Você está na página 1de 24

1

Tópico 5 – Teoria do Consumidor

Introdução

Como um consumidor com renda limitada decide que bens e serviços deve adquirir? Essa é uma
questão fundamental em microeconomia. Veremos como os consumidores alocam sua renda entre
bens, explicando, assim, como essas decisões de alocação de recursos determinam as demandas de
diversos bens e serviços. A compreensão das decisões de compras por parte dos consumidores nos
ajudará a entender como as mudanças na renda e nos preços afetam a demanda de bens e serviços.
O comportamento do consumidor é mais bem compreendido quando examinado em três etapas:
1) Preferência do consumidor – a primeira etapa consiste em encontrar uma forma prática de
descrever por que as pessoas preferem uma mercadoria à outra.
2) Restrição orçamentária – obviamente, os consumidores devem também considerar os
preços. Por isso, na segunda etapa levaremos em conta que os consumidores têm renda
limitada, o que restringe a quantidade de mercadorias que podem adquirir. O que um
consumidor faz nessa situação? Encontraremos uma resposta para essa questão ao juntar
suas preferências e sua restrição orçamentária, já na terceira etapa...
3) Escolhas do consumidor – diante de suas preferências e da limitação de renda, os
consumidores escolhem comprar as combinações de mercadorias que maximizam sua
satisfação. Essas combinações dependerão dos preços dos vários bens disponíveis. Assim,
entender as escolhas do consumidor nos ajudará a compreender a demanda, isto é, como a
quantidade de bens que os consumidores podem adquirir depende de seus preços.
1. Preferências do Consumidor

Especificamente, uma CESTA DE MERCADO é um conjunto com quantidades determinadas de


uma ou mais mercadorias. Ela pode conter, por exemplo, vários itens alimentícios, ou então uma
combinação de itens alimentícios, de vestuário e de produtos para casa que um consumidor compra
por mês. Entre outras diversas combinações de bens e serviços.

Como consumidores selecionam essas cestas de mercado? Como eles decidem, por exemplo, quanto
de comida e quanto de roupa comprar em cada mês? Embora essa seleção às vezes possa ser
arbitrária, veremos em breve que os consumidores usualmente selecionam cestas de mercado que os
satisfazem da melhor forma possível.

A tabela abaixo apresenta várias cestas de mercado, que consistem em diversas quantidades de
alimento e vestuário mensalmente adquiridas. A cesta de mercado A, por exemplo, compõe-se de
20 unidades de alimento e 30 unidades de vestuário, e assim sucessivamente para as demais cestas.

Cesta de Mercado Unidades de Alimento Unidades de Vestuário


A 20 30
B 10 50
C 40 20

Para explicarmos a teoria do comportamento do consumidor, perguntaremos se os consumidores


preferem uma cesta à outra. Note que a teoria supõe que as preferências dos consumidores são
consistentes e tem sentido.
2

Premissas Básicas Sobre Preferências

A teoria do comportamento do consumidor inicia-se com quatro premissas básicas a respeito das
preferências das pessoas por determinada cesta em relação à outra. Acreditamos que tais premissas
sejam válidas para a maioria das pessoas na maior parte das situações:
1) Integralidade – as preferências são completas. Isso significa, em outras palavras, que os
consumidores podem comparar e ordenar todas as cestas de mercado. Assim, para quaisquer
duas cestas A e B, um consumidor preferirá A a B, B a A ou será indiferente1 a qualquer
uma das duas. Observe que essas preferências não levam os preços em consideração. Um
consumidor poderia preferir bife a hambúrguer, porém compraria o segundo por ser mais
barato.
2) Reflexiva – qualquer cesta é pelo menos tão boa quanto uma outra idêntica.
3) Transitividade – as preferências são transitivas. Transitividade significa que, se um
consumidor prefere a cesta de mercado A a B prefere B a C, então ele também prefere A a
C. Em geral, a transitividade é encarada como necessária para a consistência das escolhas do
consumidor.
4) Mais é melhor do que menos – presumimos que todas as mercadorias são desejáveis.
Consequentemente, os consumidores sempre preferem, dada a sua função utilidade,
quantidades maiores de cada mercadoria.
Essas quatro premissas constituem a base da teoria do consumidor. Elas não explicam as
preferências do consumidor, mas lhe conferem certo grau de racionalidade e razoabilidade.
Baseando-nos nessas premissas, passaremos, então, a analisar com maior nível de detalhamento o
comportamento do consumidor.

Curvas de Indiferença

Podemos apresentar graficamente as preferências do consumidor por meio do uso das curvas de
indiferença. Uma CURVA DE INDIFERENÇA representa todas as combinações de cestas de
mercado que fornecem o mesmo nível de satisfação a um consumidor. Para ele, portanto, são
indiferentes as cestas de mercado representadas pelos pontos ao longo da curva.

• B • E
Curva de Indiferença

• A
• C
• D I
X

Supondo válidas nossas hipóteses iniciais, vemos que cestas de mercado acima da curva de
indiferença são sempre preferenciais porque o consumidor sempre obtém um maior número de
ambos os bens, como na cesta E no gráfico. Do mesmo modo, cestas de mercado abaixo da curva de
indiferença são sempre indesejadas porque o consumidor sempre obtém um menor número de
ambos os bens, como na cesta D. Contudo, todas as cestas ao longo da curva de indiferença são
consideradas pelo consumidor como indiferente por lhe proporcionar o mesmo nível de satisfação,
1
Por indiferente indicamos que qualquer uma das cestas deixará o indivíduo igualmente satisfeito.
3

como nos pontos A, B e C no gráfico. Em outras palavras, o consumidor não se sente nem melhor
nem pior ao trocar uma cesta por outra na mesma curva de indiferença.

Inclinação da Curva de Indiferença

A curva de indiferença tem sempre inclinação negativa da esquerda para a direita, pois caso ela
tivesse inclinação ascendente, por exemplo, de A para B no gráfico abaixo, isso iria contra a
premissa de que uma quantidade maior de qualquer mercadoria é sempre melhor do que uma
quantidade menor. Uma vez que a cesta de mercado B tem mais unidades de Y e de X do que a
cesta de mercado A, ela deverá ser preferível a A e, portanto, não poderá estar sobre a mesma curva
de indiferença em que se encontra a cesta A.

• B

• A

Mapas de Indiferença

Mapa de indiferença é um conjunto infinito de curvas de indiferença, onde se encontra todas as


combinações de bens que descrevem as preferências de um consumidor. Cada curva de indiferença
no mapa apresenta as cestas de mercado que são indiferentes para a pessoa. O gráfico abaixo
apresenta três curvas de indiferença que fazem parte de um mapa de indiferença. A curva de
indiferença I2 oferece o mais alto grau de satisfação, sendo seguida pelas curvas de indiferença I1 e
I0.

