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FORMAÇÃO DE
PROFESSORES PARA
O ATENDIMENTO
EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO
2ª Edição
SANTA MARIA
LABORATÓRIO DE PESQ. E DOC. - CE
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
2012
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
ORGANIZAÇÃO
Ana Cláudia Pavão Siluk
ISBN 978-85-61128-21-0
CDU 376.1/.5.134
sumário
Apresentação ..................................................................................................................................................9
Módulo VI - Atendimento Educacional Especializado para Alunos Cegos e com Baixa Visão.............177
Unidade A - A Visão e a Falta da Visão..........................................................................................................179
Unidade B - Baixa Visão................................................................................................................................186
Unidade C - O Sistema Braille.......................................................................................................................194
Unidade D - Orientação E Mobilidade...........................................................................................................201
Unidade E - Recursos Tecnológicos...............................................................................................................203
Unidade F - Adaptação de Material..............................................................................................................205
Módulo IX - Atendimento Educacional Especializado para Alunos com Altas Habilidades /Superdotação.......307
Unidade A - Conceitos e Terminologias Acerca de Inteligências e de Altas Habilidades/Superdotação........309
Unidade B - Procedimentos para o Desenvolvimento das Habilidades e Talentos:
Adequação, Complementação e/ou Suplementação Curricular.................................................317
Unidade C - Técnicas de Enriquecimento, Relacionadas à Pesquisa Científica e Desenvolvimento
de Produtos e Procedimentos de Compactação ou Aceleração Curricular..................................327
Unidade D - Elaboração de Materiais e Técnicas de Trabalho Específicos ao Desenvolvimento
das Habilidades e Talentos Conforme a Necessidade dos Alunos ..............................................341
UNIDADE A CONCEITO,
CARACTERÍSTICAS
E OBJETIVOS
Analisando o percurso histórico nessa área, é possível dizer que não é a tecno-
logia que permite o sucesso da educação a distância. Os professores precisam saber
educar à distância, pois é muito diferente do que ensinar presencialmente. Há a neces-
sidade de diferentes habilidades de apresentação da informação, de planejamento, de
desenvolvimento e de avaliação de estratégias de ensino quando professores e alunos
estão distantes fisicamente, além de ser necessário dominar o meio de transmissão da
informação adotado.
Aretio (1994), ao considerar o ensino a distância como uma nova possibilidade
pedagógica, apresenta seus benefícios com os seguintes tópicos:
• Abertura – Elimina ou reduz as barreiras de acesso aos cursos ou ao nível de
estudo. Há uma diversidade e significativo aumento da oferta de cursos, pro-
porcionando inclusive formação adequada às pessoas que não freqüentaram a
escola tradicional.
• Flexibilidade – Ausência de rigidez quanto a tempo, lugar e ritmo das aulas.
Permite combinar estudo e trabalho, podendo o aluno permanecer no ambiente
profissional, cultural ou familiar, proporcionando uma formação fora do contex-
to da sala de aula.
• Eficácia – O aluno passa a ser o centro do processo de ensino e aprendizagem e
sujeito ativo de sua formação teórico-prática. A comunicação bidirecional entre
professor-aluno, aluno-aluno, aluno- comunidade e professor-comunidade ga-
rante uma prática docente e uma aprendizagem dinâmica e inovadora.
• Formação permanente e pessoal – A capacitação para o trabalho e para a
superação do nível cultural de cada aluno responde às demandas e às aspirações
• U tilização de Meios Técnicos – Não existem mais fronteiras nem distâncias
para acesso à informação através dos recursos de comunicação, os quais têm
possibilitado o grande avanço da EaD e se mostrado como possibilitadores da
igualdade de oportunidades de acesso ao conhecimento e da democratização
das possibilidades da educação.
• Aprendizagem Independente e Flexível – A educação à distância, através
de um cauteloso planejamento, possibilita um trabalho independente e a indivi-
dualização da aprendizagem, devido à flexibilidade própria desse processo. Atra-
vés disso, o professor, enquanto mediador, não apenas transmite conhecimentos
ao aluno, mas torna o aluno capaz de aprender a aprender e aprender a fazer,
de forma flexível, respeitando sua autonomia e seu ritmo de aprendizagem,
tornando-o consciente de sua autoformação.
• Comunicação Bidirecional – O ensino e aprendizagem, como processo de
comunicação, é bidirecional, com o conseqüente feedback entre docente e dis-
cente. O aluno deixa de ser um receptor de mensagens enviadas por um centro
docente e passa a interagir com o professor, com outros colegas e com outras
comunidades, enriquecendo sua aprendizagem.
• Enfoque Tecnológico – Na educação a distância, não pode haver improvisa-
ções no planejamento e execução dos programas. Um planejamento sistemático
instrucional e pedagógico é imprescindível, pois a correção dos problemas que
possam surgir não pode ser feita de imediato.
• Comunicação Massiva – Os modernos meios de comunicação e interação tor-
naram inesgotáveis as possibilidades de recepção e aproveitamento da informa-
ção difundida, por um grande número de pessoas dispersas geograficamente. A
mensagem pode ser transmitida para muitas pessoas, com um custo baixo em
relação ao ensino presencial, pelas limitações espaço-tempo-presença do pro-
fessor. O fato de atingir várias pessoas não descarta, mas enfatiza uma aprendi-
zagem mais individual, seguindo exigências e necessidades do aluno. A possibi-
lidade da EaD, através da comunicação massiva, pode ser também direcionada a
minorias, inclusive a um só aluno.
Oliveira et al. (2004) realizaram uma pesquisa com os tutores de cursos a distân-
cia, buscando elementos que dessem suporte à construção de estratégias pedagógicas
para o desenvolvimento de uma didática de EAD. Os resultados encontrados indicaram
que as estratégias deveriam: 1) dar ênfase na autonomia do aluno, quanto à sua própria
aprendizagem; 2) explorar todas as possibilidades do material didático; 3) incentivar o
domínio das ferramentas de interação e das várias modalidades tecnológicas de infor-
mação e comunicação; 4) conhecer os vários processos de interação e mediação; 5) ter
disponibilidade para a comunicação diferenciada no espaço e no tempo.
De posse desses estudos, é possível constatar alguns pontos comuns entre eles,
quando se trata de elementos que promovem estratégias didáticas em EAD. São eles:
distância física; suporte ao aluno, meios tecnológicos, comunicação, aprendizagem
autônoma, aprendizagem cooperativa, avaliação formativa e processual, material di-
dático. Assim, para cada elemento poderia ser propostas atividades que resultariam
em estratégias didáticas.
A distância professor/aluno, enquanto obstáculo para EAD, pode ser superada
pelo uso das TICs, como estratégia didática. As tecnologias têm facilitado a comunica-
ção síncrona por áudio e vídeo, fazendo que as distâncias existentes pareçam menores,
devido às interações propostas. Sobre isso, estudos de Azevedo (2002) apresentam re-
latos de alunos que registram não terem tido professor tão próximo e tão atento a cada
um dos alunos, como no curso a distância.
O suporte ao aluno por meio do sistema de tutoria é outro elemento que se
configura como estratégia pedagógica. Do mesmo modo que propor o ensino focado
no aluno promove a autonomia, exige processos de cooperação entre os alunos. As
atividades propostas devem conduzir à autoformação, contando para isso, com os tu-
tores e o professor, que estabelecem a mediação. Ao mesmo tempo, também deve-se
propiciar momentos de partilha, de troca de experiências e de aprendizagem entre os
alunos, para que na partilha das informações construam conhecimentos coletivos.
Além das atividades que podem ser realizadas por meio das TICs, as interações e
mediações entre professor/alunos/tutor também podem ocorrer nesse contexto. Palloff e
Pratt (2004) propõem a realização de atividades individuais, para o aluno interagir mini-
mamente com outros; em pares, para serem realizadas em duplas, utilizando, por exemplo,
o e-mail; professor/aluno, por meio do quadro de avisos ou da agenda da disciplina, onde
o aluno acessa o material; e em grupo, com o uso de videoconferências, fóruns, chats, etc.
Sobre a questão de uso das TICs para propor atividades, é importante fazer um
alerta, que a proposta de estudo deve estabelecer estratégias didáticas que superem a
própria ferramenta tecnológica, de forma que a tecnologia não conduza o processo de
ensino e aprendizagem. Assim, para que os alunos sintam-se mais próximos dos pro-
fessores ou que realizem determinada atividade, a escolha da tecnologia, em termos
de grau de dificuldade de utilização, não deve ser maior que a própria realização da
tarefa ou o desejo de ter o professor à vista.
A avaliação formativa e processual, outro elemento citado, conduz a uma possi-
bilidade ilimitada de estratégias didáticas. Analisando as atividades sugeridas ao longo
do curso, pode-se interferir em todo o processo, modificando, melhorando, quantas
vezes forem necessário. A avaliação formativa é adequada quando se quer melhorar a
aprendizagem e acompanhar e orientar os alunos em seu processo de formação.
O material didático, no que se refere à escolha da mídia e as múltiplas possi-
bilidades de utilização, permite o desenvolvimento de estratégias que atendem aos
demais elementos encontrados. Se o material didático não for adequado ao público, ao
curso e ao contexto, haverá uma dificuldade de mediação, de comunicação, de apren-
dizagem, de cooperação e da própria avaliação. Contudo, não significa que o material
didático determina as estratégias pedagógicas utilizadas, mas que exercem grande
influência no resultado da aprendizagem dos alunos.
Portanto, verifica-se que, de fato, não existe um modelo único de didática do en-
sino a distância. As infinitas possibilidades de comunicação, interação, mídias e tecno-
logias existentes e em desenvolvimento, não permitem que essa questão se configure
cristalizada. As estratégias de ensino a distância, que poderiam determinar um modelo
de didática para a EAD, estão em permanente estado de construção. Para que a EAD
obtenha êxito nos cursos oferecidos, seus gestores deverão permanecer em estado de
alerta para o uso das tecnologias, para a produção dos materiais didáticos, para os sis-
temas de tutoria, etc, desenvolvendo modelos que possam ser adequados e utilizados
coletivamente.
UNIDADE B APRENDIZAGEM
AUTÔNOMA E OS
DESAFIOS DAS TICS
vem prever atividades que exijam que o aluno pense seu próprio pensamento, interaja
com os demais, descubra e compreenda novas formas de pensar, refletindo sobre sua
formação. Isso não significa aprender sozinho. Norte (2005) diz que estudar sozinho
não é o objetivo da aprendizagem autônoma, porque o aluno autônomo necessita de
uma predisposição de responsabilidade e, se não tiver, permanecerá dependente.
Para o aluno de educação a distância, que aprende de maneira autônoma com
o uso de TICs, também são esperadas algumas características, como saber utilizar e
ter acesso à rede mundial de computadores, estar disposto a compartilhar suas ex-
periências educacionais, não sentir-se prejudicado com a ausência de sinais auditivos
ou visuais no processo de comunicação, dedicar tempo aos estudos, e acreditar que a
aprendizagem de qualidade pode acontecer em qualquer lugar e momento (PALLOF e
PRATT, 2004).
Assim sendo, verifica-se que na EAD os alunos podem ter mais iniciativa para
buscar o conhecimento, pois dispõem de uma gama maior e diversificada de informa-
ções, enquanto os professores e tutores devem aprender a utilizar os recursos tecno-
lógicos para atender às necessidades de cada aluno, por meio de espaços virtuais que
permitem conviver e interagir socialmente.
Com o controle da sua aprendizagem, o aluno pode explorar o ambiente seguin-
do a sua necessidade e intuição e não ser conduzido pela vontade ou determinação do
professor. O aluno poderá propor projetos, assuntos, interesses que queira desenvolver,
para a partir daí, os professores e os colegas interagirem com ele.
Essa postura dialógica é fundamental em um ambiente de aprendizagem a dis-
tância, pois essa dialogicidade pode se estabelecer entre alunos e professores, pelo
desenvolvimento de atividades individuais e coletivas, utilizando as tecnologias de
comunicação, que permitem a autoformação. O professor, nesse contexto, desempe-
nha uma prática docente de mediação, não de instrução, acompanhando o processo de
aprendizagem que é determinado pelo aluno.
A aprendizagem autônoma leva os alunos à aprendizagem cooperativa, em rede,
por meio das tecnologias de informação e comunicação e não ao isolamento dos alu-
nos (NORTE, 2005). O ambiente decorrente dessa interação é construído por fatores
que interferem diretamente na aprendizagem do aluno, como a forma de ensinar do
professor, a forma de aprender do aluno, a afetividade de ambos e o material utilizado.
As TICs exercem fundamental importância na mediação entre o conjunto de fatores
apresentados e a promoção da aprendizagem autônoma, pois oferecem uma gama
de possibilidades. Todavia, sua simples presença não garante que o professor saberá
integrá-las a uma metodologia centrada no aluno.
UNIDADE C AVALIAÇÃO EM
EDUCAÇÃO A
DISTÂNCIA
Nos cursos de educação a distância – EAD, muitas são as questões que costumam
gerar polêmicas. A avaliação dos alunos e do próprio curso vem reforçar esse quadro.
Assim, como no ensino presencial, as dúvidas sobre o ato de avaliar persistem para
os professores que estão habituados a considerar como aprendizagem de seus alunos
a capacidade por eles demonstrada de reter as informações fornecidas. Na educação
a distância, perde-se esse referencial, pois a avaliação dos alunos está relacionada as
suas participações e contribuições nos fóruns, nos chats, nas listas, nas interações rea-
lizadas. Percebe-se, então, que a avaliação na EAD deverá ser diferente da presencial.
O desafio surge justamente nesse ponto, em encontrar metodologias de avaliação em
EAD.
Outra questão que merece destaque, quando se trata de EAD e avaliação é o
plágio de trabalhos acadêmicos, senão na sua totalidade, em partes. No blog, blosque.
com, são indicados sete mitos que envolvem o plágio na internet, dentre eles, cita-se:
quando alguém plagia, é porque o trabalho é bom; o conteúdo que está na Internet é
livre para ser usado por qualquer um, de qualquer forma; as pessoas plagiam porque
não sabem que é errado, ou porquê não sabem qual é o procedimento correto.
É importante que esses mitos sejam pensados como atitudes incorretas, que são
crimes. O aluno de EAD deve estar atento para realizar as citações corretas quando fizer
pesquisas na Internet, colocando a fonte de onde a idéia ou trecho foram extraídos.
Atualmente existem sistemas, softwares, que realizam o rastreamento de trechos, in-
dicando a página e data de postagem do conteúdo. Assim, o aluno que comete plágio
em seus trabalhos acadêmicos tem sua avaliação prejudicada.
Uma das formas de evitar o plágio é o professor acompanhar seu desempenho e
ritmo no desenvolvimento das atividades. O estabelecimento de critérios e indicadores
para cada atividade realizada, auxilia a verificar se os objetivos foram alcançados. Outra
questão que merece destaque é a auto-avaliação, que faz com que o aluno reflita sobre
seu processo de desenvolvimento, tornando-o mais crítico e autônomo (BRASIL, 2003).
Dentre as tendências de avaliação em EAD, encontra-se a avaliação formativa,
que segundo Perrenoud (1999, apud OTSUKA e ROCHA, 2002) é a avaliação que ocor-
re continuamente e que tem por objetivo melhorar a aprendizagem e acompanhar e
Referências Bibliográficas
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articulando saberes, tecendo a rede. In: MORAES, Maria Cândida (org.) Educação a Distância:
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NORTE, Mariângela Braga. Estudo cooperativo e auto-aprendizagem de línguas estrangeiras por meio
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UNIDADE A COMPREENDENDO
O ATENDIMENTO
EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO (AEE)
O fragmento do texto acima evidencia alguns pontos que devem ser destacados.
O primeiro deles é que a Educação Especial consiste em uma modalidade de ensino e
não em um sistema substitutivo de ensino. Portanto, não deve ser substitutiva ao en-
sino regular e, sim, complementar e/ou suplementar. Sendo oferecida de forma substi-
tutiva, torna-se incompatível com o princípio de igualdade, porém, sendo ofertada de
forma complementar e/ou suplementar, não impede que o aluno frequente o ensino
regular. Em termos mais simples, não deve haver sistemas paralelos de ensino especial,
como, por exemplo, escolas especiais com séries ou anos funcionando conforme o en-
sino regular, mas se destinando exclusivamente ao ensino de alunos com necessidades
educacionais especiais.
Outro ponto que merece destaque é a transversalidade da Educação Especial,
pois quando o texto nos esclarece que essa modalidade de ensino perpassa os demais
níveis, evidencia a transversalidade. Dessa forma, a educação especial atua de forma
complementar ou suplementar ao sistema regular de ensino, tanto na Educação Básica
(Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) quanto no Ensino Superior.
Essa transversalidade pode ser representada pela figura a seguir:
Por fim, podemos destacar como ponto relevante do fragmento anterior que a
Educação Especial é a modalidade de ensino que realiza o Atendimento Educacional
Especializado (AEE). Antes de tratarmos especificamente do AEE, pensamos ser impor-
tante saber quais alunos são público da Educação Especial e, portanto, têm o direito de
receber atendimento complementar e/ou suplementar.
Com base nessa definição, percebemos que o AEE é o atendimento oferecido aos
alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades/
superdotação, de forma complementar e/ou suplementar ao ensino regular, conside-
rando as necessidades desses alunos. Então, o professor do AEE, dependendo da neces-
sidade de seu aluno, organizará atividades e recursos pedagógicos e de acessibilidade,
a fim de facilitar o processo de construção de aprendizagem do sujeito. É importante
salientar, ainda, que as atividades oferecidas pelo AEE não se configuram como reforço
escolar, uma vez que se diferenciam daquelas realizadas na sala de aula do ensino co-
mum, como refere a citação anterior. O professor deverá, de forma criativa e inovadora
buscar atividades e recursos que estimulem o aprendizado do aluno nas áreas em que
ele encontra maiores dificuldades.
Para evidenciarmos o que são as atividades e recursos do AEE, apresentaremos
alguns exemplos:
• Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS: “é uma língua visual-espacial articulada
através das mãos, das expressões faciais e do corpo. É uma língua natural usada
pela comunidade surda brasileira” (QUADROS, 2007, p. 19);
• Código Braille: “código ou meio de leitura e escrita das pessoas cegas. Baseia-
se na combinação de 63 pontos que representam as letras do alfabeto, os núme-
ros e outros símbolos gráficos” (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 22);
• Comunicação aumentativa/alternativa: consiste em “um conjunto de pro-
cedimentos técnicos e metodológicos direcionado a pessoas acometidas por al-
guma doença, deficiência ou alguma outra situação momentânea que impede a
comunicação com as demais pessoas por meio dos recursos usualmente utiliza-
dos, mais especificamente a fala”. É bom lembrar que a comunicação aumen-
tativa/alternativa não substitui a fala, mas contribui para que a comunicação
ocorra (MANZINI; DELIBERATO, 2006, p. 4);
• Ensino da língua portuguesa para surdos: a língua portuguesa (leitura e
escrita) é a segunda língua para os surdos, sendo que a Língua Brasileira de Si-
nais é a primeira língua;
• Uso do sorobã: “instrumento utilizado para trabalhar cálculos e operações ma-
temáticas; espécie de ábaco que contém cinco contas em cada eixo e borracha
compressora para deixar as contas fixas” (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 22);
• Enriquecimento curricular;
• Produção e adaptação de materiais didáticos e pedagógicos;
• Atividades da vida autônoma.
professor do AEE trabalhará com alunos com deficiência, transtornos globais do desen-
volvimento e altas habilidades/superdotação. Esses alunos devem estar matriculados no
ensino regular da escola ou de outra escola regular, frequentando o AEE em turno inverso.
A escola deverá ter um plano de AEE para a identificação das necessidades edu-
cacionais especiais dos alunos e para a definição dos recursos e atividades que serão
desenvolvidas tendo em vista as especificidades dos alunos. Além do professor do AEE,
a escola também poderá contar com outros profissionais da educação, como, por exem-
plo, um tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais para alunos com surdez ou
um profissional que auxilie os alunos que necessitam de ajuda na alimentação, higiene
e locomoção.
Por fim, podemos enfatizar, em relação à organização do AEE, a importância das
redes de apoio:
• a importância da articulação entre o professor do ensino regular e do Atendi-
mento Educacional Especializado, uma vez que o professor do AEE, além de tra-
balhar com o aluno na sala de recursos, dará o apoio necessário ao professor do
ensino regular que possui em sua sala um aluno incluído.
