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0s génezos Iterdrios Para fazer um balango desse ripido exame da} dramitico, podemos reteralgumas idéias domi » género dramitico ¢ claramente: 1c2s 8 numerosos signos distintivos, a tempo estruturais e “podticos”, entre a cenunciaglo em primeira pessoa cle se ramifica em diversas formas ¢ emi niveis de hierarquia: a tragédia, 2 60 drama, eles préprios divididos em eat mais estreitas, tragicomeédia, farsa, melod por exemplo; de todas as formas dramatias, a tag sremitornando-se, dswezessimples sales da historia liters génesp dramiitico, de origem muito antl ‘matitém-se com muita vivacidade, porém ante livreyn’’poca contemporinea; crffmsrésta a questio de saber se 0 genera: ritico pertence de pleno direito & literaturag ‘Certo, de qualquer maneira, que seu €ampOr 3 © ROMANCBE O GBNERO NARRATIVO 1 0S FUNDAMENTOS DA NARRAGAO 1. As primeiras definigées do género Antes de evocar 0 caso especial do romance — a asta até mesmo a coisa aparecerio tardiamente — convém falar da forma literdria& qual ele pertence, a narragio, Aristételes, em sua Pética, pBe a uma mimese ra qual as personagens sio representadas diretamente (0 dramatico), uma outra forma de imitagio em que a agio € contada por um narrador (0 narrativo). Nos dots ca- sos, uma diferenga de grau € introduzida pelo modo — os niveis superior ou inferior —e por uma diferenga de cnunciagio, podendo a narragio sr feta em terceira ou primeira pessoa (ef Cap. 1). Lembremos que, em seu tratado, Aristtees leva em consideragio apenas as obras em verse, entre las, uni B Os génerosliterdrios 7 coment as que representam agdes humans ou Sees ie manos, Iso esti muito longe das obras narativas maga nas, porém as consderagBes do tedrico grego nos perm tem, ainda asim, estabelecer alguns principios de base ro gincro ds naratva. Esse pode ser reconheeida por uma representacio defasada, mediatizada ni direta, como no teatro (na narrativa, 8 all ada); « presenca implicita de uma vor, que € de Rafa préprio nome ou confunda-se qm a uns parieuaridade q twecho de A Replica de Rlatio @93d= Jo una diverge ntres dos tte leva Pitio preeyo distinguir — eo \er68 surdnonies, diriamos — a narrativa pul atvas das quais estiodgusentes os dslogos), represen ad pp digi rratica mista (em que narrates ce dislogbilgeaernagyftal como a epopéia, Eis 0 tex A poesia flegio comportam uma espécle oma pletmrente imit 2, isto €, como tu disseste, ata lia ea comédia; e depois, uma segunda, que com 0 romance e 0 género narrativo siste na narrativa do préprio poeta; tu poderis cencontri-la no ditirambo; eg@hFinij uma terceira, formada pela mistura das digs outrasydela server- sena epopéiae emyi¥ersos outfOs géneras” A Replica, 394, op. ct. Aristdteles abaindona essa distingSo ou, melhor, considera-a cOmo um, caso piFticular (sob a forma de uma alternativa expresta entre parénteses na passagem anteriofmente citada) de um género Ginico, 0 género narrativo, De tefhirio, o sistema transforma-se, portan- +oyem binério, como bem lembra Genette A triade platdnica (narrativo, misto, dramitico) € substituida pela parelha aristotélica (narrativo, dra- imitico) e isso no em razdo da perda do misto; €0 narrativo que desaparece porque inexistente, € 0 misto que entroniza 0 narrativo, enquanto nico Ineoduig ao arguitent, op. eit, p. 107. Em relagio a isso, outra diferenca entre Platio e Aristteles diz respeito a0 estatuto da mimere, Para o au tor de A Repablica(livro TID), a mimese $6 existe com a condigio de o poeta apagar-se para dar a ilusio de uma imitacio perfeita, como € 0 cas0 no teatro. Ao contrério, quando © poeta fala em seu nome, numa narrativa em. que nio se alternam dislogos, encontramo-nos diante da 75 Os géneros Iterdrios diigo, Essa dstingio nio é mais vista na obra de teles, para quem toda criagio literdria que ref Se hi um ponto sobre o qual os dois filésa cordam, ele esté no fato de considerar Homer cexemplo mais representative do modelo m através dele, um tipo de obra particular que del 2. Acpopéia eo género épico * Definigio da epopéia No capitulo V da Poéica, Aristteles dete mente na descricio da epopéia que, segundo! cstruturalmente diferente dagt@@@ia, a difereng A cpopéinests jormidade com a trai pelosiato de se imitacio de Renméns nobres mi haFtisa versificl; mas o ato de que ela emp lum metrojunitormee é uma narracéo tora am Alecests.F cls sio diferentes pela extensio dead tenta, tanto quanto posse desen@ se durante uma tnica revolugio Solar ‘nouminimo, nio se dstanciar muito disso, 30 pail ue a outra, a epopeia, no tem limites temporal A Pouca, 1449), op: 0 romance e 0 género narrativo A partir dessasobservagies,terfamos condigbes de caractersar a epopéia, ue deve — um nivel cle epee Cie «lo de homfns nobrefiy clo a ia, — uma exptessio,yersifcadajregular, uma forma narrativa (a agio é contada), — umslextensio sufichite, uma forma alongada; — uma liberdad na utilizacio da temporalidade A eXtesietiterios convém acrescentar ainda mais bis, expressos em outro tratado: a pluraidade da agio: “Chamo de agenciamento pico aquele que comporta diversas historias” (14569) — a utilizagao do irracional: "A epopéia admite ain- dda bem mais (do que a tragédia) o irracional, que & 0 melhor meio para suscitar a surpresa, posto que nio se tem diante dos olhos a perso- nagem’” (14603), A etimologia da palavra “epopéia” permite chegar perto de uma primeira definigio. A palara grega épopoia composta pelo substantivo épor (aquilo que é expresso pela fila) e de um derivado do verbo poen (liver, fabri- car), Assim, pode-se dizer; n Os génerosliterdrios “A epopéia €, portanto, a formalizagio de umal primordial esencial — o pos —, proferid poetas primitivos que dizem a génese ea verdad D. Madelénat, Diciondrio dos tera ‘erbete “Epopéia op dl a representa;io des fundamen aa tama a ee a iak nee mente no terreno do imaginsrio maravilhoso. pois de Boileau, o bade Batteux, tedrico do séeula fou de nareatia podtica de ums Re herdica ss detinig6gs moder por exemply licionsrio de lina franesa Reber 2 pocms &m que o marasilhos@ mistura-sea rdairo ¢ cujdlobjetivo € a celebragio de umm Bers ou deg grande.” 