MapaI2de Indiferença

I2

I1

I0
X

As curvas de indiferença não podem se interceptar. Para entendemos a razão disso, suponhamos que
elas pudessem se interceptar e vejamos, então de que forma isso contradiz as premissas a respeito
4

do comportamento do consumidor. A figura abaixo apresenta duas curvas de indiferença (I0 e I1),
que se interceptam em A.

As curvas de indiferença não podem


se interceptar

A
• B I1


D I0

Uma vez que A e B estão sobre a curva de indiferença I1, o consumidor será indiferente a qualquer
uma dessas duas cestas de mercado. Como tanto A quanto D se encontram sobre a curva I0, o
consumidor também é indiferente a essas duas cestas. Consequentemente, de acordo com a
premissa da transitividade, o consumidor também não tem preferência entre as cestas B e D. No
entanto, isso não pode ser verdade, pois a cesta de mercado B deve ser preferível a cesta D, uma vez
que B contém maior número de unidades, tanto de Y quanto de X. Sendo assim, a suposição de que
as curvas de indiferença poderiam se interceptar contradiz a premissa de que mais é preferível a
menos.

Taxa Marginal de Substituição (TMS)

A taxa marginal de substituição mostra a quantidade máxima de um bem que um consumidor deseja
deixar de consumir para obter uma unidade adicional de um outro bem. A TMS de vestuário por
alimento, por exemplo, corresponde à quantidade máxima de unidades de vestuário das quais uma
pessoa estaria disposta a desistir para poder obter uma unidade adicional de alimento. Se TMS entre
vestuário e alimento for igual a 3, então o consumidor estará disposto a desistir de três unidades de
vestuário para obter uma unidade adicional de alimento. Assim, a TMS mede o valor que um
indivíduo atribui a uma unidade extra de um bem em termos de outro. A TMS é definida pela
quantidade do bem apresentado no eixo das ordenadas (vertical) de que o indivíduo deseja desistir
para obter uma unidade extra da mercadoria representada no eixo das abscissas (horizontal) de
determinado gráfico.

Assim, considerando o gráfico abaixo, se indicarmos a variação em unidades de vestuário por ΔV e


a variação em unidades de alimento por ΔA, a TMS poderá ser expressa por – ΔV/ΔA. O sinal
negativo foi incluído para tornar a TMS um número positivo2.

Portanto, observe no gráfico abaixo que a TMS entre as cestas A e B é igual a 6 (10 – 16/2-1), ou
seja, o consumidor deseja trocar 6 unidades de vestuário por 1 unidade adicional de alimento. Entre
os pontos B e D a TMS é igual a 4, o consumidor deseja trocar agora 4 unidades de vestuário por 1
de alimento. Consequentemente, a TMS em qualquer ponto tem seu valor absoluto igual à
inclinação da curva de indiferença naquele ponto.

Observe que a TMS diminui ao longo da curva de indiferença, isto ocorre porque a curva de
indiferença é convexa. A convexidade da curva de indiferença se deve ao aumento da quantidade do
bem que o consumidor deseja trocar (em nosso caso, alimento). À medida que o consumidor
adquire maior quantidade de alimento sua satisfação em relação a essa mercadoria diminui, de

2
Uma vez que ΔV é sempre negativo, já que o consumidor desiste do vestuário para obter mais alimento.
5

modo que ele estará disposto a desfazer cada vez menos de vestuário para adquirir uma unidade
adicional de alimento.

Em outras palavras, a TMS cai conforme nos movemos para baixo na curva de indiferença. Isso não
é coincidência, o declínio da TMS reflete uma característica importante das preferências dos
consumidores. Para entendermos isso, acrescentaremos uma premissa, relativa às preferências do
consumidor, as quatro apresentadas anteriormente.

Taxa marginal de substituição decrescente: em geral, as curvas de indiferença são convexas, isto é,
arqueadas para dentro. O termo convexo significa que a inclinação da curva de indiferença diminui
(isto é, torna-se mais negativa) à medida que nos movimentamos para baixo ao longo da mesma
curva.

Será sensato esperar que as curvas de indiferença sejam convexas? Sim, pois, à medida que maiores
quantidades de uma mercadoria são consumidas, esperamos que o consumidor prefira abrir mão de
cada vez menos unidades de uma segunda mercadoria para pode obter unidades adicionais da
primeira mercadoria. Assim, à medida que percorremos a curva de indiferença e o consumo de
unidades de X aumenta, deve diminuir a satisfação adicional que o consumidor obtém ao adquirir
unidades adicionais desse bem. Ou seja, estará disposto a desistir de cada vez menos unidades de Y
para obter uma unidade adicional de X. Isto é, o consumidor em geral prefere uma cesta de mercado
balanceada ao invés de uma cesta com apenas um tipo de bem.

Y
• B (1, 3)

• A (2, 2)

I
• C (3, 1)
X
Quando ocorre isso, dizemos que a curva de indiferença é do tipo bem comportada. Curvas de
indiferença desse tipo são convexas em relação à origem, de modo que a média de duas cestas de
mercados sobre a mesma curva gera uma cesta de mercado com um nível de satisfação maior em
relação a estas duas cestas.
6

Considere um consumidor que seja indiferente em relação a duas cestas de mercado e que, portanto,
estão sobre a mesma curva de indiferença. Em seguida, calcule uma média ponderada, digamos de
um para um, obtendo assim uma terceira cesta de mercado que, sendo a curva de indiferença
convexa, se encontra em uma curva de indiferença superior, conforme o gráfico acima. Assim, se
esta cesta é preferível as outras duas, isto significa que o consumidor deseja consumir uma cesta
mais equilibrada, menos especializada ou ainda, mais diversificada.

Por outro lado, se a curva de indiferença fosse côncava em relação à origem, as cestas de mercado
obtidas pela média levariam ao surgimento de curvas de indiferença mais próximo da origem, com
nível de satisfação inferior para o consumidor. Seriam, portanto, menos desejáveis que as cestas de
mercado originais, o que revela uma tendência do consumidor a especialização no consumo de uma
única mercadoria, caso a curva de indiferença seja côncava.

Y
• B (1, 3)


A (2, 2)

• C (3, 1)

Bens Substitutos Perfeitos e Complementares Perfeitos

Os bens substitutos perfeitos podem ser trocados um pelo outro sem perda ou ganho de satisfação.
Nesse caso, a TMS a que o consumidor está disposto a desistir de um bem para adquirir uma
unidade adicional de outro é sempre a mesma (constante em qualquer ponto da curva de
indiferença), mantendo-se o seu nível de satisfação. As curvas de indiferença que descrevem a
permuta entre o consumo das mercadorias se apresentam como linhas retas. Suco de maçã e de
laranja pode ser um exemplo desse tipo de bem.