• a escola pode buscar para a realização do AEE parcerias com a Secretaria de Edu-
cação e Secretaria da Saúde, a fim de que elas apoiem o trabalho da escola. Esse
apoio poderá ocorrer por meio de palestras, assessorias ou cursos para formação
docente, considerando as demandas da escola. Com relação às parcerias, enfati-
zamos que o professor é parte atuante da equipe interdisciplinar, de forma que,
além de receber apoio, esse profissional deve oferecer subsídios acerca da prática
pedagógica com base em seus saberes a respeito da aprendizagem e da realida-
de escolar.
• buscar recursos e serviços necessários para garantir a qualidade de ensino para
os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habi-
lidades/superdotação.
alização das atividades era acompanhada de profundos suspiros. Na sala de aula, ele
sentava na última classe e lá permanecia sem participar de praticamente nenhuma
atividade, exceto as que envolviam desenho. Seu nome não aparecia sequer na lista
de orações que os alunos realizavam, um a cada dia, para dar início à aula. Os nomes
constavam em ordem alfabética e Fernando, com sua dificuldade na fala e na apren-
dizagem, foi excluído da lista.
O que fazia com que Fernando ainda fosse para a escola? Supomos que não há
outra explicação, senão o desejo de aprender.
Frequentando a Sala de Recursos Multifuncionais, um olhar diferente e uma apos-
ta foram endereçados a Fernando pelo professor do AEE. Dizia o professor: “Fernando
gosta mesmo é de matemática! Então, porque não valorizar sua facilidade com os nú-
meros?”. Desse modo, trabalharam histórias matemáticas e atividades com cálculos. O
trabalho com a multiplicação teve início e a calculadora foi introduzida. Os progressos
foram visíveis e Fernando foi aprovado para a 3ª série. Atualmente, ele frequenta o en-
sino regular, tem uma aparência feliz e se expressa de forma mais compreensível, pas-
sando a se interessar pela leitura e descoberta dos enigmas das histórias matemáticas.
Nesse breve relato de caso, foi possível visualizar melhor a dimensão e a relevân-
cia do trabalho do professor do AEE, principalmente, quando ele consegue dar um lugar
de sujeito para o aluno, independentemente
das suas dificuldades. Para isso, é necessário OBSERVAÇÃO
um investimento, a fim de que o aluno, per- Todos os nomes utilizados são fictícios, mas
cebendo o desejo do professor com relação às suas histórias pelo campo do saber são re-
suas questões, possa voltar a se interessar pelo ais. É importante lembrarmos que por trás
de toda teoria e legislação existem sujeitos
aprendizado e pelo universo da escola. reais, com seu estilo de aprender.
Resumindo...
educativo de que TODOS são capazes de aprender, embora com ritmos e estilos
de aprendizagem diferentes.
Esta Unidade tem como objetivo delinear a forma como as políticas públicas fo-
ram pensadas e construídas em direção à educação inclusiva. Para tanto, trataremos de
marcos legais nacionais e, também, internacionais que asseguram o direito de igual-
dade, garantindo que todos os alunos devem frequentar o sistema regular de ensino.
É importante conhecermos esses marcos para compreendermos melhor a atual
Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, a qual
afirma ser a Educação Especial a responsável pela oferta do Atendimento Educacional
Especializado, tema deste módulo.
Iniciaremos pela Constituição Federal de 1988, que assegura o princípio de igual-
dade. Em seguida, discorreremos acerca dos seguintes documentos internacionais:
Declaração Mundial de Educação para Todos e a Declaração de Salamanca. Após, tra-
taremos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDBEN). Também
analisaremos a Convenção de Guatemala e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência. Para concluir, abordaremos a Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva, de janeiro de 2008, o Decreto nº 186 de Julho de
2008, o Decreto nº 6.571 de 17 de Setembro de 2008 e as Diretrizes Operacionais da Edu-
cação Especial para o Atendimento Educacional Especializado – AEE na Educação Básica.
Além disso, a CF garante, em seu Artigo 205, que a educação é direito de todos e dever
do Estado e da família. Em seguida, no Artigo 206, estabelece a igualdade de condições para
o acesso e permanência na escola. O Atendimento Educacional Especializado, oferecido pre-
ferencialmente na rede regular de ensino, também é garantido na CF (Artigo 208, Inciso III).
Sendo assim, por meio do fragmento acima, salientamos o direito de toda crian-
ça à educação no ensino regular e pontuamos uma questão que consideramos funda-
mental na perspectiva da educação inclusiva: todo aluno “possui características, inte-
resses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas”. Trata-se do estilo
de aprendizagem que é singular, é particular. A escola, com uma pedagogia centrada
A LDBEN garante, ainda, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me-
diante verificação do aprendizado” (Artigo 24, Inciso V, “c”). Essa é mais uma premissa
do documento ao reafirmar o direito de todos à educação, levando em conta a diversi-
dade, uma vez que pontua questões relativas às necessidades educacionais especiais.
Por meio desse relato notamos que foi dado a Vagner um lugar onde sua subjeti-
vidade e seu estilo de aprender puderam aparecer. Uma vez oportunizado esse encon-
tro, o trabalho direcionou-se para produções que oportunizaram uma aprendizagem
significativa ao aluno. Outras atividades foram sugeridas, inclusive um trabalho em
conjunto com o pai de Vagner, para que ambos pesquisassem na internet as partes
principais de um carro de Fórmula 1.
Diante disso, é tarefa do professor, face à diversidade de estilos em sala de aula,
ajudar o aluno com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento ou altas ha-
bilidades/superdotação a descobrir o seu jeito de lidar com o conhecimento, tendo
sempre em mente que cada sujeito aprende de uma forma única em um tempo que é
peculiar a cada estilo.
É importante ressaltar que o aluno aprende quando consegue captar o brilho no
olho do mestre ao notar nele um sujeito desejante e capaz de aprender. O entusias-
mo do aluno será resultante dos “aspectos subjetivos do ensinante, ou seja, como ele
mesmo, sujeito que ensina, mas que também aprende, lida com o saber e o conhecer”
(RUBINSTEIN, 2003, p. 136).
A busca pelo conhecimento é um processo que está o tempo todo sendo rein-
ventado e ressignificado. É uma busca traduzida por algo que sempre escapa, por um
conhecimento que é fugaz. É importante pensarmos que é na ausência deixada pelo
que falta que o novo se evidencia, dando lugar à descoberta e à aprendizagem. É nesse
universo de descobertas que reconhecemos o aluno com necessidades educacionais
especiais como sujeito que está em constantes mudanças, formando-se na troca de
conhecimentos com o professor, quando este permite que ele apareça nas suas espe-
cificidades, na sua diferença. Pensando por esse viés, MRECH (1999, p. 28) é pontual ao
se referir ao aluno com necessidades educacionais especiais, bem como à proposta da
Educação Inclusiva:
é uma maneira nova da gente se ver , ver os outros e a Educação. De se
aprender a conviver com as diferenças, as mudanças, com aquilo que está
além das imagens. Uma maneira da gente apostar no outro.
Referências Bibliográficas
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túrbios globais do desenvolvimento. 2005. 103 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Uni-
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de 2007. Brasília: Diário Oficial da União, 2008.
FÁVERO, A. G. Educação Especial: tratamento diferenciado que leva à inclusão ou à exclusão de direitos?
In: FÁVERO, A. G.; PANTOJA, L. de M. P.; MANTOAN, M. T. E. Atendimento Educacional Especiali-
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MANTOAN, M.T.E. Colóquio Política Nacional de Educação na Perspectiva da Educação Inclusiva. In: In-
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MANZINI, E.J.; DELIBERATO, D. Portal de ajudas técnicas para a educação: equipamento e material
pedagógico especial para educação, capacitação e recreação da pessoa com deficiência física: re-
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MRECH, L. M. Psicanálise e Educação: novos operadores de leitura. São Paulo: Pioneira, 1999.
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RUBINSTEIN, E.R. O estilo de aprendizagem e a queixa escolar: entre o saber e o conhecer. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
por exemplo, alunos com deficiência, para que aprendam a utilizar materiais, equi-
pamentos, sistemas e códigos que proporcionam acesso, autonomia, independência e
participação.
Batista e Mantoan (2005, p. 26) revelam a importância desse atendimento,
quando afirmam que:
O atendimento educacional especializado garante a inclusão escolar de
alunos com deficiência, na medida em que lhes oferece o aprendizado
de conhecimento, técnicas, utilização de recursos informatizados, enfim,
tudo que difere dos currículos acadêmicos que ele aprenderá nas salas de
aula das escolas comuns. Ele é necessário e mesmo imprescindível, para
que sejam ultrapassadas as barreiras que certos conhecimentos, lingua-
gens, recursos apresentam para que os alunos com deficiência possam
aprender nas salas de aula comum do ensino regular. Portanto, esse aten-
dimento não é facilitado, mas facilitador, não é adaptado, mas permite ao
aluno adaptar-se às exigências do ensino comum, não é substitutivo, mas
complementar ao ensino regular.
Para atuar no AEE, o professor deverá se adequar aos novos conhecimentos que
são próprios do AEE. A formação continuada de professores para o AEE, por meio de
cursos de extensão, aperfeiçoamento ou especialização, constitui-se em uma forma de
aprofundar conhecimentos e de atualizar as práticas.
Essa formação deve partir de situações reais do cotidiano escolar e do estudo da
tecnologia assistiva que o aluno envolvido naquela situação real necessita no momen-
to. Os pressupostos educacionais, o conhecimento sobre o aluno e os serviços e recursos
da TA devem ser a base da formação para que o professor possa atuar com cada tipo
de deficiência.
É na interação com o aluno que o professor vai identificando, conhecendo, pes-
quisando, aplicando e avaliando os recursos da TA. Além disso, é importante destacar
que o professor do AEE estabelece parcerias e interlocução com profissionais da área
clínica, no entanto, a atuação de cada área – educacional e clínica – precisa ser bem
definida.
UNIDADE B A TECNOLOGIA
ASSISTIVA – TA
No parágrafo único do artigo 19, o texto relaciona, de forma clara, a seguinte lista
de ajudas técnicas apresentadas como itens de direito:
Parágrafo único. São ajudas técnicas:
I - próteses auditivas, visuais e físicas;
II - órteses que favoreçam a adequação funcional;
III - equipamentos e elementos necessários à terapia e reabilitação da
pessoa portadora de deficiência;
IV- equipamentos, maquinarias e utensílios de trabalho especialmente
desenhados ou adaptados para uso por pessoa portadora de deficiência;
V - elementos de mobilidade, cuidado e higiene pessoal necessários para
facilitar a autonomia e a segurança da pessoa portadora de deficiência;
VI - elementos especiais para facilitar a comunicação, a informação e a
sinalização para pessoa portadora de deficiência;
B.3. Composição da TA
O texto do American with Disabilities Act – ADA trata da TA como composta de
Recursos e Serviços:
Recursos: todo e qualquer item, equipamento ou parte dele, produto ou
sistema fabricado em série ou sob medida utilizado para aumentar, man-
ter ou melhorar as capacidades funcionais das pessoas com deficiência.
Serviços: aqueles que auxiliam diretamente uma pessoa com deficiên-
cia a selecionar, comprar ou usar os recursos acima definidos (Public Law
100-407- EUA, 1994).
UNIDADE C CLASSIFICAÇÃO EM
CATEGORIAS DA TA
Figura 1 – Recursos de auxílio à alimentação e ao preparo de alimentos. 1: Um garfo com faixa em velcro no
cabo para fixação da mão; 2: Um prato de comida com anteparo plástico na borda para evitar que a comida caia
do prato; 3: um fatiador de pão que fixa o pão para que a ação de cortar aconteça com uma única mão. A faca do
fatiador possui uma alça plástica que facilita a preensão.
Figura 2 – Recursos que auxiliam o vestuário. 1: Um abotoador confeccionado com uma bola de borracha e
um arame que passa pela casa de botões para prender e passar o botão; 2: Uma jaqueta que possui zíper com
uma argola grande na ponta, para facilitar a preensão e o fechamento/abertura; 3: Cadarços em forma de mola
elástica que evitam dar o laço.
Figura 3 – Recursos que auxiliam tarefas escolares. 1: Uma mão com uma órtese em arame revestido em tubo
plástico que envolve os dedos indicador e polegar e, ao mesmo tempo, fixa o lápis durante a escrita; 2: Uma
mão escrevendo com um lápis que perpassa o furo de uma borracha em EVA, engrossando o lápis para facilitar a
preensão e escrita. Nessa mesma figura, existe uma pulseira imantada no pulso de quem está escrevendo que,
aderindo a uma base metálica, limita seus movimentos involuntários; 3: Uma órtese feita de arame e espuma,
revestida de tecido que tem uma caneta acoplada. A figura apresenta outros materiais como um pincel, um giz
de cera e um talher que podem ser acoplado à órtese; 4: Uma tesoura ajustada com um arame, revestido de um
cano de borracha, ligado às duas extremidades onde, normalmente, ela é segurada. O arame mantém a tesoura
sempre aberta, e para utilizá-la, o aluno deve segurar a alça de arame e executar o movimento de fechar a mão;
5: Lápis, pincel, tubo de cola e trena para pintura, eles estão revestidos e engrossados com rolos de espuma para
que a preensão seja facilitada; 6: Um lápis introduzido em uma bola de borracha, originalmente, utilizada para
sucção de leite materno. Essa adequação facilita o aluno a segurar o lápis para escrita e desenho.
Figura 4 – Materiais pedagógicos que valorizam diferentes habilidades. 1: Um painel com figuras variadas im-
pressas em pequenas peças de madeira e cartões com palavras correspondentes às figuras. Tanto as peças de
madeira quanto os cartões estão fixados no painel, feitos de tecido e velcro; 2: Uma atividade matemática feita
em tabuleiro de cartolina, tendo números e figuras colados dentro de tampinhas de leite, com o objetivo de cor-
relacionar quantidade e número; 3: Um alfabeto móvel com peças de madeira, forma a palavra BOLA. As peças
são fixadas em uma tira de velcro que está colada em uma base feita de papel cartão.
Fonte: www.assistiva.com.br
Figura 5 – Prancha de comunicação, vocalizador (prancha com voz) e vocalizador de pulso. 1: Uma prancha de
comunicação, impressa em papel, apresenta figuras relativas à escolha de brinquedos e de atividades; 2: Um vo-
calizador apresenta um grupo de 25 símbolos gráficos que, ao serem teclados, emitem uma mensagem gravada
correspondente ao símbolo selecionado; 3: Um vocalizador pequeno, usado no pulso como o relógio, possui quatro
botões de mensagens gravadas. Fonte: www.clik.com.br
podem utilizar dispositivos de saída como os Acionadores são chaves que executam contatos
programas de leitores de tela, a impressora elétricos ativando funções (cliques do mouse,
teclas de teclado, ligar aparelhos eletrodomésti-
Braille, a linha ou display Braille, o software cos, selecionar e ativar botões em controle remo-
que faz o efeito lupa ou que utiliza cores con- to). Os acionadores podem ser ativados por pres-
são, sopro, tração, contração muscular, som etc.
trastantes no monitor. Um computador com www.clik.com.br
um software de OCR e síntese de voz instalado, http://www.ablenetinc.com/Store/tabid/205/
Default.aspx?CategoryCode=45
conectado a um escâner e com placa e caixas
Figura 7 – Teclado programável IntelliKeys. 1: Aluno com um teclado grande, sua área de trabalho é programá-
vel e também é possível o ajuste de sensibilidade ao toque para que movimentos involuntários sejam filtrados,
evitando-se erros de digitação. O aluno utiliza uma interface de trabalho para digitação, as letras são grandes e
há contraste entre letras pretas e fundo amarelo; 2: Outro aluno, com um teclado com as mesmas características
do aluno da primeira foto, trabalha em uma interface construída para atividade de matemática com as quatro
operações e imagens de blocos de base 10. Fonte: http://www.clik.com.br/intelli_01.html
Figura 8 – Órtese para digitação e acionadores diversos. 1: Uma órtese, feita de arame revestido de espuma e
tecido, envolve o pulso do usuário e encaixa em seu dedo polegar. A digitação é realizada por uma ponteira de
borracha fixada na órtese; 2: Na segunda foto, está um grupo de acionadores de diferentes formas e tamanhos.
Figura 9 – Representação de controle de ambiente. Aparece uma pessoa em cadeira de rodas que possui em
sua mão um controle remoto. Com esse controle, ela é capaz de ativar ou desligar várias ações em sua residência:
abrir/fechar janelas e portas, controlar aparelho de som, TV, ventilador, ar condicionado, luzes, telefone. Fonte:
http://www.gewa.se/english/products/prodfra2.html
Figura 11 – Poltrona postural e projeto para adequação postural em ambiente escolar. 1:Uma poltrona que
possui acessórios de apoio de pés regulável, almofadas para controle e apoio lateral de tronco e pernas, almofada
fixada entre as pernas, cinto para estabilização do tronco e apoio de cabeça; 2: Uma criança que possui deficiência
física sentada em sua poltrona postural na mesa de atividades.
Fonte: www.reateam.com.br e www.assistiva.com.br
Figura 12 – Cadeiras de rodas motorizadas, carrinho infantil e cadeira de rodas comum. 1: Cadeira de rodas moto-
rizada; 2: Cadeira de rodas infantil com módulos de assento e de encosto e acessórios para adequação postural; 3:
Cadeira de rodas de adulto, com propulsão manual. Fonte: Foto de catálogo: http://www.ortobras.com.br/
Figura 13 – 1: termômetro que fala; 2: seis relógios que falam ou possuem pontos táteis para percepção da hora; 3:
teclado que armazena o texto e reproduz em voz. Fonte: http://www.bengalabranca.com.br/produtos.php
UNIDADE D TA E INTER-
DISCIPLINARIDADE
D.1. A equipe
Todo projeto para identificação, formação e utilização de um recurso de TA, re-
alizado em um serviço especializado, envolve diretamente o usuário e tem como base
o conhecimento de seu contexto, a valorização de suas intenções e necessidades fun-
cionais pessoais, bem como suas habilidades. A equipe de profissionais contribui com o
conhecimento sobre os recursos de TA disponíveis e indicados para cada caso. O usuário
da TA e seus familiares são membros integrantes da equipe e todo o projeto de imple-
mentação e utilização de recursos deve ser discutido e decidido com eles.
O Center on Disabilities da Califórnia Sta-
te University Northridge desenvolve formação SAIBA MAIS
à distância para profissionais de várias áreas, http://www.csun.edu/codtraining/atacp.htm
no trabalho da TA, e revela a importância da
equipe interdisciplinar:
Muitos tipos de profissionais e outras pessoas estão envolvidos no pro-
cesso de avaliação das necessidades individuais de tecnologia assistiva;
prescrição, procura, customização, ajustes, ensino de utilização e suporte
são necessários para encontrarmos a solução mais adequada a uma de-
terminada pessoa (CENTER ON DISABILITIES, 2006).
UNIDADE E TA NO BRASIL
E.1. Reabilitação
O Decreto 3298/99, nos artigos 17 e 18, discorre sobre o direito à reabilitação e
situa essa prática em uma abordagem funcional, ou seja, voltada a habilitar funcional-
mente o cidadão com deficiência, no sentido de promover a sua inclusão no contexto
educacional, laboral e social.
Art. 17. É beneficiária do processo de reabilitação a pessoa que apresenta defi-
ciência, qualquer que seja sua natureza, agente causal ou grau de severidade.
§ 1o Considera-se reabilitação o processo de duração limitada e com ob-
jetivo definido, destinado a permitir que a pessoa com deficiência alcance
o nível físico, mental ou social funcional ótimo, proporcionando-lhe os
meios de modificar sua própria vida, podendo compreender medidas vi-
sando a compensar a perda de uma função ou uma limitação funcional e
facilitar ajustes ou reajustes sociais.
§ 2o Para efeito do disposto neste artigo, toda pessoa que apresente re-
dução funcional devidamente diagnosticada por equipe multiprofissio-
nal terá direito a beneficiar-se dos processos de reabilitação necessários
para corrigir ou modificar seu estado físico, mental ou sensorial, quando
este constitua obstáculo para sua integração educativa, laboral e social.
Art. 18. Incluem-se na assistência integral à saúde e reabilitação da pes-
soa portadora de deficiência a concessão de órteses, próteses, bolsas co-
letoras e materiais auxiliares, dado que tais equipamentos complemen-
tam o atendimento, aumentando as possibilidades de independência e
inclusão da pessoa portadora de deficiência (BRASIL, 1999).
