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PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

PSICOLOGIA E SUA INTERFACE COM O CENTRO DE REFERÊNCIA DE


ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS): SUAS POSSIBILIDADES E DESAFIOS

Daliana Maria Moll, (Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-Pr,


Brasil); Luciana Minervino do Angelo (Programa de Pós-graduação, Especialização em Saúde Mental
e Intervenção Psicológica, Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-
PR, Brasil); Paula Adriana Derner* (Psicóloga, Maringá-PR, Brasil).
contato: pauladerner@hotmail.com

Palavras-chave: Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Políticas Públicas.


Intersetorialidade.

A ciência psicológica vive um período em que é solicitada a atuar em novas interfaces.


Umas delas são as políticas públicas em nosso país, particularmente a Assistência Social.
A Assistência Social, tal qual nos vem sendo apresentada, iniciou-se com a
promulgação da constituição de 1988; em 1993, houve a criação da Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS) e, em 2004, a implementação da Política Nacional de Assistência
Social (PNAS) na perspectiva de implantação do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) em 2005. O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) foi instituído por
ambas como unidade pública referenciada em nível de proteção social básica. No ano de 2006
com a aprovação da Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS (NOB-
RH/SUAS), o psicólogo teve sua prática regulamentada tornando-se parte constituinte da
equipe técnica de referência para atuação no CRAS.
A proteção social básica é colocada pela constituição como um direito universal e um
dever do Estado. Um de seus objetivos é atender às necessidades básicas da população e
promover capacidades para maior autonomia e cidadania dos usuários deste tipo de serviço,
além de prevenir situações de risco social. O foco de seu atendimento é a população que vive
em situação de vulnerabilidade social ocasionada por pobreza ou privação e/ou vínculos
afetivos-relacionais e de pertencimento social fragilizados.
Diante deste contexto, o simpósio se constitui por três trabalhos que abordam questões
relacionadas à Psicologia no CRAS.
O primeiro trabalho tem como objetivo investigar como se realizava a atuação dos
psicólogos nas instituições de CRAS nos municípios da região de Maringá-Pr, de outubro de
2010 até fevereiro de 2011. O segundo trabalho apresenta como foco a contribuição da
atuação do psicólogo no CRAS para a promoção de saúde dos usuários da política da
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Assistência Social. O terceiro trabalho visa expor um projeto desenvolvido no CRAS do


município de Lobato-PR nos anos de 2010 e 2011, com fundamentação na Psicologia
Histórico-Cultural.
O simpósio possui como objetivo divulgar pesquisas e formas de atuação do psicólogo
no CRAS, considerando esta contribuição importante em virtude desta ser uma nova área de
atuação devido à recente implantação do CRAS. Consequentemente observa-se poucos
trabalhos sobre este assunto e muitas dúvidas sobre a prática do psicólogo. Deste modo,
pretende-se contribuir com o processo de construção da atuação do psicólogo no âmbito das
políticas públicas e com a construção do próprio SUAS.
A visão de homem discutida neste simpósio é a do homem produto e produtor de si
próprio e da sociedade na qual se encontra inserido (Tuleski & Eidt, 2010). O ser humano é
entendido como um ser essencialmente social visto que se (re) constitui a partir das relações
sociais que trava em sua realidade objetiva.
A discussão a ser apresentada neste simpósio abrangerá as dificuldades e desafios que
o psicólogo enfrenta em sua atuação no CRAS devido à formação acadêmica e insuficiência
de estudos aprofundados sobre o assunto, portanto, o que se tem identificado neste contexto
são diversas práticas, fundamentadas por variadas abordagens e metodologias e que os
profissionais tem adaptado seus conhecimentos teóricos a esse novo cenário.
Devido à carência de referenciais específicos para a prática do psicólogo no CRAS,
pôde-se verificar que este profissional, muitas vezes, apenas incorporou o discurso das ações
e objetivos propostos pela Política Nacional de Assistência Social (desenvolver
potencialidades e autonomia, fortalecer vínculos e proporcionar o protagonismo) sem atentar
com mais profundidade aos conceitos por ela utilizados, evidenciando a falta de clareza tanto
em intervenções focais quanto nos resultados alcançados em seus trabalhos.
O foco prioritário das atividades realizadas pelo psicólogo no CRAS está em propiciar
um espaço de trocas de informações e experiências que possibilita a expressão de dificuldades
e a identificação de potencialidades em um processo reflexivo. De acordo com a I
Conferência Internacional sobre Promoção de Saúde (1986) em todos os espaços de atuação
do psicólogo cabe relacionar o conceito de promoção de saúde, o qual consiste no processo de
capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo
uma maior participação da população no controle deste processo.
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O conceito de saúde proposto pela Organização Mundial de Saúde (1986 apud Scliar
2007) envolve outras áreas de conhecimento e setores públicos para o tema saúde, que passou
a se relacionar com a qualidade de vida da população, considerando que para esta acontecer se
faz necessário um conjunto de ações no sentido de garantir direitos como alimentação,
trabalho, renda, educação, meio ambiente, saneamento básico, vigilância sanitária e
farmacológica, moradia, lazer, entre outros, ou seja, competentes não exclusivamente a um
determinado setor, mas inclui a articulação das várias políticas públicas.
O trabalho no CRAS exige a análise da complexidade das situações de
vulnerabilidades e riscos, as quais abrangem uma série de aspectos inclusive subjetivos, por
isso para a realização de uma atuação eficaz é necessário que o psicólogo planeje suas ações
com a equipe interdisciplinar e também conheça os recursos e potenciais do território em que
atua para assim estabelecer parcerias com profissionais de diversas áreas, desenvolvendo um
trabalho de caráter intersetorial, para que se possa construir um novo saber a partir de
diferentes saberes, sendo que uma ciência possa complementar a outra na compreensão do
usuário como um todo e estreitar as relações para que um trabalho em rede possa ser
estruturado.
Mesmo com as dificuldades e os desafios apontados na prática do psicólogo no CRAS,
pôde-se considerar que a atuação deste profissional apresenta resultados em aspectos sociais e
individuais, quando se possibilita espaços de reflexões na resolução e enfrentamento dos
dilemas de seus usuários, geralmente esses são delineados a médio e/ou longo prazo, onde se
estabelecesse consequentemente a vinculação do público atendido com o profissional/equipe
que proporciona esse espaço.
As questões levantadas pelo simpósio levam-nos a perceber o quanto o conhecimento
nesta área é ainda incipiente. Os trabalhos mencionados demonstraram uma falta de
sistematização para operacionalizar um ideal de atuação, mas que mesmo assim, diante de
tanta dificuldade, a importância deste trabalho vem sendo vislumbrada, percebendo-se que a
psicologia pode muito contribuir para a promoção das potencialidades dos usuários dos
serviços do CRAS e da saúde da comunidade, assim contribuindo para transformação social.
As dificuldades mencionadas precisam ser vistas como desafios que visam à
construção não só da ciência psicológica, do SUAS e das políticas sociais, mas, acima de
tudo, como desafios que levam em última instância, para a construção de uma sociedade
melhor: capaz de conter as injustiças sociais, promotora de potencialização das capacidades
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humanas, com sujeitos conscientes da sua capacidade de transformação social e de autonomia.


A função social da psicologia precisa ser o eixo norteador das ações dos psicólogos
principalmente no CRAS, de forma que as dificuldades enfrentadas não devem paralisar a
atuação do psicólogo, mas impulsioná-lo para a construção de uma psicologia comprometida
socialmente.

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PSICOLOGIA NO CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL:


PERSPECTIVAS E DESAFIOS NA CONSTRUÇÃO DOS SABERES E FAZERES

Ana Carolina Jacinto Alarcão, Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá,


Maringá-Pr; Brasil; Daliana Maria Moll*, Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de
Maringá, Maringá-Pr, Brasil.
contato: dalianammoll@hotmail.com

Palavras-chave: Psicologia. Políticas Públicas. Centro de Referência de Assistência Social (CRAS).

INTRODUÇÃO
A ciência psicológica vive um período em que é solicitada a atuar em novas interfaces.
Umas dessas demandas parte da dimensão das Políticas Públicas em nosso país,
particularmente da Assistência Social.
A Assistência Social, tal qual nos é apresentada atualmente, iniciou-se com a
promulgação da constituição de 1988; em 1993, ocorre a criação da Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS) e, em 2004, a implementação da Política Nacional de Assistência
Social (PNAS) na perspectiva de implantação do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) em 2005.
A proteção social básica é colocada pela constituição como um direito universal e um
dever do Estado. Um de seus objetivos é atender às necessidades básicas da população e
promover capacidades para maior autonomia e cidadania dos usuários deste tipo de serviço,
além de prevenir situações de risco social. O foco de seu atendimento é a população que vive
em situação de vulnerabilidade social ocasionada por pobreza ou privação e/ou vínculos
afetivos-relacionais e de pertencimento social fragilizados. O Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS) é o local de referência onde as ações de atenção básica deverão ser
realizadas.
O objetivo da pesquisa foi investigar como estava a atuação dos psicólogos nas
instituições de CRAS nos 29 municípios da região de Maringá-Pr, até o início de 2011.
A pesquisa foi realizada com base em metodologia e procedimentos inseridos na
pesquisa social, que se utiliza da abordagem qualitativa de seus objetos. Os dados foram
obtidos por meio de questionário enviado por e-mail. A referida região possuía um total de 25
psicólogos atuando em CRAS no período de outubro de 2010 a fevereiro de 2011, sendo
enviado a todos eles os referidos questionários. Foram recebidos respondidos e utilizados na
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análise, um número de 07 questionários. Os dados foram sintetizados de maneira a se obter a


ideia principal das respostas fornecidas.
Como resultado pôde-se verificar que os psicólogos apenas incorporaram o discurso
das ações e objetivos propostos pela Política Nacional de Assistência Social sem atentar com
mais profundidade aos conceitos por ela utilizados. Isto se evidenciou pela falta de clareza
tanto em intervenções focais quanto nos resultados alcançados por estes psicólogos em seus
trabalhos. As dificuldades encontradas foram relacionadas à formação destes profissionais que
ainda não os preparava para uma atuação psicossocial adequada, além da carência de reflexão
sobre o real papel e atividades dos mesmos e a falta de um planejamento estruturado para a
realização de suas atividades.