0s Melos cailcos da epopéia sio, evidentan mente, A Hfi@A Odisio, mas também a erage anteriores andnimas, como A epopéa de Gilgamesh, que eontay6s Feito ilgamesh, que reinou sobre & 1600 aC), O re 0 gi romance ¢ o género narrativo + Estética da epopéla Preci eS ee {oF um tom e qu pod atta reas em GED 5 prooragincteaet amen eee Shc Fiddles nc. deter sobre einco catacteritigas AGREED er terr0s de naratologi iagerna, Miariarios devi ipae detest (. PGE), ou de foclzagio zero (G. Genet- te). A cpopéia, amplaments fread pels fore ‘nas ds orlidad, exprime-se pela vor de um matérae faz com que ela se extenda em fungéo recursos de va inane GEER pops, primeiramente, é uma narrativa em verbs: Podesta cxprima através dial ee caso da passagem da carga dos couraceiros em Waterloo n'Os mises (U1, 04 868 monblo= gps do vice-et da Espanha em O sapas deci, de Claudel (eres jormid) mas trata fs bretudo, de passagens animadas por um “sopro épico", no interior de um romance ou de uma peca. A veriicagio, 20 mesmo tempo em que acrescenta algo ao valor oratério do texto, tam 9 Os géneros lterdrios bem sustenta a meméria do rapsoda oi timbanco encarregido de decamar a i -GEEEED: crtico proplitha-se a tabular pels ebiboracio de untateoria da andlise na qual ents vets clementgsuscet de enriquecer nosa desery russos e dang Reclamandla heranca conjugada ds formal i i Dobbie Maric sobre anil 1 — ma igs bales de Gina TO vor Cagle podem vr erie olga 88 0 romance e 0 género narrativo — A enunciio: do autor, cujo nome ests escrito so- bre a capa do livro, deves€ditinguir 0 namador, 1rregida de contararhistéria, Com cexcecio do caso ¥autobidgai, autor enarra- dor nio se Gonfundenifda mesma frma que 0 enor (petsonagem,yiFtualique ler 0 livro) no pode ser tdentficado totalmente ao naracrio, insingia 3 qual se leca a narratva — A natura di maroc: tomar-se-6 0 cuddado de istinguir entre aig ou diese consttuda pelo rmundosinwentado da narrativa (os formalistas rusos flavam, a esse respeit, de “fabula"), ea ranagio, que € 0 igo escolhido para traduze ssa fiegio, € © papel das personagens, como bem disse um comentador: ‘De certa manera, toda hindi € hit de perona- gers Por isso, aandlise destas€ fundamental e mobi- lizou tantos pesquisadores.” ‘Yes Reuter, Inrodugo andl do romance, Dunod, 2*ed., 1996, p. 51. A fim de escapar as caracterizagies psicoldgicas, 0s anolistas, fundamentando-se no estudo do folelore,iso- lbram certo miimero de “fungbes" asseguradas pela per sonagens no processo narrativo, Essas “forgas ativas” foram chamadas de “actantes" e repartem-se em trés 89 Os géneros literdrios 9 pares: objeto/sujeito, destinador/destinatéia, te/oponente, A anilise “actancial” esforga-S6 Ficar as personagens a partie dessas FungBes (Gi Seméntica etratural, 1966) —0 sistema narra: 0s formalistas Fuss ram a faver com que correspond seqiéncias da anslise um certo nero de as “fungdes, como as nomeou Proppy rando trinta€ uma fungGes para 0 conto (orf to, 1965). Numa vi situamse as pesqusas de Claude Bi se dedicou ao levantamento de ut (Os modos da marae: que tipo de pa orienta 0 romancegiGenet@propés uma cacio, hoje amplamente difindida, emg} bildades: a focal (quado 0 piscine), a focaliaciovintetia (quando @ For contaatravés do que sabe € v8 0 gem)jeafocallagio externa (quando a fea por um narRidor que sabe menos do q peronagens)(Genette, Fgura Il, ap. at) 0 romance e 0 género narrativo IIL © ROMANCE E SUAS FORMAS o~ L.Apalavracogénero | ~ if © romance, fama iteeiia dominanse hoje, & um so neat gc lteter «as da epopéia das URS formas de narratvsprimit- +5, como sugere Picrre Charter “Esse futtzo Rrdeiro, portanto, suposto filhote Fejcitado da epopéia, parente e primo pobre dos outFO¥ heros, mio teve exstenca legal, em esta~ do civil, durante a Antiguidade. Disse que ele nio ‘eve nome, nem existéncia? Ou seré que, a0 contré- rio, tera ele tido existéncia méltipla, multipicada?” Irodugdo ds grandes tories do romance, Dunod, 1990, p. 21 0 comentadorcita Pierre Grima, que pereebeu a enistenca do romance na Osa, primero romance de aventura, em Herédoto, no que diz respeito a0 relatos histéricos de valor romanesco, no discurso mitoldgico aque conta “bela histéras”. (A tegonta, de Hesiodo.) esses diversos exemplos, no entanto,parecem remeter ‘mois a uma literatura narrativa,claramente atestada por Aristétels, do quea um gnero em que vir sereconhe= cer nosso futuro romance. A Antigudade oferece-nos de fato bons exemplos de epopeias, de narratias de mito, 1 cde produgaes mistas que introduzem dislogos (como Satncon, de Petrnio), mas nada que se trate realmente de “romance”, no sentido moderno. mance” aparece durante a Idade Média isso é uma particularidade importan= te para nosso assunto — no um contesido, mas uma es Apalivra colha linguistic, De fto, a Magus romana designa 1 falada, vernacular, “vulgae", por oposigta Sail na, lingua erudiae rebuscada, em que sio scr ‘obras sagradas. O “romance” ¢ inicialmente um modo) de expressio, um “falar” (encontrado nas chamadi linguas rominias”), antes de ser um tipo de gli lar, como a abra que ele designa, ela mesma de Mi que traduzida owadaptada do 1 entdo diretamente escritagima Ifigua no dba Durante muitos séulos (até aproximadamente a poe do Thuminismo), 9 romance