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A GESTÃO EMPRESARIAL E O MEIO AMBIENTE

RESUMO

Neste capítulo, são discutidos o sistema de gestão ambiental e a ISO 14000, com um enfoque da ética empresarial
e do meio ambiente como diferenciais competitivos.

Como resultados principais da análise, são detalhados os instrumentos que as empresas devem utilizar para
enfrentar as exigências ambientais, em especial a certificação ISO 14000 e o Selo Verde, visando o aumento do
potencial competitivo, a compreensão das exigências internacionais de produção e exportação de bens e serviços e
o aperfeiçoamento dos processos decisórios quanto aos condicionantes ambientais.

PALAVRAS-CHAVE
Sistema de gestão ambiental - ISO 14000 - Selo verde.

1.0 INTRODUÇÃO
A questão ambiental chegou na vida das empresas para ficar. A discussão da sustentabilidade,
como condição básica e indispensável para o desenvolvimento, há muito saiu do campo teórico
para fazer parte das decisões estratégicas de empresas importantes no mundo inteiro.

O Brasil está inserido nesse novo contexto, tanto em função dos efeitos da globalização da economia que
inviabiliza exportações de bens produzidos à margem das exigências ambientais, quanto em função da sua
necessidade de busca de investimentos externos, inexistentes para os países que desconheçam essa nova realidade.

Para as empresas brasileiras, essa nova realidade chega especialmente através da ISO 14000 e do Selo Verde, que
estabelecem padrões de gestão e de rótulo dos produtos de acordo com o impacto que eles produzem no meio
ambiente.

A discussão da questão da Gestão Ambiental no contexto das empresas é direcionada de forma a contribuir com
empresários, gerentes e técnicos no atendimento às exigências do mercado, no que diz respeito às questões
ambientais. Esta contribuição é pautada em duas linhas básicas:

 apresentação e discussão de informação atualizada e sistematizada das exigências atuais


para a gestão ambiental das empresas;

 avaliação das vantagens para as empresas do Sistema de Gestão Ambiental frente às demandas surgidas a
partir da globalização da economia.
2.0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Embora não seja um conceito novo, uma vez que, na área florestal, ele tem sido conhecido desde o século passado
e, na agricultura, desde o século dezoito, foi a partir de 1987, com a publicação do relatório da Comissão Mundial
de Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas [1], que o conceito de desenvolvimento sustentável foi
largamente discutido. Esse documento, mais conhecido como o Relatório Bruntland, definiu desenvolvimento
sustentável como desenvolvimento que atende as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das
gerações futuras.

A noção que está por trás do conceito de desenvolvimento sustentável é que o meio ambiente é um capital natural
crítico. De acordo com Pearce et al. [2], existem duas concepções básicas na definição de desenvolvimento
sustentável. A primeira envolve suprir a próxima geração de uma mistura de capital natural e construído cujas
quantidade e qualidade sejam pelo menos iguais às herdadas pela geração presente. A segunda, menos abrangente,
envolve suprir a geração futura com o mesmo estoque de capital natural herdado pela geração presente. Em
qualquer dos dois enfoques, valorar o meio ambiente apropriadamente é necessário para o desenvolvimento
sustentável.

Alguns autores [3] defendem que as discrepâncias entre as várias definições de desenvolvimento sustentável estão
associadas às diversas ideologias ambientalistas. Esses autores distinguem duas visões gerais no ambientalismo: o
tecnocentrismo e o ecocentrismo. Os defensores do ecocentrismo rejeitam a maioria das políticas baseadas no uso
sustentável de recursos naturais e aceitam somente uma estratégia de desenvolvimento minimalista. Os defensores
do tecnocentrismo afirmam que o dispêndio de investimento em tecnologias limpas garante a manutenção do
crescimento econômico sustentável.

A questão que permanece incerta é como os princípios da sustentabilidade podem ser


transferidos para a prática operacional e para o dia a dia das empresas [3] e [4].