O Brasil possui uma legislação avançada e favorável à inclusão de pessoas com de-
ficiência, garantindo acesso a serviços de reabilitação e recursos de TA. No entanto, os
cidadãos brasileiros com deficiência, em sua grande maioria, ainda ignoram seus direitos.
Além disso, os serviços de reabilitação, quando ofertados, devem ser pautados em estu-
dos e práticas profissionais que tem por base a perspectiva inclusiva, centrada no cidadão,
na garantia de seus direitos e no desenvolvimento de vida autônoma e independente.
E.2. Educação
Assim como em muitos outros países, o Brasil trabalha pela construção de um
sistema educacional inclusivo.
A atual Política Nacional de Educação Especial do Ministério da Educação afirma
que a educação inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na con-
cepção dos direitos humanos. Entre os anos de 1998 e 2006, houve um crescimento
de 110,19% no número de matrículas de alunos com deficiência e há uma tendência
progressiva de que essas matrículas migrem das escolas especiais e classes especiais
para classes comuns do ensino regular (BRASIL, 2008).
O Censo Escolar de 2008 mostra claramente o momento em que, pela primeira
vez em nosso país, o total de matrícula de alunos com deficiência em classes comuns
do ensino regular supera a quantidade daqueles que estão, ainda, em escolas e classes
especiais. Atualmente, 53% das matrículas são de alunos da educação especial incluí-
dos em classes comuns do ensino regular.
Além das conquistas relativas ao direito à educação dos alunos com deficiência
no Brasil, temos um número muito grande de crianças e jovens que estão fora da esco-
la. Recentemente, o Ministério da Educação e o Ministério do Desenvolvimento Social
e Cidadania realizaram o cruzamento de dados do Censo Escolar e dos Beneficiários
do Programa Benefício de Prestação Continuada – BPC de pessoas com deficiência na
faixa etária de 0 a 17 anos. Como resultado, constatou-se que 70,47% dos beneficiá-
rios estão fora de qualquer escola (comum, especial ou classe especial), representando
239.975 crianças e jovens brasileiros totalmente excluídos do sistema de educação.
Com a finalidade de superar esses dados, foi criado o Programa BPC na Escola que
visa a uma ação interministerial da Educação, da Assistência Social, da Saúde e dos Direi-
tos Humanos, com a finalidade de identificar as barreiras que impedem as crianças e os
jovens com deficiência de acessar a escola e de implantar ações que possibilitam as con-
dições necessárias de acessibilidade, participação e escolarização, condições essas que
implicam, diretamente, no estudo e na organização de ações em Tecnologia Assistiva.
Nesse sentido, o Ministério da Educação tem investido em formação de profes-
sores, aquisição e disponibilização de recursos da TA para as redes públicas de ensino
e publicações na área.
Para quem deseja conhecer os produtos disponíveis no Brasil, uma boa referência
é acessar o site www.assistiva.org.br do Portal Nacional de Tecnologia Assistiva. Nele,
estão listadas as empresas e instituições que fazem pesquisa, desenvolvimento, servi-
ços e comercialização na área de TA. Outra alternativa é a REATECH - Feira Internacional
de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade, que acontece anualmente no
estado de São Paulo.
SAIBA MAIS
Site da REATECH:
http://www.feirasnacipa.com.br/reatech
UNIDADE F A TA E A ESCOLA
lugar, o aluno, o ambiente e as tarefas exigidas para a participação ativa do aluno neste
ambiente e, finalmente, define as ferramentas necessárias para o aluno realizar estas
tarefas. O autor sugere a seguinte investigação:
O ALUNO:
• O que é necessário o aluno fazer?
• Quais são as necessidades especiais do aluno?
• Quais são as habilidades atuais do aluno?
O AMBIENTE:
• Que materiais e equipamentos estão atualmente disponíveis no ambiente?
• Como é a disposição física?
• Existem preocupações especiais?
• Como é a organização instrucional?
• Existe possibilidade de alterações/mudanças?
• Que apoios estão disponíveis para o aluno?
• Que recursos estão disponíveis para as pessoas que apóiam o aluno?
A TAREFA:
• Que tarefas são realizadas no ambiente?
• Que atividades fazem parte do currículo do aluno?
• Quais os elementos críticos destas atividades?
• Como as atividades poderão ser modificadas para atender as necessida-
des especiais do aluno?
• Como a tecnologia poderá apoiar a participação ativa do aluno nestas
atividades?
AS FERRAMENTAS:
• Que “não tecnologia”, “baixa tecnologia”, e opções de “alta tecnologia”
devem ser consideradas para o desenvolvimento de um “sistema” para
o aluno, que possui estas necessidades e capacidades, que deve realizar
estas tarefas, neste ambiente?
• Que estratégias podem ser utilizadas para incrementar seu desempe-
nho escolar?
• Como as ferramentas poderão ser experimentadas com o aluno no am-
biente usual em que elas serão utilizadas? (ZABALLA, 2006).
Da mesma forma, algumas etapas podem ser citadas como passos importantes
no processo de implementação da TA na escola:
1. Conhecimento do aluno e de suas pretensões funcionais.
2. Avaliação do contexto educacional (objetivos educacionais, ambiente físico, re-
cursos tecnológicos existentes, recursos humanos e conhecimentos). Observação
do aluno no ambiente.
3. Avaliação das tarefas. Observação do aluno participando das tarefas propostas ao
grupo para sinalização das barreiras existentes que surgem da sua condição física
e funcional, da forma como a atividade é organizada, das ferramentas utilizadas
para a execução da atividade avaliada, da falta de conhecimento e de utilização de
estratégias que favoreçam a participação ativa e autônoma deste aluno.
4. Listar os problemas enfrentados, entender a causa desses problemas e eleger,
junto com o aluno, as prioridades de intervenção. Traçar objetivos e resultados
esperados.
5. Avaliar o aluno para identificação de suas dificuldades e habilidades pessoais.
6. Encaminhar às avaliações específicas, quando necessário, que indicarão com
maior credibilidade questões relativas ao potencial motor, visual, auditivo, con-
dições de saúde e outros.
7. Com base nos dados coletados, selecionar ou construir a Tecnologia Assistiva que
será experimentada com o aluno. Ter sempre em mente o objetivo a ser alcançado
pela utilização da TA; levar em consideração as necessidades e, principalmente,
as habilidades do aluno, que serão utilizadas e potencializadas com o uso da TA.
8. Experimentar várias alternativas de recursos e estratégias, buscando a definição,
junto com o aluno, sobre aquela que corresponde à sua condição e necessidade.
9. Realizar a tomada de decisão sobre a TA apropriada.
10. Implementar a TA no contexto de vida do aluno e seguir com um acompanha-
mento voltado à formação do aluno e demais pessoas que se beneficiarão da
utilizarão da TA (família e escola).
11. Revisar os objetivos e avaliar os resultados.
12. Levantar novas demandas e reiniciar o processo.
13. Nas etapas de implementação da TA, em âmbito da escola, o professor de AEE
tem atuação primordial, porque é o responsável pelo plano e execução de AEE
que garantem os serviços e recurso da TA.
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ZABALA, Joy. Student, Environment, Task and Tools – SEET, 2006. Disponível em: http://sweb.uky.
edu/~jszaba0/JoyZabala.html Acesso em: Nov. 2008.
É importante esclarecer que a criança com ECnP não apresenta todas as deficiên-
cias associadas necessariamente. Em relação ao desenvolvimento cognitivo, existe o fa-
tor influência ambiental e quantidade/qualidade de estímulos a ela oferecidos. É notório
que a limitação física e os déficits associados restringem as possibilidades de exploração
do ambiente tão necessárias para o desenvolvimento global de qualquer criança.
Para a estimulação da criança com ECnP, é importante que o professor(a) tenha
como parâmetro o pleno conhecimento do desenvolvimento típico, posto que este deve
balizar a condução de suas atividades frente à criança com desenvolvimento atípico.
SAIBA MAIS
Disartria: Incapacidade causada por um
distúrbio neurológico de articular as pala-
vras de maneira correta.
Distônica: Perturbação do tono muscular
em que há contração intermitente.
b) Meningomilocele
A meningomilocele consiste em uma malformação complexa do tubo neural, é
congênita, acontece entre a terceira e quinta semanas de gestação, devido a uma falha
ou fusão dos arcos posteriores da coluna vertebral, levando à falta de fechamento da
coluna vertebral e displasia da medula espinhal. (TEIXEIRA et al., 2003). Como conse-
qüência, ocorre uma paralisia senitivomotora que compromete os membros inferiores,
o sistema urinário e o intestino. Em alguns casos pode ocorrer, também, a hidrocefalia.
No local da malformação se forma uma bolsa externa coberta por uma camada fina de
pele, em seu interior encontram-se tecido neural, liquor e meninges. É uma doença de
causa desconhecida.
a) Componentes motores
São aqueles relacionados aos movimentos funcionais, ao equilíbrio e controle
postural (controle de cabeça e tronco), à locomoção, às habilidades motoras finas e
grossas e à coordenação visomotora.
b) Componentes sensoperceptivos
As experiências motoras estão intimamente relacionadas com os sistemas sen-
sorial, tátil, propioceptivo, vestibular e visual. As habilidades perceptivas dependerão
de um bom funcionamento e qualidade dos órgãos receptores e do sistema nervoso
central (SNC), bem como das experiências vivenciadas.
Déficit nesse componente gera transtornos na capacidade de percepção e respos-
tas visuais, reconhecimento de objetos, formas,
SAIBA MAIS cores, texturas, posição espacial, percepção de
Esteriognosia: Capacidade de reconhecer figura-fundo, memória visual, coordenação
objetos pelo tato, sem o auxílio da visão. olho-mão, integração visomotora, consciência
do toque, esteriognosia, entre outros.
c) Propriocepção
Refere-se à capacidade de reconhecer a localização espacial do corpo, sua po-
sição e orientação sem utilizar a visão, bem como a força exercida pelos músculos e
a posição de cada parte do corpo em relação às demais. Esse tipo de percepção é res-
ponsável pela capacidade de manter o equilíbrio e realizar diversas atividades práticas.
Essa percepção, associada aos estímulos táteis, permite endireitamento corporal, trans-
ferência de peso, desenvolvimento da função da mão, bom controle motor, oral e postural,
consciência das partes do corpo e reconhecimento da posição em que a pessoa se encontra.
d) Componentes cognitivos
A disfunção física, por todos os elementos listados, pode interferir na capacidade
da criança manter e dirigir a atenção, usar a memória, nas habilidades de organização,
sequenciação e seriação, na resolução de problemas e na capacidade de abstração.
e) Componentes psicossociais
Na sequência, os déficits apontados interferirão na autoestima, na confiança em
si e na comunicação eficiente com os demais, afetando as relações interpessoais con-
sequentemente.
UNIDADE B PRÁTICAS
EDUCACIONAIS
INCLUSIVAS E O
COTIDIANO ESCOLAR
DE ALUNOS COM
DEFICIÊNCIA FÍSICA
A amplitude desse processo convoca diversos atores, tais como a escola, a famí-
lia, a comunidade, os educadores e profissionais de diferentes áreas, como terapeutas
ocupacionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicólogos. Nesse sentido, Munguba
apud Cavalcanti e Galvão (2007, p. 520) ressalta:
O movimento inclusivo nas escolas, por mais que seja ainda muito contes-
tado, pelo caráter ameaçador de toda e qualquer mudança, especialmen-
te no meio educacional, é irreversível e convence todos pela sua lógica,
pela ética de seu posicionamento social.
Portanto, a criança com deficiência física não deve ser olhada como incapaz, mas
como um sujeito singular, e a deficiência precisa ser compreendida como condição e
não como doença. A criança que tem deficiência pode se manter saudável, apesar das
limitações que ela lhe impõe, desde que seja propiciado um ambiente adequado.
a) Sistema Proprioceptivo
Constitui-se por órgão e estruturas internas, como articulações, tendões, mús-
culos e vísceras. As informações, conscientes ou não, advindas dos receptores dessas
estruturas, informam o funcionamento de órgãos profundos e a execução precisa dos
movimentos e manutenção do equilíbrio.
b) Sistema Vestibular
O sistema ou aparelho vestibular é o conjunto de órgãos do ouvido interno res-
ponsável pela manutenção do equilíbrio, postura, tônus, posicionamento adequado da
cabeça e tronco em relação à gravidade e a regulação do sono-vigília, regulação dos
sistemas tátil e proprioceptivo.
c) Sistema Tátil
O sistema tátil é o maior sistema do corpo, seus receptores estão localizados na
pele, informam sobre variações de temperatura, diferentes texturas, estímulos doloro-
sos, conjugando dados sobre as condições ambientais.
a) Posição sentada
Convém observar o alinhamento e estabilização postural, a distribuição do peso
nas duas nádegas, coxas e pés; pode ser usado sacos de areia ou um rolo de espuma e
tiras acolchoadas para compensar a postura.
É interessante atentar para o posicionamento dos pés, que devem estar planos e
bem apoiados em 90 graus. Para tanto, a cadeira deve estar adaptada ao tamanho da
criança ou utilizar um apoio sob os pés. Pode-se, também, inclinar um pouco para trás a
dianteira do assento (meia cunha) da cadeira da criança para evitar que ela escorregue
para frente. É importante observar a postura das costas, que pode tender a compensar
o movimento e se curvar. Nesse caso, um encosto firme com acolchoamento lombar
pode resolver a questão.
b) C adeira de rodas
A prescrição e adaptação da cadeira de rodas devem ser feitas por especialistas.
Entretanto, as regras básicas de cuidados e posicionamento para a postura sentada
também são válidas para o posicionamento na cadeira de rodas. Para a criança que usa
cadeira de rodas é importante lembrar o quanto é incomodo ficar olhando pra cima por
muito tempo. Desse modo, quando a conversa for se prolongar, é conveniente sentar
para que os olhos dos interlocutores fiquem em um mesmo nível.
Uma regra básica é ter a consciência que a cadeira de rodas (o mesmo vale para
bengalas ou muletas) passa a fazer parte do esquema corporal da criança, portanto, to-
car, agarrar ou se apoiar na cadeira de rodas equivale a apoiar-se na criança. Do mesmo
modo, não é aconselhável empurrar uma cadeira de rodas sem antes pedir a permissão
da criança. Quando estiver empurrando uma cadeira de rodas e parar para conversar
com outra pessoa, lembre-se de posicionar a cadeira de modo que o cadeirante tam-
bém possa participar da conversa.
Cuidados são necessários para não provocar colisão com os transeuntes e para
não derrubar a criança ao subir ou descer degraus. Para tanto, é conveniente elevar a
cadeira para trás pra levantar as rodinhas na subida e na descida proceder a manobra
em marcha ré, lentamente, apoiando para evitar solavancos.
a) Tronco e pernas
Evitar que a criança sente em ‘W”, manter os joelhos afastados, para facilitar pode
ser usado um apoio elevado do chão (auxilia a manutenção das pernas afastadas) ou
um rolo entre as pernas da criança. Contudo,
SAIBA MAIS é preciso evitar uma abertura exagerada para
Sentar em “W”: Sentar-se sobre os calcanhares não provocar uma rotação interna dos quadris.
A criança não deve permanecer durante
muito tempo na mesma posição, é importante oferecer estímulos em posturas varia-
das, bem como estimular o equilíbrio nas diferentes posições. Estímulos oferecidos na
posição ereta desenvolvem habilidades sociais, visuais e auditivas.
a) Alimentação
O incentivo à participação e à independência são fundamentais, a criança precisa
ser estimulada a colaborar o máximo possível com a tarefa.
O posicionamento também precisa ser observado, pois se deve manter a criança
em posição ereta, com a cabeça pra frente e ereta, especialmente ao deglutir o alimen-
to. Os cotovelos posicionados na mesa ajudam a manter a estabilidade da cabeça e
facilitam o movimento de levar a mão à boca. Pressionar o peito da criança com a mão
espalmada ajuda a projetar a cabeça pra frente e para cima, também pode ser dado
um pequeno apoio ao queixo. Evitar colocar a mão por trás de sua cabeça para não
provocar o estiramento da cabeça para trás.
Pode ser necessário o uso de dispositivos de tecnologia assistiva para facilitar o
manuseio dos utensílios usados na alimentação. Mesa recortada, bandeja para acoplar
o copo, prato com ventosas, talheres adaptados, pulseiras com peso para evitar movi-
mentos incoordenados, entre outras adaptações.
b) Higiene
É comum as escolas promoverem momento de higiene bucal. Para a criança com
deficiência física, a dificuldade inicia na locomoção até o toalete. Os cuidados com a
acessibilidade devem ser tomados e as orientações em relação ao posicionamento
devem ser observadas. Pode ser necessário que a criança realize a atividade sentada.
c) Vestuário
O ato de vestir e despir exige habilidades específicas e especializadas que envol-
vem coordenação, equilíbrio, percepção visual e compreensão da sequência das etapas
envolvidas. A criança deve ser estimulada a participar do processo e o professor deve
solicitar as ajudas técnicas necessárias.
a) Ambiente
• o espaço escolar deve ser livre de barreiras arquitetônicas e garantir a acessibili-
dade a todos os ambientes da escola;
• corrimão na sala, rampa, corredores, banheiros, em frente ao quadro;
• evitar o uso de tapetes ou usar tapetes antiderrapantes;
• o mobiliário deve ser sólido e adequado ao tamanho da criança;
• garantir mesas e cadeiras adaptadas;
• cadeira com braços propiciam mais segurança;
• faixa de segurança na altura do peito para controlar o tronco;
b) Material escolar
• cadernos grandes com pautas largas;
• fixar a folha ou caderno usando fita adesiva;
• dependendo da atividade utilizar folhas grandes e sem pautas;
• suporte para apoiar livros;
• passador de páginas;
• engrossadores de lápis com espuma madeira ou epóxi;
• prancha de comunicação;
• letra ampliadas doa alfabeto móvel;
• jogos para trabalhar a percepção do próprio corpo; e
• brinquedos apropriados e adaptados.
Brincar é uma atividade que frequentemente tem sido usada como definidora,
própria e natural da infância. Entretanto, diversos autores, entre eles Vigotiski (1989)
e seus colaboradores, são adeptos à concepção do brincar enquanto um processo de
aprendizado que se faz no campo social.
Viver, crescer e aprender na infância são processos diretamente inter-relacio-
nados com a atividade lúdica, pois é consenso entre os pesquisadores da área que a
ocupação preferida e mais intensa da criança é o brincar e, normalmente, ela ocupa a
maior parte de seu tempo, porém para a criança com deficiência física, o espaço e as
possibilidades do brincar tornam-se, muitas vezes, limitados.
No início do desenvolvimento infantil, o adulto funciona como um mediador
entre a criança e o mundo. Por meio das relações afetivas estabelecidas entre eles,
a criança exercita suas funções sensoriais primitivas, precursoras do desenvolvimen-
to das atividades motoras e do surgimento da linguagem. Desse modo, pode-se dizer
que o desenvolvimento da criança se estabelece graças à relação com o mundo social,
através das atividades práticas na relação com o mundo dos objetos materiais mediado
pelo adulto.
Nascido da necessidade de se comunicar com os adultos e de agir sobre os obje-
tos e o mundo, o brincar proporciona, através do uso da imaginação, a satisfação des-
sas necessidades, ao mesmo tempo que cria uma zona de desenvolvimento proximal,
posto que, segundo Vygotsky (1989), no brinquedo a criança sempre se comporta de
modo mais avançado em relação ao estágio de desenvolvimento em que se encontra.
O brincar é caracterizado pelos autores da Escola Sóciocultural como uma ati-
vidade social e humana fundamental para o processo de interação da criança com o
meio. Através dele, a criança assimila a realidade, socializa-se e apropria-se da cultura,
o que faz da brincadeira uma importante fonte de desenvolvimento intelectual e da
personalidade infantil. Portanto, existe uma relação clara e precisa entre o desenvolvi-
mento infantil e a atividade lúdica.