Suco de Maçã

Substitutos perfeitos

Suco de Laranja

Bens complementares perfeitos são bens consumidos sempre juntos e em proporções fixas. De
algum modo, esses bens complementam-se mutuamente. Um bom exemplo são os pés direito e
esquerdo de um par de sapatos. O consumidor gosta de sapatos, mas sempre usa juntos os pés
direito e esquerdo. Ter apenas um pé do par de sapatos não traz nenhuma satisfação adicional ao
7

consumidor. Tracemos as curvas de indiferença dos bens complementares perfeitos. Suponhamos


que pegamos a cesta de consumo (10, 10).

Sapatos esquerdos

Complementos perfeitos

Sapatos direitos

Em Seguida, acrescentamos um pé direito de sapato de modo a ter (11, 10). Por pressuposto, isso
deixa o consumidor indiferente à posição original; o pé de sapato adicional não lhe proporciona
benefício algum. O mesmo ocorre se adicionarmos um pé esquerdo: o consumidor também
permanece indiferente entre (10, 11) e (10, 10). A TMS no caso dos bens complementares perfeitos
será igual zero (sempre que houver mais sapatos direitos que esquerdos, o consumidor não desistiria
de nenhuma unidade de sapato esquerdo para obter unidades de sapatos direito adicionais) e infinita
(no caso de existir mais sapatos esquerdos do que direito, uma vez que o consumidor desistirá de
todos os sapatos esquerdos, exceto um, para obter uma unidade adicional do sapato direito).

Assim, as curvas de indiferença têm o formato de um L, cujo vértice ocorre onde o número de pés
esquerdos iguala o de pés direitos, como na figura acima. O importante sobre os bens
complementares perfeitos é que o consumidor prefere consumi-los em proporções fixas, sem
necessidade de que a proporção seja de um por um. Se um consumidor sempre usa duas colheres de
chá de açúcar em sua xícara de chá, mesmo assim as curvas de indiferenças serão ainda em forma
de L. Nesse caso, os lados do L ocorrerão em (2 colheres de açúcar, 1 xícara de chá), (4 colheres de
açúcar, 2 xícaras de chá) e daí por diante.

Bens Neutros

O bem neutro é aquele para o qual o consumidor é indiferente, não importando ter muito ou pouco
desse bem. O gráfico abaixo ilustra o formato das curvas de indiferenças de bens neutros, onde Y é
o bem neutro e X o bem que aumenta a satisfação do consumidor.

Y I0 I1 I2

X
Nesse caso, a TMS tende para o infinito, pois o consumidor está disposto a se desfazer de todas as
unidades de Y para adquirir uma unidade do bem X. Por exemplo, Elaine é uma apreciadora de
música, mas é indiferente a literatura. Assim, qualquer CD adicional é desejado por ela (X),
enquanto mais ou menos livros (Y) lhes são indiferentes. Ela sempre estará melhor se puder
consumir mais CDs, não importando quantos livros ela consuma. Dizemos que, nesse caso, para
Elaine, o livro é um bem neutro, pois a quantidade consumida do mesmo não afeta seu grau de
8

satisfação. E ela está disposta a se desfazer de todos os seus livros para adquirir uma unidade
adicional de CD.

Bens “Males”

Um bem “mal” é uma mercadoria da qual o consumidor não gosta. Por exemplo, suponhamos que
as mercadorias em questão sejam tomate e cebola e que o consumidor adore tomate, mas não goste
de cebola. Suponhamos, porém, que haja uma possibilidade de compensação entre a cebola e
tomate. Ou seja, haveria numa pizza determinada quantidade de tomate que compensasse o
consumidor por ter de consumir certa quantidade de cebola.

Y I0 I1 I2

X
Portanto, para compensar o consumo de bens que são considerados males, deve haver uma
compensação com o aumento do bem que o consumidor gosta, de modo que a satisfação do
consumidor não seja alterada. Por isso, a curva de indiferença terá inclinação positiva. O gráfico
abaixo representa esse tipo de bem, onde o bem X é o bem bom e Y o bem mal. Nesse caso, a TMS
é igual a zero, pois o consumidor não está disposto a se desfazer de nenhuma unidade de Y para
adquirir uma unidade de X.

Saciedade

Usualmente supomos que a situação de um consumidor sempre pode ser melhorada, alterando as
quantidades por ele possuídas de alguns bens. Entretanto, pode ocorrer que um consumidor atinja
uma situação que é a melhor possível, isto é, pode acontecer uma situação em que qualquer
alteração em seu padrão de consumo o leve a se sentir pior. Quando isso ocorre, dizemos que o
consumidor está saciado.

Y I0
I1
I2

Y2 •

X1 X
O gráfico acima mostra uma possível representação de um ponto de saciedade e das curvas de
indiferença que o cercam. O ponto que representa graficamente o padrão de consumo no qual o
consumidor se encontra saciado é chamado de ponto de saciedade. À medida que se expande o
consumo para além do ponto de saciedade, o consumidor fica em uma situação pior do que esse
ponto e, portanto, sobre uma curva de indiferença mais baixa.
9

É importante ressaltar que a existência de um ponto de saciedade é apenas uma possibilidade


teórica. O mais provável é que, na maioria dos casos, esse ponto não exista, isto é, que sempre seja
possível levar o consumidor para uma situação melhor, aumentando a quantidade consumida por ele
de um ou de mais bens.

Nesse caso, as curvas de indiferença têm inclinação negativa quando o consumidor tem “muito
pouco” ou “demais” de ambos os bens e inclinação positiva quando tem “demais” de um dos bens.
Quando ele tem “demais” de um dos bens, esse bem torna-se “mal”, de modo que a redução do
consumo do bem “mal” leva-o para mais perto de seu ponto de satisfação. Se ele tiver “demais” de
ambos os bens, os dois serão “males” e a redução do consumo de ambos o conduzirá para mais
perto de seu ponto de satisfação.

2. Teoria da Utilidade

Podemos ver que a teoria do consumidor depende da suposição de que os consumidores podem
fornecer as classificações relativas das cestas de mercado. Entretanto, em geral é útil atribuir valores
numéricos a cada cesta. Empregando essa abordagem numérica, podemos apresentar as preferências
do consumidor atribuindo valores para os níveis de satisfação associados a cada curva de
indiferença. Isso é feito através da teoria da utilidade.

Utilidade Total e Utilidade Marginal

Por que as pessoas demandam bens? A resposta parece óbvia: as pessoas demandam bens porque
seu consumo traz algum tipo de prazer ou satisfação. Essa é uma condição necessária para que uma
mercadoria seja procurada pelos consumidores. Não há demanda para mercadorias indesejáveis tais
como injeção no olho ou doce de fígado com mel. Assim, as pessoas obtêm utilidade apropriando-
se de coisas que lhes dão prazer e evitando coisas que lhes trazem insatisfação.

Na linguagem do cotidiano, a palavra utilidade tem um conjunto de conotações muito mais amplo,
significando, grosso modo, benefício ou bem-estar. Na linguagem dos economistas, o conceito de
utilidade refere-se ao valor numérico que representa a satisfação que o consumidor obtém de uma
cesta de mercado. Por exemplo, se a compra de três livros lhe deixa mais feliz do que a compra de
uma camisa, então dizemos que os livros têm mais utilidade para você do que a camisa.