3.0 BARREIRAS ECOLÓGICAS NO COMÉRCIO INTERNACIONAL

A globalização da economia trouxe, no seu bojo, a globalização da ecologia, especialmente em função da


universalização da informação e da presença das empresas multinacionais em diversos países. Várias outras
razões contribuem para uma visão global da ecologia [5]:

 os fenômenos da poluição transcendem as fronteiras nacionais;


 a opinião pública é cada vez mais sensível às questões ambientais;

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 a expansão e profissionalização do movimento ambientalista;
 a ampla divulgação e discussão do conceito de desenvolvimento sustentável;
 as pressões políticas dos bancos multilaterais e das organizações não-governamentais (ONG);
 as barreiras ecológicas no comércio internacional.

A partir de uma visão de uma economia transnacional, as empresas visam não apenas o lucro, mas uma
maximização das parcelas de mercado e de comércio. Dessa forma, a questão das barreiras ecológicas no
comércio internacional tem um papel vital para as empresas.

As barreiras ecológicas surgem quando empresas exportadoras sofrem discriminação por barreiras não-tarifárias
ambientais, técnicas ou de certificação. Outra limitação aparece quando as empresas são dependentes de
financiamento de agências internacionais de desenvolvimento que exigem estudos especiais de avaliação de
impactos ambientais, para a liberação de recursos financeiros. Muitas vezes, empresas multinacionais são
suscetíveis a exigências ambientais por parte de acionistas, consumidores externos e da legislação de origem de
seus mercados exportadores. Além desses casos, as empresas enfrentam barreiras ecológicas em função da pressão
de órgãos reguladores e da comunidade.

Já existem inúmeras normas técnicas ambientais, por exemplo, normas de emissão de veículos automotores,
relativas ao descarte de ascarel, normas de ruído, etc., que estimulam a adoção voluntária de normas ambientais
internacionais.

As barreiras ambientais propriamente ditas estão associadas à legislação mais ou menos rígida, à política de
preços relativos dos recursos naturais e energéticos e aos subsídios e aplicação de direitos compensatórios.

4.0 O MEIO AMBIENTE E A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO


COMÉRCIO

A Organização Mundial de Comércio (OMC) não possui normas específicas sobre poluição das atividades
econômicas. Contudo, existe hoje, em todo o mundo, uma grande preocupação com impactos ambientais globais,
tais como o efeito estufa, camada de ozônio e chuva ácida.

Embora a OMC tenha sido criada para evitar barreiras no comércio internacional, há uma tendência dos países
mais avançados de usar o diferencial ecológico como uma barreira à entrada de produtos importados. Algumas
vezes, essas pressões vêm da própria sociedade que não mais aceita produtos cujos insumos, processos ou
resíduos finais não sejam compatíveis com o meio ambiente. Existem ainda casos em que a legislação ambiental
de determinados países é bem mais avançada do que a de outros, o que torna difícil a aceitação de certos produtos

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nos países de legislação mais rígida.

Tendo em vista as barreiras ambientais e a consciência ecológica atualmente existentes, há, por parte da OMC, um
incentivo à homogeneização de padrões de produtos, de gestão empresarial e de processos. Cabem às empresas
olhar para fora, buscando se antecipar aos fatos, de forma que seus produtos sejam aceitos em todo mundo.

No caso do MERCOSUL, existe uma certa disparidade entre a legislação ambiental brasileira e as legislações dos
demais países membros, o que, em princípio, poderia levar a uma vantagem competitiva dos produtos brasileiros
em termos ambientais. Entretanto, há uma recomendação do MERCOSUL de se usar a regra do destino, evitando,
assim, a criação de barreiras comerciais.

Em 1995, o estudo do Grupo de Iguaçu estabeleceu as bases de harmonização das regulações do meio ambiente no
MERCOSUL.

5.0 TECNOLOGIAS LIMPAS E A IMAGEM VERDE DAS EMPRESAS

O conceito de tecnologia limpa consiste no uso de tecnologias avançadas disponíveis ou em pesquisa e também na
racionalização dos processos e produtos, incluindo a minimização do desperdício, através da adoção de medidas
simples e de baixo custo de implantação.