softer cofleqiendia dessa heranca desigiante No mafiento de Wey nascimento, o romance nl tiraportnto, sua identfdade de uma forma literdia Alii, relatos e@rtos em liga romiinica so com mux ta freqiéticis redigidd’em versos, como os poemas hagiogrsticos\(idilde Sanco Alii), as epopéias excita lm versos,gctossilibicos de forma medieval (old) ‘Weongale Rolonio), ox 08 primeiros relatos de esti *roinesco” como O wmnce de Brut, Ena, 4 O romans 2 0 romance e 0 género narrativo cede Tra. O aparecimento da prosa nio modiicard a nature do “gener. Este tipo dlibraWbntudo, just lente porque marca uma ruptura.com aralidade, fun da progresivamente uma va rete, da qual proce- ders o romance modémno: recuis@a stuaciesuotidia- as, cuidado com a yerdssimillncapprioridade ao ind. vidal em detriment do coletivoy apie da narragfo, osxopels amplifiact rem tudo que vem do modelo épico é renga, mas esse desize em diregio a'um modo de representaco mals contemporineo e mais fntimo ence- ts 8 eonstiuigfo de uma forma auténoma. O aparec rmentogpor volta do inicio do séeulo XVI, de constru- ‘Ges romanescas como A Asay A Hist cic de Fan- pois, um pouco mais tarde, de Cla, O romance cinco, progsa de Cle, marca a ampliagSo do género que desabrocharia plenamente a partir do final do reino de Luis XI, antes de atingir um desenvolvimento hege~ rmdnico nas épocasseguintes 2, Uma definigéo dificil © reconhecimento do romance como genero nio € somente algo de incert, mas, também, tardio, como jf dissemos. Em sua Ane poética, de 1674, Boileau nio ‘menciona nem o nome, nem a coisa, Entretanto, quatro anos antes, Huet, amigo e conselheiro de Madame de 93 Os géneros lterdrios Lafayette, éum dos primeizos a tentar uma defini romance, citada, als, muita vezes ‘0_que se chama propriamente de romances histrias ings de aventura amoross, xc prosa, com arte, para o prazer e a instruglo dl tores.Digo hstriasfingids fim de dstngul dhs historias verdaderas;aerescento aventura rosas porgue o amor deve sero principal asunt6d preciso que els sejam escritas em pros, para qe «stejam em conformidade com o uso dest séeuas6 | preciso que sejam escritas com arte e sob cert reiras, pois de outra forma no passariam mn 2.00 egrats os romances (1670) reprodk ‘és sob vorance, org. de B Coulet, Larousse, 1992, p. 110, > tos dessa defiff€¥0 sio)eontestiveiy pereceram, ou nf@isio pertinentekal#€ interesante ss gostos propria que literatura romanesea comega desenolersse Observe-s€ que o romance ¢ define por umilfelagio ao il icc vrs realidad), por ml (histérias de amor) e por um objetivo estético e moral | WGgradat® instru) Huet no emite um julgamento de valor sobre 4. pois pare ratifi 4 0 romance e 0 género narrativo romance, quando na verdade sua época tomava-o como um género desprezivel e corrupsi¥él'Um pouco mais tarde, Dide avendo ade Richardson (1761), Pee OAT. novo crtério, a forcamoral e alublidade: or romance conprt@hdeu-se até os das de hoje um f@eidy de scontecimentos quiméricosefrivoos, ‘us letudlera ptrigosa para 0 gosto e para os cos- tues. Fu dedejri8 mito que se encontrasse outro nome pars ag ebras de Richardson, que elevam 0 «spirit que tocam a alma, que respiram por toda Bre o amor a0 bem e que também so chamadas Elio de Richardson, em Obras eticas, Classiques Garnier, 1988, p. 29. Retomando o tema do alcance do romance edifican- te, Diderot ilustra um modo do século XVIII que deseja subtrair essa forma nova is acusagdes de futilidade e Diversos romancistas (Crébillon, Laclos, Sade, 1c., € até mesmo Rousseau) declarario que se entre= sam a0 género com o objetivo de preencher uma fun- gio moral. Além do mais, a originalidade de Diderot € de deixar de lado 0 “quimérico”, preparando o advento cde uma estética “realista” indissocivel do efeito moral. Apenas 0s dicionsrios escapam 3 empreitada de rea- bilitagio, Assim, por exemplo, o Ltt 95 Os géneros literdrios ‘Hist fingida em prosa, em que @ autor busea o interesse pela pintura das paixBes, dos cos pel singularidade das aventuras Trazendo, como novidade, a introdugio de temitica ampliada e de les estétcas. Ou como 0 ‘Obra de imaginac3o em pros, bastante longa 1 vver num certo meio personagens ever sua psicologia, set Podemos partir desse texto para uma re 3. Estética do romance Se descartigos seu valor moral gu seu cardtee utlidadgs critéF pouco interestantes para a deg iggeitética —, admitizemos que o romance pode: reconhecidasp6r cinco pOntos precisos + Uma eterita entiprosa Sabemof que essa lei, hoje indiscutivel, marea rupnifi com a origem do género. Por outro lado, es fos pode ser de naturesa “poética”, o que enfraqueces 96 0 romance ¢ 0 género nareativo canacterizagio, em particular para a literatura moderna, {que aboliu parcialmente a distingl®entREprosae poesia, “Otago % Huet e Liteéfalayam de “higtoriiingida?; Robert, de “obra de imaginagtote Sha précso enti descartar «lo pinero tudo 0 que € relago de atosautétics, jor- sulin, hist, ponexemplo. Mas af também as cosas to 840 to simples. Ipimeros romances misturam 0 real eoficticio assim, por exemplo, no “romance histé- rico” (un Mie exerplo: em Yrdo de 1914, de Roger Minin du Gard, temos o relato extremamente fel do swsssinato de Jaures...paralelamente a aventurs inven= tudss). Por outro lado julgara*verdade” de um roman= ce é escolher limitar sua apreclagio estritament® a0 awn", © que seria equivalent afaer de Gime ect ‘iyo um romance poical, e de Experange, uma reports gem jornalistica. O dicionario Robert estabelece sobre onto uma nuanga, posto que reconhece que at personagens so “dadas como reais", Aerescentemos snd que a fcgto pode também se aplicar 20 teatro € mesmo & poesia para contornar a ambighidade que a 2 duas pala: nove, que