Dessa forma, através da medida de utilidade os economistas tentam “mensurar” a satisfação


proporcionada pelos bens. Em outras palavras, as cestas de mercado que se encontram mais
distantes da origem geram o maior nível de utilidade para o consumidor.

No entanto, à medida que o consumidor compra unidades de um determinado bem, a utilidade


gerada pela aquisição de uma nova unidade cresce, mas a taxa decrescente. Considere que o bem
em questão seja chocolate em barra. Se passarmos a dar uma barra de chocolate por semana a uma
criança que até então não consumia nada de chocolate, essa barra de chocolate provavelmente trará
uma satisfação muito grande a essa criança, gerando assim uma utilidade relativamente alta.

Se depois disso, passarmos a dar uma segunda barra semanal de chocolate, essa barra será bem
recebida pela criança, mas provavelmente não com o mesmo entusiasmo com que foi recebida a
primeira barra. Uma terceira barra será recebida com um entusiasmo ainda menor. Se formos
aumentando o número de barras de chocolate, chegaremos a um ponto em que uma barra adicional
de chocolate representará para a nossa criança um benefício tão pequeno que para ela será quase
indiferente receber ou não essa barra adicional. Isso porque o chocolate sendo consumido
praticamente até a saciedade, deixou de ser para ela um produto escasso.
10

Isso significa que a utilidade total derivada do consumo de chocolate cresce na medida em que
aumentamos o numero de barras por semana. Todavia, o valor acrescentado à utilidade total pela
última barra de chocolate consumida é tão menor quanto maior for o total consumido de barras de
chocolate.

O gráfico abaixo ilustra essa ideia. No eixo das abscissas tem-se a quantidade consumida de
chocolate. No eixo das ordenadas temos a utilidade total proporcionada pelo consumo de barras de
chocolate.

Utilidade
Total

200 Curva de Utilidade Total


150

100

50

Barras de chocolate

A altura de cada coluna (a parte cinza mais a parte branca) indica a utilidade total do consumo de
chocolate e a parte cinza de cada coluna indica à utilidade que foi adicionada a utilidade total pela
última barra consumida.

Observe que, na medida em que aumenta a quantidade consumida, isto é, na medida em que vamos
para as colunas mais a direita, a parte cinza da coluna é cada vez menor, o que indica que a última
unidade consumida acrescenta cada vez menos à utilidade total.

Essa utilidade adicional derivada da última unidade consumida de chocolate é denominada de


utilidade marginal. Assim, a utilidade marginal (UMg) mede a utilidade adicional obtida pelo
consumo de uma unidade adicional de determinado bem.

É fácil notar que a utilidade total do consumo de uma barra de chocolate é igual à utilidade marginal
da primeira barra de chocolate, que a utilidade total do consumo de duas barras de chocolate é igual
à soma da utilidade marginal da primeira barra de chocolate mais a utilidade marginal da segunda
barra, que a utilidade total do consumo de três barras de chocolate é igual à soma das utilidades
marginais das três primeiras barras consumidas, e assim por diante. De uma maneira geral, podemos
descrever a relação entre a utilidade marginal e a utilidade total pela expressão:

n
U (n)   UMg (i )
i 1

Onde U(n) é a utilidade total do consumo de n unidades e UMg(i) é a utilidade marginal da i-ésima
unidade consumida. Essa expressão matemática quer dizer simplesmente que a utilidade total do
consumo de n unidades é igual à soma das utilidades marginais da primeira até a n-ésima
mercadoria.

Essa relação também pode ser vista no gráfico abaixo. Agora o eixo das ordenadas apresenta a
utilidade marginal do consumo de barras de chocolates. Se quisermos saber qual será a utilidade
total do consumo de três barras de chocolate por semana, por exemplo, basta que somemos o valor
das três primeiras barras do gráfico abaixo.
11

Note que as colunas mais a direita são menores que as colunas mais à esquerda. Isso significa que a
utilidade marginal diminui na medida em que aumenta o número de barras de chocolate
consumidas.
Utilidade
Marginal

50

40
Curva de Utilidade Marginal
30
20

Barras de chocolate

Assim, a utilidade marginal do chocolate diminui a medida em que aumenta o seu consumo. Esse
comportamento da utilidade deve ser esperado para qualquer outro tipo de bem, de modo que
podemos enunciar a denominada lei da utilidade marginal decrescente: à medida que se consome
mais de determinado bem, quantidades adicionais que forem consumidas vão gerar cada vez menos
utilidade.

Se concebermos variação no consumo de chocolate suficientemente pequena, as colunas desses


gráficos tornar-se-ão tão estreitas que poderemos substituir as colunas por linhas, como as linhas
desenhadas nos gráficos.

Desse modo, a utilidade marginal do bem X, por exemplo, é dada pela variação da utilidade total
(UT) em decorrência do aumento de uma unidade adicional de X, ou seja:

UMgX = ΔUT/ΔX

Podemos relacionar o conceito de utilidade marginal com o de TMS parte do consumidor.


Considere um pequeno movimento da esquerda para a direita ao longo de uma curva de indiferença.
Isto é, o consumidor deixa de consumir uma certa quantidade do bem Y, ΔY, e passa a consumir
uma quantidade maior de X, ΔX, sem que ocorra modificações na utilidade.

Sabemos que o consumo adicional de unidade de X é dado por ΔX e este consumo produzirá uma
utilidade marginal (UMgX). Isso resulta em um aumento total de utilidade correspondente a
UMgX(ΔX). Ao mesmo tempo, a diminuição no consumo de itens do bem Y é dada por ΔY e esta
redução implicará na perda de utilidade por unidade em UMgY, resultando em uma perda total de
utilidade correspondente a UMgY(ΔY).

Uma vez que todos os pontos de uma curva de indiferença fornecem o mesmo nível de utilidade, o
ganho total de utilidade associado ao aumento de X deverá ser compensado pela perda resultante do
consumo menor de Y. Portanto, temos formalmente:

UMgX(ΔX) + UMgY(ΔY) = 0

Podemos reescrever essa equação de forma que:

UMgY(ΔY) = – UMgX(XΔ)
(YΔ)/(ΔX) = – (UMgX/UMgY)
12

Sendo a TMS = – (YΔ)/(ΔX), onde o sinal negativo foi inserido para tornar o resultado final
positivo, podemos fazer o mesmo na equação acima3, de modo que resulta:

– (YΔ)/(ΔX) = – (UMgX/UMgY)

Assim, podemos considerar que a:

TMS = – (UMgX/UMgY)

Essa equação mostra que a taxa marginal de substituição é igual a razão entre a utilidade marginal
de X e a utilidade marginal de Y. À medida que o consumidor desistir de quantidades maiores de Y
para obter quantidades adicionais de X, a utilidade marginal de X cairá e a de Y aumentará.