Em geral, as tecnologias limpas são classificadas em [6]:

 de 1ª geração: são aquelas de “final de linha”, isto é, reduzem a poluição mediante a incorporação de
equipamentos de controle, sem modificar o processo de produção;

 de 2ª geração: são aquelas de caráter preventivo que interferem no processo de produção e na composição de
matérias primas e insumos;

 de 3ª geração: são aquelas associadas ao campo da biotecnologia, de novos materiais e da eletroeletrônica,


possibilitando uma grande substituição de materiais tóxicos.

Embora sendo de larga utilidade para a obtenção de uma imagem verde para a empresa, existem diversas
dificuldades para a implantação de tecnologias limpas. Dentre as mais conhecidas, destacam-se [5]: a financeira,
assistência técnica, política de P&D, inadequação técnica, regulação de patentes, sistema de taxação inadequado e
riscos de novos investimentos versus seguradoras.

Mesmo enfrentando essas dificuldades, o uso de tecnologias limpas é o único caminho para a obtenção de uma
imagem verde para a empresa. Para que esta imagem seja real, e não apenas um resultado de marketing, os

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produtos precisam ter certas características compatíveis com a conservação ambiental. Dentre estas características,
destacam-se as seguintes [4] e [5]:

 consumo reduzido de matérias-primas e elevado índice de conteúdo reciclável;


 produção não poluente e de materiais não tóxicos;
 não causar impactos negativos ou danos a espécies em extinção;
 baixo consumo de energia durante a produção, distribuição, uso e disposição final;
 embalagem mínima ou nula;
 possibilitar reuso ou reabastecimento;
 período longo de uso, de forma a permitir atualizações;
 permitir coleta ou desmontagem após o uso;
 possibilitar remanufatura ou reutilização.

Produtos com as características mencionadas dão margem às empresas de participarem de um novo tipo de
negócio: o ecobusiness.

A propagação da consciência ambiental e da crescente legislação ambiental fez surgir produtos, serviços e novos
mercados que movimentam cerca de 230 bilhões de dólares por ano e absorvem 1% da mão-de-obra dos países
desenvolvidos [5]. Nestes países, as exportações atingem 5 a 10% da produção. Este mercado, extremamente
dinâmico, abrange uma ampla gama de atividades e comporta empresas de portes diversos. Destacam-se os setores
de controle de poluição e empresas de consultoria internacional, laboratórios e empresas de gerenciamento de
resíduos sólidos, ecoturismo e produtos verdes.

Para que as empresas tenham uma imagem verde, é necessária a elaboração e implantação de um roteiro de
ecomarketing, de forma a [5]: adequar a política de marketing à política ambiental; planejar as ações de marketing
integradas com a P&D; implantar uma ação integrada de publicidade, relações públicas e mídia; consolidar uma
ação ecologicamente correta.

As tecnologias limpas, a imagem verde e a introdução das empresas no ecobusiness e no ecomarketing são facetas
de uma visão holística que estabelece um comportamento ético-ambiental para a empresa, ao invés do
comportamento ambiental tradicional.

Enquanto no comportamento ambiental reativo, há uma permanente contradição entre responsabilidade ambiental
e o objetivo fim da empresa, particularmente com o lucro, no comportamento ético-ambiental, existe uma evidente
preocupação com o longo prazo e, em conseqüência, com o desenvolvimento sustentável. A responsabilidade
ambiental integra-se à missão da empresa e o meio ambiente é visto como uma nova oportunidade de negócios.

6.0 GESTÃO AMBIENTAL

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A gestão ambiental é ainda hoje, na grande maioria das empresas brasileiras, isolada do planejamento e das
decisões estratégicas empresariais. Estruturada nos órgãos operativos, a gestão ambiental perde sua visão de longo
prazo e passa a ser apenas um grupo voltado para resolver “os problemas causados à empresa pelo meio
ambiente”. Pode parecer exagero, mas, na prática, é essa visão que prevaleceu nas últimas décadas e que
permanece em algumas empresas mais conservadoras.

A gestão ambiental deve ser parte da gestão global da organização, com o objetivo de desenvolver, implementar,
concretizar, revisar e manter a política ambiental da empresa. O sistema de gestão ambiental consiste da estrutura,
das responsabilidades, práticas, procedimentos, programas e recursos da organização mobilizados para para a
implantação e manutenção da gestão ambiental.