Segundo Elkonin (1985), o desenvolvimento das manipulações infantis depen-
dem da atenção do adulto, quanto mais estimuladas, mais satisfatório é o seu desen-
volvimento. Nos primeiros seis meses de vida, há um intenso desenvolvimento dos mo-
d) Atividades musicais
A música possibilita o desenvolvimento do ritmo, podem-se trocar palavras por
gestos, atividade na qual se trabalha o esquema corporal, expressão corporal, coor-
denação, equilíbrio, liberação de sentimentos e tensões, relaxamento, entre outros
aspectos.
e) Natação
As brincadeiras na água são muito interessantes para a criança com deficiência
física, uma vez que no meio aquático, devido ao empuxo, diminui o efeito da força da
gravidade, o que facilita a mobilidade e a locomoção. Além disso, a brincadeira na água
melhora a respiração, coordenação e relaxação.
• é importante que a criança se sinta segura para que consiga completar sozinha
uma atividade. É preciso dar o tempo necessário a ela;
• estabelecer apenas as limitações necessárias para garantir ação e a prevenção
de riscos;
• ensinar a criança a apreciar o que ela consegue realizar, apesar de tudo;
• mostrar aos pais que apesar de sua deficiência, seu filho sabe brincar com as
outras crianças;
• salientar aos pais tudo que é normal no comportamento do filho;
• coerência na organização do espaço; e
• preservar o espaço do jogo, sem interferência das demandas de outras atividades
da sala.
Sugestões de brinquedos:
rentes à faixa etária quanto às limitações da criança. A partir disso, convém selecionar
brinquedos que possam ser utilizados ou realizar adaptações naqueles cujo manuseio
torna-se difícil para ela.
Para facilitar o brincar da criança com deficiência física, é preciso considerar além
do déficit motor, os déficits cognitivo, perceptivo e comunicativo. Esses aspectos são
importantes, pois interferem na atenção, concentração, na tolerância a frustração, na
capacidade de simbolização, nas relações interpessoais e nas suas preferências pelos
brinquedos.
Além das limitações intrínsecas à criança, é importante atentar para as restrições
ambientais, tanto as físicas (brinquedos inacessíveis, parques, passeios extraclasse,
instalações no pátio, esportes) quanto as sociais (obstáculos intransponíveis que geram
insegurança, rejeição ou superproteção).
Crianças com tônus muscular flutuante serão beneficiadas com o uso de brinque-
dos mais pesados, ao contrário das crianças com hipertonicidade, que necessitam de
brinquedos mais leves.
Novamente, é importante abordar o posicionamento adequado para que a
criança possa aproveitar ao máximo as possibilidades de exploração do brinquedo e
do ambiente. Na hora das atividades no pátio, deve ser facilitada e estimulada a sua
participação, no sentido da motivação para o brincar e na promoção das adaptações
necessárias ao acesso dos brinquedos da pracinha. Ferland (2006) menciona a impor-
tância de permitir à criança com deficiência física fazer escolhas e, nesse sentido, é
preciso dar o tempo necessário para que ela descubra o ambiente, seja estimulada em
sua curiosidade e interesse pelos objetos e pessoas ao seu redor.
Segundo Parham (2002), para facilitar a ação lúdica nas crianças com limitações
físicas, deve-se compreender a relação entre o papel da ludicidade na vida cotidiana,
as restrições intrínsecas à criança e aquelas impostas pelo ambiente, incluindo valores
e a predisposição dos adultos a esse tipo de atividade. As atividades lúdicas requerem
materiais lúdicos, espaço lúdico e companheiros apropriados, mas é necessário que o
professor a perceba como uma ferramenta fundamental e facilite a brincadeira no co-
tidiano escolar.
A participação em atividades lúdicas pelas crianças com disfunção física pode ser
facilitada pelo uso de adaptação e tecnologias assistivas que permitam a elas brinca-
rem sozinhas ou em companhia de seus colegas. Desse modo, elas se sentirão inclusas
no grupo de escolares.
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UNIDADE A CONHECENDO O
ALUNO COM
DEFICIÊNCIA MENTAL
Consideramos importante esclarecer que esses aspectos são aqueles que clini-
camente atestam a existência ou não da deficiência mental e, portanto, entendemos
que como profissionais da educação, muito mais do que procurarmos pelo diagnóstico
ou não da deficiência, precisamos ser capazes de compreender os processos mentais
percorridos por essas pessoas na construção da sua aprendizagem.
Nesse sentido, nos aliamos às discussões sobre desenvolvimento e aprendizagem
desenvolvidas por Vygostky (1987, 1999, 2001) – que serão discutidas de forma mais pro-
funda na Unidade B – e olhamos para a deficiência mental como uma dificuldade presente
no momento de internalização das informações captadas pelos sentidos. Esse processo
Partindo desses pressupostos, ao olhar para a inclusão escolar de alunos com de-
ficiência mental, entendemos que é preciso a reavaliação de nossa estrutura educacio-
nal e social e a revisão de concepções e práticas em relação às pessoas com deficiências.
Quando o olhar destinado a esses alunos buscar em primeiro lugar conhecê-los como
sujeitos de aprendizagem, capazes de desenvolvimento de processos mentais superio-
res, as práticas desenvolvidas poderão incentivar o alcance consciente e voluntário de
seus comportamentos nos grupos sociais em que se desenvolve.
Pelo Decreto fica estabelecido que o AEE deverá acontecer em salas de recursos
multifuncionais. Nesses espaços, os alunos com deficiências, transtornos globais do de-
senvolvimento e/ou altas habilidades/superdotação serão atendidos. As atividades de-
senvolvidas não devem representar uma repetição dos conteúdos curriculares desen-
volvidos em sala de aula, elas devem se caracterizar como procedimentos específicos
para a mediação do processo de aprendizagem dos alunos, ou seja, na sala de recursos
não são trabalhados conteúdos específicos de matemática ou geografia, por exemplo,
mas habilidades que são necessárias para que o aluno, em sala de aula, possa construir
conhecimentos nessas disciplinas, como orientação espacial e temporal e capacidade
de classificação e seriação.
Tendo a inclusão como um princípio que orienta nossa compreensão acerca das
pessoas com deficiência, entendemos que para efetivação do processo de aprendiza-
gem desses alunos, faz-se necessário uma reavaliação de nossa postura enquanto pro-
fessores. Nesse sentido, uma condição essencial para a facilitação do desenvolvimento
de processos mentais superiores é criar situações em que o professor possa avaliar os
alunos considerando seus atributos socioeconômicos e culturais.
Na verdade, convém sugerir que o trabalho pedagógico dos professores que atu-
arão com alunos que possuem diagnóstico de deficiência mental possa transcender o
caráter eminentemente clínico, pois essa concepção acaba sempre recaindo no aluno
como o único responsável por sua não aprendizagem. Para tanto, entendemos que
cada professor deva aliar-se à concepção sociocultural de aprendizagem e, assim, olhar
para seus alunos como sujeitos produzidos a partir das interações que estabelecem ao
longo do seu desenvolvimento. Essa será a discussão feita na próxima Unidade.
UNIDADE B OS PROCESSOS
MENTAIS DOS
ALUNOS COM
DEFICIÊNCIA MENTAL
visavam à reabilitação do indivíduo deficiente para que o mesmo pudesse ser reinte-
grado à sociedade. No Brasil, o ápice desse paradigma ocorreu na década de 70, quando
os atendimentos eram realizados em instituições especializadas.
Em sua progressiva afirmação prático-teórica, a Educação Especial
absorveu os avanços da Pedagogia e da Psicologia da Aprendizagem,
sobretudo de enfoque comportamental. O desenvolvimento de novos
métodos e técnicas de ensino baseados nos princípios de modificação de
comportamento e controle de estímulos permitiu a aprendizagem e o de-
senvolvimento acadêmico desses sujeitos, até então alijados do processo
educacional. (GLAT; FERNANDES, 2005, p. 37).
Quando não consigo realizar sozinho determinada tarefa, mas faço com a ajuda
de outros, demonstro que meu nível de desenvolvimento proximal já apresenta aspec-
tos, noções e conceitos acerca da aprendizagem. Portanto, o nível de desenvolvimento
mental de um aluno não pode ser determinado apenas pelo que consegue produzir de
forma independente, é necessário conhecer o que ele consegue realizar com a ajuda de
outras pessoas.
O conhecimento do processo que a criança realiza mentalmente é fundamental
uma vez que o desempenho correto nem sempre significa uma operação mental bem
realizada. O acerto pode significar, apenas, uma resposta mecânica. Daí a importân-
cia do professor conhecer o processo que a criança utiliza para chegar a determinadas
respostas. Do mesmo modo, conhecendo esse processo e intervindo, provocando, es-
timulando ou apoiando quando a criança demonstra dificuldade em um determinado
ponto, podemos trabalhar funções que ainda não estão consolidadas. Em outras pala-
vras, através de experiências de aprendizagem compartilhadas e mediadas atuamos na
zona de desenvolvimento proximal do aluno.
Tendo em mente os aspectos acima discutidos, Vygotsky (1987, 1999, 2001)
ainda ressalta que quando limitamos os alunos com deficiência mental em espaços
nos quais ele só interage com outros alunos com a mesma deficiência desenvolve-
mos uma “ação danosa” a esses indivíduos. Beyer coloca-nos a seguinte reflexão
de Vygotsky:
Agora resulta evidente o quão profundamente antipedagógica é a regra
segundo a qual, por comodidade, selecionamos coletividades homogê-
neas de crianças atrasadas. Ao proceder assim, não apenas vamos contra
a tendência natural do desenvolvimento das crianças, senão que – o que
é muito mais importante – ao privar a criança mentalmente atrasada da
colaboração coletiva e da comunicação com outras crianças que estão (inte-
lectualmente) acima dela, não atenuamos senão que acrescentamos a cau-
sa imediata que determina o desenvolvimento incompleto de suas funções
superiores. [...] Esta diferença de níveis intelectuais é uma condição impor-
tante da atividade coletiva (VYGOTSKY, 1997 apud BEYER, 2005, p. 107).
UNIDADE D INDICADORES DE
UMA AÇÃO
PEDAGÓGICA PARA
ALUNOS COM DEFI-
CIÊNCIA MENTAL
D.1. Planejamento
Toda aula começa muito antes da aula propriamente dita, ou seja, antes do pro-
fessor e dos alunos adentrarem o espaço físico da sala de recursos. No entanto, esse
momento que antecede o contato direto entre professor e alunos, muitas vezes, é dire-
cionado de forma diferente.
Alguns professores se aprisionam em inúmeras atividades de livros didáticos e
cartilhas que mais parecem um cardápio, sendo que essas receitas acabam por enges-
sar o ato do planejamento. Outros, por sua vez, apostam na intuição. Porém, assim
como o engenheiro não constrói o prédio da escola sem um projeto, o professor, por
mais experiente que seja, não favorece a construção do conhecimento na sala de re-
cursos sem planejar.
Desse modo, nas discussões educacionais, o enfoque deixa de ser “planejar ou
não planejar, eis a questão?”, pois é consenso que o planejamento é o fio condutor do
processo ensino-aprendizagem. É nele que os objetivos são articulados às estratégias,
ou seja, é por meio dele que as práticas educacionais tornam-se adequadas às reais
necessidades dos alunos. Isso não significa dizer que o planejamento é algo estanque,
fechado e completo, pelo contrário, conforme a exposição de Fusari (2004), “o impor-
tante é manter o planejamento como uma prática permanente de crítica e reflexão”.
A partir do exposto, os questionamentos ampliam-se: O que propor? Quais as
etapas desse processo? Tentando contribuir no desvelamento desse processo, apresen-
taremos, a seguir, algumas sugestões, as quais podem evitar contratempos na elabo-
ração do planejamento.
• COLETIVIDADE
Conforme consta no Art. 8° da Resolução CNE/CEB n° 02/01, no inciso V, em sala de
recursos será realizada “a complementação ou suplementação curricular”, bem como,
no inciso IV, alínea “a”, as classes comuns devem contar com a “atuação colaborativa
de professor especializado em educação especial”. A partir do exposto, compreende-se
que a organização do planejamento deve superar a prática fragmentada e desarticu-
lada, na qual o professor de sala de recursos e o professor de sala de aula realizam
individualmente os seus trabalhos, pois, mesmo que ambos estejam capacitados, in-
dividualmente farão menos que o necessário na construção de uma escola para todos.
Dessa forma, entende-se que o aluno com deficiência mental aprende significati-
vamente quando estabelece conexões do novo conteúdo com conceitos já conhecidos.
Nesse processo de construção, não ocorre uma simples associação, mas uma interação
entre os conceitos pré-existentes e a nova informação, os quais servem de ancoradouro
para que o novo possa adquirir significado para o sujeito. Assim sendo, as novas infor-
mações são incorporadas e assimiladas, porém essa relação acaba por modificar esses
esquemas prévios, ocasionando uma transformação do conhecimento.
A aprendizagem significativa considera, então, as experiências anteriores e co-
nhecimentos previamente elaborados pelo aluno. Conforme os parâmetros curriculares
nacionais (BRASIL, 1999),
[...] nem todos os alunos e alunas se apresentam com a mesma baga-
gem, da mesma forma, no que se refere às aprendizagens já por eles
efetivadas. Todos os alunos e alunas têm capacidades, interesses, ritmos,
motivações e experiências diferentes, que mediatizam seu processo de
aprendizagem, fazendo que seja único e diferente, em cada caso.
Nesse sentido, por mais que estudos acerca da deficiência mental, como os de
Inhelder, mostrem as oscilações e ritmos diferenciados no processo de construção da
inteligência desses alunos, cada sujeito pode apresentar uma experiência de aprendi-
zagem diferenciada, dependendo das suas experiências e do contexto educativo no
qual esteja inserido. Consequentemente, não se justificam práticas centradas no nive-
lamento cognitivo, centradas nas limitações decorrentes da deficiência mental. Desse
modo, convém o aproveitamento das potencialidades que esses alunos dispõem, suas
vivências, pois para que ocorra a aprendizagem significativa, as estratégias de ensino
precisam estar articuladas ao interesse do aluno e ao que ele já sabe.
Imaginamos que agora você pode estar se perguntando sobre o melhor método
a ser utilizado para favorecer a construção de uma aprendizagem realmente significati-
va. Nesse sentido, com base em Moreira (1999), faremos uma breve interlocução entre
estratégias metodológicas e os diferentes tipos de aprendizagem:
Aprendizagem mecânica: ocorre quando os novos conhecimentos são armaze-
nados sem relação com os já existentes na estrutura cognitiva. Isso não significa dizer que
a aprendizagem mecânica ocorre em um “vácuo cognitivo”, pois para constituir aprendi-
zagem alguma associação deve ocorrer, porém não no sentido de interação e, portanto,
pouco ou nada contribui para a construção ou transformação do conhecimento.
OS ALUNOS
NA APRENDIZAGEM NA APRENDIZAGEM NA APRENDIZAGEM
COMPETITIVA: INDIVIDUALIZADA: COOPERATIVA:
Trabalham juntos contra ou-
Buscam sucesso e contem- Trabalham juntos para
tros, para alcançar um objetivo
plam tarefas que não se cumprir objetivos e tarefas
que somente um ou alguns
relacionam com as dos outros; compartilhadas;
poucos podem alcançar;
São qualificados por sua habili- Percebem que só conseguirão
São classificados de acordo
dade de trabalhar mais rápido atingir seus objetivos se os
com um conjunto de normas
e mais corretamente que seus membros do grupo consegui-
padronizadas;
colegas; rem os seus;
Quadro 1 - Comparação sobre a atuação do aluno nas diferentes possibilidades de intervenção pedagógica.
Para tanto, Almeida (2000, p. 110 apud MENEZES, 2006, p. 59) ressalta que preci-
samos ter em mente que deveremos ser capazes de incitar o aluno a:
• aprender a aprender;
• ter autonomia para selecionar as informações pertinentes à sua ação;
• refletir sobre uma situação-problema e escolher a alternativa adequada de atu-
ação para resolvê-la;
• refletir sobre os resultados obtidos e depurar seus procedimentos, reformulando
suas ações;
• buscar compreender os conceitos envolvidos ou levantar e testar hipóteses.
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Referências complementares
1. ARTIGO
Título: A Teoria Cognitivista de Ausubel (CRUZ, Cristiano Cordeiro)
Descrição: no artigo “A Teoria Cognitivista de Ausubel”, Cruz explicita alguns dos as-
pectos mais relevantes da teoria ausubeliana. Para tanto, inicia apresentando o mo-
delo cognitivo e de aprendizagem proposto na teoria de Ausubel, trazendo, também,
explicações acerca dos principais componentes internos (ao indivíduo) e externos da
aprendizagem. Para concluir, Cruz aborda as propostas da teoria em questão em re-
lação à facilitação da aprendizagem no que concerne à preparação dos diversos mate-
riais utilizados na atividade acadêmica e a técnicas envolvidas na condução das aulas
(expositivas).
Disponível em: http://www.trendnet.com.br/users/hargento/cognitivismo.pdf
2. ENDEREÇO NA WEB.
Título: Psicologia da Educação
Descrição: site sobre Psicologia da Educação desenvolvido por Paulo Francisco Slomp,
professor da Faculdade de Educação da UFRGS, no qual há indicação de endereços
eletrônicos sugeridos como fonte de pesquisa sobre a teoria de Jean Piaget e Lev S.
Vygotsky.
Disponível em: http://www.ufrgs.br/faced/slomp/
3. FILME
Título: Uma lição de amor
Descrição: “Uma Lição de Amor” conta a história de Sam Dawson (SEAN PENN), um
pai com deficiência mental que cria sua filha Lucy (DAKOTA FANNING) ajudado por um
grupo de amigos. Ao completar sete anos de idade, Lucy começa a ultrapassar seu pai
intelectualmente e a forte ligação existente entre os dois é ameaçada quando uma
assistente social decide que a menina deve ir viver com uma família adotiva por acre-
ditar que Sam não terá mais condições de educar a menina. Diante da situação, Sam
decide enfrentar o sistema legal e estabelece uma parceria com Rita Harrison (MICHEL-
LE PFEIFFER), uma poderosa e egocêntrica advogada que, inicialmente, aceita o caso
apenas por ter sido desafiada a fazê-lo por seus colegas. Juntos, eles se empenharam
em provocar transformações nas concepções sociais existentes acerca dos sujeitos que
possuem deficiência mental, demonstrando que Sam pode ter sua filha de volta. (2001.
Título Oiginal: I Am Sam; Gênero: Drama; Direção: Jessie Nelson; Duração: 132 min).
4. ARTIGO
Título: Desenvolvimento e Aprendizagem: uma revisão segundo Ausuel, Piaget e
Vygotsky (CARRARA, João Alfredo)
Descrição: no artigo “Desenvolvimento e Aprendizagem: uma revisão segundo Au-
suel, Piaget e Vygotsky”, de autoria de João Alfredo Carrara, apresenta-se uma discus-
são sobre as contribuições das teorias de Ausubel, Piaget, Vygotsky para as práticas
educacionais atuais. Nele, o autor procura proporcionar com que seus leitores ampliem
sua compreensão sobre a aprendizagem, a cognição e os processos de construção de
conhecimentos na sala de aula e que reflitam sobre o papel do docente e do ensino nos
dias de hoje.
Disponível em: http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=570
5. LIVRO
Título: Inclusão e Avaliação na Escola de alunos com necessidades educacionais espe-
ciais
Descrição: no livro “Inclusão e Avaliação na Escola de alunos com necessidades educa-
cionais especiais”, de Hugo Otto Beyer, discutem-se a proposta da educação inclusiva e
a necessidade das escolas atenderem com qualidade alunos em situações diferenciadas
de aprendizagem. Reflete-se sobre a importância da ação conjungada dos diferentes
sujeitos que constituem o espaço escolar, ressaltando que as experiências positivas de
educação inclusiva em países desenvolvidos demonstram que esse é um fator determi-
nante no estabelecimento de uma escola para todos.
6. ENDEREÇO NA WEB
Título: Inclusão – Revista da Educação Especial
Descrição: publicação do Ministério da Educação, através da Secretaria da Educação
Especial, a revista apresenta artigos sobre educação inclusiva, estruturando-se como
uma fonte de pesquisa para os profissionais da educação. Discute a educação especial
sob o enfoque das práticas inclusivas, procurando contribuir para as reflexões e trans-
formações conceituais e práticas no que se refere educação dos alunos que possuem
necessidades educacionais especial.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/index.php?option=content&task=view
&id=125&Itemid=277
7. LIVRO
Título: TRAMAS: procedimentos para a aprendizagem cooperativa
Descrição: no livro “TRAMAS: procedimentos para a aprendizagem cooperativa”, de
Carles Monereo e David D. Gisbert, apresenta-se a teoria da Abordagem Cooperativa
como imprescindível para o desenvolvimento de uma educação de qualidade no século
XXI. Estruturado a partir de narrativas breves, os autores preocuparam-se em tornar a
leitura mais atrativa ao leitor, explicitando diferentes métodos de aprendizagem coo-
perativa, instigando a reflexão do leitor na busca da compreensão das possibilidades
práticas de aplicação da teoria.