Essa igualdade é importante para realizar o cálculo do equilíbrio do consumidor que será feito no
momento oportuno. A utilidade marginal de um bem pode ser calculada a partir da derivada da
função de utilidade do consumidor, mas precisamos conhecer primeiro essa função.

Funções de Utilidade

Uma função de utilidade é uma fórmula que atribui um nível de utilidade a cada cesta de mercado.
Suponhamos, por exemplo, que a função de utilidade para uma cesta composta por alimento (A) e
vestuário (V) seja:

U(A,V) = A + 2V

Nesse caso, uma cesta de mercado que tenha 8 unidades de alimento e 3 unidades de vestuário
gerará uma utilidade de 14.
U(A,V) = A + 2V
U(A,V) = 8 + 2(3)
U(A,V) = 14

Para esse consumidor, portanto, é indiferente essa cesta de mercado ou uma outra cesta que
contenha 6 unidades de alimento e 4 unidades de vestuário, pois:

U(A,V) = A + 2V
U(A,V) = 6 + 2(4)
U(A,V) = 14

por outro lado, qualquer uma dessas cestas é preferível a uma terceira que contenha 4 unidades de
alimento e 4 unidades de vestuário. Por quê? Porque essa última cesta proporciona um nível de
utilidade de apenas:

U(A,V) = A + 2V
U(A,V) = 4 + 2(4)
U(A,V) = 12
Atribuímos níveis de utilidade a cestas de mercado de tal modo que, se a cesta A é preferível a cesta
B, o valor de A tem de ser maior que o de B. Por exemplo, uma cesta de mercado A situada na mais
alta das três curvas de indiferença, ou seja, em I2, poderia ter um nível igual a 3; uma cesta B

3
Porém, o sinal negativo não tem importância na análise econômica, foi adicionado apenas para adequar a definição
anterior de TMS. Mas para fins matemáticos, deve-se considerar o resultado original, já que como foi definido não se
pode obter um resultado com sinais idênticos de ambos os lados da equação.
13

localizada na curva de indiferença intermediaria, I1, poderia ter um nível igual a 2; e uma cesta D
posicionada na curva de indiferença mais baixa, I0, poderia ter um nível igual a 1. Assim, uma
função de utilidade fornece a mesma informação sobre as preferências que o mapa de indiferença:
ambos ordenam as escolhas do consumidor em termos de níveis de satisfação.

Vamos examinar uma função de utilidade particular mais detalhadamente. A função de utilidade
u(A,V) = AV, ou seja, o nível de satisfação obtido com o consumo de A unidades de alimentos e V
unidades de vestuários é o produto de A por V.

O gráfico abaixo mostra algumas curvas de indiferença associadas a essa função. Qualquer ponto
(cesta) na curva de indiferença I0 gera um nível de satisfação igual a 25; o mesmo, para as demais
curvas: I1 e I2 gera um nível de utilidade igual a 50 e 100 respectivamente.

Vestuário

15

D
10 •
I2 = 100

A
5 B
• I0 = 25
I1 = 50

5 10 15 Alimentos

Suponha que a função de utilidade mude de AV para 4AV, nesse caso, qualquer cesta que gerava
uma utilidade igual a 25, como a cesta A no gráfico, A=5 e V=5, proporciona um nível de utilidade
maior que antes, ou seja, igual a 100, o formato da curva continua como antes, porém, agora passa a
ser rotulada como 100, e assim para as demais curvas, I1= 200 e I2= 400.

É importante realçar que a função de utilidade é simplesmente um modo de classificar as diferentes


cestas de mercado, a grandeza da diferença de utilidade entre duas cestas quaisquer não fornece
nenhuma informação adicional. O fato de I2, ter um nível de utilidade o dobro de I1, não significa
que a cesta de mercado I2, gere o dobro de satisfação da cesta I1, isto ocorre por não ter nenhum
meio de medir objetivamente o nível de satisfação ou nível de bem estar de uma pessoa que adquire
determinada cesta. Assim, sabemos apenas, que I2 é melhor que I1, e que I1 é melhor que I0, não
sabemos, porém, em que medida uma cesta é preferível a outra.

3. Restrição Orçamentária

A segunda parte da teoria do consumidor revela as restrições orçamentárias que ele enfrenta por
dispor de renda limitada, ou seja, a dificuldade de combinar a compra de dois bens, com sua renda
disponível, para obter o maior nível de utilidade possível.

Linha ou Reta do Orçamento

Para analisarmos de que forma a restrição orçamentária limita as escolhas de um consumidor,


consideremos uma situação na qual ele disponha de uma renda fixa, R, que possa ser gasta com Y e
X. Os preços das duas mercadorias serão indicados por Py, e por Px. Então, PyY e PxX, corresponde
à quantidade de dinheiro gasto com alimentos e vestuário.
14

A linha do orçamento indica todas as combinações de Y e X para as quais o total de dinheiro gasto
seja igual à renda disponível. Uma vez que, por hipótese, admite-se que existam apenas dois bens e
que os consumidores não poupem, o consumidor despenderá a totalidade de sua renda com os bens
Y e X. Como resultado, as combinações desses dois bens que ele poderá adquirir são dadas pela
expressão:

R = PxX + PyY

Por exemplo, suponhamos que determinado consumidor possua uma renda semanal de R$ 80, que o
preço do bem X seja R$1 por unidade e que o preço do bem Y seja R$ 2 por unidade. Na tabela
abaixo são apresentados as diversas combinações entre os dois bens que ele poderá adquirir
semanalmente com R$ 80.

Cesta de Mercado e a Linha do Orçamento


Cesta de Mercado Unidades de X Unidades de Y Despesa Total (R$)
A 0 40 80
B 20 30 80
D 40 20 80
E 60 10 80
G 80 0 80

Conforme a tabela, se todo o seu orçamento fosse dirigido ao bem Y, o máximo que ele poderia
adquirir seria 40 unidades, (cesta A). Caso ele despendesse todo o seu orçamento com o bem X,
poderia adquirir um total de 80 unidades (cesta G). As cestas de mercado B, D e E mostram três
formas adicionais pelas quais os R$80 poderiam ser gastos com os bens Y e X. O gráfico abaixo
apresenta a linha do orçamento associada às cestas de mercado da tabela acima.

