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UMA PEQUENA INTRODUÇÃO

I. Considerações Iniciais

"Você deve saber que tipo de livro está lendo, e isto o mais depressa possível; preferivelmente,
antes mesmo de começar a lê-lo". Mortimer Adler.

O que é a Bíblia? Muitas respostas poderiam ser dadas a esta pergunta. Creio que, dentre todas, a
mais singela e apropriada seja esta: a Bíblia é a revelação escrita de Deus - do Deus que não quis ocultar-Se,
mas fazer-Se conhecido! O Criador de tudo o que há revela-Se a nós por intermédio da Sua Palavra! Pense no
privilégio que Ele lhe concede: cada vez que estuda a Bíblia, você tem a oportunidade de entrar na presença
do seu Autor!

O que significa o termo "Bíblia"? A palavra "Bíblia" vem de biblos, nome de uma planta existente
na Fenícia (à leste do Mar Mediterrâneo), de cujas folhas se fazia uma espécie de papel, na Antigüidade. No
Egito, essa mesma planta recebia o nome de papiro (de onde, aliás, originou-se a palavra "papel"). Portanto,
o termo significa papel, ou, mais exatamente, livro.

Como saber se a Bíblia é, de fato, a Palavra de Deus? A própria Bíblia nos dá resposta a essa
questão crucial: "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção,
para a educação na justiça... sabendo, primeiramente, isto, que nenhuma profecia da Escritura provém de
particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana, entretanto
homens santos falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo" (1 Tm 3.16; 2 Pe 1.20,21).

Mas, o que é "inspiração"? James C. Denison oferece-nos uma resposta sugestiva e clara a essa
pergunta quando diz que "inspiração significa mais do que a Bíblia ser 'inspiradora'. A maioria das pessoas
concorda que a Bíblia é de fato um livro inspirador, uma das maiores realizações literárias de todos os
tempos. Entretanto ela é muito mais: não é só inspiradora, mas também inspirada. A palavra 'inspirar'
significa 'soprar em'". Assim, quando usamos esse termo sobre a Bíblia, queremos dizer que Deus 'soprou'
Suas palavras no coração dos homens que Ele usou para escreverem a Bíblia.

Argumentos em favor da inspiração da Bíblia. Chamamos de argumento interno a citação de


textos como 1 Tm 3.16, ou 2 Pe 1.20,21 para provarmos a inspiração das Escrituras. Isso, porque estamos
usando a própria Bíblia para provar sua inspiração. Todavia, há, também, argumentos externos que
podemos usar com essa mesma finalidade. Vejamos alguns deles:

a. Argumento bibliográfico - os manuscritos que temos (cópias primitivas da Bíblia), embora


não sendo os documentos originais escritos pelos escritores bíblicos, foram escritos em época bem próxima à
deles, são numerosos e excelentes.

b. Argumento arqueológico - Arqueologia é a ciência que procura recuperar e interpretar tudo o


que restou das civilizações antigas. Esta ciência, vez após vez, tem comprovado a veracidade e autenticidade
do texto bíblico mediante as mais variadas descobertas arqueológicas.

c. Argumento profético - o cumprimento da profecia bíblica é outro argumento em favor da sua


inspiração. Tome como exemplo as dezenas de profecias referentes à pessoa do Senhor Jesus Cristo, que já se
cumpriram. Cito apenas estas: Mq 5.2 (Mt 2.1); Is 9.1,2 (Mt 4.12-16); Is 53 (Mt 27); Sl 16 (Mt 28.1-10).

d. Argumento pessoal - a simples leitura da Bíblia tem operado as mais lindas e poderosas
transformações em milhares de pessoas, que têm encontrado a Deus em suas páginas!
Como Deus Se revelou aos homens, para que a Bíblia pudesse ser escrita? Diz Hb 1.1,2 :
"Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos
dias nos falou pelo Filho". Ou seja, o Senhor falou de muitas maneiras aos Seus servos, inclusive por meio
do Seu Filho encarnado. Ele chegou, também, a escrever parte da Escritura com o Seu próprio dedo (Ex
31.18)! Todavia, em geral, usou a mente e a personalidade de homens escolhidos, para escrever Sua palavra.
Alguns desses homens, como é o caso de Lucas, foram pesquisadores minuciosos! Como bem disse James C.
Denison, "embora Deus tenha de fato 'soprado' Sua palavra para nós, Ele decidiu não obliterar, mas usar a
mente dos homens que escreveram essa palavra. Ao mesmo tempo, os homens que escreveram com base em
suas perspectivas individuais jamais distorceram a mensagem do Autor". O respeitado teólogo A. H. Strong,
falando sobre este assunto, afirmou o seguinte: "Os escritores bíblicos parecem ter sido tão influenciados
pelo Espírito Santo que perceberam e sentiram até as novas verdades que deviam publicar como sendo
descobertas de suas próprias mentes, e foram deixados sob a ação de suas próprias mentes na expressão
dessas verdades, com a única exceção de terem sido sobrenaturalmente impedidos de usar termos errados, e,
quando necessário, receberam os termos certos".