Na implantação de um sistema de gestão ambiental (SGA), os aspectos e impactos ambientais devem ser
identificados. Entretanto, muitas vezes, seus conceitos são confundidos. Aspecto ambiental consiste de um
elemento da atividade, produto ou serviço que pode interagir com o meio ambiente. Por outro lado, impacto
ambiental consiste de qualquer alteração no meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte de uma atividade,
produto ou serviço da organização.
Um SGA traz inúmeras vantagens para a organização e o meio ambiente. Dentre os benefícios mais citados do
SGA, destacam-se [6]:

 diferencial competitivo, uma vez que o conhecimento dos elementos das atividades, produtos e serviços que
interagem com o meio ambiente podem criar barreiras comerciais para os competidores;

 minimização de custos, através do controle de qualquer alteração, adversa ou benéfica, que resulte das
atividades, produtos ou serviços da organização;

 memória organizacional, englobando a gestão ambiental sistematizada, a integração da qualidade ambiental à


gestão da empresa, a conscientização ambiental dos funcionários e a parceria com a comunidade, com reflexos
positivos na imagem da organização;

 minimização de riscos em função da segurança legal, da segurança das informações, da minimização dos
acidentes e passivos ambientais, da redução dos riscos dos produtos e da identificação das vulnerabilidades.

Tais fatores impulsionam as empresas a buscarem certificação ambiental. Além dos citados anteriormente,
destacam-se as barreiras técnicas de mercado, o crescimento da consciência ambiental, pressões de agências
financiadoras, pressões de clientes, seguradoras, modernização do sistema de qualidade e a sofisticação do
processo produtivo [7].

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Um dos principais fatores para uma mudança da gestão ambiental das organizações é o passivo
ambiental. Principalmente em função de uma legislação ambiental rigorosa, o passivo
ambiental pode causar impedimentos legais dos dirigentes, gerentes e técnicos de uma
organização, além de, em alguns casos, reduzir substancialmente o patrimônio líquido das
empresas. O passivo ambiental inclui multas, taxas a serem pagas face à inobservância de
requisitos legais, custos de implantação de procedimentos e tecnologias que possibilitem o
atendimento às não conformidades e dispêndios necessários à recuperação de áreas degradadas
e indenização a populações afetadas.

7.0 A ISO 14000 E O SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL

A ISO 14000 é a série de normas internacionais criadas para tratar da gestão ambiental. A International
Organization for Standardization (ISO) - Organização Internacional para Normalização - é uma organização não-
governamental (ONG) fundada em fevereiro de 1947, com sede em Genebra, sendo, formada, atualmente, por
entidades normalizadoras de mais de 120 países.

As normas desta série são baseadas na Norma BS 7750, emitida em março de 1992, pelo Instituto Britânico de
Normalização (BSI). Durante a realização da Rio - 92, foi proposta a criação de um comitê específico e
independente na ISO para tratar exclusivamente de questões relacionadas à gestão ambiental.

Em março de 1993, foi instalado, em Toronto, o Comitê Técnico 207 (TC - Technical Committee), com o objetivo
de elaborar a série de normas de gestão ambiental, denominadas de ISO 14000.

A participação brasileira na ISO 14000 se dá através da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), do
Grupo de Apoio à Normalização Ambiental (GANA) e do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial (INMETRO).

É o INMETRO o órgão responsável pela autorização de organismos de certificação credenciados (OCCs), pelo
credenciamento de auditores ambientais e pela emissão da Norma NI - DINQP, que estabelece os critérios de
organismos de certificação e sistemas de gestão ambiental.

Os objetivos da ISO 14000 são os seguintes:

 formular normas universais para a gestão ambiental;


 estruturar o sistema de gestão ambiental nas organizações;
 harmonizar iniciativas de normalização pelos países;

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 estabelecer padrões que levem à excelência ambiental;
 servir de guia para a avaliação do desempenho ambiental;
 simplificar exigências de registros e selos ambientais;
 minimizar barreiras ambientais.