OBJETIVOS
A pretensão desta pesquisa foi saber o que vinha sendo realizado pelos psicólogos que
atuavam em CRAS da região de Maringá-Pr, nos anos de 2010 a 2011, e a maneira como estes
profissionais concebiam e proporcionavam os objetivos propostos pelo SUAS com relação
aos seus efeitos nos usuários deste serviço, visto que a obtenção desses objetivos geraria um
processo que poderia ser considerado como a função a ser atingida pelo trabalho da equipe do
CRAS. O objetivo geral era, portanto, realizar um panorama da atuação dos psicólogos nesta
região.
Os objetivos específicos, foram os seguintes:
- Verificar o que os psicólogos que atuavam no CRAS levavam em consideração
quanto aos seus objetivos na equipe de trabalho do CRAS;
- Verificar de que forma estes psicólogos buscavam atingir seus objetivos;
- Verificar formas de avaliação de monitoramento de suas ações;
- Verificar quais resultados e quais conclusões estes profissionais vinham obtendo com
sua atuação.

MÉTODO
Contextualização da organização da Assistência Social na região de Maringá-Pr
A estruturação da política de Assistência no Brasil, à época, iniciava-se na esfera
federal por meio do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome. No âmbito
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estadual do Paraná havia a Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Promoção Social


(SETP), na qual foi instituído o órgão responsável pela política da Assistência Social
denominado Núcleo de Assistência Social (NUCLEAS). Este, por sua vez, subdividia-se em
regiões de administração, os chamados Escritórios Regionais, que eram num total de 18 no
Estado. Uma dessas regiões era a de Maringá, sendo a ela vinculados 29 municípios da região.

Sujeitos
Durante o período de coleta dos dados, de dezembro de 2010 a fevereiro de 2011,
verificou-se que esta região possuía trinta e três CRAS, com a atuação de vinte e cinco
psicólogos nestas instituições. Realizou-se o contato com cada um destes, obtendo-se um total
de sete questionários respondidos e analisados como material deste trabalho. Os sujeitos
foram identificados com números de 1 a 7.

Procedimentos
Realizou-se a coleta de informações formais acerca dos CRAS, por meio do Escritório
Regional da Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Promoção Social – Maringá.
Paralelamente a isto, se realizaram os procedimentos para cumprir o protocolo com
relação à pesquisa com seres humanos. Após apreciação, a pesquisa foi aprovada sob o
parecer nº 580/2010 e CAAE nº 0373.0.093.000-10.
Em seguida, realizou-se o contato com os psicólogos atuantes nos CRAS, sendo
explicitado sobre a pesquisa que se pretendia realizar e com o convite de participação ao
psicólogo. Após isto se deu início ao envio dos questionários aos profissionais.
Das respostas obtidas nos questionários foram extraídas as ideias principais formando-
se assim os resultados, estruturados numa tabela e, com base neles foram realizadas a análise
e a discussão dos resultados. Neste trabalho não se apresenta esta tabela e apresenta-se apenas
parte da análise e discussão dos resultados.

Tipo de pesquisa
A metodologia e os procedimentos inseridos na pesquisa pautaram-se nos pressupostos
da pesquisa social. Esta, de acordo com Minayo (2008), utiliza-se da abordagem qualitativa
de seus objetos.
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Ressalta-se que embora não tenha sido recebido o número total de questionários
enviados, os dados dos sete questionários recebidos respondidos por estes profissionais são
significativos para descrever a atuação desta categoria profissional na região mencionada,
principalmente porque a pesquisa social pauta-se pela análise dos dados qualitativamente e
não quantificavelmente; além disso, os dados mantiveram uma constância nas respostas.
Pôde-se inferir que, na ocorrência de um número maior de questionários recebidos
respondidos, seria grande a probabilidade de que as respostas mantivessem a mesma essência.
Assim, os dados obtidos e a análise realizada pode ser tomada como representativa da
atuação dos psicólogos que trabalham em CRAS dos 29 municípios da região de Maringá.

Técnica e instrumento
Os dados de interesse ao trabalho da pesquisa foram obtidos através de um
questionário enviado e respondido via e-mail pelos sujeitos participantes.
As perguntas que compuseram o questionário foram de respostas abertas.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


De acordo com os dados analisados pudemos obter diversas informações a respeito da
atuação dos psicólogos pesquisados que trabalham nos CRAS da região de Maringá e
destacaremos algumas de maior relevância para a construção de conhecimento científico nesta
área.
Com relação a composição das equipes, não houve frequência na menção a um cargo
específico para coordenador de CRAS, o que foi relatado por apenas um sujeito. A função do
coordenador, de acordo com MDS (2009), se definiria pela gestão territorial, realizando a
articulação e promoção da rede socioassistencial de proteção social básica, e a busca ativa. A
ausência de um coordenador e/ou de alguém que realize suas funções delegadas a um
profissional que já possuía outras funções no CRAS evidenciaram que o desempenho de tais
atividades poderiam estar prejudicadas e/ou mesmo não serem realizadas, o que afetaria, em
última instância, o próprio bom andamento dos serviços do CRAS.
Apenas um psicólogo relatou realizar a atividade de articulação da rede. Isto pode
refletir em uma atuação do CRAS pouco pontual, não realizando o trabalho com o foco na
demanda e fechando esta unidade em si mesma, sem o devido reconhecimento do território
que deveria possuir.
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A visão da atuação do psicólogo, por estes profissionais, de modo geral, seu papel e
objetivos citados revelaram a utilização de termos encontrados nos manuais e documentos do
governo federal. Expressões como desenvolver potencialidades e autonomia, fortalecer
vínculos e proporcionar o protagonismo são encontradas nas respostas de cinco sujeitos. Este
dado mostrou uma consonância entre aquilo que se pensa ser papel do psicólogo no CRAS e
aquilo que é solicitado deste profissional pela PNAS (2004).
Com relação às atividades realizadas pelos psicólogos nos CRAS pesquisados, os
grupos socioeducativos, de convivência e reuniões temáticas com os usuários dos serviços do
CRAS, ou seja, atividades em grupo, apareceram como categoria de resposta em todos os
sujeitos participantes da pesquisa.
Os objetivos que estes trabalhos em grupo visavam eram: o desenvolvimento da
autoestima, estimular o desenvolvimento de uma cooperativa, contribuição ao fortalecimento
dos vínculos familiares, desenvolver potencialidades, autonomia, autoconhecimento e
cidadania e a promoção da melhoria na qualidade de vida. Alguns sujeitos não especificaram
os objetivos com estas atividades em grupo.
Os psicólogos pesquisados colocaram, majoritariamente, que nos trabalhos em grupo
são realizados encontros baseados em temas, fornecendo informações.
Um grupo nestas condições pode ser caracterizado como ―grupo operativo‖ que é
definido como o grupo centrado na tarefa. Caracteriza-se pela relação que os membros
mantêm com a tarefa, podendo ser a busca pela ―cura‖, quando se tratar de um grupo
terapêutico, ou adquirir conhecimento, se for um grupo de aprendizagem. Porém, segundo
Osório (2003), na concepção teórica de Pichon-Riviére sobre grupo operativo não há
diferença entre esses objetivos na essência de um grupo pelo fato de que todo grupo
terapêutico promove obtenção de conhecimento, de novas formas relacionais, assim como
todo grupo de aprendizagem proporciona novas formas relacionais, sendo assim, terapêuticos.
Conforme aponta Lane (2007), o trabalho de psicologia na comunidade foi construído
baseada em dois eixos, o da educação e o da saúde mental, enfatizando-se a prevenção.
Podemos perceber que tal característica permanece presente nos trabalhos realizados pelos
psicólogos participantes da pesquisa que realizam grupos nos moldes descritos de grupos
operativos. Ressalta-se, no entanto, que a educação não visa, de acordo com o colocado pela
citada autora, à conscientização das condições sociais da população atendida, mas promove-se
a transmissão de informações a respeito de temáticas específicas, sem cunho social crítico,
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conforme a autora frisa ser necessário para que o trabalho possa ser concebido como
educativo. O caráter preventivo, no entanto, faz-se presente no sentido de que a aprendizagem
pode ser considerada, também, como terapêutica, conforme apontado acima, podendo-se falar
em prevenção na saúde mental. Diante disto, podemos chegar ao ponto de conceber o CRAS
como um local de promoção da atenção primária à saúde mental.
As atividades relatadas por estes profissionais (visita domiciliar, aconselhamento e
orientação e, acolhimento) estão condizentes com as especificações da Política Nacional de
Assistência Social (2004) e o MDS (2009) sobre a atuação do psicólogo.
Se o que é buscado por estes psicólogos é o desenvolvimento de potencialidades, de
autonomia e o fortalecimento de vínculos, buscou-se investigar também de que forma isto é
realizado e as teorias e práticas que embasam esta atuação.
A dinâmica de grupo foi mencionada por quase todos os participantes como técnica
utilizada em seus trabalhos, além do fornecimento de informações, discussão e técnicas de
reflexão e recursos audiovisuais como instrumentos.
Quanto ao aporte teórico, verificou-se uma grande variedade utilizada, encontrando-se
respostas como: teorias da personalidade/desenvolvimento, teorias da sociologia, psicologia
social e comunitária, pedagogia, sociometria, Terapia comunitária de Adalberto Barreto, além
da teoria sistêmica e Histórico-cultural.
Campos (2007) afirma que desde o início da década de 1990, com o desenvolvimento
de uma psicologia comunitária em instituições, verifica-se uma diversidade teórica,
epistemológica e metodológica para a realização de trabalhos como estes. Portanto, como
verificado nos sujeitos pesquisados, esta diversidade ainda se faz presente nos trabalhos
sociais e comunitários de psicólogos atuantes nos CRAS.
A construção do saber e do fazer psicológico no interior do CRAS está marcada pela
pluralidade de abordagens teóricas na própria ciência psicológica, o que, por sua vez, podem
acarretar práticas também diferenciadas.
No entanto, os psicólogos mencionaram a realização de atividades parecidas. Infere-se
deste fato que as diferentes abordagens teóricas da Psicologia podem estar sendo adaptadas ao
modelo de atuação psicológico que é colocado como norma pelas Políticas Públicas da
Assistência Social.
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Com referência à avaliação destes trabalhos no CRAS, os participantes mencionaram