recobre o so proxima da realidad, e many, para as obras em que domina a imaginagio. Os géneros literdrios + Ailusio da realidade Independentemente de seu asunto e de sua de o século XVII mente de outras formas narfat de”, o romance, especialmente deseja — diferen (cpopéia, conto) ou da poesia — reprodusir 0 real e acontecimentos plausivels, Para os anglo-saxBeg romance nasce, de fato, com Robinson Crusoé (1714) io caracterizada por uma vontade de “realismo™ey modelo da nove. + Alntrodugio de personagens Eases tm, com sem toda arti ial na organivacSo das hist6ras, Iniialmente um tipo convencional, a personagem, a @ od XX, singularia-se incesagugmente 60M bre sio interesse romanesg® (ao mesmo tempo que se atenua a dimensSo henbica). OoMance moder no desjaé prockmar a “mor ai fsorlem aaa ‘ionando aquilo Ge\parecia constitu ua Signo distina tivo estiye Mas os dagues contra essa “nogio perecl da" (Robbe-Grillet) visti sobretudo, aos excessos da paicologs, e@'préprio Nouou Roman confirma a absoe uta neceigidade da peffonagem. A descrici® Muit® Sobriamente, o Robere evacao “meio” em que ‘vivBe evolu a personagem, sugerindo por a indicios de 98 0 romance ¢ 0 género narrativo representagio desse meio com 0 concurso das técnicas da descrigio, Originalmente, a dedcrighdtestéausente do género narrativo, que consiste essencialinéRif@jem contar acontecimentos, Hojéaindmuitos concordam em reconhecer 3 dascrigho apenas um Tagari#€cundrio, Fntretanto ela impose pfogressivamente como um ‘cio paraiautentigar a nagzatiya (pela introdugio do ‘ito de real) paraembelezar (pela uilizagio expres- siva dos elements eXteriores). A tradigho realista do século XIX vai ignpor © procedimento descritivo como ‘una mancitade preencher © melhor possivel a missio niet da arte: “No descrevemos mals por descrever, por um capricho ou por um prazer de ret6ricos”,escre- 1 Zola, precisando que seu objetivo era “completar © determinar © mundo” (0 romance experimental). ssi enumeragio merece ser completada por alguns critérios que parecem faltar 3s definigées tradicionais, 'Nenhuma delas menciona, por exemplo, a fungio — entretanto evidente — de ontar uma istéria”, Sem dhsida porque esse trago aplica-se mais § narrativa, da so romance seria mera subcategoria, tal como se deiou supor. HS também 0 esquesimento daquilo que chanamos de “romanesco", tendéncia a fazer com que Jeslzem para interior do romance elementos que ape= lam para o sentimento e a imaginagSo. 4.1 0s géneros lterdrios im género incémodo © romance ¢ incdmodo de duas maneiras, ramente, enquanto parasita, dado que seu hugae logia dos géneros nio € originalmente reconh Lak sho pelo beneficio de uma filiaglo comple 2s nem sempre leitimas. Depois, enquanto sor, posto que se tornou, na familia ie os (na qual ele entrou por forg), 0 gener ws, hegemidnico, que esmaga quantitativa eg Sua heterogeneidade tem levado, portan ro lugar, a contestar sua qualidade ge falar de “forma romanesca Bakhtin, jonava-se sobre esse eto le continua sendo cielo nt entre out ij tenta-edeteringal Jaygnerosctituids, tentase descobrr ae GA vm pario igo que seria um sistem de indice estiveis eieguros. Na grande mali {Gs 38 pesquists sobre o romance acabamm POF cenigar edeserever 0 maior nimero possvel de varied, mas no final ds contas jamais uma formula de sintese do romance enquanto +. Ou melhor: os pesqusadores no consegue terminar um nico indice preciso eestivel do, 0 romance ¢ 0 género narrativo romanesco, sem que acabem fazgndo alguma reserva que, epentinamente, redwasse indice a nada.” Eig ¢teoride gen NGallimard, coli*TeP*WU9764p. 466. Eo especialitarisso enumerdialgunédesses indices ecepcionantes a tultiptiidade dos planos, a gravidade do problemi temitica afior68, a utilizagio da prosa Nevhum déises copstituintes, final, deixa de poder cr qiltstionado pr contra-exemplos que o desqualif gucm, Migthe Rabert fala assim a propésito do roman- €@, ce ginero “ndefinido” e, em certos casos, até mes- ida 0 impede de utilizar para seus préprios fins a descrigio, a narragio, © drama, © ensaio, © comentirio, o monélogo, o discurso; nem tampou- co de ser a seu bom grado, de maneira intercalada ou simultinea, fibula, histéria, apélogo, iii, cr®- ca, conto, epopéia.” Romance das origens e origem do romance, Grasset, 1972, p. 15. a época cissica (de 1600 a 1750, aproximadamen- te), muitos se questionaram sobre os fundamentos incer- Jo “género romanesco” que no apresenta, como screveu Michel Zérafla, igénese clara distinta, pri Pios esabelecidos, nem regra estéticas”. (Diciondno das ras de lingua francesa, verbete “Romance”, op ct.) 101 Os géneroslierdrios Nada de comparsvel a tudo 0 que diz respeito tras epopéia. Boileau, como dissemos, ni julga necessirio tatar do romance, e 0$ tebricos que jm depots dele limitam-se a Faser do rau popéia decaida", uma narrativa “ealista”, uma fom 1 todas as situagies humans em todos 0s fatos ou estruturas sociais, em todas as FOFmail (OM. Zéraffa, art. cit) Essa plastiidade da forma romanesea explies Sm divida seu sucesso nico. Marthe Robert, debrugando= flexivel “que se apé moderno, apes das origens nd historiadaR@igens que as proprio romance, é Wa verdade, Un rou 00 murda als, dew cemo © uc, em meio 20s genera Secularmen cstabegsidos epouco a pouco pee suplantadai afc um poucdleomo um nove-rico ou Un aventyo. (..) Pigando de pénero menore tieldgattums forma dotada de poderes provave te semprecedntes, cle é agora praticamenteo ti a reinar dai teria (.). Com ess iberdade ingustacor cu nica lel € expresso indefinidag stance, que abolu de uma vez por toda a. ‘casas literirias — a dos gneros clissicos D romance e 0 gé V0 0 romance e 0 género narra pra-se de todas as formas de expressio, explora em seu proprio proveito todos 68 prod@imentos, sem sequer precisarjusificar 0 empregoiqu@'es fa.” Op. cit, ppr 12a 14. Duas questi parte Gnfupdit-se assim: seria © romance; realmenteyuum géacroQue definigio se pode dare? As tetativakpara responder a essa dupls ques- tio aabam costumeramente na descrigfo histérca ou 1 catlgo Na ila Wed sole crtérios pertinentese indis- ita variedade do ge- nero fe aesclha de descrever suas manifetagBes no cls, paves de dar conta dai tempo ou no espago. Para Finalmente coneluir que todas Finigbes Sio vs, como aconteceu com Maupassant: ‘0 critico que, apés examinar uma lista de oitenta titulos de romances, ainda ousa escrever: ‘Isso € um. romance ess0 no” me parece dotado de uma pers- Picseia que se assemelha demasiadamente & incom= peténcia.