolau passava os seus dias a emoldurar insetos, espetando-lhes alfinetes nas costas e catalogando todo o tipo de bicho que lhe chegasse as mãos. Rodeado por um cemitério, Nicolau deixou-se consumir pela vida dos insetos, perdendo aos poucos a sua. Quando finalmente morreu, nos seus últimos pensamentos ele somente desejou que o colocassem numa caixa, devidamente rotulado em latim, como o bicho que era. Este conto fez-me pensar no valor da vida e no que realmente é a felicidade. Se Nicolau era feliz assim, porque é que era mal visto? Por outro lado, consegue alguém ser feliz quando dedica a vida a algo tão banal assim e se deixa consumir por coisas tão insignificantes como insetos? Gostei muito de ler esta obra e gostei particularmente deste conto por se tratar de um humano, que na verdade pensa como um animal. Tal como todos, á sua maneira especial, ele não passa de um bicho consciente.