Y
A Linha do Orçamento X + 2Y = 80
(R/Py) = 40 •

B
30
-10
Inclinação ΔY/ΔX = - ½ = - Pa/Pv

20 D
20

10 •E

0 20 40 60
•G
(R/Px) = 80 X

Pelo fato da desistência de uma unidade de Y trazer uma economia de R$ 2 e a compra de uma
unidade de X custar R$ 1, a quantidade de Y que pode ser permutada por X deve ser a mesma em
qualquer ponto ao longo da linha do orçamento. Consequentemente a linha do orçamento é uma reta
entre os pontos A e G. Nesse caso específico, a linha do orçamento é expressa por:

X + 2Y = 80

À medida que se move ao longo da linha, da cesta A até a cesta G, um consumidor gasta menos
com o bem Y e mais com o bem X. A quantidade extra do bem Y da qual ele deverá desistir, para
poder consumir uma unidade adicional de alimento, pode ser expressa pela razão entre o preço do
bem X e o preço do bem Y, (R$1/R$2 = 1/2). A inclinação da linha, no gráfico acima, ΔY/ΔX = –
1/2, mede o custo relativo do bem X em termos do bem Y.
15

Usando a equação R = PxX + PyY2, podemos ver de quanto se deve desistir de Y para consumir
mais de X. Para isso, é preciso isolar para Y:

Y = (R/Py) – (Px/Py)X

Essa equação é uma linha reta; Para encontrar o intercepto do eixo das abscissas, basta substituir X
= 0. Ou seja:

Y = (R/Py) – (Px/Py)0
Y = (R/Py)

Fazendo o mesmo para Y = 0, chega-se ao intercepto do eixo das ordenadas. Ou seja:

Y = (R/Py) – (Px/Py)X
0 = (R/Py) – (Px/Py)X
(Px/Py)X = (R/Py)
X = (R/Py)/(Px/Py)
X = (R/Py)*(Py/Px)
X = (R/Px)

A inclinação da linha do orçamento, – (Px/Py), é igual à razão dos preços das duas mercadorias com
o sinal negativo. Para chegar a – (P1/P2), basta derivar a função Y = (R/Py) – (Px/Py)X em relação a
X. O grau da inclinação nos informa pela qual as duas mercadorias podem ser trocadas sem que a
quantidade total de dinheiro gasto seja alterada. O intercepto (R/Py) com o eixo vertical representa a
maior quantidade de Y que pode ser adquirida com a renda R. O intercepto (R/Px) com o eixo
horizontal representa a maior quantidade de X que pode ser adquirida caso toda a renda seja gasta
com esse bem.

Efeitos das modificações na Renda e nos Preços


Modificações na Renda

Uma modificação da renda altera o ponto de interseção da reta com o eixo vertical, mas não muda
sua inclinação, uma vez que, nenhuma mercadoria teve seu preço alterado.

O gráfico abaixo mostra que com o aumento da renda, a linha do orçamento desloca-se para a
direita (passando de R0 para R2). Contudo, R2 permanece paralela a R0. Da mesma forma, caso a
renda fosse reduzida, a linha do orçamento seria deslocada para a esquerda, passando de R0 para R1.
Y

Y2

R2
Y0

R0
Y1
R1
X1 X0 X2 X
16

Modificações nos Preços

Suponhamos que o preço de uma mercadoria seja modificado, mas o preço da outra permaneça o
mesmo. Uma redução no preço do X reduz a inclinação da reta do orçamento.

No gráfico abaixo, podemos obter a nova linha do orçamento R1 por meio de uma rotação da linha
original R0 para a direita, a partir de seu ponto de interseção com Y. Essa rotação faz sentido, pois
uma pessoa que adquira apenas vestuário e nenhum alimento não será influenciada por tal
modificação de preço. No entanto, um indivíduo que adquira uma quantidade substancial de X terá
seu poder aquisitivo ampliado. Em consequência do declínio no preço do X, a quantidade máxima
de X que pode ser adquirida aumentou.

Y0

R1 (P1)
R0
R2
(P1)

X2 X0 X1 X

Por outro lado, quando o preço do alimento aumenta a reta do orçamento faz uma rotação para a
esquerda, passando para R2 de tal modo que o poder aquisitivo dos consumidores é reduzido. Mais
uma vez, um indivíduo que apenas adquira Y não será afetado por tal aumento de preço.

Porém, se ambos os bens tivessem seus preços alterados, mas a razão entre os dois preços
permanecesse a mesma, a inclinação não sofreria alteração. O ponto de intersecção da linha do
orçamento se deslocaria, mas a nova linha manter-se-ia paralela a anterior, ou seja, se os preços dos
dois bens fossem reduzidos a metade, a inclinação não sofreria alteração, porém, os valores
correspondentes aos pontos de intersecção com os eixos vertical e horizontal, seriam duplicados,
deslocando a linha do orçamento para a direita.

Se tudo fosse duplicado, os preços dos bens e a renda do consumidor, a razão entre os preços não
seria alterada, dessa forma, a inclinação da linha do orçamento não seria alterada, assim como
também os pontos nos eixos de intersecção, isto poderia ocorrer através de um processo
inflacionário.

Portanto, o poder aquisitivo do consumidor é afetado tanto pela renda quanto pelos preços dos bens.

4. O Equilíbrio do Consumidor e a Escolha Ótima

Dadas as preferências e as restrições orçamentárias, podemos então determinar como os


consumidores escolhem quanto comprar de cada mercadoria. Estamos supondo que eles façam essa
escolha de maneira racional, com isso queremos dizer que eles decidem a quantidade de cada bem
visando a maximizar o grau de satisfação que poderão obter, considerando o orçamento limitado de
que dispõem e que gastam a totalidade de sua renda no momento presente.
17

Podemos ilustrar a solução do problema da escolha do consumidor através do gráfico abaixo.


Considere o mapa de indiferença e a restrição orçamentária no gráfico. O consumidor busca
escolher a cesta de mercado que lhe proporciona o maior nível de satisfação, porém deve levar em
consideração sua restrição. Portanto, esta cesta deverá estar sobre a reta orçamentária. Para
visualizar a razão disso, observe que qualquer cesta situada à esquerda e abaixo da linha do
orçamento deixaria disponível uma parte da renda, que caso viesse a ser despendida, poderia
aumentar o grau de satisfação do consumidor. Observe também que, qualquer cesta de mercado
situada à direita ou acima da linha do orçamento não poderá ser adquirida com a renda disponível.
Portanto, a única opção possível será uma cesta que esteja situada sobre a linha do orçamento.

B D
Y2 • • I2
A
Y0 •
I1

Y2 •C I0 Linha do Orçamento

X1 X0 X2 X

Já a cesta D no gráfico é uma cesta preferível, mas o consumidor não pode obtê-la com a renda que
possui. Note que a cesta de mercado B na curva de indiferença I0 não pode ser a escolha
maximizadora, mesmo estando sobre a reta do orçamento. Pois uma redistribuição da renda na qual
se gastasse mais com o bem X e menos com bem Y poderia aumentar o grau de satisfação do
consumidor. Percorrendo a linha do orçamento até o ponto A, o consumidor gasta a mesma
quantidade de dinheiro, mas atinge um grau mais elevado de satisfação, que se encontra associado à
curva de indiferença I1. Do mesmo modo para a cesta de mercado C. Neste caso, uma redistribuição
da renda na qual se gastasse mais com o bem Y e menos com bem X poderia aumentar o grau de
satisfação do consumidor, percorrendo a linha do orçamento até o ponto A. Portanto, a cesta de
mercado A é a cesta que maximiza a satisfação/utilidade do consumidor.