8. LIVRO
Título: Educação Inclusiva: com os pingos nos is
Descrição: no livro “Educação Inclusiva: com os pingos nos is”, autora Rosita Edler Car-
valho defende a necessária reestrutração dos aspectos culturais, políticos e escolares
das sociedades que se pretendem inclusivas. Muito mais do que destituir a educação
especial do status de área educacional paralela ao sistema comum de ensino, e pen-
sando o processo de inclusão para além da inserção física de alunos nas salas de aula
regulares, Rosita decide “colocar os pingos nos is” na proposta de educação inclusiva,
fazendo-nos refletir sobre o momento educacional e as significativas transformações
que temos presenciado nos espaços escolares.
9. CAPÍTULO DE LIVRO
Título: A deficiência mental na perspectiva de Piaget e Vygotsky. In: Magalhães, R.
C. B. P (Org.). Reflexões sobre a diferença: uma introdução à educação especial.
Forataleza: UECE, 2003.
Descrição: no texto “A deficiência mental na perspectiva de Piaget e Vygotsky”, as
autoras Maria de Lourdes C. Fernandes e Suzana da Costa Magalhães resgatam as con-
cepções teóricas que embasaram a atuação pedagógica com alunos que possuem defi-
ciência mental ao longo da história da educação especial, discutindo com profundidade
os benefícios apresentados pela as teorias de Jen Piaget e Lev S. Vygotsky à educação
desses alunos.
10. LIVRO
Título: Aprendizagem Significativa
Descrição: no livro “Aprendizagem Significativa”, o autor Marco Moreira resgata o sig-
nificado original do conceito de aprendizagem significativa na teoria de Auzubel, bem
como as relações desse conceito interpretado à luz de várias teorias. Ao longo do texto,
explica o que é aprendizagem, abordando a facilitação da aprendizagem significativa
em sala de aula e sua avaliação.
A.4. Avaliação
Alguns procedimentos e instrumentos de avaliação e outras tarefas escolares
baseadas em referências visuais devem ser alteradas ou adaptadas às necessidades do
aluno cego. Eles podem fazer uso de máquina de escrever em braille, gravador e com-
putador para a realização dessas atividades. Os desenhos, as gravuras, os diagramas e
os gráficos devem ser confeccionados em relevo. Em algumas circunstâncias, é reco-
mendável valer-se de exercícios orais.
A adaptação, a produção de material e a transcrição de provas, de exercícios e de
textos em geral para o Sistema Braille podem ser realizadas em salas de multimeios,
núcleos, serviços ou centros de apoio pedagógico. Se não houver ninguém na escola
que domine o Sistema Braille, será igualmente necessário fazer a conversão da escrita
Braille para a escrita em tinta.
Convém observar a necessidade de estender o tempo da avaliação, considerando
as peculiaridades em relação à percepção não-visual.
condição visual complexa e variável, que precisa ser identificada e compreendida para
evitar equívocos de interpretação e julgamento.
Alguns sinais e comportamentos indicadores de visão reduzida podem ser obser-
vados em sala de aula desde a aparência dos olhos, o tremor involuntário e constante da
pupila (nistagmo), o andar hesitante, o sentido de direção e localização de objetos dentre
outras manifestações de percepção visual que chamam a atenção do observador atento.
A atividade de observação dentro e fora da sala de aula deve ser incorporada
pelos educadores como um exercício diário que possibilite uma melhor compreensão, o
discernimento e aceitação das características e peculiaridades dos alunos.
Neste sentido, o professor deve conhecer e saber identificar as restrições ou ma-
nifestações decorrentes da limitação visual para desenvolver estratégias pedagógicas
condizentes com as necessidades específicas dos alunos com baixa visão. Por isto, deve
observar de modo informal e contínuo as reações do aluno, o comportamento, as ati-
tudes, a postura, a motivação, o interesse, o relacionamento com os colegas, a locomo-
ção, a realização de tarefas individuais e em grupo, a linguagem, a expressão corporal,
as atividades de recreação dentre outros aspectos cognitivos, afetivos e sociais.
Neste contexto, o professor deve ficar atento e observar as reações e os compor-
tamentos manifestos pelo aluno com baixa visão. Ele esfrega os olhos; franze a testa;
fecha e tampa um dos olhos; balança a cabeça ou a inclina para frente para ver um
objeto próximo ou distante; levanta para ler o conteúdo escrito no quadro negro, em
cartazes ou mapas; troca palavras, omite ou mistura letras e sílabas; evita ou protela
atividades predominantemente visuais; pisca muito, chora com frequência, tem dor
de cabeça ou fica irritado devido ao esforço despendido na realização da tarefa; tro-
peça com facilidade ou não consegue se desviar de objetos e de pequenos obstáculos;
aproxima o livro, o caderno e outros materiais para perto dos olhos; sente incômodo
ou intolerância à claridade; troca a posição do livro e perde a seqüência das linhas em
uma página ou confunde letras semelhantes; tem falta de interesse ou dificuldade em
participar de jogos e brincadeiras que exijam visão de distância.
Entre 1819 e 1821, Barbier apresentou o seu sistema a Valentin Haüy como uma
provável alternativa para superar as dificuldades de alfabetização dos cegos. O seu
método atraiu a atenção e o interesse de Louis Braille que percebeu suas limitações e
dedicou-se com afinco à elaboração de um sistema mais simples e completo, conside-
rando os aspectos indispensáveis para convertê-lo em um autêntico alfabeto.
UNIDADE D ORIENTAÇÃO E
MOBILIDADE
UNIDADE E RECURSOS
TECNOLÓGICOS
VIRTUAL VISION: software desenvolvido pela Micropower, em São Paulo. Opera com
os utilitários e ferramentas do ambiente Windows. Pode ser obtido gratuitamente por
pessoas cegas por meio da Fundação Bradesco ou do Banco Real e é comercializado
para empresas e outras instituições. Informações disponíveis em <http://www.micro-
power.com.br>.
JAWS: software americano possui uma variedade de recursos e ferramentas com tra-
dução para diversos idiomas, inclusive para o português. Atualmente, entre os leitores
de tela, é o mais caro, e no Brasil não existe subvenção ou distribuição gratuita do Jaws.
Outras informações podem ser obtidas em <http://www.lerparaver.com> e <http://
www.laramara.org.br>.
Os leitores de tela são programas com voz sintetizada, reproduzida por meio de
auto-falantes, para transmitir oralmente o conteúdo projetado na tela do computa-
dor. Estes softwares são desenvolvidos a partir de parâmetros de acessibilidade que
permitem o uso dos diversos aplicativos e uma navegação confortável no ambiente
Windows.
Os leitores de tela substituem o uso do “mouse” por comandos de teclado. Por
exemplo, a tecla “tab” é usada para percorrer o conteúdo de uma página e acessar o
“link” desejado de modo mais rápido. Embora estes programas sejam indispensáveis
e eficientes, o usuário cego encontra barreiras de acessibilidade no espaço virtual. Isso
porque nem todos os sites respeitam os padrões de acessibilidade estabelecidos nacio-
nal e internacionalmente.
Alguns exemplos de barreiras virtuais são interfaces gráficas, frames e imagens
que não apresentam alternativa de texto; fotos, desenhos e ilustrações sem descrição;
códigos e imagens exclusivamente visuais como chave de acesso para sites seguros; uso
de cores como única forma de destacar um conteúdo e etc.
Os meios informáticos ampliam as possibilidades de comunicação, de acesso ao
conhecimento e de autonomia pessoal. A apropriação destes recursos modifica signi-
ficativamente o estilo de vida, as interações e as condutas sociais ao inovar hábitos e
atitudes em relação à educação, ao lazer, ao trabalho, à vida familiar e comunitária. No
caso de pessoas cegas e com baixa visão, essas ferramentas são mais do que simples
facilitadores do desempenho escolar e profissional. Representam uma prótese que mi-
nimiza ou compensa as restrições decorrentes da falta da visão. Por isto, é fortemente
recomendável que estejam disponíveis e que os educadores conheçam, valorizem e
aprendam a lidar com algumas delas para conhecer um pouco mais sobre as suas ca-
racterísticas e o alcance de acessibilidade que proporcionam.
UNIDADE F ADAPTAÇÃO DE
MATERIAL
meros, traços, figuras, margens, desenhos com bom contraste, figura, fundo); observar
o espaçamento adequado entre letras, palavras e linhas; interpretar representações e
ilustrações em relevo, sobretudo no caso de cegos congênitos que não tiveram esta
experiência na escola ou fora dela.
F.2. Mapas
Os mapas políticos, hidrográficos e outros podem ser representados em relevo
com cartolina, linha, barbante, cola, e outros materiais de diferentes texturas. A ri-
queza de detalhes em um mapa pode dificultar a percepção de aspectos significativos.
F.3. Sorobã
A manipulação e o uso de material concreto favorecem a compreensão e a assi-
milação de relações numéricas abstratas no desenvolvimento educacional de qualquer
criança e, particularmente, no caso das crianças cegas e com baixa visão. Por isto, o so-
robã é uma alternativa eficiente e viável para a apropriação de conceitos matemáticos.
O sorobã é uma espécie de ábaco com cinco contas em cada eixo e uma borracha
compressora para deixar as contas fixas e facilitar a leitura tátil.
Referências Bibliográficas
BANCO DE ESCOLA, Disponível em: <http://www.bancodeescola.com>. Acesso em: maio 2006.
OLIVEIRA, Regina C. S; Newton Kara- José e Marcos W.S. Entendendo a Baixa visão: orientações aos
professores. MEC; SEESP. 2000.
ROSA, Alberto; OCHAÍTA, Esperanza. Psicologia de la Cegueira. Alianza Editorial S.A Madrid, 1993.
SANTIN, Sílvya; SIMMONS Joyce Nester. Crianças Cegas Portadora de Deficiência Visual Congênita.
Revista Benjamin Constant, n. 2 – janeiro de 1996.
UNIDADE A ASPECTOS
RELEVANTES ACERCA
DOS SURDOS E A
ACESSIBILIDADE.
Nessa perspectiva, entender a educação dos surdos requer pensar para além das
questões clínicas, audiológicas e de reabilitação, construir um conhecimento sobre os
surdos que aponte para as questões da diferença, da cultura e da identidade surda. O
que significa refletir sobre diferentes questões
como: a surdez constitui uma diferença que GLOSSÁRIO
deve ser reconhecida, é uma identidade múl- FENEIDA - Federação Nacional de Educação
tipla que se gesta e se constrói nas vivências e Integração do Deficiente Auditivo.
cotidianas das comunidades surdas e, princi- FENEIS - Federação Nacional de Educação
palmente, a surdez constitui uma experiência e Inclusão dos Surdos, para conhecer mais,
efetivamente visual. acesse o site: www.feneis.com.br
Na década de 80, um grupo de surdos
passa a participar da FENEIDA, alterando o CONTEÚDO RELACIONADO
nome e o estatuto dessa instituição para FE- Para ler sobre eventos da comunidade sur-
NEIS. Klein (2005, p. 22), caracteriza o papel da, acesse: http://www.surdosol.com.br
dessas entidades:
surda, pois é nesse contexto que os valores culturais das pessoas surdas, são criados,
nutridos e efetivamente vivenciados.
Para Strobel (2008, p. 39),
é sabido que mais de 90% dos surdos tem família ouvinte. Para que a
criança tenha sucesso na aquisição da língua de sinais, é necessário que
a família também aprenda essa língua para que assim a criança possa
utilizá-la para se comunicar em casa.
Botelho (2002, p. 112) colabora: a língua de sinais também existe como disciplina
curricular nos vários níveis escolares. Os surdos aprendem sobre as línguas de sinais de
outros países, sobre a organização de surdos, sobre a Cultura Surda e outros temas de
importância.
Nesse contexto, a língua portuguesa escrita deverá ser ensinada como língua
oficial, requerendo, necessariamente, o uso de metodologias específicas para a apren-
dizagem de segunda língua. Entendemos que a educação bilíngue é a forma mais
legítima de demonstrar as condições socioantropológicas, linguísticas, culturais das
comunidades surdas.
Partindo desse olhar, a escola deverá pensar em modelos pedagógicos que venham
ao encontro dessa realidade, contemplando, segundo Skliar (1990, p. 53), condições de
acesso à língua de sinais e à segunda língua, à identidade pessoal e social, à informação
significativa, ao mundo do trabalho e à cultura surda. Sabemos que a segunda língua no
caso dos surdos é a língua portuguesa, a qual exige para seu aprendizado, condições de
ensino de língua estrangeira. Falaremos sobre esse tema na próxima unidade.
Para estudarmos sobre o currículo, seria oportuno definirmos o que entendemos
sobre currículo, porém essa não é uma tarefa fácil. Currículo, assim como outros termos,
tem seu significado modificado ao longo dos tempos e é abordado em diferentes perspec-
tivas no campo educacional. Duas grandes tendências marcaram a questão do currículo.
A primeira versão é defendida por aqueles que chamamos de conteudistas, isto
é, aqueles que entendem que o objetivo maior da escola é a transmissão de conteúdos.
Na segunda versão, encontramos autores que defendem a importância das experiên-
cias vividas pelos alunos no contexto escolar. Nesse sentido, sob essa ótica imprimimos
um significado fundamental para o currículo.
Quanto menor for a criança, mais a brincadeira será a atividade central e essen-
cial e as atividades dirigidas aparecerão progressivamente, sempre relacionadas com
as atividades de jogo. Podemos apontar alguns tipos de jogos: Jogos de comunicação,
Jogos motores, Jogos simbólicos, Jogos folclóricos, jogos virtuais etc.
Ao professor cabe saber utilizar os jogos e a brincadeira em aula, em uma pers-
pectiva educacional, para que as crianças possam se apropriar do mundo. Elementos
como observação, formas de intervenção e atividades dirigidas são necessários para
que ocorra uma educação de qualidade. Não se pode esquecer do papel do professor
deve ser contada em língua de sinais por um LEBEDEFF, Tatiana B. Práticas de letramento na
pré escola de surdos: reflexões sobre a impor-
surdo adulto ou pelo professor bilíngue. De tância de contar histórias. In: THOMA, Adriana
preferência, recursos visuais, como gravuras e/ da S; LOPES, Maura C. (Orgs). A invenção da
ou dramatizações. Ressaltamos que histórias surdez: cultura, alteridade, identidade e dife-
infantis em língua de sinais já podem ser en- rença no campo da educação. Santa Cruz do Sul:
EDUNISC, 2004. p. 128-142.
contradas no Brasil.
E acesse:
143.106.58.55/revista/include/getdoc.php?id=276&articl
Consideramos importante o professor, e=110&mode=pdf
no trabalho com surdos, utilize também a li- 143 .10 6 . 5 8 . 55/ r e v i s t a / i n c l u d e /g e t d o c .
teratura surda. php?id=274&article=112&mode=pdf
Para contar histórias, diferentes mate-
riais podem ser utilizados: CONTEÚDO RELACIONADO
• Reproduzir com material de sucata si- Sites de algumas editoras que promovem a
tuações vividas pela criança, inventar publicação de livros em LIBRAS:
histórias com material de sucata, fazer www.editora-arara-azul.com.br
com que todos participem, montar qua- www.editoradaulbra.com.br
na sala de aula. Entendemos que os projetos são uma ótima oportunidade para propi-
ciar ações significativas, tanto para os professores quanto para os alunos, viabilizando
a aprendizagem de qualidade que todos nós almejamos. Embora tenhamos apontado
o lúdico e a literatura, sabemos que há um universo de temas que podem ser contem-
plados por meio de projetos. Esses temas estão inseridos em todas as disciplinas do
currículo e estão relacionados a outras áreas e temas transversais.
3. VÍDEOPHONES
O Videophone é conectado a um aparelho de televisão ou a um computador equipado
com webcam. A utilização pode ser ponto a ponto,
SAIBA MAIS ou seja, de aparelho para aparelho ou por meio do
Para ler mais acesse: serviço de uma intérprete, que é disponibilizada
http://www.sorensonvrs.com pela empresa telefônica que concede o serviço.
4. C-PRINT
Essa tecnologia é similar a que podemos ver nos telejornais de canais abertos de te-
levisão, denominada Closed Caption, ou seja, em tempo real, mas essa legenda é para
sala de aula. No sistema C- PRINT, dois computadores estão interconectados por um
cabo. A intérprete, que foi treinada em estratégias de condensação de texto e digi-
tação, senta próximo ao aluno e digita o discurso
SAIBA MAIS do professor e as interações que ocorrem na sala
Para ler mais acesse: de aula. O texto digitado é simultaneamente vis-
www.ntid.rit.edu/cprint/índex.php to pelo aluno em outro computador.
6. VÍDEOS
Atualmente, as TIC’S permitem a captura de vídeos e sua publicação pelas mais diversas
vias. Muitos telefones celulares já possuem câmeras filmadoras acopladas, webcams de
computadores podem capturar imagens, filmadoras portáteis estão cada vez mais aces-
síveis, enfim, a produção textual em língua de Sinais pode ser, finalmente, adequadamen-
te armazenada e compartilhada. As narrativas não mais se perdem, mas se produzem,
transformam-se e utilizam recursos mais sofisticados para edição e publicação. Há, agora,
como nunca antes, a possibilidade de produção de literatura em sinais. Vale a pena assistir
ao vídeo sobre caubóis “The Fasted hands in the West”, ou, “As mãos mais rápidas do Oeste”,
disponível no youtube em: <www.youtube. com/watch?=kvn8u2zbauo>.
Lebedeff (2009, p. 49), sugere, ainda, que se conheça a história do Chapeuzinho
Vermelho, produzida pela Organização Não Governamental (ONG), “Vez da Voz”,
disponível para download no endereço <www.vezdavoz.com.br/videsos/vídeos/
chapeuzinhovermelho_surda.wmv>
Essa ONG produz um telejornal semanal em Libras, o Telelibras, que está disponí-
vel para download no endereço <www.vezdavoz.com.br/telelibras>. Veja outras
propostas de literatura na Editora Arara Azul <www.editora-arara-azul.com.br)
e na LSB Videos <www.lbsvideos.com.br>
7. SOFTWARES EDUCATIVOS
Muitos são os softwares educativos que podem ser utilizados com aluno sur-
dos, muitos deles também são utilizados com alunos ouvintes. Por exemplo,
a Unicamp desenvolveu um software de produção de histórias em quadrinhos
denominado HagáQuê, (livre e disponível para download em: <http://pan.nied.
unicamp.br/~hagaque>), que não possui destinatário prévio.
Outros Softwares estão sendo desenvol-
vidos para promover a escrita e autoria SAIBA MAIS
em signwriting, a escrita em sinais. É Para saber mais sobre SIGNWRITING, consulte
possível pesquisar diferentes objetos o site <www.signwriting.org> ou leia o artigo
de aprendizagem para utilizar com os Sistema SIGNWRITING: por uma escrita funcio-
nal para o surdo, de Mariane Rosa Stumpf.
alunos. Um bom lugar para iniciar a pes-
quisa é no repositório Internacional de Sobre o teclado em signwriting e softwares
Objetos educacionais disponibilizados de autoria, consulte <www.cintedufrgs.br/
pelo MEC <www.objetoseducionais2. ciclo10//artigos/6iCreice.pdf>
mec.gov.br>
Referências complementares
Título: Breve relato sobre a educação dos surdos
Descrição: No artigo “Breve relato sobre a educação dos surdos”, a autora Marcia Gol-
dfeld descreve sobre as abordagens que já foram vividas na educação surdos. Proble-
matizando questões relativas à exclusão dos surdos nos séculos passados, o caráter
de reabilitação sobre o qual estava revestido o ensino dos surdos, ela aponta alguns
aspectos acerca da educação bilíngue.
GOLDFELD, Marcia. A criança surda – linguagem e cognição numa perspectiva sócio-interacionista.
São Paulo: Plexus, 1997.