não haver nada estruturado e sistematizado, realizando-se a menção de realização de feedback
dos usuários participantes dos grupos, sendo isto feito de maneira informal.
Percebe-se, de forma geral, que os profissionais utilizaram-se de termos existentes na
Política Nacional de Assistência Social (fortalecer vínculos, desenvolver potencialidades e
autonomia) como os objetivos a serem buscados em sua atuação. Realizaram esta função
através, majoritariamente, de trabalhos em grupo, por meio de dinâmicas, utilizando-se de
teorias variadas da psicologia. Contudo, alegaram não possuir instrumentos concretos de
avaliação e consideraram uma forma de avaliação superficial aquela que realizavam através
do feedback dos participantes dos grupos. Além disso, os resultados e conclusões que
consideraram obter com sua atuação não condizeram, na maioria dos casos, com os objetivos
que relataram inicialmente.
Diante disso, pôde-se inferir que os objetivos buscados pelos psicólogos dos CRAS e
participantes desta pesquisa podem ser considerados uma reprodução de um discurso
elaborado pela Política Nacional de Assistência Social (2004) em virtude do fato de os
sujeitos da pesquisa afirmarem buscar algo (os objetivos), mas que não conseguem visualizar
os resultados de seu trabalho.
Algumas hipóteses se colocaram. Primeiramente, os termos potencialidades,
autonomia, promoção do protagonismo e fortalecimento de vínculos soam genéricos e
precisariam ser compreendidos de que forma isto se materializava na vida social da
população. Portanto, pôde-se dizer que havia uma falta de sistematização com relação àquilo
que deveria receber intervenção.
Conforme aponta Campos (2007a; 2007b) e CREPOP (2007) é necessário um
reconhecimento das necessidades da população a ser atendida, ouvir dela suas demandas para
saber em que ponto focar sua atuação. Desta forma, verificou-se que a falta de menção da
atividade definida como ―reconhecimento do território‖ poderia comprometer os resultados de
todo um trabalho, na medida em que este reconhecimento poderia promover ao psicólogo uma
maior nitidez do trabalho a ser realizado, trazendo uma orientação sobre qual caminho seguir
no atendimento à população referenciada ao CRAS, de que forma os termos como
vulnerabilidade, risco social e vínculos fragilizados se materializavam na vida prática da
comunidade. A existência desta prática poderia fazer com que as intervenções fossem mais
pontuais, melhor direcionadas e os resultados, consequentemente, melhor vislumbrados.
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Ter dificuldades em delinear os resultados alcançados com o seu trabalho poderia ser
devido à própria dificuldade em saber sobre o que se atuou, pois, o foco de atuação poderia
não ser adequado para a população com a qual se trabalhou se, como dito, os objetivos
buscados referiram-se a um discurso apenas reprodutivo do que propõe a Política Nacional de
Assistência Social.
Outro ponto a ser destacado é o comprometimento social dos psicólogos trabalhadores
do CRAS. Conforme apontam Lane (2007), Freitas (2007) e Campos (2007a), é necessária
uma conscientização da população atendida com referência às condições sociais que
produzem as situações de vulnerabilidade e de marginalização de parcelas da sociedade.
Através disto se proporcionará o entendimento do usuário a respeito de sua condição que
poderá levá-lo à busca de soluções para amenizar e/ou erradicar as situações vivenciadas,
podendo-se inferir, a partir disto, que estaria aí a tomada de autonomia por parte dos usuários
dos serviços do CRAS. Um olhar sob este aspecto foi citado por dois sujeitos, ao relatarem
que fizeram parte de sua atuação proporcionar uma conscientização para um entendimento
como este.
Este fato pode revelar a ausência do caráter deste comprometimento social na atuação
dos psicólogos, o que os leva a realizar as ações por elas mesmas, novamente, apenas por ser
algo estipulado como ações do psicólogo nos documentos referentes à atuação deste
profissional no CRAS, assim como verificado por Senra (2009).
Quanto às dificuldades relatadas, referem-se, no geral, à falta de preparo dos
psicólogos para atuação no trabalho psicossocial.
Freitas (2007, p. 74) afirma que, os cursos de graduação não acompanharam as
necessidades e/ou mudança no atendimento à população, distanciando os formandos
psicólogos da realidade da população.
Pode-se afirmar, portanto, que esta nova demanda da Psicologia é fértil em discussão e
em muito pode contribuir para a construção de uma nova sociedade, a partir de seus núcleos
locais de vivência dos atores sociais.

CONCLUSÃO
Observou-se que os trabalhos realizados pelos psicólogos, nos CRAS da região de
Maringá, são pautados, essencialmente, pelos trabalhos em grupo. Os objetivos desta atuação
é a busca de promoção de condições tais como o desenvolvimento de potencialidades e o
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

fortalecimento de vínculos. Assim, os trabalhos destes psicólogos estão de acordo ao que é


preconizado pela Política Nacional de Assistência Social.
Quanto ao aporte teórico, verificou-se que os psicólogos utilizavam-se de uma gama
variada de teorias da psicologia em sua atuação. Não era feita uma avaliação sistematizada do
trabalho que se realizava, ocorrendo apenas feedbacks informais ao longo dos encontros com
os grupos. Dessa forma, os resultados obtidos pelo trabalho dos psicólogos não eram claros
para os próprios profissionais.
Inferiu-se, com base nestes dados, que os objetivos buscados pelos psicólogos que
atuavam nos CRAS desta região soavam como reprodutivos das Políticas Públicas da
Assistência Social, não tendo os psicólogos parâmetros de saída e de chegada com seu
trabalho. Percebeu-se a falta de uma sistematização para uma atuação mais focal, algo como
um diagnóstico (social), para saber onde, porque e como atuar com determinada demanda da
população atendida e não apenas realizar um trabalho para cumprir um protocolo de atuação.
Portanto, pelo verificado, faz-se necessário um planejamento para cada ação e isto poderia ser
obtido através de uma maior participação do psicólogo no reconhecimento do território no
qual atua.
Além disso, ao psicólogo é solicitada uma contribuição para a compreensão da
subjetividade envolvida na condição de vulnerabilidade e do fortalecimento dos vínculos. No
entanto, esta atuação não pode ser realizada isoladamente, pois, como visto, o ser humano se
constitui em suas relações. Dessa forma, faz-se necessário que as condições sociais nas quais
os indivíduos e as famílias/comunidades estão inseridos também se modifiquem no sentido de
proporcionar melhorias para a qualidade de vida. Para tanto, mostrou-se preciso que se conte
também com serviços que tenham como foco o fortalecimento profissional desta população.
Percebeu-se que o fator comprometimento social do psicólogo, voltado para uma
atuação crítica, é condição essencial para alcançar os objetivos de promoção da autonomia,
cidadania e de fortalecimento de vínculos. Dessa forma, a reivindicação por um espaço maior
na formação referente à atuação do psicólogo no campo social continua. Há a necessidade,
ainda, de evidenciar que a postura profissional necessita acompanhar as novas interfaces de
atuação. É preciso deixar uma posição passiva, de esperar pela demanda do outro e começar a
ir a busca, investigar as demandas e atuar de forma ativa na comunidade em que se realiza o
trabalho.
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

Vive-se um período de construção de uma nova prática para a Psicologia. E como tudo
que é novo, muitos desafios se colocam, mas estes devem ser olhados na perspectiva de
possibilidades que tal atuação pode alcançar através de seus saberes e seus fazeres.

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PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

O TRABALHO DO PSICÓLOGO NO CENTRO DE REFERÊNCIA DE


ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS CONTRIBUIÇÕES PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE
DOS USUÁRIOS

Sheila Regina de Camargo Martins (Programa de Pós-graduação, Departamento de Psicologia,


Universidade Estadual de Maringá, Maringá - PR, Brasil); Luciana Minervino do Angelo* (Programa
de Pós-graduação, Especialização em Saúde Mental e Intervenção Psicológica, Departamento de
Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil).
contato: luciana_minervino@hotmail.com

Palavras-chave: Centro de Referência de Assistência Social. Atuação do Psicólogo. Promoção de


Saúde.