A partir daí podemos ver que a cesta de mercado que maximiza a satisfação deverá estar situada
sobre a curva de indiferença mais elevada com a qual a linha do orçamento tenha contato. O ponto
A é o ponto de tangência entre a curva de indiferença I1 e a reta do orçamento. Em A, a inclinação
da linha do orçamento é exatamente igual à inclinação da curva de indiferença. Pelo fato de a TMS
(-ΔY/ΔX) ser igual à inclinação da curva de indiferença com sinal negativo, podemos afirmar que o
grau de satisfação é maximizado no ponto em que a TMS é igual à razão entre os preços:

TMS = -(P1/P2)

No entanto, a posição de equilíbrio do consumidor pode mudar em caso de variações nos preços
e/ou na renda, conforme explicado em sala de aula.
18

O Equilíbrio do Consumidor e a Utilidade Marginal

O equilíbrio do consumidor está fortemente relacionado com a utilidade marginal dos bens. Vimos
que a TMS = –(UMgX)/(UMgy) e que no equilíbrio a TMS é igual a razão entre os preços dos bens
(TMS = – Px/Py). Então, podemos considerar que:

 UMg x   
    Px 
 UMg  P 
 y   y

Reescrevendo essa igualdade, temos o denominado princípio da igualdade marginal:

 UMg x   UMg y 
    
 P 
 x   y 
P

Essa equação informa que a maximização da utilidade é obtida quando o orçamento é alocado de tal
forma que a utilidade marginal por Real (ou qualquer outra moeda) despendido é igual para ambos
os bens.

A primeira razão mostra em quanto vai aumentar a utilidade total do consumidor se este destinar um
real adicional na compra do bem X. Enquanto a segunda razão mostra em quanto vai aumentar a
utilidade total do consumidor se ele despender um Real a mais na compra do bem Y.

Assim, se a divisão do primeiro termo for maior que a divisão do segundo, isto significa que o
consumidor terá um aumento de utilidade se direcionar uma maior parte do seu orçamento na
compra do bem X do que para a compra do bem Y. Esse é o caso do ponto B no gráfico acima.

Por outro lado, se a divisão do primeiro termo for menor que a divisão do segundo, isto significa
que o consumidor terá um aumento de utilidade se direcionar uma maior parte do seu orçamento na
compra do bem Y do que para a compra do bem X. Esse é o caso do ponto C no gráfico acima.

Em ambos os casos isso deve ocorrer até que o princípio da igualdade marginal seja alcançado. Isto
é, até que o consumidor não possa mais aumentar sua utilidade através da realocação de seu
orçamento, como ocorre no ponto A no gráfico acima.

Por exemplo, suponhamos que uma pessoa obtenha mais utilidade despendendo um Real a mais
com o bem X do que com o bem Y. Nesse caso, o consumidor se encontra em uma situação similar
ao ponto B do gráfico supracitado, de modo que a utilidade será aumentada por meio de mais gastos
com o bem X.

Enquanto a utilidade marginal obtida ao gastar um Real a mais com X for maior que a utilidade
obtida ao gastar um Real a mais com o bem Y, essa pessoa pode aumentar a utilidade direcionando
seu orçamento para o bem X e afastando-se do bem Y. Com isso, a utilidade marginal do bem X vai
acabar se tornando menor (devido à utilidade marginal ser decrescente no consumo) e a utilidade
marginal do bem Y vai se tornar maior (pela mesma razão).

Isto vai ocorrer, de modo que a maximização da utilidade será alcançada somente quando o
consumidor tiver satisfeito o princípio da igualdade marginal, isto é, tiver igualado a utilidade
marginal por Real despendido em cada uma das mercadorias.
19

Cálculo do Equilíbrio do Consumidor

Considere um consumidor que se tenha uma função utilidade dada por U = XY e que sua renda seja
igual a R$ 100 e o preço do bem X seja igual a 2 e o preço do bem Y seja igual 5. Qual a quantidade
de ambos os bens que maximiza a utilidade do consumidor?

Lembre-se que a curva de indiferença é dada pela função utilidade. Lembre-se também que a
condição de equilíbrio ou de maximização da utilidade é dada pelo princípio da igualdade marginal.
Ou seja:

 UMg x   UMg y 
    
 P 
 x   y 
P

Então precisamos calcular a utilidade marginal para os dois bens. Como a derivada mostra a taxa de
variação da variável dependente quando ocorre uma pequena modificação na variável independente,
isto significa que a utilidade marginal para ambos os bens pode ser encontrada a partir da derivada
da função utilidade.

Assim, derivando a equação U = XY em função de X, encontramos a taxa de variação da utilidade


total quando ocorre uma pequena modificação em X. Em outras palavras, encontramos a UMgX.
Para encontrar a UMgy, basta derivar a equação U = XY em função de Y.

Assim, temos:

dU dU
UMg X  Y UMg Y  X
dX dY

Substituindo o valor dos preços e das utilidades marginais na condição de equilíbrio do consumidor,
temos:

 UMg x   UMg y 
    
 P 
 x   y 
P
Y   X 
  
2  5 

Isolando para um dos bens, temos:

X
Y   2
5

 2X 
Y  
 5 

Substituindo Y na linha do orçamento, encontramos o valor de X:

R = PxX + PyY
100 = 2X + 5Y
20

 2X 
100  2 X   5
 5 
 10 X 
100  2 X   
 5 
100  2 X  2 X
100  4 X
100
X 
4
X  25

Então, a quantidade de X que maximiza a utilidade do consumidor é igual a 25. Para encontrar a
quantidade de Y, basta substituir o valor de X em Y:

 2X 
Y  
 5 
 2(25) 
Y  
 5 
 50 
Y  
 5
Y  10

Dessa forma, X = 25 e Y = 10 são as quantidades que o consumidor maximiza sua utilidade para
uma renda de 100. A utilidade total gerada por essa escolha é de 250. A representação gráfica desse
equilíbrio pode ser vista abaixo.

Y
40

B
20 •
I1 = 1000
10
A•
I0 = 250

25 50 100 X

Se a renda aumentar de R$ 100 para R$ 200, qual será cesta de equilíbrio? Se a renda aumenta, a
linha do orçamento se desloca para cima permitindo ao consumidor adquirir uma cesta de mercado
com um nível de utilidade maior, dado pela curva de indiferença I1 no gráfico acima. E se o preço
do bem X aumentar para R$ 4, qual será a nova cesta de equilíbrio e seu respectivo nível de
utilidade? Essa resposta fica como exercício para o aluno praticar.
21

5. Demanda Individual e Demanda de Mercado

Esta seção mostra como a curva da demanda de um consumidor individual surge a partir de suas
escolhas de bens em face de uma restrição orçamentária.