A gestão ambiental da ISO 14000 está estruturada em dois grandes módulos, denominados avaliação da
organização e avaliação de produtos e processos. O primeiro módulo - avaliação da organização - consiste do
sistema de gestão ambiental, da avaliação de desempenho ambiental e da auditoria ambiental. O segundo módulo -
avaliação de produtos e processos - compreende a avaliação do ciclo de vida, a rotulagem ambiental e os aspectos
ambientais em normas e produtos. A Figura 1 apresenta a estrutura da gestão ambiental das normas da série ISO
14000.

FIGURA 1 – ESTRUTURA DA GESTÃO AMBIENTAL

GESTÃO AMBIENTAL

SISTEMA DE AVALIAÇÃO DO
GESTÃO CICLO DE VIDA
AMBIENTAL

AVALIAÇÃO DO AUDITORIA ROTULAGEM ASPECTOS


DESEMPENHO AMBIENTAL AMBIENTAL AMBIENTAIS
AMBIENTAL EM NORMAS
E PRODUTOS

AVALIAÇÃO DA AVALIAÇÃO DE PRODUTOS


ORGANIZAÇÃO E PROCESSOS

Em função de um certo descrédito dos programas de qualidade (ISO 9000) dentro de algumas organizações, torna-
se necessário introduzir a questão da qualidade ambiental de forma diferenciada, a partir de uma visão de
evolução dos procedimentos da organização, e não como algo imposto e revolucionário. A prática mostrou que,
nos momentos de crises, um dos primeiros gerentes demitidos nas empresas brasileiras foi o gerente de qualidade.

Conforme pode ser observado na Tabela 1, existem, atualmente, 5 normas brasileiras da série ISO 14000. As
normas NBR ISO 14001 e 14004 referem-se ao sistema de gestão ambiental, enquanto as NBR ISO 14010, 14011
e 14012 dizem respeito à auditoria ambiental.

TABELA 1 – NORMAS BRASILEIRAS DA SÉRIE ISO 14.000

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NÚMERO DATA OBJETO
NBR ISO14001 OUT/96 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL – ESPECIFICAÇÃO E DIRETRIZES
PARA USO
NBR ISO14004 NOV/96 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL – DIRETRIZES GERAIS SOBRE
PRINCÍPIOS, SISTEMA E TÉCNICA DE APOIO
NBR ISO14010 NOV/96 DIRETRIZES PARA AUDITORIA AMBIENTAL – DIRETRIZES GERAIS
NBR ISO14011 NOV/96 DIRETRIZES PARA AUDITORIA AMBIENTAL – PROCEDIMENTOS DE
AUDITORIA, AUDITORIA DE SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL
NBR ISO14011 NOV/96 DIRETRIZES PARA AUDITORIA AMBIENTAL – CRITÉRIOS DE
QUALIFICAÇÃO PARA AUDITORES AMBIENTAIS

A NBR ISO 14004 estabelece o modelo e os procedimentos para implementação do sistema de gestão ambiental.
A Figura 2 apresenta o modelo do sistema de gestão ambiental, conforme à NBR ISO 14004.

FIGURA 2 – MODELO DE SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (NBR ISO 14.004)

A implementação do SGA compreende cinco etapas: comprometimento e política ambiental, planejamento,


implementação e operação, medição e avaliação e análise crítica e melhoria.

A etapa 1 – comprometimento e política ambiental - consiste da sensibilização, do comprometimento, da avaliação


ambiental inicial no estabelecimento da política ambiental. A etapa 2 - planejamento - compreende a definição
dos aspectos ambientais, dos requisitos legais e de outros requisitos, o estabelecimento dos objetivos e metas
ambientais e dos programas ambientais.
A etapa 3 - implementação e operação - envolve a definição da estrutura e responsabilidades, a realização de
treinamento, o levantamento do conhecimento e das habilidades das equipes, a comunicação interna, a
sistematização da documentação, o controle operacional e a elaboração de planos de emergência. Na etapa 4 -
medição e avaliação, são realizados a medição, o monitoramento e os registros dos impactos ambientais e a
auditoria do SGA. Na etapa 5 - análise crítica e melhoria, todo o processo do SGA é avaliado e correções são
introduzidas, com o objetivo de aperfeiçoá-lo.

