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O processo de descolonização de Timor Leste

Foi a paisagem
Que me afundou.

A pouco e pouco
Os homens içaram-me.

Milagre? Não. Foi só amor. Assim Timor,


Os Timorenses.

Ruy Cinatti

Os portugueses que chegavam a Timor Português para cumprirem uma


comissão de serviço militar, além da bagagem, traziam a ideia de uma metade de
uma ilha sobre a qual, além de um promissor exotismo oriental das suas mulheres,
nada mais sabiam, exotismo que afinal nem sequer sabiam bem em que consistia: se
estaria na sua sensualidade ou na licença dos costumes pois raros haviam sido os
portugueses interessados em conhecer os povos das terras distantes embora
houvesse, desde os primórdios dos Descobrimentos, abundante literatura sobre os
empreendimentos marítimos, conquistas militares e de proselitismo religioso, sua
administração e ainda sobre o mundo ultramarino onde muitos portugueses viviam
há séculos. Sobre esse mundo onde há séculos viviam muitos portugueses, a
consciência histórica estava na historiografia oficial centrada sobre os rituais da
soberania e os seus mitos, não tendo em conta os que na luta pela vida se haviam
espalhado pelas colónias. No que se refere às tradições literárias portuguesas
vigentes, Hernâni Cidade, António Baião e Manuel Múrias, em História da Expansão
Portuguesa no Mundo, dão-nos conta de que no que se refere ao Ultramar a
contribuição do Romantismo foi pobre em novos interesses mentais e
desinteressada do «heroísmo obscuro do colono», assinalando também que a escola
realista não provocou novo interesse pela vida de além mar. Foi-nos pois necessário
esperar pelos escritores que se debruçaram sobre a Guerra Colonial para que
surgissem nas Letras Portuguesas as vivências de um mundo espoliado face ao
processo da globalização capitalista, inaugurando um novo discurso histórico em
que a função da memória vai no sentido de desvendar o que tinha sido escondido
pelo poder na metrópole, mas em que os colonos e o seu destino entram numa nova
fase, a de um condicionamento do discurso sobre a sua condição, por imperativos
políticos, de modo que esta nova fase não foi capaz de produzir uma literatura nem
sobre a sua antiga, nem sobre a sua nova condição. O processo de descolonização
que tem início com a Revolução dos Cravos irá provocar uma crise de identidade,
dilacerando-os entre os vínculos à Mãe Pátria e os fortes laços construídos ao longo
de várias gerações com os povos das colónias.

Quira Djamila da Costa Lopes


Os Timorenses (1973-1980) A Pedra e a folha, Joana Ruas
Crônica
Timor Leste

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