Bonecos de pano

Recuperando as brincadeiras do tempo dos avós

ALINE ALVES COELHO
Licenciada em Pedagogia - Séries Iniciais,
com Especialização em Psicopedagogia.
Professora da Escola de 1º e 2º Graus
Mãe Admirável. Porto Alegre/RS.

Nas séries iniciais do Ensino Fun-

damental, desenvolver um trabalho a
partir de brincadeiras e brinquedos an-
tigos é uma forma de resgatar nosso
passado, de permitir que as crianças
conheçam como viviam, por exemplo,
seus avós.
Partindo dessa premissa, pode-
mos propor aos nossos alunos con-
feccionarem bonecos de pano, tal
como se fazia antigamente, quando os
brinquedos não eram ainda industria-
lizados, em sua maioria.
Pensando em reciclagem de ma-
teriais, podemos pedir aos alunos que
descubram com os pais e parentes o
que têm em casa e que serve para con-
feccionar bonecos. Um exemplo: bo-
neco feito a partir de uma camiseta
velha.
• Camiseta velha (para o corpo do
boneco, preenchimento e roupas);
•agulha de costura;
•alfinetes;
•linhas;
•tesoura;
•pedaços de lã;
•botões;
•retalhos (para a roupa do boneco).
1o passo – Com o material em mãos,
os alunos, sentados em grupos, rece-
bem o molde de um boneco.
Podemos oferecer um molde
para cada criança, um para cada gru-
po, ou deixar que as crianças copiem
aumentando o tamanho do modelo,
usando a técnica de quadrículas, como
indica a Figura 1.
2o passo – A camiseta velha é esten-
dida na mesa, deixando-a sem rugas
Confeccionando bonecos, alunos da 4ª série acabam com a idéia de que homem não costura
Figura 1
ou pregas e, com a ajuda de caneta
hidrocor ou de outro tipo, nela con-
tornamos o modelo, prendendo as
duas partes com alfinetes, como nos
mostra a Figura 2.
Figura 2
A criança deverá ser orientada a
fazer o contorno do modelo com a li-
nha cheia e, por fora, seguindo o con-
torno, fará a marcação com linha in-
tercalada.
3o passo – Recortando, pela linha in-
tercalada, o excesso de tecido da ca-
miseta, conforme a Figura 3, já tere-
mos o esqueleto do boneco, pronto
para costurar.
Figura 3
4 o passo – Os alunos começarão
a costurar o boneco, observando
o contorno feito com a linha cheia,
utilizando o ponto de alinhavo, o
ponto caseado ou outro que o
professor considere ser o mais
apropriado ou que as crianças
souberem fazer. Uma parte deve-
rá ficar sem costura para colocar
o enchimento (Figura 4).

Figura 4
5o passo – É hora de desvirar o bo-
neco e enchê-lo, utilizando os reta-
lhos da camiseta. Pode-se, também,
utilizar algodão ou flocos de espuma.
Em seguida, será costurada a parte
por onde foi colocado o enchimento
(Figura 5).
Figura 5
6o passo – Chegou a hora dos deta-
lhes do boneco, quando poderão ser
usados vários materiais.
Essa etapa é bem livre, ficando a
tarefa ao gosto de cada criança. As-
sim, elas poderão criar, em seus bo-
necos, o rosto (olhos, nariz, boca, ore-
lhas) e os cabelos (longos, curtos, li-
sos, encaracolados, encarapinhados).
7o passo – Com o boneco já caracte-
rizado (com os detalhes do rosto e dos
cabelos), começará a confecção das
roupas.
O modelo do boneco (Figura 1)
novamente poderá ser utilizado para
desenhar os moldes. Essas roupas se-
rão recortadas dos restos da camiseta,
se tiverem sobrado após o enchimen-
to, ou de retalhos de outros tecidos.
É preciso observar que os mol-
des devem ter um tamanho um pouco
maior para que, depois de prontas,
as roupas sirvam no boneco que já está
recheado.
Os modelos serão recortados,
costurados, enfeitados e vestidos nos
bonecos. As crianças poderão acres-
centar adornos como brincos, pulsei-
ras, colares, sapatos, bolsas e outros
(Figura 6).
Figura 6
Integração curricular
A tarefa de confeccionar os bo-
necos de pano e as atividades que
poderão ser realizadas com eles cons-
tituem-se, sem dúvida, um trabalho
multidisciplinar. O trabalho com bo-
necos pode possibilitar, por exemplo,
em:
–Língua Portuguesa
•Produção de textos (oralmente e por
escrito) contando a vida do boneco,
como ele surgiu, quem o criou, como
é o mundo que o espera, o que ele
espera do mundo, etc.
•Elaboração de relatório da confec-
ção dos bonecos e bonecas.
– Matemática
•Realização de trabalho com medi-
das; uso da fita métrica para medir os
tecidos, uso da régua para definir o
tamanho dos moldes.
– Temas transversais
•Levantamento e análise dos cuida-
dos com os materiais recicláveis.
•Análise das questões de gênero e de
identidade.
• Proposição de questionamentos do
tipo: Homem costura ou isso é tra-
balho só de mulher?
É uma ótima oportunidade de
ensinar meninos e meninas a costu-
rar, tornando evidente que qualquer
pessoa pode realizar tarefas distin-
tas e que não existem tarefas próprias
ou exclusivas para homens ou para
mulheres.
Outras atividades
– Posto de coleta
Além dos materiais citados no
exemplo, as crianças, com o auxílio do
professor, poderão criar um posto de
coleta para onde trarão diferentes ti-
pos de materiais para confeccionar
outros modelos. Por exemplo: retalhos
de fazenda, plásticos, restos de lã e
linha, pedaços de fita, renda e feltro,
botões, bijuterias multicoloridas, meias
de náilon, etc.
–Oficina de bonecos
• As crianças poderão inventar os
seus próprios moldes e testar novos
materiais na confecção, como meias
de náilon, jornal, papel reciclado,
papel machê, etc. Poderão, também,
realizar o levantamento e a aprendi-
zagem de pontos para costurar ou
para bordar.
•O professor pode oportunizar uma
integração com a família e convidar as
avós para mostrar o que está sendo
feito e aprender como elas faziam as
suas bonecas, bem como ouvir suas
histórias com outros brinquedos.
•O professor pode, também, propor-
cionar a integração com outras turmas,
já que as crianças, pela experiência
adquirida na confecção de bonecos,
terão condições de ensinar os colegas
a fazê-los, partindo, por exemplo, da
criação de um modelo.
– Campanha de doação
•Os alunos poderão promover uma
campanha de doação de bonecos de
pano (confeccionados por eles), des-
tinando-os a creches e outras institui-
ções infantis.Para alcançarem uma boa
produção, poderão convidar seus
avós e avôs para participarem da con-
fecção, bem como seus pais, amigos
mais velhos e colegas.
Bibliografia
MORAES, Roque. Ciências para as séries ini-
ciais e alfabetização. Porto Alegre : Sagra,
1995.
PEREIRA, Tânia Michel. Matemática nas sé-
ries iniciais. Ijuí : UNIJUÍ, 1989.
VIEIRA, Elaine; VOLQUIND, Léa. Oficinas
de ensino. O quê? Por quê? Como? Porto
Alegre : Ed. PUC/RS, 1996.