Introdução
Este trabalho apresenta como foco o estudo sobre a atuação do psicólogo no Centro de
Referência de Assistência Social – CRAS. A ênfase dada a este tema foi a contribuição do
trabalho desse profissional para a promoção de saúde dos usuários da política da Assistência
Social.
Este assunto despertou interesse devido a possibilidade de contribuição com a área
acadêmica, pois se trata de uma nova área de atuação para os profissionais de psicologia.
Dessa forma, observa-se a carência de pesquisas nessa área de atuação assim como a
persistência de dúvidas sobre o trabalho do psicólogo no CRAS, a despeito das
regulamentações e práticas acumuladas que são desenvolvidas no sentido de abordar com
qualidade as intervenções que vão ao encontro das necessidades dos usuários.
Com a organização da Política Nacional de Assistência Social no ano de 2004 e a
implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) no ano de 2005, o Centro de
Referência de Assistência Social (CRAS) foi instituído por ambas como unidade pública
referenciada em nível de proteção social básica. No ano de 2006 com a aprovação da Norma
Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS (NOB-RH/SUAS), o psicólogo teve sua
prática regulamentada tornando-se parte constituinte da equipe técnica de referência para
atuação no CRAS.
Mesmo que os psicólogos venham atuando no âmbito das políticas públicas sociais, a
sua atuação, de acordo com as diretrizes do SUAS, ainda se encontra em um processo de
construção, até porque o próprio SUAS também se encontra nesse mesmo estágio do
processo, conforme apontado pelas Orientações Técnicas do CRAS (Brasil, 2009).
Nesse sentido, o psicólogo que possui como campo de atuação o CRAS, encontra
dificuldades e desafios em sua prática cotidiana, devido a sua formação acadêmica ainda estar
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

majoritariamente orientada por diretrizes tradicionais da prática clínica individual e de acordo


com Cruz (2009) pela carência de estudos aprofundados que discutam essa prática recente.
De acordo com o exposto um dos desafios, portanto, é utilizar os conhecimentos
obtidos na graduação a esse novo contexto de atuação, marcado por espaços e usuários
diferenciados da prática tradicional. Outro é superar o caráter individualista e curativo para,
assim poder trabalhar com o potencial do usuário, a fim de promover uma melhor qualidade
de vida ao público atendido.
Na tentativa de apoio e norteamento à prática psicológica no contexto das políticas
públicas, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) tem publicado algumas orientações no
sentido de reformular essa prática tradicional. Dentre tais orientações, destacam-se aquelas
que dizem que as atividades devem se voltar à prevenção e atenção a situações de
vulnerabilidades e riscos, por meio do fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários e
o desenvolvimento de potencialidades e aquisições pessoais e coletivas.
Ao ser analisado o processo de constituição do SUAS, pode-se perceber que as suas
diretrizes são muito próximas às diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente
ao que se refere aos princípios de promoção de saúde propostos pela Política Nacional de
Atenção Básica - PNAB (2006) e ao mesmo tempo se constituem como políticas públicas
complementares devido ao conceito adotado pela Organização Mundial de Saúde – OMS
(1986) que considera a saúde como condição para o progresso pessoal, econômico e social e
como um conceito que vai além do setor sanitário, tendo como requisitos a paz, educação,
moradia, alimentação, renda, ecossistema estável, justiça social e equidade, perpassando sobre
as demais políticas públicas.
Com essa ampliação do conceito de saúde, a intervenção proposta para atuação em
políticas públicas deverá estar voltada a interdisciplinaridade e a intersetorialidade para assim
garantir uma melhor qualidade de vida à população.
A psicologia no CRAS dessa forma visa a contribuir com a promoção da saúde, pois à
medida que se investe nos vínculos familiares e comunitários, nas habilidades e
potencialidades dos usuários, são garantidos direitos sociais, a emancipação social e uma
melhor qualidade de vida, pois assim os usuários poderão se tornar ―fortalecidos‖ para
resolverem situações de conflitos em suas vidas.
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

Objetivos
O objetivo maior desta pesquisa é realizar uma discussão sobre a atuação do psicólogo
no CRAS para a promoção de saúde dos usuários deste serviço.
E dentre as especificidades desse objetivo encontra-se a identificação das
contribuições do trabalho do psicólogo no CRAS, a relação da atuação do psicólogo no CRAS
com o conceito de saúde proposto pela OMS, a compreensão da atuação do psicólogo no
CRAS diante dos princípios da Política Nacional de Atenção Básica e na identificação da
atuação do psicólogo no CRAS como ação potencial para contribuir com a promoção de
saúde para os usuários.

Método

Este trabalho é caracterizado como pesquisa qualitativa de caráter bibliográfico do tipo


exploratório.
De acordo com Minayo (2003 apud Toledo e Gonzaga 2011) a pesquisa qualitativa diz
respeito à tentativa de compreensão de questões muito específicas da realidade, as quais não
são perceptíveis ou capturáveis pela mensuração, devido ao seu ―[...] universo de significados,
motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes. Tudo isso corresponde a relações, processos e
fenômenos que não podem ser reduzidos apenas a operações variáveis.‖ (p. 131)
Ludke e André (1986 apud Moll 2011) definem algumas características da pesquisa
qualitativa, dentre estas serão destacadas que a fonte direta dos dados é o próprio ambiente
natural, sendo o pesquisador um de seus principais instrumentos; e quando o foco de maior
preocupação da pesquisa está sob o processo em que os dados se realizam e não sob os
resultados.
Segundo Lakatos e Marconi (1991) a pesquisa de caráter bibliográfico abrange toda
bibliografia publicada referente ao tema a ser pesquisado, podendo ser ela impressa e/ou
gravadas em recursos tecnológicos de comunicação.
Através da consulta destes tipos de materiais, foi realizado um levantamento de dados
referente ao assunto, oportunizando não apenas a resolução de problemas estabelecidos como
também explorar novas áreas, podendo obter conclusões inovadoras.
Neste trabalho foram utilizadas fontes bibliográficas, como documentos oficiais (leis,
políticas específicas e normatizações), nas bases eletrônicas, obtidos através de sites do
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

governo (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome e Ministério da Saúde),


artigos científicos publicados em periódicos referentes à atuação do psicólogo e a promoção
de saúde e sobre a educação em saúde (Scielo e Linux), além de livros referentes à
metodologia, a psicologia e o trabalho interdisciplinar e intersetorial, na publicação das
Referências Técnicas para a atuação do Psicólogo no CRAS/SUAS do Centro de Referências
Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) e publicação em revistas que
abordavam o compromisso social da psicologia, a caracterização do público atendido no
CRAS e o trabalho interdisciplinar e intersetorial deste profissional a fim de alcançar maior
efetividade das ações desenvolvidas em sua atuação.
O tipo de pesquisa exploratório, de acordo com Toledo e Gonzaga (2011) dedica-se a
estabelecer uma aproximação do pesquisador com um dado problema e sua função é
apresentar novas temáticas, fortalecer o debate acadêmico e suscitar novas pesquisas.

Análise e Discussão

Neste trabalho pôde-se analisar que a ampliação do conceito de saúde proposto pela
OMS (1986 apud Scliar 2007) como ―[...] estado de completo bem-estar físico, mental e
social e não apenas a ausência de enfermidade [...]‖ (p. 37) possibilitou a contribuição de
outras áreas de conhecimento e setores públicos para o tema saúde, que passa a se relacionar
com a qualidade de vida da população, considerando que para esta acontecer se faz necessário
um conjunto de ações no sentido de garantir direitos como alimentação, trabalho, renda,
educação, meio ambiente, saneamento básico, vigilância sanitária e farmacológica, moradia,
lazer, entre outros, ou seja, competentes não exclusivamente a um determinado setor, mas
inclui a articulação das várias políticas públicas.
Neste sentido, a política de saúde superou seu modelo curativo e biomédico tradicional
e passou a considerar como espaço para sua atuação a família, a comunidade, o trabalho
territorial, a promoção e prevenção na saúde.
Tendo em vista a inserção do psicólogo para atuação em políticas públicas, este
profissional tem tentado em sua prática romper com o modelo curativo, individualista de sua
formação acadêmica, predominantemente clínica para uma atuação com bases críticas,
mudando o foco do caráter terapêutico para o desenvolvimento das potencialidades do
individuo/família/comunidade.
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

Devido a essa ampliação, torna-se possível caracterizar a atuação do psicólogo no


CRAS como promotora de saúde na comunidade, mesmo que este profissional esteja inserido
na política de assistência social, pois as suas ações apresentam caráter social, através do
compromisso de transformação social, baseado no atendimento das classes desfavorecidas.
Esta consideração torna-se possível devido ao contexto, às atividades e aos objetivos
propostos para sua atuação.
De acordo com as normatizações e legislações, o profissional de psicologia do CRAS
deve atuar na prevenção de situações de vulnerabilidade e riscos sociais, fortalecendo os
vínculos afetivos, sociais e comunitários dos usuários da política de assistência social,
enfatizando a potencialização dos recursos psicossociais individuais e coletivos, favorecendo
o desenvolvimento da autonomia, a emancipação social e o exercício da cidadania. As
intervenções são realizadas em âmbito individual, familiar, grupal e comunitário.
Dentre as atividades realizadas pelo psicólogo do CRAS estão as visitas domiciliares,
os atendimentos individuais, familiares e em grupos, através dos quais geralmente são
realizadas orientações referentes a benefícios, relacionamentos familiares, desenvolvimento
de habilidades sociais, geração de renda e encaminhamentos a outras políticas e serviços,
dependendo da demanda trazida pelos usuários.
O atendimento em grupo se constitui como o foco prioritário do CRAS, pois se torna
um espaço de trocas de informações e experiências que possibilita a expressão de dificuldades
e a identificação de potencialidades em um processo reflexivo.
Em todos os espaços de atuação do psicólogo cabe relacionar o conceito de promoção
de saúde da I Conferência Internacional sobre Promoção de Saúde (1986), o qual consiste no
processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e
saúde, incluindo uma maior participação da população no controle deste processo. Deste
modo as orientações (atendimentos individuais e em grupos e visitas domiciliares) funcionam
como ―conteúdos‖ para essa capacitação, no sentido que se trabalha com o fortalecimento dos
vínculos familiares e comunitários, o desenvolvimento de potencialidades, de aquisições e de
autonomia, a ampliação do espaço informacional, e a oportunidade de novas vivências.
Estes ―conteúdos‖ abordam questões que podem conduzir ao sofrimento psíquico
apontado por Bock (2003). A autora considera que uma pessoa mesmo não apresentando uma
determinada patologia, mas se sofre situações como pobreza extrema, violência, situação de
desastre, abuso econômico ou psicológico, esta não gozará de saúde. Entendendo saúde
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