Como essa revelação divina foi escrita? Vivendo na era dos computadores, torna-se difícil para
nós uma compreensão exata de todo o trabalho realizado em tempos antigos na confecção das Escrituras
Sagradas. Na Antigüidade a escrita era um processo caro e trabalhoso. Os livros tinham que ser escritos à
mão. (Lembre-se de que o primeiro livro impresso foi publicado somente no ano de 1455 d.C., ou seja, cerca
de 1350 anos depois de o último livro da Bíblia ter sido escrito!).
Nos tempos antigos, havia três tipos de "papel": cacos de barro, chamados de ostracas (depois de
efetuada a escrita com a utilização de um estilete pontiagudo, o barro era cozido a fim de que a escrita fosse
preservada); o papiro, feito de uma planta que crescia às margens do rio Nilo, no Egito. (Essa plantada era
cortada, descascada, enrolada, e deixada ao sol para secar. Escrevia-se sobre a superfície do papiro com um
tipo de pincel feito de junco, e utilizando-se uma espécie de cola como tinta. O papiro era enrolado numa
haste de madeira, formando um rolo). Esses dois tipos de "papel" eram bastante inconvenientes: a ostraca,
por ser de difícil transporte; o papiro, por deteriorar-se com muita facilidade. Mas havia também o
pergaminho, "papel" mais durável e dispendioso, feito de peles de animais (ovelhas ou cabras). O
pergaminho também era enrolado em torno de uma haste de madeira.
Lá por volta do ano 100 d.C. começou-se a cortar rolos em tiras, quer fossem de papiro, quer de
pergaminho. Essas tiras eram ajuntadas em ordem, postas umas sobre as outras, e costuradas, formando uma
espécie de "livro", o qual veio a ser chamado de códice. Na verdade, o códice é o precursor do livro!

Em que língua foi, originalmente, escrita a Bíblia? Em Sua sabedoria, o Senhor permitiu que três
idiomas fossem usados pelos escritores da Bíblia: hebraico, aramaico e grego. A maior parte do Velho
Testamento foi escrita em hebraico, língua cuja escrita se faz da direita para a esquerda, e que utiliza
caracteres únicos, ou seja, não há diferenciação entre letras maiúsculas e minúsculas. Já o aramaico foi
utilizado na escrita de apenas três passagens do Velho Testamento: duas no livro de Esdras (4.8 a 6.18; e
7.12-26), e uma no livro de Daniel (2.4 a 7.28). (É interessante ressaltar-se que o aramaico é "descendente"
do hebraico e era a língua falada pelo Senhor Jesus).
Já o Novo Testamento foi escrito em grego, a linguagem escrita "oficial" dos tempos do império
romano. (Nota: como se dirigia a todos, e não apenas a um grupo seleto de eruditos, o Senhor fez com que o
Novo Testamento fosse escrito no grego koinê, ou seja, "comum", e não no grego clássico, de modo que a
compreensão de sua mensagem se fizesse absolutamente clara para qualquer pessoa da população daqueles
dias. Vemos nisto mais uma prova do grande amor de Deus por nós, em Seu desejo de revelar-Se ao ser
humano, seja ele erudito ou não!).

O que é o "cânon"? O termo "cânon" vem de uma palavra hebraica que significa "vara de medir".
Com o passar do tempo, essa palavra passou a ser usada para denominar um catálogo, ou uma lista de livros.
Assim, hoje em dia, quando falamos em cânon, referimo-nos à lista de livros que formam as Escrituras
Sagradas. São eles: os 39 livros que formam as Escrituras do Velho Testamento (escritos mais ou menos
entre os anos 1500 e 400 a.C.) mais os 27 livros que formam as Escrituras do Novo Testamento (escritos
mais ou menos entre os anos 45 e 100 d.C.). O cânon sagrado é, portanto, formado por 66 livros, escritos
entre os anos 1500 a.C. e 100 d.C., por cerca de 40 homens.

Que são livros apócrifos? A palavra "apócrifos" significa ocultos, e é geralmente usada para
denominar 14 livros escritos entre o terceiro e o primeiro séculos a.C. (período inter-bíblico), e que foram
adicionados à Septuaginta (tradução grega do Velho Testamento, realizada nessa época). O grande
historiador hebreu Josefo rejeitou-os totalmente. Aliás, os judeus jamais os reconheceram como parte das
Escrituras do Velho Testamento. O Senhor Jesus também jamais fez qualquer referência a eles. E os
escritores do Novo Testamento não fazem uma citação sequer de livro apócrifo. Também não foram
reconhecidos pela igreja primitiva como sendo de inspiração divina. A igreja romana, porém, no Concílio de
Trento, realizado em 1546, declarou canônicos tais livros, razão pela qual aparecem nas bíblias utilizadas
pelos católicos de todo o mundo. (Nota: não podemos dizer que esses livros não têm valor algum, pois isso
não seria verdade! Eles têm valor histórico apreciável, chegando mesmo a preencher a lacuna histórica
existente entre Malaquias e Mateus, trazendo-nos relatos que nos fazem conhecer a situação religiosa do
povo de Deus naquele período. Todavia, não têm valor escriturístico, uma vez que sua canonicidade
(inspiração) não é reconhecida nem pela própria Bíblia, nem pelo povo judeu, nem pelo Senhor Jesus, e nem
pela igreja primitiva).

Qual o tema central da Bíblia? O tema central da Bíblia é a salvação do homem, a partir da obra
redentora nascida e executada pelo Criador, na qual têm parte as três pessoas da Santíssima Trindade.

II. Visão Panorâmica de Cada Livro

Ditas estas coisas, cabe-nos agora "visitar" cada um dos livros que compõem verdadeiramente o
Velho Testamento, destacando sempre:

1. o PROPÓSITO para o qual foi escrito o livro;


2. uma PALAVRA-CHAVE que nos ajude a lembrar qual é esse propósito;
3. um VERSÍCULO-CHAVE que justifique a palavra-chave;
4. a MENSAGEM MESSIÂNICA contida no livro;
5. alguns DADOS E PARTICULARIDADES do livro;
6. algumas LIÇÕES que dele podemos extrair para a nossa vida.

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