Começaremos examinando de que forma se modifica o consumo do bem Y e X quando ocorre uma
variação no preço de X. A figura abaixo apresenta as escolhas que uma pessoa pode fazer quando
estiver destinando um montante fixo de renda a essas duas mercadorias. Inicialmente o consumidor
se encontra maximizando sua satisfação na curva de indiferença I0, adquirindo Y0 e X0.
Suponhamos que o preço de X aumente (de P0 para P1 no gráfico de baixo). Com isso, a linha do
orçamento sofre um movimento de rotação para a esquerda, em torno do ponto da interseção com o
eixo vertical, tornando-se mais inclinada. O consumidor agora maximiza sua satisfação com uma
quantidade do bem X menor (X1), em uma curva de indiferença mais baixa (I1). Movimento inverso
ocorre quando se tem uma queda do preço do bem X (de P0 para P2 no gráfico de baixo), passando a
maximizar a satisfação com uma quantidade maior (X2).

Curva de preço consumo

I2
I1 I0

X1 X0 X2 X
P

P1

P0
P2 Curva de demanda

X1 X0 X2 X
A união de todos esses pontos de maximização de utilidade do consumidor gera a denominada
curva de preço consumo. Portanto, essa curva apresenta as combinações maximizadoras de utilidade
de dois bens, conforme o preço de um deles se modifica. Porém, o consumo do bem Y também se
modifica com alterações no preço do bem X, pois resulta em um aumento ou diminuição na
capacidade do consumidor de adquirir ambas as mercadorias.

A partir dessas modificações se pode deduzir a curva de demanda individual. Esta curva relaciona a
quantidade de um bem que determinado consumidor comprará com o preço desse bem. Tal curva
apresenta duas propriedades importantes.

O nível de utilidade aumenta à medida que nos movemos da esquerda para a direita ao longo da
curva de demanda individual.
22

Cada ponto da curva de demanda individual representa um ponto de maximização da utilidade ao


satisfazer a condição de que taxa marginal de substituição do bem Y pelo bem X é igual a razão
entre os preços desses dois bens.

Agora suponhamos que os preços dos bens Y e X sejam fixos e que ocorram variações na renda. O
gráfico abaixo apresenta os vários pontos de maximização do consumidor, conforme a renda sofre
variações. A união desses pontos constitui o que se denomina de curva de renda consumo. Isto é,
esta curva apresenta as combinações que maximizam a utilidade de dois bens, conforme muda a
renda do consumidor. A curva de renda consumo é positivamente inclinada porque conforme ocorre
o aumento da renda, ocorre o aumento no consumo dos dois bens. O gráfico logo abaixo, mostra o
deslocamento da curva de demanda individual de acordo com o deslocamento da reta orçamentária,
uma vez que a curva de demanda implica determinado nível de renda, qualquer variação da renda
deverá causar um deslocamento da própria curva da demanda.

Curva de renda consumo

I0
I2
I1

X0 X1 X2 X
P

P1 D2
D1
D0

X0 X1 X2 X

Bens Inferiores versus Normais

Quando a curva de renda consumo apresenta uma inclinação positiva, a quantidade demanda
aumenta com a renda e, consequentemente, a elasticidade de renda da demanda torna-se positiva.
Quanto maiores forem os deslocamentos da curva da demanda para a direita, maior será a
elasticidade da demanda. Nesse caso, os bens são descritos como normais: os consumidores
desejam adquirir mais desses bens à medida que sua renda aumenta.

Em alguns casos, a quantidade demanda cai à medida que a renda dos consumidores aumenta,
sendo a elasticidade da demanda assim negativa. Quando isso ocorre, esse bem é considerado
inferior. O termo inferior apenas denota que o consumo apresenta redução quando a renda aumenta.
Por exemplo, carne de segunda é considerada inferior para algumas pessoas, pois quando sua renda
aumenta passam a comprar menos desse bem, consumindo, por exemplo, carne de primeira.
23

A figura abaixo apresenta uma curva de renda-consumo para um bem inferior. Para níveis de renda
relativamente baixos, tanto o bem Y quanto o bem X são bens normais. Entretanto, à medida que a
renda aumenta, a curva de renda consumo inclina-se para a esquerda a partir do ponto C. Esse
deslocamento ocorreu porque o bem x tornou-se um bem inferior, ou seja, seu consumo se reduziu
conforme a renda aumentou.

Y
Linha de renda-consumo

• A

Curvas de Engel

As curvas de renda-consumo podem ser utilizadas na construção de curvas de Engel, que


relacionam a quantidade consumida de uma mercadoria à renda. No gráfico vemos como tais curvas
são construídas para dois bens distintos. No primeiro gráfico, ao relacionar a renda com o bem Y,
encontra-se uma curva de Engel positivamente inclinada, dado que conforme a renda aumenta o
consumo do bem Y também aumenta. Assim, Y é um bem normal. No entanto, ao relacionar a
renda com o bem X, observa-se que a demanda desse bem aumenta diante de um aumento da renda,
mas até o ponto A, desse ponto em diante a demanda cai. Ou seja, o bem X é normal até o ponto A,
a partir desse ponto o aumento da renda gera uma queda na sua demanda, sendo portanto, um bem
inferior.

Renda Renda Curva de Engel


Curva de Engel

• A

y x
24

Bens Complementares e Substitutos

Se o preço do bem y diminui, o que deve ocorrer com a quantidade demandada do bem x? a
resposta a essa pergunta é: depende. Imagine que o bem y seja um bem consumido usualmente em
conjunto com o bem x, isto é, sejam bens complementares. Em outras palavras, dois bens são
chamados complementares quando, havendo redução (ou aumento) no preço de um deles, a
quantidade demanda do outro aumenta (diminui).

Y Y Bens Substitutos
Bens Complementares
I1
I0

• E1
• I1 •
E0
I0 E0 • E1
X X

Existem, por outro lado, bens que se substituem mutuamente, nesse caso, os bens são substitutos e
havendo uma redução (ou aumento) no preço de um deles, a quantidade demandada do outro
diminui (aumenta). Acima estão os gráficos para bens complementares e substitutos.

Da demanda Individual à demanda de Mercado

A quantidade demandada de determinado bem pelo conjunto de consumidores de um mercado nada


mais é do que a soma das quantidades demandadas de cada um dos consumidores. Portanto, se um
mercado tem três consumidores, a demanda do mercado será determinada pela soma das
quantidades demandadas por esses três consumidores a cada preço. Assim, em mercado com apenas
três consumidores, se ao preço de 5, os consumidores A, B e C demandam 3, 6 e 8 unidades
respectivamente, a demanda do mercado ao preço de 5 será igual a 2 + 6 + 8 = 16. E Assim,
sucessivamente para os demais preços. Portanto, quanto maior o número de consumidores, maior
será a demanda do mercado. Além disso, fatores que influenciam a demanda de muitos
consumidores em determinado mercado, também influenciará a própria demanda de mercado.

P
DB DC
DA

Demanda de Mercado = DA + DB + DC

2 6 8 16 Q

Você também pode gostar