conforme o conceito da OMS, em tais situações o bem-estar integral pode estar comprometido
ou dificultado.
Valla (1999 apud Albuquerque e Stotz 2004) destaca ainda o apoio social como uma
ação preventiva e também de cuidado, através do apoio mútuo e da solidariedade dos pares,
sendo este desenvolvido nos grupos à medida que ocorrem a identificação entre os
participantes.
A atuação em grupos no CRAS possui relação com a educação em saúde proposta
pelas regulamentações do SUS, conforme apontada por Albuquerque e Stotz (2004) a qual se
constitui como a proposta desta política para intervenção com grupos, onde funcionaria como
uma estratégia de promoção de saúde, qualidade de vida dos usuários, para a construção
coletiva do conhecimento (profissional e usuários), possibilitando descobertas e reflexões
sobre a realidade, a fim de que esta possa ser (re)construída, considerando o contexto dos
usuários, devendo o coordenador do grupo servir como facilitador.
Neste sentido o psicólogo em sua atuação desempenha o papel de facilitador mediando
seu saber técnico com o saber popular para assim partir do contexto dos usuários
proporcionando uma reflexão, a qual capacitará os participantes a atuarem no sentido de
transformar a realidade.
Ainda neste sentido, a promoção de saúde no trabalho do psicólogo no CRAS,
acontece especificamente em relação à saúde mental, pois se trabalha prioritariamente com as
relações e com o processo de emancipação e autonomia, através do qual o indivíduo torna-se
sujeito por meio deste processo em seu desenvolvimento humano e também torna-se, através
dessas ações, sujeito social devido a conquista de autonomia, podendo gerenciar e
responsabilizar-se por sua própria vida e família em sociedade.
Paim e Filho (1998) apontam que o maior desafio da saúde está na conciliação entre o
bem-estar individual e social devido ao nível político e sociocultural da população em geral,
pois à medida que haja participação em grupos sociais e iniciativas comunitárias, as relações
sociais poderão ser resignificadas podendo haver a redução do sofrimento humano.
Ainda se considerarmos os instrumentos e técnicas utilizados nessas ações, a escuta,
não com o intuito de identificar sintomas, mas sim identificar recursos positivos no discurso
do usuário, a expressão verbal, e os resultados que podem ser alcançados por esses no
processo como aponta Camargo-Borges e Japur (2008) como a geração de novos sentidos e
significados, o estabelecimento de novas formas de se relacionar e de estar no mundo, através
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

da significação de antigos discursos, podem ser observadas aproximações com a psicologia


desenvolvida na política de saúde.
Sendo estas especificidades da atuação psicológica de extrema necessidade nas
intervenções propostas pelo CRAS devido a complexidade das situações de vulnerabilidades e
riscos, as quais não abrange apenas a pobreza e sim uma série de aspectos inclusive
subjetivos.
Devido à complexidade da atuação com o objetivo de se alcançar a promoção de
saúde, tanto a política de saúde quanto a de assistência social consideram a matricialidade
familiar e a territorialização como os pressupostos que se destacam na caracterização da
atuação.
Tanto a política de assistência social, através do CRAS, como a política de saúde em
seu nível de atenção básica, através da Estratégia de Saúde da Família - ESF, apontam como
princípio a territorialização, sendo esta a necessidade de atuação na comunidade,
fundamentando ações como o mapeamento das áreas de risco e das potencialidades do
território, o cadastramento domiciliar, atuando diretamente na necessidade da população (em
relação a problemas de saúde e sociais), valorizando o seu contexto e as suas diversidades
para uma atuação com maior eficácia. Em ambas as políticas essas ações devem ser de caráter
longitudinal e a demanda para as mesmas possui o próprio público a ser atendido como ponto
de partida, para assim fortalecer o potencial e a participação dos mesmos.
A Política Nacional de Atenção Básica - PNAB (Brasil, 2006) considera importante a
delimitação do território de atuação a fim de desenvolver ações educativas, focalizadas em
grupo e fatores de risco, o que no CRAS se constitui como a identificação de áreas de
vulnerabilidades e riscos, sendo o atendimento em grupo a estratégia de ações educativas.
Considerando este pressuposto, ambas as políticas apontam para a necessidade de
conhecer os recursos e potenciais deste território, para que assim possa ser desenvolvido um
trabalho interdisciplinar contando com profissionais de diversas áreas, para que se possa
construir um novo saber a partir de diferentes saberes, sendo que uma ciência possa
complementar a outra.
Neste sentido, o psicólogo antes de executar as suas ações necessita tê-las discutido e
planejado antes com a sua equipe de trabalho a fim de construírem juntos uma metodologia
única de atendimento no seu setor de trabalho para que assim seus objetivos possam ser
alcançados de maneira eficaz. Vale ressaltar que para a realização de um trabalho
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

interdisciplinar se faz necessário a valorização das especificidades de cada área, para que
assim ocorra a complementação dos conhecimentos dentro do serviço.
Além do trabalho interdisciplinar, ambas as políticas consideram importante o trabalho
intersetorial, pois em muitos casos há necessidade de estabelecer parcerias com outros setores
e políticas, se considerarmos a atuação em sua totalidade conforme previsto no conceito de
saúde apresentado e na complexidade das problemáticas apresentadas pelos usuários do
CRAS, sem contar que os usuários na maioria das vezes são atendidos por todos os setores
públicos.
O princípio da intersetorialidade pode ser considerado nas ações do CRAS, tendo em
vista que nos atendimentos em grupos muitas vezes profissionais de outros setores são
convidados a explanar sobre algum tema específico. O recomendável seria que tais ações
ocorressem de maneira contínua e não esporadicamente como acontece na prática.
A intersetorialidade também se faz necessária devido à compreensão do usuário em
seus contextos de atuação e em suas relações, o que abrange outras políticas como educação,
trabalho, cultura, esporte, entre outras, há necessidade de se compreender o usuário como um
todo conforme propõe Bock (2003) e não atendê-lo em partes.
Cabe ressaltar que nos quesitos interdisciplinaridade e intersetorialidade muito tem se
falado, mas pouco tem se realizado, pois mesmo com a discussão de casos dentro dos setores
e a participação de profissionais de outros setores em grupos, essas práticas não constituem
um trabalho com as propriedades previstas para um pleno funcionamento, pois ainda se
caracterizam como ações fragmentadas não pertencendo a um planejamento global com ações
contínuas.
Mesmo com as dificuldades em relação às ações intersetoriais de acordo com o
conceito de saúde proposto neste trabalho, cabe aqui ressaltar que as políticas de assistência
social e de saúde possuem uma relação estreita em sua área de atuação e um caráter
complementar em relação as suas ações.
A matricialidade familiar está sob o foco das ações em ambas as políticas, por meio de
execução do CRAS e da Estratégia de Saúde da Família, por considerar a família como um
espaço potencial nessa relação de cuidados, partindo desse princípio, as políticas tem tentado
estabelecer parcerias com as famílias a fim de solucionar problemas sociais e de saúde.
Contudo, a família tem sofrido com as transformações sociais o que vem refletindo na
sua maneira de constituição (vários arranjos familiares) e dinâmica relacional, na fragilização
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

dos vínculos, exigindo o desenvolvimento de complexas estratégias de relacionamento, onde


a mesma também necessita de cuidados e apoio para exercer sua função de base biológica,
afetiva e social, mediando às relações entre individuo e sociedade, conforme aponta (Brasil,
2004).
Conforme afirma a PNAS (Brasil, 2005) para família desempenhar suas funções é
preciso que a mesma tenha seus direitos garantidos, ou seja, de acordo com a proposta de
trabalho do CRAS esses direitos são garantidos através da inclusão de seus membros em
serviços destinados principalmente de acordo com as faixas etárias e as situações
apresentadas.
Pode-se afirmar que o trabalho do psicólogo no CRAS contribui para a promoção de
saúde na comunidade, através da inclusão de famílias em situação de vulnerabilidades e riscos
sociais em ações, programas e projetos com o objetivo de promovê-los no que diz respeito ao
fortalecimento pessoal, através da valorização de vínculos afetivos e sociais. Ações que visam
promover uma ação reflexiva e consciente dos usuários para que possam superar o sofrimento
e ser conduzidos ao pleno exercício da cidadania.