(..) Qual dessas obras é um romance? Quais si essas famosas regras? De onde vém elas? (Quem as estabeleceu? Em nome de que principio, de que autoridade e de quais raciocinios?” Preficio a Pere et Jean (1887) jo de fraqueza, senio de incompeténcia — que defini, aqui, € classifi- Pode-se, portanto, dizer — confi P liver — cor 103 0s géneros lterdrios car 0 que ther justifique 0 esa romance € um géncro devido 20 fo de péneras” (M. Zerit 5. Tipologia romanesca Para nio se entregar desordenadamentel J dos romances, pode-se fxs » em torno de ts critérios em fungio do q delimitar as variantes q ubdivigGs so tas enti a sto da agfo, da naturegs Bato ecimentos, da AEIE3O gens, mo no caso domegutfice Ge a omance Pical, romance de espio ce oi, MB: classficagio mais La gabe principios de escrita ou d Psigf, sobre uma estética de escola novimento: romance autoblogrifico, epistolr, romance de primeira pessoa. 0 romance e 0 género narrativo Percebe-se que as separagies entre as categorias S50 frigeis. Um romance fantasticgl@’eo porque a agio escapa ao racio inscreve-se na tradigag@O mister que 0s procedimentps liter por tudo iso Mp Mag adfhalih onaeetaer dn elai= ficagio,por nagidy tio estéil quanto ingénua (romance uso, romance faponés) Stance inglés...), ow em fungio do pablico (Romance para criangas, para moci- haste)? ‘Ni posse, aqui, entrar nos detathes de eada um esses subgéneros romanescos;€ possivel dizer apenas potas palavras sobre os mais importantes. + 0 romance herdico Verdadeira epopéia em prosa, esse tipo de obra = shecew um considersvel sucesso durante o éculo XVII © romance heréico conta, em diversos volumes, num cst elevado, a histéria romanesca de personagens de sustre destino. Exemplos mais edebres: Le Grand Gs, hie, de Madeleine de Seudéry + O romance eémico £ wma narrativa divertida baseada numa mistura de realismo e de burlesco, de romaneseo e de parédia Scarron, com 0 romance cinie (1651-1657), produriua obra-prima do géner. Os géneros lcerdrios + O romance picaresco Esse modelo vem da Espanha, €om andninno Lacanlo de Tormes (1554), que pe + O romance por cartas ras, parcialmente ou inteiramente fi utlizadas, de certo modo, como vefeulo da aurent Versini, O romance epistolar) Entre o culo XVII e 0 romantismo, esse género 6 Je sucesso: Guilleragues, com Cart (1669); Richardson, com Clarise Harowe (174 2, com A nova Hoa (1961); Eels, com tralormagf de um ove “A va que leva dm rieimento dt mesmo” (Lakes) El domina das século XIX. (As uber peda cago senypental et.) 0 romance e 0 género narrativo + Oromance histérico le “toma a hist6ria ao peé daflétra, lzendo reviver Figura hstricasem seu quotidian segundO¥eu com portamento do passadat™(M. Z&taffa, op. ct). Depois de Walter Scot, ele se tornou uma especialidadé Wo género (Bala, Dumas, Vigny, VetorFugo ete). + Ocamance satobiogritico Aotgntirio dlautobiografa (cE Cap. 5), 0 roman ee scbiogsico n8o confunde autor e personagem; 0 rar busca &m sua prépia vida os elementos que vio slimentar seu relat. Assim em LBnfin, de Jules Vales, ove tae finda nate, de Céline. Nem todo roman ce escrito em primeira pessoa € autobiogréfico (por exemplo, Oexnangeo, de Camus). Esse modo enunciati- ho determina, ele proprio, uma forma romanesca. +O Nouveau Roman Tras tanto de uma escola (chamada de escola do olhar") quanto de um modelo narrativo que nasceu por volta do final dos anos cingienta. © Nouteou Roman, fem ruptura com o realismo e o humanism lteriios, feed narativa uma pesquisa, eda eserita, “uma aventu- "(Jean Ricardou). Os nomes importantes sio: Nathalie Sarraute, Alain Robbe-Grillt, Claude Simon, Miche! Butor. Os géneros literdrios A repartigio em subcategorias € uma eo rmetodolégica que permite aidentiicagio de facilita 0 que Bakhtin chamou de “dialogismo™ diversas obras € que Julia Kristeva chamaria ‘intertextualidade” (relagdo que as obras ent clas). Mas essa abordagem nio é de grande vals estabelecimento de uma definigio estével do 6 fato de “dividir, mais do que unifica Marthe Robert —, ela desencoraa a pesquisa ‘Em principio, hi, portanto, tantas sube nescas quantos meios, técnicas e situagg cconcebiveis, sem contar a enormidade de o prestarse a qualqucrcagiiagio. Assim de que se acrescente i quase vite subdi postas pelos dicionsrig tudogquilp quel romancisi ainda poderé pata xplorizpo dominio dilagile do pen nfl uando Hginarmos que js previmos dh permancceridjexistindo casos inclassifi = quim@ras” que se preciso encalxar 8 Fo Agu lar ow@htio designar por outro nome! Op. et cengenhosgad {Aformentado pelas tentagdes contrias da at (Bo em subcategorias incontiveis, muitas vezes a } 0 romance ¢ 0 género narrativo peas furuagdes do gosto da andlise naratol6gea, cuja indiferenga relativa aos Fundaméntos gRnéricos leva & confusio com a narrativa, 0 romances="@e além do rns €vitima ee um su€8585 Bomercle iterso que 0 torn: tio suspeito quanto fscinite Se apeenta assim esse patadoxo, que condste ser Unanimemente reco nhecido.come um nero, no sentido forte da paavea, © cm resistirao¥eaforgoste6riGds que tendem a formali- ‘ar sta expresso e nell discern constants estives Dalles tendéiciafreqlente a fazer do romance um {rsro 3 pstelairmar que ele nfo “€ um género como cut, qualquer” e que ele vive “de seu desregramento™ (acqies Laurent, Romance do romanes). A propésito do romance, forma hegem@nica, encontra-se ilustrado © div6rcio que separa a identificagfo empiria eingémua de uma forma literdria de sua teorizagio abstrata e erudita 1N. 0S OUTROS GENEROS NARRATIVOS E possivel contar historias em prosa que compreen am personagens,utlzando outras formas que no sejam. 