A política ambiental é a declaração dos princípios e da empresa em relação ao seu desempenho ambiental. Para
que a política seja cumprida ela deve [8] e [9]:

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 ser estabelecida pela alta direção;
 definir relevância e abrangência do SGA;
 atender leis, códigos e regulamentos;
 definir objetivos e metas;
 comprometer-se com a melhoria contínua e a prevenção da poluição;
 ser documentada e divulgada.

Muito se tem afirmado que o estabelecimento de uma política ambiental depende do comprometimento da alta
direção da organização. Na prática, particularmente para as grandes organizações, o estabelecimento da política
ambiental e a implantação de todo o SGA têm sido assumidos pelas áreas ambientais, para só posteriormente
virem a ter o comprometimento da alta direção.

Enquanto o SGA permite a estruturação da gestão ambiental, a avaliação do desempenho ambiental (ADA)
estabelece e avalia os indicadores ambientais da empresa. Embora ainda não publicadas no Brasil, as normas
14030 são fundamentais para medir, avaliar e comunicar o desempenho ambiental da organização. Como
benefícios da ADA, destacam-se [6]:

 a identificação de áreas problemáticas e oportunidades para melhorias;


 a melhoria no gerenciamento de cada elemento do SGA;
 a criação de bases para a prevenção da poluição, melhor alocação de recursos e melhor conformidade com
regulamentações;
 o auxílio na avaliação de riscos ambientais e de problemas potenciais;
 o fornecimento de informações para análises de custo-benefício;
 os subsídios para o processo de análise da gerência ambiental.

Um SGA só terá sucesso duradouro se a auditoria ambiental for realizada sistematicamente. A


auditoria ambiental é a avaliação sistemática, documentada e periódica do desempenho
ambiental de uma organização. Seus objetivos visam o cumprimento da legislação ambiental e
da política ambiental da empresa e a verificação do gerenciamento da empresa em relação às
práticas ambientais. É importante ressaltar que a auditoria ambiental pode ser realizada pela
própria organização, utilizando seus empregados ou consultores externos.

Quando consultoria externa é utilizada, a auditoria deve se basear em objetivos definidos pelo cliente e em um
escopo com o qual o mesmo esteja de acordo e que tenha sido comunicado ao auditado.

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8.0 O SELO VERDE E A ISO 14000

A certificação ambiental cria rótulos ambientais, ou selos verdes, que são normas de produto e/ou de processo de
produção. De fato, a certificação estabelece padrões e procedimentos para a fabricação de produtos. A adesão é
voluntária, embora, em certas situações, as barreiras comerciais praticamente obriguem as empresas a buscarem a
certificação. A ocorrência de selos verdes é mais comum nos países em que os consumidores têm uma maior
sensibilidade ambiental.

O selo verde está associado à avaliação de produtos e processos. No caso da ISO 14000, as normas estão
relacionadas à avaliação do ciclo de vida, à rotulagem ambiental e aos aspectos ambientais em normas e produtos.
No Brasil, tais normas ainda não foram aprovadas.

Como exemplos de selos mais conhecidos, destacam-se: o Angel Bleu, na Alemanha, o Ecologic Choice, no
Canadá, o Eco-Mark, no Japão, o Green Cross e o Green Seal, nos Estados Unidos, e o Ecolabel, na União
Européia. No comércio internacional, os principais selos verdes são o selo de embalagem, na Alemanha, o ecotex,
da indústria têxtil, e a certificação de origem para produtos florestais.

As normas de rotulagem ambiental da ISO 14000 (14020, 14021 e 14024) têm como objetivos explicitar o
diferencial competitivo dos produtos ambientalmente adequados, harmonizar programas existentes e conferir
maior credibilidade para o mercado global.

Os rótulos ambientais devem seguir os seguintes princípios-chave [5] e [6]:


 devem ser precisos, verificáveis, relevantes e não enganosos;
 disponibilidade de informações;
 devem ser baseados em métodos cuidadosos, científicos e abrangentes, de forma que resultados precisos e
reproduzíveis possam ser obtidos;
 devem incorporar a avaliação do ciclo de vida;
 exigências administrativas limitadas;
 transparência nas pressuposições e limitações;
 não devem inibir a inovação;
 baseados em processo de consenso.