Conclusão

Em relação às contribuições do psicólogo no CRAS pode-se considerar, que este


profissional inserido em atividades, programas e projetos dentro de seu setor contribui com a
promoção dos usuários, no sentido de potencializá-los, através do fortalecimento de vínculos
familiares e sociais, para o enfrentamento e superação das situações de vulnerabilidades e
riscos a que estão submetidos.
A matricialidade familiar e a territorialização como eixos estruturantes do trabalho do
psicólogo desenvolvido no CRAS, são propostas comuns a esta política e a de atenção básica,
através da ESF, a qual tem por base o trabalho realizado para e na comunidade, sendo,
portanto, possível correlacionar as ações desenvolvidas nesses diferentes setores, no intuito de
complementação dessas atuações.
A realização do trabalho do psicólogo no CRAS, também pode contribuir para a
promoção de saúde na comunidade, pois a medida que vão se obtendo avanços na área social,
consequentemente esses contribuem para a promoção de saúde na comunidade, ao considerar
os variados aspectos que compõe a condição de saúde propostos pela OMS.
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

Mesmo com a consolidação do trabalho do psicólogo no CRAS este ainda apresenta


vários e grandes desafios a serem superados, como as vinculações empregatícias instáveis, a
construção de referenciais teóricos para fundamentar a prática profissional e a formação
acadêmica dos psicólogos, tendo em vista que as normatizações fazem referências a aspectos
gerais do trabalho e o material publicado além de ser escasso, não é suficiente para responder
as dificuldades do dia-a-dia da sua atuação.
Considerado também um obstáculo para o avanço na atuação do psicólogo no SUAS é
a resistência de alguns psicólogos em se manterem desenvolvendo práticas clínicas nesse
contexto, por uma série de fatores como a precarização das políticas sociais no Brasil, a falta
de clareza em relação a definição de seu papel e a dificuldade de compreensão da construção
subjetiva em um contexto social, por não conhecerem referenciais que fundamentam sua ação,
mantêm-se em um status mais relacionado à clínica privada. Muitos atendem às expectativas
de outros profissionais que esperam do psicólogo esse tipo de práticas já cristalizadas.
Outro desafio se constitui no desenvolvimento pleno de ações interdisciplinares e
intersetoriais na comunidade (para a qual a formação acadêmica também, em geral, não
contempla subsídios teórico-metodológicos) de sua atuação para que assim possam realizar
um trabalho em plenitude, não exclusivamente em parceria com a saúde, mas também com as
demais políticas públicas.
Portanto além das contribuições para a promoção de saúde aos usuários da política de
assistência social do trabalho do psicólogo no CRAS, pôde-se verificar que essa é uma prática
que ainda se encontra em construção, não apenas a atuação profissional como também a
construção da própria psicologia enquanto ciência disposta a atender as demandas da
comunidade.
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

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PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

RELATO DA EXPERIÊNCIA COM O PROJETO SOCIOEDUCAÇÃO


PROMOVIDO PELO CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTENCIA SOCIAL DO
MUNICÍPIO DE LOBATO-PR

Marcele Renata de Oliveira Cesnik Cardoso (Psicóloga do CRAS, Lobato-PR, Brasil); Paula Adriana
Derner* (Psicóloga, Maringá-PR, Brasil); Tihara Keli Maciel Siqueira (Assistente Social do CRAS,
Lobato-PR, Brasil).
contato: pauladerner@hotmail.com

Palavras-chave: Centro de Referência de Assistência Social. Trabalho em Rede. Psicologia Histórico-


Cultural

Fundamentação Teórica

Este trabalho visa expor um projeto desenvolvido pelo departamento de assistencial


social da cidade de Lobato-PR em parceria com profissionais da educação nos anos de 2010 e
2011, denominado Projeto Socioeducação. Este foi promovido pelo Centro de Referência de
Assistência Social – CRAS do mesmo município, e está amparado pela Política Nacional de
Assistência Social – PNAS (2004), e pela Psicologia Histórico-Cultural.
A Política Nacional de Assistência Social é responsabilidade do Estado e direito do
cidadão, ―realiza-se de forma integrada às demais políticas setoriais, considerando as
desigualdades socioterritoriais, visando seu enfrentamento, à garantia dos mínimos sociais, ao
provimento de condições para atender contingencias sociais e à universalização dos direitos
sociais‖ (PNAS, 2004, pg. 33).
Desta forma, os objetivos da Política Nacional de Assistência Social são: prover
serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e, ou, especial para
famílias, indivíduos e grupos que deles necessitem; contribuir com a inclusão e a equidade
dos usuários e grupos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais
básicos e especiais, em áreas urbana e rural; assegurar que as ações, no âmbito da assistência
social tenham centralidade na família, e que garantam a convivência familiar e comunitária.
Incluindo-se dentro da política governamental acima citada, o Centro de Referencia de
Assistência Social – CRAS é uma unidade pública, estatal, de proteção social básica de
Assistência Social.
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

É o principal equipamento da Proteção Básica, porta de entrada para o Sistema Único de


Assistência Social, o SUAS. Sua função é prevenir situações de risco, por meio do
desenvolvimento de potencialidades e do fortalecimento de vínculos comunitários e
familiares. Destina-se as famílias em situação de vulnerabilidade social decorrente de pobreza,
de privação e de fragilização de vínculos (comunitários, sociais ou familiares) (CADERNOS
SUAS I, SETP, 2007, pgs. 19 e 20).

Tendo como base o entendimento da Politica Nacional de Assistência Social e do


conceito do que seja CRAS, é possível explicitar que a importância deste trabalho funda-se na
socialização de uma prática realizada pelo CRAS, no que diz respeito ao trabalho em rede e a
construção de uma prática possível pela política de assistência social.
Essa socialização é importante também pelo fato dos profissionais que estão se
inserindo nessa política pública, e aqui colocamos em referência os profissionais da
psicologia, estarem encontrando dificuldades para a realização de um trabalho efetivo que
contemple os objetivos propostos por esta política em relação a pratica profissional. Essa
dificuldade se dá também pelo fato do CRAS ser uma unidade púbica que está em processo de
implantação.
Em relação a organização da rede socioassistencial, esta implica em reconhecer a
complexidade dos territórios como espaços que expressam realidades concretas. Sendo que as
ações desenvolvidas, sejam capazes de cumprir as funções da política atendendo a demanda.
Na Política Nacional de Assistência Social existem dois tipos de proteção social:
proteção social básica e proteção social especial que contempla a média e alta complexidade.
Devido ao porte do município de Lobato existe somente a proteção social básica executada no
CRAS.
Dentre as ações ofertadas, cabe à Proteção Social Básica oferecer ações de
convivência e socialização geracionais e intergeracionais, destinados às famílias. São ações
que privilegiam o grupo, tendo como objetivos favorecer o convívio, o fortalecimento de
laços, de vínculos, e o protagonismo social (Caderno SUAS, 2007).
Do exposto com relação à Política Nacional de Assistência Social, e, mais
especificamente, como deve ser o atendimento no CRAS é evidente que ações efetivas que
promovam o desenvolvimento de laços coletivos e que, ao invés de proporcionar uma
―adaptação‖ dos indivíduos à sociedade atual e suas desigualdades, procure resgatar neles seu
potencial transformador, deve estar amparada em uma teoria que assegure a compreensão do
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

homem, de sua aprendizagem e de seu desenvolvimento como históricos e, portanto, passíveis


de transformação.
Neste sentido a Psicologia Histórico-Cultural, como base para as ações desenvolvidas
no CRAS, evidencia-se como uma possibilidade de fundamentação de ações planejadas e
organizadas de assistência social, sem cair nas armadilhas do ―assistencialismo‖, pois concebe
o homem como construto e construtor da sociedade.
Para Leontiev (1978) – um dos elaboradores da Psicologia Histórico-Cultural, em
conjunto com Luria e Vigotski - o homem se constitui enquanto ser humano a partir da
transformação da natureza, apropriação e aprimoramento dos recursos já desenvolvidos pelas
gerações anteriores. É, portanto, pela apropriação dos instrumentos (objetos, ferramentas
criados) e signos (formas de linguagem simbólica), que o homem humaniza-se, ou seja,
desenvolve as funções psíquicas superiores, que são fundamentalmente culturais. Nesta
abordagem nada é posto e existe a priori, tudo o que cada indivíduo desenvolve em si
depende dos elementos instrumentais e simbólicos a ele ofertados na sociedade a qual
pertence, portanto, depende do contexto sócio histórico. Porém, somente ter ao seu redor
dispostos os instrumentos e os signos não é garantia de humanização, necessário se faz que
exista a condição interpsíquica ou mediadora, que possibilita a passagem ao intrapsíquico, a
(re) constituição interna das possibilidades existentes no meio social, transformadas em
instrumentos para o pensamento e ação conscientes.
De acordo com Facci (2004b), autora que trabalha nesta perspectiva teórica, o
psiquismo se desenvolve por meio da atividade social, que é a mediação através de
instrumentos entre o sujeito e o objeto de sua atividade. A criança, quando vem ao mundo
possui apenas um aparato biológico, instintivo, o qual pela sua imersão em um ambiente
social vai sendo gradativamente transformado. Tais funções puramente primitivas, biológicas,
vão sendo reguladas pelos adultos que educam a criança e por meio da interação com o
mundo cultural, mediada pelos objetos e signos elaborados pelos seres humanos, vão se
transformando em funções psicológicas superiores ou culturais. A mediação que ocorre
através dos signos elaborados socialmente condiciona a apropriação das funções sociais dos
objetos existentes na realidade social, possibilitando não somente a regulação do
comportamento humano voltado a metas e objetivos, como também a constituição de um
campo conceitual que permite prever consequências e planejar ações futuras por intermédio
da linguagem simbólica. Assim, o incremento e desenvolvimento conceitual é um aspecto
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

importante para o psiquismo humano, pois é por meio dos conceitos que o homem consegue
operar mentalmente com os objetos, planejar ações e prever consequências possíveis de suas
ações, podendo escolher a melhor em um determinado contexto dentre as diversas ações
existentes, superando assim, a impulsividade e desenvolvendo um comportamento mais
racional.