6 romance. A distingio as vezes €suti. Gide, por exem= plo, preferia chamar de “narrativas ou relatos” (ris) algumas de suas obras (Osmoraita, port eet, Label), porque nels histéria € como que purificada, as persona- ens lo pouco numerosas a temética € concentrada. As Gos do Vincano, “romance” que recusa a graidade mi 109 Os géneros literdrios mética de uma construcio tradicional, era chamado de “sotia” (palavra que teoricamentes uma psa satitica para o teatro). Sem contars minagdes particulares, a tradigio reconhece foutras formas narrativas além do romance, das possvel extra leis estéticas, a comegar pela no 1. Anovela + Histéria do género A novela tomou forma ao longo de quatre historias —Na Idade Médi na Franga — constituiu-se com Oph Je As com novas novelag(U®® Cant Nowell ),inspiradss do modelalitaliano,. mente do Decameron We Bogéacidique: fuenciadalpelos géneros Ratfativos (elas trovas @eontos em versos),elae Ns daebndecia oral rk (Cit, de Marguerite de Near 154% que sinbolia os sucesas dl GP rextcgs 0 vals XV conheoe tal vohmento importante da novela (0 PB 0 0 romance ¢ 0 género narrativo romance tarda a se impor) que comega a afir- rmar-se como género, Sua eXéatologica nio é totalmente abandonada, mas comegaa concor- rer com ela umavififpiacio mais nobré, nascida lo desenyolimento das eorréntes himanistas © dl influghciatda ties r@ligiosa (Guillaume Bouchet, Bogistuat, Tahuréau etc) =: peu cling: a pairde enti, escritores reco shecidosjtedrigos ou eriadores, interessam-se pels narratiya ctrta, ao menos para combater a tendénciao alongamento desmedido do roman- ce. O modelo deina de sero italiano e passa a ser © espanhol, com uma referéncia obsessiva: Cer ‘antes e suas Novelas exemplars (1613). Sorel (As us flancoas, 1623), Segrais (As novelas francesas os ertetenimentos do prinasa Ama, 1656), Don neau de Visé (autor de quase quatrocentas nove= las) marcam a histéria de um género que se torna splantee refinado, e a0 qual no hesitam em ade~ rir mulheres conhecidas, como Madame de Ville- dieu ou Madame de Lafayette. Mas a novela pare~ ce ter perdido entio todo 0 seu caréter especfico, mesmo no que diz respeito sua extensio, posto que A princess de les € um texto considerado co- mo novela, Paalelamente, o conto se desenvolve — Napoca moderna: o gnero conhece — depois de um eclipse relativo durante 0 século XVIII, 11 Os géneros Iterdrios quando 0 conto é preferido — fivores durante o século XIX. Balzac, Nerval Gautier, Zola, Maupassant, Villers ‘Adam (¢ outros) contribuem para estab sgnero, que absorve as antigas distingbes to” e “narrativa”. O século XX prosset evolugio com uma vontade — verdadel dade — de integrar a nogio de *eol preserva 0 duplo efeito de coeréncia & centre as diversas hist6rias, Ainda que o pi de hoje pareca se desinteressar pelo salvo em proveito de novelistas esti Buzzati, Borges, Cortéar. + Definigio da novela Quando se trata de defi “Gengx@que se Pode definir comma. rplente breve, de@opstrucio dramética( aio), apreséntando personagens pouco num calpsicelogi sé éestudada, a medida que reag acontegimenta,g constitu o centro da. Verbete “No Séte-se ness frase a dificuldade em defini mente esse género, Se descartarmos as proposigbes nz nova 0s tebricont So pradentes quanto os lee dprafon Smo 56 dicionrio Robe, que prope Waele fini: 0 romance e 0 género narrativo 9 dizem respeito 3 “poética” ou a estétiea, poderemos dctr-nos sobre dois clementos dbminafes: a narracio (oarratva ov relat) eo formato (geralmentbreve). Em rehio a0 primeiro posi, ple ser tentador femeter & cimologia da palayra @seus ecos SemAiticos#© vocsbulo Francs “nouelle" fof €mpréStadoy por volta do século XVI, ag italiano novella, forma subsfantvada de um verbo — nol — ig sigtiicou infealmente * de asquir 0 sentido deeontar”. Em francés, na lingua- em madera e cogrente, uma “nouvelle” (boa ou ma) ‘designa “o primélro parecer que se di ou se recebe (de umiacontecimento recente)” e, no plural — nouvelles, informagies que dizem respeito 20 estado ousituagio de ‘uma pesoa” (Raber)? O que se deve reter desse sentido ral io 0s significados de relato e de coisa imediata Sobre a brevidade dessa forma, a unanimidade & rela, a ponto de fazer desse eitério o trago prinei- pale oposigio ao romance. Hi mais de dois séculos, 0 imarqués d'Argens via nisso ania distingSo: “A diferen- «entre ambos, parece-me, consste apenas na exten= sio." (Disuno sobre as nowlas, 1739.) Ainda que esses luites de extensio tenham podido varia no tempo e no ‘pico que 0s préprios interessados tenham mostrado. ‘a aproximacio entre as etiquetas fs novela (NT) to, ocorespandente em portuguts seria “nova”. (NT) 113 Os géneros lterdrios + Estética da novela E verdade que o imperativo de densidad ‘como um signo incontestivel de reconheet rial da novela, No entanto, ele nfo basta paral 24-l, posto que existem, como veremos, OU breves". Mais pertinente seré a andlise que’ sobre as particularidades préprias do gnero, ‘miremos em trés pontos: —Aunidade