Uma certificação mais rigorosa de selo verde exige uma avaliação do ciclo de vida (ACV). A ACV é uma
metodologia que aplica a perspectiva do ciclo de vida, isto é, assume uma visão mais holística de um produto ou
serviço, a partir das matérias-primas à produção, distribuição e descarte final [10].

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Embora a ACV traga benefícios consideráveis para a empresa e o meio ambiente, sua complexidade e limitações
metodológicas, além da necessidade de estudos intensivos em tempo e recursos, fazem com que sua aplicação seja
ainda bastante restrita. Quando aplicada, os limites do sistema e suas metas devem ser claramente definidos,
visando a obtenção de resultados concretos.

8.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O artigo mostrou que uma empresa moderna não pode prescindir de uma gestão ambiental
avançada. Um tratamento apropriado da questão ambiental, com a implantação de um SGA,
aumenta o potencial competitivo da organização.

Não há dúvidas que a percepção da sociedade brasileira dos problemas ambientais está crescendo. Não apenas
pelo maior nível de informação, através dos cadernos especializados dos grandes jornais e de programas de
televisão, mas também pela educação ambiental que vem sendo ministrada nos cursos do ensino fundamental e do
ensino médio, que alguns anos atrás não existiam. Além disso, os problemas ambientais enfrentados pelas
populações das grandes cidades brasileiras têm contribuído, de forma marcante, para essa mudança de percepção.

Em conseqüência da mudança de percepção, a atitude da sociedade em relação ao meio ambiente vem evoluindo
gradativamente, particularmente nas faixas etárias mais jovens. Pesquisa realizada em Belém, Brasília, Porto
Alegre, Recife e Rio de Janeiro, em 1994, mostrou que cerca de 80% das populações pesquisadas têm uma atitude
favorável em relação ao meio ambiente e que quanto mais jovem e de maior conhecimento ambiental, mais
elevada a atitude do entrevistado em relação ao meio ambiente [11].

A legislação ambiental, em especial a Lei 9605/98, conhecida como a Lei da Natureza ou Lei de Crimes
Ambientais, levará as empresas a reformularem todos os seus procedimentos em relação ao meio ambiente. Neste
sentido, é grande o espaço para a implementação da ISO 14000 nas empresas brasileiras.

9.0 REFERÊNCIAS

[1] WCED – Our Common Future – Oxford:Oxford University Press (1987).

[2] PEARCE, D., A. MARKANDYA e E. B. BARBIER - Blueprint for a Green Economy - London: Earthscan
(1989).

[3] TURNER, R. K., D. PEARCE e I. BATEMAN – Environmental Economics: An Elementary Introduction –


Hemel Hempsted: Harvester Wheatsheaf (1994).

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[4] KINLOW, D. C. - Empresa Competitiva Ecológica: Desempenho Sustentável na Era Ambiental - São Paulo:
Makron do Brasil (1998).

[5] MAIMON, D. - Passaporte Verde: Gerência Ambiental e Competitividade - Rio de Janeiro: Qualitymark
(1996).

[6] TIBOR, T. e I. FELDMAN - ISO 14000: Um Guia para as Novas Normas de Gestão Ambiental - São Paulo:
Futura (1996).

[7] MOURA, L. A. A. - Qualidade e Gestão Ambiental: Sugestões para Implantação das Normas ISO 14000 nas
Empresas - São Paulo: Editora Oliveira Mendes (1998).

[8] VALLE, C. E. - Como se Preparar para as Normas ISO 14000: Qualidade Ambiental - 2 a Edição. São Paulo:
Pioneira (1996).

[9] MAIMON, D. - ISO 14001: Passo a Passo da Implantação nas Pequenas e Médias Empresas - Rio de Janeiro:
Qualitymark (1999).

[10] CHEHEBE, J. R. B. - Análise do Ciclo de Vida: Ferramenta Gerencial da ISO 14000 - Rio de Janeiro:
Qualitymark (1998).

[11] FURTADO, R. C. - The Incorporation of Environmental Costs into Power System Planning in Brazil - Tese
de Doutorado. Imperial College, Universidade de Londres.

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