Início do Projeto Socioeducação

A proposta de intervenção com alunos da Escola Estadual Osvaldo Aranha – Ensino


Fundamental surgiu a partir das solicitações pedagógicas no ano de 2008 para atendimentos
de alunos cuja queixa era referente à indisciplina, problemas na aprendizagem que repercutia
em uma defasagem na apreensão dos conteúdos escolares.
Dessa forma foram realizados diagnósticos pela psicóloga e assistente social com os
alunos, elaborou-se um cronograma de palestras e oficinas a serem trabalhadas com estes
adolescentes. A equipe técnica do CRAS decidiu que haveria dois grupos de adolescentes que
seriam realizados uma vez por semana no contra turno escolar com duração de,
aproximadamente, duas horas em horários estabelecidos pela própria equipe.
Para fazer o acompanhamento familiar, propôs-se o grupo de pais desses adolescentes
que ocorreria uma vez ao mês com duração de duas horas.
Para o bom andamento dos grupos, os participantes elaborariam as regras de
convivência. No início ou término do grupo (dependendo o horário em que o grupo ocorreria)
seria servido um lanche e a cada mês seria realizado um passeio como forma de incentivar a
frequência e o bom comportamento no grupo. No primeiro dia de grupo os adolescentes
seriam convidados a fazerem as regras, sugerirem lanches e passeios.
No decorrer deste projeto começou-se a perceber dificuldades entre a equipe
pedagógica da escola e equipe técnica do CRAS. A instituição escolar estava com
dificuldades em compreender qual era a função e os objetivos do trabalho realizado pelo
CRAS com os adolescentes em situação de vulnerabilidade. Estas questões trouxeram uma
reflexão sobre o motivo desses conflitos.
Percebeu-se, assim, a necessidade de se estabelecer um trabalho em rede entre CRAS
e a Educação, com o objetivo de aproximar as práticas das duas políticas sociais, a fim de
construir um trabalho integrado que favorecesse o público atendido. A partir desta reflexão, a
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

equipe do departamento de assistência social e do CRAS buscou auxilio supervisionado de


uma profissional da psicologia da educação, que trabalha na vertente da Psicologia Histórico-
Cultural, com a finalidade de repensar o trabalho realizado com os adolescentes e de tentar
estabelecer uma forma de trabalho em rede, respaldado por uma linha teórica.
Assim, surgiu a proposta de que o Projeto Socioeducação abrangesse três subprojetos.
O primeiro seria o próprio trabalho com os adolescentes em situação de vulnerabilidade
social; o segundo seria o trabalho com as famílias destes adolescentes e; o terceiro seria o
trabalho realizado com os profissionais da educação que atendem também esta demanda.
Este terceiro trabalho seria realizado primeiramente através de um curso de extensão
oferecido para os professores da rede de ensino. Esta seria uma forma inovadora de se
trabalhar com professores, equipe pedagógica e direção. Seria oferecida uma oportunidade de
aprofundamento teórico por parte desta equipe e seria uma tentativa de que os profissionais
das áreas de educação e assistência social trabalhassem pautados na mesma perspectiva
teórica e, consequentemente, com o mesmo entendimento.

Reformulação do Projeto Socioeducação

Em 2009 os grupos eram formados por alunos da Escola Estadual Osvaldo Aranha –
Ensino Fundamental. Entretanto com o advento no município do programa governamental
―Pró-Jovem‖ que abarcou a faixa etária de 15 à 18 anos, o público do Projeto Socioeducação
passou a ser alunos de 11 à 14 anos que estudavam de 5ª à 8ª séries, reduzindo-se assim, o
público a ser atendido.
Para que fosse possível realizar um trabalho impar, como ressaltado acima, buscou-se
realizar supervisões com outro profissional da área da psicologia, que não faz parte do quadro
de funcionários municipais, e nem estaduais que exerça atividades no município.
Todo o planejamento realizado a partir das supervisões iniciadas no final do ano de
2009 indicou a importância de adotarmos uma teoria que respondesse as angústias da equipe
técnica, e que baseada em tal teoria, fosse possível elaborar alternativas e um trabalho
diferenciado, sendo a concepção Histórico-Cultural a escolhida pela equipe, e cujos
fundadores e principais teóricos foram Luria, Vygotski e Leontiev.
Dessa maneira foram reformuladas as entrevistas diagnósticas que foram elaboradas
para serem aplicadas com os adolescentes, a equipe pedagógica e a família, de forma a
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

compreender o adolescente nas suas relações visto que entendemos que o homem se
(re)constitui a partir das relações sociais que trava em sua realidade objetiva.
O objetivo do projeto consistiu em proporcionar o desenvolvimento das Funções
Psicológicas Superiores por meio da sistematização conceitual, atendendo a proposta do
CRAS a fim de promover a Socialização e Convivência, fazer o acolhimento, trabalhar a
vulnerabilidade e a demanda da escola no que diz respeito aos supostos problemas de
escolarização destacados pela equipe pedagógica e direção.
A fim de compreender melhor este objetivo, para os grupos de adolescentes se propôs
um trabalho enfocando o que Vygotsky (1996) denomina como desenvolvimento das funções
psicológicas superiores como memória mediada, percepção dirigida, linguagem conceitual,
atenção voluntária e controle voluntário do comportamento. Todas as ações desenvolvidas
com o grupo de adolescentes tiveram como eixo norteador o conceito de ―família‖, do qual
derivariam outros conceitos como sociedade, história, indivíduo, comportamento,
aprendizagem, etc, possibilitando dessa forma o desenvolvimento da consciência articulada
com a elaboração de planos, metas pessoais e coletivas e a capacidade de objetivá-las de
maneira organizada.
Os adolescentes participantes do projeto deveriam ser indicados pela equipe
pedagógica da escola e/ou equipe técnica do CRAS interessados em participar do projeto,
estando dispostos a mudar seu comportamento, apropriando-se da capacidade de
planejamento por meio dos elementos presentes na realidade.
Para alcançar os objetivos seriam trabalhados temas que proporcionassem condições
para que fosse realizada a passagem de conceitos cotidianos para conceitos científicos, o que
seria realizado também com o grupo de pais. Com isso se esperava melhora no aprendizado
das crianças/adolescentes, visando a apropriação dos conhecimentos científicos como
instrumento para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores.
Para o grupo de pais se propôs um trabalho de discussão e reflexão a fim de abordar os
problemas vivenciados na família, com o intuito que eles mesmos pudessem encontrar
alternativas para superação destes. Tanto com o grupo de alunos como de familiares a
proposta teve como meta o ―fazer junto‖, o ―fazer coletivo‖, de modo que coordenadores e
participantes deveriam estar envolvidos diretamente em todas as tarefas propostas. Assim
como o grupo de adolescentes, o grupo de pais teria como eixo temático o conceito de
―família‖, sendo que o trabalho em ambos os grupos se dariam em paralelo, ou seja, o que
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

fosse trabalhado em um, seria trabalhado no outro, de forma a promover um trabalho


integrado.
Com o curso de extensão, se propôs trabalhar a Psicologia Histórico-Cultural com os
profissionais da educação (professores e pedagogos) a fim de proporcionar amparo teórico
para a resolução de problemas enfrentados na escola e que acabavam por ser encaminhados
para o CRAS. Este trabalho buscou estabelecer um laço teórico que respaldasse ações
coletivas entre CRAS e escola. Ou seja, instrumentalizar o corpo docente a fim de
proporcionar maior envolvimento entre os profissionais, estreitando, dessa maneira, o vínculo
para o desenvolvimento de um trabalho conjunto.

Execução do Projeto Socioeducação

Em um trabalho coletivo, permeado por reuniões de estudo em conjunto com


professores da Universidade Estadual de Maringá e alunos participantes do LAPSIHC
(Laboratório de Psicologia Histórico-Cultural da UEM), referências bibliográficas
correspondentes à fontes primárias (autores fundadores da Psicologia Histórico-cultural)
foram lidas e debatidas, sistematizações foram feitas com a finalidade de obtenção do
embasamento teórico para a prática.
Ao início de cada ano foram realizadas reuniões com equipe pedagógica, direção e
professores da escola com intuito de apresentar o projeto e solicitar os nomes dos alunos a
serem trabalhados. Em seguida era aplicada uma entrevistas diagnóstica com cada
adolescente, após o mesmo revelar o interesse em participar do grupo de adolescentes. Sobre
cada aluno era realizada uma entrevista diagnóstica com a equipe pedagógica. A equipe
técnica do CRAS, em visita domiciliar, aplicava uma terceira entrevista diagnóstica com a
família, porque além de ampliar seu olhar sobre o adolescente, poderia conhecer a família,
convidar para participar do grupo de pais e iniciar o acompanhamento da mesma.
O grupo de pais continuaria sendo mensal com duração de, aproximadamente, duas
horas e no final seria fornecido um lanche aos participantes. Já os grupos de adolescentes,
com a mesma duração do grupo de pais, contemplaria, como já dito, a faixa etária de 11 à 14
anos, havendo dois grupos de 15 participantes cada: um no turno matutino e outro no
vespertino em contra turno escolar. Os dias e horários destes seriam acordados entre os
participantes e a equipe técnica do CRAS.
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Nos grupos de adolescentes também seriam servidos lanches que poderiam ser os
sugeridos por eles, assim como haveria um passeio a cada dois meses relacionado ao assunto
abordado na ocasião como forma de ampliar o conhecimento sobre o mesmo. Estes dois
recursos, lanches e passeios, seriam incentivos aos participantes serem assíduos e terem um
comportamento adequado durante as reuniões.
Na primeira reunião se explicava o projeto, seu objetivo e o funcionamento. Discutia-
se o melhor dia e horário para execução dos grupos, estabelecendo-se o contrato.
O contrato com os grupos de adolescentes era realizado conjuntamente. Os
adolescentes elaboravam as regras, sugeriam lanches e passeios. Durante todos os encontros
as regras ficavam afixadas na sala para ficar a vista. O combinado era que a cada três
advertências em um período de dois meses e/ou um número expressivo de faltas resultava na
perda do direito ao passeio deste participante.
Todas as reuniões eram planejadas e sistematizadas previamente pela equipe técnica,
sendo que o eixo ―família‖ foi trabalhado na perspectiva conceitual, buscando discutir de
diversas formas o mesmo tema.
Como há várias formas de aguçar a curiosidade, e como os alunos acompanhados,
muitas vezes apresentavam dificuldade de aprendizagem e de se interessar pelo conhecimento
formal, o grupo se propunha instigar o eixo proposto, por meio de várias facetas. É preciso
ressaltar que os temas e atividades dos grupos de pais acompanharam o de adolescentes, tendo
como eixo também o tema ―família‖.
Como exposto anteriormente, a sugestão do curso de extensão como o terceiro
subprojeto do Projeto Socioeducação, surgiu com o intuito de melhorar o trabalho em rede e
minimizar os problemas entre a equipe técnica do CRAS e a equipe pedagógica da escola.
Entretanto a primeira proposta apresentada não obteve muita adesão dos profissionais da
educação. Nesta, os próprios profissionais do departamento de assistência social ministrariam
este curso. Esta questão foi discutida em supervisão, onde foi realizada uma reformulação,
criando-se uma segunda proposta, em que os temas seriam expostos por pessoas indicadas
pela supervisora.
Em 2010 foi realizada uma reunião da equipe de assistência social e da educação, a
fim de que se fosse apresentada a proposta de trabalho em rede e qual a importância deste
trabalho.
PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