UNIDADE B A APR EN D IZ AG E M
DA L ÍN GUA
P O R T UGU E SA .
pais surdos sinalizadores de LIBRAS apresentam uma analogia com os dados analisados
na ASL. Para a autora, os autores dessa teoria reconhecem a linguagem como um sis-
tema altamente interativo e passível de modificações, sofrendo influências de diversos
aspectos, como: sociais, biológicos e linguísticos. Kambi (1998 apud TELLES 1998, p. 04)
colabora com a seguinte colocação: “as estruturas de linguagem são vistas como um
produto derivado das funções sociointeracionistas da linguagem”.
O ser humano é considerado superior a outras espécies por fazer uso de um siste-
ma de comunicação mais elaborado, que é passado de geração a geração, independen-
te de sua cultura. Sanches (QUADROS 1990, p. 17) considera que:
LIBRAS, enquanto língua natural das comunidades surdas, desconhecendo quase que
totalmente sua capacidade de fornecer aos surdos a apropriação do conhecimento,
construção de mundo, de desenvolvimento lingüístico-cognitivo e base para aprendi-
zagem do português como segunda língua.
No livro Ensino da Língua Portuguesa para Surdos, Salles et a.l (2004), apontam
algumas vertentes de abordagens utilizadas no ensino de segunda língua, entre elas:
Abordagens Estruturalista, Abordagem Funcionalista e Abordagem interacionista.
Abordaremos, neste trabalho, a aprendizagem em um contexto sociointeracio-
nista, enfatizando a importância do conhecimento prévio do aluno e as condições de
interação para aprender.
Freire (1998, p. 48), tratando sobre esse tema, aponta:
Essa leitura não é aprendizagem, pois é facilmente esquecida, a leitura deve par-
tir do interesse do aluno. É importante ressaltar que a compreensão de qualquer pro-
cesso de aprendizagem parte da constatação de que o aluno sempre relaciona ou quer
aprender a partir do que já sabe. Em outras palavras, na construção do conhecimento,
o aluno projeta os conhecimentos que já possui no conhecimento novo, no esforço de
alcançar aprendizagem, características como essas que se relacionam com saltos quali-
tativos que, segundo Vygotsky, são a base para a construção do conhecimento.
No caso específico da aprendizagem de uma segunda língua, o aprendiz contri-
bui de maneira decisiva na tarefa de aprender, partindo do conhecimento que possui
em sua primeira língua e de seu conhecimento prévio do mundo, como também dos
tipos de textos com os quais está familiarizado.
As crianças em fase de alfabetização, inicialmente, leem de forma lenta e têm
dificuldades, muitas vezes, em integrar os elementos em frases e relacioná-los entre si
na construção de um trecho todo, coerente e com sentido. Nessa fase, a criança apenas
decodifica o texto, porém não lê.
Já nas fases posteriores e de acordo com
GLOSSÁRIO as riquezas do input recebido na fase inicial, o
O termo Input é usado na obra de Quadros, ato de ler significa a verdadeira leitura, aquela
Ronice Muller de. Educação de surdos. que implica na participação ativa do leitor em
Aquisição da Linguagem. Porto Alegre: busca de significados, formulando hipóteses,
Artes Médicas, 1997.
(re)avaliando-as, identificando intenções e ar-
gumentos, ou seja, realizando um completo
trabalho de construção do texto, no qual cada ato tem sua particularidade, sem ser
totalmente desvinculado, porque, se assim fosse, não seria um texto: – Com as crian-
ças surdas se pressupõe que elas criem hipóteses com relação à Língua de Sinais para
poder construir a aprendizagem da Língua Portuguesa: primeiro elabora frases com
a estrutura da Língua de Sinais, posteriormente, na estrutura da Língua Portuguesa.
O input aqui é percebido como as ofer-
CONTEÚDO RELACIONADO tas, os insumos que o aluno recebe do ambien-
Entendemos aqui que todos os meios que te pedagógico. Podemos dizer que o professor
promovam o acesso ao conhecimento pelos de surdos tem um maior grau de responsabili-
surdos constituem-se em inputs favoráveis dade em tornar a língua os inputs linguísticos
para aprendizagem, letramento e cidada-
nia. Para ler sobre acessibilidade acesse:
disponíveis e compreensíveis para as crianças.
www.anatel.gov.br/universalizacao/direi- Nessa perspectiva, se elege um fator determi-
to_acessibilidade_comunic_surdos.pdf nante para o sucesso do trabalho de ensino da
Língua Portuguesa para os surdos: a presen-
essas relacionavam a surdez à déficits de linguagem. Porém, sabemos que essas repre-
sentações surgiram a partir de uma errônea comparação entre ouvintes e surdos durante
o processo de aprendizagem da Língua Portuguesa.
Estudos feitos sobre a aprendizagem de uma segunda língua por acadêmicos
ouvintes mostraram com clareza que há um universo de erros vividos por ouvintes e
por surdos que manifestam características inerentes à espécie humana no processo de
aprendizagem de uma segunda língua. Evidências como essas reforçam o fato de que
as analogias feitas entre surdos e ouvintes são um equívoco, que os profissionais prati-
cam e muitas vezes reforçam em suas práticas pedagógicas, motivados pelo desconhe-
cimento ou levados pelo imaginário de que os surdos são linguisticamente incapazes.
Para Svartholm (1998, p. 40):
A escrita da pessoa surda reflete, em certa medida, as vivências que teve com a
segunda língua. Para tanto, a escrita deve ter uma função em sua vida e, nesse caso, os
artefatos culturais conhecidos e manuseados pelo aluno em sala de aula, irão decisi-
vamente influenciar no gosto, na motivação e na curiosidade, aspectos determinantes
para a aprendizagem em que estão sendo iniciados.
Nesse caso, como entender a escrita como algo interessante? E como construir essa
representação para os alunos? Sugerimos alguns aspectos para que a escrita seja interes-
sante na escola. Em primeiro lugar, aponta o input como algo relacionado com a experiên-
cia coletiva, professores e alunos construindo junto um conhecimento (um texto), a partir
de uma experiência concreta. Essa vivencia possibilitará que os alunos manifestem seus
diferentes pontos de vista, sem essa experiência esse aprendizado seria prejudicado.
Quando nos referimos a experiências
SAIBA MAIS coletivas, sugerimos a leitura do Método de
Leia sobre o Método de Cartazes de Expe- Cartazes de Experiências. Acreditamos que
riências em: esse método contribua muito para a aprendi-
BITTENCURT, Mirian F. Alfabetização uma zagem da Língua Portuguesa para os alunos
aventura para a criança. 2. ed. Florianó- surdos. Para Sanches (1996, p. 07), “todo caso,
polis: Edeme, 1983. devemos estar conscientes de que la aquisici-
ón de la lengua escrita deve darse en el seno
de la práctica social de la lectura y la escritura, en un contexto comunitario.”
Para Bittencurt (1983, p. 12), “[...] um método de alfabetização baseado nas pró-
prias experiências dos alunos é uma das melhores, senão o melhor recurso, para seu
desenvolvimento.”
Esse método, parte do pressuposto que as vivências concretas serão extrema-
mente significativas para os alunos, quando o aluno vê na sala de aula experiências que
retratam seu cotidiano, sua vida, levanta hipóteses, faz relações, conhece as experiên-
cias já vividas pelos colegas em relação a temática tratada.
O método de cartazes de experiências possibilita que a professora juntamente com
a turma combine uma ação coletiva, como uma salada de frutas feita por todos, um pas-
seio. No término dessa atividade voltam para a sala de aula. Juntamente com a profes-
sora, constroem um texto onde todos colaboram. Para Salles (2004, p. 45), é importante
ter em mente que a leitura para os surdos deve ser conduzida dos textos mais simples aos
mais complexos, simplificando-se, apenas no início, para evitar o reducionismo.
Cada experiência vivida contemplando diversas áreas do conhecimento possibili-
ta outra atividade que, de alguma forma, estabelece uma relação. O texto demonstrará
isso porque esse novo texto deverá ter vocabulário já trabalhado no primeiro. Muitas
atividades serão vividas e os textos irão aumentando com o tempo, como o nível de
exigência nas atividades e proficiência na língua que está sendo estudada.
No final de um bimestre, por exemplo, teremos um conjunto de textos elaborados
pelos alunos, que poderá ser usado a qualquer momento na sala de aula como material
de pesquisa. Na perspectiva de discutir sobre os caminhos que devem ser trilhados pelo
professor e alunos surdos no processo de aprendizagem da Língua Portuguesa, nos
embasaremos em alguns estudiosos da área da linguística que têm enfrentado esse
desafio e proposto algumas estratégias. Freire (1998), Moita Lopes (1998), Salles et al.
(2004), Karnopp (2005), Quadros (1997).
A leitura deve ser uma das principais preocupações no ensino de português como
segunda língua para surdos, considerando que essa etapa é vista como fundamental
para aprendizagem da escrita.
Segundo Garcez (SALLES, 2004, p. 21), reconhecer e entender na organização
sintática, o léxico, identificar o gênero e o tipo de texto, bem como perceber os im-
plícitos, as ironias, as relações estabelecidas intra, inter e extratexto, é o que “torna a
leitura produtiva”. No caso do surdo, alguns dos procedimentos são imprescindíveis e o
professor deve sempre estar atento para conduzir o seu aprendiz a cumprir etapas que
envolvam aspectos macroestruturais e microestruturais, como pode ser visto abaixo:
ASPECTOS MICROESTRUTURAIS:
• Reconhecer e sublinhar palavras-chave;
• Tentar entender, se for o caso, cada parte do texto, correlacionando-os entre si:
expressões, frases, períodos, parágrafos, versos, estrofes;
• Identificar e sublinhar ou marcar na margem fragmentos significativos; relacio-
nar, quando possível, esses fragmentos a outros;
A autora recomenda que o uso de todos esses itens para um só texto é imprati-
cável, considerando que há um conjunto de procedimentos adequados para a compre-
ensão de cada texto.
B.4.2. O Texto
Ao longo dos estudos este objeto foi compreendido sob diversas óticas:
ora observando-se a sua natureza sistêmica: como unidade linguística
superior a frase, como uma sucessão de combinação de frases, como um
complexo de proposições semânticas; ora considerando-se o aspecto
cognitivo: vendo-o como um fenômeno psíquico, resultado de processos
mentais; ora ressaltando-se o seu caráter pragmático: como sequência de
atos da fala, como um elemento de comunicação verbal, ou ainda como
processo\produto de práticas sócias.
Vale ressaltar o caráter pedagógico do texto, considerando que ele não deve ser
visto como um produto final, pelo contrário, é uma produção dialogada, comprometida
com seu processo, compartilhado, construído, verbalizado. Dessa forma, Koch (SALLES
2004, p. 24) ressalta que o sentido não está no texto, mas se constrói a partir dele
dependendo das experiências, dos conhecimentos prévios, enfim, da visão de mundo
que cada participante traz consigo do evento em que o texto se realize. O texto poderá
sofrer diferentes interpretações, adquirir diferentes significados considerando tempos
e espaços diferentes daquele que o texto foi construído.
Segundo Salles (2004), o texto tem sido apontado como um recurso por exce-
CONHECIMENTO DE MUNDO
O conhecimento de mundo é um dos principais fatores pedagógicos para todo o
professor de surdos que pretende ensinar uma segunda língua, quando o objetivo é a
qualidade da produção escrita.
Nesse sentido, é importante por parte do professor pensar que não só aquele co-
nhecimento que ele irá proporcionar em sala de aula é importante, mas também aque-
les que o aluno traz consigo, que representam sua história de vida. Podemos entender
que o conhecimento de mundo são os significantes, já convencionados que as pessoas
têm sobre as coisas do mundo, que são trazidos para o processo de aprendizagem e ar-
mazenado na memória, construindo arquivos de informação. “Este pré-conhecimento
do mundo se refere a experiências construídas ao longo da vida e que, portanto, vão
variar de pessoa para pessoa.” (MOITA LOPES, 1996 apud FREIRE, 1998).
O conhecimento de mundo contribui para a compreensão e interpretação do alu-
no ao produzir ou ler um texto, pois o entendimento, a compreensão sobre determina-
CONHECIMENTO SISTÊMICO
Os conhecimentos sistêmicos dizem respeito aos conhecimentos formais da lín-
gua – conhecimentos linguísticos – vocabulário, sintaxe, regras de construção da ora-
ção que têm papel central do processamento do texto pelo leitor.
Freire (1998, p. 48) define conhecimento sistêmico:
a cada evolução tecnológica que surge e traz consigo uma maneira nova
de se comunicar, um novo gênero aparece. Entendidos desse modo os gê-
neros são práticas sociais, como por exemplo: bilhetes, convites, telegra-
mas, sedex, fichas de cadastros, e-mail, chats, debates, cheques, cartões
diversos (postal, agradecimento, apresentação, natal, aniversário, ou-
tros), cartas, receitas culinárias, bula de remédios, artigos de jornal [...].
COESÃO E COERÊNCIA
Alguns fatores são responsáveis pela organização estrutural e pela construção
dos sentidos que um texto pode apresentar. Entre eles podem ser destacados: coe-
são, coerência, informatividade, situacionalidade, intertextualidade, intencionalidade
e aceitabilidade.
Para Salles (2004, p. 27), pelo menos em princípio, coerência e coesão tornam-se
imprescindíveis para que um texto seja interpretável.
A coesão textual, segundo a autora, refere-se aos substantivos, adjetivos, verbos,
preposições, pronomes, advérbios, conjunções entre outros, que são responsáveis pela
tessitura textual. Observe aspectos da coesão no texto a seguir:
Vamos à luta!
Os onze brasileiros escalados por Luiz Felipe Scolari para enfrentar a Alemanha no
final da Copa do Mundo, hoje às 8h, não estarão sozinhos no Estádio Internacional
de Yokohama, no Japão. Jogaremos com eles. Sentados na ponta do Sofá, ajudare-
mos Rivaldo e os Ronaldos a escolher o canto certo e empurraremos o goleiro Kahn
para o outro lado do gol. A cada bola levantada para o atacante Klose, subiremos
na cadeira para ajudar nossos zagueiros a afastarem o perigo. Diante da televisão,
faremos de tudo para que o melhor ataque da Copa supere a melhor defesa da com-
petição. Para evitar o tetra deles. Para comemorar o nosso penta.
(Correio Brasiliense, 30 de junho de 2002)
Texto extraído na íntegra do livro Ensino da Língua Portuguesa para Surdos Ca-
minhos para a prática pedagógica, volume 2, de Salles (2004).
A partir desse texto, a autora propõe a seguinte análise:
• Os itens eles, estarão, sozinhos referem-se a onze brasileiros, no início do texto, e
propiciam a recuperação de algo já apresentado. São, portanto, elementos re-
missivos a este que é denominado de referente;
• O adjetivo com valor adverbial de modo sentados, bem como as formas verbais
ajudaremos empurraremos, subiremos, faremos e a pronominal nosso recuperam a
ideia de nós, elíptica e contida em jogaremos, primeira ocorrência desinencial em
que a ideia aparece realizada;
• As duas ocorrências do conjuntivo e mostram que esse valor elemento é um elo tanto
entre palavras Rivaldo e Ronaldos como entre orações ajudaremos... e empurraremos.
Salles (2004, p. 30) argumenta em relação ao exercício que apesar das diferen-
ças morfossintáticas que alguns dos elementos em destaque apresentam entre si, eles
cumprem um mesmo papel do ponto de vista da organização do texto: o de garantir as
ligações internas, a tessitura textual, pois, sendo elemento remissivo de um referente
ou apenas ligando palavras ou estruturas, todos eles são coesivos.
A coerência está intrinsecamente relacionada com as relações de significação
subjacente à estrutura do texto. Está relacionada às relações lógicas entre as ideias.
Para Salles (2004, p. 30), refere-se ao sentido ou aos sentidos que o texto possibilita
apreender. A coerência é, na verdade, o próprio texto, pois um texto sem coerência
seria o não texto e este não existe.
Com relação ao texto “Vamos à luta”, a autora explica:
vimos que todos os elementos analisados não têm apenas uma missão
de unir pura e simplesmente um elemento linguístico a outro ou de
substituí-lo sem nenhum valor significativo. Todos eles unem palavras
ou segmentos com lógica, estabelecendo uma relação de sentido entre
as estruturas superficiais.
Para Karnopp (2005, p. 19), a coesão é um mecanismo que ajuda o leitor a cons-
truir a coerência do texto. Isso significa que o leitor precisa estabelecer a relação entre
os elementos linguísticos que o texto apresenta para construir a coerência textual em
uma determinada situação. E acrescenta: “o sentido não está no texto, ele precisa ser
construído pelo leitor”.
Na perspectiva do ensino de leitura e escrita da língua portuguesa para surdos,
Karnopp (2005, p. 20), colabora:
Muitas questões são levantadas sobre o processo de avaliação dos alunos surdos
no que se refere à produção textual, envolvendo tanto aspectos linguísticos como cul-
turais. Entendemos que não podemos medir esforços para que se efetive a aprendiza-
gem do português pelas comunidades surdas, quando sabemos que o letramento é um
valor fundamental na sociedade atual.
Referências complementares
Título: Contribuições da Abordagem Sócio-Interacionista para a Aprendiza-
gem da Língua Portuguesa na Modalidade Escrita Por alunos Surdos
Descrição: Nesse artigo, as autoras mostram a importância da abordagem sócio-in-
teracionista na aprendizagem de segunda língua para os alunos surdos. Apresentam
as experiências vividas a partir do método cartazes de experiência, enfocando as con-
tribuições dos conhecimentos de mundo, sistêmico e de organização textual. Relatam
com detalhes as atividades cotidianas da sala de aula e mostram a produção textual da
turma de estudantes surdos.
HAUTRIVE, F. M. Giovana; FANTINEL, F. Patrícia. Contribuições da Abordagem Sócio- Interacionista Para
a Aprendizagem da Língua Portuguesa na Modalidade Escrita Por alunos Surdos. Monografia de
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http://www.editoradaulbra.com.br
http://www.signwriting.org
Diante do que foi dito até aqui e procurando problematizar a questão da inclusão
de alunos com Transtornos Globais do Desenvolvimento, perguntamos: seria possível
incluir Victor na escola hoje?
Após a experiência de Itard, outras tentativas de tratar crianças com deficiência
mental se propagaram apesar de muitas prestarem atendimentos asilares com o obje-
tivo de confinamento, os chamados “depósitos” de crianças. Ainda, os centros médico-
-pedagógicos proliferaram e o binômio tratamento-educação aparece na tentativa de
cuidar das crianças com problemas graves.
Somente em setembro de 1969 que Maud Mannoni, psicanalista, nascida em
1923, fundou a Escola Experimental de Bonneuil-sur-Marne, na França. A fundação
aconteceu juntamente com um pequeno número de psicanalistas e estudantes. O obje-
tivo da escola era possibilitar que crianças e adolescentes excluídos pudessem usufruir
de um “lugar para viver”, como é conhecida a escola até hoje.
Mannoni, conforme Bernardino (2006), apontava a ausência de um lugar de su-
jeito para aqueles que se encontravam nos locais que haviam sido criados para eles. Ela
Kupfer cunhou o termo Educação Terapêutica para intervir junto às crianças com
problemas do desenvolvimento, sejam elas psicóticas, autistas, ou com problemas or-
gânicos associados a falhas na constituição subjetiva.
Dentre os tratamentos oferecidos, insere-se o acompanhamento escolar, sub-
dividido em três modalidades: acompanhamento a distância da criança na escola;
acompanhamento de professores inclusivos (acreditam que o professor também
deve ser incluído, não somente o aluno) por meio de reuniões mensais na sede
do Lugar de Vida; e a parceria orgânica com a escola. Nessa última modalidade, o
profissional vai regularmente à escola, permanece no pátio, entra na classe, acom-
panha os movimentos e trabalha com a criança ao lado da professora, quando ne-
cessário.