do oso: essa formula, empr dramética, parece apta a definir geralmente reconhecida 3 novela balidade. A novela tem como assun mento particular, freqlientement torno do qual se organaia narragio, mento pode muifis vezes $8 resumi curta fase: “Na COnsega ama riang tum segredo é executada poneu Fajone, A&Mérimée). E ORI que, os j obseR¥aram, a leitura da novela pa feitajauma sentida, “de um folego” (Bt sefdo a novela “Teta para ser lida rapid Ade uma ye (Gide); deixando no espirt letnbranca bem mais poderosa do que a Jeitura truncada, sempre interrompida biirdia dos alazeres e pela preocupa esses mundanos” (Baudelaire). na 0 romance e 0 género narrative A brevidade favorece essa abordagem em favor da ‘ida, da intensidade que proditz um feito de “cireu- laridade” autdnoma ‘0 que sedur¢ apossibilidde deapreender em sua cwulidade um hisra aja Tiara € fmediatamente scabada, logo depoi® de ter sido comegada. Tudo 0 que sconncceu €yeltademvlgumas piginas que nio {evan na @xpectativa de nenhuma peripécia suple- ‘mest © relao breve forma em si mesmo um uni- 789 fechady, eutbnomo, um microcosmo factual.” D. Grojnowsk, Ler a novel, Dunod, 1993, p. 57 —A numagio monédica: 0 tratamento do relato € am- plamentesimplificado na novela, A histéria fica a ‘argo de um tnico narrador, € ele a conduz de uma ponta 3 outra, Mesmo se 3s vezes, a fungi narrativa € delegada pelo autor que se vu, ele mesmo, contando a istéria, que faz sua re-trans- crigio através de uma arta encontrada ou rece= bida, que reata 6 contetido de um sonho ou a natéria de uma erdnica (verdadeira ou apécrifs). E sobre esse principio que repousa aestrutura de “encaixe” que comanda a organizagio de narrati- as como As mile uma nies, AS cem nova novelas OX 0 Heptameron, Tambémn € por esse meio que urna novela pode inserr-se numa fiegi0 maior, como 0s quatro relatos auténomos que esto incluidos us Os géneros iterdrios cem A princess de Ces, ow a8 rompem o dislogo de Jase o ca da brevidade e cultiva a surpresa, ‘muita freqQigncia no epilogo. Enfim, ela sup parativos, 0s movimentos de aproximagio, para in media res € chegar mais depress até a crise lace. Preocupado com esses problemas de 60 Baudelaire insste sobre as proridades “O artista, quando hab, no, ‘mentos aos incidentes; mas, tendo radamente,& vontade, um eftto a 14 0s incidentes.Se a primeira B48 tas a essa jmpressS@yfinal, a obra ino fadada@ insucesso, No deve insinuar-se, na ome posigio inteirayluma paliyra sequer que nio tenka ‘uma intengf6, uma tendéncia — direta ow indie mente —para conpletaro designio premeditado “Nova nota sobre Edgar Fo ures exhéiques, 1887, Nessa 6tica, uma atengio especial deve ser dada 38 tratamento do tempo e do espaco, posto que a novela limita a um lugar €a um momento determinadas. 116 0 romance e 0 género narrative «qual trataremos mais ta visio do mundo apr do sobre as relies ent Exiemble dimega se citanlo, Guy Rohou Tum privilg@.da fovelaofato de que um ser des- fovorégido ou. perplexo nela conte sua verdade. [bez porque'm poueas pginassja posse contar ‘historia de muitas personagens. Mas também por jue essa forma litréra, tal como a tragéliaclisica, vem como objeto a resolugio de uma crise a tradu- <0, em palavras, de uma yenturapontual, 0 prestar conta de um fat, de um sonho, dé um ato Breve.” Encilpéia universal, verbete “Novela” \v lado das leis estética mencionadas (brevidade, rsituigio de um fato,erse), notamosa mengio da ver~ Jnle, que tornariaa novela préxima do exemplum medie~ | narrativa breve cujo objetivo é dar uma lgio, ou, no o»sto eronolégic, do ft divers, que pretend, ele tam hem, revelar (de acordo com Roland Barthes, em | strutura do fe den em Ensaas rt, Seuil, 1964) uma verdade imanente 1 ssa verdad € pereebida tanto no valor de testemu no quanto na revelagio psicolgica que permite & per= 17 Os géneros Heerdrios sonagem, projetada na nudes de sua xp cncontro de uma verdade subjetiva, que 6a io eu (Flaubert, Maupassant, TEn6Roxp Arland.) Os critérios de identifica da novelas permanecem incertos, 0 que autoriza a falar sero fugido" ea concordar que *o limite ent narativa (est) & ago” Etiemble) e que eat fundir-se as vezes com outra narrativa Breve, © 6000) a 2.0 conto + Tentativa de definigio E tradicional a associagio, numa mesma a onto, na medida em queyessas duas exp rivias entretém entre elas fates elas de pare 2. A tal pont, is vezes, de pakeceremsin como deisam pens alguns ttulo® (@€ novell) Gn foupssat Flando de AM My Mae ee empgefrs indistftmente as palavras "Cont" ei ‘a 4 confuio semintics€ antiga, que mi ide Média esta afndéncia de schamar de com tod Jenseratgomo para iver Chrétien de Troyes: Gra Golly (Bho do Graal, x 686), quando Ade teriamgs flo, no caso dese vr, de roman raga critero de brevidade, pode-se fallen 0 romance e 0 género narrativo Jstingue do romance, por ser um relato curto. Mas essa «Usting3o acaba aproximando asl rmas que quere= mos caracterizar: conto e novela, Nos doisgasos apicar- ‘c-am regras de congas TM a sens pouco numerofos etc), irragio puraerdica ou tc. A discronia ale pertnita quese avance numa iden- ‘cago. A palavra franceS¥qle designa conto — conte — deve ser apriximada de seu homénimo, que € a0 ‘mesmo tempo scuduplo: compre. O verbo francés cone, que por muito.88mpo se escreveu compter ou omer, vem ovum conputore, enumerar — no caso, 0s episédios de umyrelato. Surgido na Idade Média (século XID, © ‘ezmo designa inicialmente um relato que se inspira da sida e conta “coisa verdadeiras". Mas, sendo 0 ato incr, por natureza transposigio do mundo, a lei de \clilade ao real sofre miltiplas modificagies, posto «ue palovra passa a apicar-se a0s contos medievas em \ersos, as ditados, e até mesmo as cangdes