Após esta apresentação, muitos dos presentes elogiaram a proposta e parecem ter
percebido a importância da comunicação entre os departamentos de assistência social e o de
educação. Assim como concordaram e acharam interessante a proposta de um curso de
extensão para se capacitarem.
O trabalho pautado na Psicologia Histórico-Cultural visou proporcionar uma reflexão
acerca da concepção de homem e de mundo que esta teoria proporciona, a fim de que se
pensasse e fossem buscadas alternativas para uma nova prática. Além disso, buscou
minimizar a distancia existente entre teoria e prática, explicitar as contribuições que esta
teoria oferece para os problemas emergenciais da educação e da sociedade na atualidade e
delimitar a atuação da psicologia escolar a partir deste referencial teórico. Buscou também
propor ações educativas ou socioeducativas a partir desta abordagem teórica e promover o
debate entre os integrantes de instituições públicas como as Escolas Municipal e Estadual e o
CRAS do Município de Lobato.
O curso foi direcionado para professores da rede pública de ensino, e demais
profissionais da Educação do município de Lobato que tinham Ensino Superior completo ou
incompleto relacionado à Educação. Ocorreram encontros mensais de 4 horas presenciais
(totalizando 20 horas presenciais), e 20 horas não presenciais para estudo de textos e
elaboração de anotações. Os encontros mensais foram divididos em duas partes, sendo que na
primeira se dava a palestra e na outra, ocorria a discussão em grupos do que foi teorizado no
dia. Ao todo foram cinco encontros de 4 horas cada.
Este curso de extensão foi formalizado pela UEM, e teve como ministrantes
professores, ex-alunos e mestrandos em Psicologia da UEM, que trabalham na perspectiva da
Psicologia Histórico-Cultural. Além destes, também participaram a equipe do Departamento
de Assistência Social do município de Lobato e alunos do LAPSIHC (Laboratório de
Psicologia Histórico-Cultural) da UEM.

Resultados

É importante iniciar destacando que os resultados efetivos deste projeto poderão ser
delineados a médio e/ou longo prazo.
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Em relação aos resultados dos subprojetos de adolescentes e de pais, estes se


mostraram menos expressivos em 2010 do que no ano posterior, isto porque os grupos
tiveram duração naquele ano de julho à dezembro.
Um dos resultados a ser destacado em 2010 é de que houve adolescentes e pais que se
vincularam ao projeto e continuaram no ano seguinte, assim como incentivaram a outros
adolescentes e pais a participarem do projeto posteriormente.
Teve-se que já naquele ano foi percebida a importância de um embasamento teórico
aprofundado que norteasse o planejamento das ações, imprescindível para o alcance dos
objetivos. Desta forma, a equipe técnica se sentia segura por estar amparada teoricamente, o
que possibilitava a articulação entre teoria e prática.
Em 2011 o grupo de pais e de adolescentes tiveram início em meados de março e
término em dezembro, sendo que os resultados alcançados foram mais efetivos. Pode-se
delinear que nos grupos de adolescentes o número de participantes assíduos aumentou
consideravelmente. A equipe técnica do CRAS avaliou que os lanches e passeios poderiam
estimular a participação dos integrantes nos grupos, porém não foram considerados elementos
suficientemente incentivadores. Com isso, a equipe técnica do CRAS concluiu que grande
parcela da responsabilidade nesse resultado consistiu em que os adolescentes estavam se
vinculando ao projeto, como também, possivelmente, tendo uma melhora na apreensão dos
conteúdos ministrados e, consequentemente, ocorrendo o desenvolvimento das funções
psíquicas superiores.
O comportamento geral dos integrantes dos grupos de adolescentes no início do
projeto era caracterizado como indisciplinado, o que interferia negativamente no
desenvolvimento dos encontros. Entretanto, com o decorrer do ano o comportamento geral
sofreu alteração, de forma que os adolescentes mostravam-se disciplinados e interessados nos
conteúdos e atividades, sendo a disciplina fator fundamental para aquisição de
conhecimentos. Pode-se verificar que fora um grande ganho para o desenvolvimento do
projeto. Dessa forma, isso pôde indicar que os adolescentes puderam desenvolver o controle
do comportamento, que compõe uma das funções psíquicas superiores.
Em relação ao grupo de pais, o número de participantes foi praticamente constante,
demostrando uma vinculação destes pais ao projeto. As técnicas do CRAS levantavam
questões a serem refletidas pelo grupo que discutia e encontrava soluções, ocasionando que os
participantes faziam reflexões sobre as próprias vidas, na tentativa de solucionar problemas
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reais que enfrentavam. Como resultado, pode-se inferir que os encontros possibilitaram
reflexões importantes para que as famílias pudessem resolver e enfrentar seus dilemas.
Mas outro resultado também se configurou no grupo de pais, em que muitos deles se
vincularam à equipe técnica do CRAS de forma que procuravam essa unidade pública para
buscarem soluções para problemas enfrentados na dinâmica familiar. Isto facilitou o
acompanhamento das famílias que tinham adolescentes inseridos no projeto.
Ao final do ano de 2011 propôs-se aos adolescentes que fizessem uma apresentação a
seus pais, assim como se sugeriu aos pais que fizessem presentes para os filhos para entregar
no dia da apresentação. Para esta apresentação foram realizados encontros extras com os
adolescentes, contando com a presença da maioria deles.
O dia da apresentação fora o dia da confraternização dos grupos. Nesta, foi
demostrada a eficácia dos grupos naquele ano: praticamente todos os pais e/ou responsáveis
estiveram presentes e presentearam a seus filhos; todos os adolescentes fizeram belas
homenagens aos seus pais e/ou responsáveis; a equipe técnica do CRAS construiu vídeos
demostrando como foi o decorrer do ano, os quais foram realizados com o material produzido
pelos próprios grupos; por fim, foram mostrados vídeos dos pais homenageando os filhos e os
filhos, seus pais e/os responsáveis.
As relações entre a equipe pedagógica da escola e a equipe técnica do CRAS se
estreitaram de forma que um trabalho em rede começou a se delinear.
Acerca do curso de extensão não se pode afirmar que o objetivo de se estabelecer um
trabalho de rede e da apropriação teórica da Psicologia Histórico-Cultural foi alcançado
completamente, visto que os resultados podem ser alcançados a médio e/ou longo prazo e
porque nem todos os profissionais da educação participaram.
Apesar disto compreende-se que esta proposta gerou ganhos e se constituiu como
importante passo para o alcance dos objetivos. Entre esses ganhos destacam-se as discussões
geradas pelo estudo da teoria que proporcionaram uma aproximação das concepções e
objetivos do CRAS e da Educação; a adesão da maioria dos profissionais da Educação,
interesse e comprometimento em participarem e refletirem sobre suas práticas.
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Considerações Finais

A execução do planejamento dos grupos permitiu que as reuniões tivessem uma


sequência, trabalhando com instrumentos histórico e socialmente construídos, fazendo
mediações com qualidade, podendo-se inferir que se estava promovendo o desenvolvimento
das funções psicológicas superiores nos alunos e pais.
Quando se tem clareza dos objetivos e finalidades de cada atividade proposta, estas
também se evidenciam aos participantes, o que demonstra efetivamente a importância da
correlação entre sentido pessoal e significado coletivo, tal como exposto por Leontiev (1978).
Pontua-se a importância de sociabilizar uma atividade que foi efetiva na aproximação
dos trabalhos do CRAS com a educação. Destaca-se também a importância de que outros
grupos de trabalho tomem a mesma iniciativa e que sociabilizem suas praticas desenvolvidas,
uma vez que devido a recente implantação da política do CRAS, ainda são poucos os
trabalhos publicados que relatam experiências nesta unidade pública.
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Referências

Caderno SUAS I Assistência Social (2007). Sistema Municipal e Gestão Local do CRAS.
SETEP.

Facci, M. G. D. (2004b). A periodização do desenvolvimento psicológico individual na


perspectiva de Leontiev, Elkonin e Vigotski. Cadernos Cedes, Campinas, v. 24, n. 62, p. 64-
81.

Leontiev, A. N. (1978). O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte, 1978.

PNAS, Política Nacional de Assistência Social. Aprovada pelo Conselho Nacional de


Assistência Social por intermédio da Resolução nº 145, de 15 de outubro de 2004, e publicada
no Diário Oficial da União – DOU do dia 28 de outubro de 2004.

Vygotsky, L. S.; Luria, A. R. (1996). Estudo sobre a história do comportamento: símios,


homem primitivo e criança. Porto Alegre: Artes Médicas.

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