UNIDADE B CONCEITOS
FUNDAMENTAIS
Nesta unidade, delinearemos conceitos fundamentais acerca dos Transtornos
Globais do Desenvolvimento. Iniciaremos a discussão estabelecendo a diferença entre
deficiência mental e doença mental. Em seguida, abordaremos os transtornos que fa-
zem parte da categoria tratada neste módulo: Síndrome de Rett, Autismo, Transtorno
Desintegrativo da Infância (psicoses), Síndrome de Asperger e Transtornos Invasivos
sem outra especificação. A compreensão de cada um desses conceitos é importante
para sabermos a quais alunos se refere a Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008b). Porém, é preciso salientar que cada
aluno com Transtorno Global do Desenvolvimento que recebe o Atendimento Educa-
cional Especializado (AEE) terá suas especifici-
dades e seu modo particular de se relacionar OBSERVAÇÃO
com o saber, ou seja, terá seu próprio estilo Esse conceito foi tratado pelas autoras no
cognitivo de aprendizagem. A partir disso, módulo sobre o Atendimento Educacional
é importante considerarmos que, apesar dos Especializado.
signos (manifestações) característicos de cada
um desses quadros, nós, professores, devemos lançar um olhar atento para além do
diagnóstico, não engessando o sujeito em um determinado transtorno. Sendo assim,
se um aluno possui o diagnóstico de autismo, por exemplo, saberemos que há certas
especificidades do quadro, mas também teremos que considerar o que esse aluno traz
de singular, aquilo que o diferencia de qualquer criança, independentemente de ter um
transtorno do desenvolvimento ou não. Assim, evitaremos generalizações que aprisio-
nam o sujeito em um diagnóstico: “Ah ele faz isso porque é autista”, “Ah, ele não con-
segue aprender isso porque é psicótico”. Vale lembrar que “todas as crianças aprendem
muito mais do que sonha a nossa vã pedagogia” (KUPFER; PETRI, 2000, p.116). A partir
desse olhar, para além de um diagnóstico ou quadro clínico, que propomos a leitura
desta unidade.
A Síndrome de Rett foi descrita por Andreas Rett, médico austríaco, em 1966, que
denominou esse quadro de “Atrofia Cerebral Associada à Hiperamonemia”. O estudo de
Rett não se tornou muito conhecido porque suas publicações foram em língua alemã.
Essa síndrome passou a ser mais conhecida com as pesquisas do médico Bengt Hagberg,
que publicou um artigo em inglês sobre essa doença, nomeando-a de Síndrome de Rett.
Essa síndrome é uma doença neurológica que acomete principalmente crian-
ças do sexo feminino. Caracteriza-se pela perda progressiva das funções neuroló-
gicas e motoras após um período de desenvolvimento aparentemente normal nos
primeiros meses de vida. Observa-se que, por volta dos seis a dezoito meses, há
uma estagnação do desenvolvimento e a criança perde gradativamente as habili-
dades até então adquiridas.
É interessante destacarmos que a fala nos sujeitos com Síndrome de Rett é signi-
ficativamente comprometida, quando não ausente (SCHWARTZMAN, 2003). Con-
forme o autor, algumas crianças perdem a fala que haviam adquirido à medida
que ocorre a regressão no desenvolvimento.
• Pseudo-Estacionário: ocorre entre os dois e os dez anos de idade. Esse estágio
é marcado pela melhora de alguns sintomas da síndrome, como, por exemplo, a
interação social. Assim, o contato social que diminui nos dois primeiros estágios,
com consequências autistizantes e de isolamento, é retomado. Essa retomada é
destacada no fragmento do DSM-IV-TR (2002, p. 105), onde consta que a “perda
do envolvimento social ocorre precocemente no curso do transtorno (embora a
interação social se desenvolva posteriormente)”.
• Deterioração Motora Tardia: esse último estágio tem início por volta dos dez
anos de idade. Conforme Schwartzman (2003, p. 111), nesse quarto estágio ocorre:
Lenta progressão dos déficits motores, com presença de escoliose e severa defici-
ência mental. [...] as poucas pacientes que ainda retêm a deambulação gradual-
mente terão prejuízos crescentes, acabando por ter que utilizar cadeiras de rodas.
Por meio da descrição desses quatro estágios, podemos ter uma visão da evo-
lução dos sintomas da Síndrome de Rett. Além disso, conseguimos perceber os signos
presentes nesse quadro que o inserem na categoria dos Transtornos Globais do Desen-
volvimento: “alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas
relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras” (BRASIL, 2008b, p. 2).
Com base no que foi tratado até aqui, acreditamos que você tenha compreendido
o que é a Síndrome de Rett. Agora, propomos o desafio de ver o sujeito para além des-
ses sintomas descritos. Assim, é importante sabermos do que se trata essa síndrome,
sendo fundamental endereçarmos a esses sujeitos um olhar de aposta, considerando
suas especificidades.
No Atendimento Educacional Especializado dos alunos com Síndrome de Rett po-
demos usar os recursos utilizados para a deficiência física, tendo em vista os déficits mo-
tores, ou os recursos para facilitar a comunicação, uma vez que a fala é comprometida.
B.2.2. Autismo
O AUTISMO NO DSM-IV-TR
O autismo aparece na quarta edição revisada do Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais (DSM-IV), da Associação Americana de Psiquiatria (1994), como
um Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD). Já na décima edição do Código Inter-
nacional de Doenças (CID 10), o autismo aparece no grupo dos Transtornos Invasivos
do Desenvolvimento (TID). Tanto o CID 10 como o DSM são manuais internacionais que
possibilitam que os profissionais conversem por meio de uma linguagem universal.
A expressão Transtornos Globais do Desenvolvimento se refere ao fato de que
múltiplas áreas do funcionamento são afetadas, principalmente a área da interação
[...] Ela sabia que precisaria inovar se quisesse que Matheus aprendesse.
E o primeiro desafio era mantê-lo em sala. ‘Passei a iniciar as aulas do
lado de fora. Todos os dias eu cantava, lia histórias ou sugeria alguma
atividade que estimulasse a alfabetização ou outro aprendizado’, lembra.
DIAGNÓSTICO
O autismo se revela antes dos três anos de idade, podendo apresentar indícios
já no primeiro ano de vida da criança, quando os pais percebem que a linguagem não
se desenvolveu. O diagnóstico poderá ser feito por médicos, psiquiatras infantis e neu-
ropediatras, buscando sempre a interdisciplinaridade com psicólogos, professores e
demais profissionais que se ocupam da criança.
• Se a criança está com doze meses e ainda não balbucia e há ausência de gesto de
tipo apontar ou dar tchau, ou se está com dezesseis meses e não fala;
• Se a criança evita olhar o rosto dos seres humanos e desvia o contato olho no olho;
• Se a criança com mais de cinco meses não reconhece a voz melodiosa (“mama-
nhês”) com que seus pais falam com ela procurando-os com movimentos de ca-
beça ou se posicionando melhor para vê-los ou ouvi-los;
• Se a criança tem mais de oito meses e não sorri para agradar seus pais e não
demonstra ansiedade quando é tomada nos braços por estranhos;
• Se a criança apesar de estar com oito meses não reconhece seus brinquedos e
tampouco imita comportamentos tentando reproduzir brincadeiras quando é
solicitada, como, por exemplo, bater palminhas, fazer bolinhas de saliva, botar a
língua, balançar a cabeça, dançar.
Vale lembrar que esses signos, quando tomados isoladamente, não perfazem o
quadro do autismo, porém são signos de suspeita.
Trazendo mais uma vez as contribuições de Jerusalinsky (2008), podemos ob-
servar aspectos relacionados ao brincar como um possível indicador de dificuldades na
constituição psíquica da criança.
Segundo o autor, é importante notarmos se a criança somente manipula os obje-
tos e brinquedos de forma mecânica ou interage com eles, montando cenas e situações
habituais que representem o cotidiano. Por exemplo: ao brincar com pratinhos, xícaras e
talheres ela encena uma situação de café da manhã, colocando café na xícara, mexendo
o açúcar e oferecendo para o outro ou simplesmente vira, remexe, manipula os objetos
de forma estereotipada sem objetivo algum? Esses são indícios que revelam inibições e
pobreza expressiva no brincar, denotando que algo não vai bem com sua estruturação.
Comportamentos expressos no brincar de crianças pequenas, como no caso de
alunos da educação infantil, poderão estar visíveis aos olhos do professor, contribuindo
para que, de alguma forma, a escola seja parceira na prevenção de futuros problemas
de desenvolvimento.
Vimos até aqui um pouco do histórico do autismo, a fim de compreendermos o
conceito e as raízes desse transtorno; conversamos a respeito das manifestações do
comportamento autista, buscando sempre ver o aluno para além do reducionismo de
um diagnóstico. Direcionando-nos, agora, para o término dessa escrita sobre o autis-
mo, gostaríamos de compartilhar algumas reflexões sobre o papel da escola frente à
inclusão de alunos com autismo, e de todos aqueles alunos que se apresentam a partir
de uma subjetividade que lhes é própria:
• Que a escola se deixe interrogar pelo aluno com transtornos globais do desen-
volvimento para que, através das dúvidas surgidas pelo caminho, ela possa se
questionar sobre o que é educar e sobre quem é esse aluno;
• Que a escola permita ao aluno inventar uma trajetória possível para que ele pos-
sa falar de si através do desenho, da escrita ou da sua “simples” presença em sala
de aula, saindo, assim, do lugar de isolamento e exclusão a que está submetido;
• Que a escola se deixe tomar pelas dúvidas e interrogações sobre a inclusão de
alunos com transtornos globais do desenvolvimento, abalando supostas certezas
sobre o processo ensino-aprendizagem desses alunos.
Ratificando, mais uma vez, a importância do DSM, porém tendo em vista a ne-
cessidade de ampliarmos sua visão, traremos, a seguir, um pequeno aporte da visão
psicanalítica a respeito da psicose. Essa escolha diz respeito ao fato de que a Psicanálise
traz pontuais contribuições sobre os aspectos psíquicos envolvidos no diagnóstico des-
ses transtornos, bem como oferece questionamentos que poderão nos auxiliar para uma
visão abrangente da psicose na escola. Vale lembrar, que, para a Psicanálise, a psicose
infantil é uma estrutura diferente do autismo e dos demais transtornos globais do desen-
volvimento tratados neste módulo.
A VISÃO DO DSM-IV-TR
A principal característica do Transtorno Desintegrativo da Infância (TDI) é surgir
após um período de dois anos de desenvolvimento normal e aparecer antes dos dez
anos de idade. O TDI é acompanhado de uma regressão das aquisições já adquiridas
nas seguintes áreas:
• Linguagem expressiva ou receptiva;
• Habilidades sociais ou comportamento adaptativo;
• Controle esfincteriano;
• Jogos ou habilidades motoras
E quando essa separação não acontece e a mãe toma essa criança para si impe-
dindo que o bebê também busque outras pessoas e experiências além daquelas pro-
porcionadas por ela? Podemos dizer que o pai (simbólico) não conseguiu entrar nessa
relação, operando a separação; dizemos que falhou a função paterna. Nesse caso, mãe
e filho formarão uma célula, permanecerão fusionados e um quadro de psicose poderá
se instalar.
Para tanto, na psicose, falha a função paterna, essa que porta a lei e interdita o
vínculo mãe-bebê, lançando o sujeito para a vida. A criança psicótica fica, então, captu-
rada aos desejos da mãe, não conseguindo dela se separar. Tal situação fará com que a
criança tenha grandes dificuldades de ocupar o lugar de sujeito na vida.
Para ilustrarmos um dos efeitos da não instalação dessa função, traremos, a se-
guir, um exemplo que reflete as falhas nesse processo quando observado na escola.
Letícia, com diagnóstico de psicose e aluna de uma escola pública, não conseguia
permanecer em sala com seus colegas. Fugia para o parquinho e ficava correndo entre
os brinquedos. Gostava muito de ficar na sala da recepção da escola até o dia em que
encontrou o filho da diretora que trabalhava na secretaria. Esse, ao vê-la fora da sala,
falou em alto e bom tom que ela retornasse imediatamente para junto de seus colegas
e que aquele era o momento de estar estudando. O rapaz, a partir desse dia, ocupou
simbolicamente para Letícia o lugar paterno, aquele que a interditava toda vez que
ela ultrapassasse as regras da escola. Letícia fez outras investidas e muitas fugas se
sucederam, porém, a professora lembrava-lhe que o filho da diretora havia dito que
ela não poderia sair da sala a hora que quisesse. Aos poucos, ela foi se organizando e
saindo menos da sala de aula.
Não se sabe por que Letícia tomou a figura do filho da diretora como o represen-
tante da lei, o que sabemos é que, às vezes, essas crianças elegem um personagem e
passam a tê-lo como referência. Nesse caso, um feliz encontro aconteceu entre Letícia
e o filho da diretora. Este conseguiu ocupar o lugar da lei, exercendo a função paterna:
aquele que diz “não” e organiza, de certa forma, a vida escolar de Letícia.
A Síndrome de Asperger foi descrita pela primeira vez pelo médico pediatra vie-
nense Hans Asperger, em 1944. Nesse estudo, o médico descreveu quatro casos clínicos
que denominou de Psicopatia Autística. Essa descrição aconteceu um ano após o traba-
lho de Kanner sobre o autismo. Asperger realizou seu estudo sem conhecer o trabalho
Portanto, não deixemos de investir nesses alunos por serem “diferentes” dos
demais na escola. É fundamental que sigamos mais além, endereçando um olhar de
aposta, desafiando-os para o alcance de novos objetivos e conquistas.
Esta categoria deve ser usada quando existe um prejuízo severo e invasi-
vo no desenvolvimento da interação social recíproca ou de habilidades de
comunicação verbal ou não verbal, ou quando comportamento, interes-
ses e atividades estereotipados estão presentes, mas não são satisfeitos
os critérios para um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento específico,
Esquizofrenia, Transtorno da Personalidade Esquizotípica ou Transtorno
da Personalidade Esquiva. Esta categoria inclui, por ex., ‘Autismo Atípico’
– apresentações que não satisfazem os critérios para Transtorno Autista
em vista da idade tardia de seu início, apresentações com sintomatologia
atípica, sintomatologia subliminar ou todas acima.
UNIDADE C AS VICISSITUDES
NA INCLUSÃO DE
ALUNOS COM
TRANSTORNOS
GLOBAIS DO
DESENVOLVIMENTO
Nesta unidade, discorreremos acerca das vicissitudes, ou seja, dos caminhos da
inclusão de alunos com Transtornos Globais do Desenvolvimento, enriquecendo o texto
com exemplos do cotidiano da escola.
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva é
clara quando afirma que esses alunos, assim como os alunos com deficiência e altas ha-
bilidades/superdotação, devem estar incluídos no sistema regular de ensino, receben-
do Atendimento Educacional Especializado (AEE) no contra turno do ensino comum.
Diante disso, propomo-nos a realizar algumas reflexões que podem contribuir com o
trabalho dos professores na escola, tanto dos profissionais que realizam o AEE quanto
dos professores do ensino regular que recebem esses alunos.
Como vimos nas unidades anteriores, esses transtornos dificultam o estabele-
cimento das relações sociais e a inserção desses sujeitos na vida. Sendo assim, esses
sujeitos se apresentam de forma singular no universo escolar, com uma forma própria
de estar no mundo. As singularidades desses sujeitos, muitas vezes, podem angustiar
o professor no início, levando-o a crer que não saberá trabalhar com esses alunos ou
mesmo que esses sujeitos não se beneficiarão da escola.
As representações acerca desses alunos são, em sua maioria, depreciativas, enfa-
tizando o que eles supostamente não fazem. Cavalcanti e Rocha (2001, p. 26) revelam
as representações mais propagadas acerca do autismo:
A figura sombria de uma criança de costas sob uma redoma de vidro [...],
assim como os pequenos desenhos de crianças tapando os olhos e os ou-
vidos com as mãos [...], as crianças são descritas como sujeitos que não
falam não se comunicam, não brincam, não estabelecem relações com as
pessoas, isoladas em seus mundos enigmáticos e despovoados.
inteligência é preciso dar sentido, para que não desapareçam nem virem estereotipias.
Segundo as autoras, a escola é fundamental para o crescimento ou para a conservação
das capacidades cognitivas que essas crianças já adquiriram.
É possível irmos mais além e pensarmos que a instituição escolar poderá ter valor
terapêutico para esses sujeitos. Assim, de acordo com Kupfer (2001, p. 91), a escola
oferece mais do que uma oportunidade de aprender:
Um segundo ponto sobre que podemos refletir no trabalho com os alunos com
transtornos globais do desenvolvimento diz respeito à resistência a alterações na rotina.
O professor pode usar o diálogo como ferramenta quando alguma alteração for feita,
explicando desde o início que algo no ambiente mudará ou que sofreu alterações. É pre-
ciso que o professor dê sentido à mudança, ouça e compreenda a angústia de seu aluno.
A escuta atenta e a compreensão da angústia do aluno por parte do professor
podem ser exemplificadas através do relato de atividade realizado com uma aluna psi-
cótica na sala de recursos.
Transcorridos, aproximadamente, dois meses do ano letivo, os alunos da sala de
recursos tiveram que mudar de sala, em função de questões organizacionais da esco-
la. Valquiria não gostou da troca e começou
OBSERVAÇÃO a repetir durante a aula: “Vamos lá no outro
A referência ao primeiro nome dos alunos colégio”, “Nós vamos voltar lá” (colégio signi-
foi autorizada pela família. ficava sala de aula). Nenhuma explicação con-
seguiu diminuir a angústia de Valquiria, tam-
pouco as atividades apresentadas pela professora atraíram a sua atenção. Essa troca
repentina pareceu desestruturar a aluna. A fim de resolver o impasse, sugeriu-se que
ela escrevesse um bilhete para a diretora da escola, pedindo para que os alunos (além
de Valquiria, haviam outros alunos) pudessem voltar para a antiga sala. Valquiria con-
cordou. Assim, junto com a professora, Valquiria escreveu e assinou o bilhete abaixo:
E assim foi feito! Após a leitura da resposta da diretora, Valquiria concordou com
a troca para a sala mais próxima da sua antiga sala. A angústia da aluna diminuiu e nes-
se dia foi possível desenvolver atividades na nova sala, agora com um espaço dedicado
à escuta das demandas de Valquiria e dos demais alunos que por lá passarem.
Outro exemplo vivido na sala de recursos com a aluna Valquiria e seu colega Vi-
lian reflete a importância da escrita enquanto uma ferramenta que poderá ser usada
para permitir que alunos com dificuldades na sua constituição psíquica possam come-
çar a esboçar um lugar de sujeitos.
Para iniciar a aula, a professora pedia aos alunos que assinassem uma lista de
presenças. Abaixo segue uma lista, em que a aluna Valquiria escrevia seu nome: as
letras “V” e “N” que aparecem no desenho. Como Vilian pegava a caneta e fazia riscos,
Valquiria o orientava: “não risca, faz o nome”, “não risca, escreve”. Nesse dia, o aluno
esboçou o “N”, conforme aparece na lista.
Em uma manhã, quando a professora entrou na sala após buscar o material para
iniciar o trabalho, Valquiria, que escrevia no quadro, disse: “Olha o que eu fiz!”. Havia
um “Y” e um “Q” escritos no quadro. Quando a professora, admirada, olhou para ela,
esta falou: “Não conta pra ninguém”. Em outra oportunidade, a mesma aluna, ao es-
crever alguns rabiscos no quadro, falou em voz alta: “Taís, eu estou aqui!”.
Segue outro exemplo interessante que mostra como o registro do simbólico é
falho nessas crianças e quanto nós, professores, podemos contribuir para que uma
ampliação dessa função aconteça, a fim de que os alunos saiam um pouco do cam-
po do real que lhes é peculiar. Tal ampliação terá importante papel no momento da
aprendizagem da escrita ou da matemática quando eles precisam imaginar, hipotetizar
situações para que essa aprendizagem aconteça.
Durante a produção de uma maquete da cidade, várias caixas de alimentos foram
utilizadas para simbolizar casas e outras construções. Assim, uma caixa transformou-se
em igreja, outra em prefeitura, uma bandeja tranformou-se em praça, etc. Valquiria
colou uma caixa de caldo de galinha na maquete. A professora perguntou: “o que é
isso?”. A essa pergunta Valquiria respondeu: “É uma caixa de caldo de galinha, não
tá vendo?”. Na semana seguinte, a professora propôs que os alunos relembrassem o
que produziram na maquete. Valquiria lembrou de tudo: da prefeitura, da igreja, da
praça, do banco. Quando a professora perguntou sobre a caixa do caldo de galinha, ela
responde: “É uma caixa de caldo de galinha, eu já te disse!”. Valquiria suspirou impa-
cientemente como quem diz: quantas vezes vou ter que falar o óbvio?
Todos esses exemplos e muitos outros podem ser desenvolvidos no AEE na sala
de recursos. O tema da atividade poderá variar de acordo com os interesses do aluno.
Poderemos desenvolver, por exemplo, atividades com música, escrita, argila ou papel
machê, como no caso do Antonio.