de gesta For volta do final da Renascenga, a parte do imagi- nario tende, no conto, a ocular fundamento realist; 0 Jcionirio da Academia no século XVII mostra-se con- lador em relagio a0 problema, falando de “narragio, «lato de alguma aventura, sea ela vivid, fabulosa,séra, 1 divertda”. Em suma, todo corpus narrativo que, enttetanto, & reduzido pela seguinte observagio: “Ele nas ordinsrio para as (aventuras)fabulosase as diverti- 119 0s géneros Neerdrlos ds.” Essa definiio vai receber uma lustragio mais com as coletineas aparecidas naquela época 0 Comasda rmumie gam, de Perrault (1697); 08 Contos de fdas 6 Madame d’Aulnoye (1696-1698), ¢ a tradugio dos Contos das mil uma notes fita por Galland (1704-1712). Desde entio, 0 conto, em sua acepeto lterdtay 6 pecialigou-se no sentido de “relato de fatos, de aconte cimentos imaginsrios, destinado a distrair™ (Rober) Mesmo que, como vimos seu campo de aplicagio tena podido varia 20 abor das épocase que autores do see lo XIX tenham rejitadoo critério de inverossimilhangs Se quisermos organizar um pouco tudo iso e: armos alguns tragosdistinivos, poderemos con —o conto inclna-se em diregi@s fabllagou a0 oni= rismo, renunciando a0 reilismo e Werossim Tanga 5 suns personageliipertencem a0 dma do sim= blicoyabindonand.as caracterizagBes indivie ui —le possuift fundamento popular, podendo inspiratige na tradi oral e coletva ou no fol lore \ cle pode,ser (pelo menos teoricamente) mais Jongodo que a novela, mas 6, como esta, um rebito breve; 120 0 romance ¢ 0 género narrative — cle procede de uma narragio direta,inspirada pla oralidade: um narrad6P qe se assume cavquanto tal “ret” a ists cle comporta umayitengio HGF ou Citic, clasmente express, ou implicitamengs contida cums das aractetsticas Bliciadas sio originals, sous se aplicamjgualmente 3 novela, prolongando, «sina umbigiidade que Michel Tourniertenta dispar: ‘Aco caminho entre a opacidade da novela e a paréncia da fibula, o conto — de origem orien- tle popular — apresenta-se como um meio trans Ibid, porém nfo transparente, como tuma espessu~ ra gouca na qual o eitor vé desenharemese figuras ype le jamais chega a apreender inteiramente.” Barba Azle 0 segredo do conto”, Ow do unpiw, Mercure de France, 1981, p. 37 Detinigio mais poética do que cientifica, que nos ste noxamente 3s nossas incertezas, Como muitas 2 maneira de dar conta da realidade dessa for- urratsa passard, sobretudo, pelo exame de suas rea- Os géneros literdrios ipologia do conto, \ decomposigio do conto em Sespéctes particle € antiga baseia-se numa vontade de elarifiegio pologias moderna distinguem gerakmente qua 0 como gous: colocariamos ness subgripe Re ratias engragads e burlescas, herdadas da ade -opular Muito préximo dos contos media «esse tipo de conto pode vntos de animais (send @ tipo de narrativa Le Re 1 entio contar histérias 6 rina, aventuras divertidas ou satfrieas@ 1 grandes pretenses, Bons exemple io (Decomeron) ow dea Fontaine ) Fa via parece hoje ter-s@esBo ado, ge fc tercophecido um rent@ientoagamene rodico, cofmos Cones doladquase Baa mrouthowd\(ou “conto de fadas") sis 6F gens tamipém se elgontram na literatura mig Fiyal (pO exemp 155 de Marie de Fri ©) €respeitaanilgumas leis simples; mele 8 0 romance e 0 género narrative intel € aceit (Gragas a0 “era uma versie", que Func ioma como primeira pala de lina formu lo migica), a imprecisio adit nagio precisa eRe € ciinad) bem vo pcos marrivos em ae coaturaisy objetosafigie®s, personagens !hbulosos, e se didatismo éifransparente (08. Hinss telisé6tém @omo objetivo airmar a vitria Jas orcas do bemgida ordem e da moral). Nas Ihonteirs do. ebnto de Fadas confluem géneros uc, 5 ¥ex88, Ihe tomam emprestadas certas caracteristicas (quando no € © inverse que ‘corr, sem confundir-se totalmente com ele: a {sbula mitolopia (Hesfodo), 0 conto oriental (As ‘uma notes), © conto cristo (la milagres), nto barroco etc. Hoje ele tende a reduair-se 20 conto infantil Julles Supervielle, Marcel sym, Jucques Prévert, Michel Tournier et). 0 co: € possivel iar 0 nascimento dese subgénero durante 0 século XVI; sua ambigio €a de moldar numa Regio breve um ‘onteiido satitico e edificante. Voltaire seré 0 melhor exemplo deste género (Micromegas, 4, Cindi), fornecendo-nos implictamente um catilogo de repras do género: a uilizagio da |ubula(marcada pelo sobrenatural ou pelo mara- ithoso), a dimensio parédica (as regras da 123 Os géneros lterdrios 0 romance e 0 género narrativo cscritae da inspiragio romanesca so retomadas 3, Outras narrativas breves para serem transgredidas e desmistificada), a . lio filosdfica (o conto loséfico vis impor im Além da novela e do conto, exiitem ou eistiram pponto de vista, demonstrar ou desconsidersr vs narrativas breves, como" fsbulit@ as narratvas oe ndieais em versos (bli). © ws ~0 conto fantsico: essa forma do conto jt 10 sproximada do conto maravilhoso (A distingto sdicional entre o fantistico eo maravilhoso pax me inteiramente artificial, Michel Brion, ine Leeéroire, n° 66), mas a ertia +Afibula crterio de forma no tem mals valor: um rela- to pode ser escrito em prosa ou em verso. Fntretanto, desde a época elisa, a pros tende 2 tornar-se o modo privilegiado da narragio, ‘muito especialmente no romance; ua distin importante se faz a parti do fore mato, opondo, de um lado, os relatos longos (popéia, romance) e, de outro, as formas bre= ves (novela, conto fibula; 127 NEROLiRIGO ENERO INCERTO uma certa decepgso, eferEncia aos funda- Wo conetital umm géne- de onde procede abstém-se de descrever de equivalente & ra. Essa dificulda riténios que pode lirico: a utiizagio 0 a fcsio. liz 0 tebrico gre- rneira peral, imita

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