Materiais como a massa de modelar ou argila permitem unificar a fragmentação
da imagem corporal dos alunos com problemas no desenvolvimento. Bonecas de pano
que podem ser cortadas e recosturadas também proporcionam essa unificação. Linha
e barbante usados nas brincadeiras ajudam a “amarrar” e simbolizar esse corpo que
parece não se adequar ao ambiente.
Vimos até aqui que o professor do AEE poderá proporcionar momentos para que
o aluno possa, por meio do brincar, retomar a função simbólica que ficou adormecida
em função das dificuldades encontradas pelo sujeito para se constituir. O professor do
AEE deve trabalhar em conjunto com o professor do ensino regular para que juntos
possam estabelecer estratégias de ensino e atividades que irão ao encontro do desejo
de seus alunos. O professor que estiver disposto a trabalhar de uma forma diferente,
levando em consideração que cada sujeito tem sua forma peculiar de estar no mundo,
com certeza, aprenderá muito.
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UNIDADE A CONCEITOS E
TERMINOLOGIAS
ACERCA DE INTELI-
GÊNCIAS E DE ALTAS
H A B I L I DA D E S /
S U PERDOTAÇÃO
presentada pela sucessão das seguintes abordagens que caracterizaram os estudos dos
fenômenos intelectuais: a psicométrica; a desenvolvimentista; a sociointeracionista; e
a cognitivista. Não é intenção fazer uma análise exaustiva sobre um tema tão polêmico,
porém quem tiver interesse em aprofundar o assunto, encontrará no artigo de Almeida,
Roazzi e Spinillo (1989) importantes subsídios.
No entanto como as concepções de inteligência e de sujeito com altas habilida-
des/superdotação estão intimamente associadas, faz-se necessário o aprofundamen-
to de “[...] situações que explicitem os processos mentais necessários à execução de
tarefas específicas relacionadas às áreas em que a criança apresenta dificuldades [ou
facilidades] na aprendizagem”. (ALMEIDA; ROAZZI; SPINILLO, 1989, p. 223).
ção inatista se dilui. Gardner (2000, p. 111), ao enfatizar a “[...] interação constante e
dinâmica, desde o momento da concepção, entre os fatores genéticos e ambientais”,
neutraliza uma concepção de inteligência que permanece inalterável do nascimento
até a morte. Com abordagem semelhante, Renzulli (1988; 2004) ressalta que os três
traços que constituem os comportamentos de superdotação são potenciais trazidos
hereditariamente pelo sujeito e sustentados pelos fatores de personalidade, afetivos
e sociais, representados pelo apoio da família, dos colegas, da escola e da sociedade.
O terceiro ponto a ser destacado nas duas teorias é a própria conceituação das al-
tas habilidades/superdotação. Renzulli (1988) destaca que a pessoa mostra os compor-
tamentos de superdotação em determinados momentos e sob determinadas circuns-
tâncias. Com este conceito, o autor combate a ideia de ser/ter ou não ser/não ter altas
habilidades/superdotação, descomprometendo o sujeito de apresentar um desempe-
nho superior em todas as áreas do desenvolvimento humano. Da mesma forma, Gard-
ner (2000) defende a posição de que as inteligências não são visíveis nem mensuráveis.
São entendidas pelo autor como potenciais
neurais que se localizam em determinadas re- OBSERVAÇÃO
giões do cérebro e podem ser ativados ou não Para Gardner (2001, p. 105), domínio é “[...]
pelas influências da cultura em que o sujeito um conjunto organizado de atividades den-
vive. Esse pensamento oferece sustentação tro de uma cultura, caracterizado por um
sistema de símbolos específicos e as opera-
teórica para o entendimento de que as altas ções dele resultantes”.
habilidades/superdotação acontecem em um
ou alguns domínios, não em todos.
Ainda considerando a concepção de altas habilidades/superdotação, é possível
verificar o quarto ponto de relação. Tanto Renzulli (1986) quanto Gardner (2000) apre-
sentam ideias comuns em relação ao conceito. Para Renzulli (1986), três traços com-
põem as altas habilidades/ superdotação - capacidade acima da média, comprometi-
mento com a tarefa e a criatividade – e estão amparados pelas redes constituídas dos
fatores de personalidade e sociais. Gardner (1999) destaca três processos fundamentais
na constituição desses sujeitos: a criatividade, o investimento no aperfeiçoamento da
prática do domínio e a escolha consciente da área de manifestação de seu domínio. Os
dois primeiros processos podem ser entendidos como correspondente a dois dos anéis
de Renzulli: criatividade e comprometimento com a tarefa. Já o último assinala a capa-
cidade em um domínio e valoriza a participação do sujeito nessa escolha, implicando
em um produto visível e valorizado pela sociedade em que o sujeito vive.
Uma última relação que pode ser feita se refere aos procedimentos de identifi-
cação. Os dois autores ressaltam a inexistência de uma maneira ideal de se avaliar a
Nesse documento é ressaltado que essa definição deve ser contextualizada e não se
esgota na mera categorização e especificações de comportamentos atribuídos nela, pois o
ser humano está em contínua mudança e transformando o ambiente em que vive. Portanto,
“esse dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada para alterar a situação de exclusão,
enfatizando a importância de ambientes heterogêneos que promovam a aprendizagem de
todos os alunos (BRASIL, 2008b, p.15).
Renzulli (1988, p. 20) ressalta que a pesquisa que tem realizado sobre a con-
cepção dos três anéis, já apresentada anteriormente, traduz um entendimento de que
“[...] os comportamentos de superdotação são manifestações do desempenho humano
que podem ser desenvolvidas em certas pessoas, em determinados momentos e sob
determinadas circunstâncias”. Uma definição, como a apresentada por Joseph Renzulli,
propõe um conceito de altas habilidades/superdotação flexível; valoriza as característi-
cas dos sujeitos; evoca a necessidade do apoio do contexto, para sua expressão; e, por
fim, combate uma abordagem do tipo ter ou não ter superdotação. Renzulli (2004),
porém, lamenta não ter dispensado mais tempo ao estudo dos fatores de personalida-
de e às influências do ambiente, o que, por certo, geraria um outro anel para traduzir
os traços afetivos.
Independente da definição que se adote, é importante que haja uma estreita
ligação entre ela e os procedimentos de identificação, assim como com os programas
de atendimento desses sujeitos. Nas palavras do autor, “[...] uma definição de superdo-
tação é uma declaração formal e explícita que eventualmente poderá tornar-se parte
de políticas ou orientações oficiais” (RENZULLI, 1986, p. 3).
Para finalizar, o aluno com altas habilidades/superdotação apresenta caracterís-
ticas próprias na sua interação com o mundo, representadas por uma forma peculiar
de agir, questionar e organizar seus pensamentos e suas potencialidades, “[...] desta-
cando-se sempre de uma maneira original e criativa com a que resolve um problema
ou situação, seja acadêmica, prática ou social” (METTRAU, 1995, p. 70). O destaque em
uma área determinada é sempre o primeiro indicador que qualquer pessoa percebe
nesses educandos, não necessitando de nenhuma formação específica, basta ter um
grande senso de observação. Os outros dois traços – comprometimento com a tarefa e
a criatividade intensa – não são tão fáceis de serem reconhecidos e necessitam de um
profissional capacitado para tal.
dade para que um maior número de pessoas possa ser identificado, pois que considera
uma ampla gama de habilidades e não somente aquelas competências tradicionalmente
avaliadas pelos testes de inteligência. Gardner (1994) enfatiza que cada inteligência pos-
sui mecanismos próprios de ordenação, refletidos por meios de seus princípios peculia-
res e de seus meios preferidos no desempenho das inteligências. Cabe, então, a inclusão
de profissionais de outras áreas – tais como professores de música, dança, teatro, artes
plásticas, educação física, português, matemática, dentre outros - no processo de iden-
tificação com a finalidade de determinar como esses mecanismos se manifestam.
reflexão será feita não como forma de facilitar ou reduzir o trabalho do professor, mas
como forma de garantir a qualidade do ensino e da aprendizagem para esses alunos.
Da mesma forma, esse critério também se estende aos alunos com altas habilidades/
superdotação, pois, apesar de ter uma inteligência privilegiada, esse potencial pode
não estar presente em todas as áreas e, além disso, o aluno necessita do estímulo do
ambiente para desenvolver seu potencial e estabelecer um elo com a escola, que deve
ser percebida como um local de prazer e não como um lugar maçante e massificador.
Deve-se considerar, também, a organização dos serviços educacionais, o modo
como ensinar a esses alunos. Para Nicoloso e Freitas (2002, p. 19), cabe ao professor
“[...] planejar, fazer escolhas, preparar propostas de ação”, com o objetivo de oportu-
nizar, para aquele que aprende, o estabelecimento de “[...] relações criativas com os
conteúdos tratados, envolvendo-se com o trabalho, questionando-se, constituindo
novos significados e representações” (NICOLOSO; FREITAS, 2002, p. 20). Nesse sentido,
as adaptações curriculares e a flexibilização das metodologias de ensino são os procedi-
mentos dos quais os professores podem lançar mão, como forma de contribuir para que
essas relações criativas com o conhecimento sejam estimuladas, reconhecidas e valo-
rizadas. O enriquecimento e a compactação curricular são alternativas de atendimen-
to educacional que os professores podem utilizar na tentativa de oferecer melhores e
mais desafiantes condições de aprendizagem para os alunos com altas habilidades/
superdotação, as quais serão mais discutidas na Unidade C.
UNIDADE C TÉCNICAS DE
ENRIQUECIMENTO,
RELACIONADAS À
PESQUISA CIENTÍFICA
E DESENVOLVIMENTO
DE PRODUTOS E
PROCEDIMENTOS
DE COMPACTAÇÃO
OU ACELERAÇÃO
CURRICULAR
no deve aprender; como e quando deve ser avaliado; e quais as formas mais
eficientes de organização do currículo para sua aprendizagem. As adaptações
curriculares podem ser significativas – quando os objetivos que devem ser alcançados
são modificados, decorrendo, então, modificações nos conteúdos, metodologias, recur-
sos e avaliação do conhecimento. As adaptações não significativas são aquelas em que
os objetivos são comuns a todos os alunos, existindo, no entanto, algumas modificações
nos conteúdos, na metodologia, nos recursos didáticos e na avaliação da aprendizagem.
Para Rodriguez e Sentis (2002), no mínimo três elementos devem ser pensados,
quando se abordam as adaptações do currículo: a organização da sala de aula, as ativi-
dades planejadas e a metodologia de ensino.
A organização da sala de aula tem sido vivenciada da seguinte maneira, segundo
Carbonell (2002, p. 88):
Para romper essa lógica, o autor propõe que, quando se pensa numa pedagogia ino-
vadora, é necessário “[...] construir e adaptar o espaço (da sala de aula) – tarefa na qual se
busca a participação dos alunos – com critérios flexíveis que facilitem a comunicação, o
trabalho cooperativo e a investigação” (CARBONELL, 2002, p. 88). Portanto, as inovações
na organização da sala de aula contribuem significativamente para que o professor possa
dispor da ajuda pedagógica necessária aos alunos com altas habilidades/superdotação.
As atividades planejadas e diversificadas de acordo com o nível de conhecimen-
to dos alunos, partindo de conceitos mais simples aos mais complexos e do concreto
para o abstrato são modificações da prática pedagógica que favorecem as adaptações
curriculares e contribuem de forma significativa para a inclusão dos alunos com ne-
cessidades educacionais especiais, particularmente dos alunos com altas habilidades/
superdotação.
As mudanças no fazer pedagógico não são imediatas e nem mágicas, mas têm
um tempo e um processo para se desenvolverem, com “[...] fases de turbulência e de
descanso; momentos e sequências controladas e incontroladas; propostas que avan-
çam coerentemente para uma mesma direção e outras que perdem gás e se ramificam
em mil atividades desconexas [...]” (CARBONELL, 2002, p. 25).
C. 2. SAL A DE RECURSOS
A sala de recursos é uma modalidade de atenção destinada ao atendimento
educacional especializado aos alunos com altas habilidades/superdotação, no con-
tra turno. Constitui-se em um serviço de natureza pedagógica, feito por professor
especializado na área específica, por meio de programas de atividades individua-
lizadas e que tem por objetivo a “[...] elaboração de um programa educacional de-
safiador, que ofereça uma combinação entre desenvolvimento social e acadêmico,
levando em conta o ritmo, o nível e os padrões de aprendizagem de cada aluno”
(ALVES, 2006, p. 33). Sugere-se que todas as atividades ali desenvolvidas, principal-
mente as oficinas de enriquecimento, sejam extensivas a todos os alunos da escola,
independente da identificação das altas habilidades/superdotação. Tal orientação
se fundamenta em dois aspectos: por um lado, no próprio processo de identifi-
cação pela provisão, abordado na Unidade A, no qual as atividades estimulantes
podem funcionar como desencadeantes de habilidades que não foram observadas
nos alunos, em sala de aula. Por outro lado, considerando a concepção de uma
escola inclusiva, não é possível compreender atividades que sejam exclusivas para
um determinado grupo de alunos.
Um exemplo que pode enriquecer a compreensão das atividades desenvol-
vidas nas salas de recursos é uma Oficina de Iniciação ao Circo, proposta em uma
cidade próxima a Porto Alegre. Nessa oficina, trabalha-se a habilidade corporal de
todos os alunos e todos têm oportunidade de poder desenvolver a psicomotricida-
de e a técnica circense. Para os alunos com altas habilidades/superdotação na área
corporal-cinestésica, além de proporcionar atividades que estimulam este poten-
cial, também favorece a socialização no convívio com outras crianças que têm o
mesmo interesse. Este projeto esta sendo desenvolvido com recursos do governo
federal, por meio do Programa de Lazer da Cidade. Neste exemplo, três aspectos
chamam a atenção: o primeiro aspecto é que nem sempre o atendimento nas salas
de recursos estará localizado dentro da sala propriamente dita, isto é, a sala fun-
cionará como um referencial do atendimento aos alunos com altas habilidades/
superdotação e o professor capacitado tem a função de articular as possibilidades
da escola e as da comunidade, reforçando a importância do mapeamento dos re-
cursos institucionais nas oito áreas das inteligências, formando, assim, redes de
apoio para o atendimento dos alunos. O segundo ponto a destacar é que outros
profissionais somam-se ao trabalho na sala de recursos, através de oficinas que vão
ao encontro das necessidades do grupo de alunos. Nesse sentido, o conhecimento
sobre quem são os alunos com altas habilidades/superdotação extrapola os muros
da escola e favorece que outros profissionais possam somar suas experiências no
reconhecimento desses alunos. O terceiro ponto ilustra a abertura dos programas
para todos os alunos da escola, como referido anteriormente. Apesar de originaria-
mente não ser um projeto dirigido aos alunos com altas habilidades/superdotação,
na medida em que recebe todas as crianças interessadas nessa atividade, todas
as crianças que dele participam têm possibilidade de estimular e desenvolver seu
potencial de acordo com seu nível de desenvolvimento motor.
[...] a inclusão não é somente uma meta que pode ser alcançada, mas
uma jornada com um propósito. Durante o curso desta jornada, os pro-
fessores vão construir e ampliar suas habilidades sobre as experiências
que já possuem com o objetivo de alcançar todas as crianças e suas
necessidades de aprendizagem. Porém, eles também têm o direito
de esperar apoio e oportunidade para o seu desenvolvimento profissional
nesse caminho [...] (Grifo nosso).
Com essa afirmação, a autora evidencia que o apoio à inclusão dos alunos com
necessidades educacionais especiais e, particularmente, daqueles que apresentam al-
tas habilidades/superdotação passa pela capacitação dos professores que, ao recebe-
rem as informações necessárias para o reconhecimento e atendimento a estes alunos,
sentem-se parte ativa do processo e podem estabelecer “[...] expectativas e exigências
apropriadas em relação à aprendizagem dos alunos, à motivação e à apresentação de
trabalhos” (MITTLER, 2003, p. 190).
Reyero e Tourón (2003, p. 112) assinalam que são muitas as formas de avanço e
definem o processo como “[...] progredir através de um programa educativo a um rit-
mo mais rápido ou a uma idade inferior à convencional”. Para que esse procedimento
seja adotado, segundo os autores, é necessário estabelecer alguns critérios: o aluno
tem que apresentar um rendimento acima da média dos demais alunos e habilidades
para dominar os conteúdos previstos para a série que se encontra. Possivelmente, tais
critérios foram estabelecidos considerando a velocidade e o ritmo de aprendizagem
do aluno. No entanto, em sua elaboração foram esquecidos dois aspectos muito im-
portantes: a maturidade afetiva e a motora. Entende-se e defende-se que a recomen-
dação do avanço só deverá ser feita quando for comprovada sua necessidade, median-
te indicação do corpo docente da escola, considerando não só os aspectos cognitivos,
mas, principalmente, os afetivos, sociais e psicomotores (GERMANI; COSTA; VIEIRA,
2006). Ao mesmo tempo, deve ser feita uma consulta ao aluno, que informará seu
desejo ou não dessa promoção de série. Desse modo o próprio sujeito participa das
decisões sobre sua vida escolar, assim como se compromete em cumprir as exigências
feitas pelo sistema educacional.
As modalidades de avanço de série mais comuns são: o ingresso precoce na edu-
cação básica ou superior, no qual o aluno é admitido no sistema educacional com uma
idade menor do que a estabelecida; avanço de série, omitindo uma série ou mais; e
compactação do currículo, a qual os conhecimentos que o aluno já domina são subtra-
ídos do currículo e, sem que ele saia da sua série, permiti-se o avanço nos conteúdos
das séries subsequentes.
As duas primeiras opções, em geral, não implicam em mudanças no currículo, ou
seja, o aluno com altas habilidades/superdotação tem os mesmos conteúdos previstos
para os alunos das séries superiores. A diferença está em sua idade, que é inferior à
dos demais colegas. Nesse sentido, nada garante que suas necessidades educacionais e
interesses sejam atendidos. Já a compactação curricular consiste em oferecer ao aluno
conteúdos superiores aos da sua série ou “[...] atividades desafiadoras adicionais ali-
nhavadas às unidades do currículo regular [...]” (RENZULLI, 2004, p. 94). Portanto, essa
atividade exige que mudanças e adaptações sejam feitas no currículo.
Destacam-se, aqui, alguns problemas que envolvem o avanço curricular: o pri-
meiro deles refere-se ao descompasso existente no desenvolvimento desses sujeitos,
pois ao priorizar a área cognitiva no avanço de séries, é esquecido que nem sempre
as áreas afetiva, psicomotora e/ou social acompanham o mesmo ritmo. Na medida
em que é promovida uma atenção especial para os aspectos cognitivos, faz-se maior
o desequilíbrio com as outras áreas do desenvolvimento. Outro aspecto importante a
assinalar, segundo Tourón, Peralta e Repáraz (1998, p. 164) é que “toda a decisão de
aceleração [avanço] deve ser lavada a cabo como prova e deve ter sempre o caráter
reversível” (Grifos nossos). Tal recomendação assume importância vital, quando se
analisa as altas habilidades/superdotação de uma forma mais dinâmica. Ao mesmo
tempo, sabe-se que na legislação brasileira, uma vez avançado o aluno, não é permi-
tido o seu retrocesso. Portanto, é necessária muita cautela ao decidir pelo avanço es-
colar. Alguns autores são favoráveis ao avanço somente no ensino médio ou superior,
considerando que em idades mais avançadas o descompasso com o desenvolvimento
global tem menos efeitos negativos.
Para concluir este módulo, particularmente centrado no âmbito acadêmico, uma
vez que tratou da organização da escola e das modalidades e atividades de atendimen-
to aos alunos com altas habilidades/superdotação pertinentes ao sistema educacional
formal, destacam-se dois fatores.
UNIDADE D ELABORAÇÃO DE
MATERIAIS E TÉCNI-
CAS DE TRABALHO
ESPECÍFICOS AO
DESENVOLVIMENTO
DAS HABILIDADES E
TALENTOS CONFORME
A NECESSIDADE
DOS ALUNOS
minha cidade? E no bairro onde fica a escola? Quais as áreas de talento apresentadas
pelos professores de minha escola? E pelos familiares? E pelos alunos? Com base nessas
informações, é possível utilizar algum desses recursos? De que forma? Primeiramente,
por atividades cooperativas de pequeno porte e, aos poucos, com a valorização destas
pela comunidade escolar, a fim de estender para atividades de porte maior.
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